A Doença Diverticular é uma doença benigna, de boa Manifestações clinicas
resposta ao tratamento clínico, instituído na mudança de hábitos alimentares, maior consumo de fibras, Um dado importante a ser lembrado é que a maioria antibioticoterapia potente nos processos dos divertículos duodenais é assintomática e em geral inflamatórios mais simples e uso da radiologia é notada incidentalmente em um exame radiológico intervencionista nos abscessos. A indicação cirúrgica do trato digestório alto realizado devido a um fica restrita ao insucesso da terapêutica clínica e às problema não relacionado (Fig. 50-39). O diagnóstico formas mais graves da doença, como estenoses, também pode ser obtido pela endoscopia digestiva abscessos e perfurações. A diverticulite aguda do alta ou sugerido pelas radiografias simples do abdome cólon é a complicação mais freqüente da doença mostrando uma bolha gasosa atípica; a TC pode diverticular e ocorre em 30% dos pacientes, dentro identificar divertículos volumosos. Menos de 5% dos dos próximos 20 anos após seu diagnóstico divertículos duodenais necessitarão de uma operação devido a uma complicação do próprio divertículo. Os principais problemas incluem a obstrução dos ductos biliar e pancreático, que pode contribuir para uma Incidência e causa colangite ou uma pancreatite, respectivamente, perfuração ou, raramente, síndrome da alça cega. Primeiramente descritos por Chomel, um patologista Infelizmente, os divertículos duodenais assintomáticos francês, em 1710, os divertículos duodenais são geralmente se apresentam como uma perfuração relativamente comuns, representando o segundo local aguda que ocorre durante uma complicação mais comum para a formação de divertículos depois endoscópica. do cólon. A incidência de divertículos duodenais varia dependendo da idade do paciente e método de diagnóstico. Os estudos radiológicos gastrointestinais altos identificam os divertículos duodenais em 1% a 5%, enquanto algumas séries baseadas em necropsias relatam a incidência entre 15% a 20%. Sua frequência ocorre duas vezes mais em mulheres do que em homens e são raros em pacientes com menos de 40 anos. Eles foram classificados como congênitos ou adquiridos, verdadeiros ou falsos e intraluminais ou extraluminais. Dois terços a três quartos dos divertículos duodenais são encontrados na região periampular (em um raio de até 2 cm da ampola) e projetam-se da parede medial do duodeno. Apenas os divertículos justa-ampolares estão significativamente relacionados com as complicações como colangite e pancreatite. Nestes pacientes, é comum a ampola se insinuar no duodeno na margem superior do divertículo, em vez de fazê-lo pelo próprio divertículo. O mecanismo proposto para um aumento na incidência de complicações do trato biliar é a localização dos divertículos perivaterianos que podem produzir uma distorção mecânica do ducto biliar comum conforme penetra no duodeno, resultando em uma obstrução parcial e em estase. A hemorragia pode ser causada pela inflamação, levando à erosão Vários procedimentos cirúrgicos foram descritos para de um ramo da artéria mesentérica superior. A o tratamento do divertículo duodenal sintomático. O perfuração de um divertículo duodenal tem sido mais comum e eficaz é a diverticulectomia, que pode descrita, mas é rara. Finalmente, a estase dos ser obtida realizando-se uma ampla manobra de conteúdos intestinais no interior de um divertículo Kocher, para expor o duodeno. O divertículo então é distendido pode resultar em supercrescimento ressecado e o duodeno é fechado transversal ou bacteriano, má absorção, esteatorreia e anemia longitudinalmente, de modo a produzir o menor grau megaloblástica (i. e., síndrome da alça cega). Os de obstrução luminal. Devido à sua proximidade com sintomas relacionados com os divertículos duodenais, a ampola de Vater, é essencial que ela seja na ausência de qualquer doença passível de cuidadosamente identificada, para impedir um dano comprovação, em geral são queixas epigástricas ao conduto biliar comum e ao ducto pancreático. Para inespecíficas e, na verdade, podem ser o resultado de os divertículos que se insinuam profundamente na outro problema não relacionado com o próprio cabeça do pâncreas, realiza-se uma duodenotomia, divertículo. traciona-se o divertículo e inverte-o para o lúmen duodenal; feito isso, ele então é ressecado e a parede Tratamento é fechada. Os métodos alternativos descritos para os A maioria dos divertículos duodenais é assintomática divertículos duodenais junto da ampola de Vater e benigna; e quando eles são encontrados incluem uma esfincteroplastia alargada através da incidentalmente, não necessitam de tratamento. parede comum da ampola e do divertículo.
divertículo perfurado deve ser ressecado e o duodeno
fechado com um tampão seroso proveniente de uma O tratamento de um divertículo perfurado pode alça jejunal. Se a inflamação circunjacente for grave, necessitar de procedimentos semelhantes aos pode ser necessário desviar o fluxo entérico para local descritos para os pacientes com grandes defeitos afastado da perfuração com uma gastrojejunostomia relacionados com traumas na parede duodenal. O ou duodenojejunostomia. A interrupção da continuidade duodenal proximal ao divertículo perfurado pode ser realizada pela oclusão pilórica através de sutura manual ou com grampeador. Se o divertículo é posterior e pode perfurar para o ducto pancreático, o reparo cirúrgico pode ser difícil e perigoso. Uma drenagem ampla com desvio duodenal pode ser a única alternativa viável nesses casos. Deve- se ter muito cuidado nos caso de perfuração adjacente à papila de Vater. Os divertículos duodenais intraluminais foram descritos, mas são raríssimos e, se sintomáticos, podem ser totalmente ressecados se estiverem afastados da ampola. No entanto, se for encontrado um divertículo intraluminal sintomático junto da ampola de Vater, a ressecção subtotal do Apresentação clinica divertículo deve ser executada para proteção da Divertículos jejunoileais são geralmente encontrados entrada dos ductos biliar-pancreático. incidentalmente na laparotomia ou durante um estudo radiológico baritado gastrointestinal alto; a grande maioria permanece assintomática. As Incidência e causa complicações agudas, como obstrução intestinal, hemorragia ou perfuração, podem ocorrer, mas são Os divertículos do intestino delgado são muito menos raras. A sintomatologia inclui dor abdominal crônica e comuns do que os divertículos duodenais, com uma vaga, má absorção, pseudo-obstrução funcional e incidência variando de 0,1% a 1,4% quando referidos hemorragia gastrointestinal crônica de pequena por séries de necropsia e 0,1% a 1,5% nos estudos monta. As complicações agudas são a diverticulite, gastrointestinais. Os divertículos jejunais são mais com ou sem abscesso ou perfuração, a hemorragia comuns e são de tamanho maiores que os do íleo. gastrointestinal e a obstrução intestinal. A estase do Estes são falsos divertículos, que ocorrem fluxo intestinal com o supercrescimento bacteriano principalmente em um grupo etário mais idoso (após (i.e., síndrome da alça cega), devida a uma discinesia a sexta década de vida). Estes divertículos são jejunal, pode levar a uma desconjugação dos sais múltiplos, geralmente fazem uma protrusão na borda biliares e captação da vitamina B12 pela flora mesentérica do intestino e podem deixar de ser bacteriana, resultando em esteatorreia e anemia observados durante a operação, pois estão entre os megaloblástica, com ou sem neuropatia. folhetos do mesentério do intestino delgado. Acredita-se que a causa da diverticulose jejunoileal seja uma disfunção motora do músculo liso ou do plexo mioentérico, resultando em contrações desordenadas do intestino delgado, gerando uma pressão intraluminal aumentada e resultando na herniação da mucosa e da submucosa através da porção mais fraca do intestino (i. e., o lado mesentérico). Tratamento células que revestem o ducto vitelínico são pluripotenciais; portanto, não é raro o encontro de Para os divertículos jejunoileais achados um tecido heterotópico dentro do divertículo de incidentalmente, assintomáticos, não é necessário Meckel, o mais comum destes sendo a mucosa nenhum tratamento. O tratamento das complicações gástrica (presente em 50% de todos os divertículos de da obstrução, do sangramento e da perfuração em Meckel). A mucosa pancreática é encontrada em geral é feito pela ressecção intestinal e pela quase 5% dos divertículos; menos comumente, estes anastomose terminoterminal. Em geral, os pacientes divertículos podem abrigar uma mucosa colônica. que se apresentam com má absorção secundária a uma síndrome da alça cega e supercrescimento bacteriano dentro do divertículo podem ser tratados com antibióticos. A obstrução pode ser causada por enterólitos que se formam em um divertículo jejunal e que podem ser subsequentemente deslocados e obstruírem o intestino distal. Esta condição pode ser tratada pela enterotomia e a remoção do enterólito, ou algumas vezes o enterólito pode ser ordenhado distalmente para o ceco. Quando o enterólito causa obstrução no nível do divertículo, é necessária uma ressecção intestinal. Quando se encontra uma perfuração de um divertículo jejunoileal, é necessária uma ressecção com reanastomose, pois procedimentos menores, como um fechamento simples, ressecção ou invaginação estão associados a elevadas taxas de morbimortalidade. Em casos extremos, como na peritonite difusa, as enterostomias podem ser necessárias se o cirurgião julgar que a reanastomose pode ser arriscada.
Incidência e causa
O divertículo de Meckel é a anomalia congênita mais
encontrada no intestino delgado, ocorrendo em cerca de 2% da população. O divertículo de Meckel está localizado na borda antimesentérica do íleo, 45 a 60 cm proximal à válvula ileocecal e resulta de um fechamento incompleto do conduto onfalomesentérico, ou vitelínico. Uma incidência igual é encontrada em homens e mulheres. O divertículo de Manifestações clinicas Meckel pode existir em diferentes formas, variando A maioria dos divertículos de Meckel é benigna e é de um pequeno abaulamento que facilmente deixa de descoberta incidentalmente durante a necropsia, a ser diagnosticado até uma projeção longa que se laparotomia ou aos exames baritados. A apresentação comunica com o umbigo por um cordão fibroso clínica mais comum é o sangramento gastrointestinal, persistente ou, muito menos comumente, por uma que ocorre em 25% a 50% dos pacientes que se fístula. A manifestação habitual é um divertículo apresentam com as complicações; a hemorragia é o relativamente de boca ampla, medindo cerca de 5 cm achado sintomático mais comum em crianças com de comprimento, com um diâmetro de até 2 cm. As idade de dois anos ou menos. Esta complicação pode deve ser considerada no diagnóstico diferencial de um se apresentar como uma hemorragia aguda copiosa, paciente com dor no quadrante inferior direito. A como uma anemia secundária a um sangramento progressão da diverticulite pode levar à perfuração e crônico ou como um evento episódico recorrente e peritonite. É importante lembrar que, ao se encontrar autolimitado. A fonte habitual do sangramento é uma um apêndice normal durante a exploração cirúrgica úlcera crônica induzida pelo ácido clorídrico no íleo para uma suspeita de apendicite, o íleo distal deve ser adjacente a um divertículo de Meckel que contém inspecionado quanto à possível presença de um mucosa gástrica. divertículo de Meckel inflamado. Finalmente, as complicações muito mais raras dos divertículos de Meckel incluem as neoplasias, com os tumores benignos mais comuns assinalados como leiomiomas, angiomas e lipomas. As neoplasias malignas incluem os adenocarcinomas, que comumente originam-se da mucosa gástrica, do sarcoma e do tumor carcinoide.
Diagnóstico
O diagnóstico de um divertículo de Meckel pode ser
difícil. As radiografias simples do abdome, a TC e a ultrassonografia raramente são úteis. Em crianças, o teste diagnóstico isolado mais acurado para o divertículo de Meckel é a cintilografia com Outro sintoma comum do divertículo de Meckel é a pertecnetato sódico de 99mTc. O pertecnetato de obstrução intestinal, que pode ocorrer como 99mTc é preferencialmente captado pelas células resultado de um volvo do intestino delgado ao redor mucossecretoras da mucosa gástrica e do tecido de um divertículo associado a uma brida fibrótica gástrico ectópico no divertículo. A sensibilidade presa na parede abdominal, intussuscepção ou, diagnóstica desta cintilografia tem sido assinalada raramente, encarceramento do divertículo em uma como sendo tão elevada quanto 85%, com uma hérnia inguinal (hérnia de Littre/Amiand). Em geral, o especificidade de 95% e uma precisão de 90% no volvo é um evento agudo e, caso se possibilite que ele grupo etário pediátrico. evolua, pode resultar no estrangulamento do intestino envolvido. Na intussuscepção, um divertículo de base larga invagina-se e então é carreado para adiante pelo peristaltismo. Ele pode ser ileoileal ou ileocólico e apresenta-se como uma obstrução aguda associada a uma necessidade de evacuação iminente, vômitos precoces e, ocasionalmente, apresentação das clássicas fezes com aspecto de geleia de groselha. Pode estar presente uma massa palpável.
Ainda que a redução de uma intussuscepção
secundária a um divertículo de Meckel algumas vezes possa ser realizada com enema baritado, o paciente deve ser submetido à ressecção do divertículo para No entanto, em adultos a cintilografia com impedir a recorrência subsequente desta condição. pertecnetato de 99mTc é menos acurada devido à Adiverticulite é responsável por 10% a 20% das menor prevalência de mucosa gástrica ectópica no queixas sintomáticas. Esta complicação é mais comum lúmen do divertículo. A sensibilidade e a em pacientes adultos. A diverticulite de Meckel é especificidade podem ser melhoradas com o emprego clinicamente indistinguível da apendicite aguda, e de agentes farmacológicos, como a pentagastrina e o glucagon, ou os antagonistas do receptor H2 (p. ex., sintomático no paciente adulto era estimada como cimetidina). Apentagastrina aumenta indiretamente o sendo de 2% ou menos; as taxas de morbidade pela metabolismo das células produtoras de muco, remoção incidental, que têm sido relatadas, são enquanto o glucagon inibe a ação peristáltica e a bastante elevadas pois chegam a atingir 12% em eliminação do radionuclídeo intraluminal. A alguns estudos, e, desse modo, excediam em muito o cimetidina pode ser usada para aumentar a potencial para a prevenção da doença. sensibilidade da cintigrafia, pela redução na secreção peptídica, mas não a captação radionuclídea, e No entanto, este estudo foi criticado, pois não era um retardando a liberação do pertecnetato do lúmen estudo com uma base demográfica. Um estudo com diverticular, resultando, desta forma, em maiores base demográfica de Cullen e et al. 40 questionou a concentrações na parede do divertículo. Nos prática de ignorar um divertículo de Meckel detectado pacientes adultos, quando os resultados da medicina incidentalmente. Calculou-se que ocorria uma taxa de nuclear são normais, os estudos baritados devem ser 6,4% de desenvolvimento de complicações pelo realizados. Em pacientes com hemorragia aguda, a divertículo de Meckel ao longo de toda a vida. Esta incidência não parece fazer um pico durante a angiografia pode ser uma alternativa útil. infância, conforme se acreditava anteriormente. Tratamento Portanto, a recomendação deste estudo foi que um divertículo de Meckel detectado incidentalmente O tratamento de um divertículo de Meckel deve ser removido em qualquer idade até os 80 anos, sintomático deve ser a intervenção cirúrgica imediata, contanto que nenhuma condição adicional (p. ex., com ressecção do divertículo ou remoção do peritonite) torne a sua remoção prejudicial. As taxas segmento do íleo que contém o divertículo. A de complicações pós-operatórias a curto e a longo ressecção intestinal segmentar é necessária para o prazos pela sua ressecção profilática eram baixas (∼ tratamento de pacientes com perdas sanguíneas, pois 2%) e o óbito esteve relacionado com a operação o local do sangramento em geral está no íleo primária ou com o risco cirúrgico do paciente, e não adjacente ao divertículo. A ressecção do divertículo de com a diverticulectomia. Zani et al. 41 analisaram 244 Meckel não sangrante pode ser realizada usando-se artigos avaliando a incidência e resultados de uma técnica com suturas manuais em uma linha divertículo de Meckel, incluindo necropsia, população diagonal ou transversal, ou com um grampeamento e série cirúrgica. Identificaram uma incidência na base do divertículo em uma linha diagonal ou aumentada da morbidade associada à ressecção transversal, de modo a minimizar o risco de uma incidental quando comparada com nenhum estenose subsequente. Vários estudos demonstraram tratamento e mostraram que mais de 700 pacientes a exequibilidade e a segurança da diverticulectomia com divertículo de Meckel incidental necessitaram laparoscópica. No entanto, não existem relatos dos ressecção para evitar o óbito relacionado com um resultados e prognósticos a longo prazo com este divertículo Meckel. Em suma, o tratamento do procedimento. divertículo de Meckel incidental permanece Embora o tratamento do divertículo de Meckel controverso, e na vigência de um achado incidental é complicado não seja questionado, o tratamento ideal uma abordagem cirúrgica razoável. de divertículo de Meckel como achado incidental ainda é objeto de polêmica. Em geral, recomenda-se que os divertículos assintomáticos encontrados em Fisiopatologia crianças durante a laparotomia sejam ressecados. Já o tratamento do divertículo de Meckel encontrado no Divertículo colônico é a herniação da mucosa e adulto, no entanto, permanece controverso. Em um submucosa correspondendo a um ponto de fraqueza, artigo de Soltero e Bill, 39 que formou a base do onde os vasa recta penetram na túnica muscular . A tratamento cirúrgico dos divertículos de Meckel hipótese de que a doença diverticular é causada por assintomáticos em adultos durante anos, a um aumento na pressão colônica é corroborada pelo probabilidade de um divertículo de Meckel tornar-se fato de que ocorre preferencialmente no cólon sigmoide, correspondendo à área de maior pressão intraluminal. Ao contrário do que se pensava, a relação de doença diverticular com dieta rica em fibras não está clara, apresentando resultados divergentes. Estudos recentes sugerem que a motilidade alterada do intestino é a responsável pelo aumento da pressão intraluminal, tendo sido demonstrado hipercontratilidade e menor Manifestações clinicas relaxamento no intestino de pacientes com DA. Além A maioria dos pacientes com divertículos colônicos é disso, foram encontradas semelhanças entre assintomática. A eliminação de sangue vermelho-vivo diverticulite crônica, doença inflamatória intestinal e pelo reto, entretanto, é considerada um sinal da síndrome do intestino irritável, tais como aumento doença diverticular dos cólons, sendo em nos níveis de histamina, TNF alfa e metaloproteinases. aproximadamente 5% dos pacientes de forma maciça. Diverticulite aguda resulta da perfuração microscópica O sangramento diverticular, entretanto, é incomum ou macroscópica de um divertículo em virtude de na diverticulite aguda. A diverticulite aguda é inflamação e necrose focal. Obesidade e tabagismo caracterizada por manifestações clínicas variadas na foram associados a maior risco de DA e suas dependência da extensão do processo diverticular. É complicações. Anti-inflamatórios não esteroides, comum apresentar-se com dor no quadrante inferior corticoides e opióides tem sido associados a risco esquerdo do abdome, febre baixa, alterações na aumentado de diverticulite perfurada. movimentação intestinal, anorexia e leucocitose Dentre todos os pacientes hospitalizados por DA, moderada. A dor na diverticulite pode irradiar-se para entre 18 e 34% tem 50 anos ou menos. Alguns autores o flanco, dorso ou região suprapúbica. Em casos em relataram que pacientes mais jovens teriam maior que o cólon sigmoide é redundante, pode estar risco de complicações, indicando ressecção cirúrgica deslocado para a direita em topografia da fossa ilíaca mais precoce, porém estudos recentes não direita e gerar confusão com o diagnóstico de comprovaram tais dados. Nestes pacientes, o maior apendicite aguda – o que pode também acontecer risco de recorrência se deve a uma maior expectativa com a inflamação de divertículos localizados em cólon de vida e não propriamente a um maior risco direito. A doença diverticular dos cólons pode evoluir absoluto. Não há evidências que pacientes mais novos com constipação, diarreia e secreção aumentada de devam ser tratados de maneira diferente. muco, náusea e vômitos; e quexas urinárias quando a diverticulite é adjacente à bexiga vesical. Observa-se Em pacientes imunodeprimidos, tem sido sensibilidade durante a palpação do quadrante documentada uma maior incidência de DA se abdominal inferior esquerdo e podem ser detectados comparado a indivíduos saudáveis, especialmente em sinais de irritação peritoneal e, ocasionalmente, de pacientes com insuficiência renal, transplantados ou tumoração sensível e dolorosa à palpação. usuários de corticosteróides. Esses pacientes apresentaram mais complicações relacionadas à DA. O abscesso pericolônico secundário à diverticulite No entanto, screening nestes casos, com vistas à perfurada causa peritonite localizada, que pode ser ressecção colônica profilática, não é efetiva. identificada pelos sinais peritoneais, como a descompressão dolorosa. Deve-se suspeitar, portanto, Classificação de perfuração diverticular na ocorrência de irritação peritoneal, que também pode ser caracterizada pela A classificação de Hinchey é, em geral, usada para rigidez involuntária da parede abdominal de início graduar a gravidade clínica da diverticulite associada a súbito. Diante de peritonite difusa, a exploração abscesso. O risco de morte é inferior a cinco, cirúrgica de urgência torna-se imperativa.2 Pode aproximadamente 13 e 43% para pacientes nos ocorrer sintomatologia específica em casos de estádios de Hinchey 1 e 2, 3 e 4, respectivamente. complicações fistulosas, como nas colovesicais, enterocolônicas e colovaginais, em que se observam pneumatúria, fecalúria ou infecções do trato urinário doença complicada. A Ultrassonografia recorrentes; diarreia grave, especialmente quando o abdominal(US) também pode ser usada, acometimento do intestino delgado é proximal; e principalmente na indisponibilidade de TC. Os saída de material fecal pela vagina, respectivamente.1 critérios mais usados para diagnóstico de DA na Em casos de diverticulite complicada com estenose, US ou TC são: aumento da espessura da parede sintomas obstrutivos como dor abdominal em cólica, colônica (>4-5mm), sinais de inflamação da distensão abdominal e vômitos podem ser os mais gordura pericólica e presença de divertículos proeminentes inflamados. Para aumentar a precisão diagnóstica, o uso de contraste intravenoso ou oral é Diagnóstico recomendado. Cistografia é ocasionalmente útil na confirmação de fístula colovesical. O uso de Clinico: A avaliação do paciente com suspeita de RNM tem sido questionado, tendo a vantagem de doença diverticular ou diverticulite aguda deve não necessitar de radiação ionizante ou contraste ser baseada na anamnese e no exame físico endovenoso, porém os dados são ainda limitados. detalhados. É importante caracterizar a dor, Baseado em pequenos estudos, a sensibilidade e definir sintomas associados e estar atento às especificidade da RNM no diagnóstico de DA evidências de possíveis complicações da doença. variam de 86 a 100% e 88 a 100%, Fatores de risco independentes para DA encontrados respectivamente. em diversos estudos foram dor em quadrante inferior A colonoscopia não é recomendada no quadro agudo esquerdo do abdome, ausência de vômitos e PCR de diverticulite. Possíveis dificuldades de sua maior do que 50mg/l. Se os três critérios estiverem realização na fase aguda são: exame incompleto por presentes, 97% dos indivíduos estarão em um dor, estenose e preparo inadequado do cólon. Além episódio de DA. A dor é constante e metade dos disso, a distensão do cólon pelo ar insuflado pode pacientes recorda de um ou mais episódios aumentar o risco de conversão de uma perfuração semelhantes. Embora a dor seja caracteristicamente contida em livre. A avaliação eletiva de pacientes que no quadrante inferior esquerdo, devido ao se recuperam de um episódio de DA é controversa. envolvimento do cólon sigmoide, pode se localizar em Alguns autores recomendam colonoscopia com a região suprapúbica ou quadrante inferior direito. Esta finalidade de confirmar diagnóstico e descartar variante é explicada por um sigmóide redundante ou, malignidade enquanto outros alegam não haver maior menos comumente, por uma diverticulite cecal, com detecção de neoplasia nestes casos. incidência mais alta em indivíduos de origem asiática. Hemograma e exame qualitativo de urina devem fazer Diferencial: O diagnóstico diferencial de um parte da avaliação dos casos suspeitos. Febre e episódio de diverticulite aguda inclui síndrome do leucocitose podem ocorrer, mas estão ausentes em intestino irritável, gastroenterite, obstrução 45% dos casos. Em 20% dos pacientes encontramos intestinal, doença inflamatória intestinal, massa palpável, que ocorre por inflamação apendicite, colite isquêmica, câncer colorretal, pericolônica ou abscesso. Alteração de hábito infecção do trato urinário, cálculo renal e intestinal é relatada em alguns casos, com predomínio desordens ginecológicas. de constipação (50% dos pacientes), embora diarréia também ocorra em 25 a 35% das vezes. Tratamento Diverticulite não complicada: O tratamento Imagem: Em geral, as informações clínicas são da diverticulite não complicada ou simples insuficientes para o diagnóstico, sendo necessário baseia-se essencialmente na prescrição de recorrer aos exames de imagem. A Tomografia antibióticos, que devem cobrir bactérias Computadorizada (TC) é o exame de escolha na Gram- -negativas e anaeróbicas por sete a 10 suspeita de DA. Tem a vantagem de avaliar a dias, além de medicamentos para controle de extensão extraluminal do processo e pode sintomatologia geral e hidratação. Deve ser direcionar intervenções terapêuticas no caso de prescrita dieta líquida, que pode ser medidas requer considerar a possibilidade de modificada em consistência à medida que a resolução com a cirurgia. A avaliação cirúrgica sintomatologia se resolve. Administração de também deve ser feita diante de recorrência de antibiótico por via oral e tratamento diverticulite, complicações da doença – o episódio domiciliar com reavalição frequente podem agudo acometer paciente imunocomprometido – ou ser a opção adequada quando o paciente houver incerteza acerca do diagnóstico. A instituição possui sintomatologia leve, há tolerância à de antibioticoterapia na diverticulite não complicada, ingestão de líquidos e não são identificadas entretanto, é questionada comorbidades graves. Ainda, nesses casos, a função intestinal deve ser normal e as Diverticulite complicada: Abscesso intra- complicações devem ser excluídas. A abdominal pequeno (menor que 4 cm de internação hospitalar deve ser feita diante de diâmetro) sem peritonite (estádio 1 de complicações como: dor acentuada que Hinchey) requer administração de antibióticos requer analgesia com narcóticos; vômitos e repouso intestinal; entretanto, se for maior incoercíveis; e intolerância à ingestão oral – que 4 cm de diâmetro (estádio 2 de Hinchey), seja idoso (principalmente se acima de 80 deve ser considerada sua drenagem anos de idade), imunossuprimido, percutânea guiada pela TC associada à transplantado ou apresente comorbidades antibioticoterapia, principalmente se houver relevantes como diabetes mellitus, disponibilidade de radiologia intervencionista. Esse procedimento substitui a operação de insuficiência renal crônica, doenças hematológicas malignas e síndrome da urgência por procedimento eletivo, que imunodeficiência adquirida12 e seja poderá ser programado em período de seis a oito semanas depois da drenagem guiada por administrada antibioticoterapia endovenosa (Tabela 2) de amplo espectro e sem receber, TC. Esse período coincide com a quiescência do processo inflamatório, normalização do inicialmente, qualquer alimento por via oral. exame físico e redução da leucocitose. Pode ser realizada abordagem cirúrgica precoce, em sete a 30 dias após a resolução do processo infeccioso, o que pode reduzir o tempo de internação hospitalar e determinar menos morbidade e menos necessidade de ostomia.
O abscesso com material fecal grosseiro tende a
responder mal à drenagem e requer abordagem cirúrgica urgente. O procedimento cirúrgico de urgência deve ser realizado diante de peritonite generalizada (estádio 3 de Hinchey), perfuração visceral não contida (estádio 4 de Hinchey) e sepse não controlada. A mortalidade nessa eventualidade é elevada. A abordagem cirúrgica deve ser programada Na evidência de obstrução gastrintestinal, deve ser na diverticulite em que haja falha do tratamento inserido cateter nasogástrico para descompressão do clínico para diverticulite não complicada e nos casos estômago e prevenção de estase. A maioria dos de abscesso não acessível à drenagem percutânea, pacientes com diverticulite colônica não complicada assim como nos imunocomprometidos. Podem ser responde ao tratamento e obtém melhora da implantados stents de metal autoexpansivos (SEMS, sintomatologia e redução na leucometria em 48 horas do inglês self- -expanding metal stents) para do início da antibioticoterapia. A ausência de melhora descomprimir a obstrução colônica decorrente de ou a piora em dois a três dias após a instituição dessas diverticulite e possibilitar abordagem cirúrgica eletiva e torna a recuperação pós-operatória mais rápida. A posterior, que deve ser realizada em tempo hábil para abordagem laparoscópica tem sido cada vez mais evitarem-se complicações tardias associadas a esse adotada no tratamento cirúrgico da doença implante. diverticular dos cólons.
Caso haja indicação cirúrgica, a sigmoidectomia deve Tratamento de diverticulite recorrente: A
ser realizada. A ressecção completa do sigmoide é abordagem da diverticulite recorrente não necessária, uma vez que sua remoção parcial está complicada10 deve ser avaliada caso a caso, associada a altos índices de recorrência da doença. É não devendo ser baseada somente no número importante ressaltar que não é necessário remover de episódios, mas principalmente na idade do toda a extensão do cólon acometido pela paciente, nas comorbidades médicas, diverticulose, mas somente a porção acometida pelo frequência e gravidade dos episódios e processo inflamatório e infeccioso, com paredes persistência da sintomatologia após o ataque espessadas e friáveis. A reconstrução do trânsito agudo. A impossibilidade de exclusão de intestinal pode ser feita por anastomose primária ou carcinoma colônico é indicação apropriada procedimento de Hartmann, com sutura da para colectomia.10 Pacientes com idade extremidade do reto e colostomia com a extremidade inferior a 50 anos devem ser operados por seccionada do cólon. Observa-se que há diminuição possuírem longa expectativa de vida, o que da morbidade, do custo, do tempo de internação gera elevado risco acumulado para episódios hospitalar e das taxas de complicações com a recorrentes. anastomose primária realizada após a diverticulite Prevenção complicada, Sua realização, entretanto, depende da capacitação técnica do serviço e da habilidade do É recomendada, após a recuperação, dieta rica em cirurgião que a propõe, o que requer análise de caso a fibras, com ou sem terapia antibiótica de longo uso caso. A cirurgia laparoscópica, realizada em situação (rifaximina, 400 mg duas vezes por dia, durante sete de doença diverticular tanto complicada quanto da dias a cada mês), para reduzir a pressão intracolônica não complicada, acarreta baixas taxas de morbidade e o risco de recorrência. Não há consenso quanto aos pós-operatória, reduz tempo de internação hospitalar benefícios de se evitarem nozes e sementes.