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CÁLCULO III

Cristiane da Silva
Rotacional
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Definir rotacional de um campo vetorial.


„„ Identificar a aplicação do Teorema de Green na forma circulação-rotacional.
„„ Determinar o rotacional de funções vetoriais.

Introdução
A teoria resultante de integrais de linha e de superfície fornece uma
importante ferramenta matemática para a ciência e a engenharia. É
recorrente o uso desses conceitos e teoremas em situações aplicadas,
embora, muitas vezes, tenhamos certa dificuldade em fazer a relação
entre teoria e prática.
Neste texto, você vai estudar o rotacional. O rotacional de um campo
vetorial é bastante utilizado em problemas envolvendo física, por exem-
plo. Serão apresentados conceitos e teoremas envolvendo o rotacional
de um campo vetorial e, para facilitar a compreensão, você será dire-
cionado a problemas aplicados associados ao conteúdo. Você também
conhecerá as propriedades do rotacional, a relação entre o Teorema de
Green e o rotacional, além de acompanhar muitos exemplos práticos. A
proposta é que você possa, além de reconhecer os teoremas, aplicá-los
em diferentes situações.

Rotacional
Estudaremos o rotacional de um campo vetorial a partir da sua definição
no intuito de interligar aos conhecimentos já aprendidos na disciplina de
2 Rotacional

Cálculo III. Gonçalves e Flemming (2007, p. 218-219) definem o rotacional


da seguinte forma:

Seja um campo veto-


rial definido em um domínio D, com derivadas de 1ª ordem contínuas em
D. Definimos o rotacional de , denotado por , como

As autoras mencionam, ainda, que o rotacional de um campo vetorial


é bastante utilizado em problemas envolvendo física, como na análise de
campos de velocidade da mecânica de fluidos e na análise de campos de
forças eletromagnéticas, e também pode ser interpretado como uma medida
do movimento angular de um fluido (GONÇALVES; FLEMMING, 2007).
Outra notação bastante usual quando se trata do rotacional é a seguinte.
Considere um campo que possui três componentes, a componente i, a j e a
k. Para cada componente, temos uma função. O rotacional é uma espécie de
derivada desse campo e pode ser expressa por:

Vejamos um exemplo.

Determinar , sendo .
Temos .

Fonte: Gonçalves e Flemming (2007, p. 219).


Rotacional 3

Das propriedades do rotacional


Gonçalves e Flemming (2007) abordam as propriedades do rotacional de
um campo vetorial. Considere
funções vetoriais definidas em um domínio D com derivadas parciais de 1ª
ordem contínuas em D. Portanto:

em que h = h(x,y,z) é uma função escalar


diferenciável em D. Portanto, temos:

.
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Para saber mais sobre o rotacional de um campo vetorial, consulte o livro Cálculo
B: funções de várias variáveis, integrais múltiplas, integrais curvilíneas e de superfície, de
Gonçalves e Flemming (2007, p. 221). As autoras apresentam exemplos detalhados
envolvendo o rotacional.

O Teorema de Green e o rotacional


Rogawski (2009) destaca que a quantidade que aparece na integral dupla do
Teorema de Green é chamada de rotacional ou rotacional escalar, em que, para
, escrevemos , em que o subscrito z indica que
é a componente z do vetor rotacional, que foi definido no início do
capítulo. Explica, ainda, a relação entre o Teorema de Green e o rotacional
partindo de um exemplo simples em que aplica o Teorema de Green a uma
pequena região R com fronteira e uma curva fechada simples. Como
R é pequena e F é contínuo, é praticamente constante em R e, em
uma primeira aproximação, podemos substituir a função pelo valor
constante , em que P é um ponto arbitrariamente escolhido em
R. Veja a representação pela Figura 1.

Figura 1. A circulação de F ao longo de


é, aproximadamente, .
Área (R).
Fonte: Rogawski (2009, p. 992).
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Então, pelo Teorema de Green, obtemos a aproximação


. Área (R). Portanto, pode
ser interpretado como a circulação por unidade de área.
Vamos, agora, estudar o Teorema de Stokes, que é uma generalização
do Teorema de Green a três dimensões. Vimos que o Teorema de Green
relaciona uma integral de linha com uma integral dupla no plano, já o
Teorema de Stokes relaciona uma integral de linha em R³ com uma integral de
superfície. No Teorema de Stokes, é necessário levar em consideração tanto
a orientação da superfície S quanto a orientação da sua fronteira . Antes
de definir o Teorema de Stokes, vejamos o que significa a fronteira de uma
superfície (ROGAWSKI, 2009).

Figura 2. Superfícies e as suas fronteiras. Temos aqui várias possibilidades: uma


fronteira que consiste em uma única curva fechada simples (a); uma fronteira que
consiste em três curvas fechadas (b); e a situação em que a superfície não tem
fronteira (c). Neste caso, trata-se de uma superfície fechada com fronteira vazia.
Fonte: Rogawski (2009, p. 1000).

Rogawski (2009) diz que, uma vez fixada uma orientação de S, podemos
induzir uma orientação de fronteira em da seguinte forma. Imagine
que sejamos o vetor normal caminhando ao longo da curva de fronteira.
Nesse caso, a superfície ficará à nossa esquerda. A Figura 3 expressa essas
duas orientações de uma superfície em que a fronteira consiste em duas
curvas, a ea .
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Figura 3. Orientação da fronteira para cada uma


das duas orientações possíveis da superfície S. Note
que a orientação da fronteira depende da orientação
da superfície.
Fonte: Rogawski (2009, p. 1000).

Rogawski (2009) reforça a definição que já estudamos no início deste


capítulo. Note que rot (F) é um campo vetorial. O rotacional escalar é igual
ao componente z do vetor rotacional.
Agora, vamos conhecer o Teorema de Stokes conforme definição de Ro-
gawski (2009, p. 1002):

Suponha que S seja uma superfície orientada, lisa por partes, cuja fronteira
seja uma curva fechada ou uma união de curvas fechadas. Seja fronteira
de S com sua orientação de fronteira. Seja F um campo vetorial cujos com-
ponentes têm derivadas parciais contínuas. Então:

Se S for fechada (ou seja, se for vazia), então é nula a integral de super-
fície do lado direito.

Vejamos um exemplo da aplicação do Teorema de Stokes que, como vimos,


é a generalização do Teorema de Green para três dimensões.
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Seja F = rot (A), onde . Determine o fluxo de F através


das superfícies e , cuja fronteira comum C é o círculo unitário do plano xz da
Figura 4.

Figura 4.
Fonte: Rogawski (2009, p. 1006).

Resolução.
Quando percorremos o círculo C no sentido indicado pela seta, a superfície fica
à esquerda.
Portanto, C está orientada como a fronteira de e, pelo Teorema de Stokes:

A parametrização c(t) = (cost, 0, sent) traça C no sentido indicado pela seta porque
começa em c(0) = (1,0,0) e se movimenta na direção de . Temos, então:

Concluímos que . Por outro lado, fica à direita quando percorremos


C e, portanto, é –C que está orientada como fronteira de .Obtemos, assim:

Fonte: Rogawski (2009, p. 1006-1007)


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Rotacional de funções vetoriais


Para reafirmar os conceitos e teoremas que estudamos neste capítulo, vamos
analisar alguns problemas resolvidos cuja finalidade é determinar o rotacional
de funções vetoriais.

Encontre a circulação do campo F = (x² – y) i + 4zj + x²k ao redor da curva C na qual


o plano z = 2 encontra o cone , em sentido anti-horário, conforme a
Figura 5.

Figura 5. Curva C e cone S.


Fonte: Thomaz, Weir, e Hass (2012, p. 426).

Resolução.
O Teorema de Stokes possibilita encontrar a circulação pela integração sobre a
superfície do cone. Por correr C na direção anti-horária visualizada de cima corresponde
a tomar a normal interna n ao cone, a normal como uma coordenada k positiva.
Parametrizamos o cone como:

Então, temos:
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Assim:

E a circulação é:

Fonte: Thomaz, Weir, e Hass (2012, p. 426-427)

Um fluido de densidade constante gira ao redor do eixo z com velocidade F = w (–yi


+ xj), onde w é uma constante positiva denominada velocidade angular da rotação.
Encontre e o relacione à densidade de circulação. Observe a Figura 6.

Figura 6. Escoamento circular constante paralelo ao plano xy, com velocidade angular
constante w em sentido positivo (anti-horário).
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Resolução.
Com F = –wyi + wxj, encontramos o rotacional:

Pelo Teorema de Stokes, a circulação de F ao redor de uma circunferência C de raio


p delimitando um disco S em um plano normal a , ao plano xy, por exemplo, é:

Assim, resolvendo essa última equação para 2w, temos:

Fonte: Thomaz, Weir e Hass (2012, p. 426-427).

Utilize o teorema de Stokes para calcular , se


e C for a borda da porção do plano 2x + y + z = 2 no primeiro octante, percorrida
no sentido anti-horário quando vista de cima, como podemos observar na Figura 7.

Figura 7. Superfície plana


Fonte: Thomaz, Weir e Hass (2012, p. 428).

Resolução.
O plano é a superfície de nível f(x,y,z) = 2 da função f(x,y,z) = 2x + y + z. O vetor
normal unitário:
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É consistente com o movimento anti-horário ao redor de C. Para aplicar o teorema


de Stokes, encontramos:

No plano, z é igual a 2 – 2x – y, assim:


= (x – 3(2 – 2x – y))j + yk = (7x + 3y – 6)j + yk
E:

O elemento de área da superfície é:

A circulação é:

Fonte: Thomaz, Weir e Hass (2012, p. 428-429)

GONÇALVES, M.B; FLEMMING, D.M. Cálculo B: funções de várias variáveis, integrais múl-
tiplas, integrais curvilíneas e de superfície. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.
ROGAWSKI, J. Cálculo. São Paulo: Bookman, 2009. v. 2.
THOMAS, G.; WEIR, M.D.; HASS, J. Cálculo. 12. ed. São Paulo: Pearson Education do
Brasil, 2012. v. 2.

Leitura recomendada
SALAS, S. L.; HILLE, E.; ETGEN, G. J. Cálculo. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2005. v. 2.
Conteúdo:

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