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Material Suplementar

'Um bosque de folhas sagradas: o Santuário Nacional da Umbanda como refúgio ao culto sagrado da natureza'
Tabela S2. Tabela comparativa relacionando falas dos entrevistados à concepção de natureza, entidades e de energia
Mãe Antônia; SHY: Mãe Shirley; RRA: Roberta, Antônia e Pai Ricardo; DAS: Mãe Sandra e Diego C.

Variáveis FMD RCA


O que você faz na natureza você A natureza é um ponto de força. É
deixa a energia ali. Os elementos terra de Oxóssi, de Ossain. Você
naturais te dão força. A natureza é estar perto da natureza, onde, além
o lugar adequado, possui ervas e de ser natureza, esse espaço tá
energia. consagrado dentro da nossa
religião pro culto, tem uma energia
muito grande, muito... Não diria que
maior, mas onde você tem o
Concepção de natureza contato direto com essa força
vegetal.

Os orixás têm a força dos Os orixás são força da natureza e


elementos que eles neessitam, e pontos de força. O ponto de força
na natureza, como o médium e os tem que acontecer.
orixás absorvem a força dos
elementos, o orixá tem o poder
dele de eliminar naqueles
elementos.
Concepção de entidades

- Os orixás são força da natureza,


são a energia.

Concepção de energia
Frequentava um centro, um terreiro Médium e um dos principais
que frequentava. organizadores do terreiro que
frequenta e coordena, localizado na
Zona Sul de São Paulo. Ele reside
em Itapevi. Seu terreiro frequenta o
espaço do Santuário por pelo
menos uma vez por ano, para
celebrações de fim de ano. Rafael
também é responsável por
ministrar cursos de umbanda para
a comunidade externa e sobre uso
Relação indivíduo/religião de plantas no contexto religioso ou
terapêutico.

A mata é obrigatoriamente de
Oxóssi. Ou de Ossain se você for
falar no candomblé. A mata toda
Oxóssi, as ervas, Ossain. Só que
Ossain a gente sabe que ele tá lá.
Não dá pra falar o nome de todos
os orixás, e nem sempre trabalhar
dentro de todos os orixás, mas ele
tá lá.

Relação entidade/natureza
Frequência há mais de 20 anos. A gente [terreiro] vai lá uma vez por
Vai lá individualmente, não ano. Trabalhamos o ano todo aqui
possuem um terreiro. Antigamente, no terreiro, e lá a gente faz um
o acesso era difícil, pois a mata era grande agradecimento pra todas as
fechada, uma pedreira. Íamos na entidades e orixás que a gente
confiança dos orixás. Hoje há trabalha o ano todo. Vamos no
estrutura, segurança, espaço. último final de semana de
Vamos às vezes. novembro. Vamos há uns 10 anos,
sempre na mesma tenda.
Relação indivíduo/Santuário

Fico receosa de acender vela em O candomblé ainda tem muito


cemitério. E também é proibido, disso, as roças. Mas até por ser
ninguém precisa ficar escondido ninguém sabia disso há
compartilhando, é complicado. 50, 60 anos atrás. Também é
Você passa dois quarteirões daqui complicada por conta da
tem entrega. E ali fica, tem animal, intolerância religiosa de hoje em
tem comida que deteriora, as dia, né. Muito por causa dos maus
pessoas passam e ficam vendo. É umbandistas; eu não posso dizer
Relação um respeito porque foi feita uma que esses despachos no meio da
indivíduo/religião/sociedade entrega ali pra um orixá. Mas tem rua, esses trabalhos no meio da
que ser num lugar específico. rua denigrem demais, e sujam até
os nossos pontos de força que
seriam uma praça, mas não tem
espaço assim fácil pra você fazer
um trabalho.
Aqui a questão da preservação é
uma grande briga. Antes era
normal, por exemplo, uma entidade
pedir pra fazer um despacho desse
ou uma oferenda em campo santo,
num cemitério, ou numa via... Hoje
em dia ainda tem – eu não posso
falar que não tem – mas a gente
pede... Mas a gente tenta o
máximo fazer essa... Essa limpeza,
né. Não sujar pra não ter que
limpar; mais ou menos isso. Então
a gente tenta, dentro de uma
evolução – que eu acho que a
Relação indivíduo/natureza gente tá evoluindo dentro disso,
não é fácil – você falar pra um
caboclo que tem o arquétipo do
Índio que trabalhava na mata, que
você não pode usar a mata pra
fazer o que ele fazia, é...

O espaço da cidade é difícil de O aumento da selva de pedra é


atingir. Não tem aquela mesma muito complicado. Por exemplo,
energia que um espaço natural. antigamente um terreiro era feito
num grande quintal. Hoje em dia
não tem. Nós temos aqui no fundo
algumas ervas, mas é muito
complicado.

Relação religião/cidade/natureza
Quando os orixás vão pegar ervas, Por exemplo, nós aqui somos um
eles pedem licença. É muito bonito. prédio, onde a gente tenta minima,
Tudo eles pedem licença pra tirar, diria até porcamente, ter alguma
nunca pro desperdício. coisa [natural] aqui perto. A árvore
que tem na frente da nossa casa
fomos nós que plantamos a pedido
de uma entidade.

Relação religião/terreiro/natureza

Eu conheço as plantas. Plantas


medicinais, porque venho de uma
herança que se usava muito
Relação indivíduo/ervas plantas, trabalhava com plantas,
minha vó trabalhava muito com
plantas.

Os caboclos, os orixás tem mais


sabedoria, eles pegam um mato
que eu nunca vi. Eu não conheço.
Mas o orixá conhece. Ele tem a
sabedoria adequada pra pegar
Relação entidades/ervas
qualquer plantinha rasteira que ele
tem um significado. De cura carnal,
espiritual, astral.
Não conheço outros espaços de Hoje em dia, por ser difícil de achar
mata, mas também porque nós na natureza, a gente usa muita
nunca procuramos. erva seca. Primeiro, saiba a
procedência. É igual qualquer coisa
que eu vou colocar como um
creme.

Relação indivíduo e dicotomia


cidade/natureza
Conseguimos no boca-a-boca. Eu particularmente tenho uma
Quando é uma planta mais difícil, senhora que trabalha com ervas.
pega na mata que fica no caminho Então ela traz pra mim. Aqui por
de volta do Santuário. Se não, a exemplo no terreiro a gente chama
gente pede pro pessoal que a ela de “traficante” [Risadas].
gente conhece. Em feiras é mais Porque eu peço as ervas, ela que
difícil. Hoje em dia tem muito casa arruma pra todo mundo. A própria
de ervas. Mas pessoalmente não casa de tempero tem bastante
confio muito. Porquevocê por coisa. Mas são normalmente essas
exemplo compra lá um saquinho de casas de produtos naturais que tem
sete ervas. Quem garante que tudo que procura. E o que não tem
aquilo ali vai ter as ervas lá? Então você vai na feira... CEASA. Ou um
a gente prefere, mesmo que seja contato que você vai achar. E você
um pouco difícil, a planta mesmo. vai plantando na sua casa. Eu
Se minha mãe não sabe, tenho uma horta pra isso. As ervas
perguntamos pro meu tio, se ele que eu mais uso eu que cuido, eu
não sabe perguntamos pra outra que faço, eu que planto. Pra que
tia. Procuramos fazer um bem- eu tenha isso mais fácil pra
Acesso às ervas bolado pra conseguir a planta manusear elas. Mas nem todo
mesmo. No fim dá tudo certo. mundo tem esse terreno em casa
que consegue pra fazer isso.
rado da natureza'
, entidades e de energia, bem como relação entre o indivíduo, a entidade, o Santuário e a natureza. FMD: Fabiana D. e médium
go C.

MAN JUP ANT


O ponto de força dos orixás é na Porque a gente aprende com os Pai Ronaldo fala uma coisa muito
natureza. E quando a gente sai do guias. Primeira coisa: respeitar o importante e eu sigo muito que
templo e vai fazer um trabalho ambiente que nos sustenta. A umbandista não precisa de um
desse dentro de um espaço como o louvação que falam os orixás é a templo, o templo é a natureza, nós
Santuário, de vegetação, tem oração da natureza. Todo esse somos um templo vivo, e eu já vi,
vários pontos de força né. Tem a cuidado pra cuidar da natureza. recarreguei, me reconectei debaixo
pedreira, a mata, a cachoeira. Porque ela cuida da gente. de uma árvore. Acho que o contato
Então a gente energeticamente pra mesmo com o natural, os pontos de
gente é muito melhor. Não faz forças que são a mata, o mar, a
sentido você ficar sujando um cachoeira. Eles trazem uma
ponto de força que é pura energia reconexão, a reconexão, a recarga,
cósmica. recarrega muito a energia, é um
ponto natural de energia.

E é legal porque a gente vai Então Deus se fez presente na E é assim mesmo, a relação com
colaborando também com essa Terra através de seus orixás. Orixá os guias é de amizade e confiança.
coisa de refazer, de manter os nada mais é do que energia da Eles nos dão muita ferramenta,
espaços que são pontos de força natureza. mas a gente tem que ser bons
da natureza pra gente. filhos, bons instrumentos pra eles
trabalharem. Então o conhecimento
vem aí. Mas caboclo, preto-velho;
aqui, nessa casa, caboclo, preto-
velho. E na minha estrutura, na
minha coluna, quase todos tem
ligação com a mata.

A gente sente a energia do orixá, a Os pensamentos negativos, eles A conexão com a natureza, com o
gente sente a energia de Deus, condensam, toda a energia ela vai nosso sagrado. É sim, forças
muito mais pura. ficando física. Tudo o que você naturais, forças divinas naturais, e
coloca energia, se você ficar que está presente em tudo. Eles
obcecado pensando numa mesma trazem uma reconexão, a
coisa, você mesmo coloca energia reconexão, a recarga, recarrega
naquela coisa e isso te paralisa. E muito a energia, é um ponto natural
é isso que os guias vêm e te de energia.
orientam, trabalham com você, é
nisso que parte das ervas
trabalham... Porque na realidade
eu não sou Jupira, eu estou em
Jupira nessa existência. Pra gente,
nós somos parte da centelha
divina, todos nós somos parte da
mesma centelha divina. Que é
Deus, né. O cristão.
Eu sou umbandista vai fazer 18 Eu sou umbandista desde que Nós somos um terreiro de
anos. Eu trabalhava num templo nasci. Meu pai era pai-de-santo, umbanda, esse terreiro existe há
aqui embaixo na rua Boturoca, que minha vó era mãe-de-santo. Minha 10 anos oficialmente. Ele existe há
fechou. Fiquei lá por volta de 7, 8 bisavó era negra de senzala. E o um pouco mais. Eu sou umbandista
anos. E nesse meio tempo lá meu bisavô ele era índio, de tribo há 33 anos, desde que nasci. Vim
fechou e aí a gente queria um lugar mesmo. E aí foi passando de pai de outro terreiro, o Everton que é o
pra ir trabalhar, ou tomar um passe, pra filho, quando eu era sacerdote central, eu sou a
seja lá o que for. E a gente já adolescente meu pai fechou, não sacerdotisa, a gente chama de
conhecia o Santuário porque nós assumiu o terreiro que era pra mãe-pequena. E o terreiro existe
íamos com o outro tempo pra lá assumir. E ele, como a gente fala, há 10 anos. As entidades aqui as
uma vez por mês pra fazer fez levante. básicas a gente tem como base a
oferenda, trabalho na natureza. E umbanda de raiz, umbanda
aí ficamos 2 anos lá, as pessoas tradicional. Caboclo, preto-velho,
foram chegando, e de repente a que são as nossas bases. Mas
gente tava num grupo grande. E aí trabalhamos com baiano, boiadeiro,
abrimos aqui, e vai fazer agora dia com marinheiro, cigano, exu, exu é
11 de outubro vai fazer 9 anos que muito presente aqui também.
estamos com esse templo aberto.
Há uns 15 anos vou no Santuário
mais ou menos.

A gente nasce de um caboclo. A Caboclo, sem dúvida. Sou suspeita


primeira entidade que aparece em em falar, porque graças a Deus
Terra e fala: “vamos fundar a porque minhas entidades,
religião de umbanda” é um caboclo. praticamente todas trabalham com
Na verdade, quem teve uma elas. Todas trabalham na mata.
vidência na hora viu que ele tinha Posso dizer todas, tirando
sido um padre na outra vida, mas marinheiro, que não tem ligação
ele se mostra pra gente como um com as ervas, com a mata, o
caboclo, o caboclo das sete restante todos.
encruzilhadas – você já deve ter
estudado minimamente sobre isso
– como é um caboclo, ele traz essa
força das matas. Os caboclos.
Boiadeiro... Boiadeiro geralmente é
no Cerrado, né. Mas quem usam
ervas no seu trabalho, todos. Até
Exu trabalha com ervas. Todos,
todo panteão de espíritos se usa
da energia do mineral, da erva, do
que a gente tem na natureza em
benefício humano.
Tem a pedreira, a mata, a Vou de três a quatro vezes por ano. Abriam a clareira e a gente
cachoeira. Lá pra cima onde tem a No ano passado ia quase todo trabalhava a noite, ou durante o dia
cachoeira, tem um outro espaço, mês, porque eu estava no barco do mesmo. A gente sempre ia, uma
não sei se tá aberto agora, mas Pai Ronaldo, no curso de formação vez por ano no mínimo a gente ia
antigamente é aberto. Então, sacerdotal. Então eu ia sempre, pro Santuário. Então lá é uma
nossa, a mudança é fantástica. Ele todo começo de ano todos os filhos segurança pra gente, de não
tem um minhocário, ele reaproveita que entram na casa têm que trabalhar na rua, de não trazer as
frutos e tudo que a gente usa pro passar por uma cruza. Na nossas oferendas pra rua, e lá é
próprio espaço. É fantástico o que cachoeira, na casa de Oxum. Que seguro, tem um pessoal que limpa,
ele fez ali. E fora que o Santuário é Oxum é dono das cachoeiras. então a gente vai pelo menos a
o lugar adequado para que a gente Então a cabocla cruza todo filho- cada três meses, quando a gente
faça esse tipo de coisa. Então de-santo na cachoeira antes de precisa descarregar e recarregar as
ainda bem que a gente o espaço começar o ano. Antes de começar energias também.
como o Santuário do Pai Ronaldo os trabalhos. Então todo começo
pra poder acolher tanta gente. E de ano eu vou pro Santuário.
ele reaproveita muita coisa, né.

Antigamente, se fazia muito Naquele tempo, lá em 1908, não se


oferendas nas ruas e tal. Mas com tinha medicação, não se tinha
o tempo a gente vem tomando assistência médica como se tem
consciência ecológica, né, e aí hoje. A tecnologia não tinha como
pelos tempos que a gente vive de hoje. Então, era muito mais fácil
insegurança também. você pegar, abrir uma babosa,
pegar aquela baba, misturar um
pouco com uma outra erva e
passar num pé diabético, né?
Entende? Hoje, a gente não usa
mais tanto como medicina como
era usado antes. Antes era muito
mais usado como medicina. Hoje a
gente usa muito mais no padrão
energético. Isso faz uns 14 anos.
A gente parte do princípio que a E a Terra tá em colapso. Se a
natureza é um ponto de força dos gente cuidar dela, a gente vai se
orixás que são energias de Deus, lascar. A gente ia pra mata, né. Ia
não faz sentido a gente depredar pro meio da mata fazer tudo,
tudo e sujar tudo, e corre risco de recolhia tudo e depois ia embora.
botar fogo na mata. Então é muito Pra não deixar sujeira no campo
bom que a gente tenha um lugar santo. Porque vou te falar uma
específico pra fazer os nossos coisa. Quem te falar que é
trabalhos religiosos. E você faz umbandista, mas for no meio da
com tranquilidade. Tranquilidade no mata largar [inaudível] aquela
sentido de segurança e também sujeira lá, ela não é.
você sabe que tá ajudando a
preservar. Então tudo que a gente
faz, pelo menos nós: a gente aluga
um espaço lá no Santuário. A
mesma coisa quando a gente vai
pra praia. Quando a gente vai fazer
trabalho de final de ano, a gente
deixa a praia do jeito que a gente
achou. Muitas vezes a gente
recolhe quando chega. A gente
limpa o espaço pra gente ficar.
Sujeira que outras pessoas
deixaram.

Então, não tem mais terreiro de


chão batido, então a gente tem que
se adaptar com isso, que
aconteceu com as ervas também.
Era assim. Era mais fácil, a gente
achava erva em todo lugar. Todo
lugar tinha terreno baldio, mas era
muito difícil o Santuário em si o
trajeto pra lá. Pra chegar lá era
muito difícil. E hoje a gente tem
estrada, tem água encanada. Eu
acho que essa relação com o
urbano, essa adaptação pro urbano
e do natural, que é importante.
Sem dúvida facilitou em algumas
coisas, dificultou em outras.
A gente respeita a natureza porque Acho que pra ela perpetuar, ela
nós entendemos os orixás como precisa dessa evolução. Mesmo
manifestação da natureza. que a gente não encontre tantos
pontos. Mas preservando esses
pontos que existem, preservando o
que a gente tem, o que a gente
encontra. Por isso que a umbanda
é tão ligada à conservação da
natureza. Eu sou chata pra
caramba com relação a isso... Eu
acho que sim, a gente tem que
preservar, não jogar lixo no chão,
sabe? Esse tipo de coisa, de
pequenos hábitos... “Ah, mas você
é uma em um milhão”. OK, mas se
eu fizer, eu como umbandista fizer,
eu vou ser formadora de opinião,
então acaba formando outras
opiniões e isso funciona de
verdade.

Se você for sentar comigo, eu vou


ter banho preparado já, conservado
em álcool, pra facilitar, sabe? Pó
que dá pra utilizar quando você tá
ali na rapidez... Tudo pra facilitar. E
o Santuário vem isso também.

E muito presente com as ervas


também. Trabalha muito com as
ervas. Todos eles trabalham. Pra
gente é fundamental, pra nós como
médiuns, como trabalhadores de
umbanda é fundamental o uso das
ervas, e pra eles como ferramenta
de trabalho.
Hoje em dia existem vários.... Nós fazemos magia com umbanda,
Vários. Eu conheço de frequentar o nós temos a religião umbanda é
Santuário. Tem um outro lugar que uma religião muito ritualística,
é de Cachoeira que eu não sei se magística, e que é uma religião que
funciona. Que a gente ia fazer se tornou hoje urbana.
trabalho lá, mas não tem o mesmo
princípio do Pai Ronaldo. Tem um
lugar em Nazaré Paulista. Então
hoje em dia já tem alguns
Santuários. Apesar de a gente não
conhecer os outros todos, mas pelo
que a gente ouviu falar é do
mesmo jeito. Algumas são
propriedades particulares e eles
usam isso pra reverter, pra
conservar os espaços. Antigamente
era mais fácil de conseguir
ervas.Muitas casas com quintal.
Hoje em dia já não tem mais. Você
tem que ir em mercado, tem que
comprar na bandejinha ou em
maço fechado. Então quando a
gente pega no mercado, a gente
sabe que é uma coisa pelo menos
certinha, regularizada. Não é uma
coisa que tá em beira de estrada.
Ainda bem, hoje em dia, é muito Cada um tem um pouco de erva Então, algumas eu consigo na
fácil você achar as ervas. Toda em casa. Que nem essa dona mata mesmo. Eu sou privilegiada
casa de macumbeiro sempre tem Fátima, ela tem um borbo, menino, porque eu nasci e me criei aqui
uma ervinha plantada, né. Aqui a que é maior que eu. É uma árvore. num bairro próximo, que ainda tem
gente tem umas ervas plantadas. A Ela tem muita planta. Eu não tenho muito vegetal, que é um pedaço de
gente toma muito cuidado onde a planta. Porque aqui a gente não Mata Atlântica. Então eu encontro
gente vai comprar as ervas, erva tem quintal. Seria um sonho de muita coisa na mata. Eu cresci lá,
fresca, principalmente erva seca. consumo a gente estar numa casa então pra mim é muito familiar. Eu
Você vê, você passa em Pinheiros que tivesse quintal e a gente consigo muita coisa pra trabalhar
você vê um monte de lugar conseguisse ter as nossas ervas na esteira. Mas pra cultivo, tenho
vendendo aquelas árvores torrando aqui. Mas é impossível. que comprar. Então eu compro
no sol, aí pega chuva... Isso não é muda, tem um aquário aqui perto
legal. Então as frescas, tem duas de Itaquera. Existe também uma
médiuns aqui que vão na feira. relação de amizade e confiança
Uma mulher que planta e colhe, nelas. Então eu compro muito,
traz super fresquinha... Temos o existem os mateiros que trazem.
mercado da Lapa também, que tem Na 25 de Março tem um interposto,
duas bancas que fornecem...A perto do Mercadão, eles trazem
gente tem alguns trabalhadores muita coisa. Então lá é um bom
que tem erva em bastante lugar pra se comprar ervas em
quantidade em casa, que traz. Mas quantidade. E aqui em São Paulo,
normalmente quando a gente vai Santo André e São Bernardo, eles
comprar seco, a gente procura têm, sabe aquelas áreas de antena
comprar, por exemplo, algumas eu de transmissão, aquelas torres?
compro no Mundo Verde. A gente Eles cultivam muito ali, eles
tem um distribuidor que fica lá no cultivam hortaliças, e outras ervas.
Belenzinho que a gente compra... Que é onde também eu compro
pras esteiras. Ali o pessoal acabam
plantando e vendendo, doando,
então é engraçado, mas o pessoal
aqui de baixo consegue fácil.
MD: Fabiana D. e médium Márcia D.; RCA: Pai Rafael; MAN: Mãe Rosângela e Márcia; JUP: Mãe Jupira; ANT:

SHY RRA DAS


E tudo vamos trabalhar com ervas, Tudo o que é natural, tudo o que é E eu acho que a importância das
dentro daquele elemento, terra, da natureza pra gente é de extrema matas é também a energia que as
mas as ervas é que simbolizam importância. Que as energias as matas tem, é uma energia fora do
tudo o que trabalhamos. Então a quais trabalhamos, as quais os comum pra gente né, pra usar, é
erva pra nós, e a mata, o solo, é nossos orixás usam como uma outra energia, traz coisas boas
sagrado. elemento de trabalho, todas elas pra gente.
vêm da natureza. E em grande
parte do reino vegetal.

Trabalhamos muito com Oxóssi, Tudo o que é natural, tudo o que é


trabalhamos com a linha dos da natureza pra gente é de extrema
caboclos, pretos-velhos, e com a importância. Que as energias as
linha de seu Zé também, que é quais trabalhamos, as quais os
tudo a base da magia, do encanto, nossos orixás usam como
da sustentação, e tudo dele vem elemento de trabalho, todas elas
das matas. vêm da natureza. E em grande
parte do reino vegetal.

Nós trabalhamos espiritualmente Tudo o que é natural, tudo o que é


pra descarregar, energizar. Nós da natureza pra gente é de extrema
precisamos de árvore. Se você vir importância. Que as energias as
parada uma pessoa numa árvore, quais trabalhamos, as quais os
não é porque é loucura. É porque nossos orixás usam como
ali renova a energia. Você põe a elemento de trabalho, todas elas
mão na árvore, você sente, o vêm da natureza. E em grande
pulsar, o retirar daquilo que você parte do reino vegetal.
trabalhou com o paciente e recebe
novamente do solo, que é a terra, a
sustentação novamente, pra dar
continuidade no trabalho.
Estou na umbanda desde os 13 Uma vez por ano. Viemos hoje Não, a gente não tem terreiro. A
anos, estou com 55. Trabalho porque tínhamos que fazer gente procura trabalhar a maioria
espiritualmente nós temos nosso algumas obrigações e batizar os das vezes aqui mesmo. Eu já tive
espaço, aqui [na residência] eu novos filhos novos da casa. Nós três terreiros, mas com outras
faço consulta espiritual. Lá no temos um terreiro na zona norte pessoas, e não deu certo,
terreiro [no Santuário] a gente faz também, onde frequentamos. entendeu? Agora quando tem
os trabalhos. Já há mais de 35 Cultua as sete linhas. Os orixás trabalho grande a gente faz aqui.
anos. Tenho a umbanda como nós cultuamos Oxalá, Oxum, Iansã,
religião. Sou a babá do terreiro. Xangô, Ogum, Nanã, Obaluaiê,
Oxóssi, Iemanjá... As sete linhas.

Pra não deixar a desejar. Que Ela representa até Oxóssi nas
talvez nós não tenhamos matas. Os orixás das matas. Então,
conhecimento, mas na linha assim, a mata é a coisa mais linda
espiritual tem fundamento. do mundo que Deus pode por. E as
matas elas servem tanto pra gente
tomar banho quanto pra curar.
Ó, a casa tem uns 20 anos. A Tem muitos anos, mais de 30 anos,
gente deve vir pra cá há uns 15 acho. Aqui não tinha tanta tenda,
anos. O simples fato de que as tava inaugurando, as imagens,
oferendas são feitas, são ainda. Eu conheço o Pai Ronaldo
colocadas e o pessoal limpa há muitos anos, quando ele fazia
depois, recolhe. A natureza não bingo, baile, pra botar aquele
fica suja, não fica sujeira. Eles terreiro que ele tem o pai benedito.
limpam. É um espaço onde se De quinze em quinze dias. Uma
concentra tudo e é feito uma vez por mês. Depende, quando tem
limpeza. festa de orixá a gente vem. Mas é
porque é difícil, nem todo mundo
consegue, nem sempre tem
condições.

Sem incomodar ninguém, ninguém E aqui no Santuário é o lugar pra


é obrigado, porque eu sou você realmente pra fazer as
umbandista, a ouvir o som do oferendas, não fazer em qualquer
atabaque. Carro pra parar; é um lugar, em qualquer esquina,
sufoco, a gente que mora na qualquer rua, pra sujar o ambiente.
cidade. Nós trabalhamos numa A gente faz aqui mesmo que aqui
religião que não é incomodar, e sim já eles pegam, jogam fora, e sabem
acomodar todos. Acolher. Então lá a finalidade das coisas.
no Santuário temos esse espaço
que tem estacionamento, tem uma
comodidade também, e a
segurança. Pra que possamos
fazer os nossos trabalhos
garantindo também a segurança de
todos.
Que nem árvores, a gente mesmo
quando vai trabalhar nas matas lá
perto de casa, eu falo “gente, não
deixa vela acesa”. Porque pode
pegar fogo na mata. Ainda mais
agora que é tempo seco. Porque
aqui a gente tem que preservar a
natureza. Aquilo lá faz parte não só
da gente, mas das outras crianças
que tão vindo. Tem, tem as matas
lá.

É diferente de você sair na mata do Mas é complicado, porque a


lado de lá, colocar sua oferenda e maioria das matas, você sabe que
vai ficar aquilo lá. Muitos materiais hoje em dia é perigoso, né. Então
não são muitas vezes degradáveis, ou a gente vai de manhã, até o
e vai poluir a natureza. Não é a horário do almoço a gente trabalha
intenção. e volta, que na parte da tarde é
meio perigoso. Porque a gente
corre risco também. Aqui não. Você
pode trabalhar tranquilo que você
não corre risco de algum bandido
sair correndo no meio do mato um
atrás do outro lá, ou qualquer outra
coisa. Então a gente jamais vai pôr
a vida dos demais em risco.
Entendeu? O que a gente não quer
pra gente a gente não quer pros
demais.
Pra conservação. Na linha médica,
trabalhamos com ervas. Então as
ervas é muito necessário, como os
cristais. Pra nós, termos um espaço
dentro da mata, nós preserva tudo.
Não, existem outros lugares, mas,
assim, com a estrutura organizada
é esse aqui. Lá na nossa região
tem cachoeira também, mas é
menos organizado, bem menos.
Organização, segurança.
Também tem muito aqui nas casas É fácil. Uma ou outra que tem um Eu planto. Lá onde meu pai mora,
de ervas, e também uma mata aqui pouco mais de dificuldade. Até eu moro em apartamento. Mas
perto. E a gente sempre se porque, assim, as vezes tem onde minha irmã mora, que meu
comunicando. Porque, a ama da muitas que dão no meio da mata pai tem um terreno vazio, a gente
casa, trabalha com a linha só de mesmo. E a gente sabe que hoje toda vez que precisa a gente
ervas. Essa que dá o curso lá em se alguém pegar você tirando uma planta. Mas quando não tem, que
São Bernardo. É, indo pro planta do meio da mata, uma nem, essa cidade... Pra plantar,
Santuário, ali tem muito, muito planta nativa, é crime ambiental. pede pro vizinho. Sempre tem
mesmo. Hoje tem, como Então a gente vai atrás de lugares alguém que tem. Ou se não tem vai
antigamente nós atravessávamos que comercializam isso, acaba a seca mesmo. Não, sempre foi
pelo teleférico. Agora a gente dá a sendo mais difícil, e você acaba fácil [para encontrar ervas]. Sempre
volta. Mas ali tem tantas ervas, que encontrando seca. Mas fresca teve.
o povo nem conhece. realmente algumas são mais
difíceis.

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