Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Cachoeiro de Itapemirim
2021
JOSIAS PAULUCIO TIBURCIO
MÁRCIO ALVES RIZZO JÚNIOR
Cachoeiro de Itapemirim
2021
(Biblioteca do Campus Cachoeiro de Itapemirim)
CDD: 620.106
Bibliotecário/a: Renata Lorencini Rizzi CRB6-ES nº 085
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CAMPUS CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM
Rodovia BR-482 (Cachoeiro-Alegre) – Fazenda Morro Grande – Caixa Postal 527 – 29300-970 – Cachoeiro de Itapemirim – ES
28 3526-9000
Aos 15 dias do mês de setembro do ano de 2021, às 14:00 horas, foi realizada, via conferência, a
defesa pública do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) dos alunos Josias Paulucio Tiburcio e
Márcio Alves Rizzo Júnior intitulado “TÚNEL DE VENTO: PROJETO, CONSTRUÇÃO E
INSTRUMENTAÇÃO”.
A Banca Examinadora composta pelos examinadores listados abaixo, após avaliação e
deliberação, considerou o trabalho aprovado, com nota final 100 (cem).
Considerações da Banca:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Eu, presidente da banca, lavrei a presente ata que segue assinada por mim e demais membros.
Co-orientador
Emitido em 15/09/2021
Cada vez mais temos a necessidade de conectar o conhecimento prático com o teórico.
Experimentos tendem a entregar resultados mais próximos possíveis do problema no
mundo real, e auxiliam no embasamento de metodologias analíticas. Com o objetivo
de que as aulas de termofluidociências da Engenharia Mecânica do IFES campus
Cachoeiro de Itapemirim possuam um mecanismo que conecte o conhecimento de
sala de aula ao aplicável na indústria, este trabalho consistiu em compilar fundamentos
teóricos relacionados a túneis de vento, que se trata de um dispositivo cujo objetivo é
simular as condições do escoamento sobre objetos e fornecer dados empíricos sobre o
problema, bem como projetar e construir um túnel de vento para fins didáticos. Para
tal, os cálculos da geometria e de perdas de carga de seus componentes base foram
efetuados embasando-se em literaturas voltadas ao tema junto aos seguintes requisitos
de projeto: a velocidade do fluxo e as dimensões da seção de teste. Adicionalmente,
o projeto de um sistema eletroeletrônico de uma balança capaz de medir as forças
atuantes em objetos sob efeito de fluxo forçado dentro do túnel foi realizado, contudo os
dados obtidos das células de carga utilizadas não foram consistentes e não ofereceram
resultados satisfatórios, impedindo sua implementação. Ao final, toda a metodologia
de construção do túnel foi descrita, e análises qualitativas foram realizadas a fim de
caracterizar o escoamento.
z Altura
θ Ângulo
α Ângulo de ataque
A Área
Ap Área planiforme
CD Coeficiente de arrasto
CL Coeficiente de sustentação
L Comprimento característico
D Diâmetro
d Diâmetro do fio
fa Fator de atrito
frt Fator de redução de turbulência
FD Força de arrasto
FL Força de sustentação
g Gravidade
ρ Massa específica
Ma Número de Mach
Re Número de Reynolds
p Perímetro molhado
β Porosidade
r Raio
Ar Razão de área
σt Solidez da tela
ṁ Taxa de massa
T Temperatura do ambiente
∆P Variação de pressão
Q Vazão
c Velocidade do som
µ Viscosidade
Símbolos subscritos
1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.1 MOTIVAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2 OBJETIVO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.1 OBJETIVOS GERAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3 FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3.1 O ESCOAMENTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3.1.1 Arrasto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3.1.2 Sustentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
4 METODOLOGIA DE PROJETO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
4.1 CONCEITOS DE TÚNEIS DE VENTO . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
4.1.1 Perda de carga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
4.1.2 Câmara de estabilização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
4.1.3 Bocal convergente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
4.1.4 Seção de teste . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
4.1.5 Bocal divergente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
4.1.6 Ventilação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
4.2 PROJETO DO TÚNEL DE VENTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
4.2.1 O escoamento de ar na seção de teste . . . . . . . . . . . . . . . . 47
4.2.2 Componentes do túnel de vento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
4.2.2.1 Seção de teste . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
4.2.2.2 Bocal convergente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
4.2.2.3 Bocal divergente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4.2.2.4 Câmara de estabilização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
4.2.3 Ventilador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
4.2.4 Suportes estruturais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
4.2.5 Eletroeletrônicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
5 CONSTRUÇÃO E CALIBRAGEM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
6 RESULTADOS E DISCUSSÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
14
1 INTRODUÇÃO
Kumar, Gairola e Vaid (2020), por exemplo, utilizaram um túnel de vento e pequenas
bolas de espuma para simular o depósito de neve num modelo em escala, a fim
de estimar o fluxo e o movimento dos flocos de neve submetidos ao vento e evitar
problemas como bloqueio de pistas e avalanches. Já Zheng et al. (2020) simularam
condições de vento em quatro modelos diferente de árvores, a fim de determinar taxas
de bloqueio de vento das mesmas em centros urbanos.
importantes para os mais diversos projetos estruturais e veiculares, quanto também ser
uma ferramenta educacional valiosa para a compreensão de fenômenos envolvendo a
mecânica dos fluidos.
1.1 MOTIVAÇÃO
2 OBJETIVO
O presente trabalho tem como objetivo geral compilar fundamentações teóricas relacio-
nadas a túneis de vento, bem como realizar o projeto e a construção de um túnel de
vento didático, acompanhado de uma balança capaz de indicar as forças atuantes nos
objetos em estudo.
3 FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICAS
Neste tópico, serão abordados conceitos e teorias que visam descrever os fenômenos
decorrentes em um escoamento de um fluido, especificamente quando existe um objeto
submerso no mesmo. Serão discutidos adimensionais como o número de Reynolds e
de Mach, que descrevem o comportamento do fluido, teorias como a conservação de
massa, teorema de Bernoulli e camada limite, que visam descrever o escoamento do
fluido, e principalmente as teorias de forças de arrasto e sustentação, que caracterizam
as forças atuantes em um objeto quando submerso em um fluido em movimento relativo.
3.1 O ESCOAMENTO
ρV L
Re = , (3.1)
µ
Para escoamento sobre uma placa plana, o regime laminar é atingido quando Re ≤
5×105 , e o turbulento por Re ≥ 5×105 (ÇENGEL; GHAJAR, 2015). Já para escoamento
interno, o escoamento é laminar se Re ≤ 2100, de transição se 2100 ≤ Re ≤ 4000, e
turbulento se Re ≥ 4000. Entretanto, estes valores são referentes às situações onde
não há nenhuma medida para evitar a influência de pertubações externas, como
vibrações, rugosidade, etc. Podem existir valores maiores para o número de Reynolds
de transição quando o escoamento está livre destas influências (MUNSON; YOUNG;
OKIISHI, 2002).
V elocidade V
Ma = = . (3.2)
V elocidade do som c
Como dito, a velocidade do som irá depender das condições do ambiente. Em um gás
ideal, tal velocidade é dada pela seguinte equação (FOX; PRITCHARD; MCDONALD,
Capítulo 3. FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICAS 19
2016):
√
c= kRT , (3.3)
Além disso, assumindo uma única entrada e saída, como em um túnel de vento, e que
este seja subsônico (com M a < 0, 3 e portanto incompressível), teremos uma vazão Q
constante, ou seja:
Tal equação afirma, de maneira simplificada, que em um escoamento pode existir uma
conversão entre as formas de energia mecânica, e se não há conversão de energia
mecânica em térmica (efeitos de atrito), a energia total é conservada. Matematicamente
essa conservação de energia do escoamento pode ser escrita da seguinte forma:
(ÇENGEL; CIMBALA, 2012).
ρV 2
Pest + + ρgz = constante (ao longo de uma linha de corrente), (3.5)
2
onde cada termo da Equação 3.5 acima é algum tipo de pressão (ÇENGEL; CIMBALA,
2012). A pressão estática, Pest , representa a pressão termodinâmica real do fluido;
a pressão dinâmica, ρV 2 /2, representa o aumento de pressão quando um fluido em
movimento é parado de forma isentrópica; e por fim a pressão hidrostática, ρgz, que
representa uma pressão equivalente ao peso de uma coluna de fluido quando este se
encontra estático.
ρV 2
Pest + = constante, (3.6)
2
pressões podem ser obtidas por instrumentos como o tubo de pitot, dentre outros.
A ideia de camada limite, proposta inicialmente por Prandlt, possibilitou explicar o que
realmente acontece com o escoamento em contato com uma superfície, associando
o arrasto percebido com a viscosidade do fluido e o gradiente de pressão formado
devido a desaceleração do fluido (FOX; PRITCHARD; MCDONALD, 2016). A Figura
2 mostra um escoamento viscoso sobre uma superfície circular, ilustrando as regiões
onde o escoamento apresenta distintos comportamentos graças ao estabelecimento
de um gradiente de pressão. Destaque para a região C (esteira) um local composto por
deficiências de velocidade e que se expande rapidamente devido a difusão.
Figura 2 – Imagem qualitativa de escoamento viscoso incompressível em torno de uma esfera: (A) ponto
de estagnação; (B) ponto de maior velocidade do fluido; (C) região de baixa pressão
denominada esteira; (D) ponto onde ocorre descolamento da camada limite.
3.1.1 Arrasto
Fd
Cd = 1 , (3.7)
2
ρV 2 A
Com relação ao arrasto puramente por atrito, podemos seguir o exemplo de uma
placa plana paralela ao escoamento, como mostrado na Figura 3. Para este caso, a
pressão não irá contribuir com a força, restando apenas a influência das tensões de
cisalhamento (MUNSON; YOUNG; OKIISHI, 2002).
Quanto ao arrasto puramente por pressão, podemos seguir o exemplo de uma placa
plana perpendicular ao escoamento, como mostrado na Figura 4. Neste caso, a tensão
de cisalhamento é perpendicular ao escoamento, e não contribui para a componente
de arrasto, dependendo apenas da pressão (MUNSON; YOUNG; OKIISHI, 2002).
O coeficiente de arrasto para uma placa finita normal ao escoamento depende da razão
entre a altura e largura da mesma, também conhecida como razão de aspecto da placa.
A Figura 5 ilustra coeficientes de arrasto de uma placa reta para diferentes razões de
aspecto, e para um dado número de Reynolds (Re = 1000).
Figura 5 – Variação do coeficiente de arrasto em função da razão de aspecto, para uma placa plana de
largura finita normal ao escoamento com Reh = 1000
Para uma geometria como a esfera, teremos contribuições tanto do arrasto por atrito
quanto por pressão. Quando o número de Reynolds é menor do que 1, contudo, não
existe separação do escoamento para uma esfera, onde a esteira é laminar e o arrasto
é predominantemente por atrito.
Para valores muito baixos de Reynolds, em que as forças inerciais podem ser despreza-
das, Stokes mostrou que a força de arrasto, para uma esfera de diâmetro D movendo
com velocidade V através de um fluido de viscosidade µ, é dado por Fd = 3πµV D
(FOX; PRITCHARD; MCDONALD, 2016). Assim, o coeficiente de arrasto será então:
Fd 3πµV D 24
Cd = 1 = 1 2 ∴ C d = . (3.8)
2
ρV 2 Aref 2
ρV 2 πD4 Re
Capítulo 3. FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICAS 25
No entanto essa relação deixa de ser válida para Reynolds maiores que 1, uma
vez que o arrasto devido a pressão sobrepõe o efeito do arrasto pelo atrito com o
desenvolvimento da esteira turbulenta. A Figura 6 mostra a variação do coeficiente
de arrasto em função do número de Reynolds para cilindros e esferas lisas. Nela, o
coeficiente de arrasto se comporta de acordo com a curva que é traçada em linha
espessa.
Dois fenômenos curiosos podem ser observados na Figura 6. Para Reynolds entre
103 < Re < 105 , o Cd a curva estabiliza num determinado valor, devido uma esteira
turbulenta de baixa pressão ocupar toda a parte de trás da esfera, não havendo grandes
variações na diferença de pressão com o aumento do número de Reynolds. Já quando
Reynolds é cerca de 3 × 105 , o Cd cai abruptamente, uma vez que o ponto de separação
da camada limite caminha para a região de trás da esfera, o que diminui a região de
esteira, e por consequência a diferença de pressão entre a parte da frente de trás da
esfera.
A rugosidade da superfície dos objetos também irá influenciar no arrasto exercido. Com
o aumento da rugosidade, a componente com relação ao atrito da força de arrasto irá
aumentar. No entanto, esse efeito afeta de maneira distinta corpos com forma mais
aerodinâmica e corpos rombudos.
Figura 7 – Variação dos coeficientes de atrito, pressão e arrasto total de uma estrutura carenada em
função da razão entre espessura e comprimento da corda, para Re = 4 × 104
A partir da figura anterior, podemos ver que o coeficiente mínimo de arrasto total
Cd = 0, 06 ocorre quando a razão entre o comprimento e a espessura da corda é de
D/L = 0, 25 (FOX; PRITCHARD; MCDONALD, 2016).
3.1.2 Sustentação
definido como:
Fl
Cl = 1 , (3.9)
2
ρV 2 Ap
Um dos responsável pelo gradiente de pressão que gera a força de sustentação para
cima é a falta de simetria com relação ao eixo horizontal, que pela conservação da
massa faz com que a velocidade do escoamento seja diferente em cada superfície,
criando um gradiente de pressão. Na Figura 9 acima, é possível notar a falta de simetria
e o gradiente mencionados. (MUNSON; YOUNG; OKIISHI, 2002).
Figura 10 – Variação do coeficiente de sustentação em função do ângulo de ataque, para duas seções
de aerofólio com Rec = 9 × 106
Segundo Fox, Pritchard e Mcdonald (2016), em geral nessa análise, o objetivo é obter
um alto valor de Cl /Cd , já que o Cl , no caso de um avião por exemplo, é um indicativo
da carga que ele pode transportar, e Cd mostra o quanto de empuxo o motor deve
exercer para superar determinado valor de arrasto.
30
4 METODOLOGIA DE PROJETO
Figura 12 – Exemplos de túneis de vento: (A) túnel subsônico de retorno fechado; (B) túnel de água; (C)
túnel subsônico de retorno aberto de grande escala; (D) túnel supersônico de retorno
fechado por propulsão; (E) túnel de fumaça subsônico de retorno aberto.
De acordo com a NASA (2015), cada túnel de vento é projetado para uma faixa de
velocidade e propósito específico. Há inúmeros tipos e diferentes formas de classificá-
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 31
los, porém quanto a sua geometria, Barlow, Rae e Pope (1999) dizem que existem dois
tipos básicos para túneis de vento: de circuito aberto e circuito fechado.
Num túnel de vento de circuito fechado (também chamado de tipo Prandtl ou tipo Got-
tingen), o fluido recircula continuamente com pouca ou nenhuma renovação (BARLOW;
RAE; POPE, 1999). A Figura 13 a seguir mostra o esquema de um túnel de vento de
circuito fechado.
Figura 13 – Esquema de um túnel de vento de circuito fechado
Já num túnel de vento de circuito aberto, o fluido, que normalmente é o ar, segue uma
linha reta, entrando pela seção de contração, ou bocal convergente, passando pela
seção de teste e sendo expelido para o meio ambiente pelo bocal divergente (BARLOW;
RAE; POPE, 1999). O fluxo pode ser imposto por um ventilador soprador, acoplado
ao bocal convergente, ou por um ventilador sugador, ou exaustor, acoplado ao bocal
divergente. A Figura 14 a seguir mostra o esquema de um exemplo de um túnel de
vento de circuito aberto.
Figura 14 – Esquema de um túnel de vento de circuito aberto
Tipo de
túnel de Vantagens Desvantagens
vento
• Maior controle do escoamento. • Maior custo de implementação.
• Menor custo de energia do
Circuito ventilador (reaproveitamento •Necessita de sistema de purga
fechado do movimento do para retirar contaminações no fluido.
escoamento).
• Restrito quanto aos tipos de
experimentos que pode realizar.
• Qualidade do fluido não é
• Baixo custo de implementação.
garantida, depende do ambiente.
Circuito • Versátil quanto aos tipos de • Maior consumo de energia do
aberto experimentos que pode realizar. ventilador.
• Renovação constante do fluido.
somatório das quedas ocorridas em cada componente do túnel, como mostra a Equação
4.1 a seguir:
X X ρVi2
∆Ptotal = (∆Pi ) = (Ki ), (4.1)
i i
2
Segundo Prandtl (1933, p. 11, apud. BARLOW; RAE; POPE, 1999, p. 90), “uma colméia
é um dispositivo de guia no qual os filamentos individuais de ar são conformados em
paralelo”. O nome é dado devido ao equipamento possuir várias células pequenas uma
ao lado da outra, como uma colméia de abelha. A Figura 15 a seguir ilustra a colméia
de um túnel de vento.
Figura 15 – Exemplo de colmeia de um túnel de vento
Aescoamento
βc = . (4.2)
Atotal
ρV Dh,c Rec µ
Rec = ∴ Dh,c = ,
µ ρV
2000µ
Dh,cmax = . (4.3)
ρV
Segundo Pereira (2011), dois critérios devem ser atendidos para colmeias utilizadas
em túneis de vento: a razão de aspecto deve ser 6 ≤ Lc /Dh,c ≤ 8; e a porosidade deve
ser βc ≥ 0.8.
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 35
O coeficiente de perda de carga causada pela colméia pode ser calculado a partir da
seguinte equação, segundo Idel’chik (1966):
2 2
Lc 1 1
Kc = fa,c +3 + −1 , (4.4)
Dh,c βc βc
onde fa,c é o fator de atrito para um tubo liso, que é dependente da rugosidade
superficial do material da colméia, , do diâmetro hidráulico da célula, Dh , e do número
de Reynolds baseado na rugosidade do material, Re (ECKERT; MORT; POPE, 1976).
Seu valor é dado a partir das seguintes equações:
0,4
Re0,4 → para Re ≤ 275
0, 375 D
h,c
fa,c = 0,4 . (4.5)
0, 214 → para Re > 275
Dh,c
Com relação a telas, segundo Barlow, Rae e Pope (1999) elas são utilizadas para
proteger o equipamento de ventilação contra particulados e outras impurezas do ar,
além de controlar a separação do fluido em difusores grandes angulares e controlar a
turbulência do fluxo na entrada do bocal convergente.
Uma tela é caracterizada por dois aspectos, mostrados na Figura 17: o diâmetro do fio
dt , e o espaçamento entre fios Xt , onde o inverso do último representa a densidade da
malha de uma tela ρt = 1/Xt .
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 36
βt = (1 − dt ρt )2 . (4.6)
De acordo com McKinney e Scheiman (1981), malhas mais finas apresentam melhores
resultados quanto a redução de turbulência, porém Mehta e Bradshaw (1979) recomen-
dam que pelo menos uma tela deve ter porosidade βt ≥ 0, 57, uma vez que telas muito
finas tendem a gerar instabilidades no escoamento.
Segundo Barlow, Rae e Pope (1999), a Equação 4.7 a seguir determina o coeficiente
aproximado de perda de carga para uma tela:
σt2
Kt = Kmesh Kre σt + . (4.7)
βt2
O fator de malha Kmesh é utilizado para diferenciar se o fio é liso ou rugoso, ou ainda
de qual material é feito. Idel’chik (1966) define alguns valores para este fator, tais como
(1, 0) para fios de metais novos, (1, 3) para outros fios de metais no geral, e (2, 1) para
fios de seda.
0, 785 1 − Ret + 1, 01 → para 0 ≤ Ret < 400
Kre = 354 . (4.8)
1, 0 → para Re > 400
t
Segundo Barlow, Rae e Pope (1999), com a utilização de várias telas, a perda de
pressão total será a soma das perdas de cada tela individualmente. Além disso, o
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 37
espaçamento recomendado entre telas deve ser maior que 30 vezes o espaçamento
entre fios da malha, 30Xt , ou próximo a 500 vezes o diâmetro do fio, 500dt .
Para se ter uma noção da eficiência de uma tela, podemos utilizar o conceito de fator
de redução de turbulência, ou também denominado de fator de atenuidade. De acordo
com Taylor e Batchelor (1947), este fator representa a turbulência do escoamento com
manipuladores de fluxo, neste caso a tela, dividido pela turbulência do escoamento sem
estes manipuladores. Além disso, ele possui influência nos sentidos normal e paralelo
a tela. Ele pode ser equacionado da seguinte maneira:
1 + frt,v − frt,v Kt
frt,u = , (4.9)
1 + frt,v + Kt
1, 1
frt,v = √ , (4.10)
1 + Kt
onde frt,u representa o fator de redução de turbulência com relação ao sentido normal a
tela, e frt,v com relação ao sentido paralelo a tela. Barlow, Rae e Pope (1999) afirmam
ainda que o fator de redução turbulência de um conjunto de telas será a multiplicação
dos fatores de cada tela.
U1 = frt,u U2 , (4.11)
V1 = frt,v V2 , (4.12)
φ = frt,v θ. (4.13)
Conforme Barlow, Rae e Pope (1999), ter um baixo nível de turbulência em túneis
didáticos não é um requisito primordial, quanto ao caso de túneis de grande porte
utilizados em pesquisa e desenvolvimento. Assim, no projeto em questão, o intuito é
utilizar apenas telas, e os resultados de McKinney e Scheiman (1981) mostram que o
nível de redução de turbulência usando apenas telas é próximo de quando se utiliza
telas combinadas com uma colméia, apesar dessa redução ser maior quando se utiliza
a combinação.
Geralmente, esta seção possui uma suavização com o objetivo de garantir que a
camada limite não irá descolar da parede da estrutura. Existem diversos trabalhos que
visam obter um equacionamento que caracterize esta curvatura. Os resultados obtidos
através de métodos computacionais por Bell e Mehta (1988), por exemplo, chegaram em
dimensionamentos da contração de bocais para túneis de vento utilizando polinômios
de terceiro, quinto e sétimo grau, além de estudar a eficiência de cada modelo obtido.
A Figura 20 a seguir mostra um exemplo de túnel de vento com bocal suavizado.
Figura 20 – Exemplo de um túnel de vento com bocal curvo
Contudo, por motivos de limitações de projeto e fabricação, neste projeto iremos utilizar
um bocal de aspecto semelhante ao divergente, com arestas retas, porém respeitando
os requisitos de razão entre diâmetro hidráulico e comprimento, e razão de área.
Além disso, Vent,bc e Vsai,bc são as velocidades, em ordem, de entrada e saída do bocal,
θbc é o ângulo cônico do bocal convergente e Lbc o comprimento:
Analisando a geometria da Figura 21, o ângulo cônico do bocal convergente pode ser
calculado a partir da seguinte equação:
Rent,bc − Rsai,bc
θbc = arctan . (4.14)
Lbc
A equação ainda pode ser dada em função da razão de área entre a entrada e saída
do bocal, Arbc , definida como:
2
Aentrada Rent,bc
Arbc = = 2 . (4.15)
Asaida Rsai,bc
√ √
Rsai,bc Arbc − Rsai,bc Dsai,bc ( Arbc − 1)
θbc = arctan = arctan
Lbc 2 Lbc
√
1 Arbc − 1
∴ θbc = arctan . (4.16)
2 Lbc /Dsai,bc
Como dito anteriormente, Barlow, Rae e Pope (1999) dizem que a aumento de veloci-
dade em um bocal convergente será entre 6 a 10 vezes. Isso caracteriza uma razão de
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 41
área de 6 < Arbc < 10. Bell e Mehta (1988) ainda afirmam que os melhores resultados
de controle do descolamento da camada ocorreram para um comprimento de 0,89
vezes o raio hidráulico de entrada.
A perda de carga do bocal pode ser dada pela expressão abaixo, de acordo com Barlow,
Rae e Pope (1999):
1
Dh,st 5
Z
Lbc x
Kbc = fa,bc d , (4.17)
Dh,st 0 Dh,bc (x)5 Lbc
onde fa,bc é o fator de atrito médio entre a entrada e saída do bocal, Lbc é o comprimento
do bocal convergente, Dh,bc é o diâmetro hidráulico da seção de teste, Dh,bc (x) é o
diâmetro hidráulico em um dado x do bocal convergente, e a variável de integração
d(x/Lbc ) é uma razão do comprimento x pelo comprimento do bocal, para que o limite
de integração possa ser de 0 a 1.
No entanto, as perdas neste componente do túnel, de acordo com Barlow, Rae e Pope
(1999), geralmente são da ordem de 3% do total de perdas no circuito. Desta forma,
possíveis erros na estimativa das perdas desse bocal não são tão significativos.
Segundo NASA (2015), a seção de teste é o componente do túnel onde ficam posicio-
nados os modelos em teste. Além disso, para túneis de baixa velocidade, tal seção é o
local em que possui a menor área transversal e maior velocidade, comparado com as
outras partes do túnel.
Existem diversos formatos para a seção transversal de uma seção de teste, tais como
circular, elíptica, quadrada, retangular, hexagonal, octogonal, etc. Segundo Barlow,
Rae e Pope (1999), o formato da seção de teste deve ser escolhido de acordo com a
utilidade e as considerações aerodinâmicas dos objetos a serem testados, visto que a
diferença de perda de carga entre as diferentes seções transversais são desprezíveis.
Outro requisito geométrico, segundo Mehta e Bradshaw (1979), é que a seção de teste
necessita de um comprimento de, pelo menos, 0, 5 vezes o diâmetro hidráulico do
mesmo para suavizar o escoamento a níveis aceitáveis.
Para uma seção transversal constante, o coeficiente de perda de carga pode ser obtido
utilizando a Equação 4.18 a seguir:
Lst
Kst = fa,st , (4.18)
Dh,st
onde fa,st é o fator de atrito, Lst o comprimento e Dh,st o diâmetro hidráulico da seção.
Barlow, Rae e Pope (1999) dizem que, para tubos lisos com um alto número de
Reynolds, pode-se utilizar a lei universal de Pradtl para definir o fator de atrito. Esta lei é
dada pela Equação 4.19, sendo o número de Reynolds baseado do diâmetro hidráulico
da seção de teste:
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 43
1 p
p = 2 log10 (Rest fa,st ) − 0, 8,
fa,st
h p i−2
∴ fa,st = 2 log10 (Rest fa,st ) − 0, 8 . (4.19)
Outra maneira de se definir este fator de atrito pode ser dado a partir do diagrama
de Moody, que correlaciona o número de Reynolds do escoamento com a rugosidade
relativa das paredes. Embora tal diagrama seja voltado para tubos com seções circu-
lares, segundo Fox, Pritchard e Mcdonald (2016), dutos com seções quadradas ou
retangulares podem ser tratados como seções circulares, desde que a razão entre
altura e largura do mesmo seja inferior a cerca de 3 ou 4, e que se utilize o diâmetro
hidráulico do mesmo nos equacionamentos.
Segundo Barlow, Rae e Pope (1999), o projeto dos bocais divergentes são sensíveis a
erros, que podem causar tanto separações intermitentes quanto estáveis da camada
limite. Tais separações podem acarretar alguns problemas como vibrações, oscilação
da carga imposta no ventilador, oscilação da velocidade na seção de teste (fenômeno
este denominado de “surging”) e o aumento de perdas.
Analisando a geometria da figura, o ângulo cônico do bocal divergente pode ser definido
a partir da seguinte equação:
Rsai,bd − Rent,bd
θbd = arctan . (4.20)
Lbd
A equação ainda pode ser dada em função da razão de área entre a entrada e saída
do bocal, Arbd , definida como:
2
Asai,bd Rsai,bd
Arbd = = 2 . (4.21)
Aent,bd Rent,bd
√ √
Rent,bd Arbd − Rent,bd Dent,bd ( Arbd − 1)
θbd = arctan = arctan
Lbd 2 Lbd
√
1 Arbd − 1
∴ θbd = arctan . (4.22)
2 Lbd /Dent,bd
√
Dent,bd ( Arbd − 1)
Lbd = . (4.23)
2 tan(θbd )
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 45
Segundo Mehta e Bradshaw (1979), a razão de área Arbd varia entre 2 a 5, e o ângulo
cônico θbd não deve passar de 5°, ambos para permitirem uma recuperação de pressão
mais suave. É importante que exista um grau razoável de estabilidade do fluxo, do
contrário a recuperação de pressão tenderá a variar com o tempo e, consequentemente,
a velocidade do escoamento no túnel também, caso a potência fornecida for constante.
De acordo com Barlow, Rae e Pope (1999), o bocal divergente é sensível às variações
ocorridas no escoamento que vem da seção de teste. Consequentemente, é difícil
encontrar valores para o coeficiente de perda de carga de forma precisa, e o mesmo
é encontrado através da hipótese de que tal coeficiente é a soma de um coeficiente
relacionado ao atrito, Kf,bd , e outro coeficiente relacionado à expansão do fluido, Kex,bd ,
como indicado na Equação 4.24 a seguir:
1 fa,bd
Kf,bd = 1− . (4.25)
Arbd 8 sin θbd
2
Arbd − 1
Kex,bd = Ke,bd (θ) . (4.26)
Arbd
pelo resultados de Eckert, Mort e Pope (1976), são expressadas da seguinte maneira:
0, 1033 − 23, 8930 × 10−3 θ → para 0 < θ < 1, 5°
0, 1709 − 0, 1170θ + 0, 0326θ2 + 1, 0782 × 10−3 θ3
Ke,bd(circulo) (θ) = − 0, 9076 × 10−3 θ4 − 13, 3081 × 10−6 θ5 . (4.27)
+ 13, 4540 × 10−6 θ6 → para 1, 5° ≤ θ ≤ 5°
− 96, 6135 × 10−3 + 46, 7227 × 10−3 θ → para θ > 5°
96, 2274 × 10−3 − 4, 1516 × 10−3 θ → para 0 < θ < 1, 5°
0, 1222 − 45, 8960 × 10−3 θ + 22, 0282 × 10−3 θ2
Ke,bd(quadrado) (θ) = − 3, 2692 × 10−3 θ3 − 0, 6145 × 10−3 θ4 + 0, 2800 × 10−3 θ5 . (4.28)
− 23, 3739 × 10−6 θ6 → para 1, 5° ≤ θ ≤ 5°
− 13, 2169 × 10−3 + 58, 6630 × 10−3 θ → para θ > 5°
4.1.6 Ventilação
A curva característica do propulsor, segundo Neto et al. (2012), são uma série de
gráficos para cada modelo específico de propulsor, que indicam alguns fatores em
função da vazão, como consumo de energia, aumento de pressão no fluxo e rendimento
do gerador de fluxo.
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 47
Com todos os conceitos necessários envolvendo túneis de vento expostos, a seguir será
realizado o detalhamento do projeto de cada seção do túnel de vento deste trabalho.
O projeto em questão teve como limitação a seção de teste, que deveria tanto ter
dimensões suficientes para exercer análises em objetos de escala reduzida quanto se
adequar ao espaço físico disponível. Desta forma, por definição de projeto, foi decidido
que:
Tais valores serão utilizados como base para definir os outros parâmetros necessários
para o projeto, que serão abordados nas seções a seguir.
1, 225 × 10 × 0, 25
Red = ≈ 1, 76 × 105 , (4.31)
1, 74 × 10−5
Além disso, precisamos calcular o número de Mach, para definirmos que o túnel de
vento a ser projetado pode ser classificado como subsônico. Utilizando a Equação 3.2
descrita anteriormente, e sabendo que velocidade do som para o ar à temperatura
ambiente no nível do mar é de aproximadamente 346 m/s como visto na Seção 3.1,
teremos:
10
Ma = ≈ 0, 03 < 0, 3, (4.32)
346
que não só afirma que o escoamento é subsônico, como também que a consideração
de incompressibilidade do fluido é aplicável ao projeto, como descrito na Seção 3.1.
O túnel projetado neste trabalho será um túnel de vento do tipo aberto, que é composto
por quatro componentes estruturais e um elemento propulsor, que são: câmara de
estabilização, bocal convergente, seção de teste, bocal divergente e, para o projeto
deste trabalho, o exaustor.
Com intuito de se obter baixa interferência das paredes sobre a estabilidade do esco-
amento, correspondendo à baixos valores de rugosidade, a madeira utilizada para o
projeto será um MDF revestido que possui uma superfície demasiadamente lisa, com
espessura de 15 mm.
O vidro possui espessura de 4 mm, além de ser temperado para maior segurança.
Ele será posicionado entre a madeira e cantoneiras, presas nas faces superiores e
inferiores de cada seção do túnel, e será utilizado guarnição para vidros a fim de impedir
que ocorra contato direto entre o vidro e o metal, além de ajudar na vedação.
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 49
A seguir serão feitos cálculos para definir a geometria de cada componente estrutural
do túnel de vento projetado, bem como determinar a perda de carga característica de
cada um.
Geralmente, o projeto de um túnel de vento é iniciado pela seção de teste. Por decisão
de projeto, a seção transversal desta seção terá um formato quadrado com um valor de
aresta já exposto no começo deste capítulo de ast = Dh,st = 250 mm. Por consequência,
a área correspondente da seção transversal será de:
Para o túnel de vento deste trabalho, será utilizado 3 vezes o diâmetro hidráulico como
o comprimento total da seção de teste, ou seja:
Isso condiz com Mehta e Bradshaw (1979), que recomendam um comprimento maior
que 0, 5 vezes o diâmetro hidráulico, como visto na Seção 4.1.4, para suavizar o
escoamento a níveis aceitáveis. Consequentemente, os objetos analisados na seção
de teste devem ser posicionados após esse comprimento de 0, 5 × Dst .
À esquerda, seção em perspectiva, com tampa destacada; à direita desenho da seção com as cotas de
suas dimensões internas.
h p i−2
fa,st = 2 log10 (1, 76 × 105 fa,st ) − 0, 8 ≈ 0, 0160, (4.36)
750
Kst = 0, 016 × ≈ 0, 0480. (4.37)
250
Substituindo o valor de Kst na Equação 4.1, obtemos o valor de perda de carga, para
seção de teste:
1, 225 × 102
∆Pst = 0, 0480 × = 2, 94 P a. (4.38)
2
Como visto da Seção 4.1.3, Barlow, Rae e Pope (1999) afirma que a razão recomendada
entre as áreas das seções transversais da seção de teste e do bocal convergente é de
6 a 10 vezes. Escolhendo uma aresta para a entrada do bocal convergente de:
Abc a2 0, 5041
Arbc = = bc
2
= = 8, 0656, (4.39)
Ast ast 0, 0625
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 51
que se encontra dentro da faixa recomendada. Vale ressaltar que isso implica no
diâmetro hidráulico da saída do bocal convergente sendo o mesmo da seção de teste,
Dh,st = 250 mm.
Outra recomendação descrita na Seção 4.1.3 proposta por Bell e Mehta (1988) é de
que o comprimento do bocal convergente seja, aproximadamente, 0,89 vezes o raio
hidráulico do mesmo. Sendo assim, teremos:
Com o comprimento do bocal definido, pode-se agora utilizar a Equação 4.16 para
encontrar o ângulo cônico do bocal. Tendo em mente que o diâmetro hidráulico da
saída do bocal é igual ao diâmetro hidráulico da seção de teste, Dsai,bc = Dh,st , o ângulo
cônico será dado da seguinte maneira:
√
8, 0656 − 1
θbc = arctan ≈ 36, 05°. (4.41)
2 × (0, 31595/0, 25)
À esquerda, bocal em perspectiva; à direita desenho do bocal com as cotas de suas dimensões
internas.
x
Dh,bc = 710 − 460 . (4.43)
Lbc
Lbc
Kbc = 0, 13378fa,bc , (4.44)
Dh,st
Quanto ao fator de atrito, deve-se calcular o mesmo utilizando a Equação 4.19, tanto
para a entrada quanto para a saída do bocal, e utilizar a média entre os dois valores
obtidos. Para isso, o número de Reynolds destes dois pontos deve ser calculado .
Para a saída do bocal, o número de Reynolds será igual ao da seção de teste, calcu-
lada anteriormente. Consequentemente, o fator de atrito será o mesmo calculado na
Equação 4.36, ou seja, fa,st ≈ 0, 016.
1, 225 × 1, 24 × 0, 71
Reent,bc = −5
≈ 6, 198 × 104 . (4.45)
1, 74 × 10
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 53
h p i−2
fa = 2 log10 (6, 198 × 104 fa ) − 0, 8 ≈ 0, 02. (4.46)
Finalmente, o fator de atrito do bocal convergente será, portanto, a média destes dois
valores, ou seja:
0, 016 + 0, 02
fa,bc = = 0, 018. (4.47)
2
Com o fator de atrito definido, substitui-se o mesmo na Equação 4.44 para definir
o coeficiente de perda de carga do bocal convergente. Como o diâmetro hidráulico
desta equação pode ser tanto o de entrada quanto o de saída, para este projeto será
escolhido o que resultar no maior coeficiente, ou seja, o diâmetro hidráulico da saída
do bocal, a fim de garantir maior segurança para os cálculos. Desta forma, o coeficiente
de perda de carga será dado da seguinte maneira:
0, 31595
Kbc = 0, 13378 × 0, 018 × ≈ 0, 003. (4.48)
0, 25
1, 225 × 102
∆Pbc = 0, 003 × = 0, 18375 P a. (4.49)
2
Foi citado que a razão recomendada entre a área da seção transversal da seção de
teste e do bocal divergente é entre 2 a 5 vezes, segundo Mehta e Bradshaw (1979).
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 54
p p
abd = Arbd × a2st = 2 × 0, 0625 ≈ 353, 55 mm, (4.50)
que deixa uma sobra de 53, 55 mm entre o diâmetro hidráulico da saída do bocal e o
ventilador.
Novamente, citado por Mehta e Bradshaw (1979), o ângulo cônico do bocal divergente
não deve passar de 5°. Para o projeto, será utilizado este valor de angulação, ou seja,
θbd = 5°.
√
0, 25 ( 2 − 1)
Lbd = × ≈ 591, 81 mm. (4.51)
2 tan (5)
À esquerda, bocal em perspectiva; à direita desenho do bocal com as cotas de suas dimensões internas
Com isso, agora precisa ser definido a perda de carga causada pelo bocal divergente.
Para isso, é necessário saber a velocidade da saída do bocal, e novamente utilizando a
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 55
Quanto ao coeficiente de perda por atrito do bocal divergente, basta utilizar a Equação
4.25 descrita anteriormente. O fator de atrito utilizado será o da entrada do bocal, ou
seja, fa,bd = fa,st = 0, 016, como discutido na Seção 4.1.5. Substituindo tal fator de atrito
na Equação 4.25 resulta no coeficiente com relação a atrito Kf,bd igual a:
1 0, 016
Kf,bd = 1− × ≈ 0, 0115. (4.53)
2 8 × sin (5)
2
2−1
Kex,bd = 0, 1606 × = 0, 0803. (4.55)
2
1, 225 × 102
∆Pbd = 0, 0918 × ≈ 5, 6228 P a. (4.57)
2
Para este projeto, foram utilizados apenas telas para a estabilização do fluido. Como
citado anteriormente na Seção 4.1.2, a utilização de uma câmara de estabilização
somente com telas mostra uma redução de turbulência similar quando comparado com
a utilização de telas adjuntas de uma colméia. Tal escolha visa reduzir o custo e facilitar
a montagem do projeto, visto que este trabalho tem como objetivo a construção de um
túnel de vento didático que não necessita de grandes reduções de turbulências.
Analisando especificações de telas comerciais, a tela com a malha mais fina que
atendeu o requisito de porosidade, mencionado na Seção 4.1.2, foi a tela de mesh
20, com diâmetro de fio igual a dt = 0, 23 mm, e distância entre fios de Xt = 1, 04 mm.
Levanto em conta esses valores, a porosidade para essa tela será βt = 0, 6066, e por
consequência a solidez da tela é σt = 0, 3934.
No presente trabalho optou-se por 4 telas, uma vez que há um início de estabilização
no valor de turbulência a partir de 4 telas simultaneamente, como pode ser visto na
Figura 19. Desta forma, o espaçamento entre cada tela foi feito comparando as duas
formas de se determina-lá, como foi mencionado na Seção 4.1.2. Os valores obtidos
para cada método estão escritos a seguir:
A escolha deve ser entre valores maiores que 31, 2 mm ou próximo de 115 mm. Desta
forma optou-se por Lt = 50 mm.
A tela foi presa na face traseira de uma armação quadrada de madeira com as mesmas
dimensões da entrada do bocal convergente, ilustrada na Figura 28 a seguir. 5 armações
foram posicionadas uma na frente da outra, onde apenas 4 delas serão teladas, e a
espessura da armação é de 50 mm para permitir o espaçamento definido entre as telas.
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 57
À esquerda, tela em perspectiva; à direita desenho da tela com as cotas de suas dimensões internas.
1, 225 × 1, 24 × 0, 23 × 10−3
Ret = ≈ 20, 0787, (4.60)
1, 74 × 10−5
substituindo o valor encontrado na Equação 4.8, para Ret < 400, obtém-se:
20, 0787
KRe = 0, 785 1 − + 1, 01 ≈ 1, 7505. (4.61)
354
0, 39342
Kt = 1, 3 × 1, 7505 × 0, 3934 + ≈ 1, 3158, (4.62)
0, 60662
com isso o valor de perda de carga, dado pela Equação 4.1, será:
1, 225 × 1, 242
∆Pt = 1, 3158 × ≈ 1, 2392 P a. (4.63)
2
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 58
O valor total de perda de carga é dado pela soma da perda de carga de cada tela
individualmente de um arranjo. Por utilizar 4 telas, como já mencionado, o valor total de
perda de carga para esta seção será:
1, 1
frt,v = √ ≈ 0, 7228, (4.65)
1 + 1, 3158
Estes fatores representam que, na direção paralela a tela, a turbulência utilizando este
arranjo de telas equivale a 27, 29% do que existiria sem as telas. Analogamente, a
turbulência na direção perpendicular a tela equivale a 0, 42% da turbulência sem telas.
4.2.3 Ventilador
Desta forma, é necessário um ventilador que gere um gradiente de pressão maior que,
aproximadamente, 13, 70335 P a = 1, 40 mmca. Além disso, ele também deve atender
os requisitos de movimento do escoamento do projeto, que necessita de uma vazão de
Q = 37, 5 m3 /min.
Figura 29 – Exaustor.
Para apoiar cada seção do túnel (tela, convergente, seção de teste, divergente e
exaustor) e ter um controle sobre a altura e o nível dessas partes, foi necessário uma
estrutura de suporte no encontro de cada estrutura e também no exaustor.
Para os encontros das estruturas, foram projetados apoios no formato de ’T’, utilizando
perfis de metalon quadrado de 30 × 30 × 1, 20 mm. Estes apoios contam com pés
vibra-stop, a fim de minimizar os efeitos das vibrações que possam ocorrer. A Figura
30 a seguir mostra uma representação do apoio que será utilizado.
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 60
Já as armações das telas utilizou um apoio no formato de ’H’ duplo, composto por perfis
de metalon quadrado com as mesmas dimensões de 30 × 30 × 1, 20 mm. Este apoio foi
posicionado no centro da câmara de estabilização, como ilustra a Figura 31 a seguir.
Além disso, as armações das telas também possuem barras roscadas que percorrerão
cada uma das telas, sendo fixadas na superfície exterior do bocal convergente. Tais
barras possuem a função de guia para posicionamento e fixação das armações, onde
o último será feito pelo enroscamento de porcas nas pontas destas barras. A Figura 32
a seguir ilustra estas guias.
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 61
À esquerda, guias em perspectiva sem as armações; à direita, vista lateral com as armações.
Os apoios para o exaustor, por sua vez, são constituídos de chapas dobradas com pés
vibra-stop. As chapas possuem o corte de um semi-circulo para o encaixe do exaustor.
A Figura 33 a seguir mostra uma representação do apoio do exaustor.
4.2.5 Eletroeletrônicos
Com o intuito de quantificar as forças geradas pelo escoamento a ser analisado dentro
da seção de teste, faz parte do escopo deste trabalho a construção de uma balança.
Tal balança foi feita utilizando células de cargas, que se trata de um equipamento
eletrônico que opera com uma ponta fixada e outra livre, e é capaz de medir a força
que um determinado objeto faz em sua ponta livre através de strain gauge’s em seu
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 62
centro. Um Arduino será programado para mostrar os resultados das forças medidas
numa tela de LCD no painel eletrônico que acompanhará o túnel.
Desta forma, para que seja calculada a força a ser exercida, é necessário forças
referenciais para se encontrar uma escala que traduza os valores numerais informados
pela célula em valores na unidade Newtoniana de força.
Uma validação de dados deve ser exercida após a montagem da balança para definir o
erro presente na mesma, através de análises de modelos onde já se conhece as forças
de arrasto e sustentação atuantes.
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 63
5 CONSTRUÇÃO E CALIBRAGEM
Inicialmente foram feitos os cortes das placas de madeira para a montagem dos bocais
convergente e divergente, da seção de teste e das armações para as telas. Tais cortes
foram terceirizado por questões de eficiência.
Também foram realizados cortes para a tampa superior da seção de teste, e posterior-
mente foram presas placas adicionais de compensado nas extremidades das seções,
com o objetivo de atuar como flanges para auxiliar na união entre cada seção do túnel.
À esquerda superior, bocal convergente; à esquerda inferior, bocal divergente; à direita, seção de teste
Os perfis utilizados para os apoios, oferecidos pelo campus, foram cortados nos
tamanhos necessários com o auxílio de uma serra horizontal automática. As peças, em
seguida, foram soldados e receberam camadas de pintura superficial. Por fim, os pés
vibrastop foram fixados nos mesmos.
Para a balança, foram cortados barras, tubos e chapas para construir o sistema de
transmissão de força apresentado na Figura 34 deste trabalho. O suporte para a célula
de arrasto, a camisa do pino atuador e o portador da haste foram soldados, enquanto
que o restante das conexões foram feitas com o uso de porcas e parafusos.
Para a regulagem da altura do fuso que suportará os objetos em teste, foram soldadas
Capítulo 5. CONSTRUÇÃO E CALIBRAGEM 66
Após finalização e pintura, todo o conjunto foi montado para formar o sistema de
transmissão e detecção de força da balança.
Com todas as estruturas montadas, o passo final da construção foi rearranjar o túnel,
fixando as flanges das seções, posicionando a balança abaixo da seção de teste,
encaixando os painéis de vidros presos com cantoneiras, e passando uma fita de
LED dentro do túnel. A Figura 39 a seguir apresenta o túnel de vento deste trabalho
montado.
Capítulo 5. CONSTRUÇÃO E CALIBRAGEM 67
Na imagem superior, túnel com iluminação da sala; na imagem inferior, túnel apenas com iluminação da
fita de LED.
Para tal objetivo, foi utilizado objetos citados na Tabela 1 apresentada neste trabalho,
além também de uma placa reta retangular, produzidos via impressão 3D. Os objetos
possuem uma base com o objetivo de encaixar na parte externa de uma porca que
ficaria presa na haste, garantindo uma maior firmeza. A Figura 40 a seguir apresentam
os objetos produzidos.
Capítulo 5. CONSTRUÇÃO E CALIBRAGEM 68
Figura 40 – Modelos produzidos via impressão 3D: (A) placa reta retangular; (B) disco; (C) hemisfério.
O código Arduino foi montado para funcionar da seguinte maneira: deve-se fazer uma
calibração inicial com um dos objetos mencionados na Figura 40, informando seus
valores de forças referenciais; em seguida, deve-se realizar medições com outros
objetos e alterar a força referencial caso necessário, a fim de ajustar o coeficiente
de conversão do valor da célula para que a força informada corresponda com as
forças das interações dos outros objetos; finalmente, o processo de calibração deve ser
refeito periodicamente, não só para contabilizar desgastes da precisão do equipamento
eletroeletronico, como também para definir a periodicidade das calibrações futuras.
6 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Como discutido na Seção 3.1 deste trabalho, tal valor de número de Reynolds para
escoamentos internos caracteriza um escoamento turbulento em situações onde não há
medidas para evitar perturbações internas. O escoamento observado qualitativamente
foi entre transiente e turbulento, contudo ajustando a velocidade no dimmer presente
no painel elétrico do túnel, é possível obter um escoamento com maior laminarização a
partir de avaliações visuais.
Figura 42 – Visualização do escoamento em torno de um: (A) hemisfério com parte aberta voltada para
o escoamento; (B) hemisfério com parte aberta voltada para a jusante; (C) disco; e (D) placa
reta retangular.
Para o disco, a placa reta e o hemisfério com a parte aberta voltada para o escoamento,
o ponto de estagnação ficou a frente do objeto em si devido a geometria reta do mesmo,
fazendo com que o escoamento realizasse um movimento abrupto para escoar até a
jusante.
Em contrapartida, quando o objeto possui uma curvatura suave, como foi o caso do
hemisfério com a parte aberta voltada para a jusante, o escoamento seguiu a curvatura
até chegar na parte de trás do mesmo.
Figura 43 – Visualização do escoamento em torno de um hemisfério com parte aberta voltada para a
jusante, com fluxo forçado reduzido.
Devido a esta inconsistência, não seria possível obter resultados confiáveis quanto
aos valores de força mostrados. Definir a causa deste efeito requer uma investigação
mais detalhada do equipamento eletrônico, onde a falha pode ser atribuída ao nível de
sensibilidade, aos mecanismos do strain gauge ou até mesmo a defeitos de fabricação.
O túnel de vento construído possui grande mérito qualitativo, e é esperado que ocorra
uma expansão no envolvimento dos alunos com a área de mecânica dos fluidos
dentro do instituto, através de estudos voltados a analisar escoamentos em torno de
objetos diversos. Além disso, o custo resultante do projeto foi baixo quando comparado
com túneis de vento comerciais, agregando um alto mérito econômico para o projeto
apresentado.
Tal equipamento ainda abre outras variedades de oportunidades para trabalhos futuros,
desde pesquisas aplicadas envolvendo objetos em teste, por exemplo otimizações de
curvatura de aerofólios e outros modelos aerodinâmicos, até também aprimoramentos
para a própria estrutura em si, como a construção de um outro bocal convergente
que possua uma curvatura mais eficaz com relação à atenuação do descolamento da
camada limite.
74
REFERÊNCIAS
BARLOW, J. B.; RAE, W. H.; POPE, A. Low Speed Wind Tunnel Testing. 3. ed. New
York: John Wiley & Sons, 1999. Citado 17 vezes nas páginas 30, 31, 32, 33, 34, 35,
36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 45, 46 e 50.
BELL, J. H.; MEHTA, R. D. Contraction Design for Small Low-Speed Wind Tunnels.
1988. Disponível em: <https://moodle.polymtl.ca/file.php/1047/JEROME/Contractions/
Bell_1988.pdf>. Acesso em: 09 de Abril de 2020. Citado 3 vezes nas páginas 39, 41
e 51.
KUMAR, G.; GAIROLA, A.; VAID, A. Flow and deposition measurement of foam
beads in a closed re-circulating wind tunnel for snowdrift modelling. Flow
Measurement and Instrumentation, v. 72, p. 101687, 2020. Citado na página 14.
MEHTA, R. D.; BRADSHAW, P. Tecnichal Notes: design rules for small low speed
wind tunnels. The Aeronautical Journal of The Royal Aeronautical Society, p. 443–453,
1979. Citado 6 vezes nas páginas 36, 42, 45, 49, 53 e 54.
WHITE, F. M. Mecânica dos fluídos. 6. ed. Porto Alegre: AMGH, 2011. Citado na
página 29.