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INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CURSO SUPERIOR DE ENGENHARIA MECÂNICA

JOSIAS PAULUCIO TIBURCIO


MÁRCIO ALVES RIZZO JÚNIOR

TÚNEL DE VENTO: PROJETO, CONSTRUÇÃO E INSTRUMENTAÇÃO

Cachoeiro de Itapemirim
2021
JOSIAS PAULUCIO TIBURCIO
MÁRCIO ALVES RIZZO JÚNIOR

TÚNEL DE VENTO: PROJETO, CONSTRUÇÃO E INSTRUMENTAÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Coordenadoria do Curso de Engenharia Mecânica
do Instituto Federal do Espírito Santo, como requisito
parcial para a obtenção do título de Bacharel em
Engenharia Mecânica.

Orientador: Leandro Marochio Fernandes

Cachoeiro de Itapemirim
2021
(Biblioteca do Campus Cachoeiro de Itapemirim)

T552tt Tiburcio, Josias Paulucio.

Túnel de vento: projeto, construção e instrumentação / Josias Paulucio


Tiburcio, Márcio Alves Rizzo Júnior. - 2021.
74 f. : il. ; 30 cm..

Orientador: Leandro Marochio Fernandes

TCC (Graduação) Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Cachoeiro


de Itapemirim, Engenharia Mecânica, 2021.

1. Túneis aerodinâmicos - Projetos e construção. 2. Aerodinâmica. 3.


Mecânica dos Fluídos - Estudo e ensino . I. Marochio Fernandes, Leandro.
II.Título III. Instituto Federal do Espírito Santo.

CDD: 620.106
Bibliotecário/a: Renata Lorencini Rizzi CRB6-ES nº 085
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CAMPUS CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM
Rodovia BR-482 (Cachoeiro-Alegre) – Fazenda Morro Grande – Caixa Postal 527 – 29300-970 – Cachoeiro de Itapemirim – ES
28 3526-9000

ATA DE APRESENTAÇÃO DE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Aos 15 dias do mês de setembro do ano de 2021, às 14:00 horas, foi realizada, via conferência, a
defesa pública do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) dos alunos Josias Paulucio Tiburcio e
Márcio Alves Rizzo Júnior intitulado “TÚNEL DE VENTO: PROJETO, CONSTRUÇÃO E
INSTRUMENTAÇÃO”.
A Banca Examinadora composta pelos examinadores listados abaixo, após avaliação e
deliberação, considerou o trabalho aprovado, com nota final 100 (cem).
Considerações da Banca:
___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Eu, presidente da banca, lavrei a presente ata que segue assinada por mim e demais membros.

DR. LEANDRO MAROCHIO FERNANDES


(Presidente da Banca – Orientador)

Co-orientador

ME. HILTON MOULIN CALIMAN


(Examinador Interno)

ME. GABRIEL ANTONIO TAQUETI SILVA


(Examinador Interno)
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
SISTEMA INTEGRADO DE PATRIMÔNIO, ADMINISTRAÇÃO E
FOLHA DE ASSINATURAS
CONTRATOS

Emitido em 15/09/2021

FOLHA DE APROVAÇÃO-TCC Nº 4/2021 - CAI-DPPGE (11.02.18.01.07)

(Nº do Protocolo: NÃO PROTOCOLADO)

(Assinado digitalmente em 23/12/2021 16:36 ) (Assinado digitalmente em 23/12/2021 14:55 )


GABRIEL ANTONIO TAQUETI SILVA HILTON MOULIN CALIMAN
PROFESSOR DO ENSINO BASICO TECNICO E TECNOLOGICO PROFESSOR DO ENSINO BASICO TECNICO E TECNOLOGICO
GUA-CCTE (11.02.22.01.08.01.04) CAI - CCEM (11.02.18.01.08.02.05)
Matrícula: 1091141 Matrícula: 2423351

(Assinado digitalmente em 23/12/2021 14:27 )


LEANDRO MAROCHIO FERNANDES
PROFESSOR DO ENSINO BASICO TECNICO E TECNOLOGICO
CAI-DPPGE (11.02.18.01.07)
Matrícula: 2087899

Para verificar a autenticidade deste documento entre em https://sipac.ifes.edu.br/documentos/ informando seu


número: 4, ano: 2021, tipo: FOLHA DE APROVAÇÃO-TCC, data de emissão: 23/12/2021 e o código de
verificação: 52c7214ddd
RESUMO

Cada vez mais temos a necessidade de conectar o conhecimento prático com o teórico.
Experimentos tendem a entregar resultados mais próximos possíveis do problema no
mundo real, e auxiliam no embasamento de metodologias analíticas. Com o objetivo
de que as aulas de termofluidociências da Engenharia Mecânica do IFES campus
Cachoeiro de Itapemirim possuam um mecanismo que conecte o conhecimento de
sala de aula ao aplicável na indústria, este trabalho consistiu em compilar fundamentos
teóricos relacionados a túneis de vento, que se trata de um dispositivo cujo objetivo é
simular as condições do escoamento sobre objetos e fornecer dados empíricos sobre o
problema, bem como projetar e construir um túnel de vento para fins didáticos. Para
tal, os cálculos da geometria e de perdas de carga de seus componentes base foram
efetuados embasando-se em literaturas voltadas ao tema junto aos seguintes requisitos
de projeto: a velocidade do fluxo e as dimensões da seção de teste. Adicionalmente,
o projeto de um sistema eletroeletrônico de uma balança capaz de medir as forças
atuantes em objetos sob efeito de fluxo forçado dentro do túnel foi realizado, contudo os
dados obtidos das células de carga utilizadas não foram consistentes e não ofereceram
resultados satisfatórios, impedindo sua implementação. Ao final, toda a metodologia
de construção do túnel foi descrita, e análises qualitativas foram realizadas a fim de
caracterizar o escoamento.

Palavras-chaves: Túnel de Vento. Projeto. Construção. Instrumentação.


ABSTRACT

We increasingly need to connect practical and theoretical knowledge. Experiments


tend to deliver results as close as possible to the problem in the real world, and help
to support analytical methodologies. With the objective that the thermofluidscience
classes of Mechanical Engineering at IFES campus Cachoeiro de Itapemirim have
a mechanism that connects classroom knowledge to that applicable in industry, this
work consisted of compiling theoretical foundations related to wind tunnels, which
it is a device whose objective is to simulate the conditions of flow over objects and
provide empirical data about the problem, as well as design and build a wind tunnel for
educational purposes. To this end, the calculations of the geometry and pressure drops
of its base components were carried out based on literature on the subject, together
with the following design requirements: flow velocity and dimensions of the test section.
Additionally, the design of an electro-electronic system of a scale capable of measuring
the forces acting on objects under the effect of forced flow inside the tunnel was carried
out, however the data obtained from the load cells used were not consistent and did
not offer satisfactory results, preventing its Implementation. At the end, the entire tunnel
construction methodology was described, and qualitative analyzes were carried out in
order to characterize the flow.

Key-words: Wind Tunnel. Design. Construction. Instrumentation.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Esquematização da trajetória das partículas em escoamentos laminar


e turbulento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
Figura 2 – Imagem qualitativa de escoamento viscoso incompressível em torno
de uma esfera: (A) ponto de estagnação; (B) ponto de maior veloci-
dade do fluido; (C) região de baixa pressão denominada esteira; (D)
ponto onde ocorre descolamento da camada limite. . . . . . . . . . 21
Figura 3 – Placa paralela ao escoamento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
Figura 4 – Placa perpendicular ao escoamento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Figura 5 – Variação do coeficiente de arrasto em função da razão de aspecto,
para uma placa plana de largura finita normal ao escoamento com
Reh = 1000 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Figura 6 – Variação do coeficiente de Arrasto em função do número de Reynolds,
para cilindros e esferas lisas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Figura 7 – Variação dos coeficientes de atrito, pressão e arrasto total de uma es-
trutura carenada em função da razão entre espessura e comprimento
da corda, para Re = 4 × 104 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
Figura 8 – Representação de um aerofólio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Figura 9 – Representação do gradiente de pressão gerado sobre um aerofólio
submerso em um fluido com movimento relativo . . . . . . . . . . . 28
Figura 10 – Variação do coeficiente de sustentação em função do ângulo de
ataque, para duas seções de aerofólio com Rec = 9 × 106 . . . . . . 28
Figura 11 – Exemplo de um aerofólio em estol. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Figura 12 – Exemplos de túneis de vento: (A) túnel subsônico de retorno fechado;
(B) túnel de água; (C) túnel subsônico de retorno aberto de grande
escala; (D) túnel supersônico de retorno fechado por propulsão; (E)
túnel de fumaça subsônico de retorno aberto. . . . . . . . . . . . . . 30
Figura 13 – Esquema de um túnel de vento de circuito fechado . . . . . . . . . . 31
Figura 14 – Esquema de um túnel de vento de circuito aberto . . . . . . . . . . . 31
Figura 15 – Exemplo de colmeia de um túnel de vento . . . . . . . . . . . . . . . 33
Figura 16 – Exemplos de formatos diferentes de células de colméias. . . . . . . 34
Figura 17 – Esquematização de uma tela. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
Figura 18 – Representação do fluxo passando por uma tela . . . . . . . . . . . . 37
Figura 19 – Comparação da variação da turbulência em função do número de
telas, entre um arranjo somente com tela e um arranjo com telas e
uma colméia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Figura 20 – Exemplo de um túnel de vento com bocal curvo . . . . . . . . . . . . 39
Figura 21 – Esquema do bocal convergente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Figura 22 – Exemplo de Seção de Teste . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
Figura 23 – Esquema do bocal divergente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
Figura 24 – Exemplo de curva característica de ventiladores: (A) curva caracterís-
tica de um ventilador; (B) curva de um sistema; (C) sobreposição das
curvas para encontrar o ponto de operação de um ventilador-sistema. 47
Figura 25 – Seção de teste. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
Figura 26 – Bocal convergente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
Figura 27 – Bocal divergente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
Figura 28 – Armações das telas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
Figura 29 – Exaustor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
Figura 30 – Apoio em modelo ’T’. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
Figura 31 – Apoio da câmara de estabilização. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
Figura 32 – Guias das armações. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Figura 33 – Apoios do exaustor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Figura 34 – Sistema de transmissão de força. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
Figura 35 – Painel eletrônico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Figura 36 – Seções do túnel de vento produzidas. . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
Figura 37 – Apoios produzidos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Figura 38 – Componentes da balança. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
Figura 39 – Túnel de vento subsônico didático. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
Figura 40 – Modelos produzidos via impressão 3D: (A) placa reta retangular; (B)
disco; (C) hemisfério. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
Figura 41 – Visualização do escoamento na seção de teste. . . . . . . . . . . . 70
Figura 42 – Visualização do escoamento em torno de um: (A) hemisfério com
parte aberta voltada para o escoamento; (B) hemisfério com parte
aberta voltada para a jusante; (C) disco; e (D) placa reta retangular. 71
Figura 43 – Visualização do escoamento em torno de um hemisfério com parte
aberta voltada para a jusante, com fluxo forçado reduzido. . . . . . . 72
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Dados de coeficiente de arrasto para objetos selecionados, com


Re ≥ 103 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Tabela 2 – Vantagens e desvantagens dos tipos de túneis de vento. . . . . . . 32
Tabela 3 – Perda de carga de cada componente. . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
Tabela 4 – Orçamento do Projeto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
LISTA DE SÍMBOLOS

z Altura

θ Ângulo

α Ângulo de ataque

A Área

Ac Área da seção transversal

Ap Área planiforme

CD Coeficiente de arrasto

K Coeficiente de perda de carga

Kmesh Coeficiente de perda de carga da tela com relação a malha

KRe Coeficiente de perda de carga da tela com relação ao número de


Reynolds

Kex Coeficiente de perda de carga do bocal divergente com relação a


expansão

Kf a Coeficiente de perda de carga do bocal divergente com relação ao


atrito

CL Coeficiente de sustentação

u Componente normal à tela da velocidade do escoamento

v Componente paralela à tela da velocidade do escoamento

L Comprimento característico

R Constante dos gases

ρt Densidade da malha da tela

D Diâmetro

d Diâmetro do fio

X Espaçamento entre fios

fa Fator de atrito
frt Fator de redução de turbulência

FD Força de arrasto

FL Força de sustentação

Ke Função de equivalência do ângulo cônico

g Gravidade

ρ Massa específica

Ma Número de Mach

Re Número de Reynolds

p Perímetro molhado

β Porosidade

Pestag Pressão de estagnação

Pest Pressão estática

r Raio

Ar Razão de área

k Razão de calores específicos

 Rugosidade superficial do material

σt Solidez da tela

ṁ Taxa de massa

T Temperatura do ambiente

∆P Variação de pressão

Q Vazão

V Velocidade do escoamento (módulo do vetor)

c Velocidade do som

µ Viscosidade
Símbolos subscritos

max Subscrito indicando a variável com valor máximo

min Subscrito indicando a variável com valor mínimo

c Subscrito indicando correlação com a colmeia

u Subscrito indicando correlação com a direção normal à tela

v Subscrito indicando correlação com a direção paralela à tela

ent Subscrito indicando correlação com a entrada

 Subscrito indicando correlação com a rugosidade superficial do ma-


terial

sai Subscrito indicando correlação com a saída

st Subscrito indicando correlação com a seção de teste

t Subscrito indicando correlação com a tela

bc Subscrito indicando correlação com o bocal convergente

bd Subscrito indicando correlação com o bocal divergente

L Subscrito indicando correlação com o comprimento característico

h Subscrito indicando correlação com o diâmetro hidráulico

esc Subscrito indicando correlação com o escoamento do fluido

tot Subscrito indicando o total da variável

ref Subscrito indicando variável de referência

i Subscrito que representa uma iteração da variável


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.1 MOTIVAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

2 OBJETIVO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.1 OBJETIVOS GERAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

3 FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3.1 O ESCOAMENTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3.1.1 Arrasto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3.1.2 Sustentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

4 METODOLOGIA DE PROJETO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
4.1 CONCEITOS DE TÚNEIS DE VENTO . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
4.1.1 Perda de carga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
4.1.2 Câmara de estabilização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
4.1.3 Bocal convergente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
4.1.4 Seção de teste . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
4.1.5 Bocal divergente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
4.1.6 Ventilação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
4.2 PROJETO DO TÚNEL DE VENTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
4.2.1 O escoamento de ar na seção de teste . . . . . . . . . . . . . . . . 47
4.2.2 Componentes do túnel de vento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
4.2.2.1 Seção de teste . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
4.2.2.2 Bocal convergente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
4.2.2.3 Bocal divergente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4.2.2.4 Câmara de estabilização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
4.2.3 Ventilador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
4.2.4 Suportes estruturais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
4.2.5 Eletroeletrônicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

5 CONSTRUÇÃO E CALIBRAGEM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

6 RESULTADOS E DISCUSSÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

7 CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS FUTURAS . . . . . . . . . . . . 73

REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
14

1 INTRODUÇÃO

A física envolvendo o escoamento de fluidos se encontra presente nas mais variadas


aplicações do dia-a-dia. Uma ponte, por exemplo, precisa ser resistente o suficiente
para não demolir perante grandes rajadas de vento, enquanto que um avião necessita
de uma geometria específica para se manter no ar. Equacionar tais comportamentos
precisamente é uma tarefa complexa devido as inúmeras variáveis envolvidas. Logo, é
imperativo entender a influência de condições específicas de escoamento de fluido em
objetos diversos.

A coleta de dados experimentais é uma das maneiras de se resolver esse problema.


Túneis de vento são equipamentos que visam simular condições de fluxo de fluido em
diferentes objetos de estudo, e são capazes de fornecer tais dados empíricos. Sua
versatilidade é notável, e o mesmo auxilia no fornecimento de informações úteis para
as mais variadas aplicações.

Kumar, Gairola e Vaid (2020), por exemplo, utilizaram um túnel de vento e pequenas
bolas de espuma para simular o depósito de neve num modelo em escala, a fim
de estimar o fluxo e o movimento dos flocos de neve submetidos ao vento e evitar
problemas como bloqueio de pistas e avalanches. Já Zheng et al. (2020) simularam
condições de vento em quatro modelos diferente de árvores, a fim de determinar taxas
de bloqueio de vento das mesmas em centros urbanos.

A otimização e segurança de projetos estruturais também é uma das justificativas do uso


de túneis de vento. Martins, Jabardo e Nader (2015) mostram com seus resultados que,
através da análise em túnel, se obtém valores precisos de carregamentos, permitindo
aumentar a eficácia dos projetos de estruturas com relação a norma. A precisão
recentemente obtida é resultado do aprimoramento dos sensores de pressão e força
envolvidos no teste ao longo do tempo.

Finalmente, túneis de vento são especialmente importantes para projetos aeroespaciais,


visto que estes sempre estão diretamente envolvidos com os fenômenos de escoa-
mento de fluido ao redor de um objeto ou perfil. Muitas produções científicas recentes
possuem como objetivo melhorar a eficiência de tais projetos. Alguns exemplos são a
análise do escoamento em torno de aerofólios supercríticos (XU et al., 2018), ou até
mesmo a verificação da variação da pressão nas paredes do bocal do foguete VEGA-C
(CAMUSSI et al., 2020).

Portanto, túneis de vento se mostram ferramentas extremamente úteis na obtenção


de informação para diferentes setores da engenharia. Este pode tanto gerar subsídios
Capítulo 1. INTRODUÇÃO 15

importantes para os mais diversos projetos estruturais e veiculares, quanto também ser
uma ferramenta educacional valiosa para a compreensão de fenômenos envolvendo a
mecânica dos fluidos.

1.1 MOTIVAÇÃO

A presença de laboratórios didáticos como metodologia de ensino garante grandes


vantagens para um determinado curso. Ela proporciona uma maior noção sobre o
assunto para os alunos, possibilitando o aprimoramento do mesmo de tornar real
o teórico, e de se adaptar as mais diversas condições ao exercer seu futuro cargo
profissional (PEKELMAN; MELLO JR., 2004).

Laboratórios didáticos permitem a implementação de diversas experimentações como


forma de transmissão de conhecimento. Lançar mão do uso de experimentos submete
ao aluno a uma aprendizagem ativa, em que ele deixa o papel de mero ouvinte
expectador que apenas lê slides e escuta o professor, possibilitando-o a descobrir,
processar e aplicar informações de modo independente. (D’ANGELO; ZEMP, 2014).

O Instituto Federal do Espírito Santo – IFES campus Cachoeiro de Itapemirim atu-


almente carece de metodologias práticas, características de laboratórios didáticos e
experimentos em sala de aula, na área de mecânica dos fluidos de maneira geral. As-
sim, se faz necessário a implementação de novas formas de disseminar conhecimentos
físico-fluidos.

Desta forma, a adição de um túnel de vento ao instituto oferecerá novas oportunidades


de aprendizado e pesquisa não só aos alunos da Engenharia Mecânica bem como aos
demais cursos do campus, dando a natureza multidisciplinar do tema.
16

2 OBJETIVO

2.1 OBJETIVOS GERAIS

O presente trabalho tem como objetivo geral compilar fundamentações teóricas relacio-
nadas a túneis de vento, bem como realizar o projeto e a construção de um túnel de
vento didático, acompanhado de uma balança capaz de indicar as forças atuantes nos
objetos em estudo.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Analisar o escoamento desejado e a física por trás do túnel de vento, incluindo o


dimensionamento dos bocais convergentes e divergentes assim como da balança.

• Criar um desenho CAD que represente a estrutura do projeto.

• Validar o túnel e sua balança através de testes aerodinâmicos, de formas clássicas


cujo resultado está disponível na literatura especializada.
17

3 FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICAS

Para o projeto e construção de um túnel de vento é necessário fundamentar conceitos


visando descrever o comportamento e as características do fluido quando existem
objetos submersos no mesmo (explorados na primeira parte deste capítulo) e também
detalhar as características intrínsecas de túneis de vento (desenvolvido na sequência).

Neste tópico, serão abordados conceitos e teorias que visam descrever os fenômenos
decorrentes em um escoamento de um fluido, especificamente quando existe um objeto
submerso no mesmo. Serão discutidos adimensionais como o número de Reynolds e
de Mach, que descrevem o comportamento do fluido, teorias como a conservação de
massa, teorema de Bernoulli e camada limite, que visam descrever o escoamento do
fluido, e principalmente as teorias de forças de arrasto e sustentação, que caracterizam
as forças atuantes em um objeto quando submerso em um fluido em movimento relativo.

3.1 O ESCOAMENTO

Um dos possíveis usos de um túnel de vento é obter dados empíricos de um escoa-


mento real através de comparações com uma análise em modelos em escala. Essa
análise dimensional só é possível com o uso de parâmetros adimensionais, que dão
uma equivalência entre as características (propriedades, forças e etc.) do escoamento
no modelo real e no modelo em escala (MUNSON; YOUNG; OKIISHI, 2002).

O número de Reynolds, proposto por Osborne Reynolds, é um número adimensional


que representa a razão entre os efeitos de inércia e os viscosos. Na ausência de todos
os efeitos viscosos, o número de Reynolds é infinito, enquanto que na ausência de
todos os efeitos de inércia, o mesmo é nulo. Para qualquer escoamento real, contudo,
o número de Reynolds se encontrará entre estes dois limites (FOX; PRITCHARD;
MCDONALD, 2016). Ele é equacionado da seguinte maneira:

ρV L
Re = , (3.1)
µ

onde ρ e µ são, respectivamente, a massa específica e a viscosidade do fluido, e V e L


são a velocidade e o comprimento característico do escoamento (FOX; PRITCHARD;
MCDONALD, 2016). Embora a variável L passe uma ideia de comprimento, para
escoamentos internos, por exemplo, ela representa o diâmetro hidráulico Dh do mesmo.
Para uma seção quadrada, Este é dado por Dh = 4Ac /p, onde Ac representa a área
da seção transversal e p o perímetro molhado (o perímetro do duto onde o fluido que
escoa entra em contato).
Capítulo 3. FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICAS 18

O número de Reynolds é utilizado para caracterizar escoamentos laminares e turbu-


lentos (MUNSON; YOUNG; OKIISHI, 2002). Um escoamento laminar é aquele em
que as partículas fluidas movem-se em camadas lisas, ou lâminas, e um escoamento
turbulento é aquele em que as partículas fluidas rapidamente se misturam enquanto
se movimentam ao longo do escoamento devido a flutuações aleatórias no campo
tridimensional de velocidades (FOX; PRITCHARD; MCDONALD, 2016).

A Figura 1 ilustra o movimento da partícula em um escoamento laminar e turbulento.

Figura 1 – Esquematização da trajetória das partículas em escoamentos laminar e turbulento

Fonte: Fox, Pritchard e Mcdonald, 2016.

Para escoamento sobre uma placa plana, o regime laminar é atingido quando Re ≤
5×105 , e o turbulento por Re ≥ 5×105 (ÇENGEL; GHAJAR, 2015). Já para escoamento
interno, o escoamento é laminar se Re ≤ 2100, de transição se 2100 ≤ Re ≤ 4000, e
turbulento se Re ≥ 4000. Entretanto, estes valores são referentes às situações onde
não há nenhuma medida para evitar a influência de pertubações externas, como
vibrações, rugosidade, etc. Podem existir valores maiores para o número de Reynolds
de transição quando o escoamento está livre destas influências (MUNSON; YOUNG;
OKIISHI, 2002).

Outro adimensional importante é o número de Mach, utilizado para comparar a veloci-


dade do objeto de interesse com a velocidade do som no meio. Sua definição é dado
por (ÇENGEL; CIMBALA, 2012):

V elocidade V
Ma = = . (3.2)
V elocidade do som c

Como dito, a velocidade do som irá depender das condições do ambiente. Em um gás
ideal, tal velocidade é dada pela seguinte equação (FOX; PRITCHARD; MCDONALD,
Capítulo 3. FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICAS 19

2016):


c= kRT , (3.3)

onde k é a razão dos calores específicos, R é a constante dos gases e T é a temperatura


do ambiente (FOX; PRITCHARD; MCDONALD, 2016). A velocidade do som para o ar
à temperatura ambiente no nível do mar é de 346 m/s, aproximadamente (ÇENGEL;
CIMBALA, 2012).

O escoamento é determinado como sônico quando M a = 1, subsônico quando M a < 1,


supersônico quando M a > 1 e hipersônico quando M a >> 1 (ÇENGEL; CIMBALA,
2012). Além disso, para M a < 0, 3, a variação máxima de massa específica é menor
do que 5%, podendo assim, considerar escoamentos nesta faixa de número de Mach
como incompressíveis. (FOX; PRITCHARD; MCDONALD, 2016).

Esta última consideração é de grande importância para os cálculos aproximados do


túnel de vento, e como em condições normais de pressão e temperatura, M a = 0, 3
representa velocidade de escoamento superior a 100 m/s, uma velocidade muito além
do que será proposto no túnel de vento deste trabalho, tal consideração é aplicada.

Definido os adimensionais necessários para caracterizar o escoamento de ar do túnel


de vento, discutiremos um pouco sobre a física por trás do movimento mássico do fluido
e como isso influencia em seus parâmetros de escoamento, tais como a velocidade e a
pressão.

Se considerarmos o fluxo de ar em regime permanente, não teremos a variação


de massa com relação ao tempo dentro de um volume de controle. Com isso, a
conservação de massa impõe que a quantidade de massa que entra no volume de
controle deva ser igual a massa que sai (ÇENGEL; CIMBALA, 2012).

Além disso, assumindo uma única entrada e saída, como em um túnel de vento, e que
este seja subsônico (com M a < 0, 3 e portanto incompressível), teremos uma vazão Q
constante, ou seja:

ṁ1 = ṁ2 → ρV1 A1 = ρV2 A2 → V1 A1 = V2 A2 = Q. (3.4)

O que implica dizer que conhecendo a velocidade em um determinado ponto do


escoamento interno e a geometria pelo qual o escoamento é envolvido, podemos
Capítulo 3. FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICAS 20

utilizar a equação anterior para descobrir a velocidade do escoamento em algum ponto


de interesse.

Contudo, precisamos agora definir uma forma de encontrar a velocidade do escoamento


em um determinado ponto, para descobrir, então, a velocidade de outros pontos do
escoamento caso necessário. Uma das formas de se obter tal resultado é através da
equação de Bernoulli.

Tal equação afirma, de maneira simplificada, que em um escoamento pode existir uma
conversão entre as formas de energia mecânica, e se não há conversão de energia
mecânica em térmica (efeitos de atrito), a energia total é conservada. Matematicamente
essa conservação de energia do escoamento pode ser escrita da seguinte forma:
(ÇENGEL; CIMBALA, 2012).

ρV 2
Pest + + ρgz = constante (ao longo de uma linha de corrente), (3.5)
2

onde cada termo da Equação 3.5 acima é algum tipo de pressão (ÇENGEL; CIMBALA,
2012). A pressão estática, Pest , representa a pressão termodinâmica real do fluido;
a pressão dinâmica, ρV 2 /2, representa o aumento de pressão quando um fluido em
movimento é parado de forma isentrópica; e por fim a pressão hidrostática, ρgz, que
representa uma pressão equivalente ao peso de uma coluna de fluido quando este se
encontra estático.

Considerando novamente um túnel de vento subsônico, podemos aplicar Bernoulli


formada por uma única linha de centro do escoamento, onde não existem efeitos de
camada-limite e onde o escoamento é governado apenas pelas forças de pressão e gra-
vidade (ÇENGEL; CIMBALA, 2012). Assumindo adicionalmente em regime permanente,
e analisando uma linha de fluido na mesma altura, ou seja, z = 0, temos:

ρV 2
Pest + = constante, (3.6)
2

cuja soma das pressões estática e dinâmica é chamada de pressão de estagnação,


Pestag , e representa a pressão efetiva de um ponto do fluido quando o mesmo é
desacelerado até a velocidade zero por um processo sem atrito (FOX; PRITCHARD;
MCDONALD, 2016).

Desta forma, podemos encontrar a velocidade do escoamento quando são conhecidas


as pressões estática e de estagnação do escoamento. Experimentalmente, estas
Capítulo 3. FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICAS 21

pressões podem ser obtidas por instrumentos como o tubo de pitot, dentre outros.

Contudo, como dito anteriormente, tal velocidade caracteriza o escoamento apenas


na região central do fluxo. Sempre que um fluido escoa em contato com uma super-
fície, o perfil de velocidades próximo à superfície tende a sofrer uma desaceleração,
diferenciando-se do fluido longe da superfície, que não tem o perfil de velocidade do
escoamento alterado. Dessa forma, existem duas regiões distintas referente ao perfil
de velocidades (FOX; PRITCHARD; MCDONALD, 2016).

Esse efeito acontece devido a viscosidade do fluido, e a região onde o escoamento


experimenta tal desaceleração é chamada de camada limite. Desta forma, a camada
limite é a região onde os efeitos de viscosidade, e por consequência as forças de
cisalhamento, são significativas (ÇENGEL; CIMBALA, 2012).

A ideia de camada limite, proposta inicialmente por Prandlt, possibilitou explicar o que
realmente acontece com o escoamento em contato com uma superfície, associando
o arrasto percebido com a viscosidade do fluido e o gradiente de pressão formado
devido a desaceleração do fluido (FOX; PRITCHARD; MCDONALD, 2016). A Figura
2 mostra um escoamento viscoso sobre uma superfície circular, ilustrando as regiões
onde o escoamento apresenta distintos comportamentos graças ao estabelecimento
de um gradiente de pressão. Destaque para a região C (esteira) um local composto por
deficiências de velocidade e que se expande rapidamente devido a difusão.

Figura 2 – Imagem qualitativa de escoamento viscoso incompressível em torno de uma esfera: (A) ponto
de estagnação; (B) ponto de maior velocidade do fluido; (C) região de baixa pressão
denominada esteira; (D) ponto onde ocorre descolamento da camada limite.

Fonte: Adaptado de Fox, Pritchard e Mcdonald, 2016.

Quando um corpo sólido é submerso em um fluido viscoso em movimento relativo,


devido aos efeitos de camada limite, é gerado uma força resultante no corpo. Tradici-
onalmente, esta força resultante é decomposta em força de arrasto, Fd , e a força de
Capítulo 3. FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICAS 22

sustentação, Fl , onde ambas podem ser determinadas de forma teórica, numérica e


experimental, a depender do problema estudado (ÇENGEL; CIMBALA, 2012).

3.1.1 Arrasto

O arrasto é a componente paralela ao escoamento da força resultante exercida em


um corpo submerso. Segundo Çengel e Cimbala (2012), para encontrarmos esta
componente, precisamos utilizar o equacionamento do coeficiente de arrasto, Cd , dado
da seguinte maneira:

Fd
Cd = 1 , (3.7)
2
ρV 2 A

onde Fd é a força de arrasto, ρ é a massa específica do fluido, V é a velocidade do fluido


fora da camada limite, e A é a área, podendo ser a área frontal ou a área planiforme,
dependendo do caso.

Contudo, a força de arrasto total depende de duas componentes, uma relacionada


ao atrito e outra relacionada à pressão (FOX; PRITCHARD; MCDONALD, 2016). Em
casos muito específicos há apenas influência de uma das componentes.

Com relação ao arrasto puramente por atrito, podemos seguir o exemplo de uma
placa plana paralela ao escoamento, como mostrado na Figura 3. Para este caso, a
pressão não irá contribuir com a força, restando apenas a influência das tensões de
cisalhamento (MUNSON; YOUNG; OKIISHI, 2002).

Figura 3 – Placa paralela ao escoamento.

Fonte: Adaptado de Çengel e Cimbala, 2012.

Para o equacionamento do coeficiente, foram desenvolvidas correlações matemáticas


Capítulo 3. FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICAS 23

determinadas de maneira empírica para escoamentos laminar, de transição e turbulento,


que podem ser encontradas na literatura (FOX; PRITCHARD; MCDONALD, 2016).

Quanto ao arrasto puramente por pressão, podemos seguir o exemplo de uma placa
plana perpendicular ao escoamento, como mostrado na Figura 4. Neste caso, a tensão
de cisalhamento é perpendicular ao escoamento, e não contribui para a componente
de arrasto, dependendo apenas da pressão (MUNSON; YOUNG; OKIISHI, 2002).

Figura 4 – Placa perpendicular ao escoamento.

Fonte: Adaptado de Çengel e Cimbala, 2012.

O coeficiente de arrasto para uma placa finita normal ao escoamento depende da razão
entre a altura e largura da mesma, também conhecida como razão de aspecto da placa.
A Figura 5 ilustra coeficientes de arrasto de uma placa reta para diferentes razões de
aspecto, e para um dado número de Reynolds (Re = 1000).

Figura 5 – Variação do coeficiente de arrasto em função da razão de aspecto, para uma placa plana de
largura finita normal ao escoamento com Reh = 1000

Fonte: Fox, Pritchard e Mcdonald, 2016.


Capítulo 3. FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICAS 24

O coeficiente de arrasto total para outras geometrias, considerando Re ≥ 103 , são


apresentados na Tabela 1 a seguir:

Tabela 1 – Dados de coeficiente de arrasto para objetos selecionados, com Re ≥ 103 .

Fonte: Fox, Pritchard e Mcdonald, 2016.

Para uma geometria como a esfera, teremos contribuições tanto do arrasto por atrito
quanto por pressão. Quando o número de Reynolds é menor do que 1, contudo, não
existe separação do escoamento para uma esfera, onde a esteira é laminar e o arrasto
é predominantemente por atrito.

Para valores muito baixos de Reynolds, em que as forças inerciais podem ser despreza-
das, Stokes mostrou que a força de arrasto, para uma esfera de diâmetro D movendo
com velocidade V através de um fluido de viscosidade µ, é dado por Fd = 3πµV D
(FOX; PRITCHARD; MCDONALD, 2016). Assim, o coeficiente de arrasto será então:

Fd 3πµV D 24
Cd = 1 = 1 2 ∴ C d = . (3.8)
2
ρV 2 Aref 2
ρV 2 πD4 Re
Capítulo 3. FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICAS 25

No entanto essa relação deixa de ser válida para Reynolds maiores que 1, uma
vez que o arrasto devido a pressão sobrepõe o efeito do arrasto pelo atrito com o
desenvolvimento da esteira turbulenta. A Figura 6 mostra a variação do coeficiente
de arrasto em função do número de Reynolds para cilindros e esferas lisas. Nela, o
coeficiente de arrasto se comporta de acordo com a curva que é traçada em linha
espessa.

Figura 6 – Variação do coeficiente de Arrasto em função do número de Reynolds, para cilindros e


esferas lisas

Fonte: Munson, Young e Okiishi, 2002.

Dois fenômenos curiosos podem ser observados na Figura 6. Para Reynolds entre
103 < Re < 105 , o Cd a curva estabiliza num determinado valor, devido uma esteira
turbulenta de baixa pressão ocupar toda a parte de trás da esfera, não havendo grandes
variações na diferença de pressão com o aumento do número de Reynolds. Já quando
Reynolds é cerca de 3 × 105 , o Cd cai abruptamente, uma vez que o ponto de separação
da camada limite caminha para a região de trás da esfera, o que diminui a região de
esteira, e por consequência a diferença de pressão entre a parte da frente de trás da
esfera.

A rugosidade da superfície dos objetos também irá influenciar no arrasto exercido. Com
o aumento da rugosidade, a componente com relação ao atrito da força de arrasto irá
aumentar. No entanto, esse efeito afeta de maneira distinta corpos com forma mais
aerodinâmica e corpos rombudos.

Em corpos com formato mais aerodinâmico, pode haver um aumento significativo do


arrasto com esse aumento da componente referente ao atrito. Já em corpos rombudos,
Capítulo 3. FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICAS 26

pelo arrasto depender muito mais da diferença de pressão, a rugosidade é pouco


significativa e em alguns casos um aumento de rugosidade pode até ocasionar uma
diminuição do arrasto, por diminuir a esteira (MUNSON; YOUNG; OKIISHI, 2002).

A carenagem da forma do corpo também é outra maneira de se reduzir o arrasto.


Quando um corpo é afunilado ou adelgaçado, o gradiente de pressão adverso reduzirá,
consequentemente tornando a esteira turbulenta formada menor (FOX; PRITCHARD;
MCDONALD, 2016). Contudo um aumento exagerado pode aumentar o atrito, dessa
forma existe um ponto ótimo de carenagem (ÇENGEL; CIMBALA, 2012), como mos-
trado na Figura 7, sendo o ponto de mínimo da curva de arrasto total.

Figura 7 – Variação dos coeficientes de atrito, pressão e arrasto total de uma estrutura carenada em
função da razão entre espessura e comprimento da corda, para Re = 4 × 104

Fonte: Çengel e Cimbala, 2012.

A partir da figura anterior, podemos ver que o coeficiente mínimo de arrasto total
Cd = 0, 06 ocorre quando a razão entre o comprimento e a espessura da corda é de
D/L = 0, 25 (FOX; PRITCHARD; MCDONALD, 2016).

3.1.2 Sustentação

Como mencionado anteriormente, a sustentação é a componente da força resultante


perpendicular a direção do escoamento (ÇENGEL; CIMBALA, 2012). Segundo Fox,
Pritchard e Mcdonald (2016), para maioria dos casos a força de arrasto é a mais
significativa, porém alguns objetos, como o aerofólio, possuem formatos específicos de
forma que a sustentação seja mais predominante. O coeficiente de sustentação Cl é
Capítulo 3. FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICAS 27

definido como:

Fl
Cl = 1 , (3.9)
2
ρV 2 Ap

onde Fl é a força de sustentação. Segundo Munson, Young e Okiishi (2002), as


variáveis que podem influenciar o escoamento, e consequentemente o coeficiente de
sustentação, são a forma do objeto, o número de Reynolds, o número de Mach, e a
rugosidade superficial. Foi verificado experimentalmente, contudo, que o parâmetro de
maior peso para a sustentação é a forma do objeto.

Entretanto, o número de Reynolds pode ser importante quando o mesmo assume


valores baixos, (Re < 1), uma vez que os efeitos viscosos vão ter maior influência na
força de sustentação para esta faixa. Já para altos valores de número de Reynolds,
a maior parte da força de sustentação se dá devido a distribuição de pressão na
superfície, predominando sobre os efeitos viscosos (MUNSON; YOUNG; OKIISHI,
2002).

A Figura 8 mostra o perfil de um aerofólio, onde c representa a corda do objeto (o


comprimento entre a extremidade da borda de ataque e de fuga), b é a envergadura (a
distância entre as extremidades) e α representa o ângulo de ataque (o ângulo entre a
corda e o vetor velocidade do escoamento).

Figura 8 – Representação de um aerofólio.

Fonte: Çengel e Cimbala, 2012.

Como a área perpendicular ao escoamento muda de acordo com o ângulo de ataque,


utiliza-se para os cálculos de coeficiente de sustentação a denominada área planiforme,
que se refere a área máxima da asa, ou seja, Ap = b × c.

Outro fator importante para o coeficiente de sustentação é o ângulo de ataque. Seu


aumento até certo ponto faz com que o coeficiente de sustentação seja maior, pois o
Capítulo 3. FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICAS 28

aumento de α implica em uma maior diferença de pressão entre as superfícies superior


e inferior do aerofólio, pelas mudanças na camada limite. Contudo, a partir de deter-
minados graus há uma queda brusca no valor deste coeficiente (FOX; PRITCHARD;
MCDONALD, 2016).

Figura 9 – Representação do gradiente de pressão gerado sobre um aerofólio submerso em um fluido


com movimento relativo

Fonte: Adaptado de Munson, Young e Okiishi, 2002.

Um dos responsável pelo gradiente de pressão que gera a força de sustentação para
cima é a falta de simetria com relação ao eixo horizontal, que pela conservação da
massa faz com que a velocidade do escoamento seja diferente em cada superfície,
criando um gradiente de pressão. Na Figura 9 acima, é possível notar a falta de simetria
e o gradiente mencionados. (MUNSON; YOUNG; OKIISHI, 2002).

Resumidamente, o coeficiente de sustentação Cl irá depender do formato do aerofólio


e do ângulo de ataque α. Contudo é difícil obter uma fórmula analítica de expressar
todas as curvaturas de aerofólio possíveis, e de forma geral, este coeficiente é obtido
de forma empírica para diferentes modelos de aerofólios. A Figura 10 apresenta um
gráfico para dois modelos distintos de aerofólios, relacionando o ângulo de ataque com
o coeficiente de sustentação.

Figura 10 – Variação do coeficiente de sustentação em função do ângulo de ataque, para duas seções
de aerofólio com Rec = 9 × 106

Fonte: Fox, Pritchard e Mcdonald, 2016.


Capítulo 3. FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICAS 29

O fenômeno de queda brusca mencionado anteriormente, que ocorre na faixa de


α = 15° na Figura 10, é denominada de estol. Quando isso acontece, o ponto de
pressão mínima se desloca para frente da parte superior e acontece o descolamento
do escoamento da maior porção do extradorso do aerofólio, o que aumenta a com-
ponente horizontal da força de sustentação, aumentando na verdade o arrasto (FOX;
PRITCHARD; MCDONALD, 2016). Tal fenômeno pode ser observado na Figura 11:

Figura 11 – Exemplo de um aerofólio em estol.

Fonte: Adaptado de White, 2011.

Normalmente é desejado que os aerofólios gerem o máximo de sustentação e o


mínimo de arrasto ao mesmo tempo. Para essa análise, é comum utilizar gráficos que
relacionam o coeficiente de arrasto e o coeficiente de sustentação para diferentes
ângulos de ataque, e gráficos que relacionam a razão entre Cl e Cd com o ângulo de
ataque (ÇENGEL; CIMBALA, 2012).

Segundo Fox, Pritchard e Mcdonald (2016), em geral nessa análise, o objetivo é obter
um alto valor de Cl /Cd , já que o Cl , no caso de um avião por exemplo, é um indicativo
da carga que ele pode transportar, e Cd mostra o quanto de empuxo o motor deve
exercer para superar determinado valor de arrasto.
30

4 METODOLOGIA DE PROJETO

Com a fundamentação teórica necessária detalhada anteriormente, nesta seção iremos


abordar toda a metodologia utilizada para a realização do projeto do túnel de vento.
Inicialmente será discutido conceitos e equacionamentos referentes a túneis de vento
referenciados de literaturas específicas, e em seguida será exposto o detalhamento e
cálculos de projeto realizados para este trabalho.

4.1 CONCEITOS DE TÚNEIS DE VENTO

Um túnel de vento se trata de um equipamento de medição que visa estudar escoa-


mentos em volta de um corpo e as forças geradas por essa interação entre o fluido e o
corpo. Normalmente, o fluido em questão utilizado em túneis de vento é o ar, porém
outros fluidos podem ser utilizados (PEREIRA, 2011). Barlow, Rae e Pope (1999) ainda
afirmam que o uso de túneis de vento são a forma mais rápida, econômica e precisa
de se conduzir pesquisas aerodinâmicas.

O princípio do túnel de vento é simples: Necessita-se exercer um fluxo forçado, porém


controlado, de ar através de uma câmara onde ocorrerá os experimentos, de forma
a simular condições de fluxo de ar perante um determinado modelo aerodinâmico. A
Figura 12 ilustra alguns tipos de túneis de ventos existentes.

Figura 12 – Exemplos de túneis de vento: (A) túnel subsônico de retorno fechado; (B) túnel de água; (C)
túnel subsônico de retorno aberto de grande escala; (D) túnel supersônico de retorno
fechado por propulsão; (E) túnel de fumaça subsônico de retorno aberto.

Fonte: Adaptado de NASA, 2015.

De acordo com a NASA (2015), cada túnel de vento é projetado para uma faixa de
velocidade e propósito específico. Há inúmeros tipos e diferentes formas de classificá-
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 31

los, porém quanto a sua geometria, Barlow, Rae e Pope (1999) dizem que existem dois
tipos básicos para túneis de vento: de circuito aberto e circuito fechado.

Num túnel de vento de circuito fechado (também chamado de tipo Prandtl ou tipo Got-
tingen), o fluido recircula continuamente com pouca ou nenhuma renovação (BARLOW;
RAE; POPE, 1999). A Figura 13 a seguir mostra o esquema de um túnel de vento de
circuito fechado.
Figura 13 – Esquema de um túnel de vento de circuito fechado

Fonte: Adaptado de Pereira, 2011.

Já num túnel de vento de circuito aberto, o fluido, que normalmente é o ar, segue uma
linha reta, entrando pela seção de contração, ou bocal convergente, passando pela
seção de teste e sendo expelido para o meio ambiente pelo bocal divergente (BARLOW;
RAE; POPE, 1999). O fluxo pode ser imposto por um ventilador soprador, acoplado
ao bocal convergente, ou por um ventilador sugador, ou exaustor, acoplado ao bocal
divergente. A Figura 14 a seguir mostra o esquema de um exemplo de um túnel de
vento de circuito aberto.
Figura 14 – Esquema de um túnel de vento de circuito aberto

Fonte: Adaptado de NASA, 2015.


Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 32

Os tipos apresentados possuem aplicações diferentes, e a escolha do mesmo depen-


derá dos requisitos de projeto. A Tabela 2 a seguir listam as principais vantagens e as
desvantagens dos diferentes tipos de circuitos apresentados.

Tabela 2 – Vantagens e desvantagens dos tipos de túneis de vento.

Tipo de
túnel de Vantagens Desvantagens
vento
• Maior controle do escoamento. • Maior custo de implementação.
• Menor custo de energia do
Circuito ventilador (reaproveitamento •Necessita de sistema de purga
fechado do movimento do para retirar contaminações no fluido.
escoamento).
• Restrito quanto aos tipos de
experimentos que pode realizar.
• Qualidade do fluido não é
• Baixo custo de implementação.
garantida, depende do ambiente.
Circuito • Versátil quanto aos tipos de • Maior consumo de energia do
aberto experimentos que pode realizar. ventilador.
• Renovação constante do fluido.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Em seguida, iremos discutir os equacionamentos utilizados para dimensionar cada


um dos componentes de um túnel de vento. Neste trabalho, o túnel de vento a ser
dimensionado será do tipo circuito aberto, logo as referências terão um enfoque maior
para esta classificação, embora algumas das formulações sejam independentes do tipo
do túnel a ser projetado.

4.1.1 Perda de carga

Antes de descrevermos cada estrutura de um túnel de vento, devemos entender um


pouco sobre perda de carga. Segundo Fox, Pritchard e Mcdonald (2016), a perda de
carga representa a transformação de energia mecânica em energia térmica devido
aos efeitos de atrito do sistema. No túnel de vento, essa transformação ocorre devido
ao escoamento do fluido com viscosidade sobre as paredes de cada componente e
outras superfícies sólidas. Cada seção do túnel, por apresentar características distintas,
contribui de maneira diferente para o aumento dessa perda.

Ao longo do túnel de vento, essas perdas de carga aparecem na forma de quedas


de pressões sucessivas, que devem ser recuperadas pelo ventilador (BARLOW; RAE;
POPE, 1999). A queda de pressão total de um circuito pode ser descrita como um
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 33

somatório das quedas ocorridas em cada componente do túnel, como mostra a Equação
4.1 a seguir:

X X ρVi2
∆Ptotal = (∆Pi ) = (Ki ), (4.1)
i i
2

onde ∆Pi representa a queda de pressão de cada componente do túnel, Ki e ρVi2 /2


representam, respectivamente, o coeficiente de perda de carga e a pressão dinâmica
de cada iteração, ou seja, de cada componente do túnel de vento, e ∆Ptotal representa
a queda total de pressão de um circuito. O coeficiente de perda de carga Ki varia de
acordo com a estrutura, e cada uma será abordada neste trabalho em suas respectivas
seções.

4.1.2 Câmara de estabilização

Segundo Pereira (2011), o objetivo da câmara de estabilização é reduzir as turbulências


do escoamento antes que o mesmo entre no bocal convergente. Para isso, ele é
composto, geralmente, por uma colméia e uma série de telas.

Segundo Prandtl (1933, p. 11, apud. BARLOW; RAE; POPE, 1999, p. 90), “uma colméia
é um dispositivo de guia no qual os filamentos individuais de ar são conformados em
paralelo”. O nome é dado devido ao equipamento possuir várias células pequenas uma
ao lado da outra, como uma colméia de abelha. A Figura 15 a seguir ilustra a colméia
de um túnel de vento.
Figura 15 – Exemplo de colmeia de um túnel de vento

Fonte: NASA, 2015.


Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 34

Contudo, estas células não necessariamente possuem um formato hexagonal como


uma colméia de abelha, podendo também ser circulares, retangulares e triangulares,
como exemplificado na Figura 16 a seguir:

Figura 16 – Exemplos de formatos diferentes de células de colméias.

Fonte: Barlow, Rae e Pope, 1999.

Os parâmetros que definem a geometria de uma colméia são o comprimento Lc , o


diâmetro hidráulico de uma única célula Dh,c e a porosidade βc , onde o último é definido
como a razão entre a área da seção transversal real de escoamento e a área total da
seção transversal, como na Equação 4.2 a seguir (PEREIRA, 2011):

Aescoamento
βc = . (4.2)
Atotal

Para se estimar o diâmetro hidráulico das células, pode-se utilizar a consideração de


que o escoamento após a colméia deve ser laminar, onde segundo Çengel e Cimbala
(2012), equivale a um número de Reynolds em torno de Reh . 2000. Desta forma, o
diâmetro hidráulico máximo das células de uma colméia para um determinado projeto
de túnel de vento pode ser calculado a partir da Equação 4.3 a seguir, utilizando a
Equação 3.1 do número de Reynolds descrita anteriormente, com V sendo a velocidade
média da seção:

ρV Dh,c Rec µ
Rec = ∴ Dh,c = ,
µ ρV

2000µ
Dh,cmax = . (4.3)
ρV

Segundo Pereira (2011), dois critérios devem ser atendidos para colmeias utilizadas
em túneis de vento: a razão de aspecto deve ser 6 ≤ Lc /Dh,c ≤ 8; e a porosidade deve
ser βc ≥ 0.8.
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 35

O coeficiente de perda de carga causada pela colméia pode ser calculado a partir da
seguinte equação, segundo Idel’chik (1966):

  2  2
Lc 1 1
Kc = fa,c +3 + −1 , (4.4)
Dh,c βc βc

onde fa,c é o fator de atrito para um tubo liso, que é dependente da rugosidade
superficial do material da colméia, , do diâmetro hidráulico da célula, Dh , e do número
de Reynolds baseado na rugosidade do material, Re (ECKERT; MORT; POPE, 1976).
Seu valor é dado a partir das seguintes equações:

  0,4

Re0,4 → para Re ≤ 275

0, 375 D


h,c
fa,c =  0,4 . (4.5)
 
0, 214 → para Re > 275


Dh,c

Com relação a telas, segundo Barlow, Rae e Pope (1999) elas são utilizadas para
proteger o equipamento de ventilação contra particulados e outras impurezas do ar,
além de controlar a separação do fluido em difusores grandes angulares e controlar a
turbulência do fluxo na entrada do bocal convergente.

Figura 17 – Esquematização de uma tela.

Fonte: Adaptado de Pereira, 2011.

Uma tela é caracterizada por dois aspectos, mostrados na Figura 17: o diâmetro do fio
dt , e o espaçamento entre fios Xt , onde o inverso do último representa a densidade da
malha de uma tela ρt = 1/Xt .
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 36

Dois parâmetros básicos são utilizados para o equacionamento de perda de carga


de uma tela, que são a porosidade βt e o número de Reynolds do fio Ret = ρV dt /µ.
A solidez da tela, σt = 1 − βt , é utilizado em algumas literaturas para simplificar o
equacionamento (BARLOW; RAE; POPE, 1999).

A porosidade de uma tela pode ser calculada a partir do seguinte equacionamento:

βt = (1 − dt ρt )2 . (4.6)

De acordo com McKinney e Scheiman (1981), malhas mais finas apresentam melhores
resultados quanto a redução de turbulência, porém Mehta e Bradshaw (1979) recomen-
dam que pelo menos uma tela deve ter porosidade βt ≥ 0, 57, uma vez que telas muito
finas tendem a gerar instabilidades no escoamento.

Segundo Barlow, Rae e Pope (1999), a Equação 4.7 a seguir determina o coeficiente
aproximado de perda de carga para uma tela:

σt2
Kt = Kmesh Kre σt + . (4.7)
βt2

O fator de malha Kmesh é utilizado para diferenciar se o fio é liso ou rugoso, ou ainda
de qual material é feito. Idel’chik (1966) define alguns valores para este fator, tais como
(1, 0) para fios de metais novos, (1, 3) para outros fios de metais no geral, e (2, 1) para
fios de seda.

O equacionamento do outro fator, Kre , dependerá do valor de Reynolds do fio, como


mostrado na Equação 4.8 a seguir:

  
0, 785 1 − Ret + 1, 01 → para 0 ≤ Ret < 400

Kre = 354 . (4.8)

1, 0 → para Re > 400
t

Para telas de segurança, o número de Reynolds baseado no diâmetro do fio dt , chega


no máximo um pouco maior que 1000. Já para telas de redução de turbulência, o
número de Reynolds varia entre 70 a 300 (BARLOW; RAE; POPE, 1999).

Segundo Barlow, Rae e Pope (1999), com a utilização de várias telas, a perda de
pressão total será a soma das perdas de cada tela individualmente. Além disso, o
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 37

espaçamento recomendado entre telas deve ser maior que 30 vezes o espaçamento
entre fios da malha, 30Xt , ou próximo a 500 vezes o diâmetro do fio, 500dt .

Para se ter uma noção da eficiência de uma tela, podemos utilizar o conceito de fator
de redução de turbulência, ou também denominado de fator de atenuidade. De acordo
com Taylor e Batchelor (1947), este fator representa a turbulência do escoamento com
manipuladores de fluxo, neste caso a tela, dividido pela turbulência do escoamento sem
estes manipuladores. Além disso, ele possui influência nos sentidos normal e paralelo
a tela. Ele pode ser equacionado da seguinte maneira:

1 + frt,v − frt,v Kt
frt,u = , (4.9)
1 + frt,v + Kt

1, 1
frt,v = √ , (4.10)
1 + Kt

onde frt,u representa o fator de redução de turbulência com relação ao sentido normal a
tela, e frt,v com relação ao sentido paralelo a tela. Barlow, Rae e Pope (1999) afirmam
ainda que o fator de redução turbulência de um conjunto de telas será a multiplicação
dos fatores de cada tela.

Contudo, a presença de telas em um escoamento causará uma perda de velocidade


no sentido paralelo a tela, como mostrado na Figura 18 abaixo. O fator de redução de
turbulência também pode ser utilizado para quantificar esta redução de velocidade, a
partir das Equações 4.11, 4.12 e 4.13 a seguir (TAYLOR; BATCHELOR, 1947):

Figura 18 – Representação do fluxo passando por uma tela

Fonte: Elaborado pelo autores.


Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 38

U1 = frt,u U2 , (4.11)

V1 = frt,v V2 , (4.12)

φ = frt,v θ. (4.13)

Conforme Barlow, Rae e Pope (1999), ter um baixo nível de turbulência em túneis
didáticos não é um requisito primordial, quanto ao caso de túneis de grande porte
utilizados em pesquisa e desenvolvimento. Assim, no projeto em questão, o intuito é
utilizar apenas telas, e os resultados de McKinney e Scheiman (1981) mostram que o
nível de redução de turbulência usando apenas telas é próximo de quando se utiliza
telas combinadas com uma colméia, apesar dessa redução ser maior quando se utiliza
a combinação.

A Figura 19 a seguir compara a redução de turbulência entre o arranjo combinado de


telas e colméia e o arranjo somente com telas, mostrando a similaridade na atenuação
da turbulência entre os dois arranjos.

Figura 19 – Comparação da variação da turbulência em função do número de telas, entre um arranjo


somente com tela e um arranjo com telas e uma colméia.

Fonte: Adaptado de McKinney e Scheiman, 1981.


Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 39

4.1.3 Bocal convergente

O bocal convergente, ou também denominado cone de contração, é a parte estrutural do


túnel de vento responsável por conduzir o escoamento vindo da câmara de estabilização
para a seção de teste, enquanto que aumenta a velocidade média do mesmo em torno
de 6 a 10 vezes, tipicamente. (BARLOW; RAE; POPE, 1999).

Geralmente, esta seção possui uma suavização com o objetivo de garantir que a
camada limite não irá descolar da parede da estrutura. Existem diversos trabalhos que
visam obter um equacionamento que caracterize esta curvatura. Os resultados obtidos
através de métodos computacionais por Bell e Mehta (1988), por exemplo, chegaram em
dimensionamentos da contração de bocais para túneis de vento utilizando polinômios
de terceiro, quinto e sétimo grau, além de estudar a eficiência de cada modelo obtido.
A Figura 20 a seguir mostra um exemplo de túnel de vento com bocal suavizado.
Figura 20 – Exemplo de um túnel de vento com bocal curvo

Fonte: Adaptado de NASA, 2015.

Contudo, por motivos de limitações de projeto e fabricação, neste projeto iremos utilizar
um bocal de aspecto semelhante ao divergente, com arestas retas, porém respeitando
os requisitos de razão entre diâmetro hidráulico e comprimento, e razão de área.

A Figura 21 a seguir representa um bocal convergente com o formato de base de


pirâmide, onde Rent,bc e Rsai,bc são os raios hidráulicos de entrada do e saída do bocal,
respectivamente, sabendo que o último é igual ao raio hidráulico da seção de teste.
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 40

Além disso, Vent,bc e Vsai,bc são as velocidades, em ordem, de entrada e saída do bocal,
θbc é o ângulo cônico do bocal convergente e Lbc o comprimento:

Figura 21 – Esquema do bocal convergente

Fonte: Elaborado pelos autores.

Analisando a geometria da Figura 21, o ângulo cônico do bocal convergente pode ser
calculado a partir da seguinte equação:

 
Rent,bc − Rsai,bc
θbc = arctan . (4.14)
Lbc

A equação ainda pode ser dada em função da razão de área entre a entrada e saída
do bocal, Arbc , definida como:

2
Aentrada Rent,bc
Arbc = = 2 . (4.15)
Asaida Rsai,bc

Desta forma, deixando a Equação 4.14 em termos da razão de área e do diâmetro


hidráulico da seção de teste, teremos:

 √   √ 
Rsai,bc Arbc − Rsai,bc Dsai,bc ( Arbc − 1)
θbc = arctan = arctan
Lbc 2 Lbc
 √ 
1 Arbc − 1
∴ θbc = arctan . (4.16)
2 Lbc /Dsai,bc

Como dito anteriormente, Barlow, Rae e Pope (1999) dizem que a aumento de veloci-
dade em um bocal convergente será entre 6 a 10 vezes. Isso caracteriza uma razão de
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 41

área de 6 < Arbc < 10. Bell e Mehta (1988) ainda afirmam que os melhores resultados
de controle do descolamento da camada ocorreram para um comprimento de 0,89
vezes o raio hidráulico de entrada.

A perda de carga do bocal pode ser dada pela expressão abaixo, de acordo com Barlow,
Rae e Pope (1999):

1
Dh,st 5
Z  
Lbc x
Kbc = fa,bc d , (4.17)
Dh,st 0 Dh,bc (x)5 Lbc

onde fa,bc é o fator de atrito médio entre a entrada e saída do bocal, Lbc é o comprimento
do bocal convergente, Dh,bc é o diâmetro hidráulico da seção de teste, Dh,bc (x) é o
diâmetro hidráulico em um dado x do bocal convergente, e a variável de integração
d(x/Lbc ) é uma razão do comprimento x pelo comprimento do bocal, para que o limite
de integração possa ser de 0 a 1.

No entanto, as perdas neste componente do túnel, de acordo com Barlow, Rae e Pope
(1999), geralmente são da ordem de 3% do total de perdas no circuito. Desta forma,
possíveis erros na estimativa das perdas desse bocal não são tão significativos.

4.1.4 Seção de teste

Segundo NASA (2015), a seção de teste é o componente do túnel onde ficam posicio-
nados os modelos em teste. Além disso, para túneis de baixa velocidade, tal seção é o
local em que possui a menor área transversal e maior velocidade, comparado com as
outras partes do túnel.

Existem diversos formatos para a seção transversal de uma seção de teste, tais como
circular, elíptica, quadrada, retangular, hexagonal, octogonal, etc. Segundo Barlow,
Rae e Pope (1999), o formato da seção de teste deve ser escolhido de acordo com a
utilidade e as considerações aerodinâmicas dos objetos a serem testados, visto que a
diferença de perda de carga entre as diferentes seções transversais são desprezíveis.

Uma seção de teste requer um método para possibilitar a visualização do escoamento e


do objeto dentro da mesma, normalmente obtido pela instalação de uma placa de vidro
na lateral da estrutura. Além disso, também é necessário uma iluminação adequada,
tanto para trabalhar com o modelo quanto por razões fotográficas (BARLOW; RAE;
POPE, 1999).
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 42

Figura 22 – Exemplo de Seção de Teste

Fonte: NASA, 2015.

Os modelos ainda possuem uma restrição quanto ao tamanho, devido à possíveis


interferências da camada limite formada nas paredes do túnel. De acordo com Barlow,
Rae e Pope (1999), os modelo em teste devem ocupar no máximo 80% da área
transversal da seção de teste. Sendo assim o modelo deve estar distante das paredes
ao menos 10% da aresta da seção de teste.

Outro requisito geométrico, segundo Mehta e Bradshaw (1979), é que a seção de teste
necessita de um comprimento de, pelo menos, 0, 5 vezes o diâmetro hidráulico do
mesmo para suavizar o escoamento a níveis aceitáveis.

Para uma seção transversal constante, o coeficiente de perda de carga pode ser obtido
utilizando a Equação 4.18 a seguir:

Lst
Kst = fa,st , (4.18)
Dh,st

onde fa,st é o fator de atrito, Lst o comprimento e Dh,st o diâmetro hidráulico da seção.
Barlow, Rae e Pope (1999) dizem que, para tubos lisos com um alto número de
Reynolds, pode-se utilizar a lei universal de Pradtl para definir o fator de atrito. Esta lei é
dada pela Equação 4.19, sendo o número de Reynolds baseado do diâmetro hidráulico
da seção de teste:
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 43

1 p
p = 2 log10 (Rest fa,st ) − 0, 8,
fa,st

h p i−2
∴ fa,st = 2 log10 (Rest fa,st ) − 0, 8 . (4.19)

Outra maneira de se definir este fator de atrito pode ser dado a partir do diagrama
de Moody, que correlaciona o número de Reynolds do escoamento com a rugosidade
relativa das paredes. Embora tal diagrama seja voltado para tubos com seções circu-
lares, segundo Fox, Pritchard e Mcdonald (2016), dutos com seções quadradas ou
retangulares podem ser tratados como seções circulares, desde que a razão entre
altura e largura do mesmo seja inferior a cerca de 3 ou 4, e que se utilize o diâmetro
hidráulico do mesmo nos equacionamentos.

4.1.5 Bocal divergente

O bocal divergente, ou também comumente chamado de difusor, possui o objetivo de


reduzir a velocidade do escoamento que vem da seção de teste, com o mínimo de
perda possível. Geralmente, é requerido que a velocidade seja reduzida na menor
distância possível sem que ocorra a separação do fluxo (BARLOW; RAE; POPE, 1999).

Segundo Barlow, Rae e Pope (1999), o projeto dos bocais divergentes são sensíveis a
erros, que podem causar tanto separações intermitentes quanto estáveis da camada
limite. Tais separações podem acarretar alguns problemas como vibrações, oscilação
da carga imposta no ventilador, oscilação da velocidade na seção de teste (fenômeno
este denominado de “surging”) e o aumento de perdas.

A geometria do bocal divergente é baseado na Figura 23 a seguir, onde Rent,bd e Rsai,bd


são os raios hidráulicos de entrada e saída do bocal, respectivamente, sabendo que o
primeiro é igual ao raio hidráulico da seção de teste. Vent,bd e Vsai,bd são as velocidades,
em ordem, de entrada e saída do bocal, θbd é o ângulo cônico do bocal divergente e
Lbd o comprimento:
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 44

Figura 23 – Esquema do bocal divergente

Fonte: Elaborado pelos autores.

Analisando a geometria da figura, o ângulo cônico do bocal divergente pode ser definido
a partir da seguinte equação:

 
Rsai,bd − Rent,bd
θbd = arctan . (4.20)
Lbd

A equação ainda pode ser dada em função da razão de área entre a entrada e saída
do bocal, Arbd , definida como:

2
Asai,bd Rsai,bd
Arbd = = 2 . (4.21)
Aent,bd Rent,bd

Desta forma, deixando a Equação 4.20 em termos da razão de área e do diâmetro


hidráulico da seção de teste, teremos:

 √   √ 
Rent,bd Arbd − Rent,bd Dent,bd ( Arbd − 1)
θbd = arctan = arctan
Lbd 2 Lbd
 √ 
1 Arbd − 1
∴ θbd = arctan . (4.22)
2 Lbd /Dent,bd

Podemos, ainda, isolar o comprimento Lbd do bocal, finalmente resultando na Equação


4.23 a seguir:


Dent,bd ( Arbd − 1)
Lbd = . (4.23)
2 tan(θbd )
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 45

Segundo Mehta e Bradshaw (1979), a razão de área Arbd varia entre 2 a 5, e o ângulo
cônico θbd não deve passar de 5°, ambos para permitirem uma recuperação de pressão
mais suave. É importante que exista um grau razoável de estabilidade do fluxo, do
contrário a recuperação de pressão tenderá a variar com o tempo e, consequentemente,
a velocidade do escoamento no túnel também, caso a potência fornecida for constante.

De acordo com Barlow, Rae e Pope (1999), o bocal divergente é sensível às variações
ocorridas no escoamento que vem da seção de teste. Consequentemente, é difícil
encontrar valores para o coeficiente de perda de carga de forma precisa, e o mesmo
é encontrado através da hipótese de que tal coeficiente é a soma de um coeficiente
relacionado ao atrito, Kf,bd , e outro coeficiente relacionado à expansão do fluido, Kex,bd ,
como indicado na Equação 4.24 a seguir:

Kbd = Kf,bd + Kex,bd . (4.24)

Se considerarmos que o fator de atrito ao longo da parede do difusor e a densidade


do fluido são constantes, podemos utilizar a correlação mostrada na Equação 4.25
a seguir para definir a perda relacionada ao atrito. O fator de atrito desta equação é
baseado em uma seção de área constante imaginária utilizando o número de Reynolds
da entrada do bocal (BARLOW; RAE; POPE, 1999).

 
1 fa,bd
Kf,bd = 1− . (4.25)
Arbd 8 sin θbd

Já a perda relacionada à expansão é um resultado empírico e é dado pelo produto da


função de equivalência de ângulo cônico, que depende da forma da seção transversal,
e por uma relação envolvendo a razão de área do difusor, como é mostrado na Equação
4.26 a seguir (BARLOW; RAE; POPE, 1999):

 2
Arbd − 1
Kex,bd = Ke,bd (θ) . (4.26)
Arbd

As funções de equivalência para uma área de seção circular e quadrada do difusor,


Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 46

pelo resultados de Eckert, Mort e Pope (1976), são expressadas da seguinte maneira:




0, 1033 − 23, 8930 × 10−3 θ → para 0 < θ < 1, 5°

0, 1709 − 0, 1170θ + 0, 0326θ2 + 1, 0782 × 10−3 θ3





Ke,bd(circulo) (θ) = − 0, 9076 × 10−3 θ4 − 13, 3081 × 10−6 θ5 . (4.27)

+ 13, 4540 × 10−6 θ6 → para 1, 5° ≤ θ ≤ 5°






 − 96, 6135 × 10−3 + 46, 7227 × 10−3 θ → para θ > 5°




 96, 2274 × 10−3 − 4, 1516 × 10−3 θ → para 0 < θ < 1, 5°

0, 1222 − 45, 8960 × 10−3 θ + 22, 0282 × 10−3 θ2





Ke,bd(quadrado) (θ) = − 3, 2692 × 10−3 θ3 − 0, 6145 × 10−3 θ4 + 0, 2800 × 10−3 θ5 . (4.28)

− 23, 3739 × 10−6 θ6 → para 1, 5° ≤ θ ≤ 5°






 − 13, 2169 × 10−3 + 58, 6630 × 10−3 θ → para θ > 5°

4.1.6 Ventilação

Finalmente, o ventilador é a estrutura responsável por compensar a perda de carga


de todo o túnel, além de atender as necessidades de vazão e velocidade do túnel
(BARLOW; RAE; POPE, 1999).

Após definir o tipo de estrutura geradora de fluxo (axial ou centrífugo e soprador ou


exaustor) é necessário definir características técnicas, que são baseadas na velocidade
desejada na seção de teste e na queda de pressão total do circuito, como citado por
Pereira (2011).

Com esses valores em mãos, faz-se a sobreposição da curva característica do sistema


com a curva característica de pressão do propulsor, que geralmente é fornecida pelo
fabricante, e identifica-se o ponto de interseção, que será o ponto limite de operação.
Qualquer dispositivo gerador de fluxo que tem sua curva de pressão interceptada com a
curva do sistema atende a determinada queda de pressão. Dentre as que interceptaram,
verifica-se também qual atende o requisito de vazão.

A curva característica do propulsor, segundo Neto et al. (2012), são uma série de
gráficos para cada modelo específico de propulsor, que indicam alguns fatores em
função da vazão, como consumo de energia, aumento de pressão no fluxo e rendimento
do gerador de fluxo.
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 47

Na Figura 24 abaixo, o primeiro gráfico é um exemplo da curva característica mencio-


nada, sendo o parâmetro de interesse para o trabalho a curva de pressão estática Ps ,
o segundo gráfico é a representação de uma curva referente ao sistema, e o terceiro
gráfico é a sobreposição das duas curvas, onde pode-se observar o ponto de operação.

Figura 24 – Exemplo de curva característica de ventiladores: (A) curva característica de um ventilador;


(B) curva de um sistema; (C) sobreposição das curvas para encontrar o ponto de operação
de um ventilador-sistema.

Fonte: Neto et al., 2012.

4.2 PROJETO DO TÚNEL DE VENTO

Com todos os conceitos necessários envolvendo túneis de vento expostos, a seguir será
realizado o detalhamento do projeto de cada seção do túnel de vento deste trabalho.
O projeto em questão teve como limitação a seção de teste, que deveria tanto ter
dimensões suficientes para exercer análises em objetos de escala reduzida quanto se
adequar ao espaço físico disponível. Desta forma, por definição de projeto, foi decidido
que:

D = ast = 250 mm = 0, 25 m. (4.29)

Além disso, a velocidade do escoamento também foi delimitada para:

Vst = 10 m/s. (4.30)

Tais valores serão utilizados como base para definir os outros parâmetros necessários
para o projeto, que serão abordados nas seções a seguir.

4.2.1 O escoamento de ar na seção de teste

Inicialmente, precisamos calcular o número de Reynolds do escoamento desejado, para


verificar as características do fluxo. Como visto anteriormente, já sabemos a velocidade
e a aresta da seção de teste por definição de projeto. Assim, considerando que o ar está
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 48

em temperatura ambiente, com densidade ρ = 1, 225 kg/m3 e viscosidade dinâmica


µ = 1, 74 × 10−5 P a · s, a partir da Equação 3.1 temos:

1, 225 × 10 × 0, 25
Red = ≈ 1, 76 × 105 , (4.31)
1, 74 × 10−5

Além disso, precisamos calcular o número de Mach, para definirmos que o túnel de
vento a ser projetado pode ser classificado como subsônico. Utilizando a Equação 3.2
descrita anteriormente, e sabendo que velocidade do som para o ar à temperatura
ambiente no nível do mar é de aproximadamente 346 m/s como visto na Seção 3.1,
teremos:

10
Ma = ≈ 0, 03 < 0, 3, (4.32)
346

que não só afirma que o escoamento é subsônico, como também que a consideração
de incompressibilidade do fluido é aplicável ao projeto, como descrito na Seção 3.1.

4.2.2 Componentes do túnel de vento

O túnel projetado neste trabalho será um túnel de vento do tipo aberto, que é composto
por quatro componentes estruturais e um elemento propulsor, que são: câmara de
estabilização, bocal convergente, seção de teste, bocal divergente e, para o projeto
deste trabalho, o exaustor.

Com exceção da câmara de estabilização, os componentes estruturais possuirão três


faces (superior, inferior e traseira) de madeira e a face frontal de vidro, para permitir
a visualização do escoamento. A câmara de estabilização, por sua vez, será uma
composição de molduras de madeira com telas de metal. Os detalhes construtivos de
cada componente serão especificados em suas respectivas subseções.

Com intuito de se obter baixa interferência das paredes sobre a estabilidade do esco-
amento, correspondendo à baixos valores de rugosidade, a madeira utilizada para o
projeto será um MDF revestido que possui uma superfície demasiadamente lisa, com
espessura de 15 mm.

O vidro possui espessura de 4 mm, além de ser temperado para maior segurança.
Ele será posicionado entre a madeira e cantoneiras, presas nas faces superiores e
inferiores de cada seção do túnel, e será utilizado guarnição para vidros a fim de impedir
que ocorra contato direto entre o vidro e o metal, além de ajudar na vedação.
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 49

A seguir serão feitos cálculos para definir a geometria de cada componente estrutural
do túnel de vento projetado, bem como determinar a perda de carga característica de
cada um.

4.2.2.1 Seção de teste

Geralmente, o projeto de um túnel de vento é iniciado pela seção de teste. Por decisão
de projeto, a seção transversal desta seção terá um formato quadrado com um valor de
aresta já exposto no começo deste capítulo de ast = Dh,st = 250 mm. Por consequência,
a área correspondente da seção transversal será de:

Ast = a2st = 0, 252 = 0, 0625 m2 . (4.33)

Para o túnel de vento deste trabalho, será utilizado 3 vezes o diâmetro hidráulico como
o comprimento total da seção de teste, ou seja:

Lst = 3 × Dh,st = 3 × 250 = 750 mm. (4.34)

Isso condiz com Mehta e Bradshaw (1979), que recomendam um comprimento maior
que 0, 5 vezes o diâmetro hidráulico, como visto na Seção 4.1.4, para suavizar o
escoamento a níveis aceitáveis. Consequentemente, os objetos analisados na seção
de teste devem ser posicionados após esse comprimento de 0, 5 × Dst .

Para o manuseio dos objetos dentro da seção a de teste, é necessário um recorte


em uma das faces. Neste projeto será feito uma tampa de dimensões 300 × 200 mm
na face superior da seção, que razoavelmente permite a passagem de duas mãos do
operador. Esta tampa terá ainda uma alça para facilitar sua movimentação.

Figura 25 – Seção de teste.

À esquerda, seção em perspectiva, com tampa destacada; à direita desenho da seção com as cotas de
suas dimensões internas.

Fonte: Elaborado pelo autores


Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 50

Como a velocidade na seção de teste é fixa, podemos definir aqui a vazão de ar do


túnel, que será igual para todas as outras seções e ajudará a definir outras velocidades
em diferentes pontos da estrutura.

Q = Vt × At = 10 × 0, 0625 = 0, 625 m3 /s = 37, 5 m3 /min (4.35)

Em seguida, deve-se definir a perda de carga característica desta seção. O coeficiente


de perda de carga, dependente do fator de atrito dado pela Equação 4.19, é calculado
utilizando a Equação 4.18 descrita anteriormente. Desta forma, teremos:

h p i−2
fa,st = 2 log10 (1, 76 × 105 fa,st ) − 0, 8 ≈ 0, 0160, (4.36)

750
Kst = 0, 016 × ≈ 0, 0480. (4.37)
250

Substituindo o valor de Kst na Equação 4.1, obtemos o valor de perda de carga, para
seção de teste:

1, 225 × 102
 
∆Pst = 0, 0480 × = 2, 94 P a. (4.38)
2

4.2.2.2 Bocal convergente

Para o bocal convergente, inicialmente serão definidos a razão de área e a razão


entre diâmetro hidráulico e comprimento. Conforme a Seção 4.1.3, tendo em vista
as dificuldades de fabricação, o fim didático do túnel e o material (chapa de madeira)
disponível, foi definido o formato de tronco de pirâmide vazado.

Como visto da Seção 4.1.3, Barlow, Rae e Pope (1999) afirma que a razão recomendada
entre as áreas das seções transversais da seção de teste e do bocal convergente é de
6 a 10 vezes. Escolhendo uma aresta para a entrada do bocal convergente de:

abc = Dh,bc = 710 mm,

teremos, consequentemente, uma razão de área de:

Abc a2 0, 5041
Arbc = = bc
2
= = 8, 0656, (4.39)
Ast ast 0, 0625
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 51

que se encontra dentro da faixa recomendada. Vale ressaltar que isso implica no
diâmetro hidráulico da saída do bocal convergente sendo o mesmo da seção de teste,
Dh,st = 250 mm.

Outra recomendação descrita na Seção 4.1.3 proposta por Bell e Mehta (1988) é de
que o comprimento do bocal convergente seja, aproximadamente, 0,89 vezes o raio
hidráulico do mesmo. Sendo assim, teremos:

Lbc = 0, 89 × Dh,bc /2 = 0, 89 × 710/2 = 315, 95 mm. (4.40)

Com o comprimento do bocal definido, pode-se agora utilizar a Equação 4.16 para
encontrar o ângulo cônico do bocal. Tendo em mente que o diâmetro hidráulico da
saída do bocal é igual ao diâmetro hidráulico da seção de teste, Dsai,bc = Dh,st , o ângulo
cônico será dado da seguinte maneira:

 √ 
8, 0656 − 1
θbc = arctan ≈ 36, 05°. (4.41)
2 × (0, 31595/0, 25)

Figura 26 – Bocal convergente.

À esquerda, bocal em perspectiva; à direita desenho do bocal com as cotas de suas dimensões
internas.

Fonte: Elaborado pelo autores

Agora, precisa-se calcular a perda de carga atribuída ao bocal convergente do túnel.


Contudo, antes de calcular o coeficiente de perda de carga no bocal convergente,
necessita-se primeiro definir a velocidade do ar na entrada do bocal. A mesma pode
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 52

ser encontrada utilizando a vazão, encontrada na Equação 4.35 descrita anteriormente,


da seguinte maneira:

Vbc = Q/Abc = 0, 625/0, 5041 = 1, 24 m/s. (4.42)

O coeficiente de perda de carga do bocal convergente é calculado utilizando a Equação


4.17 descrita anteriormente. Para o projeto desenvolvido, pelo fato do bocal ser em
formato de um tronco de pirâmide de base quadrada, a equação que expressa a
variação do diâmetro hidráulico do bocal convergente em função do comprimento é
dada por:

 
x
Dh,bc = 710 − 460 . (4.43)
Lbc

Substituindo o diâmetro hidráulico da Equação 4.43 na Equação 4.17, e resolvendo a


integral, obtém-se a seguinte expressão para o coeficiente de perda de carga no bocal
convergente:

Lbc
Kbc = 0, 13378fa,bc , (4.44)
Dh,st

Quanto ao fator de atrito, deve-se calcular o mesmo utilizando a Equação 4.19, tanto
para a entrada quanto para a saída do bocal, e utilizar a média entre os dois valores
obtidos. Para isso, o número de Reynolds destes dois pontos deve ser calculado .

Para a saída do bocal, o número de Reynolds será igual ao da seção de teste, calcu-
lada anteriormente. Consequentemente, o fator de atrito será o mesmo calculado na
Equação 4.36, ou seja, fa,st ≈ 0, 016.

Já para a entrada do bocal, o número de Reynolds será calculado utilizando a velocidade


encontrada na Equação 4.42. Desta forma, considerando novamente ρ = 1, 225 kg/m3
e µ = 1, 74 × 10−5 P a · s, a Equação 3.1 do número de Reynolds resulta em:

1, 225 × 1, 24 × 0, 71
Reent,bc = −5
≈ 6, 198 × 104 . (4.45)
1, 74 × 10
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 53

Para tal valor de Reynolds, a Equação 4.19 resulta em:

h p i−2
fa = 2 log10 (6, 198 × 104 fa ) − 0, 8 ≈ 0, 02. (4.46)

Finalmente, o fator de atrito do bocal convergente será, portanto, a média destes dois
valores, ou seja:

0, 016 + 0, 02
fa,bc = = 0, 018. (4.47)
2

Com o fator de atrito definido, substitui-se o mesmo na Equação 4.44 para definir
o coeficiente de perda de carga do bocal convergente. Como o diâmetro hidráulico
desta equação pode ser tanto o de entrada quanto o de saída, para este projeto será
escolhido o que resultar no maior coeficiente, ou seja, o diâmetro hidráulico da saída
do bocal, a fim de garantir maior segurança para os cálculos. Desta forma, o coeficiente
de perda de carga será dado da seguinte maneira:

0, 31595
Kbc = 0, 13378 × 0, 018 × ≈ 0, 003. (4.48)
0, 25

Substituindo o valor de Kbc na Equação 4.1, e utilizando, à favor da segurança, o maior


de valor de velocidade, que é a velocidade na saída do bocal Vsai,bc = 10 m/s, obtemos
o valor de perda de carga, para o bocal convergente:

1, 225 × 102
 
∆Pbc = 0, 003 × = 0, 18375 P a. (4.49)
2

4.2.2.3 Bocal divergente

No bocal divergente, o objetivo é reduzir ao máximo o descolamento da camada limite.


Desta forma, os dois parâmetros geométricos que dão uma certa segurança a esse
respeito são a razão de área e o ângulo cônico. Devido a limitação de espaço físico no
laboratório de mecânica de fluidos do campus, são escolhidos valores que resultem em
dimensões aceitáveis.

Foi citado que a razão recomendada entre a área da seção transversal da seção de
teste e do bocal divergente é entre 2 a 5 vezes, segundo Mehta e Bradshaw (1979).
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 54

Um dos limitadores da aresta de saída do bocal divergente seria o diâmetro de 300 mm


do ventilador acoplado. Contudo, o limite mínimo da faixa recomendada de razão de
área resulta numa aresta de:

p p
abd = Arbd × a2st = 2 × 0, 0625 ≈ 353, 55 mm, (4.50)

que deixa uma sobra de 53, 55 mm entre o diâmetro hidráulico da saída do bocal e o
ventilador.

Novamente, citado por Mehta e Bradshaw (1979), o ângulo cônico do bocal divergente
não deve passar de 5°. Para o projeto, será utilizado este valor de angulação, ou seja,
θbd = 5°.

Em seguida, é necessário definir o comprimento do bocal. Como dito anteriormente,


o intuito seria de reduzir o máximo, devido a limitação de espaço que o túnel po-
derá ocupar. A Equação 4.23 descrita anteriormente já mostra a forma de definir tal
comprimento, que será:


0, 25 ( 2 − 1)
Lbd = × ≈ 591, 81 mm. (4.51)
2 tan (5)

Figura 27 – Bocal divergente.

À esquerda, bocal em perspectiva; à direita desenho do bocal com as cotas de suas dimensões internas

Fonte: Elaborado pelo autores

Com isso, agora precisa ser definido a perda de carga causada pelo bocal divergente.
Para isso, é necessário saber a velocidade da saída do bocal, e novamente utilizando a
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 55

vazão do escoamento determinada na Equação 4.35, tal velocidade será:

Vbd = Q/Abd = 0, 625/0, 1245 = 5, 02 m/s. (4.52)

O coeficiente de perda de carga do bocal divergente é calculado a partir da Equação


4.24 descrita anteriormente, onde é necessário definir os coeficientes de perda por
atrito e perda por pressão.

Quanto ao coeficiente de perda por atrito do bocal divergente, basta utilizar a Equação
4.25 descrita anteriormente. O fator de atrito utilizado será o da entrada do bocal, ou
seja, fa,bd = fa,st = 0, 016, como discutido na Seção 4.1.5. Substituindo tal fator de atrito
na Equação 4.25 resulta no coeficiente com relação a atrito Kf,bd igual a:

 
1 0, 016
Kf,bd = 1− × ≈ 0, 0115. (4.53)
2 8 × sin (5)

Já quanto ao coeficiente de perda por expansão do bocal divergente, uma atenção


deve ser dada para a geometria e ao ângulo do bocal, visto que é necessário definir
uma função de equivalência dependente destas variáveis. A expressão para geometria
da seção transversal quadrada, e para o ângulo cônico de 5°, é dada pela Equação
4.28.

Substituindo θ = 5° na expressão que corresponde a faixa 1, 5° ≤ θ ≤ 5°, obtém-se:

Ke,bd(quadrado) = 0, 1222 − 0, 04590 × (5) + 0, 02203 × (5)2 − 0, 003269 × (5)3


− 0, 0006145 × (5)4 + 0, 00028 × (5)5 − 0, 00002337 × (5)6

∴ Ke,bd(quadrado) ≈ 0, 1606. (4.54)

O valor encontrado para Ke,bd(quadrado) , deve ser substituído na Equação 4.26

 2
2−1
Kex,bd = 0, 1606 × = 0, 0803. (4.55)
2

Somando os valores de Kf,bd e Kex,bd , obtemos o coeficiente de perda de carga total do


bocal divergente, Kbd , que equivale a:

Kbd = 0, 0115 + 0, 0803 = 0, 0918. (4.56)


Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 56

Substituindo o valor de Kbd na Equação 4.1, e novamente utilizando, à favor da se-


gurança, o maior de valor de velocidade, que é a velocidade na entrada do bocal
Vent,bd = 10 m/s, obtemos o valor de perda de carga, para o bocal divergente:

1, 225 × 102
 
∆Pbd = 0, 0918 × ≈ 5, 6228 P a. (4.57)
2

4.2.2.4 Câmara de estabilização

Para este projeto, foram utilizados apenas telas para a estabilização do fluido. Como
citado anteriormente na Seção 4.1.2, a utilização de uma câmara de estabilização
somente com telas mostra uma redução de turbulência similar quando comparado com
a utilização de telas adjuntas de uma colméia. Tal escolha visa reduzir o custo e facilitar
a montagem do projeto, visto que este trabalho tem como objetivo a construção de um
túnel de vento didático que não necessita de grandes reduções de turbulências.

Analisando especificações de telas comerciais, a tela com a malha mais fina que
atendeu o requisito de porosidade, mencionado na Seção 4.1.2, foi a tela de mesh
20, com diâmetro de fio igual a dt = 0, 23 mm, e distância entre fios de Xt = 1, 04 mm.
Levanto em conta esses valores, a porosidade para essa tela será βt = 0, 6066, e por
consequência a solidez da tela é σt = 0, 3934.

No presente trabalho optou-se por 4 telas, uma vez que há um início de estabilização
no valor de turbulência a partir de 4 telas simultaneamente, como pode ser visto na
Figura 19. Desta forma, o espaçamento entre cada tela foi feito comparando as duas
formas de se determina-lá, como foi mencionado na Seção 4.1.2. Os valores obtidos
para cada método estão escritos a seguir:

Lt = 30Xt = 30 × 1, 04 = 31, 2 mm, (4.58)

Lt = 500dt = 500 × 0, 23 = 115 mm, (4.59)

A escolha deve ser entre valores maiores que 31, 2 mm ou próximo de 115 mm. Desta
forma optou-se por Lt = 50 mm.

A tela foi presa na face traseira de uma armação quadrada de madeira com as mesmas
dimensões da entrada do bocal convergente, ilustrada na Figura 28 a seguir. 5 armações
foram posicionadas uma na frente da outra, onde apenas 4 delas serão teladas, e a
espessura da armação é de 50 mm para permitir o espaçamento definido entre as telas.
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 57

Figura 28 – Armações das telas.

À esquerda, tela em perspectiva; à direita desenho da tela com as cotas de suas dimensões internas.

Fonte: Elaborado pelo autores

Dando sequência, é necessário definir o valor do fator de malha, Kmesh , e o fator de


Reynolds, Kre . O fator de malha escolhido foi de (1, 3), que corresponde á fios de metal
no geral. Para o fator de Reynolds, primeiro foi calculado o número de Reynolds, com
base no diâmetro do fio e na velocidade de entrada do bocal. Pela Equação 3.1, temos:

1, 225 × 1, 24 × 0, 23 × 10−3
Ret = ≈ 20, 0787, (4.60)
1, 74 × 10−5

substituindo o valor encontrado na Equação 4.8, para Ret < 400, obtém-se:

 
20, 0787
KRe = 0, 785 1 − + 1, 01 ≈ 1, 7505. (4.61)
354

Finalmente, com esses valores definidos, substituindo-os na Equação 4.7, é obtido o


valor do coeficiente de perda de carga para uma das tela:

0, 39342
Kt = 1, 3 × 1, 7505 × 0, 3934 + ≈ 1, 3158, (4.62)
0, 60662

com isso o valor de perda de carga, dado pela Equação 4.1, será:

1, 225 × 1, 242
∆Pt = 1, 3158 × ≈ 1, 2392 P a. (4.63)
2
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 58

O valor total de perda de carga é dado pela soma da perda de carga de cada tela
individualmente de um arranjo. Por utilizar 4 telas, como já mencionado, o valor total de
perda de carga para esta seção será:

∆Pt,total = 4 × 1, 2392 = 4, 9568 P a. (4.64)

Quanto a redução de turbulência causado pela tela, deve-se calcular os fatores já


descritos anteriormente pelas Equações 4.9 e 4.10. Definindo primeiramente o fator
com relação a direção paralela a tela, obtém-se:

1, 1
frt,v = √ ≈ 0, 7228, (4.65)
1 + 1, 3158

já o fator com relação a direção perpendicular a tela, obtém-se:

1 + 0, 7228 − 0, 7228 × 1, 3158


frt,u = ≈ 0, 2540. (4.66)
1 + 0, 7228 + 1, 3158

Contudo, como dito anteriormente na Seção 4.1.2, o fator de turbulência do conjunto


será a multiplicação dos fatores de cada tela. Desta forma, teremos que:

frt,v,total = 0, 7228 × 0, 7228 × 0, 7228 × 0, 7228 = 0, 72284 = 0, 2729 (4.67)

frt,u,total = 0, 25404 = 0, 0042. (4.68)

Estes fatores representam que, na direção paralela a tela, a turbulência utilizando este
arranjo de telas equivale a 27, 29% do que existiria sem as telas. Analogamente, a
turbulência na direção perpendicular a tela equivale a 0, 42% da turbulência sem telas.

4.2.3 Ventilador

Como falado anteriormente, o ventilador tem a função de suprir todas as perdas de


carga e manter a vazão e velocidade do túnel. Desta forma, foram somadas as perdas
de carga de cada componente, que podem ser vista na Tabela 3 a seguir:
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 59

Tabela 3 – Perda de carga de cada componente.

Componentes do Túnel Perda de Carga (Pa)


Tela 4,9568
Convergente 0,18375
Seção de Teste 2,9400
Divergente 5,6228
Total 13,70335

Fonte: Elaborado pelos autores.

Desta forma, é necessário um ventilador que gere um gradiente de pressão maior que,
aproximadamente, 13, 70335 P a = 1, 40 mmca. Além disso, ele também deve atender
os requisitos de movimento do escoamento do projeto, que necessita de uma vazão de
Q = 37, 5 m3 /min.

Observando essas características do projeto, definidas anteriormente, o propulsor


escolhido foi o exaustor E30M4, do fabricante Ventisilva, cuja vazão máxima produzida
é 40 m3 /min e o gradiente pressão máximo produzido é 88, 2 P a = 9 mmca.

Figura 29 – Exaustor.

Fonte: VENTISILVA, 2019.

4.2.4 Suportes estruturais

Para apoiar cada seção do túnel (tela, convergente, seção de teste, divergente e
exaustor) e ter um controle sobre a altura e o nível dessas partes, foi necessário uma
estrutura de suporte no encontro de cada estrutura e também no exaustor.

Para os encontros das estruturas, foram projetados apoios no formato de ’T’, utilizando
perfis de metalon quadrado de 30 × 30 × 1, 20 mm. Estes apoios contam com pés
vibra-stop, a fim de minimizar os efeitos das vibrações que possam ocorrer. A Figura
30 a seguir mostra uma representação do apoio que será utilizado.
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 60

Figura 30 – Apoio em modelo ’T’.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Já as armações das telas utilizou um apoio no formato de ’H’ duplo, composto por perfis
de metalon quadrado com as mesmas dimensões de 30 × 30 × 1, 20 mm. Este apoio foi
posicionado no centro da câmara de estabilização, como ilustra a Figura 31 a seguir.

Figura 31 – Apoio da câmara de estabilização.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Além disso, as armações das telas também possuem barras roscadas que percorrerão
cada uma das telas, sendo fixadas na superfície exterior do bocal convergente. Tais
barras possuem a função de guia para posicionamento e fixação das armações, onde
o último será feito pelo enroscamento de porcas nas pontas destas barras. A Figura 32
a seguir ilustra estas guias.
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 61

Figura 32 – Guias das armações.

À esquerda, guias em perspectiva sem as armações; à direita, vista lateral com as armações.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Os apoios para o exaustor, por sua vez, são constituídos de chapas dobradas com pés
vibra-stop. As chapas possuem o corte de um semi-circulo para o encaixe do exaustor.
A Figura 33 a seguir mostra uma representação do apoio do exaustor.

Figura 33 – Apoios do exaustor.

Fonte: Elaborado pelos autores.

4.2.5 Eletroeletrônicos

Com o intuito de quantificar as forças geradas pelo escoamento a ser analisado dentro
da seção de teste, faz parte do escopo deste trabalho a construção de uma balança.

Tal balança foi feita utilizando células de cargas, que se trata de um equipamento
eletrônico que opera com uma ponta fixada e outra livre, e é capaz de medir a força
que um determinado objeto faz em sua ponta livre através de strain gauge’s em seu
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 62

centro. Um Arduino será programado para mostrar os resultados das forças medidas
numa tela de LCD no painel eletrônico que acompanhará o túnel.

As células de carga utilizadas na balança não fornecem valores absolutos de força


inicialmente para o Arduino, e sim um valor numeral representativo da flexão do objeto
que varia numa faixa diferente para cada célula distinta.

Desta forma, para que seja calculada a força a ser exercida, é necessário forças
referenciais para se encontrar uma escala que traduza os valores numerais informados
pela célula em valores na unidade Newtoniana de força.

Será necessário também uma estrutura capaz de transmitir as forças de arrasto e


sustentação separadamente, cada uma para uma célula de carga distinta. A Figura 34
a seguir mostra o mecanismo proposto.

Figura 34 – Sistema de transmissão de força.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Os objetos a serem estudados no túnel serão posicionados na barra roscada da Figura


34, dentro da seção de teste. Sem força nenhuma, a haste se encontra na posição
mostrada na Figura 34, onde o portador da haste pressiona contra a célula de carga.

Quando ocorre sustentação, a haste é levantada e alivia a carga aplicada à célula


de carga, gerando uma leitura negativa que será computada e medirá a força de
sustentação. Em contrapartida, quando ocorre arrasto, a haste superior é empurrada
contra a célula de carga posicionada verticalmente, que medirá a força de arrasto.

Uma validação de dados deve ser exercida após a montagem da balança para definir o
erro presente na mesma, através de análises de modelos onde já se conhece as forças
de arrasto e sustentação atuantes.
Capítulo 4. METODOLOGIA DE PROJETO 63

Finalmente, como mencionado anteriormente, o projeto também engloba a construção


de um painel eletrônico. Nele, além de possuir uma tela de LCD, para mostrar as
forças, e saídas para energizar e conectar o Arduino, o mesmo também possui um
dimmer, que controla a velocidade do exaustor. A Figura 35 a seguir ilustra um modelo
representativo do painel.

Figura 35 – Painel eletrônico.

À esquerda, vista isométrica externa; à direita, vista extrudada.

Fonte: Elaborado pelos autores.


64

5 CONSTRUÇÃO E CALIBRAGEM

Neste capítulo, iremos detalhar a metodologia utilizada para a construção do túnel de


vento, bem como o procedimento a ser utilizado para calibração da balança.

Inicialmente foram feitos os cortes das placas de madeira para a montagem dos bocais
convergente e divergente, da seção de teste e das armações para as telas. Tais cortes
foram terceirizado por questões de eficiência.

Após os cortes, as placas foram furadas e parafusadas para se realizar a montagem de


cada seção. Em seguida, furos adicionais foram feitos para a fixação das cantoneiras
que suportarão as placas de vidro.

Também foram realizados cortes para a tampa superior da seção de teste, e posterior-
mente foram presas placas adicionais de compensado nas extremidades das seções,
com o objetivo de atuar como flanges para auxiliar na união entre cada seção do túnel.

A Figura 36 ilustra as seções do túnel de vento após corte e montagem.


Figura 36 – Seções do túnel de vento produzidas.

À esquerda superior, bocal convergente; à esquerda inferior, bocal divergente; à direita, seção de teste

Fonte: Elaborado pelos autores.

Paralelamente a construção do túnel, foram produzidas as peças metálicas necessárias


Capítulo 5. CONSTRUÇÃO E CALIBRAGEM 65

para a balança e os apoios.

Os perfis utilizados para os apoios, oferecidos pelo campus, foram cortados nos
tamanhos necessários com o auxílio de uma serra horizontal automática. As peças, em
seguida, foram soldados e receberam camadas de pintura superficial. Por fim, os pés
vibrastop foram fixados nos mesmos.

Já as chapas do apoio do exaustor, e também algumas peças da balança, foram


produzidas com o auxílio da máquina de corte a plasma do campus, visto que possuíam
geometrias mais complexas.

As chapas do apoio do exaustor foram dobradas, pintadas, e os pés vibrastop foram


fixados em seguida. Durante sua produção, foi decidido adicionar fusos no centro do
apoio a fim de garantir uma maior firmeza ao mesmo.

A Figura 37 abaixo ilustra os apoios após sua finalização.


Figura 37 – Apoios produzidos.

À esquerda, formatos dos apoios do túnel; à direita, apoios do exaustor.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Para a balança, foram cortados barras, tubos e chapas para construir o sistema de
transmissão de força apresentado na Figura 34 deste trabalho. O suporte para a célula
de arrasto, a camisa do pino atuador e o portador da haste foram soldados, enquanto
que o restante das conexões foram feitas com o uso de porcas e parafusos.

Para a regulagem da altura do fuso que suportará os objetos em teste, foram soldadas
Capítulo 5. CONSTRUÇÃO E CALIBRAGEM 66

porcas na lateral do tubo do portador da haste para permitir a fixação da mesma a


partir do uso de parafusos.

Após finalização e pintura, todo o conjunto foi montado para formar o sistema de
transmissão e detecção de força da balança.

O item restante a ser mencionado se trata do painel eletroeletrônico, controlador da


balança e do exaustor. Sua estrutura externa foi produzida a partir de impressões 3D
realizadas em equipamentos disponíveis no instituto. Após a produção da carcaça, os
elementos eletrônicos foram fixados, e o painel foi finalizado.

A Figura 38 abaixo ilustra o sistema de transmissão de força e o painel eletroeletrônico


produzido.

Figura 38 – Componentes da balança.

À esquerda, sistema de transmissão e detecção de força da balança; à direita, painel eletroeletrônico

Fonte: Elaborado pelos autores.

Com todas as estruturas montadas, o passo final da construção foi rearranjar o túnel,
fixando as flanges das seções, posicionando a balança abaixo da seção de teste,
encaixando os painéis de vidros presos com cantoneiras, e passando uma fita de
LED dentro do túnel. A Figura 39 a seguir apresenta o túnel de vento deste trabalho
montado.
Capítulo 5. CONSTRUÇÃO E CALIBRAGEM 67

Figura 39 – Túnel de vento subsônico didático.

Na imagem superior, túnel com iluminação da sala; na imagem inferior, túnel apenas com iluminação da
fita de LED.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Com relação a calibração da balança, como mencionado no Capítulo 4.2, as células


de carga necessitam de valores referenciais de força, a fim de traduzir os valores
informados pela mesma em força exercida.

Para tal objetivo, foi utilizado objetos citados na Tabela 1 apresentada neste trabalho,
além também de uma placa reta retangular, produzidos via impressão 3D. Os objetos
possuem uma base com o objetivo de encaixar na parte externa de uma porca que
ficaria presa na haste, garantindo uma maior firmeza. A Figura 40 a seguir apresentam
os objetos produzidos.
Capítulo 5. CONSTRUÇÃO E CALIBRAGEM 68

Figura 40 – Modelos produzidos via impressão 3D: (A) placa reta retangular; (B) disco; (C) hemisfério.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Para definir a força de referência da célula de carga de sustentação, basta utilizar a


força do peso do objeto, que pode ser obtido com outras balanças; já para a célula de
carga de arrasto, utilizamos o coeficiente de arrasto apresentado na Tabela 1 deste
trabalho para definir a força de arrasto, a partir de manipulações da Equação 3.7
também apresentada anteriormente neste trabalho.

Como explicado anteriormente, as células de carga inicialmente não informam valores


de força, e sim um número representativo da flexão do strain gauge que varia numa
faixa diferente para cada célula. Tais forças referenciais devem ser, então, utilizadas
no código Arduino para determinar constantes que convertam o valor informado pela
célula em unidade newtoniana.

O código Arduino foi montado para funcionar da seguinte maneira: deve-se fazer uma
calibração inicial com um dos objetos mencionados na Figura 40, informando seus
valores de forças referenciais; em seguida, deve-se realizar medições com outros
objetos e alterar a força referencial caso necessário, a fim de ajustar o coeficiente
de conversão do valor da célula para que a força informada corresponda com as
forças das interações dos outros objetos; finalmente, o processo de calibração deve ser
refeito periodicamente, não só para contabilizar desgastes da precisão do equipamento
eletroeletronico, como também para definir a periodicidade das calibrações futuras.

O orçamento total característico do projeto apresentado neste trabalho se encontra


ilustrado na Tabela 4 abaixo.
Capítulo 5. CONSTRUÇÃO E CALIBRAGEM 69

Tabela 4 – Orçamento do Projeto

Componentes Quantidade Custo (R$)


Adesivo fosco 0,5 m2 . R$ 50,00
Arduino UNO 1 un. R$ 109,45
Arruela 1/4" 18 un. R$ 2,70
Arruela 3/16" 30 un. R$ 3,00
Arruela 5/16" 62 un. R$ 15,50
Arruela 5/32" 16 un. R$ 1,60
Barra roscada 1/4" 2 m. R$ 9,80
Barra roscada 5/16" 6 m. R$ 51,00
Broca 3/16" 1 un. R$ 14,20
Célula de carga 5 kg
2 un. R$ 0,00 (2)
p/ Arduino
Chapas de aço – (1) R$ 0,00 (1)
Dimmer p/ Exaustor 1 un. R$ 45,40
Eletroventilador 1 un. R$ 182,80
Fio flexível 0,75 mm2 6m R$ 16,50
Fita de LED 12V 5m R$ 70,00
Fonte de alimentação 12V 5A 2 un. R$ 81,40
Líquido para máquina de fumaça 1 litro R$ 26,00
Mão de obra corte MDF – R$ 720,00
Máquina de fumaça 1 un. R$ 270,00
Massa plástica 400g 1 un. R$ 14,00
MDF revestido 1 un. R$ 485,00
Módulo HX711 2 un. R$ 0,00 (2)
Parafuso M4 4 un. R$ 1,20
Parafuso M5 12 un. R$ 6,00
Perfil Metalon 30x30x1,2 mm – (1) R$ 0,00 (1)
Placas de vidro 3 un. R$ 200,00
Plug macho 2P 10A 1 un. R$ 5,40
Porca 1/4" 18 un. R$ 2,70
Porca 5/16" 12 un. R$ 4,20
Porca M4 12 un. R$ 1,80
Porca M5 24 un. R$ 4,80
Push-button 16 mm sem trava 3 un. R$ 80,90
Sensor XGMP3v3 1 un. R$ 331,84
Tela galvanizada malha 20 4m R$ 172,00
Tela LCD 16x2 p/ Arduino 1 un. R$ 164,40
Tubo de Pitot 1 un. R$ 0,00 (3)
Vibra-stop Micro I 5/16" 26 un. R$ 326,26
Total R$ 3469,85
(1)
Disponibilizado pelo IFES
(2)
Comprado junto com o Arduino UNO
(3)
Comprado junto com a Tela LCD 16x2 p/ Arduino

Fonte: Elaborado pelos autores.


70

6 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Como será apresentado a seguir, o túnel de vento construído proporcionou bons


resultados qualitativos. Com o auxílio de uma máquina de fumaça, foi possível visualizar
as linhas de escoamento dentro da seção de teste como ilustra a Figura 41.

Figura 41 – Visualização do escoamento na seção de teste.

Fonte: Elaborado pelos autores.

A princípio o valor da velocidade na seção de teste seria obtida com o auxílio de um


tubo de pitot e um módulo eletrônico, que enviaria os dados para a placa Arduino
para serem computados. No entanto, durante a implementação deste sistema, os
dados obtidos não eram coerentes com a realidade, mostrando variações aleatórias ou
nenhuma variação, tanto na ocorrência ou não de escoamento sobre o dispositivo. Com
isso, a solução encontrada foi obter o valor de velocidade através da análise por vídeo.

da análise mencionada de gravações em vídeo e com a máxima vazão do exaustor,


realizamos uma estimativa da atual velocidade do escoamento dentro da seção de
teste, que ficou de, aproximadamente, 7, 5 m/s com a tampa fechada. Com isso, o
número de Reynolds para a seção de teste do túnel resultou em 1, 32 × 105 .

Como discutido na Seção 3.1 deste trabalho, tal valor de número de Reynolds para
escoamentos internos caracteriza um escoamento turbulento em situações onde não há
medidas para evitar perturbações internas. O escoamento observado qualitativamente
foi entre transiente e turbulento, contudo ajustando a velocidade no dimmer presente
no painel elétrico do túnel, é possível obter um escoamento com maior laminarização a
partir de avaliações visuais.

Em seguida, o escoamento foi avaliado para os objetos impressos no formato de disco,


de hemisfério e de placa reta retangular, posicionados na seção de teste como ilustra a
Figura 42 abaixo.
Capítulo 6. RESULTADOS E DISCUSSÕES 71

Figura 42 – Visualização do escoamento em torno de um: (A) hemisfério com parte aberta voltada para
o escoamento; (B) hemisfério com parte aberta voltada para a jusante; (C) disco; e (D) placa
reta retangular.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Para o disco, a placa reta e o hemisfério com a parte aberta voltada para o escoamento,
o ponto de estagnação ficou a frente do objeto em si devido a geometria reta do mesmo,
fazendo com que o escoamento realizasse um movimento abrupto para escoar até a
jusante.

Em contrapartida, quando o objeto possui uma curvatura suave, como foi o caso do
hemisfério com a parte aberta voltada para a jusante, o escoamento seguiu a curvatura
até chegar na parte de trás do mesmo.

Todos os objetos também apresentaram fenômenos de esteira, como ilustra a Figura 2


deste trabalho. A alta velocidade fez com que as partículas se desprendessem do objeto
e formassem campos de baixa pressão na parte de trás dos objetos. Futuramente,
corpos carenados podem ser testados a fim de observar a redução da esteira, e
também outros fenômenos citados na Seção 3.1.2 como o estol.

Ainda, foi analisado o escoamento com velocidade reduzida em volta do hemisférico,


com a parte aberta voltada para a jusante. Na Figura 43 abaixo, pode-se notar a
melhor laminarização do escoamento, e o fenômeno de esteira também se torna mais
aparente.
Capítulo 6. RESULTADOS E DISCUSSÕES 72

Figura 43 – Visualização do escoamento em torno de um hemisfério com parte aberta voltada para a
jusante, com fluxo forçado reduzido.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Com relação a balança, as células de carga utilizadas não apresentaram consistência


nos dados emitidos para o Arduino. Isso significa que os dados obtidos informavam
diferentes valores de força para uma determinada situação onde tal força não deveria
ter variações, isso tanto para sustentação quanto para arrasto.

Devido a esta inconsistência, não seria possível obter resultados confiáveis quanto
aos valores de força mostrados. Definir a causa deste efeito requer uma investigação
mais detalhada do equipamento eletrônico, onde a falha pode ser atribuída ao nível de
sensibilidade, aos mecanismos do strain gauge ou até mesmo a defeitos de fabricação.

Contudo, tanto o código em Arduino quanto o mecanismo de transmissão de força


poderá ser utilizado como base para futuros aprimoramentos do sistema da balança,
ou até mesmo ser reutilizado no caso do uso de células de carga com respostas mais
aceitáveis.
73

7 CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS FUTURAS

O atual trabalho apresentou o processo da construção de um túnel de vento didático


com base nas limitações de velocidade de escoamento e espaço laboratorial, equipa-
mento este que estará a disponibilidade de uso futuro para todo o instituto. Foi discorrida
toda a metodologia utilizada, englobando desde o embasamento teórico necessário,
descrevendo o projeto realizado com seus cálculos envolvidos, e finalizando com o
descritivo do processo de construção em si.

Este trabalho ainda se tratou de um desafio interdisciplinar para os alunos envolvidos.


Embora sua temática possui a mecânica dos fluidos como foco principal, o mesmo
também abordou outras ciências do curso de engenharia mecânica, tais como proprie-
dades de materiais, sistemas eletroeletrônicos, processos de fabricação e mecanismos
físicos.

O túnel de vento construído possui grande mérito qualitativo, e é esperado que ocorra
uma expansão no envolvimento dos alunos com a área de mecânica dos fluidos
dentro do instituto, através de estudos voltados a analisar escoamentos em torno de
objetos diversos. Além disso, o custo resultante do projeto foi baixo quando comparado
com túneis de vento comerciais, agregando um alto mérito econômico para o projeto
apresentado.

Embora o sistema de balança projetado ainda não tenha oferecido os resultados


esperados, é valido ressaltar que o equipamento foi construído visando seu constante
aperfeiçoamento, e o mecanismo eletroeletrônico apresentado auxiliará em futuros
estudos do mérito quantitativo do túnel de vento.

Tal equipamento ainda abre outras variedades de oportunidades para trabalhos futuros,
desde pesquisas aplicadas envolvendo objetos em teste, por exemplo otimizações de
curvatura de aerofólios e outros modelos aerodinâmicos, até também aprimoramentos
para a própria estrutura em si, como a construção de um outro bocal convergente
que possua uma curvatura mais eficaz com relação à atenuação do descolamento da
camada limite.
74

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