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Curso de Secagem da Madeira

MÓDULO – 04

10 DEFEITOS NATURAIS DA MADEIRA

A madeira apresenta uma série de fatores que podem causar defeitos nas peças a
serem secas, tais defeitos devem ser esclarecidos buscando o conhecimento técnico
necessário para poder discernir após a secagem se o defeito causado foi pelo processo
empregado ou se é intrínseco à própria madeira.
Dentre os defeitos naturais pode-se destacar os diferentes tipos de nós, a inclinação
da grã (veio), a diferença entre o lenho juvenil e adulto contido em madeiras de rápido
crescimento (pinus e eucalipto), madeira de reação (tração e compressão) e tensões de
crescimento.

10.1 NÓS

O nó é a porção basal de um ramo que se encontra colocado no tronco ou peça de


madeira, provocando nas suas vizinhanças desvios ou descontinuidade dos tecidos
lenhosos gerando inclinação da grã (veio).
A presença de nós prejudica a trabalhabilidade da madeira, podendo provocar
empenamentos, penetração de fungos manchadores e influindo diretamente no valor
comercial da madeira. Isto ocorre normalmente na madeira de pinos, muito utilizada na
região sul. Os nós causam inclinação na grã causando uma contração dos tecidos desigual,
podendo originar defeitos de secagem (rachaduras) que podem ser mal interpretados.

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10.2 GRÃ

A grã indica a orientação geral das fibras. Uma madeira onde as fibras são paralelas
ao eixo de orientação ou paralelas ao eixo longitudinal da peça serrada é considerada de
grã reta (coníferas), e seu comportamento durante a secagem auxilia significativamente na
redução de defeitos como empenamentos e rachaduras. O desvio da grã (inclinada, revessa,
espiralada, etc.) causa redução das propriedades mecânicas interferindo diretamente na
secagem, como exemplo temos a imbuía e o eucalipto, afeta ainda a usinabilidade. O
desvio da grã ocasiona normalmente um embelezamento muito apreciável na madeira,
aumentando seu valor comercial.

10.3 MADEIRA JUVENIL E ADULTA

A diferença entre o lenho juvenil e adulto está na formação dos tecidos que
compõem a madeira, as células juvenis ainda não atingiram formação plena com relação ao
seu comprimento e espessura de parede, influindo significativamente em suas
propriedades.
O lenho juvenil e adulto presentes em madeiras de rápido crescimento (pinus e
eucaliptos) é formada nos primeiros anos de vida variando entre 8 e 11anos em pinus,
envolvendo a medula. Atualmente as serrarias tem utilizado basicamente este tipo de
madeira a qual irá poderá sofrer uma série de defeitos como empenamentos , rachaduras
por apresentar um comportamento anormal durante a secagem.
Os problemas que ocorrem com a qualidade da madeira são oriundos de poucas
características do lenho juvenil, ou seja, baixa densidade, baixa resistência e a propensão
de uma contração mais acentuada. O maior problema esta na contração, causando
desequilíbrio, ou seja, empenamentos apesar da facilidade da secagem.
Os fatores que afetam as propriedades de madeiras de coníferas são similares aos
que afetam as folhosas. Mas o lenho juvenil em folhosas é usualmente desprezível. A
evidência limitante, é que o grau de lenho juvenil em termos de diferenças anatômicas é
sem dúvida menor em folhosas do que em coníferas. A mudança no comprimento de fibras
em folhosas ocorre aproximadamente cerca de 2 vezes, enquanto que em coníferas 3 a 4

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vezes, e também o ângulo fibrilar altera de 28 para 10O em folhosas, enquanto que em
coníferas muda de 55 para 20º

10.4 MADEIRA DE REAÇÃO

O lenho de ração nas folhosas e de compressão nas coníferas, são observados em


madeiras com quantidades excessivas em lenho juvenil devido o rápido crescimento. A
característica anatômica que identifica geralmente o lenho de tração nas folhosas é a fibras
gelatinosa. Na maioria dos casos a ocorrência de um grande número de fibras gelatinosas
concentradas em uma área constitui uma evidência clara da presença do lenho de tração.
O lenho de tração também é identificado anatomicamente pela falta de lignificação
da parede celular e pela presença de uma camada gelatinosa no interior das fibras. Como
consequência destaca-se a elevada instabilidade dimensional, podendo causar sérios
empenamentos reduzindo a trabalhabilidade e a sua resistência mecânica. A tensão de
crescimento está presente em muitas espécies sendo bem maior seu impacto sobre as
folhosas em geral.

10.5 TENSÕES DE CRESCIMENTO

Temos tensões no interior da madeira de diferentes naturezas (acima do PSF e


abaixo). Acima do PSF as tensões capilares são responsáveis quando em condições
extremas podem causar o colapso. Abaixo do PSF as tensões de secagem são responsáveis
pela contração da madeira, se desenvolvem na parede celular em conseqüência do GU em
condições extremas causam defeitos como endurecimento superficial, rachaduras
superficiais e internas e empenamentos diversos.
A tensão pode ser definida como uma força interna resultante de uma aplicação de
carga em um material. Quando as tensões são decorrentes de um processo de secagem da
madeira, estas ocorrem devido a diferenças na magnitude de contrações entre zonas ou
partes adjacentes de uma peça lenhosa.
Na secagem da madeira, se for considerado uma peça extremamente delgada, esta
irá se contrair sem que seja percebido qualquer distúrbio. Entretanto se for uma peça de
maior espessura, provavelmente ocorrerá dificuldades entre a parte interna e externa da

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peça, pois na superfície, inicialmente, ocorrerá uma evaporação mais acentuada, que terá
de ser compensada pela umidade existente no interior da peça
O impacto das tensões sobre a madeira, são aparecimentos de fendas, rachaduras de
topo e rachaduras internas no momento da liberação das tensões na secagem da madeira.
Em alguns casos as árvores podem rachar com o impacto com o sol, durante a sua
derrubada. Outros efeitos são tensionamento e soldagem da serra na hora do corte, e
defeitos da madeira devido as distorções que se desenvolvem durante a serragem e
secagem, normalmente ocorrem em folhosas (eucaliptos).

11 DEFEITOS CAUSADOS PELA SECAGEM INADEQUADA

A anisotropia na anatomia da madeira e seus efeitos visíveis que se apresentam


durante a secagem, são propriedades naturais de todas as madeiras. A madeira é um
produto natural que, devido a sua higroscopicidade, cede ou ganha umidade de acordo com
as condições do meio ambiente que a rodeia.
A secagem da madeira antes de usa-la é indispensável para quase todos os usos. A
madeira sofre durante este processo uma mudança de sua propriedades naturais,
produzindo tensões causando deformações e inclusive rachaduras. Estas visíveis mudanças
de forma se conhecem como defeito de secagem.
Na secagem convencional, o controle na ocorrência de defeitos está quase sempre
ligado à adequação do programa utilizado. A seguir serão apresentados os defeitos mais
comuns desenvolvidos durante a secagem e as respectivas modificações que devem ser
feitas nos programas, a fim de minimizá-los ou mesmo elimina-los.

11.1 EMPENAMENTOS

O empenamento se define como a deformação que experimenta uma peça de


madeira pela curvatura de seus eixos longitudinal, transversal ou ambos. A seguir serão
apresentados os tipos de empenamentos na Figura 22.

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FIGURA 22 – TIPOS DE EMPENAMENTOS QUE OCORREM NA MADEIRA

Encanoamento Arqueamento

Encurvamento
Encurvamento complexo

11.1.1 ENCANOAMENTO

É um tipo de empenamento das peças de madeira quando as arestas ou bordas


longitudinais não se encontram no mesmo nível que a zona central. É reconhecido quando
ao colocar a peça de madeira sobre uma superfície plana, apoiará a parte central da tábua
ficando os bordos levantados, apresentando um aspecto curvo.

11.1.2 ARQUEAMENTO

É um tipo de empenamento ou curvatura no comprimento da face da peça. Se


reconhece quando ao colocar a peça sobre uma superfície plana, se observa uma luz ou
separação entre as faces (largura da tábua) da peça de madeira e a superfície de apoio.

11.1.3 ENCURVAMENTO

É um empenamento no comprimento da peça de madeira. Se reconhece quando ao


colocar a peça de madeira sobre uma superfície plana, se observa uma luz ou separação
entre o canto (espessura) da peça de madeira e a superfície de apoio.

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11.1.4 TORCIMENTO E ENCURVAMENTO COMPLEXO

São tipos de empenamentos que ocorrem tanto no comprimento como na largura da


peça de madeira não se encontram no mesmo plano, se reconhece quando colocar a peça de
madeira sobre uma superfície plana, se observa levantamento de uma das arestas em
diferentes direções.
Os empenamentos normalmente ocorrem durante a secagem, devido a propensão da
própria madeira ou por mal empilhamento ou pela falta de restrição na pilha.

11.2 COLAPSO

Ocorre quando os esforços da tensão capilar excedem a resistência à compressão


perpendicular à grã da parede celular a qual ocorre normalmente quando os meniscos se
movem através das pontoações da parede celular. Pode ser resultado da secagem muito
rápida com elevado teor de umidade na madeira (acima do PSF no início da secagem),
normalmente ocorre em madeiras pouco permeáveis (eucalipto, carvalho, imbuía, etc.). o
colapso pode ser observado na Figura 23.

FIGURA 23 – COLAPSO NA MADEIRA

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As principais causas são:


! Pontoacões pequenas que aumentam a suceptibilidade da madeira ao colapso devido a
geração de elevadas tensões internas..
! Alta tensão superficial do líquido evaporado da madeira.
! Aplicação de elevadas temperaturas superiores a 50 ou 60OC, na primeira etapa de
secagem.
O colapso pode ser interno (favo de mel) e externo. Madeira de cerne é mais
propensa. O colapso pode ser evitado secando lentamente a madeira em temperaturas
normais, até que perda suficiente umidade.
É possível o recondicionamento de madeiras colapsadas, quando não ocorrem
rupturas internas (inicio da secagem), deve-se submeter a carga de madeira a uma elevada
umidade relativa dentro do secador.

11.3 ENDURECIMENTO SUPERFICIAL:

Ocorre quando as capas superficiais da madeira perdem umidade rapidamente


enquanto que o centro da peça permanece ainda úmido. (elevado GU), podendo se
desenvolver danos em sua estrutura (rachaduras) sendo estes um estado inicial do
endurecimento (forças de tração nas partes externas e de compressão nas partes internas).
Este defeito se deve a aplicação de um tempo de secagem reduzido ao iniciar-se o
processo, alta temperatura e grande diferença psicrométrica.
A medida que a secagem avança as camadas internas vão secando até atingir o PSF
começando também a sofrer contração neste ponto as camadas externas são as que se
opõem a contração invertendo os esforços ficando a parte central submetida a tração e a
periferia a compressão. Avançando-se ainda a secagem é criada uma capa muito seca
(endurecimento/encruamento). É detectado quando ao serrar longitudinalmente uma tábua
em peças resultando em curvas para dentro.
O processo de acondicionamento é para diminuir os esforços que ocasionam o
endurecimento é realizado elevando a temperatura e a umidade relativa para aumentar a
elasticidade da madeira e reduzir o gradiente de umidade na fase final da secagem.
Durante o processo de secagem é comum desenvolverem-se tensões de compressão
na superfície e de tração no interior da peça de madeira, causados pelo aparecimento de um
gradiente de umidade ao longo da espessura. Se esse esforços de compressão e de tração

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forem superiores ao limite de proporcionalidade da madeira, pode causar deformações


residuais que permanecem mesmo quando o gradiente de umidade ao longo da espessura é
eliminado. Este fenômeno é conhecido como endurecimento superficial ou encruamento, é
detectado e analisado pelo teste de garfo. Apesar do desenvolvimento destas tensões serem
normais em secagem, quando a madeira se destina ao beneficiamento após a secagem, o
encruamento deve ser removido através do acondicionamento.
O endurecimento reverso ocorre no início do processo de secagem, quando a
madeira se encontra com tensão de tração na superfície e de compressão no interior, sendo
eliminado no decorrer do processo com a reversão das tensões. Entretanto, o
endurecimento superficial reverso pode surgir ao final da secagem quando o período de
acondicionamento for muito longo, tornando-o irreversível. Em ambos os casos o “teste de
garfo” é utilizado para verificar a existência ou não deste tipo de endurecimento. Os
critérios para analisar os resultados do “teste de garfo” são mostrados na Figura 19:
# Se os dentes do garfo arquearem para dentro, a madeira ainda apresenta endurecimento
e o período de acondicionamento deve ser prolongado para as cargas semelhantes da
mesma espécie.
# Se os dentes externos, que estavam arqueados para fora se apresentarem
completamente retos, a carga deverá estar livre de endurecimento. O mesmo período de
acondicionamento deve ser usado para as cargas similares da mesma espécie.
# Se os dentes externos arquearem-se consideravelmente para fora, indicando que a carga
apresenta endurecimento reverso, o período de acondicionamento para as cargas
subsequentes de material de material semelhante deve ser diminuído.

11.4 RACHADURAS DE TOPO E DE SUPERFICIE

As rachaduras na superfície aparecem quando tensões que excedem a resistência da


madeira à tração perpendicular às fibras desenvolvem-se na superfície, devido a uma
secagem inicial muito acelerada que produz diferença acentuada entre os teores de
umidade da superfície e do centro da madeira. Quanto mais espessa for a madeira, maior a
possibilidade do aparecimento de rachaduras superficiais. Este defeito ocorre,
principalmente na fase inicial da secagem e, quando detectado a tempo, pode ser reduzido,

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aumentando-se a umidade relativa dentro da câmara. Isto é conseguido elevando-se a


temperatura do bulbo úmido sem alterar a temperatura do bulbo seco.
As rachaduras de topo são causadas pela secagem rápida das extremidades em
comparação com o restante da peça de madeira, principalmente durante a fase inicial. São
mais freqüentes em peças de maior espessura e podem ser reduzidas aplicando-se o mesmo
procedimento anterior, sendo também recomendada a vedação dos topos das peças com
produtos impermeáveis. Deve-se evitar a ação de corrente de ar muito seco e forte sobre a
madeira úmida. Na figura 24, temos a demonstração do favo de mel (rachadura interna)
(A) e das rachaduras de topo (B).]
FIGURA 24 – RACHADURAS INTERNAS (FAVO DE MEL) E DE TOPO
(A) (B)

11.5 RACHADURAS INTERNAS (FAVO DE MEL)

Aparecem na fase de secagem, quando se desenvolvem a tensões de tração no


interior da peça, estas tensões causam rachadura internas. Esforços associados de colapso e
endurecimento quando severos podem produzir rachaduras internas, sendo percebidos
somente quando serrada transversalmente a madeira. As rachaduras internas são atribuídas
a um controle incorreto do processo de secagem podendo ser evitado por meio da seleção
de um programa de secagem correto. O controle deve ser feito na fase inicial da secagem.
Quando a secagem é muito acelerada, causa desequilíbrio entre as tensões no interior e
superfície da peça produzindo rachaduras internas, observada na Figura 24 (A). Como é
consequência de um endurecimento superficial o lote deve ser detectado a tempo e

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eliminado. Uma vez que já tenha formado as rachaduras não tem mais retorno a madeira já
esta perdida.

11.6 MANCHA QUÍMICA (MANCHA MARROM)

As manchas da madeira podem se produzidas pela ação de fungos ou por alterações


químicas que ocorrem com os extrativos solúveis em água. Ha evidências que os açúcares
e os taninos ambos sujeitos a oxidação, com posterior escurecimento quando expostos ao
calor em presença de oxigênio. O desenvolvimento é favorecido pelos seguintes fatores:
! Intervalo de tempo decorrido entre a derrubada da árvore e seu desdobro, bem como
entre o desdobro e a secagem;
! Extrativos da madeira;
! Condições de secagem.
Com a temperatura os extrativos são solubilizados e transportados para a superfície,
observa-se que a 50oC a coloração era normal, alterando-se para amarelo e marrom escura
quando a secagem era conduzida a 60 e 120oC, respectivamente. Observa-se ainda que a
mancha marrom forma ao utilizar-se altas temperaturas quando o teor de umidade da
madeira encontra-se acima de 40%. Para o controle da mancha marrom recomenda-se:
! Redução dos intervalos de tempo compreendido entre a derrubada e o desdobro e entre
o desdobro e a secagem.
! Uso de altas temperaturas para o bloqueio do processo de formação das manchas,
através da inativação das enzimas envolvidas.
! Utilização de programas de secagem com dois estágios, com temperaturas moderadas
enquanto a madeira encontra-se com teor de umidade acima de 30% e altas
temperaturas a partir desse instante até a umidade final.
! Utilização de tratamentos químicos após o desdobro (azida de sódio – muito tóxico
inibidor enzimático, fluoreto de sódio - 0,4% produto apresentou problemas no
manuseio. A mancha marrom tende a ocorrer mais intensamente em peças mais
espessas e sob temperaturas de secagem superiores).

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FIGURA 25 – MANCHA MARROM

Com e sem a utilização de tratamento

11.7 GRÃ DESIGUAL – “RAISED GRAIN”

Grã aumentada ou desigual refere-se a diferença na grã da madeira do lenho tardio


e do lenho inicial. Uma condição desigual na superfície da madeira e que o lenho tardio é
aumentado sobre o lenho inicial mas não soltando-se. Experimentos indicam que o mínimo
corrugamento da superfície ocorre na madeira que não muda o teor de umidade após ser
maquinizada, usinada. Pode-se observar na Figura 25, defeito de grã solta.

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FIGURA 25 – GRÃ SOLTA EM Pinus spp

11.8 GRÃ FROUXA – “LOOSENED GRAIN”

Ocorre mais frequentemente em coníferas que apresentam o lenho tardio bastante


denso com maior contração e inchamento. A diferença de contração entre o lenho inicial e
tardio poderá causar cisalhamento entre os dois anéis. A ocorrência é agravada pelo uso de
baixa umidade relativa durante o processo de secagem. O esforço da madeira pelo ajuste
impróprio das facas da plaina e a excessiva pressão dos rolos de condução das plainas
podem também causar separação da grã em espécies propensas a este tipo de defeito.

12 REQUISITOS PARA SELEÇÃO DO MÉTODO DE SECAGEM

Ao abordar o tema relativo a seleção do método mais adequado de secagem;


procedimento e tipo de estufa mais apropriada, convém considerar em primeiro lugar que
existem duas formas de secar a madeira: secagem ao ar livre ou secagem artificial.
No Brasil se tem conhecimento de aproximadamente 80 espécies de madeira de uso
comercial as quais apresentam diferentes comportamentos e qualidades. O conhecimento
dos diferentes métodos de secagem aqui apresentados é fundamental para a escolha correta
do método, baseado na necessidade, nas condições de investimento e relacionados com o
uso final levando em consideração os custos envolvidos pelo processo.
Na seleção do processo deve-se levar em consideração:
! Critérios técnicos (madeira `a secar, uso final);
! Custos de secagem;

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! Componentes da secagem (prioridades);


! Equipamento (atinge as condições de secagem?)
! Controle (bom controle para manter o tempo total da secagem)
! Operador( gerente) treinado, podendo:
! Detectar falhas;
! Avaliar falhas;
! Saber alterar programação.
! Programação de secagem (condições de aplicar?).

Os principais fatores que devem ser considerados na seleção do método são:


! Madeira à secar;
! O suo final;
! Infra-estrutura.

12.1 MADEIRA A SECAR

Deve-se considerar algumas variáveis com relação a madeira, como: propriedades


físicas, mecânicas, espessura da madeira, anatomia da madeira, propensão a defeitos, etc.

! Propriedades físicas da madeira


Pode-se observar nos gráficos a influência significativa entre as propriedades físicas
da madeira e seu comportamento na secagem.

0,9 18
0,8 16
Contração Vol. (%)

3 0,7 14
Meap(g/cm)

0,6 12
0,5
10
0,4
0,3 8
0,2 6
0,1 4
0 2
0
Permeabilidade
Facilidade de secagem

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4 7
Anistropia de contração 3,5 6
3

Permeabilidade
5
2,5
4
2
3
1,5
2
1
0,5 1
0 0
Facilidade de secagem Facilidade de secagem

! A espessura da madeira à secar


Quanto maior a espessura maior será o tempo necessário para secagem da madeira,
desde que a madeira não tenha grande propensão de desenvolver defeitos na secagem
pode-se adotar por exemplo uma secagem a alta temperatura para madeiras de pouca
espessura, sem qualquer prejuízo.

! Anatomia da madeira
Alguns elementos da estrutura anatômica da madeira podem afetar
significativamente a secagem podendo causar grandes defeitos como também facilitar a
secagem, por exemplo:
A grã se for reta normalmente irá facilitar a secagem, mas se for cruzada, revessa, a
secagem ficará muito complicada.
A presença de tiloses irá dificultar a secagem da madeira por obstruir o caminho
natural da água (pelos lúmens).
O tecido radial quando for grande irá favorecer o desenvolvimento de rachaduras na
superfície e no interior da madeira.
Parênquima em faixas é uma estrutura fraca propiciando o aparecimento de
rachaduras por apresentar uma secagem diferente entre as faixas geradas pelo tecido
parenquimatico.

! Propensão a defeitos
Espécies chamadas refratárias (eucaliptos, imbuía, etc.) são madeiras muito difíceis
de serem secas por serem altamente susceptíveis ao desenvolvimento de defeitos, devido as

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tensões internas de crescimento, causando o colapso que é um defeito extremamente


severo, além de empenamentos, etc.
A mancha química pode ser causada por fungos manchadores ou pela oxidação dos
extrativos causada pela alta temperatura de secagem. A seiva contendo sais minerais,
amido e extrativos é migrada para a superfície ficando os extrativos por apresentar um
ponto de ebulição alto, na superfície ficando retido abaixo da camada externa a 2 ou 3
milímetros de profundidade, portanto não aparecendo imediatamente, mas somente após o
seu beneficiamento.

12.2 USO FINAL

Quais os requerimentos de qualidade que desejamos ao nosso produto em termos de


empenamentos, rachaduras, etc. Na secagem de pinus de uma polegada pode-se obter
vários tipos de produtos dependendo da qualidade desejada. Na Tabela 05, pode-se
observar as várias maneiras de se obter diferentes produtos a partir de uma mesma matéria-
prima (pinus de uma polegada, verde).

TABELA – 05 QUALIDADE DA MADEIRA EM RELAÇÃO AO MÉTODO DE


SECAGEM

Tempo de Método de Qualidade Uso final


Secagem (hs) Secagem Alcançada Indicado
Baixa qualidade com presença miolo de sarrafeado,
24 Alta temperatura de manchas químicas, embalagens, paletes
rachaduras, etc. construção civil, etc.
Boa Qualidade com poucos Utilizado para móveis em
defeitos; empenamentos, geral, forros, assoalhos,
70 Convencional pequenas rachaduras, sem etc.
manchas, etc.
Excelente qualidade livre de Móveis finos onde o
praticamente todos os defeitos verniz ou a laca podem
120 Baixa temperatura como micro rachaduras evidenciar micro
rachaduras

Infra-estrutura
Deve-se levar em consideração a energia necessária, com relação ao tipo (elétrica
térmica, et.) e quanto será necessário, normalmente a energia é o insumo que mais tem
peso na planilha de custos de secagem. Antes de investir em um projeto é necessário fazer

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um estudo de viabilidade com relação a que tipo de energia é mais viável se vai consumir
lenha ou não, ou combustível, ou energia elétrica. A central de secagem gera problemas
devido a energia necessária. Deve-se verificar as condições de manutenção dos
equipamentos e da estrutura geral da empresa.
Deve-se observar as condições locais com relação ao clima (temperatura, umidade
relativa, velocidade do ar), área disponível, cuidados com relação as leis ambientais
(emissões de gases, ruído, partículas) e a disponibilidade de água, energia, matéria-prima,
vias de acesso, etc.

13 CUSTOS DE SECAGEM

A seleção do sistema e do método de secagem mais apropriado para a aplicação em


escala industrial exige uma análise profunda das implicações de ordem econômica que
podem afetar a rentabilidade da empresa madeireira interessada.
! Do ponto de vista econômico, uma definição sobre o sistema mais apropriado exige
o conhecimento prévio de todos aqueles elementos que determinam os custos,
sendo os mais importantes os seguintes:
! Consumo anual de madeira;
! Tipos de produtos que se elaboram;
! Fontes de energia e calor disponíveis;
! Madeiras utilizadas: espécie, espessura e preço;
! Tempo de secagem;
! Giro do capital;
! Perda de madeira na secagem;
! Mão de obra requerida;
! Investimento em equipamento e materiais.

Uma análise conjunta desses fatores fornecerá os subsídios necessários para a


tomada de decisão sobre o método mais conveniente.
Os fatores que devem ser levados em consideração para a análise dos custos de
secagem são:
! Investimento inicial (R$);

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