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Natureza Local
Duas razões estão na base da proteção da área do Parque. A primeira foi a existência de maciços de grande altitude
e, dentre estes, especialmente o Pico da Bandeira, cuja altitude foi determinada por volta de 1911 (UFMG, s/data).
Igualmente, ou até mesmo mais importante, a criação decorreu da importância ecológica da área que concentrava em
pequeno espaço variadas e distintas formações vegetais. Esse fator foi a origem da primeira referência à proteção
legal da área que ocorreu em 1922, após a visita ao local de uma missão de pesquisadores brasileiros e estrangeiros.
Nessa mesma época, certa mobilização social para a proteção da área já existia, demonstrada pelas notícias
veiculadas em jornais que falavam da necessidade de instituir uma reserva acima da cota dos 1.800m de altitude
(UFMG, s/data).
Contudo, o primeiro dispositivo legal de proteção na região do PARNA do Caparaó tardou a existir. Apenas em 20 de
setembro de 1948, o Decreto Lei Estadual no 55, que criava a “Reserva Florestal do Pico da Bandeira”, foi
estabelecido. Rapidamente, no mesmo ano da criação da reserva estadual, o então diretor do Parque Nacional da
Serra dos Órgãos encaminhou parecer favorável à transformação da área em Parque Nacional. Da mesma forma, em
1953, a Câmara Municipal de Espera Feliz, Espírito Santo, dirigiu-se ao Presidente da República solicitando a criação
do Parque. Vários pedidos foram feitos subseqüentemente, até que, em 1961, o presidente Jânio Quadros criaria o
Parque Nacional do Caparaó (IBDF, 1981; Urban, 1998).
O Parque Nacional do Caparaó foi criado em 24 de maio de 1961 pelo decreto federal n.º 50.646, assinado pelo
então Presidente da República Jânio Quadros.
Abriga o terceiro pico mais alto do país, o Pico da Bandeira. Por volta de 1859, D. Pedro II determinou que fosse
colocada uma bandeira do Império no pico mais alto da Serra do Caparaó.
Hoje, grande parte dos visitantes que chegam ao parque vem atraídos não só pelas belezas naturais, mas também
pela perspectiva de acessar o Pico da Bandeira, conhecer o ecossistema da Unidade, conhecer trabalhos
desenvolvidos de Educação Ambiental, desenvolvimento das comunidades, entre outros . Aliás, as montanhas do
maciço da Serra do Caparaó apresentam paisagens de grande beleza, existindo também outros picos importantes
como o Pico do Cristal (2.770m) e o Pico do Calçado (2.849m).
Atributos Históricos
A região do Parque Nacional do Caparaó possui histórico muito rico que, de certa forma, reproduz os diferentes ciclos
de “desenvolvimento” econômico do país e, mais particularmente, da associação destes com a destruição da Mata
Atlântica. Este fator tem grande importância pois poderia ser melhor aproveitado tanto em atividades de interpretação
no Parque, quanto em programas de educação ambiental.
A região que onde se encontra o Parque Nacional foi ocupada, em tempos remotos, por diferentes grupos indígenas.
Encontravam-se aí Botocudos, Poris (ou Puris), numerosas tribos Tapuias e, posteriormente, os Tupis.
Genericamente, a região abrigava grupos de caçadores-coletores que com sua resistência à colonização dos
portugueses impediram, por certo tempo, a destruição da Mata Atlântica em várias regiões, sendo alvo de
perseguição oficial e legalizada (Dean, 1996; Ribeiro, 1996).
O cultivo de café ocorre na região desde o século XVIII quando, com o fim da mineração nas Minas Gerais, o produto
substituiu o ouro no processo de povoamento mineiro. A região da Zona da Mata Mineira, que incluía cidades como
Carangola e Manhuaçu próximas ao Parque, tornou-se cafeicultora, atraindo a partir do final do século XIX imigrantes
italianos, suíços, alemães, espanhóis e portugueses (UFMG, s/data). Porém, com o tempo, a terra foi sendo
esgotada, a mão-de-obra foi escasseando, o café foi perdendo valor econômico e regiões mais férteis foram abertas
ao seu cultivo. Com isso, a pecuária de leite sucedeu o café como atividade econômica predominante na região, até à
volta do café em anos mais recentes, o qual predomina na época atual.
Outro fator importante na região foi a presença constante de tropeiros que carregavam mercadorias, notícias e,
especialmente, o café para ser comercializado. Sendo a principal forma de transporte por muito tempo, o número de
pessoas e animais envolvidos era muito grande, assim como sua influência na formação da cultura local (Dean,
1996).
A chegada do transporte ferroviário à região constitui outro fato marcante. Por volta de 1913, a “The Leopoldine
Railway” chegou para transportar produtos agrícolas e madeiras nobres como o cedro (UFMG, s/data). Além da
destruição causada pela comercialização da madeira, os trens utilizavam locomotivas a vapor que se abasteciam de
carvão vegetal proveniente das florestas locais. Atualmente, a estrada de ferro encontra-se desativada e seu leito
substituído por estradas de rodagem, restando apenas alguns trechos e construções associadas, algumas das quais
de valor turístico (MMA, 1997).
A região do Caparaó e, nesse caso, as próprias terras do Parque Nacional, está ligada também à história mais
recente do país, mais especificamente àquela das guerrilhas oposicionistas ao governo militar. Por volta de 1966, um
grupo reuniu-se no alto da Serra do Caparaó com o objetivo de derrubar o governo militar, movimento no entanto
abortado pelo governo e os envolvidos presos (Anônimo, 1992).