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A Doença Diverticular é uma doença benigna, de boa  Manifestações clinicas


resposta ao tratamento clínico, instituído na mudança
de hábitos alimentares, maior consumo de fibras, Um dado importante a ser lembrado é que a maioria
antibioticoterapia potente nos processos dos divertículos duodenais é assintomática e em geral
inflamatórios mais simples e uso da radiologia é notada incidentalmente em um exame radiológico
intervencionista nos abscessos. A indicação cirúrgica do trato digestório alto realizado devido a um
fica restrita ao insucesso da terapêutica clínica e às problema não relacionado (Fig. 50-39). O diagnóstico
formas mais graves da doença, como estenoses, também pode ser obtido pela endoscopia digestiva
abscessos e perfurações. A diverticulite aguda do alta ou sugerido pelas radiografias simples do abdome
cólon é a complicação mais freqüente da doença mostrando uma bolha gasosa atípica; a TC pode
diverticular e ocorre em 30% dos pacientes, dentro identificar divertículos volumosos. Menos de 5% dos
dos próximos 20 anos após seu diagnóstico divertículos duodenais necessitarão de uma operação
devido a uma complicação do próprio divertículo. Os
principais problemas incluem a obstrução dos ductos
biliar e pancreático, que pode contribuir para uma
 Incidência e causa colangite ou uma pancreatite, respectivamente,
perfuração ou, raramente, síndrome da alça cega.
Primeiramente descritos por Chomel, um patologista
Infelizmente, os divertículos duodenais assintomáticos
francês, em 1710, os divertículos duodenais são
geralmente se apresentam como uma perfuração
relativamente comuns, representando o segundo local
aguda que ocorre durante uma complicação
mais comum para a formação de divertículos depois
endoscópica.
do cólon. A incidência de divertículos duodenais varia
dependendo da idade do paciente e método de
diagnóstico. Os estudos radiológicos gastrointestinais
altos identificam os divertículos duodenais em 1% a
5%, enquanto algumas séries baseadas em necropsias
relatam a incidência entre 15% a 20%. Sua frequência
ocorre duas vezes mais em mulheres do que em
homens e são raros em pacientes com menos de 40
anos. Eles foram classificados como congênitos ou
adquiridos, verdadeiros ou falsos e intraluminais ou
extraluminais. Dois terços a três quartos dos
divertículos duodenais são encontrados na região
periampular (em um raio de até 2 cm da ampola) e
projetam-se da parede medial do duodeno.
Apenas os divertículos justa-ampolares estão
significativamente relacionados com as complicações
como colangite e pancreatite. Nestes pacientes, é
comum a ampola se insinuar no duodeno na margem
superior do divertículo, em vez de fazê-lo pelo próprio
divertículo. O mecanismo proposto para um aumento
na incidência de complicações do trato biliar é a
localização dos divertículos perivaterianos que podem
produzir uma distorção mecânica do ducto biliar
comum conforme penetra no duodeno, resultando
em uma obstrução parcial e em estase. A hemorragia
pode ser causada pela inflamação, levando à erosão Vários procedimentos cirúrgicos foram descritos para
de um ramo da artéria mesentérica superior. A o tratamento do divertículo duodenal sintomático. O
perfuração de um divertículo duodenal tem sido mais comum e eficaz é a diverticulectomia, que pode
descrita, mas é rara. Finalmente, a estase dos ser obtida realizando-se uma ampla manobra de
conteúdos intestinais no interior de um divertículo Kocher, para expor o duodeno. O divertículo então é
distendido pode resultar em supercrescimento ressecado e o duodeno é fechado transversal ou
bacteriano, má absorção, esteatorreia e anemia longitudinalmente, de modo a produzir o menor grau
megaloblástica (i. e., síndrome da alça cega). Os de obstrução luminal. Devido à sua proximidade com
sintomas relacionados com os divertículos duodenais, a ampola de Vater, é essencial que ela seja
na ausência de qualquer doença passível de cuidadosamente identificada, para impedir um dano
comprovação, em geral são queixas epigástricas ao conduto biliar comum e ao ducto pancreático. Para
inespecíficas e, na verdade, podem ser o resultado de os divertículos que se insinuam profundamente na
outro problema não relacionado com o próprio cabeça do pâncreas, realiza-se uma duodenotomia,
divertículo. traciona-se o divertículo e inverte-o para o lúmen
duodenal; feito isso, ele então é ressecado e a parede
 Tratamento é fechada. Os métodos alternativos descritos para os
A maioria dos divertículos duodenais é assintomática divertículos duodenais junto da ampola de Vater
e benigna; e quando eles são encontrados incluem uma esfincteroplastia alargada através da
incidentalmente, não necessitam de tratamento. parede comum da ampola e do divertículo.

divertículo perfurado deve ser ressecado e o duodeno


fechado com um tampão seroso proveniente de uma
O tratamento de um divertículo perfurado pode alça jejunal. Se a inflamação circunjacente for grave,
necessitar de procedimentos semelhantes aos pode ser necessário desviar o fluxo entérico para local
descritos para os pacientes com grandes defeitos afastado da perfuração com uma gastrojejunostomia
relacionados com traumas na parede duodenal. O ou duodenojejunostomia. A interrupção da
continuidade duodenal proximal ao divertículo
perfurado pode ser realizada pela oclusão pilórica
através de sutura manual ou com grampeador. Se o
divertículo é posterior e pode perfurar para o ducto
pancreático, o reparo cirúrgico pode ser difícil e
perigoso. Uma drenagem ampla com desvio duodenal
pode ser a única alternativa viável nesses casos. Deve-
se ter muito cuidado nos caso de perfuração
adjacente à papila de Vater. Os divertículos duodenais
intraluminais foram descritos, mas são raríssimos e, se
sintomáticos, podem ser totalmente ressecados se
estiverem afastados da ampola. No entanto, se for
encontrado um divertículo intraluminal sintomático
junto da ampola de Vater, a ressecção subtotal do  Apresentação clinica
divertículo deve ser executada para proteção da
Divertículos jejunoileais são geralmente encontrados
entrada dos ductos biliar-pancreático.
incidentalmente na laparotomia ou durante um
estudo radiológico baritado gastrointestinal alto; a
grande maioria permanece assintomática. As
 Incidência e causa complicações agudas, como obstrução intestinal,
hemorragia ou perfuração, podem ocorrer, mas são
Os divertículos do intestino delgado são muito menos raras. A sintomatologia inclui dor abdominal crônica e
comuns do que os divertículos duodenais, com uma vaga, má absorção, pseudo-obstrução funcional e
incidência variando de 0,1% a 1,4% quando referidos hemorragia gastrointestinal crônica de pequena
por séries de necropsia e 0,1% a 1,5% nos estudos monta. As complicações agudas são a diverticulite,
gastrointestinais. Os divertículos jejunais são mais com ou sem abscesso ou perfuração, a hemorragia
comuns e são de tamanho maiores que os do íleo. gastrointestinal e a obstrução intestinal. A estase do
Estes são falsos divertículos, que ocorrem fluxo intestinal com o supercrescimento bacteriano
principalmente em um grupo etário mais idoso (após (i.e., síndrome da alça cega), devida a uma discinesia
a sexta década de vida). Estes divertículos são jejunal, pode levar a uma desconjugação dos sais
múltiplos, geralmente fazem uma protrusão na borda biliares e captação da vitamina B12 pela flora
mesentérica do intestino e podem deixar de ser bacteriana, resultando em esteatorreia e anemia
observados durante a operação, pois estão entre os megaloblástica, com ou sem neuropatia.
folhetos do mesentério do intestino delgado.
Acredita-se que a causa da diverticulose jejunoileal
seja uma disfunção motora do músculo liso ou do
plexo mioentérico, resultando em contrações
desordenadas do intestino delgado, gerando uma
pressão intraluminal aumentada e resultando na
herniação da mucosa e da submucosa através da
porção mais fraca do intestino (i. e., o lado
mesentérico).
 Tratamento células que revestem o ducto vitelínico são
pluripotenciais; portanto, não é raro o encontro de
Para os divertículos jejunoileais achados um tecido heterotópico dentro do divertículo de
incidentalmente, assintomáticos, não é necessário Meckel, o mais comum destes sendo a mucosa
nenhum tratamento. O tratamento das complicações gástrica (presente em 50% de todos os divertículos de
da obstrução, do sangramento e da perfuração em Meckel). A mucosa pancreática é encontrada em
geral é feito pela ressecção intestinal e pela quase 5% dos divertículos; menos comumente, estes
anastomose terminoterminal. Em geral, os pacientes divertículos podem abrigar uma mucosa colônica.
que se apresentam com má absorção secundária a
uma síndrome da alça cega e supercrescimento
bacteriano dentro do divertículo podem ser tratados
com antibióticos. A obstrução pode ser causada por
enterólitos que se formam em um divertículo jejunal e
que podem ser subsequentemente deslocados e
obstruírem o intestino distal. Esta condição pode ser
tratada pela enterotomia e a remoção do enterólito,
ou algumas vezes o enterólito pode ser ordenhado
distalmente para o ceco. Quando o enterólito causa
obstrução no nível do divertículo, é necessária uma
ressecção intestinal. Quando se encontra uma
perfuração de um divertículo jejunoileal, é necessária
uma ressecção com reanastomose, pois
procedimentos menores, como um fechamento
simples, ressecção ou invaginação estão associados a
elevadas taxas de morbimortalidade. Em casos
extremos, como na peritonite difusa, as
enterostomias podem ser necessárias se o cirurgião
julgar que a reanastomose pode ser arriscada.

 Incidência e causa

O divertículo de Meckel é a anomalia congênita mais


encontrada no intestino delgado, ocorrendo em cerca
de 2% da população. O divertículo de Meckel está
localizado na borda antimesentérica do íleo, 45 a 60
cm proximal à válvula ileocecal e resulta de um
fechamento incompleto do conduto
onfalomesentérico, ou vitelínico. Uma incidência igual
é encontrada em homens e mulheres. O divertículo de  Manifestações clinicas
Meckel pode existir em diferentes formas, variando
A maioria dos divertículos de Meckel é benigna e é
de um pequeno abaulamento que facilmente deixa de
descoberta incidentalmente durante a necropsia, a
ser diagnosticado até uma projeção longa que se
laparotomia ou aos exames baritados. A apresentação
comunica com o umbigo por um cordão fibroso
clínica mais comum é o sangramento gastrointestinal,
persistente ou, muito menos comumente, por uma
que ocorre em 25% a 50% dos pacientes que se
fístula. A manifestação habitual é um divertículo
apresentam com as complicações; a hemorragia é o
relativamente de boca ampla, medindo cerca de 5 cm
achado sintomático mais comum em crianças com
de comprimento, com um diâmetro de até 2 cm. As
idade de dois anos ou menos. Esta complicação pode deve ser considerada no diagnóstico diferencial de um
se apresentar como uma hemorragia aguda copiosa, paciente com dor no quadrante inferior direito. A
como uma anemia secundária a um sangramento progressão da diverticulite pode levar à perfuração e
crônico ou como um evento episódico recorrente e peritonite. É importante lembrar que, ao se encontrar
autolimitado. A fonte habitual do sangramento é uma um apêndice normal durante a exploração cirúrgica
úlcera crônica induzida pelo ácido clorídrico no íleo para uma suspeita de apendicite, o íleo distal deve ser
adjacente a um divertículo de Meckel que contém inspecionado quanto à possível presença de um
mucosa gástrica. divertículo de Meckel inflamado. Finalmente, as
complicações muito mais raras dos divertículos de
Meckel incluem as neoplasias, com os tumores
benignos mais comuns assinalados como leiomiomas,
angiomas e lipomas. As neoplasias malignas incluem
os adenocarcinomas, que comumente originam-se da
mucosa gástrica, do sarcoma e do tumor carcinoide.

 Diagnóstico

O diagnóstico de um divertículo de Meckel pode ser


difícil. As radiografias simples do abdome, a TC e a
ultrassonografia raramente são úteis. Em crianças, o
teste diagnóstico isolado mais acurado para o
divertículo de Meckel é a cintilografia com
Outro sintoma comum do divertículo de Meckel é a
pertecnetato sódico de 99mTc. O pertecnetato de
obstrução intestinal, que pode ocorrer como
99mTc é preferencialmente captado pelas células
resultado de um volvo do intestino delgado ao redor
mucossecretoras da mucosa gástrica e do tecido
de um divertículo associado a uma brida fibrótica
gástrico ectópico no divertículo. A sensibilidade
presa na parede abdominal, intussuscepção ou,
diagnóstica desta cintilografia tem sido assinalada
raramente, encarceramento do divertículo em uma
como sendo tão elevada quanto 85%, com uma
hérnia inguinal (hérnia de Littre/Amiand). Em geral, o
especificidade de 95% e uma precisão de 90% no
volvo é um evento agudo e, caso se possibilite que ele
grupo etário pediátrico.
evolua, pode resultar no estrangulamento do
intestino envolvido. Na intussuscepção, um divertículo
de base larga invagina-se e então é carreado para
adiante pelo peristaltismo. Ele pode ser ileoileal ou
ileocólico e apresenta-se como uma obstrução aguda
associada a uma necessidade de evacuação iminente,
vômitos precoces e, ocasionalmente, apresentação
das clássicas fezes com aspecto de geleia de groselha.
Pode estar presente uma massa palpável.

Ainda que a redução de uma intussuscepção


secundária a um divertículo de Meckel algumas vezes
possa ser realizada com enema baritado, o paciente
deve ser submetido à ressecção do divertículo para
No entanto, em adultos a cintilografia com
impedir a recorrência subsequente desta condição.
pertecnetato de 99mTc é menos acurada devido à
Adiverticulite é responsável por 10% a 20% das
menor prevalência de mucosa gástrica ectópica no
queixas sintomáticas. Esta complicação é mais comum
lúmen do divertículo. A sensibilidade e a
em pacientes adultos. A diverticulite de Meckel é
especificidade podem ser melhoradas com o emprego
clinicamente indistinguível da apendicite aguda, e
de agentes farmacológicos, como a pentagastrina e o
glucagon, ou os antagonistas do receptor H2 (p. ex., sintomático no paciente adulto era estimada como
cimetidina). Apentagastrina aumenta indiretamente o sendo de 2% ou menos; as taxas de morbidade pela
metabolismo das células produtoras de muco, remoção incidental, que têm sido relatadas, são
enquanto o glucagon inibe a ação peristáltica e a bastante elevadas pois chegam a atingir 12% em
eliminação do radionuclídeo intraluminal. A alguns estudos, e, desse modo, excediam em muito o
cimetidina pode ser usada para aumentar a potencial para a prevenção da doença.
sensibilidade da cintigrafia, pela redução na secreção
peptídica, mas não a captação radionuclídea, e No entanto, este estudo foi criticado, pois não era um
retardando a liberação do pertecnetato do lúmen estudo com uma base demográfica. Um estudo com
diverticular, resultando, desta forma, em maiores base demográfica de Cullen e et al. 40 questionou a
concentrações na parede do divertículo. Nos prática de ignorar um divertículo de Meckel detectado
pacientes adultos, quando os resultados da medicina incidentalmente. Calculou-se que ocorria uma taxa de
nuclear são normais, os estudos baritados devem ser 6,4% de desenvolvimento de complicações pelo
realizados. Em pacientes com hemorragia aguda, a divertículo de Meckel ao longo de toda a vida. Esta
incidência não parece fazer um pico durante a
angiografia pode ser uma alternativa útil.
infância, conforme se acreditava anteriormente.
 Tratamento Portanto, a recomendação deste estudo foi que um
divertículo de Meckel detectado incidentalmente
O tratamento de um divertículo de Meckel deve ser removido em qualquer idade até os 80 anos,
sintomático deve ser a intervenção cirúrgica imediata, contanto que nenhuma condição adicional (p. ex.,
com ressecção do divertículo ou remoção do peritonite) torne a sua remoção prejudicial. As taxas
segmento do íleo que contém o divertículo. A de complicações pós-operatórias a curto e a longo
ressecção intestinal segmentar é necessária para o prazos pela sua ressecção profilática eram baixas (∼
tratamento de pacientes com perdas sanguíneas, pois 2%) e o óbito esteve relacionado com a operação
o local do sangramento em geral está no íleo primária ou com o risco cirúrgico do paciente, e não
adjacente ao divertículo. A ressecção do divertículo de com a diverticulectomia. Zani et al. 41 analisaram 244
Meckel não sangrante pode ser realizada usando-se artigos avaliando a incidência e resultados de
uma técnica com suturas manuais em uma linha divertículo de Meckel, incluindo necropsia, população
diagonal ou transversal, ou com um grampeamento e série cirúrgica. Identificaram uma incidência
na base do divertículo em uma linha diagonal ou aumentada da morbidade associada à ressecção
transversal, de modo a minimizar o risco de uma incidental quando comparada com nenhum
estenose subsequente. Vários estudos demonstraram tratamento e mostraram que mais de 700 pacientes
a exequibilidade e a segurança da diverticulectomia com divertículo de Meckel incidental necessitaram
laparoscópica. No entanto, não existem relatos dos ressecção para evitar o óbito relacionado com um
resultados e prognósticos a longo prazo com este divertículo Meckel. Em suma, o tratamento do
procedimento. divertículo de Meckel incidental permanece
Embora o tratamento do divertículo de Meckel controverso, e na vigência de um achado incidental é
complicado não seja questionado, o tratamento ideal uma abordagem cirúrgica razoável.
de divertículo de Meckel como achado incidental
ainda é objeto de polêmica. Em geral, recomenda-se
que os divertículos assintomáticos encontrados em  Fisiopatologia
crianças durante a laparotomia sejam ressecados. Já o
tratamento do divertículo de Meckel encontrado no Divertículo colônico é a herniação da mucosa e
adulto, no entanto, permanece controverso. Em um submucosa correspondendo a um ponto de fraqueza,
artigo de Soltero e Bill, 39 que formou a base do onde os vasa recta penetram na túnica muscular . A
tratamento cirúrgico dos divertículos de Meckel hipótese de que a doença diverticular é causada por
assintomáticos em adultos durante anos, a um aumento na pressão colônica é corroborada pelo
probabilidade de um divertículo de Meckel tornar-se fato de que ocorre preferencialmente no cólon
sigmoide, correspondendo à área de maior pressão
intraluminal. Ao contrário do que se pensava, a
relação de doença diverticular com dieta rica em
fibras não está clara, apresentando resultados
divergentes. Estudos recentes sugerem que a
motilidade alterada do intestino é a responsável pelo
aumento da pressão intraluminal, tendo sido
demonstrado hipercontratilidade e menor  Manifestações clinicas
relaxamento no intestino de pacientes com DA. Além
A maioria dos pacientes com divertículos colônicos é
disso, foram encontradas semelhanças entre
assintomática. A eliminação de sangue vermelho-vivo
diverticulite crônica, doença inflamatória intestinal e
pelo reto, entretanto, é considerada um sinal da
síndrome do intestino irritável, tais como aumento
doença diverticular dos cólons, sendo em
nos níveis de histamina, TNF alfa e metaloproteinases.
aproximadamente 5% dos pacientes de forma maciça.
Diverticulite aguda resulta da perfuração microscópica
O sangramento diverticular, entretanto, é incomum
ou macroscópica de um divertículo em virtude de
na diverticulite aguda. A diverticulite aguda é
inflamação e necrose focal. Obesidade e tabagismo
caracterizada por manifestações clínicas variadas na
foram associados a maior risco de DA e suas
dependência da extensão do processo diverticular. É
complicações. Anti-inflamatórios não esteroides,
comum apresentar-se com dor no quadrante inferior
corticoides e opióides tem sido associados a risco
esquerdo do abdome, febre baixa, alterações na
aumentado de diverticulite perfurada.
movimentação intestinal, anorexia e leucocitose
Dentre todos os pacientes hospitalizados por DA, moderada. A dor na diverticulite pode irradiar-se para
entre 18 e 34% tem 50 anos ou menos. Alguns autores o flanco, dorso ou região suprapúbica. Em casos em
relataram que pacientes mais jovens teriam maior que o cólon sigmoide é redundante, pode estar
risco de complicações, indicando ressecção cirúrgica deslocado para a direita em topografia da fossa ilíaca
mais precoce, porém estudos recentes não direita e gerar confusão com o diagnóstico de
comprovaram tais dados. Nestes pacientes, o maior apendicite aguda – o que pode também acontecer
risco de recorrência se deve a uma maior expectativa com a inflamação de divertículos localizados em cólon
de vida e não propriamente a um maior risco direito. A doença diverticular dos cólons pode evoluir
absoluto. Não há evidências que pacientes mais novos com constipação, diarreia e secreção aumentada de
devam ser tratados de maneira diferente. muco, náusea e vômitos; e quexas urinárias quando a
diverticulite é adjacente à bexiga vesical. Observa-se
Em pacientes imunodeprimidos, tem sido sensibilidade durante a palpação do quadrante
documentada uma maior incidência de DA se abdominal inferior esquerdo e podem ser detectados
comparado a indivíduos saudáveis, especialmente em sinais de irritação peritoneal e, ocasionalmente, de
pacientes com insuficiência renal, transplantados ou tumoração sensível e dolorosa à palpação.
usuários de corticosteróides. Esses pacientes
apresentaram mais complicações relacionadas à DA. O abscesso pericolônico secundário à diverticulite
No entanto, screening nestes casos, com vistas à perfurada causa peritonite localizada, que pode ser
ressecção colônica profilática, não é efetiva. identificada pelos sinais peritoneais, como a
descompressão dolorosa. Deve-se suspeitar, portanto,
 Classificação de perfuração diverticular na ocorrência de irritação
peritoneal, que também pode ser caracterizada pela
A classificação de Hinchey é, em geral, usada para
rigidez involuntária da parede abdominal de início
graduar a gravidade clínica da diverticulite associada a
súbito. Diante de peritonite difusa, a exploração
abscesso. O risco de morte é inferior a cinco,
cirúrgica de urgência torna-se imperativa.2 Pode
aproximadamente 13 e 43% para pacientes nos
ocorrer sintomatologia específica em casos de
estádios de Hinchey 1 e 2, 3 e 4, respectivamente.
complicações fistulosas, como nas colovesicais,
enterocolônicas e colovaginais, em que se observam
pneumatúria, fecalúria ou infecções do trato urinário doença complicada. A Ultrassonografia
recorrentes; diarreia grave, especialmente quando o abdominal(US) também pode ser usada,
acometimento do intestino delgado é proximal; e principalmente na indisponibilidade de TC. Os
saída de material fecal pela vagina, respectivamente.1 critérios mais usados para diagnóstico de DA na
Em casos de diverticulite complicada com estenose, US ou TC são: aumento da espessura da parede
sintomas obstrutivos como dor abdominal em cólica, colônica (>4-5mm), sinais de inflamação da
distensão abdominal e vômitos podem ser os mais gordura pericólica e presença de divertículos
proeminentes inflamados. Para aumentar a precisão diagnóstica,
o uso de contraste intravenoso ou oral é
 Diagnóstico recomendado. Cistografia é ocasionalmente útil
na confirmação de fístula colovesical. O uso de
 Clinico: A avaliação do paciente com suspeita de RNM tem sido questionado, tendo a vantagem de
doença diverticular ou diverticulite aguda deve não necessitar de radiação ionizante ou contraste
ser baseada na anamnese e no exame físico endovenoso, porém os dados são ainda limitados.
detalhados. É importante caracterizar a dor, Baseado em pequenos estudos, a sensibilidade e
definir sintomas associados e estar atento às especificidade da RNM no diagnóstico de DA
evidências de possíveis complicações da doença. variam de 86 a 100% e 88 a 100%,
Fatores de risco independentes para DA encontrados respectivamente.
em diversos estudos foram dor em quadrante inferior A colonoscopia não é recomendada no quadro agudo
esquerdo do abdome, ausência de vômitos e PCR de diverticulite. Possíveis dificuldades de sua
maior do que 50mg/l. Se os três critérios estiverem realização na fase aguda são: exame incompleto por
presentes, 97% dos indivíduos estarão em um dor, estenose e preparo inadequado do cólon. Além
episódio de DA. A dor é constante e metade dos disso, a distensão do cólon pelo ar insuflado pode
pacientes recorda de um ou mais episódios aumentar o risco de conversão de uma perfuração
semelhantes. Embora a dor seja caracteristicamente contida em livre. A avaliação eletiva de pacientes que
no quadrante inferior esquerdo, devido ao se recuperam de um episódio de DA é controversa.
envolvimento do cólon sigmoide, pode se localizar em Alguns autores recomendam colonoscopia com a
região suprapúbica ou quadrante inferior direito. Esta finalidade de confirmar diagnóstico e descartar
variante é explicada por um sigmóide redundante ou, malignidade enquanto outros alegam não haver maior
menos comumente, por uma diverticulite cecal, com detecção de neoplasia nestes casos.
incidência mais alta em indivíduos de origem asiática.
Hemograma e exame qualitativo de urina devem fazer  Diferencial: O diagnóstico diferencial de um
parte da avaliação dos casos suspeitos. Febre e episódio de diverticulite aguda inclui síndrome do
leucocitose podem ocorrer, mas estão ausentes em intestino irritável, gastroenterite, obstrução
45% dos casos. Em 20% dos pacientes encontramos intestinal, doença inflamatória intestinal,
massa palpável, que ocorre por inflamação apendicite, colite isquêmica, câncer colorretal,
pericolônica ou abscesso. Alteração de hábito infecção do trato urinário, cálculo renal e
intestinal é relatada em alguns casos, com predomínio desordens ginecológicas.
de constipação (50% dos pacientes), embora diarréia
também ocorra em 25 a 35% das vezes.  Tratamento
 Diverticulite não complicada: O tratamento
 Imagem: Em geral, as informações clínicas são da diverticulite não complicada ou simples
insuficientes para o diagnóstico, sendo necessário baseia-se essencialmente na prescrição de
recorrer aos exames de imagem. A Tomografia antibióticos, que devem cobrir bactérias
Computadorizada (TC) é o exame de escolha na Gram- -negativas e anaeróbicas por sete a 10
suspeita de DA. Tem a vantagem de avaliar a dias, além de medicamentos para controle de
extensão extraluminal do processo e pode sintomatologia geral e hidratação. Deve ser
direcionar intervenções terapêuticas no caso de
prescrita dieta líquida, que pode ser medidas requer considerar a possibilidade de
modificada em consistência à medida que a resolução com a cirurgia. A avaliação cirúrgica
sintomatologia se resolve. Administração de também deve ser feita diante de recorrência de
antibiótico por via oral e tratamento diverticulite, complicações da doença – o episódio
domiciliar com reavalição frequente podem agudo acometer paciente imunocomprometido – ou
ser a opção adequada quando o paciente houver incerteza acerca do diagnóstico. A instituição
possui sintomatologia leve, há tolerância à de antibioticoterapia na diverticulite não complicada,
ingestão de líquidos e não são identificadas entretanto, é questionada
comorbidades graves. Ainda, nesses casos, a
função intestinal deve ser normal e as  Diverticulite complicada: Abscesso intra-
complicações devem ser excluídas. A abdominal pequeno (menor que 4 cm de
internação hospitalar deve ser feita diante de diâmetro) sem peritonite (estádio 1 de
complicações como: dor acentuada que Hinchey) requer administração de antibióticos
requer analgesia com narcóticos; vômitos e repouso intestinal; entretanto, se for maior
incoercíveis; e intolerância à ingestão oral – que 4 cm de diâmetro (estádio 2 de Hinchey),
seja idoso (principalmente se acima de 80 deve ser considerada sua drenagem
anos de idade), imunossuprimido, percutânea guiada pela TC associada à
transplantado ou apresente comorbidades antibioticoterapia, principalmente se houver
relevantes como diabetes mellitus, disponibilidade de radiologia intervencionista.
Esse procedimento substitui a operação de
insuficiência renal crônica, doenças
hematológicas malignas e síndrome da urgência por procedimento eletivo, que
imunodeficiência adquirida12 e seja poderá ser programado em período de seis a
oito semanas depois da drenagem guiada por
administrada antibioticoterapia endovenosa
(Tabela 2) de amplo espectro e sem receber, TC. Esse período coincide com a quiescência
do processo inflamatório, normalização do
inicialmente, qualquer alimento por via oral.
exame físico e redução da leucocitose. Pode
ser realizada abordagem cirúrgica precoce,
em sete a 30 dias após a resolução do
processo infeccioso, o que pode reduzir o
tempo de internação hospitalar e determinar
menos morbidade e menos necessidade de
ostomia.

O abscesso com material fecal grosseiro tende a


responder mal à drenagem e requer abordagem
cirúrgica urgente. O procedimento cirúrgico de
urgência deve ser realizado diante de peritonite
generalizada (estádio 3 de Hinchey), perfuração
visceral não contida (estádio 4 de Hinchey) e sepse
não controlada. A mortalidade nessa eventualidade é
elevada. A abordagem cirúrgica deve ser programada
Na evidência de obstrução gastrintestinal, deve ser
na diverticulite em que haja falha do tratamento
inserido cateter nasogástrico para descompressão do
clínico para diverticulite não complicada e nos casos
estômago e prevenção de estase. A maioria dos
de abscesso não acessível à drenagem percutânea,
pacientes com diverticulite colônica não complicada
assim como nos imunocomprometidos. Podem ser
responde ao tratamento e obtém melhora da
implantados stents de metal autoexpansivos (SEMS,
sintomatologia e redução na leucometria em 48 horas
do inglês self- -expanding metal stents) para
do início da antibioticoterapia. A ausência de melhora
descomprimir a obstrução colônica decorrente de
ou a piora em dois a três dias após a instituição dessas
diverticulite e possibilitar abordagem cirúrgica eletiva e torna a recuperação pós-operatória mais rápida. A
posterior, que deve ser realizada em tempo hábil para abordagem laparoscópica tem sido cada vez mais
evitarem-se complicações tardias associadas a esse adotada no tratamento cirúrgico da doença
implante. diverticular dos cólons.

Caso haja indicação cirúrgica, a sigmoidectomia deve  Tratamento de diverticulite recorrente: A


ser realizada. A ressecção completa do sigmoide é abordagem da diverticulite recorrente não
necessária, uma vez que sua remoção parcial está complicada10 deve ser avaliada caso a caso,
associada a altos índices de recorrência da doença. É não devendo ser baseada somente no número
importante ressaltar que não é necessário remover de episódios, mas principalmente na idade do
toda a extensão do cólon acometido pela paciente, nas comorbidades médicas,
diverticulose, mas somente a porção acometida pelo frequência e gravidade dos episódios e
processo inflamatório e infeccioso, com paredes persistência da sintomatologia após o ataque
espessadas e friáveis. A reconstrução do trânsito agudo. A impossibilidade de exclusão de
intestinal pode ser feita por anastomose primária ou carcinoma colônico é indicação apropriada
procedimento de Hartmann, com sutura da para colectomia.10 Pacientes com idade
extremidade do reto e colostomia com a extremidade inferior a 50 anos devem ser operados por
seccionada do cólon. Observa-se que há diminuição possuírem longa expectativa de vida, o que
da morbidade, do custo, do tempo de internação gera elevado risco acumulado para episódios
hospitalar e das taxas de complicações com a recorrentes.
anastomose primária realizada após a diverticulite  Prevenção
complicada, Sua realização, entretanto, depende da
capacitação técnica do serviço e da habilidade do É recomendada, após a recuperação, dieta rica em
cirurgião que a propõe, o que requer análise de caso a fibras, com ou sem terapia antibiótica de longo uso
caso. A cirurgia laparoscópica, realizada em situação (rifaximina, 400 mg duas vezes por dia, durante sete
de doença diverticular tanto complicada quanto da dias a cada mês), para reduzir a pressão intracolônica
não complicada, acarreta baixas taxas de morbidade e o risco de recorrência. Não há consenso quanto aos
pós-operatória, reduz tempo de internação hospitalar benefícios de se evitarem nozes e sementes.

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