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Com a propagação da tecnologia e a possibilidade de se compartilhar e buscar quaisquer informações,

pessoais ou não, o limite entre o pessoal e o privado está cada vez esmaecido, com o antigo diário, a quem
muitos confidenciavam os seus segredos, sendo substituído por uma postagem em uma rede social ou um
blogue. Essa vulgarização de nossas vidas pessoais traz um risco pessoal imenso.
Em um mundo em que se reclama do excesso de vigilância dos governos e das informações que grandes
corporações possuem sobe nós, é extremamente comum encontrarmos pessoas que compartilham cada
etapa de sua vida nas redes sócias, sendo que esse comportamento aparentemente “inocente” pode ter
consequências nefastas.
Uma prova das consequências que isso pode causar é o uso da Lei do Esquecimento, da União Europeia.
Entre 2014 a 2018, o site Google alegou ter recebido mais de 650.000 solicitações para apagar resultados
ligados ao nome de indivíduos, com situações ou informações pessoais divulgadas publicamente. Esse dado
mostra o quão comum é possuir alguma informação nas redes sócias da qual não gostaria que estivesse
pública.
Um grupo que está ainda mais suscetível aos riscos das redes são os jovens, que muitas vezes, acabam
publicando opiniões e informações sem terem uma noção completa de suas consequências, afinal, quem
nunca fez algo que se envergonha quando era jovem? O problema surge a partir do momento que esse
“erro” se torna público, sendo compartilhado na internet, podendo ter consequências ao longo de anos. Um
exemplo disso é o caso da jornalista Alexi McCammond, que foi demitida depois que postagens no Twitter
que ela havia feito a mais de 10 anos vieram a público.
Vivemos em um momento que é classificado por Zygmunt Bauman como “modernidade líquida”, onde as
relações sociais, econômicas e até mesmo os conceitos morais são extremamente fugazes e maleáveis,
podendo ser drasticamente alterado de um ano para o outro. Nesse contexto, a “eternalidade” dos dados na
internet pode significar que uma ação ou fato seja julgada não só pelos nossos padrões morais atuais, mas
também pelos padrões imprevisíveis e imponderáveis do futuro.
Dado o exposto, o limite do que nos é pessoal e do que é público ou de interesse comum na sociedade atual
é definido por cada indivíduo, sendo que tudo o que é publicado será eternizado nas redes e julgado por
nossos pares. Essa mudança de paradigma leva a necessidade da educação digital da população, podendo
até ser incluída no currículo escolar, visando a ensinar o indivíduo a pensar o que ele deve ou não divulgar
ao público. Outra ação que pode ser feita é a adoção de medidas similares a “lei do esquecimento”, visando
impedir que ações decorrentes de um momento de ímpeto possam prejudicar alguém pelo resto de sua vida.

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