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PICO DA NEBLINA/Out_2019

PARQUE NACIONAL
DO PICO DA
NEBLINA

Área do Parque Nacional do Pico da Neblina, no estado do AMAZONAS, com terras em 2 municípios: São Gabriel da Cachoeira-AM e
Santa Izabel do Rio Negro-AM; o Pico da Neblina está localizado no município de Sta Izabel do Rio Negro.
INTRODUÇÃO

A trilha para o Pico da Neblina (2.995,3 m) está localizada dentro do Parque


Nacional (PARNA) de mesmo nome. Criado em 1979 no estado do Amazonas, na
fronteira com a Venezuela, o parque possui uma área um pouco maior que 2.300.000
hectares, o que equivale a 80 (isso mesmo, oitenta) Parques Nacionais do Itatiaia!
O PARNA está fechado para visitação desde 2003, por recomendação do
Ministério Público Federal. O motivo foi o turismo desordenado realizado por agências e
“não indígenas”, o que causou impactos ambientais e violação dos direitos daquelas
etnias, principalmente os Yanonami.

http://www.icmbio.gov.br/portal/unidadesdeconservacao/biomas-brasileiros/amazonia/
unidades-de-conservacao-amazonia/1985-parna-do-pico-da-neblina

https://www.wikiparques.org/wiki/Parque_Nacional_do_Pico_da_Neblina

Primeiras expedições e atividades ligadas ao Pico da Neblina:


- 1950: visualização do Pico da Neblina por um piloto de uma aeronave DC-3, o
maranhense Cmte Mário Jucá de Castro, da Panair do Brasil. Chefe do Setor
Amazônico daquela empresa, teria estimado um relevo próximo de 3.000 m de
altitude, baseado no altímetro do seu avião, durante voos no local.
http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?
bib=089842_06&pag s=36328&url=http://memoria.bn.br/docreader#

- 1952: sobrevoo do maciço pelo botânico brasileiro Ricardo de Lemos Fróes, do


Instituto Agronômico do Norte (Belém do Pará), com o mesmo Cmte Jucá da Panair, a
bordo de um Catalina. Ricardo Lemos já havia feito incursões terrestres na área e
também acreditava que existia um “relevo" próximo dos 3.000 m na região
amazônica, ao avistar, numa ocasião, a Serra do Imeri.
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/115/rbg_1956_v18_n4.pdf

- 1953: o curador do Jardim Botânico de Nova Iorque, Mr. Bassett Maguire (1904-1991),
lidera uma expedição cientí ca partindo da Venezuela em direção à “Guyana
Highlands”, conhecidas pelos americanos como “Lost World”- não atingiram o relevo
do Pico da Neblina nem do 31 de Março. Durante 3 meses, planejam, reconhecem e
executam a expedição para, por m, no dia 25 de dezembro daquele ano, chegarem
ao topo da montanha que ele batizou de “Mountain of the Clouds” ou “Cerro de La
Neblina” por estar constantemente coberta por densa neblina, fruto do contato do ar
quente da oresta tropical que está a 100 m de altitude com aquele relevo “frio"
situado entre 2.000 e 3.000 m de altitude. (Geographical Review, VOL 45/jan 1955, pág
27 a 51).
https://www.jstor.org/stable/i210739

- 1954: o ornitólogo venezuelano Willian Phelps Jr. (1902-1988) e sua esposa,


participando da supracitada expedição do Mr. Maguire, visitam o pico do Cerro
Neblina, na manhã do dia 19 de janeiro daquele ano e lá permanecem por 5 dias,
estudando as aves. Apesar de encontramos na internet informações de que o
venezuelano Willian Phelpes Jr. chegou ao Pico da Neblina (ou no 31 de Março), elas
estão incorretas pois, de acordo com o mapa feito pelo próprio Maguire e sua equipe,
eles subiram um maciço venezuelano (denominado Cerro de la Nebina, conforme já
explicado) bem ao norte do pico (imagens ao nal deste relato) – talvez por isso o
equívoco de que eles chegaram no Pico da Neblina. Os venezuelanos batizaram mais
tarde o relevo onde está o Pico da Neblina “brasileiro” de Cerro Phelps (de acordo com
mapas da internet) em sua homenagem, sem saber que ali era terra brasileira e que o
Phelpes não esteve no local.
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https://www.jstor.org/stable/211728?read-
now=1&refreqid=excelsior%3A0ed475022731e6fc93681cfaaf4204b5&seq=1#page_scan_tab_co
ntents

- 1962: demarcação de nitiva da fronteira do Brasil com a Venezuela e veri cação de


que o Pico da Neblina está totalmente dentro do território brasileiro. Foram feitas
algumas tentativas para se chegar ao cume naquele ano, porém, infrutíferas.

- 1965: nalmente, em 30 de março, a primeira aferição o cial da altitude do Pico da


Neblina foi realizada pela expedição da PCDL (Primeira Comissão Demarcadora de
Limites/ Comissão Mista Brasileiro/Venezuelana Demarcadora de Limites) comandada
pelo General Ernesto Bandeira Coelho, da qual participou o topógrafo Ambrósio
Miranda que, através de um teodolito + barômetro, chegou à marca de 3.014 m de
altitude. Estava presente também o pesquisador Roldão Pires Brandão. O Neblina
passou a ser o ponto culminante do país (na época, esta posição era do Pico da
Bandeira, com 2.891m).
http://pcdl.itamaraty.gov.br/pt-br/venezuela.xml

http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?
bib=089842_07&pag s=69505&url=http://memoria.bn.br/docreader#

- 1979: criação do PARNA do Pico da Neblina.


https://documentacao.socioambiental.org/ato_normativo/UC/2977_20180315_122916.pdf

- 2003: fechamento do PARNA Pico da Neblina à visitação.

- 2004: nova medição do Pico pela equipe do cartógrafo Marco Aurélio de Almeida
Lima, membro da expedição Projeto Pontos Culminantes (IME + IBGE), quando,
depois de 36h no local, chegaram ao novo número de 2.993,78 m, ou seja, menos de
3.000 m de altitude. https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-
agencia-de-noticias/releases/12824-asi-quatro-picos-brasileiros-tem-sua-altitude-alterada

- 2012: criação do Conselho Consultivo do PARNA Pico da Neblina, visando uma futura
abertura do parque e em consequência, a exploração do turismo no mesmo.
https://uc.socioambiental.org/pt-br/arp/597

- 2015: em um novo reajustamento do SGB (Sistema Geodésico Brasileiro) baseado no


campo gravitacional da terra, recalcularam-se as altitudes das RRNN (Referências de
Nível) da Rede Altimétrica de Alta Precisão do país, alterando, entre outras, a altitude
do Pico da Neblina: aumentou para 2.995,30m (foi um “recálculo” e não uma nova
medição in loco).
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101666.pdf

https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?id=2101666&view=detalhes

https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/20/aeb_2018.pdf

- 2016: expedições “teste" ao Pico da Neblina a m de colher informações para o


processo de retorno à visitação do PARNA e implementação do Plano de Visitação
Yaripo juntamente com a AYRCA (Associação Yanonami do Rio Cauaburis e A uentes).

- 2018: aprovação do Plano de Visitação Yaripo para o PARNA Pico da Neblina.


https://documentacao.socioambiental.org/ato_normativo/UC/3411_20180511_125912.pdf

http://www.icmbio.gov.br/portal/ultimas-noticias/20-geral/9625-icmbio-aprova-visitacao-ao-pico-
da-neblina
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- 2019: neste ano, está prevista nalmente a abertura do Parque Nacional do Pico da
Neblina para a visitação através de empresas de turismo credenciadas.

A trilha para o Pico da Neblina começa realmente na sua casa, bem na frente do
seu computador, pesquisando o local (como eu chego? quem vive lá? quais os costumes
locais? etc.), separando o material pra levar e planejando as diversas etapas que
acontecerão. Possivelmente, as coisas carão mais fáceis a partir de agora, com uma
operadora de turismo credenciada fazendo tudo isso, mas… quem gosta de caminhar,
vai logo digitando no Google o nome do destino e se divertindo horas a o, absorvendo o
máximo de informações a respeito e passeando no Google Earth.
Infelizmente, existe pouquíssima informação sobre o Neblina na WEB,
principalmente sobre a logística da empreitada: talvez pelo difícil acesso e por estar
fechado o cialmente há bastante tempo para a visitação, talvez por ser distante e
complicado pra se chegar, tornando-o um passeio bem caro…!
Outra coisa: por que ir ao Neblina? Primeiro, lendo o resumo acima, você percebe
que o Pico faz parte da história do seu país e conhecer a história do Brasil é dever de
todo brasileiro. Outro motivo é poder fazer uma caminhada/trilha/trekking (chame do jeito
que quiser) num dos diferentes “biomas” brasileiros (Amazônia, Cerrado, Pantanal,
Caatinga, Mata Atlântica, Pampa e Marinho) e certamente, a “selva amazônica" é um dos
mais desa adores e inexplorados de todos eles.
Muitos preferem o Roraima mas são coisas bem diferentes e o esforço do Neblina
para chegar na base supera o irmão Roraima.

LOGÍSTICA:
Fui com um amigo, o Leonardo Meirelles e a viagem transcorreu assim:

1. TRANSPORTE
a. Aéreo saindo de São Paulo-SP: passagem de São Paulo-SP para Manaus-AM; moro
em Taubaté-SP e rolou antes uma viagem até Guarulhos pra pegar o voo com 4 hs de
duração até Manaus.

b. Aéreo saindo de Manaus-AM: passagem de avião com a empresa MAP, de Manaus


para São Gabriel da Cachoeira-AM (2hs de voo até São Gabriel/SGC).
Paguei 600 reais (Manaus-->SGC), já a volta (SGC-->Manaus) estava custando mais de
1.000 reais no nal da caminhada! Mas voltei de carona num avião da FAB.
O vôo de Manaus para SGC é bem “barulhento” pois é um avião turbo-hélice.
Leve um fone de ouvido com musiquinha de fundo :))) ou use um EPI, o “ear plug”.
E se não acertou o relógio quando pousou em Manaus, faça-o agora: “atrase” 1h.
Detalhes:
-chegue hora e meia antes do seu voo no aeroporto de Manaus, para fazer o check-in,
pois a MAP encerra o embarque bem mais cedo que o normal!
-como disse, consegui carona na volta (sou militar), mas se tivesse deixado pra comprar
no m da aventura, teria cado de molho por 2 semanas, esperando o próximo voo (as
passagens também acabam rapidinho)! Compre antes a volta!
-na MAP eles são criteriosos com “baterias" de Ion de Lítion na bagagem despachada;
eu levei 4 de reserva para o SPOT Satélite GEN3, várias alcalinas para o GPS, e também
3 baterias CR2032 para o termômetro GarminTemp, que descarregou bem rápido, além
de um PowerBank para o celular na trilha; tudo na bagagem de mão – como sou piloto
militar e sabia dos riscos, quei calado, pois estavam no meu colo e todas embaladas,
sem chance de curto-circuito.
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-Fogareiro a gás? esquece, pois os cartuchos de gás na NTK são proibidos nos voos
(claro) e em SGC não tem pra comprar (mas talvez agora tenha?). Pode levar um que use
álcool (espiriteira, que é bem mais leve do que os que usam gasolina e derivados, tipo os
da MSR) e compre lá em SGC o álcool.
-Não precisa levar facão de mato (os guias, que são obrigatórios, já levam) mas não
esqueça de colocar seu canivete/talher/etc. na mochila despachada em SP!

c. Terrestre: em São Gabriel da Cachoeira-AM (vou abreviar de SGC), alugamos um


transporte fretado (camionete Toyota), para nos levar por 85km de estrada de terra ruim a
BR-307 (média de 20km/h) até um local chamado Porto Frente-Sul ou Km 85: uma
“prainha de rio" bem simples e pequena, um local onde as voadeiras (barcos leves) que
navegam pelo igarapé Ya-Mirim aportam; é o mesmo igarapé que segue, no sentido
contrário, para a região dos “6 lagos”, onde existe o tal “nióbio”, que é na direção
contrário do nosso destino, Maturacá, uma aldeia onde também existe um Pelotão
Especial de Fronteira do Exército. Esse transporte vc acerta em SGC com os
“toyoteiros”, como são conhecidos. Custa R$1.000 reais cada viagem para o Frente-Sul;
cabem 2 passageiros na cabine da Toyota e mais alguns e suas mochilas na carroceria.
No caso de uma dupla, 500 reais pra cada um :((( lembrando que na volta serão mais
1.000 reais para o “toyoteiro" te buscar: vc terá que avisá-lo da sua data de retorno via
WhatsApp, usando a internet livre do Governo Federal que existe em Maturacá - quanto
mais pessoas embarcadas, mais barata ca a viagem. Usamos o serviço do Sr. Coelho e
seu lho, o Kiko, no zap (97) 991.988.628. Detalhe: vc deverá levar também o
combustível para as voadeiras (gasolina) para a sua próxima etapa, em galões (ou
“carotes” como é chamado lá), de acordo com o que vc acertou (quantos litros? eles vão
te passar e vc comprará em SGC) com o pessoal da AYRCA (dá um Google na AYRCA)
anteriormente por telefone (importante).
Fique atento na Toyota, pois irá cruzar a linha imaginária do EQUADOR perto do Km 25.
Vale uma foto. Também cruzará por um posto do Exército (antigo posto da FUNAI) onde
poderá passar por uma revista na camionete (drogas, bebidas, armas, etc.); ali, no
passado, um funcionário da FUNAI foi assassinado e o local cou abandonado por muito
tempo. O Exército assumiu para controlar quem passa na BR-307 (são 4hs de viagem de
SGC até o Frente-Sul).

d. Náutico Porto Frente-Sul até Maturacá: em Maturacá existe uma aldeia Yanonami +
o 5º Pelotão de Fronteira (5º PEF) do Exército Brasileiro. A voadeira (com motor de
40HPs de preferência) sairá da aldeia Maturacá para ir te buscar ali no Frete Sul. Essa
mesma voadeira irá, no dia seguinte cedinho, te levar até o início da trilha na selva. As
idas e vindas e o gasto de combustível serão pagas aos Yanonamis assim que vc chegar
em Maturacá, através da AYRCA. O “piloteiro"+ “proeiro" saem juntos por R$1.000 reais
(preço para todas as navegações necessárias). Para esses deslocamentos de voadeira,
tem que calcular o combustível que será gasto, lembrando que um rio mais baixo, a
velocidade diminui para desviar de troncos e bancos de areia que aparecem, gastando
mais gasolina e… mais grana também.
Leve óculos escuros (mosquitos e sol na cara), boné (sol na moleira e no pescoço),
jaqueta (vento frio mesmo) e protetor auricular (barulho do motor) e besunte-se de
protetor solar sempre, pois irá fritar frente e verso no sol amazônico da linha do Equador.
O litro de gasolina em SGC estava custando R$4,55 em outubro de 2019, mês da
viagem. A voadeira vai na velocidade média de 30km/h. Pernoite em Maturacá e serão 6h
e meia de navegação no rio, do Frente-Sul até Maturacá.
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e. Náutico de Maturacá até a foz do Igarapé Tukano: onde a trilha “terrestre” na selva
começa o cialmente e serão mais 3 a 4 hs de navegação no rio dependendo do piloto/
rio.

=> Finalmente, depois de 6 horas de avião, 4 horas de Toyota e 10 horas de barco


você chega no início da trilha na selva e vai caminhar com a mochila nas costas! Ou
não… vc pode contratar um Yanonami para carregar pra vc :( - no meu caso, eu
levei todo o meu peso

DICAS: Em São Gabriel da Cachoeira:


-chegando no aeroporto, afastado da cidade = um táxi até a cidade custa de 60 a 80
reais; um “prato feito” lá no aeroporto, esperando um táxi ou seu voo, sai por 20 reais (se
a pequena cozinha estiver aberta, o que normalmente acontece quando tem voo saindo,
mas não chegando). Ali não tem sinal de celular, então, acerte antes ligando de Manaus
pro taxista ou torça por uma carona ou taxi nas proximidades, quando seu avião
pousar…
-no porto de SGC = ao nal da aventura, caso decida voltar pra Manaus de barco,
existem as lanchas rápidas e as “lentas”…as rápidas são as chamadas “expressas" onde
vc vai sentado, tem ar condicionado e servem refeições; já as lentas, vc tem que levar
uma “rede”, daí caso volte fazendo turismo pelo rio Negro até Manaus, leve de casa uma
daquelas bem leves ou gaste entre 40 e 60 reais comprando uma em SGC antes de
embarcar (eu optaria por essa última e depois faria uma doação da rede no porto de
Manaus).
As lanchas saem de SGC às 7h do sábado pra Barcelos e chegam no destino por volta
das 2130h, custando R$410,00. Caso vá para Manaus, chegam às 7h do domingo,
viajando a noite toda e custam R$480,00.
-táxi lotação= com até 4 pessoas dentro, pagamos 4 reais por pessoa e ele te leva pra
onde quiser; alguns carros são identi cados como tal, outros estão no estilo “uber" de
ser, mas é só acenar com a mão na rua que alguém vai parar.
-moto táxi = 3 reais e use o capacete se quiser.
-almoço na beira da praia, no Restaurante Íris = um delicioso prato individual de peixe
surubim + acompanhamentos por R$31,00 ao som dos pássaros amarelos e pretos, o
xexéu (ou iapii, como são conhecidos localmente), fazendo barulho nas árvores próximas
do pequeno restaurante familiar.
-jantar perto do centro = na Cave do Conde.
-café da manhã = no café da Keila (tapioca + suco de frutas + xícara de café por 14 reais)
-bancos = Bradesco e Brasil eu achei…
-comprar uma bota de borracha = Atacadão Brasil, na Rua Costa e Silva, custa em torno
de R$50,00 um par nr 42 (em Taubaté-SP eu paguei R$80,00 !!!)
-loja de artigos militares em SGC= Cautela e Surara (97) 991.577.541/3471.1546 Centro
de SGC, na Av. Castelo Branco, 474 (se entrar em contato “bem” antes, eles podem até
te dizer se possuem no momento, cartucho de gás para o seu fogareiro – caso positivo,
aconselho a levar para fazer seu café/chá nas noites de trekking).

2. ALIMENTAÇÃO
Apenas para a expedição (parte terrestre na selva), gastamos R$300,00 cada um
(total de 600 reais de comida) e algumas coisas sobraram e outras faltaram, justamente
por não termos as dicas abaixo.
Esses gêneros alimentícios que vc + 4 índios (no nosso caso), irão consumir,
deverão ser comprados em São Gabriel da Cachoeira (existem vários locais para tal) e
uma pequena parte em Maturacá, com os Yanonamis, fortalecendo a economia local
(indígenas e comércio), que é um dos pilares das trilhas de longo curso no Brasil.
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a.Café da manhã= macaxeira ou cará (comprar em Maturacá) + linguiça + café com leite
b.Almoço/lanche (eles chamam de “merenda")= o famoso “farofão”, preparado na noite
anterior e servido em sacos plásticos individuais, no início da trilha, para cada um comer
na hora que der vontade. Leve uma garrafa PET de 1 litro, individual, para fazer seu suco
e beber também quando tiver vontade. O ideal é que o suco em pó esteja na compra
“coletiva" mas que vc tenha também o seu suco em pó “particular".
c.Jantar= arroz + feijão + macarrão + carne (goiabada de sobremesa).
d.Ceia (dentro da sua barraca) = biscoito de chocolate ou coisa parecida, que foi
carregado por vc em sua mochila (caso carregue junto com a compra “coletiva”, não vai
durar muito).

Sugestão de lista de compras:


-Arroz.
-Feijão (sim, os Yanonamis levam uma panela de pressão no “jamaxin"/mochila deles).
-Macarrão + molho de tomate (eu pre ro alho e óleo, mas…).
-Açúcar.
-Sal.
-Óleo.
-Suco em pó (Tang).
-Carne de sol.
-Linguiça.
-Cebola/alho.
-Alho.
-Cup Noodles (é só colocar água quente e tá pronto).
-Café solúvel (para todos os dias e os guias levam uma garrafa térmica pro café).
-Leite em pó (reservar para os 2 dias no campo base, pois é mais frio).
-Chocolate em pó (também para os dias no campo base).
-Biscoito Cream Craker para o café da manhã.
-Biscoito doce (na sua mochila).
-Leite condensado (na sua mochila).
-Goiabada (sobremesa coletiva do jantar e pra ser misturada também no farofão).
-Farinha de mandioca, em Maturacá (fazer um farofão de noite, para o almoço do dia
seguinte, com linguiça + farinha + cebola + goiabada picada).
-Farinha pra comer com feijão no jantar (os Yanonamis “adoram" farinha, leve bastante).
-Macaxeira, cará, abacaxi e farinha deve ser comprado em Maturacá.
-Maçã apenas para os primeiros dois dias (é bom dividir pra cada um levar na mochila).
-Sacos plásticos pequenos descartáveis para o farofão.
-Sacos pretos para TODO o lixo que for gerado.
-Material de limpeza (esponja, bombril, detergente, sabão em barra)

4. MOCHILA
-MOCHILA CARGUEIRA = levei uma Osprey, modelo Aether 70 PRO com um saco
plástico grosso dentro onde todo o material vai acondicionado, a m de impermeabilizar.
-SACO DE DORMIR = levei um Marmot para extremo de -1ºC (de boa)
-ISOLANTE TÉRMICO INFLÁVEL = levei o da ThermArest amarelinho, pesa 360g
-BARRACA = levei uma para 2 pessoas da americana Kelty, modelo Salida2. Tenho a
Nemo Hornet Elite 1Pessoa pesando 700g total, mas preferi levar uma pesando 1.9 kg e
com mais espaço para descansar dentro junto com minha mochila, no nal do dia;
parecia uma suíte presidencial na selva (não levei “rede de selva” nem mosquiteiro, não
precisou). Usei barraca em todos os dias de caminhada e recomendo. Detalhe: no campo
base, só tem lugar para 2 barracas. O resto do espaço é ocupado por um telhado para
as redes dos guias e/ou turistas, pois o resto do chão é um charco!
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-FOOTPRINT (importante, pra não furar barraca nem isolante!) = levei um pedaço de
Tyvek, bem leve e resistente, comprado nos EUA há algum tempo.
-ANORAQUE PRA VENTO E CHUVA = levei um anorake leve da TNF para chuva apenas.
Não choveu muito, pois a época que a água cai sem dó é abril/maio/junho. Na subida do
pico, no dia nal, irá usar o anoraque, pois lá sim, chuva/neblina/frio.
-SEGUNDA_PELE= apenas se for dormir no Pico para atacar no outro dia o 31 de Março;
caso não vá pernoitar no pico, se car pelado no saco de dormir estará tranquilo.
-BASTÃO DE TREKKING = o mais barato, pois certamente quebrará ao en ar na
“lama" (quebrei o meu e substituí por um de madeira, gentilmente feito pelo Yanonami do
nosso grupo). Quem sabe usar, faz diferença com mochila pesada em terreno irregular.
-PAZINHA E LENÇO UMEDECIDO: para “enterrar" as fezes SEMPRE.
-RESERVATÓRIO DE ÁGUA= estilo “camel back”; levei um de 3 litros da marca
HydraPak, bem leve e ia abastecendo quando tinha oportunidade.
-SPOT SATÉLITE GEN3 = com plano de resgate da GEOS.
-GPS = usei o Garmin Map64s para apenas gravar a trilha pois o guia faz todo o trabalho
pesado :)) e um Garmin Temp pra ter o grá co da temperatura dos dias de caminhada.
-CELULAR = com uma capa protetora à prova de água e poeira. Ele + SPOT + GPS
ligados por “clips” e os ao seu corpo ou mochila, pra não perder.
-BONÉ = fui de bandana; sempre que cruzava um igarapé, molhava ele (dentro do barco
também), mantendo o radiador da cabeça “arejado”. Não choveu mas o calor “passeou"
entre 38ºC na trilha e 9ºC no Acampamento Base.
-PERNEIRA = não levei, mas… não vimos cobras no caminho, apenas na primeira noite,
uma próxima das barracas. A trilha é bem utilizada pelos Yanonamis para caçar e
também para levar garimpeiros para Venezuela (sim, eles “atalham" por ali) e a surucucu
pico-de-jaca que é uma das mais venenosas do país, habita aquela selva.
-REPELENTE = pela PROTESTE o mais e caz contra mosquitos é o SBP Advanced com
ICARIDINA. Levei no pulso e amarrada na mochila aquelas pulseiras de silicone com
CITRONELA que sempre me foram úteis no litoral e na serra da Mantiqueira.
-PROTETOR SOLAR + ÓCULOS DE SOL= apenas para o barco, pois na selva não vai
precisar, vai caminhar na sombra todo o tempo, mas no barco, sol na moleira e na íris!
-HEADLAMP = sempre.
-UM SAQUINHO ESTANQUE = SeaToSummit para as baterias: de Lítion do Spot e
Garmin Temp e alcalinas para o GPS e HeadLamp.
-MEIAS = usei meião de futebol até o joelho que protegeu um pouco de carrapatos pois
quando parava, metia repelente na meia. Fui pouco picado.
-LUVAS= para o último dia, subir pedra e desviar de bromélias espinhosas.
-PRATO+TALHER+COPO= individual, o guia irá levar para todos e após as refeições, eles
lavam tudo mas eu recomendo levar/lavar o seu próprio.

=>> DICAS:

-BOTAS = levei um par de botas pra montanhismo, da "Salomon" + um par de botas de


borracha, estilo “galocha”, muito usadas pelos “locais”. Apesar do peso extra, levaria de
novo e recomendo fortemente: os dois últimos dias de caminhada são praticamente na
“lama" e na água o tempo todo. E a bota de borracha isola e protege seu pé de toda
aquela “sujeira" que vai grudar no seu calçado/meia/pé. Use-a com a calça por dentro
dela e com o meião de futebol até o joelho, para proteger a pele da pantorrilha das
bordas da bota. Na descrição da caminhada, indico onde usei cada uma. Detalhe:
compre a galocha em SGC ou Manaus e depois, faça uma doação, pois é um trambolho
pra car com ela “de lembrança” pra lá e pra cá - eu trouxe de volta pois certamente
retorno ao “bioma" SELVA.

-CHINELOS = segui o conselho de um amigo da Federação Gaúcha de Montanhismo


(grato Nelson Brugger) e levei um “fechado”, para proteger os dedos de uma possível
topada na hora do banho de rio: fui de “crocs”!
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-ÁGUA SANITÁRIA = num tubo de colírio e pinguei ‘sempre' 2 gotas + 30min de espera,
para cada litro de água que bebi.

-GARRAFA PET 1 LITRO= para fazer “sempre” um suco individual ao longo do trajeto e
se manter hidratado, pois a selva “enxuga” você o tempo todo (pra isso, levei vários
pacotinhos de “Clight” em pó).

AYRCA (Associação Yanonami do Rio Cauaburis e A uentes)


Ao chegar em Maturacá, a voadeira atraca na frente da sede da AYRCA e ali
mesmo, vc deverá pernoitar. Instalação precária ainda, sem banheiros nem cozinha.
Acampará na varanda da casa, de frente para o rio. Em nosso caso, camos alojados no
Pelotão do Exército.
Esse ponto é falho para a AYRCA, mas acredito que deverá ser solucionado (não
sei os custos para car na casa de algum morador).
-pagamento dos carregadores + carregadores de cume + guia de cume = você irá pagar
o combinado com a AYRCA. Os preços estão no Plano de Visitação.
-pagamento da taxa da AYRCA = assim que vc chega em Maturacá e deve ser em torno
de R$5.000,00 (cinco mil reais para o grupo). Nós não pagamos esse valor, pois
estávamos dentro de um "pacote" de trabalho de fotos do meu amigo (éramos uma
dupla apenas).
-pagamento do piloteiro (600 reais) + proeiro (400 reais) que te trouxeram e que irão te
levar de volta pro Frente Sul, ao nal da aventura (já explicado).
-conferência do combustível que será utilizado e o que já foi, ao te trazer do Frente-Sul.
-contato do Presidente da Associação em 2019, o Yanonami Zé Mário = (97)996.116.859
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OS INDÍGENAS
Todos com quem conversamos foram bem articulados. Falam e entendem o
português uentemente. Porém, tivemos algumas panes em nossas conversas prévias
via WhatsApp, durante os 2 meses anteriores ao início da aventura, sobre as tratativas
com custos da viagem: o ZAP não é a ferramenta ideal pra isso; se já temos problemas
de interpretação com nossos amigos e familiares, imagine com indígenas no meio da
oresta, distantes milhares de km… Infelizmente, não tínhamos um relato como este
para nos ajudar e usamos o ZAP para essa tratativa.

Algumas palavras importantes para serem ditas na viagem:


-Bom dia = KATERRE TAMÃ RARIKA
-Boa tarde = KATERRE TAMÃ UIATE
-Boa noite = KATERRE TAMÃ TITE
-Macaco Guariba = IROKAE
-pequeno rio na língua Tupi (não é “yanonami") = YGARAPÉ
-Região de tempestades e ventos fortes = YARIPO
-Mochila do indígena, feita por eles mesmos = JAMANXIN
https://www.dicionariotupiguarani.com.br/yanomami/

Segundo o nosso guia Yanonami, o Agenor, a escrita e pronúncia correta da


designação da etnia é com a letra “N" e não “M”, ou seja, está errado falar/escrever
“yanoMami"; o correto é "yanoNami". Realmente, entre eles, todos falam yanoNami.
YANONAMI = com N mesmo!

Eles dormirão em redes, montarão o acampamento, farão toda a comida,


colocarão “fumo" nos lábios inferiores, colado nos dentes (e cuspirão) e utilizarão botas
de borracha durante todo o trajeto.

Obs.: compre lá na aldeia em Maturacá, na “vendinha" da Dorotéia, uns pacotes de fumo


(R$5,00 cada) para seus guias (política da boa vizinhança).
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A TRILHA

Dia “zero” (de Manaus-AM para SGC-AM)


Chegamos em SGC de avião, vindo de Manaus-AM, pela empresa MAP e nos alojamos
no Hotel de Trânsito do Exécito, para, em seguida:
- “fecharmos" com o “toyoteiro" que nos levaria no dia seguinte às margens do igarapé
Ya-Mirim, no local chamado de Frente-Sul (dicas já relatadas);
- calcularmos e compramos o combustível (gasolina + óleo) que será levado também
com o “toyoteiro” no dia seguinte, dentro dos “carrotes”, para ser usado pela voadeira
que nos levará até Maturacá-AM, total para ida e volta (dicas já relatadas);
- realizarmos a compra dos gêneros alimentícios para a aventura (já relatado).
Dia 01= (de SGC para Maturacá)
Embarcamos na “Toyota" e saímos às 0700h de SGC pela estrada de terra da BR-307.
Após 4 horas de viagem em estrada ruim no meio da selva, chegamos na “prainha"
Frente-Sul. Às 1130h iniciamos a viagem de barco "voadeira" por aproximadamente 150
km navegando pelo igarapé Ya-Mirim, rio Ya-Grande, rio Cauaburis e canal Maturacá
para nalmente aportar em Maturacá, na sede da AYRCA, às 1730h, após 6h de
navegação (dicas já relatadas). Pernoite no local.
Em nosso caso, seguimos caminhando para o alojamento do 5º Pelotão Especial de
Fronteira (PEF) do Exército, pois, como militar, fomos apoiados pelo Comando da
Brigada de Selva de SGC.
Obs.: a AYRCA ainda não tem condições de alojar um visitante com o mínimo de
conforto em sua sede e muito menos o ICMBio, pois ali não existe um “receptivo" do
PARNA do Pico da Neblina. Nosso contato com a gestora do Parque também não foi
legal – nem se levantou da cadeira para nos receber – não demonstrou interesse pela
nossa empreitada e muito menos pediu que déssemos um “feedback” de como está a
trilha, ao nal da jornada (!!!).
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Dia 02 “dois” (de Maturacá para o Acampamento Irokae)
De manhã bem cedo, embarcamos novamente na voadeira em Maturacá, agora
com destino ao início da trilha na selva. Após 2h de navegação, aportamos às 0930h
dentro da foz do igarapé Tucano. Neste local o piloteiro e proeiro da voadeira se
despendem do grupo, con rmando a data para resgate naquele mesmo lugar.

Início da caminhada em direção ao primeiro pernoite no ACAMPAMENTO IROKAE.


São 7.2 km e 5 h de caminhada em trilha na selva.
Iniciamos ao nível do igarapé Tucano com 92 m de altitude e terminamos o dia
com 134 m, passando por alguns picos de no máximo 141 m de altitude. Uma subida
lenta e tranquila para começar a esquentar os músculos.
A temperatura em outubro de 2019 chegou a 38ºC na trilha, ou seja, beba
bastante água e aproveite os igarapés que cruzar para refrescar a cabeça e corpo (usei a
bandana molhada na cabeça o tempo todo).

Os bastões de trekking foram bem úteis, pois minha mochila pesava mais de
15kg, diferente dos 10kg nas travessias da Trilha Transmantiqueira… A trilha cruzará 2
igarapés grandes onde molhará 100% a bota: tirei a bota de trekking e cruzei usando a
de borracha, que estava do lado de fora da mochila.
Chegamos no ACAMPAMENTO IROKAE depois de 4h de caminhada num ritmo
tranquilo.
O acampamento ca logo após cruzar o segundo igarapé citado e assim que
cruzar, na margem oposta existe um local de pernoite dos yaNoNamis que usam a trilha
para subsistência (caça e pesca), o nosso IROKAE está 50m mais pra frente. Cabem
umas 4 ou 5 barracas (tem que limpar o chão) e o rio para banho e beber água ca do
lado esquerdo da trilha, na direção de deslocamento.

Obs.: ainda existem troncos caídos no leito da trilha que di cultam o caminhar. No
acampamento e nos locais de parada (são sempre os mesmos, é possível sentar, ou tem
um igarapé para se refrescar); muito “lixo" deixado pelos yanoNamis e/ou expedições
anteriores (embalagens plásticas e latas de conserva). Não existe sinalização na trilha.
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Dia 03 “três” (Irokae para Acampamento Bebedouro Novo)
A partir desse dia até a chegada no Pico da Neblina, a rotina foi acordar às 0600h
e começar a caminhar às 0700h. Os yanoNamis acordam mais cedo, cortam lenha e
fazem o café da manhã.
Eles são pontuais e mesmo que algum carregador não esteja pronto para começar
a caminhar, o guia já estará e tocará o ritmo. Nosso próximo destino para pernoite é o
ACAMPAMENTO BEBEDOURO NOVO.

Prepare-se, dia puxado!!! Apesar dos poucos 13.5 km de caminhada, será sempre
uma subida lenta com 740 m de desnível e somado ao ambiente de selva (quente e
abafado) + um terreno com raízes/troncos que te fazem olhar bastante pro chão (até
mesmo torcendo pra não cruzar com uma “surucu pico-de-jaca”), tornam esses 13.5 km
bem longos…
Iniciamos logo de cara com a subida da serra do Tucano com 1.5 km e chegando
no topo com altimetria de 370 m, lembrando que começamos o dia com 134 m.
Durante o caminho, a parada será no local chamado BEBEDOURO VELHO onde
vc deve reabastecer seu cantil (importante!) - a água não é visível da trilha, mas o guia
sabe onde ca, do lado direito do deslocamento; ali é usado apenas para pernoite pelos
yanoNamis que caçam na área
O ACAMPAMENTO BEBEDOURO NOVO chegará depois de 7h a 8h de caminhada
e na altitude de 870 m.

Obs.: essa caminhada é “puxada” e uma sugestão seria diminuir a quilometragem nesse
dia e aumentar a do dia seguinte, procurando um local alternativo para o pernoite. O lixo
continua sendo uma constante nos acampamentos e locais de parada. E a necessidade
de manejo da trilha também. Aqui, o rio estará do lado direito do deslocamento. Não
existe sinalização na trilha.
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DIA 04, do Bebedouro Novo até
o Acampamento da Laje

Dia 04 “quatro” (do Bebedouro Novo ao Acampamento da Laje)


Caminhada curta, teoricamente, menos da metade da quilometragem de ontem,
ou seja, em torno de 5.3km.
Porém, vamos sair dos 850 m de altitude do Bebedouro Novo até os 1.600 m da
Laje.
Serão umas 6hs de caminhada e, sempre subindo…
Até aqui, usei uma bota de trekking “normal”, da marca Salomon, dessas que
usamos nas montanhas (Trilha Transmantiqueira, etc.).
Poucos igarapés para atravessar e não irão molhar sua bota.
E a lama nessa época do ano, também não vai incomodar nesse trajeto de hoje
(outubro de 2019).
Dia 05 “cinco” (do Acampamento da Laje para o Acampamento Base)
Bem, aqui as coisas começam a complicar um pouco, pois o trajeto estará bem
mais difícil de percorrer: lama, água e subindo…
Hora de colocar a “bota sete léguas” de borracha! Vulgo “galocha”.
Serão 3.5 km de pura lama e trajeto bem irregular. Você vai gastar umas 5 a 6
horas de caminhada!
A vegetação da selva muda e caminhamos agora nos campos de altitude, sem a
copa das árvores sobre a cabeça; como estava nublado, o sol não foi um problema e o
clima mais frio amenizou o esforço sentido nos dias anteriores, por causa do calor.
Leito da trilha úmido e molhado: o que signi ca mais lama.

Depois de desmontar a barraca e tomar o café da manhã, troquei de bota: a bota


Salomon foi pra mochila e a “galocha" para os pés, até chegar no cume do Neblina: não
me arrependi em ter carregado essas 900 g por todo esse tempo.
Usei um meião de futebol até o joelho e a calça de trekking por dentro da bota,
como já disse, para proteger a panturrilha da famosa “raspada" da borda da mesma:
tomando este cuidado, nada irá te incomodar. A meia não cará seca, pois a bota “não"
transpira e seu suor vai molhar o interior. Mas a lama e sujeiras carão do lado de fora,
longe dos seus pés.

Usei muito os bastões de trekking para dar força nas subidas (mochila pesada nas
costas), além de facilitar o equilíbrio na hora de escolher o lugar onde colocar os pés no
meio de toda aquela lama (vale a regra de andar nas bordas das poças e pisar nos
galhos que estão lá pra ajudar). Meu amigo estava sem mochila, o yanoNami carregou
para ele, ou seja, estava totalmente leve, sem bastão de caminhada, mas mesmo assim,
eu usaria o “bastão”.

Obs.:
O local onde pernoitamos ao nal do dia, o Acampamento Base, foi a pior área de
camping em todo o trajeto: úmida/molhada, pequena, sem local para banho/banheiro e
com muito lixo. Ali vale um “tubo de dejetos”, o SHIT TUBE, mas duvido que os índios o
usem.

Claro que o banho cou em “segundo plano”: frio e igarapé raso…

Porém, com uma ótima vista para o maciço da Neblina.

Chegamos no local debaixo de chuva.


Conseguimos, depois de uma “terrraplenagem" improvisada, montar 2 barracas para 2
pessoas cada, coladas uma na outra; não cabe mais do que isso. O local precisa de uma
reforma total. Uma equipe grande terá que dormir em redes.
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DIA 06: Base - Pico da
Neblina - Base

Dia 06 “seis” (do Acampamento Base ao Cume, bate-e-volta)


Trajeto curto até o Cume, aproximadamente 3 km de subida (porém bem
cansativo) onde vc vai gastar umas 4 a 5 horas de “escalaminhada”.

Tome um café reforçado e prepare-se para en ar o pé na jaca, digo, na lama, pois


depois da 1h de caminhada, enfrentará o tempo todo um terrível e profundo “charco”,
daqueles do padrão da Infantaria, onde se pisar errado, seu pé/bota, carão presos na
lama, mesmo estando de botas de borracha, portanto, cuidado!
Nesse dia, irá aliviado, sem mochila, apenas com uma de “ataque”, com o
essencial (SPOT, lanterna, GPS, canivete, kit S.O.S. e anoraque). O “lanche” o guia
levará.

Na parada padrão que o guia fará, será a hora de comer o “lanche”.


No percurso mais difícil (a “escalaminhada”), a Federação Gaúcha de
Montanhismo (FGM do nosso amigo já citado) instalou mais de 50 degraus de aço inox e
2 correntes grossas também de aço (vieram da Áustria!) em trechos considerados
perigosos, o que facilitou bastante a subida. Elas estão em ótimo estado!

Chegando no cume, existe um “livro de cume” (assine-o e coloque seus dados,


pois serve para estatística e como controle/segurança de quem passou por ali).
Tem um mastro da Bandeira Nacional e espaço para 3 barracas. Caso esteja
planejado uma visita ao 31 de Março, será necessário pernoitar ali ou sair mais cedo do
Acampamento Base. Arrependo-me de não ter forçado a barra com os yanoNamis na
saída em Maturacá e colocado a visita do 31 de Março no “pacote”...
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Dia 07 “sete” (Base para o Acampamento Bebedouro Novo).
Para o retorno, a equpe sempre “pula” o acampamento da Laje, pra seguir mais rápido
para o m da trilha. Toda descida... o santo ajuda, né ;)

Dia 08 “oito” (Bebedouro Novo para o Acampamento IROKAE).

Dia 09 “nove" (IROKAE para a margem do igarapé TUKANO e depois, para Maturacá).

Dia 10 “dez" (Maturacá para São Gabriel da Cachoeira).

CONCLUSÃO

Normalmente me perguntam se vale a pena a caminhada e sempre respondo que


“caminhar” sempre vale o esforço, ainda mais na direção do ponto mais alto do país e no
bioma da oresta amazônica, melhor ainda. Porém, o valor que está sendo pedido pelas
operadoras é muito alto. Um Parque Nacional tem os seus preços de “entrada”
padronizados nacionalmente. Lá no Neblina, temos uma etnia indígena que habita o local
antes do homem branco chegar e talvez a di culdade da logística envolvida mais o lucro
necessário sejam os responsáveis pela carestia.

Na comparação da imagem satélite do Google Earth com os mapas em preto e


branco, encontrados na Geographical Review, VOL 45/jan 1955, pág 27 a 51, o Sr.
Phelps Jr. participou da expedição do Maguire em 1954, chegando no “summit camp” ao
norte do atual pico da Neblina, no território da Venezuela.

Não encontrei informações nem na revista da Sociedade Geográ ca, nem na


biogra a do mesmo sobre expedições de Phelps Jr. ao local chamado pelos
venezuelanos de “pico Phelps” (que é o nosso Pico da Neblina).
fi
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Pela descrição, as “altitudes" foram inferidas de acordo com a altitude do “summit
camp” que foi tomada usando um “barômetro".

https://portaldemapas.ibge.gov.br/portal.php#mapa16175

h t t p s : / / d o c s . g o o g l e . c o m / l e / d /
0BxUMvuPpLZM4MWFiYWZlODItZmY4Yy00NjVjLTgxMzAtMWY0ZDVhODAxZTQw/
preview?pli=1

https://edsonsorrentino.wixsite.com/cicloviagens/escalada-pico-da-neblina---1988

Pela descrição na citada revista, a expedição do Maguire atingiu no Summit Camp


no nal de 1954 e no início de 1955, em janeiro, o Phelps e sua esposa chegam naquele
acampamento e lá permanecem por 5 dias, coletando espécimes e estudando a
biodiversidade do local.
Não encontrei mais nada a respeito da ida de outras expedições de qualquer país
cientí ca ou não, mais ao sul do Summit Camp, seja no Pico da Neblina seja no 31 de
Março. Acredito que o tal PICO PHELPS observado no mapa abaixo, que o localiza
exatamente no nosso pico da Neblina/31deMarço, seja apenas uma homenagem ao
ornitólogo e não necessariamente foi visitado por ele.
Existe um livro de memórias da esposa do Phelps sobre a expedição de 1954,
mas não está disponível para consultas. Talvez ali encontremos mais informações sobre
o “batismo" de algum pico com o nome do seu marido, falecido antes dela.
https://www.amazon.com/Memorias-misia-Kathy-Expedición-enero-febrero/dp/
9802654469
Os mapas abaixo mostram também o reconhecimento aéreo realizado pelo Maguire,
antes de iniciar a expedição, em 1954.
fi
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fi
https://portaldemapas.ibge.gov.br/portal.php#mapa16175
https://docs.google.com/file/d/
0BxUMvuPpLZM4MWFiYWZlODItZmY4Yy00NjVjLTgxMzAtMWY0ZDVhODAxZTQw/preview?pli=1
https://edsonsorrentino.wixsite.com/cicloviagens/escalada-pico-da-neblina---1988
Luiz Aragão. LUIZARAGAO66@ICLOUD.COM
Militar do Exército (reserva), turma de 1988 da AMAN (Infantaria)
Hobby: caminhar! Atuo como voluntário na Associação da Trilha Transmantiqueira e na Transespinhaço.
Fui chefe do Parque Nacional do Itatiaia por 3 anos (2020, 21 e 22).
Formado em Ciências Biológicas.

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