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PREFÁCIO

Chegamos a segunda edição da apostilinha de TOP, com algumas


atualizações.

Esse é um guia básico de sobrevivência ao centro cirúrgico, feito de uma


acadêmica para outros acadêmicos. Aqui você vai poder encontrar algumas
dicas que recebi durante meus estágios em alguns hospitais. Dicas de outros
acadêmicos, de chefes do serviço, de residentes, enfim, dicas muito valiosas
que vão te ajudar se você vai começar ou já começou a frequentar o CC.
Espero que gostem, e qualquer dúvida estou disponível pra ajudar, sempre!

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CAPÍTULO 1: O BÁSICO DO BÁSICO

Primeiramente, antes de falarmos sobre lavagem de mãos, paramentação e


instrumentação cirúrgica propriamente dita, aqui vai uma dica valiosa sobre
centro cirúrgico: seus melhores amigos são os circulantes de sala. Conheça-os,
seja cordial e educado com eles, e se for um estágio mais longo, vire amigo
deles. São pessoas fantásticas, que irão te ajudar durante toda a sua função de
instrumentador e auxiliar, e são pessoas que vão te salvar quando você não
souber alguma coisa.

Não seja prepotente. Voce pode aprender com TODAS as pessoas do CC, não
apenas aquele residente foda ou aquele chefe que todo mundo baba ovo. O
pessoal da enfermagem pode te ensinar muita coisa, e com certeza as
circulantes de sala também. Elas salvaram muito a minha bunda quando eu
tava começando, e eu sou muito grata a todas elas ♥

Outro ponto importante: se mostre interessado. Pergunte, peça para ver


alguma estrutura anatômica durante uma cirurgia, tire dúvidas, NÃO TENHA
VERGONHA. Estágios servem para que você aprenda, senão fica apenas no
automático de ir lá, instrumentar e depois ir embora, sem entender o que
aconteceu e sem absorver alguma coisa legal.

Através do CC você também pode ampliar seu networking, seja com outros
acadêmicos ou com os médicos. Aproveite esse momento para conversar e
criar uma rede de pessoas com as quais você possa entrar em contato
posteriormente.

Bom, outra dica: não seja sem noção. Nunca. Não faça comentários
depreciativos, não menospreze as pessoas, e não fique escolhendo
procedimentos. Tente aprender o máximo que conseguir de todas as áreas.

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CAPÍTULO 2: LAVAGEM DAS MÃOS

Passadas as dicas básicas de boa convivência no CC, vamos começar com o


bruto. A famigerada lavagem das mãos. Existem duas possibilidades, e eu já
vivenciei as duas: você pode se deparar com a famosa escovinha + PVPI ou
clorexidina degermante OU com a preparação alcoólica. Eu particularmente
prefiro a escovinha, mas existem situações que você vai ser obrigado a usar a
preparação alcoólica mesmo sem gostar.

Antes de iniciar a lavagem das mãos, fale com a circulante da sala onde você
está, pergunte o nome dela, se apresente e certifique-se que ela saiba o
número da luva que você usa, pra ela poder preparar o material.

Sempre coloque a máscara e a touca bem arrumadinhos antes de começar a


lavagem das mãos, porque você não vai poder mexer mais nisso depois. Pra
quem usa óculos: eu não gosto de colocar micropore pro ar não subir, mas se
você gosta, coloque, porque se embaça o óculos no meio da cirurgia atrapalha
muito. Eu coloco a máscara bem alta no rosto, e pressiono bem com o óculos,
que daí não sobe ar. Voce pode fixar o óculos no rosto com o micropore
também, se tiver medo que ele caia, mas eu particularmente não uso isso
também. Mas são artifícios.

Bom, se o chefe ou residente estiverem junto com você lavando a mão (a


menos que eles sejam bem chegados de ti): não saia antes deles. Continua lá
quase arrancando tua pele junto, mas não saia antes deles. Pega mal.

Se for com a escovinha: pega uma escovinha, joga o papel


no lixo (não largue o papel na pia), molha bem ela, a mão e
o braço, lembrando sempre de manter os membros para
cima, e encharca a escova de PVPI ou de clorexidina
degermante. Fecha a torneira com o cotovelo (por favor, o
mundo agradece, não seja a pessoa que deixa a água
correndo lá o tempo todo) e começa a se escovar. Junta
todos os dedos e escova bem as unhas das duas mãos.

Figura 1 Clorexidina degermante Depois, passa bem a parte da esponja da escovinha na


palma da mão, e começa a passar ela nos dedos, lembrando

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sempre de escovar bem as dobrinhas entre os dedos. Feito isso, escove o
dorso da mão, e passe para a outra mão, realizando o mesmo procedimento.
Feito isso, comece a descer e vá escovando o antebraço, até um pouco antes
do cotovelo. Faça a mesma coisa no outro antebraço. Agora, só desprezar a
escovinha (se tiver lixo próximo, jogue no lixo, senão jogue na pia) e abrir a
torneira com o cotovelo (se for no Erasto, só aproxime a mão no sensor – não
encoste - e ela abre sozinha). Lembre-se de enxaguar um
braço de cada vez, com o membro para cima, deixando a
espuma escorrer do local mais limpo – a mão – para o
cotovelo. Retire toda a espuma antes de terminar. Feche a
torneira e se dirija a sala – continuação no próximo capítulo.

Se for com o PVPI, é o mesmo procedimento, só lembrando


que existem escovinhas que já vem com o PVPI na escova,
então não precisa colocar.

Figura 2 Escova com PVPI E a preparação alcoólica? Pois é, tem ela. Eu tenho a
sensação de que ela não é tão efetiva quanto a escova,
me sinto meio suja, contaminada, mas estudos indicam que ela é melhor que a
escovinha, quem somos nós pra discordar né. Só vi ela no Erasto e no Hospital
Pequeno Príncipe. Caso você precise utilizar ela, aqui vai o tutorial: primeiro
lave sua mão normalmente com sabão e seque com o papel. Faça uma
pocinha de preparação alcoólica na mão, junte seus dedos e faça movimentos
circulares por 5 segundos, para limpar as unhas. Repita com a outra mão. Após
isso, siga o mesmo tutorial da escovinha, com a diferença que sua mão passa
a ser a escova. Use a quantidade de preparação alcoólica que você achar
necessário. Depois que você esfregou bem, passe uma última camadinha de
preparação alcoólica e se dirija para a sala – cenas para o próximo capítulo.

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CAPÍTULO 3: PARAMENTAÇÃO

Aí você, acadêmico belo, se lavou bonitinho e foi pra sala de cirurgia. E agora?

O primeiro passo é localizar o seu kit de avental e compressa. Pegue a


compressa e enxugue bem a mão e o antebraço, cuidando pra ir trocando o
lado da compressa que você usa em cada pedaço que seca. Jogue ela no lixo
infectante.

Depois disso, coloca seu avental. Voce deve estar pensando AH MAS ISSO É
ÓBVIO. Mas filho, na hora ali do vamo ver, você acaba confundindo, dá um bug
no cérebro e quando tu vai ver, botou a luva antes do avental (já aconteceu
comigo algumas vezes no começo). É sempre importante ter essa ordem
bem clara na cabeça, até que se automatize.

Para colocar o avental: tem locais e pessoas específicas (alo Erasto) que tem
uma peculiaridade de colocar o avental sempre virado para a mesa cirúrgica. O
que tem a ver eu não sei, eu só aceitei e faço. Mas em outros locais, você
colocando o avental tá bom, não importa se tá virado pra parede, pra mesa,
whatever. Procure um local da sala de cirurgia que esteja mais vazia e que
você consiga se movimentar bem. CUIDADO PRA NÃO SE CONTAMINAR.
Essa é a regra master do acadêmico no CC – já somos muito julgados porque
pessoas noob vão lá sem a mínima noção do que estão fazendo e SE
contaminam ou contaminam a cirurgia. Não seja essa pessoa.

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Pegue o avental pela borda superior, e abra ele. Coloque o avental e vire de
costas para a circulante de sala, para que ela possa fechar pra você. Feito isso,
abra o envelope com sua luva e calce-a. Sempre puxe a luva para que ela
cubra toda a ribana do avental.

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Feito isso, você está devidamente paramentado. A partir de agora, tome muito
cuidado onde você encosta na sala, pra não se contaminar. Se você acabar se
contaminando, não hesite em avisar o residente e a circulante de sala, e
solicite uma nova luva.

As vezes o residente já vai ter se lavado junto com você, as vezes não . Voce,
como instrumentador/auxiliar, é responsável por fechar o avental dele e de
todos os outros membros da equipe que estiverem paramentados, depois da
circulante de sala ter fechado a parte não estéril. Certifique-se de que o avental
de todos esteja fechado na parte posterior antes do início da cirurgia. Para
fechar, é simples: desamarre as duas fitinhas de um lado, rode o avental até o
outro lado e amarre.

Agora, a próxima fase é montar a mesa – tema para o próximo capítulo.

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CAPÍTULO 4: MONTAGEM DA MESA CIRÚRGICA E INSTRUMENTAIS

Vamos agora para uma parte mais trabalhosa – a montagem da mesa. Aqui
vamos gastar um tempinho considerável.

Voce precisa checar qual é o procedimento que será realizado e perguntar se a


mesa utilizada será a de Mayo ou a mesa normal. A mesa de Mayo é pequena
e utilizada em procedimentos pequenos, como ressecções de lesões de pele e
zetaplastias. Na maior parte das vezes, a mesa grande é a que será utilizada.

Figura 4 Mesa de Mayo Figura 3 Mesa de instrumentação cirúrgica normal

Após checar isso, pegue um campo grande que deve estar


no lap aberto pela circulante de sala, abra-o até que fique
uma camada dupla de tecido e espalhe-o na mesa, afim de
que ele cubra toda a mesa e sobre nas bordas. Se for uma
mesa de Mayo, o campo utilizado pode ser menor, mas a
camada de tecido deve ser dupla da mesma maneira.

Feito isso, pegue a caixa de materiais que será utilizado e


abra-a. Procure uma fitinha pequena dentro dela. Essa
fitinha deve ser entregue para a circulante de sala, assim
como uma fitinha igual que vem junto no lap. Essa fitinha
se chama integrador, caso ela peça por esse nome. Isso é
Figura 5 Exemplo de integrador
importante para que ela possa mandar o material para
esterilização depois.

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Existem diversas caixas diferentes de materiais cirúrgicos, específicos para
cada procedimento, e infelizmente isso você só vai se acostumar na prática.
Por vezes, vai vir algum material muito específico daquela cirurgia e você não
vai saber o nome. Não precisa se desesperar. Sempre pergunte pro residente o
nome (E GUARDE O NOME), não tenha vergonha. Voce não é obrigado a
conhecer tudo.

Uma dica: você precisa pegar a prática de pensar nos tempos cirúrgicos e se
adiantar em relação a eles. Ou seja: você sabe que depois do residente se
paramentar, a primeira coisa que ele vai fazer é realizar a antissepsia da área
em que a cirurgia vai ocorrer. Então se agilize: quando abrir a caixa de
materiais, a primeira coisa que você vai fazer é retirar a pinça para antissepsia,
a cubinha e as gazes que vem junto. Voce vai pedir pra circulante de sala
colocar o clorex na cuba, e vai montar a boneca com as gazes.

Mas Amanda, como faz a boneca? Existem diversas maneiras, mas a que eu
acho melhor (e que vale para fazer gazes montadas – cenas dos próximos
capítulos) é de colocar 2 gazes abertas uma em cima da outra, e dobrar ela no
meio 2 vezes, depois dobrar no meio na outra direção. E qual pinça eu uso pra
prender a boneca? Existem algumas opções também:

Figura 6 PEAN
Figura 8 CHERON Figura 7 FOERSTER

Deixe isso preparado na mesa. O próximo passo é separar todas as pinças


Backaus, utilizadas para prender os campos cirúrgicos e o cautério. Elas
geralmente vem todas juntando as outras pinças, então retire todas elas e

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deixe separado em um cantinho da mesa. As vezes não tem Backaus
suficiente, então podem ser usadas Allis ou Kelly reta, se houver sobrando na
caixa. Desenrole o cautério e o deixe separado na mesa também, pois ele será
fixado logo depois da colocação dos campos.

Depois que o residente ou chefe fizer a antissepsia, não


toque na boneca. Não despreze a pinça nem a boneca na
mesa. Voce pode jogar a boneca no lixo infectante e fixar a
pinça na parte pendente do campo da mesa, numa área
que você não encoste. A cuba pode ficar na mesa, em
algum canto que você não utilize.

Após isso, pense nos tempos cirúrgicos: depois da


Figura 9 BACKAUS colocação dos campos, a primeira coisa a ser feita é a
incisão. Dessa forma, deixe o bisturi pronto com a lamina.
Existem 2 cabos de bisturi – o 3 e o 4. A primeira linha de
laminas da figura 10 é destinada ao cabo 3, enquanto que
as laminas da segunda linha são destinadas ao cabo 4 do
bisturi. Para colocar a lamina no bisturi, utilize um porta-
agulha.

Figura 10 Cautério

Figura 12 Laminas de bisturi Figura 11 Cabos de bisturi 12


Não coloque a lamina no bisturi segurando apenas na
lateral, pois ela não é tão rígida e se você fizer muita
força, ela pode acabar quebrando.

Após ter colocado as laminas nos bisturis, é hora de


organizar o restante da mesa. Não existe uma regra
única que deve ser seguida para a montagem da
mesa, sendo que você pode organizar da maneira que
Figura 13 Colocação de lamina no bisturi
melhor lhe convir. Com o tempo você acaba criando
seu próprio esquema, conforme você vai vendo o que é bom e o que não é. Eu
monto da seguinte maneira:

Especiais Exposição Síntese

Hemostasia
Preensão Diérese

Tudo depende do procedimento que você está. Se é um procedimento grande,


como uma amputação de reto ou uma retossigmoidectomia (cirurgias bem caos
de entrar se você não tiver domínio do que tá fazendo), você provavelmente
não vai seguir bem certinho, porque são mais de 100 pinças numa mesa que
elas simplesmente não cabem bonitinho. É algo BEM variável.

Mas Amanda, o que são esses nome tudo aí que você colocou nos quadrados?
Pra que servem? De onde vieram? Eis a explicação: são tempos cirúrgicos.

 DIÉRESE - Compreende o tempo cirúrgico em que ocorre a separação


dos planos anatômicos ou tecidos, com o objetivo de possibilitar a

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abordagem de determinado órgão ou região. Os principais instrumentais
usados aqui são o BISTURI e as TESOURAS.
 PREENSÃO – Os instrumentos de preensão são aqueles destinados a
preender e segurar vísceras e órgãos. Compreende algumas pinças,
que eu vou explicar melhor adiante.
 HEMOSTASIA – É o processo para prevenir, deter ou impedir o
sangramento. Compreende diversas pinças – explicação melhor adiante.
 ESPECIAIS – São instrumentais utilizados para finalidades específicas.
São variados e dependem da especialidade cirúrgica.
 EXPOSIÇÃO – Compreende os instrumentos utilizados para afastar os
órgãos, garantindo melhor visualização. São os afastadores.
 SÍNTESE - Consiste na aproximação das bordas de uma lesão, com a
finalidade de estabelecer a contiguidade do processo de cicatrização.
Compreende o porta-agulhas e diversos tipos de agulhas.

DIÉRESE

Voces já foram apresentados para um dos instrumentos


utilizados na diérese, o bisturi. Não podemos esquecer
que existe o bisturi que já vem montado com a lamina
também, que parece um estilete. Ele é bem pouco
solicitado.

Organize o bisturi com a lamina voltada para baixo. É mais


fácil para você pegá-lo e passar para o cirurgião. Passe
sempre o instrumental na mão do cirurgião, da
Figura 14 Bisturi retrátil maneira que ele irá utilizar o instrumental; no caso
do bisturi, passar com a lamina voltada para baixo
para evitar ferimentos.

Além dos bisturis, a diérese compreende também as


tesouras. Existem vários tipos de tesoura, mas as
principais são a tesoura de Mayo e a tesoura de
Metzenbaum. A diferença entre elas é que a Metz
(atento pra esse nome, eles geralmente vão pedir
Figura 15 Forma de passar o bisturi

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assim o instrumento) tem uma lamina de corte pequena em relação ao seu
corpo, enquanto que a Mayo tem uma lamina que é metade do corpo da
tesoura. Ambas as tesouras possuem versões reta e curva.

A tesoura de Mayo geralmente é utilizada como tesoura de fio, porque ela é


grosseira. Eles pedem ela assim.

Já a Metz é a tesoura utilizada quando se está na cirurgia propriamente dita.


Quando o cirurgião pedir a Metz, de a ele a Metz curva, e você vai acertar 99%
das vezes.

Na hora de colocar na mesa, você pode organizar da seguinte forma: mayo


reta – mayo curva – metz reta – metz curva. Coloque na mesa com as argolas
viradas para cima porque é mais fácil de pegar e passar elas dessa forma.
Sempre passe na mão do cirurgião, colocando as argolas na palma da mão, de
maneira firme. Eles podem pedir verbalmente ou realizar um sinal de tesoura
com os dedos indicador e médio.

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PREENSÃO

Os instrumentos de preensão compreendem as pinças utilizadas para


manipular os tecidos.

A pinça anatômica é disparado a mais conhecida e utilizada. Tem uma versão


com dente (pinça dente de rato) e sem dente. A versão com dente é utilizada
geralmente apenas na pele, enquanto que a versão sem dente é utilizada nos
tecidos de cavidades. Se o cirurgião tá lá em meio a uns intestino, e pedir uma
pinça, não vai me dar uma pinça com dente. Fique atento pro que tá
acontecendo na cirurgia pra não cometer esses erros. Da mesma forma que as
tesouras, você pode organizar na mesa a pinça sem dente e depois a com
dente do lado.

Outra pinça bastante usada, mais delicada, é a pinça Adson, que é


barrigudinha. Ela também tem versões com e sem dente, e segue os mesmos
princípios da pinça anatômica.

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Lembrando sempre de entregar o instrumental na mão do cirurgião, da maneira
que ele vai empunhar o instrumental. Eu vou repetir isso sempre, porque é
MUITO importante. Por vezes o cirurgião não vai nem te olhar, vai só solicitar o
material e estender a mão. E as vezes, é muita correria e ele te pede rápido um
instrumental, e se ele tiver que parar e consertar a empunhadura, estará
perdendo um tempo que pode ser valioso. Voce, instrumentador, precisa ser
eficiente. Não pode ficar comendo bola e dormindo no ponto. Tem que ser
atento e ágil.

HEMOSTASIA

Chegamos ao instrumental de hemostasia, e aqui vai uma DICA DE OURO


VALIOSÍSSIMA que salvou minha vida de instrumentadora acadêmica, e que
eu aprendi no Hospital do Trabalhador e levei pra vida: use o campinho da
caixa de materiais (se houver) ou compressas e monte divisórias com esse
material para separar as pinças. Sério, isso ajuda MUITO na organização, e te
salva de entregar pinça errada para o cirurgião. É tipo isso da foto abaixo, mas
melhor dividido. Vou mostrar no dia que a gente for praticar isso no laboratório.

Depois que você fizer a divisória, separe então um espaço para pinça Kelly e
Crile reta, Kelly e Crile curva, Allis e Koscher.

A pinça Kelly reta é um instrumental utilizado mais para o pinçamento de fios


durante a cirurgia do que para hemostasia. É chamada de reparo pelos
cirurgiões. A Crile é uma pinça muito semelhante a pinça Kelly, a única
diferença é que a
pinça Kelly tem
ranhuras em 2/3 da
sua lamina e a
pinça Crile tem
ranhuras em toda a

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Figura 16 CRILE
Figura 17 KELLY
lamina. Na prática, ninguém diferencia elas. São usadas para a mesmíssima
função.

A pinça Kelly curva (e por consequência, a Crile curva) são utilizadas na


hemostasia propriamente dita. Elas podem ser mais delicadas, com ponta mais
fina, ou mais robustas, com pontas mais rombas. Se o cirurgião pedir uma
Kelly, entregue esta.

Uma versão mini para hemostasia é a pinça Halsted ou mosquitinho (ela vai
ser solicitada por esse nome). Ela é bem pequenininha, então é fácil identifica-
la.

A pinça Allis parece um garfinho. Ela não é utilizada


para hemostasia, e sim para preensão de tecidos, no
entanto eu coloco ela junto com as pinças de
hemostasia.

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A pinça Mixter é utilizada para dissecção de tecidos e tem a ponta BEM
angulada. É fácil identificar ela.

A pinça Koscher é originalmente classificada como instrumental de


hemostasia, mas não é usada nessa função. É mais usada na preensão de
tecidos firmes, como aponeuroses. Ela tem dentes grosseiros na ponta, sendo
fácil identificar ela.

ESPECIAIS

Aqui vão diversos instrumentais, dependendo da cirurgia. Voce só vai aprender


o nome desses conforme for entrando nas cirurgias em que eles são utilizados.

A pinça Duval é uma pinça que tem dois triângulos na


ponta e é utilizada na preensão de alças intestinais. As
vezes ela vem na caixa normal e dá pra fazer antissepsia.
É usada também em lobectomias, para preensão do
tecido pulmonar.

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A preensão de alças intestinais é mais tradicionalmente realizada com os
clampes intestinais. Eles podem ser retos ou curvos.

Em ortopedia, utilizam o saca-bocado para retirar porções de osso.

Existe o que os cirurgiões chamam de Edér, que eu vi


sendo utilizado em mastectomias pra preensão dos
limites da ferida operatória para garantir visualização do
campo.

O clampe Bulldog é utilizado para parar sangramentos. É um


material que geralmente tá na caixa da vascular.

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A pinça Satinsky é usada na cirurgia
vascular.

Se você entrar em cirurgias da ortopedia


ou da plástica, pode dar de cara com
instrumentais utilizados para raspar o
osso. Cada um tem um nome diferente, difícil guardar todos.
Mas tem a cureta Bruns, que parece uma mini colherzinha
com um cabo grande e robusto, e a Williger, que é uma
colherzinha dupla, mais delicada. Existem outros, mas são
BEM específicos, e aí você pode perguntar o nome para o
cirurgião sem medo de ser feliz.

A pinça Babcock é utilizada em cirurgias do TGI para


preensão de tecidos e vísceras, assim como a Collin. A pinça Babcock tem
uma fenestra na ponta; a Collin tem a ponta em forma de coração, como dizem
– embora não pareça.

Figura 19 BABCOCK
Figura 18 COLLIN

Existe também a pinça de Rochester, que parece uma Crile, mas é maior e é
muito robusta. É uma pinça originalmente hemostática, mas é mais usada para
pinçamento de estruturas, como pedículos e alças intestinais ressecadas. Pode
ser curva ou reta.

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Tem uma tesoura utilizada na cirurgia vascular chamada
Tesoura de Potts. Ela é fácil de ser identificada porque tem
uma ponta fininha e angulada.

A vascular também tem uma pinça,


chamada de Debakey ou Dietrich, que
é bem parecida com a pinça anatômica
sem dente. Na prática, já usei na plástica na função da
pinça anatômica. Ela serve fundamentalmente para
preensão da borda de vasos.

A pinça de Moynihan é uma pinça de


corpo longo com porção de cremalheira
pequena, é robusta, e serve para pinçamento de estruturas
na profundidade de cavidades.

A pinça de Pozzi é utilizada na cirurgia ginecológica para


pinçamento do colo do útero. A pinça de Museux também é
usada para preensão e tração do colo do útero. Pode ser
reta ou curva.

Figura 21 MUSEUX RETA

Figura 20 POZZI

Figura 22 MUSEUX CURVA 22


EXPOSIÇÃO

Na exposição, ficam os afastadores, que são utilizados para facilitar a


exposição do campo operatório. Podem ser de dois tipos: estáticos e
dinâmicos. Os afastadores dinâmicos exigem tração manual contínua,
enquanto que os afastadores estáticos não.

AFASTADORES DINAMICOS

O mais conhecido dos afastadores dinâmicos é o


Farabeuf. Ele existe em vários tamanhos, dependendo da
cirurgia em que você está você vai utilizar um tamanho
diferente.

Outro bastante utilizado em cirurgias abdominais e


pélvicas é o Doyen. Ele tem uma versão suprapúbica, que
é mais curvado.

Figura 24 DOYEN Figura 23 DOYEN SUPRAPÚBICO

Tem também o afastador Deaver, que parece uma lamina em forma de foice.
Eu não lembro de ter utilizado nenhuma vez, mas se você se deparar com ele,
este é nome dele.

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Outro afastador utilizado é o Langenbeck. Ele não vem na
caixa de materiais como o Farabeuf, e se for utilizado, será
solicitado para a circulante de sala, que irá trazer em um
pacote estéril.

Existe também um outro


afastador chamado de maleável. Ele é uma
lamina de metal que pode ser moldada da
maneira que preferir. Usada principalmente em
cirurgias abdominais. .

AFASTADORES ESTÁTICOS

Existem diversos afastadores estáticos, dependendo da


cirurgia em que você está. Geralmente, o cirurgião irá
solicitar compressas limpas para colocar nas bordas da
ferida operatória. Assim, ele não irá traumatizar a pele.

Se você está em uma cirurgia torácica, provavelmente usará


o afastador Finochietto.

Outro afastador, utilizado em cirurgias abdominais, é o


Gosset. Ele pode ter uma ‘’borboletinha’’ e permitir o
acoplamento de um afastador suprapúbico.

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Tem um afastador que é mais delicado, usado na neurocirurgia, cirurgias da
mão e nos membros, chamado de afastador de Adson. Ele parece garfinhos.

SÍNTESE

A síntese engloba o fechamento dos tecidos por planos, e aqui são utilizados o
porta-agulhas, as agulhas e os fios.

O porta-agulhas disparado mais conhecido é o de Mayo-Hegar. Existem vários


tamanhos também, então tenha bom senso. Se a sutura for na pele, não
precisa ser um porta-agulha gigante. Se a sutura for em profundidade na
cavidade, não de um porta agulha pequeno. Ele pode ou não ter videa. A videa
é essa cremalheira mais suave na ponta. Os cirurgiões preferem os com videa,
mas se não tiver, não tem muito o que fazer.

Figura 26 PORTA AGULHAS COM VIDEA25


Figura 25 PORTA AGULHAS SEM VIDEA
Tem também o porta-agulhas
Mathieu, que parece um alicate.
Outro porta agulha é o Crile Wood.

Figura 27 MATHIEU

Figura 28 CRILE WOOD

Existem agulhas separadas dos fios para algumas ocasiões. Para isso, no kit
dos materiais, vem um agulheiro, que você não deve jogar fora no final da
cirurgia.

Existem basicamente dois tipos de agulhas – as traumáticas e as atraumáticas.

AGULHA TRAUMÁTICA: Agulha que ocasiona trauma tecidual devido a


diferença ente o diâmetro da agulha e fio. Não tem o fio acoplado. São
utilizadas em tecidos resistentes como aponeurose e pele. A traumática
apresenta a ponta cortante ou triangular.

AGULHA ATRAUMÁTICA: Os fios já vêm montados (encastoados) no fundo


da agulha para que não haja uma diferença no diâmetro do fio e do fundo da
agulha. São utilizadas em tecidos mais delicados. A atraumática apresenta a
ponta cilíndrica.

Elas podem ser classificadas também quanto a curvatura:

 Retas: são usadas para suturar sem ajuda dos porta-agulhas,


principalmente em anastomoses enterogástricas;
 Semi-retas: fundo e corpo retos e ponta curva. São aplicadas em
estruturas mais superficiais, por exemplo a pele.
 Curvas: a curvatura é variável podendo ser de ¼, 3/8, ½, 5/8, de
círculo.

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Geralmente as agulhas avulsas são utilizadas para montar algodão ou seda.
No laboratório eu vou mostrar a técnica, porque não consigo descrever de uma
forma que de pra entender e não tem imagens no google. A seda e o algodão
são colocados de maneiras diferentes na agulha.

Depois de saber todo o instrumental necessário para realizar a síntese,


apresento a vocês então os fios. Eles podem ser agulhados ou não.

Os fios podem ainda ser absorvíveis ou não absorvíveis, naturais ou sintéticos,


mono ou multifilamentados e apresentam diversos calibres.

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FIOS NÃO AGULHADOS

Os mais utilizados são o algodão 0, algodão 2-0, algodão 3-0 e seda. Eles vem
em pacotinhos que nem os fios agulhados. Aconselho cortar o pedaço do papel
que diz o tamanho do fio e fixar junto com ele, pendurado no campo cirúrgico –
não o da mesa. Dessa forma, você não mistura o tamanho dos fios e também
fica muito mais fácil pra tirar o fio do que se ele estiver na mesa.

FIOS AGULHADOS

ABSORVÍVEIS

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 CATEGUTE – fabricado a partir de colágeno da submucosa do intestino
de ovinos ou da serosa intestinal de bovinos, está disponível nas formas
simples e cromado. Causa mais reação tecidual que os
absorvíveis sintéticos. O simples perde metade da
resistência após 5 a 7 dias nos tecidos e 100% após 3 a 4
semanas. O tratamento do fio com sais de cromo prolonga
o tempo de absorção e aumenta sua resistência à tensão.
O categute cromado perde 50% da resistência em 19 a 20
dias e 100% após 5 semanas nos tecidos. Trata-se de um
fio monofilamentar. Geralmente o categute (2-0 simples) é
utilizado para fechamento do peritônio e subcutâneo.

 ÁCIDO POLIGLICÓLICO (DEXON) – é um fio


multifilamentar trançado, sintético. Perde totalmente
sua resistência após 28 dias nos tecidos e é 100%
absorvido decorridos 60 dias.

 POLIGLACTINA 910 (VICRYL) – fio multifilamentar.


Metade é absorvido após 28 dias pós-operatórios e 100%
após 70 dias. Tem utilização BEM ampla dentro da cirurgia,
podendo ser usada para ligadura e fechamento de
aponeurose (vicryl 1)

 POLIDIOXANONA (PDS) – fio monofilamentar, tem um


tempo de absorção mais prolongado que a poliglactina.
A absorção do fio se inicia após 90 dias e termina após
180 dias. É utilizado em anastomoses intestinais e para
fechamento de aponeurose (PDS 1)

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 POLIGLECAPRONE (MONOCRYL) – fio
monofilamentar que tem um tempo de absorção
entre 90 e 120 dias. Tem mínima reação tecidual.
Pode ser chamado de caprofyl também. Pode ser
usado em anastomoses intestinais e para
fechamento da pele (sutura intradérmica).

INABSORVÍVEIS
 POLIÉSTER (DACRON) – fio multifilamentar
trançado de alta resistência.

 POLIAMIDA (NYLON) – disponível nas


versões monofilamentar e
multifilamentar trançado, provoca
pequena reação tecidual. Usado na
sutura da pele e para fixação de drenos.
 POLIPROPILENO (PROLENE) – fio
monofilamentar de cor azul. É muito utilizado em anastomoses
vasculares, intestinais, de tendões e suturas de parede abdominal. É
duplamente agulhado.

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É importante lembrar sempre de colocar pelo menos 1 pacote de gazes (com
10 gazes) e 1 de compressas (com 5 compressas) a disposição do cirurgião.
Disponha-as na mesa conforme o espaço que você tem disponível.

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CAPÍTULO 5: COLOCAÇÃO DOS CAMPOS CIRÚRGICOS

Muitas vezes, enquanto você está montando a mesa, o cirurgião estará


colocando os campos. Mas outras vezes, você será o responsável por isso, ou
irá ajudar o cirurgião.

Os campos cirúrgicos, juntamente com os aventais, vem junto em um pacotão


de coisas chamado lap. O lap cirúrgico quem abre a parte mais externa é a
circulante de sala, sendo que a parte interna, estéril, é você quem abre. Em
cima vem os aventais, geralmente 3, e embaixo deles, os campos estéreis,
primeiramente os grandes e embaixo deles, os menores.

São utilizados 5 campos cirúrgicos geralmente – isso pode variar de cirurgia


para cirurgia. Mas utilizando o exemplo de uma cirurgia abdominal, utilizam-se
2 campos grandes – 1 caudal e 1 cranial, sendo que o caudal é
colocado primeiramente. Logo após isso, são colocados os
dois campos menores, 1 em cada lateral. Fixa-se com a
Backaus. Por último, coloca-se mais um campo caudal. O
campo grande cranial é fixado pelo anestesista.

Em algumas cirurgias, podem ser utilizados campos


fenestrados, quando o campo operatório é pequeno. Em
Figura 29 Campo fenestrado outras, podem ser utilizados campos adesivos também.

Os campos são colocados após a realização da antissepsia com o PVPI ou


clorexidina. Feito isso, a cirurgia está pronta para ser iniciada.

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CAPÍTULO 6: DICAS

Pois então, chegou a hora de começar a instrumentar ou auxiliar. E você deve


estar esperando um tutorial milagroso de como fazer isso com magnificência, e
eu terei que dizer que: não vai ser assim. A instrumentação e a técnica
operatória são construções, ou seja, você só vai se tornar bom nisso
praticando, repetindo, botando a cara pra bater e querendo muito aprender. O
que vou deixar aqui são algumas dicas, mas o grosso a vida no centro cirúrgico
ensina.

É importante ter em mente os tempos cirúrgicos e, se possível, conhecer bem a


cirurgia que você está auxiliando. As vezes isso não é possível, mas é legal
prestar atenção na cirurgia pra gravar mais ou menos a sequencia em que ela
ocorre. Isso facilita na hora de instrumentar.

Uma dica legal é a de sempre manter a sua mesa organizada. Com uma mesa
organizada, você não se perde na hora de entregar um instrumento para o
cirurgião, e ele ainda terá uma visão de que você é organizado. Além disso,
cirurgiões geralmente pegam um instrumental, usam e jogam no campo. Retire
esses instrumentais se eles não estão sendo utilizados, para que não fiquem
acumulados e acabem caindo no chão – acontece, e não é bom, porque as
vezes na caixa de instrumentais só vem 1 unidade de alguns instrumentos.

Mantenha sempre uma quantidade de gazes e compressas limpas disponíveis


na sua mesa, e no campo cirúrgico. Despreze as gazes e compressas sujas no
lixo infectante. Não esqueça que alguns serviços solicitam que a contagem de
gazes e compressas utilizadas seja feita.

Separe os perfurocortantes em uma parte da mesa, e


coloque-os apenas lá. Assim fica mais fácil de localizar
e jogar todos no lixo perfurocortante, uma caixinha
amarela. Lembre-se de retirar a lamina do bisturi e
desprezá-la no lixo perfurocortante também, assim

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como agulhas utilizadas para infiltração. Descarte tudo com as pontas viradas
para baixo.

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