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ESTADO DA ARTE

A evolução das capacidades cognitivas nos primatas: hipótese ecológica


vs hipótese da complexidade social
Miguel Oliveiraa*

a
Departamento de Ciências da Vida, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade de Coimbra, Apartado 3046, P- 3001 401
Coimbra, Portugal.

*Corresponding author: migueloliveira16@hotmail.com

Article received on the 13th of May of 2015 and accepted on the 30th of October of 2015

RESUMO
O presente artigo revê as hipóteses ecológica e da complexidade social, duas das principais
propostas para explicar a origem e a evolução da cognição nos primatas. A primeira argumenta
que a cognição evoluiu como resposta aos desafios do meio ambiente físico enquanto a segunda
defende que a cognição surgiu para lidar com as exigências da vida social. Genericamente, foram
identificados e descritos os fundamentos que sustentam cada uma das duas hipóteses e,
posteriormente, ambas foram confrontadas com base em evidências provenientes dos resultados
de investigações realizadas com primatas. Apesar de ambas as hipóteses reunirem suporte
científico, subsistem lacunas e críticas, principalmente no caso da hipótese da complexidade social
à qual foram identificadas várias incompatibilidades. Neste sentido, nos últimos anos, surgiram
outras propostas, abordadas neste artigo, que defendem a evolução da cognição num âmbito mais
abrangente e geral, e não num domínio específico como o social ou ecológico.
Palavras-chave: primatologia, cognição, social, ecologia.

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ABSTRACT
This article reviews the ecological and the social complexity hypotheses, two major proposals to
explain the origin and evolution of cognition in primates. The first one argues that cognition has
evolved in response to the challenges of the physical environment while the second one holds that
cognition emerges to cope with the social life demands. Generally, the foundations underpinning
each of the two hypotheses were identified and described, and, subsequently, both were
confronted based on evidence from the research results carried out on primates. Although both
hypotheses gather scientific support, some gaps and critics remain, especially in the case of the
social complexity hypothesis for which several incompatibilities were identified. In this context, in
recent years, other proposals arose that are discussed in this article. They envisage the evolution
of cognition in a broader and more general scope, and not in a specific, social or ecological,
domain.
Keywords: primatology, cognition, social, ecology.

Introdução atualmente existem mais de 400 espécies de


primatas descritas.
Com base no registo fóssil, estima-se que o Uma das principais características
primata mais antigo tenha vivido no início do evidenciadas pelos primatas, é a sua grande
Paleoceno, há cerca de 55 milhões de anos propensão para a vida em sociedade,
atrás (Dalgalarrondo, 2011), enquanto que as organizando-se em estruturas sociais
pesquisas de biologia molecular apontam bastante variáveis e flexíveis (Kappeler e van
para um período mais antigo, sugerindo que Schaik, 2002). De acordo com Fleagle (2013),
a origem da ordem dos primatas ocorreu há é possível identificar diferenças significativas
cerca de 85 milhões de anos, no Cretácio entre a vida social dos primatas noturnos e
Médio (Chaterjee et al., 2009). diurnos: a grande maioria das espécies
Em termos gerais, a ordem dos primatas é noturnas são solitárias e tendem a percorrer
composta por duas subordens (McHenry, distâncias e procurar alimento de forma
2009): Strepsirrhini e Haplorrhini. A primeira individual, enquanto que a grande maioria
é composta pelos lémures e pelos lórises e a das espécies diurnas exibem uma propensão
segunda é constituída pelos társios, pelos muito maior para interações sociais
macacos do Novo e do Velho Mundo e pelos complexas e para executar várias tarefas em
hominídeos (McHenry, 2009). Segundo os grupo. A grande maioria dos primatas
dados avançados por Cartmill e Smith (2011), solitários encontra-se na subordem

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Strepsirrhini, como por exemplo os lórises, cooperação e liderança (de Waal e Davis,
algumas espécies de lémures e társios e o 2003), algo descrito por Boesch (1994) que
orangotango, embora este último já pertença constatou que os chimpanzés de Tai (Costa
à subordem Haplorrhini (Swedell, 2012). do Marfim) caçam em grupos compostos por
Ainda relativamente aos primatas três ou quatro membros, onde a cooperação
caracterizados por uma estrutura social para a caça é mais vantajosa do que roubar
solitária, Fleagle (2013) alerta que, em carne caçada; para estarem conscientes do
determinadas circunstâncias, estes estatuto social e para manipular e enganar
desenvolvem um conjunto de relações sociais (Paar et al., 2000) pois, a título de exemplo,
esporádicas com outros indivíduos. Quanto a os macacos-capuchinho são capazes de
outros tipos de estruturas sociais observáveis enganar outros coespecíficos ao apontar para
no universo dos primatas, estes são (Swedell, localizações erradas de fontes de alimento
2012): os pares monogâmicos, compostos com intuito de os distrair, para que não se
por um macho e uma fêmea (e, apoderem de outras fontes de alimento
eventualmente, a descendência do par), encontradas (Mitchell e Anderson, 1997); ou
típicos, por exemplo, dos gibões e dos para reconhecerem coespecíficos e outros
siamangos; grupos multi-machos de uma só primatas com os quais partilham um grau de
fêmea, um sistema de acasalamento parentesco (Paar e de Waal, 1999), algo
poliândrico, característico dos saguis e dos demonstrado por Deaner et al., (2005) que
tamarins; haréns (grupos de um só macho verificaram que os macacos rhesus de um
com várias fêmeas), um sistema de determinado grupo reconhecem-se uns aos
acasalamento políginico muito comum nos outros pelas faces e este aspecto é essencial
gorilas; e grupos multi-fêmeas/multi-macho, para a compreensão da hierarquia de
um sistema de acasalamento poliginândríaco, dominância.
praticado pela grande maioria dos babuínos, Para além daquilo que foi descrito
macacos vervet ou macacos-capuchinho. anteriormente, também as investigações
Para além dos comportamentos sociais, os efetuadas com primatas em cativeiro
primatas possuem um conjunto de exploraram outros vetores cognitivos, como
capacidades cognitivas que lhes a resolução de problemas, a memória, a
proporcionaram a habilidade para utilizar teoria da mente, conceitos numéricos,
pequenas ferramentas aplicadas na obtenção abstratos e espaciais (Tomasello e Call, 1997)
de alimento (Boesch e Boesch, 1990; bem como um vasto conjunto de parâmetros
Westergaard et al., 1998) como foi da cognição social (Cheyne, 2009). No
observado nos macacos de cauda longa da entanto, Setchell e Curtis (2011) salientam
Tailândia, que se socorrem de pequenas que estas pesquisas também foram
ferramentas de pedra para processar nozes, replicadas com primatas de estado selvagem
ostras e outros bivalves, e até vários tipos de e com resultados complementares aos
caracóis do mar (Gumert et al., 2009); para obtidos em cativeiro. Por este motivo, a
definir estratégias de caça que exigem investigação produzida em cognição em

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primatas não-humanos beneficia de estudos, humano partilha com os seus parentes mais
com o(s) mesmo(s) objetivo(s) de próximos, os chimpanzés e os bonobos.
investigação, conduzidos tanto em estado De forma genérica, a cognição evoluiu nos
selvagem, como em cativeiro. Desta forma, primatas para que estes desenvolvam
privilegia-se uma maior fidedignidade e respostas comportamentais adaptativas e
veracidade do conhecimento extraído dos flexíveis para lidar e enfrentar dois
resultados e das conclusões obtidas (Setchell problemas essenciais (Tomasello, 2000): a
e Curtis, 2011). procura e obtenção de alimento e a interação
social com outros coespecíficos. Neste
particular, surgem duas hipóteses candidatas
Enquadramento geral sobre a evolução da
a explicar a evolução da cognição, alicerçadas
cognição em primatas
em argumentos distintos: a hipótese
A cognição pode ser descrita como a ecológica e a hipótese da complexidade
habilidade para adquirir, processar e reter social. Na generalidade, a primeira sugere
informação para, posteriormente, ser que a evolução da cognição foi impulsionada
aplicada na tomada de decisão e na pelas exigências impostas pelo meio
resolução de problemas (Shettleworth, ambiente, enquanto a segunda assume a
2009). Este tipo de processos são observados complexidade das interações sociais como o
quando, por exemplo, um animal adota estímulo que fez despoletar a cognição nos
princípios generalizados, assimilados através primatas (Byrne e Whitten, 1988; Dunbar,
da aprendizagem e da experiência, para 1995; Whitten e Byrne, 1997; Heyes, 2000).
resolver novos problemas (van Horik e
Emery, 2011). Neste âmbito, segundo Menzel
e Wyers (1981), a cognição compreende Hipótese ecológica
adaptações comportamentais para que um
Para Byrne (1995), Milton (1981) e
organismo tenha a capacidade para decidir e
Zuberbuhler e Janmat (2010), a alimentação
comportar-se de forma flexível, tendo por
é intelectualmente mais exigente nos
base a informação adquirida e representada
primatas do que nos restantes animais, uma
mentalmente.
vez que grande parte dos primatas são
Segundo Tomasello (2000), o estudo da folívoros/frugívoros não especializados, o
cognição em primatas é relevante no sentido que requer o consumo de alimentos difíceis
em que esta é idêntica, em muitas das de localizar, para uma dieta equilibrada. Em
estruturas e dos processos envolvidos, à contrapartida, os animais carnívoros obtêm
cognição humana. Byrne (2000) reforça esta automaticamente uma alimentação rica em
ideia ao revelar que os dados recolhidos nutrientes e suficiente para as necessidades
durante as investigações sobre a cognição em metabólicas, ao comer outros animais.
primatas fornecem insights sobre a evolução
das capacidades cognitivas que surgiram até As necessidades nutricionais, aliadas à
ao último ancestral comum que o ser (relativa) dificuldade de obtenção de

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alimento originou aquilo a que Byrne (1995) chimpanzés são capazes de alcançar uma
designou por feeding skill, que engloba duas dada fonte de alimento a partir de todas as
tarefas principais: procurar uma fonte de possíveis direções e não percorrem uma rota
alimento e obter/processar o alimento após a específica, pois quando regressam à mesma
sua localização. Em virtude da complexidade fonte de alimentos não o fazem pelo mesmo
de ambas as tarefas, Byrne (1995) sugere que caminho utilizado na ocasião anterior. Tal
a realização bem-sucedida das mesmas evidência sugere que a orientação espacial
requer a aplicação de estratégias cognitivas. pode não corresponder uma navegação com
A pesquisa por uma fonte de alimento exige recurso a pontos de referência (mapas
duas capacidades fundamentais (Byrne, topográficos). Adicionalmente, Normand e
1995): Boesch (2009), ao comparar os padrões de
movimento entre as áreas centrais e
(1) Mapas cognitivos que permitem uma
periféricas do território, não detetaram
aprendizagem do tipo de alimentos
qualquer variação na precisão/linearidade do
comestíveis e da respetiva disponibilidade,
movimento, mesmo nas áreas periféricas
em função da época do ano, e que
onde existem menos árvores disponíveis para
possibilitam a memorização espacial da sua
serem memorizadas e servirem de pontos de
localização/distribuição ao longo de uma
referência, o que solidifica a hipótese dos
extensão de área explorada. À partida, a
chimpanzés navegarem, entre fontes de
exploração de territórios de maiores
recursos, através de mapas
dimensões requer, de igual modo, uma maior
euclidianos;
capacidade de memória e de conhecimento.
Os chimpanzés dispõem de memória espacial (2) Planeamento da viagem arbórea, pois a
que lhes possibilita recordar a localização de coordenação dos movimentos típicos de uma
diversas fontes de recursos alimentares locomação nas árvores é um exercício
(Jason e Byrne, 2007; Zuberbuhler e Janmat, cognitivamente exigente e que requer
2010) e usar essa informação para selecionar bastante cuidado e planeamento, já que
as fontes com alimentos mais atrativos qualquer orientação errática ou distância mal
(Normand et al., 2009) através da evocação calculada pode resultar em queda. Povinelli e
de memórias passadas sobre experiências de Cant (1995) complementam ao realçar que,
consumo (Janmaat et al., 2013). Neste independentemente do tipo de locomoção,
particular, os resultados experimentais de muitas espécies de primatas caracterizam-se
Normand e Boesch (2009) suportam a ideia por corpos grandes e pesados, tendo em
de que os chimpanzés estão “equipados” consideração a fragilidade dos ramos das
com mapas euclidianos detalhados, o que árvores que servem de suporte à locomoção
lhes concede a habilidade de planear arbórea. Como tal, para contornar este
caminhadas de forma eficiente, optando por obstáculo, é necessário capacidade cognitiva
direções e atalhos que os conduzam a para mensurar distâncias entre ramos e
determinadas fontes de alimento. Normand e simular/imaginar a forma como os
Boesch (2009) observaram que os movimentos e as posições corporais afetam

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os ramos, com o intuito de planear uma haste de madeira para perfurar o ninho de
locomoção segura e prever eventuais formigas para que estas abandonem o
consequências nefastas, como a quebra do subsolo em direção ao exterior e um caule de
ramo e subsequente queda (Povinelli e Cant, uma planta para ser preenchido pelas
1995). formigas que são colhidas à medida que a
mão dos chimpanzés percorre o caule, num
Muitos dos aspetos envolvidos na
exercício apelidado de "pesca de formigas".
obtenção e no processamento do alimento
Os macacos capuchinho aproveitam pedras
estão dependentes de determinadas
para quebrar nozes, sendo que Fragaszy et
capacidades cognitivas nos seguintes vetores
al., (2013) revelaram que, antes do
(Byrne, 1995; 2000; Flinn et al., 2005):
procedimento de quebra, os macacos
(1) Apesar da caça ser praticada em poucas capuchinho procuram uma posição estável
espécies de primatas, a sua realização para colocar as nozes para que a colisão com
compreende organização e cooperação. Em a pedra seja mais eficaz. Os orangotangos
alguns casos, a caça também implica uma também manuseiam pequenos ramos, entre
partilha deliberada do conteúdo caçado. outros fins, para retirar mel das colmeias
Boesch (2002) destacou os chimpanzés da (Gruber et al., 2012) ou para aceder à polpa e
floresta de Tai (Costa do Marfim) como a às sementes contidas no interior de um tipo
espécie de primata que exibe maior de fruta conhecido como neesia fruit (van
cooperação em atividades de caça, na qual a Schaik e Knott, 2001);
estratégia planeada requer uma elevada
(3) Extractive Foraging. Alguns alimentos
coordenação entre os membros caçadores e
encontram-se escondidos ou embutidos no
uma capacidade precisa de antecipação dos
solo e, portanto, não são diretamente
movimentos da presa identificada. O mesmo
identificáveis. Deste modo, o processamento
autor também constatou que a partilha da
da comida carece de extração, outro
carne não é distribuída de forma equitativa já
exercício cognitivamente exigente. Em alguns
que a maior parte é consumida pelos
casos pode mesmo ser necessário a aplicação
próprios elementos caçadores;
de pequenas ferramentas ou a realização de
(2) O uso e fabrico de pequenas ferramentas movimentos com uma coordenação motora
para resolver problemas relacionados com a relativamente complexa, como escavar com
obtenção e/ou processamento de comida. as mãos. Sanz e Morgan (2009) atentaram
Em muitos casos estudados, os primatas que os chimpanzés escavam autênticos
apenas utilizam elementos já fabricados pela túneis para aceder ao mel produzido em
própria natureza, porém, a capacidade para colmeias subterrâneas e, posteriormente,
produzir ferramentas rudimentares é socorrem-se de pequenos ramos para extrair
atribuída a alguns grandes símios. Neste o mel;
contexto, Sanz et al., (2009) revelaram que
(4) Em determinadas circunstâncias, é
muitas populações de chimpanzés utilizam
necessário empregar técnicas complexas de
duas ferramentas para caçar formigas: uma

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processamento de comida. Os gorilas, por este caso representa um dos primeiros


exemplo, usam um conjunto de diferentes grandes testemunhos da existência de
técnicas para processar as plantas, como cultura em primatas.
enrolar as folhas das plantas com mãos até
estas adquirirem a forma de uma esfera, o
que facilita a sua mastigação e ingestão Hipótese da complexidade social
(Sawyer e Robbins, 2009) ou, com o intuito
de minimizar a ação do ácido responsável De acordo com Byrne (1995) e Byrne e
pela comichão das urtigas, os gorilas dobram Bates (2007), as interações sociais
as urtigas de modo a que os pêlos urticantes estabelecidas com outros coespecíficos
permaneçam orientados para o interior, representam o principal fator responsável
reduzindo o contacto destes com a boca, o pela modulação da cognição nos primatas,
que auxilia a mastigação e a digestão (Byrne, que permite o desenvolvimento de respostas
2005). Um dos clássicos exemplos das adaptativas face aos desafios do contexto
capacidades cognitivas empregues no social. Neste âmbito, um coespecífico pode
processamento de alimentos é proveniente ser interpretado como um potencial
dos macacos japoneses, da ilha de Koshima competidor por parceiros sexuais, recursos e
(Japão) e foi revisto por Hirata et al., (2009): alimento, pelo que Humphrey (1976) e
em 1953, a grande maioria dos macacos Barrett e Henzi (2005) afirmam que as
japoneses tentavam limpar a areia de batatas pressões seletivas tendem a beneficiar os
doces, esfregando-as com as mãos, uma indivíduos com capacidades cognitivas
técnica não muito eficaz, até que uma fêmea avançadas, que lhes possibilite maximizar os
(batizada como Imo) foi responsável por um lucros individuais sem afetar os benefícios da
novo procedimento pioneiro de remoção da vida em grupo. Por outras palavras, os
areia, ao lavar as batatas na água do mar. indivíduos portadores de habilidades
Este comportamento foi difundido e cognitivas para usar e explorar os outros a
assimilado, de forma gradual, pela restante seu favor, sem provocar desequilíbrios na
população de macacos japoneses de Koshima estabilidade do grupo social, são favorecidos
e, uma década volvida, 3/4 dos macacos (Byrne, 1995).
japoneses praticavam a lavagem dos Jolly (1966) salienta que, enquanto a vida
alimentos em água (Hirata et al., 2009). Este social pode não ser o resultado de uma
é um caso que ilustra, não só a flexibilidade capacidade cognitiva assinalável, a cognição,
cognitiva e comportamental desta espécie de por sua vez, pode ser uma consequência da
primata para a resolução de um problema vida social, ou seja, a complexidade social
(processamento do alimento), mas também a promove as capacidades cognitivas e a
aprendizagem social, uma vez que esta inteligência ao selecionar os indivíduos
prática propagou-se pela maioria dos melhor preparados para solucionar
membros daquela população. Alguns problemas do foro social.
autores, como Boesch (2012), Huffman
(1996) ou Matsuzawa (2003), salientam que

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A complexidade social acarretou uma com indivíduos aparentados, e neste


nova nuance na dinâmica da evolução: a contexto, Silk et al., (2013) sugeriram que a
aptidão está mais dependente dos aliados do partilha de alimento entre os chimpanzés é
que propriamente da força física (Byrne, uma forma de aumentar o bem-estar dos
1995; Kulik et al., 2012). Por este motivo, os membros do grupo com os quais se mantém
grupos sociais de primatas estão uma relação mais próxima ou de parentesco,
normalmente hierarquizados pelo ranking de para solidificar as relações sociais, para
dominância. Através da posição no ranking, é retribuir partilhas que ocorreram no passado
possível prever se um determinado indivíduo e, finalmente, para reduzir os custos de
será ou não bem-sucedido em situações de solicitações persistentes. Jaeggi e Gurven
competição (como o acesso a parceiros (2013) também corroboraram a ideia de que
sexuais) ou a respetiva prioridade a reciprocidade é o fator prioritário através
relativamente a fontes de alimentação do qual várias espécies de primatas partilham
descobertas (Byrne, 1995; Majolo et al., e distribuem alimento, sendo mais influente
2012). Quanto à hierarquização por ranking que o grau de parentesco/proximidade da
de dominância, Wroblewski et al., (2009) relação. No entanto, esta observação não é
conduziram uma pesquisa em chimpanzés da regra. Em chimpanzés e bonobos, também
espécie Pan troglodytes schweinfurthii, no ocorre partilha de alimentos com indivíduos
Parque Nacional de Gombe (Tanzânia), onde não aparentados, como alguns estudos
concluíram que quanto maior é a posição de atestam, nomeadamente, Gomes e Boesch
um macho no ranking de dominância, maior (2009) observaram que as fêmeas
é o seu sucesso reprodutivo e o número de chimpanzés copulam mais frequentemente
acasalamentos com as fêmeas mais com machos com os quais trocaram comida
desejadas. Noutro prisma, Overdorff et al., anteriormente; e Yamamoto (2015)
(2005) relataram que as fêmeas lémur preto- constatou que, em fêmeas bonobo, a partilha
e-branco (Varecia variegata), cuja de fruta é maioritariamente praticada de
dominância era mais influente elementos dominantes para elementos
comparativamente aos machos da mesma subordinados;
espécie, acedem a fontes de alimento com
(2) Os macacos do Velho Mundo e os símios
mais frequência e, consequentemente,
dedicam grandes quantidades de tempo aos
ingerem uma maior quantidade de calorias.
rituais de catagem. Este tipo de interação
São várias as observações, realizadas no social manifesta vontade em investir tempo e
mundo dos primatas, identificadas por Byrne esforço no bem-estar do outro. Indivíduos
(1995) e por Byrne e Bates (2007), que que se catam, cuidam um do outro, ou seja,
suportam a hipótese da complexidade social: há uma proteção recíproca inerente à
catagem social. Para além disso, este
(1) A partilha de alimento pode resultar, no
fenómeno também ocorre em indivíduos não
futuro, numa partilha recíproca ou noutro
relacionados com o intuito de formar e
tipo de recompensas. A tendência é partilhar
estabelecer alianças vantajosas (Byrne e

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Bates, 2007; Lehmann et al., 2007). A catagem incide com maior frequência em
catagem envolve um conjunto de benefícios fêmeas que se encontram no pico da
mútuos: maior acesso a recursos e alimento, maturidade reprodutiva;
a oportunidades de acasalamento, maior
(3) Em ocasiões de conflito social, os macacos
proteção das fêmeas e das respetivas crias e
do Velho Mundo e os símios tendem a
cuidados parentais mais frequentes, por
resolver os atritos através da reconciliação.
parte do progenitor (Byrne e Bates, 2007;
Depois de uma luta, o indivíduo que perdeu
Lehmann et al., 2007). A catagem é, em
aborda o vencedor com o intuito de retomar
termos gerais, um investimento para o
uma relação pacífica. Caso o vencedor aceite,
futuro, ainda que comporte custos (energia e
a probabilidade de lutas posteriores entre
tempo dedicados). São várias as evidências
estes dois indivíduos será menor. A
relatadas sobre os benefícios da catagem.
reconciliação assume-se como uma
Aureli et al., (1999) detetaram, em macacos-
estratégia efetiva e benéfica para o bem-
rhesus, que a catagem diminui a taxa de
estar geral do grupo. A título de exemplo, de
frequência cardíaca e, por isso, promove a
Waal (2000) observou, num grupo de
redução de stress. Jaeggi et al., (2013)
chimpanzés do Arnhem Zoo (Holanda), que a
constataram a existência de um efeito
resolução de conflitos protagonizados entre
significativo, em amostras de chimpanzés e
um macho dominante e uma fêmea é selada
bonobos, entre a catagem e a partilha de
através de beijos e abraços. Clay e de Waal
alimentos, ou seja, indivíduos que
(2014) registaram que, nos bonobos, a
partilhavam alimentos entre si, também se
reconciliação é maioritariamente encetada
catavam com mais frequência e vice-versa.
através de contactos de cariz sexual e que os
de Waal (1997), também registou um efeito
adultos têm mais tendência para a resolução
recíproco entre a partilha de alimentos e a
de conflitos comparativamente aos juvenis.
frequência de captagem em chimpanzés, ou
Também Cheney e Seyfarth (1989)
seja, a pré-disposição do indivíduo A em
constataram que, na população de macacos-
partilhar alimento com o indivíduo B é maior
vervet em estudo, os comportamentos de
se B já tiver catado anteriormente A, pelo
reconciliação ocorrem com mais frequência
que se deduz que o número de catagens
entre membros não aparentados do que
entre dois indivíduos específicos reflete-se no
entre aparentados;
número de partilhas entre esses mesmos
indivíduos (e o inverso também ocorre). de (4) Um símio pode adotar táticas
Waal (1997) reportou ainda que chimpanzés comportamentais para manipular ou enganar
na posse de comida, resistiam a solicitações outros indivíduos não aliados e não
de partilha por parte de quem nunca os tinha relacionados para obter ajuda ou um
catado. Noutro âmbito, Proctor et al., (2011) qualquer tipo de benefício. Este tipo de
comprovaram que a catagem também é uma comportamentos demonstra a capacidade de
estratégia adotada para aumentar as aprendizagem em circunstâncias sociais e de
oportunidades de acasalamento, uma vez produzir padrões comportamentais bastante
que, em populações de chimpanzés, a

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complexos. Wheeler (2009) relatou que os sabiam onde o alimento tinha sido
macacos capuchinho subordinados emitem escondido, ou o alimento anteriormente
uma vocalização como forma de enganar e visto era posteriormente escondido à revelia
distrair os seus coespecíficos dominantes, dos chimpanzés dominantes, enquanto que
quando competem por recursos alimentares. os chimpanzés subordinados viam e sabiam
Wheeler (2009) observou que os indivíduos sempre onde o alimento era escondido, para
subordinados produzem um sinal sonoro que além de poderem monitorizar o acesso visual
alerta para a presença de um predador que dos seus opositores. Os resultados da
induz, nos indivíduos dominantes, um investigação de Hare et al., (2001)
comportamento de fuga ou de procura de demonstraram que os chimpanzés
esconderijo e, desta forma, o alimento subordinados mais atentos ao acesso visual
(anteriormente na posse e no controlo dos dos chimpanzés dominantes, procuravam
indivíduos dominantes) fica livre e facilmente maioritariamente aproximar-se e retirar o
acessível; alimento nos casos em que estes não tinham
visto o local onde o alimento foi escondido
(5) A necessidade de conhecer a vida social
ou para onde foi posteriormente movido,
de outros elementos do grupo revela que os
revelando que os chimpanzés são capazes de
primatas não só sabem identificar os
antecipar aquilo que os seus coespecíficos
indivíduos com os quais mantêm relações
sabem ou não. Este foi apenas mais um
sociais ou de parentesco, como também
exemplo que sustenta a capacidade cognitiva
possuem informações sobre as suas rotinas
dos chimpanzés para desenvolverem uma
através da interpretação de sinais sociais.
teoria da mente, ou seja, como afirmam Call
Quanto maior for o grupo, maior tende a ser
e Tomasello (2008), os chimpanzés têm uma
a necessidade de recolha de informação
perceção do conhecimento dos outros, para
social e, consequentemente, maior é a
além de entenderem os objetivos e as
memória exigida. Nettle et al., (2013)
intenções de terceiros.
testemunharam que os chimpanzés
despendem algum do seu tempo a observar
outros membros do grupo, particularmente
Resultados experimentais das hipóteses
aqueles com os quais mantinham uma
relação mais próxima. Numa série de De uma perspetiva científica, é complicado
experiências, conduzidas por Hare et al., determinar experimentalmente a influência
(2001), ficou demonstrado que os dos fatores ecológicos e sociais na evolução
chimpanzés têm a capacidade de recolher da cognição nos primatas, em virtude da
informações sobre terceiros. Os autores dificuldade em definir variáveis que possam
deste estudo colocaram um chimpanzé ser mensuradas. Ainda assim, foram
dominante e outro subordinado a competir realizados vários estudos que revelaram os
por alimento e manipularam as experiências seguintes resultados:
da seguinte forma: em alguns casos, os
chimpanzés dominantes não viam nem

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(1) Registou-se uma relação positiva entre o neocortical (Byrne, 1995; Byrne e Bates,
tamanho do grupo social e o volume 2007);
neocortical (Sawaguichi e Kudo, 1990;
(5) van Woerden et al., (2011) e van
Dunbar, 1992; 1993; 1995; 1998; Barton e
Woerden et al., (2010; 2014) verificaram que,
Dunbar, 1997; Dunbar e Bever, 1998; Dunbar
em várias espécies de primatas, durante os
e Shultz, 2007;). Lewis (2000), Byrne e Corp
períodos de escassez das principais fontes
(2004), Reader e Laland (2001) e Reader e
alimentares, ocorre um conjunto de
Lefebvre (2001) defenderam esta evidência
respostas flexíveis para diminuir os gastos
ao sugerir que, em grande parte dos grupos
energéticos como a hibernação, procura de
sociais compostos por primatas, os indivíduos
fontes alternativas de alimento ou o ajuste
menos sociáveis tinham neocortices
da reprodução para que esta coincida com os
menores. Dunbar e Shultz (2007) propõem
períodos onde as principais fontes
que, nos primatas, a relação entre o volume
alimentares são abundantes. Os mesmos
neocortical e o grupo social é o resultado da
autores também argumentam que as
intensidade da relação entre os elementos do
espécies que são confrontadas com períodos
grupo em que, quanto mais profunda e
de escassez alimentar induzida pela
intensa é a relação, maiores são os índices de
sazonalidade dos alimentos, estão sujeitos a
respostas comportamentais flexíveis face à
restrições energéticas. Esta evidência pode
complexidade social;
posicionar-se como uma potencial explicação
(2) Observou-se uma relação positiva entre o para o facto de estas espécies possuírem
volume neocortical, o tempo dispensado na cérebros relativamente pequenos, que
catagem (Dunbar, 1991; 1998; Kudo e consomem menos energia e, desta forma,
Dunbar, 2001) e o número de alianças estarem melhor adaptadas para este tipo de
estabelecidas (Plavcan et al., 1995), ambientes com flutuações na disponibilidade
reforçando a ideia da catagem como um dos dos alimentos (van Woerden et al., 2010;
motivos para a angariação de aliados; 2011; 2014). De forma complementar, Melin
et al., (2014) sugerem que a sazonalidade de
(3) Verificou-se uma relação positiva entre a
fontes alimentares representou uma
tendência para enganar e manipular
oportunidade para a emancipação de
coespecíficos e o volume neocortical (Byrne,
algumas estratégias cognitivas e
1995; Byrne e Corp, 2004) e o tamanho do
comportamentais para lidar com a escassez
grupo social (Reader et al., 2011);
de recursos alimentares, como o uso de
(4) Não foi registada qualquer relação entre pequenas ferramentas para caçar insetos e
vários fatores ecológicos (como a extensão processar alimentos ou forregeamento
do território explorado, a duração da rotina extrativo para recolher raízes subterrâneas, e
diária, o tipo de dieta ou os modos de outro tipo de alimentos escondidos.
obtenção de alimento) e o volume

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Análise comparativa e crítica das hipóteses e argumentam que correlação não é causa, que
novas propostas e perspetivas a complexidade social é um conceito difícil de
mensurar e, finalmente, que é a organização
No confronto das duas hipóteses, a hipótese
das estruturas cerebrais (e não o tamanho
da complexidade social reúne, em seu favor,
global do cérebro) que é responsável pelas
um maior conjunto de resultados
capacidades cognitivas. Chittka e Niven
experimentais que lhe conferem maior
(2009) identificam os insetos como um
consistência científica. Como afirmam Byrne
exemplo de animais com comportamentos
e Bates (2007), a complexidade social encerra
sociais complexos sem possuírem um cérebro
em si um conjunto de desafios cognitiva e
de grandes dimensões. Chittka e Niven
intelectualmente mais exigentes do que a
(2009) continuam o seu raciocínio,
complexidade ambiental. Seyfarth e Cheney
explicando que corpos grandes têm órgãos
(2002) reforçam esta ideia ao afirmar que o
sensoriais que requerem enormes
maior estímulo para a evolução da cognição
quantidades de tecido neuronal para analisar
em primatas terá sido a necessidade de uma
e processar toda a informação sensorial
maior área neocortical para possibilitar uma
rececionada pelo sistema nervoso.
vida social mais efetiva até porque,
Continuando, van Schaik et al., (2012) alegam
Tomasello e Call (1997) defendem que um
que a relação entre o volume neocortical e a
coespecífico é cognitivamente mais complexo
catagem não é válida para todo o universo
do que comida ou outros elementos
primata, mencionando o orangotango e o
inanimados presentes no meio ambiente. Por
aie-aie como exemplos de primatas com uma
fim, Dunbar e Shultz (2007) propõem ainda
vida social pouco intensa mas, ainda assim,
que alguns dos problemas ecológicos (como a
as dimensões do seu cérebro são
procura de comida) são solucionados de
equiparáveis a outros primatas inseridos em
modo mais eficaz em grupo e, portanto, de
grupos com interações sociais muito mais
forma social. Temos então um conjunto de
complexas. Por fim, van Schaik et al., (2012)
vários estudos que suportam a hipótese da
denunciam duas fragilidades na hipótese da
complexidade social em duas grandes
complexidade social: primeiro, não considera
vertentes: tamanho do grupo social (número
as mudanças graduais em que espécies ou
de indivíduos) e comportamentos sociais
linhagens completas diferem bastante no
complexos (ex.: uso de ferramentas;
tamanho cerebral e exibem habilidades
manipulação).
sociocognitivas igualmente elevadas
No entanto, a hipótese da complexidade (fenómeno conhecido como grade shift); e,
social tem sido alvo de contestação, em segundo, não é compatível com as evidências
virtude da identificação de várias lacunas e de que espécies com elevadas capacidades
incompatibilidades. Alguns autores adotam sociocognitivas, também manifestam uma
uma posição crítica no que diz respeito à elevada cognição noutros domínios que não
correlação entre o volume neocortical e a apenas e só o social.
capacidade cognitiva. Healy e Rowe (2007)

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Para o primeiro problema, van Schaik et (2007), na qual é sugerida uma adaptação
al., (2012) referem que tal pode indiciar que geral para adquirir e aprender novas
a complexidade ecológica pode ter sido mais habilidades que podem ser sociais, ecológicas
influente, comparativamente à complexidade ou espaciais, isto é, um indivíduo que
social, na evolução da cognição, através de experiencie condições propícias durante a
um conjunto de desafios exigentes como a sua ontogenia, em termos de oportunidades
constante alteração da distribuição dos para interagir com o ambiente físico e social,
recursos alimentares, orientação e memória não só adquire mais capacidades, como
para as deslocações e identificação dos locais também exibe um melhor desempenho na
da comida ou o uso de ferramentas em resolução de problemas de qualquer
atividades de forrageamento. Outra natureza. De acordo com van Schaik et al.,
explicação avançada por van Schaik e Deaner (2012) somente a hipótese da inteligência
(2003) baseia-se ao facto do cérebro ser cultural prevê que indivíduos que não
energicamente bastante dispendioso, de tal integrem grupos sociais estáveis, mas nos
modo que pode haver dificuldade em quais se verifique uma interação entre não
armazenar a energia necessária para a adultos e adultos, deverão também ser
manutenção do próprio organismo. capazes de desenvolver cérebros grandes.

Para o segundo problema detetado na Foram realizados vários trabalhos cujos


hipótese da complexidade social, van Schaik resultados demonstram consistência com a
et al., (2012) propõem uma nova hipótese, hipótese da inteligência cultural, uma vez que
mais abrangente, denominada como se verificou variação, quer no espaço, quer
inteligência geral, ou seja, uma habilidade no tempo, nas capacidades cognitivas entre
ampla e vasta para responder, de forma primatas. Tal, salienta a importância da
flexível e adaptável, a novos e complexos aprendizagem social na aquisição de novas
desafios que surjam em qualquer contexto competências, fator com um peso decisivo na
(ex.: social; ecológico), com o objetivo de evolução da cognição e da inteligência
dotar o indivíduo de uma capacidade de (Whitten e van Schaik, 2007; van Schaik e
aprendizagem e inovação consoante a Burkart, 2012). Alguns dos resultados destas
situação. Desta forma, a seleção natural terá investigações encontram-se sumariamente
favorecido os indivíduos portadores de descritos abaixo:
capacidades cognitivas com um raio de ação
(1) Variação cultural entre populações
geral para que possam ser aplicadas perante
selvagens de grandes símios ao nível das
qualquer problema, independentemente da
capacidades cognitivas complexas, ou seja,
sua natureza, com o qual um indivíduo seja
por exemplo, as técnicas de procura e
confrontado (van Schaik et al., 2012). Neste
processamento de alimentos diferem
capítulo, importa destacar uma outra
consoante as condições ecológicas em que
hipótese complementar, a hipótese da
cada população está inserida. Estas
inteligência cultural, abordada por van Schaik
diferenças refletem adaptações à ecologia
e Burkart (2011) e por Whitten e van Schaik

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que, posteriormente, são transmitidas por cognitivamente exigentes para lidar com
aprendizagem social (Byrne, 2007); vários problemas, quer a nível social, quer a
nível ecológico e que traduzem o papel
(2) Aplicação de conhecimento previamente
preponderante da cognição na aptidão de um
adquirido através de experiências culturais
organismo.
para resolver problemas específicos, mais
especificamente, diferentes populações de No que diz respeito à hipótese da
chimpanzés utilizam diferentes ferramentas complexidade social, os resultados da
para resolver o mesmo problema (Gruber et mensuração do volume neocortical dos
al., 2009); primatas sugerem, claramente, que os
desafios da complexidade social conduziram
(3) Diferenças observadas no que diz respeito
a uma pressão seletiva para favorecer os
às competências cognitivas entre primatas
indivíduos com cérebros maiores, o que lhes
selvagens e de cativeiro, onde se constatou
confere uma maior flexibilidade
que os orangotangos residentes em jardins
comportamental para desenvolver respostas
zoológicos exibem respostas mais
adaptativas face aos problemas sociais. Além
inovadoras, comparativamente aos seus
disso, existem inúmeras observações de
coespecíficos selvagens, para a resolução de
fenómenos complexos de interação social,
problemas (Lehner et al., 2010);
como a catagem, a capacidade de enganar e
(4) Os resultados da mensuração da manipular terceiros, a habilidade para ler a
inteligência geral (uma bateria de testes de mente dos outros ou mecanismos de
competências sociais, ecológicas e técnicas) resolução de conflitos. Apesar destes fortes
estão correlacionados com as medidas do indícios, esta hipótese não é extensível a
volume cerebral e com o desempenho de todo o universo primata. Não é compatível
aprendizagem e realização de determinadas com alguns casos de espécies com interações
tarefas em laboratório, segundo Reader et sociais pouco intensas mas que, ainda assim,
al., (2011). caracterizam-se por cérebros relativamente
grandes (como o orangotango), para além de
outras lacunas e críticas descritas no ponto 4.
Se o espectro de análise for estendido a
Conclusão
outros exemplos no reino animal, verifica-se
Tanto a vertente social como a vertente a presença de diversos casos, amplamente
ecológica encerram desafios que exigem um estudados e documentados, de outros
nível cognitivo avançado e complexo para a animais com quocientes de encefalização
formulação de respostas e comportamentos distintos e com nuances na sua dinâmica
flexíveis para uma maior sobrevivência e social. Para citar alguns casos, as formigas
reprodução e, portanto, uma maior vivem em colónias organizadas e compostas
adaptação. Ao longo do presente artigo, por milhares de indivíduos, em que os
foram expostos diversos exemplos, de comportamentos coletivos complexos são o
diversas espécies de primatas, de soluções resultado de interações entre as várias

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formigas e não são ordenados por outras Possuem, entre outras capacidades
formigas hierarquicamente superiores cognitivas, habilidades numéricas de
(Holbrook et al., 2010). Apesar de uma contagem (Smirnova et al., 2000), memória
colónia de formigas estar estratificada em espacial para locais de fontes de alimento
classes (ex.: obreiras; soldados; rainha), as (Bennett, 1993) e até uso de ferramentas
formigas operam como uma unidade sólida e para processamento de comida (Emery,
consistente, onde todos trabalham e 2006).
cooperam para sustentar a colónia (Oster e
Do lado da hipótese ecológica, apesar de
Wilson, 1978). Para além disso, as formigas
apresentar argumentos válidos e lógicos para
reconhecem-se umas às outras através do
a explicação da evolução da cognição em
cheiro da colónia a que pertencem e, caso
primatas, e para além dos resultados
uma formiga tenha um odor diferente, é
experimentais enunciados, o campo da
imediatamente atacada (Henderson et al.,
primatologia está recheado de exemplos de
2005). As hienas, por seu lado, vivem em
produção e uso de pequenas ferramentas
comunidades (clãs) que podem atingir as
para processamento de alimento, de
centenas de membros, utilizam diferentes
capacidade de memorização espacial de
modalidades sensoriais para distinguir e
fontes de alimento ou de técnicas de
reconhecer coespecíficos, parceiros e
forregeamento e processamento que se
parentes, organizam-se numa estrutura
assumem como exercícios cognitivamente
hierarquizada pelo grau de dominância,
exigentes e, em alguns casos, requerem
formam alianças, cooperam na caça e
igualmente destreza manual.
delimitam o território entre clãs (Holekamp
et al., 2007). Por seu lado, os golfinhos Para finalizar, ambas as hipóteses
organizam-se em grupos com poucas dezenas enfrentam um complicado obstáculo para
de elementos, comunicam uns com os outros ultrapassar: a dificuldade de as testar através
através de vocalizações, do toque e da do método científico. Até mesmo os estudos
postura corporal, cooperam para se que correlacionam o volume neocortical com
protegerem de predadores, exibem alguns comportamentos sociais e ecológicos,
comportamentos altruístas (incluindo para foram alvo de críticas no que diz respeito à
com outras espécies marinhas) e até usam aplicação do conceito de cérebro grande
esponjas como ferramentas (Titcomb et al., (large brain) e da relativa ambiguidade dos
2015). Por fim, as aves, apesar de estarem resultados (não referem o tipo de estruturas
inseridas em sistemas sociais cerebrais que aumentaram de volume e que
substancialmente menos complexos do que estão implicadas na resolução de um
aqueles que caracterizam os primatas e, problema social/ecológico em específico)
apresentarem, em alguns casos, um cérebro (Byrne e Bates, 2007). Contudo, e apesar
grande relativamente ao tamanho corporal, deste obstáculo, ambas as hipóteses
exibem capacidades cognitivas equiparáveis analisadas ao longo do presente trabalho
às manifestadas por grande parte das fornecem uma explicação plausível para
espécies de primatas (Emery et al., 2007).

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clarificar a origem e evolução da cognição Byrne, R. W. 2000. Evolution of primate cognition. Cognitive
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nos primatas, ainda que nenhuma delas seja
Byrne, R. W. 2005. Clever hands: The food-processing skills
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