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Desde que aqueles mafiosos haviam sido alocados em uma das galerias do presídio, surgira

um clima de desconfiança diferente entre os moradores daquele lugar. Sabiam muito bem que se
tratavam de membros da maior organização criminosa do mundo, e se pudessem tomariam o estado
inteiro.
Quando os primeiros chegaram, houve um certo conflito. Os chefes, com cara de rico,
atraíram a atenção da massa carcerária, que procurou se aproveitar deles. Mas por meio de
companheiros na rua, logo chegou aos ouvidos dos detentos as ambições dos membros daquele
sindicato do crime, e estes passaram a sofrer ataques e perseguição nas galerias, o que levou a
polícia a transferi-los para um canto de uma galeria, separada por uma grossa parede da outra, em
uma tentativa de isolá-los.
Conforme passavam os meses, as fileiras da máfia no presídio central apenas cresciam. Mais
e mais detentos filiados às famílias italianas chegavam. A maioria deles não era de estrangeiros ou
de ricos do interior com conexões estrangeiras, e sim moleques das periferias da grande Porto
Alegre que eram empregados como força de trabalho descartável.
Esta situação perdurou por anos. Os mafiosos eventualmente consolidaram uma galeria
inteira como sua, onde podiam atuar livremente, e as outras facções criminosas do estado seguiam
com suas operações normais, e guerreando entre si. A atuação da máfia ainda era relativamente
tímida, ao menos na grande Porto Alegre, e isto fez com que as principais facções não
identificassem nela um possível rival poderoso, mais como um aliado em potencial para negócios e
combate às outras facções. Os mafiosos oscilavam entre apoio a facções, dependendo das
condições, acreditando que utilizavam elas ao seu favor, e estas julgando o mesmo dos mafiosi.
No entanto, após alguns anos, o clima tanto nas ruas como na cadeia pareceu esfriar. A máfia
já não parecia crescer em suas operações ou tamanho, e até cedera espaço para outras facções
atuarem. Parecia em franco enfraquecimento, o que por certo momento deu tranquilidade a alguns
líderes de facções criminosas, mas despertou a preocupação de muitos detentos. Cadeia muito
quieta era sinal de que algo estava prestes a acontecer.

Domingo era dia de visita, a trégua semanal da prisão, em que todas as rixas e intrigas
ficavam suspensas e aquele local horrendo até parecia um espaço feliz, com o encontro de pessoas
que se amavam, famílias, filhos, esposas, amantes. Na cadeia o domingo era verdadeiramente um
dia santo.
Porém, naquele dia, a maioria dos detentos foi surpreendida. No meio da tarde, enquanto os
casados estavam com suas amadas nas celas, os filhos conversavam com seus pais, e os
abandonados caminhavam de um lado para o outro do pátio, ouviu-se uma movimentação estranha
pelos corredores.
Brigadianos fardados, todos com máscaras, portando fuzis AK-47 em seus braços, se
espalharam pelas galerias, ordenando a todos que saíssem imediatamente e se deslocassem ao pátio.
Casais surpreendidos em meio ao seu momento mais especial e famílias assustadas pelo armamento
pesado foram dirigidas até o centro do presídio, junto aos detentos que já troteavam por lá.
Os brigadianos cercavam os grupos de pessoas e as dirigiam pelas escadas e corredores até a
câmara mortífera a céu aberto. Era chegado o dia do grande massacre, e os infelizes lá naquele dia
tinham meros minutos para desfrutar da vida.
Os detentos e suas famílias eram ordenados a sentar no chão, retirar as roupas e se enfileirar,
de uma forma similar ao procedimento da polícia quando havia rebelião ou algo similar. Muitos no
meio reclamavam e se revoltavam, pois acreditavam ser algum golpe da brigada militar para privá-
los do único dia que os fazia ter esperanças. Mal imaginavam que seriam privados de muito mais.

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