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Universidade Federal de São João Del Rei Campus Dom Bosco - UFSJ

Leonardo Érick de Andrade

O Fetichismo e a Globalização
- De pés a Furries e Ero Guro -

São João Del Rei


2022
Leonardo Érick de Andrade

O Fetichismo e a Globalização
- De pés a Furries e Ero Guro -

Orientador: Gustavo Leal Toledo

São João Del Rei


2022
Bibliografia:

https://scholarship.richmond.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1014&context=osmosis#:~:text
=The%20conditioning%20model%20theorizes%20that,paired%20with%20sexually%20explicit
%20photographs.

https://en.wikifur.com/wiki/History

https://mangaplanet.com/what-is-guro/
De onde vem os fetiches? Quando exatamente eles são mais proeminentes a se formar?
Como o conteúdo ao qual somos expostos hoje em dia pode alterar nossos gostos?
Certamente fetichismo é um campo bastante abrangente, logo, é difícil, para não dizer
quase impossível, explicar a cadeia de eventos das quais condicionam as pessoas a
apreciarem certas coisas mais... inusitadas de forma pornográfica por entrar numa área
completamente subjetiva do cérebro humano, mas é possível teorizar em cima de muita
coisa. Começando obviamente pelo começo, a definição mais cientifica de fetiches pode
ser descrita como a gratificação sexual ao nível anormal tendo como foco algum objeto,
comportamento, roupas ou partes do corpo específicas. Um fetiche não é
necessariamente ligado a algum distúrbio mental, pois aqui vamos considerar apenas
relações consensuais entre adultos responsáveis, tendo isso em mente podemos discutir
aonde isso começa.

Apesar de ser uma área de estudos não muito explorada até para hoje, existem duas
teorias principais para o surgimento dos fetiches, a primeira é uma explicação mais
biológica, ambas expostas no artigo “The Science of Fetishes” por Adriana Grimes. No
artigo a autora introduz a primeira das explicações como uma teoria mais biológica, ela
diz que no cérebro existem partes responsáveis pela manutenção de certas partes do
corpo e que a parte ativada pelos estímulos dos genitais é adjacente a parte responsável
pelos pés, então é teorizado que algumas pessoas possam sofrer de trocas de neurônios
entre ambas as partes levando a podolatria, isso também explicaria porque esse é um
dos fetiches mais comuns de se ter. A segunda teoria vem de uma explicação mais
psicológica, nela são apresentadas duas formas de formação de fetiches, ambas ligadas a
infância, nós temos o condicionamento e o trauma. Testes foram feitos com homens
para ver se era possível que eles sentissem atração sexual em relação a objetos não
sexuais, por exemplos, colocar fotos de objetos ao lado de imagens com conteúdo
sexual, nos resultados viram que alguns homens podem, sim, obter ereções através de
objetos que não estavam primariamente ligados a atos sexuais. Já no caso do trauma
podemos considerar as experiências traumáticas das quais as pessoas passaram durante
a infância e adolescência como o gatilho para os gostos no futuro, sejam essas
experiências, emoções não resolvidas, abusos ou casas que restringem as experiências
sexuais daqueles em crescimento.

Ambas as teorias não possuem tanta credibilidade cientificamente, visto que, muitas
pessoas mesmo passando por experiências traumáticas parecidas e condicionamentos
não possuem nenhum fetiche ao menos relacionados a essas experiências. Há também a
falta de estudos e experimentos o bastante nessa área para teorias mais aprofundadas a
esses assuntos, logo, mais pesquisas são necessárias para que afirmações mais concretas
sejam tiradas dessa área.

Saindo do campo da explicação e adentrando o campo de fetiches especificamente,


escolhi dois bastante proeminentes nos últimos anos e que sempre são alvos de
discussão, especificamente se entram na área de distúrbios mentais ou são só mais um
dos fetiches mais inusitados por aí considerando que não existe uma definição muito
específica para definir isso, sem mais delongas comecemos com o mais simples e
popular dos dois, o furry.

Não pretendo me aprofundar muito no assunto, mas o que conhecemos como furry
fandom atualmente são pessoas que utilizam pseudônimos e personagens originais,
sendo eles animais antropomórficos chamados popularmente e fursona para se
expressar. O jeito mais fácil de reconhecer essas pessoas são pelas roupas que
geralmente são as famosas fursuits, fantasias de tamanho real dos personagens originais
dessas pessoas. Hoje em dia esse tipo de fantasia é vista de forma comum em grandes
festivais de cosplay, cultura pop e eventualmente em encontros específicos pra esse tipo
de coisa. Os primeiros registros de uma formação da qual temos hoje para esse tipo de
pessoa começa em meados dos anos 80 com a proeminência de filmes da Disney com a
temática de animais antropomórficos e posteriormente em videogames e quadrinhos a
partir dos anos 90, principalmente após a explosão da produção de quadrinhos e
animações independentes no fim da década de 90. Como é possível perceber na época
essa fandom não era conhecida pelo fetichismo e pornografia tal qual hoje em dia, tanto
que, sempre houveram movimentos dentro da própria para o banimento de qualquer
conteúdo sexual relacionado ao movimento, porém decaindo até aproximadamente
inicio dos anos 2000. Deixando de lado qualquer debate moral acerca do conteúdo
pornográfico em cima do movimento furry, é possível observar que hoje em dia a arte e
mídia com temática de animais antropomórficos vem se espalhando com mais força
ainda, filmes como Zootopia e Sing. Feitos pela Disney e Pixar são sucessos mundial,
jogos como Sonic e até Pokémon com personagens que beiram mais formas mais
antropomórficas e muitas vezes adotadas na furry fandom, estão se mantendo mais
populares do que nunca e não apenas no ocidente, existe todo um movimento e estilo de
arte específico no oriente chamado de KemoFur e mangás e animes especializados nesse
tipo de conteúdo, Brand New Animal, Beastars, etc. Com o advento da globalização e
do quão fácil é ter acesso a uma quantidade absurda de informação esse movimento vem
aumentando e se espalhando rapidamente pelos meios de mídia, com informações
suspeitas e debates acerca da moralidade e se há ou não indícios de parafilia no
conteúdo +18 proporcionado acerca disso.

De forma independente busquei alguns relatos acerca de como essas pessoas entraram
no meio furry, apesar de poucos dados coletados a resposta era sempre mais ou menos a
mesma para todos que resolveram dar seu depoimento. Geralmente a porta de entrada
seria por meio de ficção, obviamente, muitas vezes videogames, mas principalmente
animações da Disney e Hanna Barbera com animais antropomórficos. É comum que
tenhamos um certo fascínio por figuras ficcionais como monstros, fadas e outras
criaturas, mas é uma discussão nebulosa, levando a uma fixação tão específica como a
vista no caso do movimento furry, seria possível correlacionar com as teorias do trauma
e condicionamento durante a puberdade, mas essas teorias tem suas falhas, logo é
necessário um estudo num âmbito mais social e mais amplo para chegar a conclusões
mais concretas.

Em relação ao outro tópico relacionado a fetiches nos temos o Ero Guro, um movimento
de arte e música japonês que tem como tema o gore, degradação e corrupção sexual

nascido nas décadas de 1920 e 1930 no Japão. A palavra Ero Guro (エログロ) vem da

junção entre Erotic and Grotesque do inglês e essa vertente especifica do movimento
Guro da ênfase a corrupção sexual e ao declínio da moralidade em suas obras. O Japão
já tinha resquícios de artes retratando mortes e torturas brutais no século XIX chamadas
de Muzan-e, mas o fascínio real dos japoneses com o Ero Guro nasce em 1920 com o
interesse dos artistas por tópicos de depravação sexual na época, todavia o movimento
acaba sendo abafado por leis de censura durante todo o período da guerra. Um dos
incidentes mais controversos em relação ao movimento Ero Guro foi a morte de Ishida
Kichizo pelas mãos de sua parceira e amante Abe Sada, ao estrangular seu amante e
arrancar seus genitais fora para assim poder carregar-los por aí. O mais curioso de tudo
é que após o crime ao invés de sofrer punições Abe acaba sendo vangloriada e tendo a
permissão e escrever sua própria biografia com adaptações posteriormente. Após o fim
da segunda guerra em meados de 1940 o estado japonês relaxa as leis em relação à
censura, o movimento volta com mais força e durantes 1960 e 1970 também. O
movimento sempre foi alvo de críticas, a principal sendo a de que isso causaria o
declínio da moralidade e da sociedade se continuasse a ser incentivado.

Esse é um caso mais complicado, pois como é possível perceber já era um movimento
controverso e mesmo para hoje incrivelmente underground, mas mesmo assim é
possível ver que algumas pessoas conseguem transformar em algum tipo de fetiche. No
fim das contas, para ser possível analisar de onde vem exatamente esses movimentos e
desejos é necessária uma quantidade aterradora de pesquisa no campo mais sexual e
social da psicologia e filosofia, logo há a impossibilidade de tirar quaisquer afirmações
concretas acerca do quão ético é adentrar nisso ou a que nível é possível considerar uma
parafilia.

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