Você está na página 1de 2

Livro 1

Sócrates está no Pireu com seu Irmão Gláucon, para um festival a uma deusa Trácia. Polemarco,
junto com Adimanto e Nicérato, o convida para ir a sua casa. Lá encontra Trasímaco, Clitofonte e
Céfalo, pai de Polemarco. Ao chegar, repara em como Céfalo está velho, ao que Céfalo comenta
que os velhos costumam odiar a velhice por sentirem falta de tudo que a juventude lhes
proporciona, mas Céfalo acredita que a velhice é a libertação de todos impulsos e necessidades da
juventude. O que realmente causaria o sofrimento nessas pessoas é a falta de sensatez,
independentemente da idade. Pela preocupação com o Hades, que na juventude era só engodo,
muitos se afligem na velhice. Mas os justos não. Então Sócrates pergunta qual a definição de
justiça, se seria a dizer a verdade e não dever a ninguém, ou se a justiça existiria por si, e poderia
estar presente ou não em qualquer ação. Polemarco se mete na conversa e concorda, citando
Simonides, que afirma a justiça ser restituir a cada um o que lhe deve. Céfalo sai da sala. Sócrates
prossegue em um típico diálogo aporético, demonstrando que Polemarco, na realidade, não faz a
menor ideia do que está falando. Pela visão de Polemarco (supostamente baseado em Simônides), o
justo seria como um ladrão, visto que sua justiça, em que ser justo é fazer bem aos amigos e
prejudicar os inimigos, consistiria em fazer bem a si e outros, mas, ao mesmo tempo, fazendo o mal
a outros. Isso é um problema, pois quem é amigo (bom) e quem é inimigo (mau)? Tal afirmação não
poderia ter partido de um sábio, mas de um poderoso ignorante, como um tirano. Pensando nisso,
Sócrates afirma que é injusto fazer o mal em qualquer situação. Trasímaco, nessa hora interrompe e
critica Sócrates, reclamando que esse só dá voltas mas não propõe ideia nenhuma de justiça.
Sócrates responde que não pode julgar aquilo que não sabe ou não conhece, e um exame mais
profundo do tema seria necessário antes de falar qualquer coisa. Trasímaco, que diz saber, vai dar
sua resposta, cheio de orgulho. Para ele, a justiça é a conveniência do mais forte. São os governos
que detêm o domínio da força e estabelecem as leis, determinando a justiça (sagaz esse menino).
Sócrates, então, passa a debulhar a ideia de Trasímaco: visto que governantes cometem erros, nesses
casos, suas decisões não seriam, necessariamente, as melhores para todos, e sua obediência não
seria fazer justiça. Trasímaco rebate afirmando que um governante não se engana, do contrário,
trata-se de um charlatão, e não um verdadeiro sábio. Sócrates constata que cada pessoa, e cada
ofício, tem a sua própria finalidade e, por isso, sua própria conveniência, e cada arte ou ciência se
presta a examinar estas conveniências, de forma que buscam o vantajoso ao que é governado por
essa ciência, e não ao mais forte (o médico receita o que é melhor para o doente, não para o
médico). Trasímaco se vê obrigado a concordar, com relutância. Assim, os cheges não prescrevem o
que é vantajoso para si, mas sim para seus subordinados (hahahaha ta bom). Trasímaco rebate
afirmando que não. Os criadores de bois não criam os animais para o bem destes, mas o seu bem
próprio, assim como os súditos de governantes têm de obedecer ordens que não os beneficiam, mas
sim a seus senhores. Os homens injustos costumam levar a melhor em relação aos justos. Outro
exemplo: quando alguém rouba, é tratado como bandido e punido, mas um governante, que rouba
de seu povo, é adorado. Ao menino trasimaco querer ir embora sem discutir, Sócrates demonstra sua
preocupação, pois quer conhecer melhor para poder viver melhor. Passa a dizer que, para um
criador de ovelhas, sua função é prover o máximo de bem-estar para as ovelhas, assim como o
governante, que não se beneficia do governo. Há vantagens particulares a cada arte, que não são o
lucro, virtude da arte dos lucros. Assim, há uma vantagem a cada arte, e se emprega uma faculdade
adicional, de onde deriva o ganho pessoal. A pessoa pode trabalhar, e não receber nada em troca, e
mesmo assim continuará sendo útil aos outros. Sendo assim, qualquer arte, por si, não traz qualquer
benefício próprio. Em seguida, Sócrates faz uma volta para provar a Trasímaco que o justo é bom e
sábio, enquanto o injusto é mau e ignorante, ao contrário do que o seu interlocutor afirmou. Ele
constata que cada um é sábio na sua arte, e excede aquele que é ignorante, mas não o sábio, de
forma que o justo tem de ser bom. Assim, conclui que justiça é virtude e sabedoria, e injustiça é
vício, maldade e ignorância. A injustiça gera discórdia, incoerência e conflito, seja em qualquer
esfera da vida, desde o estado até a vida privada, assim como é uma afronta aos deuses. Os injustos,
se não tivessem em si um pingo de justiça, jamais teriam conquistado qualquer coisa, porque sequer
conseguiriam se organizar. Por fim, tal qual a função dos olhos é enxergar, a função da alma é a
vida, o governo, a ordem, a deliberação e tudo mais. Sendo assim, a alma má, vai governar mal,
enquanto a alma boa governa bem, e vive bem, sendo ela justa. Por fim, Sócrates reconhece que
desviou do assunto e não chegou a saber, de fato, o que é a justiça.

Você também pode gostar