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HISTÓRIA
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História Integrada FRENTE 1

HISTÓRIA AD
MÓDULO 1 Das Diásporas Gregas a Esparta
1. A Geografia da Grécia entre si. Além disso, a existência de
um litoral bastante recortado e as
A Grécia é um país da Europa lo- numerosas ilhas do Mar Egeu,
calizado ao sul da Península Balcânica. bastante próximas entre si, orientaram
O território grego é cortado ao meio a vocação marítima dos gregos,
pelo Estreito de Corinto, que separa a facilitando o contato com os povos do
Grécia Continental, ao norte, da Penín- mundo exterior.
sula do Peloponeso, ao sul. As duas O clima da Grécia é muito seco,
regiões são bastante montanhosas, com chuvas raras, tendo poucas áreas
sendo a vida na Grécia determinada férteis. Desta forma, a pecuária teve
por duas regiões distintas: a montanha um papel importante na economia. A
e a orla marítima. agricultura era praticada nos vales e
As montanhas dificultavam as co- nas encostas das montanhas,

FÍSICA A
municações entre as planícies e os representada pelo cultivo do trigo,
pequenos vales férteis, fragmentando cevada e, principalmente, de vinhas e
o território em numerosas comuni- oliveiras. As principais cidades-Estado da Grécia Antiga,
dades, completamente independentes destacando-se Esparta, na Península do Pelopo-
neso, e Atenas, localizada na Península da Ática.

2. A Cidade-Estado Grega

A história da Grécia Antiga carac-


teriza-se pela presença da cidade-
Estado (pólis). Havia ao todo cerca de
160 cidades-Estado na Grécia, todas
elas soberanas, com destaque para
Atenas e Esparta. A independência
dessas cidades resultou de vários
fatores: o relevo montanhoso, que difi-
cultava as comunicações terrestres; o
litoral recortado e as numerosas ilhas
existentes no Mar Egeu, que estimu-
lavam a navegação; a ausência de uma
base econômica interna sólida, que
poderia aglutinar os gregos em um Es-
tado-nação. Contudo, os gregos pas-
saram por um processo de dispersão
que os levou a fundar numerosas colô-
nias no litoral do Mediterrâneo e do
Mar Negro. Essas colônias vieram a
tornar-se outras tantas cidades-Estado,
de forma que não se estabeleceu uma
unidade política entre elas. Entretanto,
como havia unidade cultural
(identidade de língua, etnia, religião e
costumes), podemos falar em um
Mundo Grego, mas não em um Impé-
A chegada dos dórios à Península Balcânica (A) provocou a primeira diáspora (B) grega. rio Grego.

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3. O Período Homérico pansão vitoriosa sobre a Planície A Constituição e a organização po-


(Sécs. XII a.C. a VIII a.C.) Messênia; os messênios foram re- lítica eram praticamente imutáveis,
duzidos à condição de escravos. Esse pois eram atribuídas à lendária figura
Trata-se de um período conhecido
HISTÓRIA AD

fato promoveu profundas alterações de Licurgo, personagem histórica que,


principalmente por causa de dois poe- na estrutura econômica e fundiária de por ter um caráter divino, imprimia es-
mas atribuídos a Homero: a llíada, que
Esparta. As propriedades coletivas sa divinização às normas por ele cria-
trata da guerra e destruição de Troia, e
desapareceram, cedendo lugar a uma das.
a Odisseia, sobre as viagens de
vasta propriedade estatal, denomi-
Ulisses.
nada de terra cívica — as terras cen-
Nessa época, os gregos viviam em
pequenas comunidades agrícolas trais e mais férteis da planície. Essas
autossuficientes — os genos —, cujos terras foram divididas em cerca de
membros eram aparentados entre si e 8.000 lotes, que foram distribuídos
obedeciam à autoridade de um pater aos guerreiros dórios, detentores da
familias. A propriedade da terra era co- posse útil da terra cívica. Recebiam
letiva. O sistema gentílico desintegrou- também cerca de seis escravos para
se quando o crescimento demográfico realizar os trabalhos. As terras perifé-
tornou insuficiente a produção dos ricas foram divididas entre os aqueus,
genos. Os parentes mais próximos do que detinham a propriedade privada
pater familias (os eupátridas) apropria- sobre a terra, podendo vendê-la ou
ram-se das terras, transformando-as dividi-la.
em propriedade privada; quanto aos
parentes mais afastados, estes se Sociedade
transformaram em camponeses sem A conquista da Planície Messênia Organograma político e social de Esparta, que
terra ou então emigraram. Separando- promoveu uma reestruturação social concedia todos os privilégios para a minoria
se dos camponeses, os eupátridas espartíata.
em Esparta. Basicamente, após a con-
passaram a morar em locais for-
quista da Planície, a sociedade era
tificados que, com o correr do tempo
composta de espartíatas (cidadãos e Com o processo de conquista da
e o desenvolvimento do comércio, de-
guerreiros de origem dória, que cons- Planície Messênia concluído no sé-
ram origem às pólis (plural de pólis).
tituíam a camada social superior e culo VII a.C., as transformações políti-
4. O Militarismo de Esparta recebiam educação militar), periecos cas foram proporcionais às mudanças
(aqueus, habitantes da periferia, que, socioeconômicas. O governo passou
Esparta localizava-se na região da apesar de serem homens livres, não por uma transformação conservadora
Lacônia, que ocupava a parte sudeste eram considerados cidadãos) e hilotas e mais uma vez essas alterações
da Península do Peloponeso, ao extre- (escravos). A sociedade era estamen- foram atribuídas a Licurgo. Esparta
mo sul da Grécia, sendo uma das pri- tal, rigidamente hierarquizada e sem
adotou a oligarquia como forma de
meiras cidades-Estado a surgir na mobilidade social.
governo. A antiga Gerúsia passou a
Grécia. Foi fundada pelos dórios, por
volta do século lX a.C., após a monopolizar o poder e, nesse mo-
Política
submissão dos aqueus. mento, compunha-se de 28 gerontes
Até o século Vll a.C., a legislação
de Esparta — Grande Retra — estabe- (cidadãos com mais de 60 anos), com
Economia lecia que o governo deveria ser exer- poderes vitalícios. O Poder Executivo
Durante o Período Homérico, os cido por dois reis (diarquia), por um passou a ser exercido pelos éforos,
dórios vivenciaram o sistema gentílico, conselho e por uma assembleia. A su- cinco magistrados escolhidos pelos
como as demais regiões da Grécia. cessão ao trono era hereditária e duas gerontes, com o mandato de um ano.
Nesse período, as terras que haviam famílias dividiam o poder: os Ágidas e A antiga Ápela aprovava as leis
sido conquistadas aos aqueus foram os Euripôntidas. O Conselho, denomi- apenas por aclamação, correspon-
distribuídas entre os guerreiros, que as nado Gerúsia, era formado pelos dendo, nesse contexto, a um órgão
trabalhavam coletivamente, sob um homens idosos e tinha um caráter ape- formal de decisões políticas, de ca-
regime patriarcal. nas consultivo. A Assembleia, Ápela, ráter meramente consultivo. A diar-
No século Vll a.C., em razão da era o órgão mais importante, e os cida- quia continuou a existir, mas os seus
escassez de terras e do crescimento dãos tomavam as decisões finais so- poderes políticos foram esvaziados,
da população dória, teve início a ex- bre todos os assuntos. restando-lhe o exercício do poder sa-

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cerdotal e as atribuições militares. 5. Cronologia


O caráter conservador de Esparta
resultou da preocupação da mi- 2.000 a.C. – Os aqueus começam a chegar à Grécia.

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noria espartíata em manter a 1700 a.C. – Começam a chegar os eólios e jônios.
maioria hilota subordinada. Daí o 1400 a.C. – Destruição da cidade cretense de Cnossos pelos aqueus.
militarismo do estamento domi- 1200 a.C. – Invasão da Grécia pelos dórios.
nante, a xenofobia (aversão ao Século IX a.C. – Fundação de Esparta.
estrangeiro) e o laconismo (forma
809 a.C. (?) – Possível data da elaboração da Grande Retra.
sintética de expressão), que sufo-
Século VIII a.C. – Primeira Guerra da Messênia.
cavam o surgimento de ideias e
restringiam o espírito crítico. Século VIl a.C. – Segunda Guerra da Messênia.

1. (UNICAMP-2021) – “Milhões de mulheres vivem algumas frustações b) O episódio citado na Odisseia pode remeter ao patriarcalismo,
derivadas de mecanismos que as silenciam e que as afastam dos centros ainda hoje presente na maioria das sociedades contem-
porâneas, em uma manifestação do autoritarismo patriarcal que
de poder. O mundo dos antigos gregos e romanos pode nos ajudar a
se vem prolongando ao longo dos séculos, desde os tempos
compreender a construção desses mecanismos. Na fundação da tradição pré-históricos.

FÍSICA A
literária ocidental temos o primeiro exemplo registrado de um homem
mandando uma mulher “calar a boca”. Refiro-me à Odisseia de Homero,
escrita há quase 3 mil anos. Tendemos, hoje, a pensar na Odisseia
apenas como a épica história de Ulisses e seu retorno para casa após a
Guerra de Troia. Mas a Odisseia é também a história de Telêmaco, filho
de Ulisses e Penélope. É a história do seu crescimento, e de como, ao
longo do texto, ele amadurece, passando de menino a homem. Esse
processo surge no primeiro livro do poema, quando Penélope desce de 2. “A partir dos sete anos as crianças do sexo masculino eram entre-
seus aposentos e vai ao grande saguão do palácio, onde um poeta se gues ao Estado para sua educação: da gramática só aprendiam o
apresenta perante a multidão; ele canta as dificuldades encontradas pelos necessário para as necessidades correntes; todo o resto da instrução
heróis gregos ao voltar para casa. A música não a agrada, e ela, diante de tendia a que fossem obedientes, resistentes à fadiga, vencedores nos
todos, pede-lhe que escolha outro tema, mais feliz. Nesse momento, combates.”
intervém Telêmaco: “– Mãe, volte para seus aposentos e retome seu (Plutarco. “Vida de Licurgo”, In: Gustavo de Freitas. 900 Textos e
próprio trabalho, o tear e a roca. Discursos são coisas de homens, de Documentos de História. Lisboa: Plátano, 1977, p. 73.)
todos os homens, e minhas, mais que de qualquer outro, pois meu é o
poder nesta casa.” A respeito da sociedade e da cultura espartana, podemos entender
(Adaptado de Mary Beard, Mulheres e Poder. a) que seu objetivo era integrar uma grande evolução espiritual e
São Paulo: Planeta. 2018. cultural ao caráter militar.
Edição do Kindle: de Posição 51, 52, 63 e 64.) b) que a guerra e o militarismo não eram o objetivo comum, e sim
apenas da elite, sendo que a totalidade dos espartanos eram
Com base na leitura atenta do texto e em seus conhecimentos, prejudicados por ela.
responda às questões. c) que o objetivo de seu militarismo era manter a população de hilotas
a) Explique um papel social atribuído ao universo masculino e outro (escravos) sob controle e evitar ataques externos.
atribuído ao universo feminino na Antiguidade Clássica. d) que combatiam a prática da xenofobia, da kriptia, do laconismo e do
b) De acordo com o texto, por que a Odisseia pode ser revisitada para militarismo.
a compreensão do mundo contemporâneo? e) que buscavam a integração com o conjunto da comunidade helênica,
mas com uma certa superioridade militar.
RESOLUÇÃO:
a) Papel social atribuído ao universo masculino: tratar dos RESOLUÇÃO:
assuntos políticos, militares e outros relacionados ao Com a conquista da fértil e populosa planície da Messênia, os
funcionamento da pólis. Papel social atribuído ao universo espartanos se viram às voltas com uma quantidade excessiva de
feminino: cuidar dos assuntos domésticos e da educação dos escravos e com a consequente possibilidade de revoltas. Esse
filhos, dentro de uma estrutura em que a autoridade máxima aspecto, aliado ao fato da posse de terras férteis pela elite, quando
da casa é o pai ou, na falta deste, o filho. Daí a autoridade a maioria dos gregos não as possuía, era um elemento de perigo,
demonstrada por Telêmaco em relação a sua própria mãe, conduzindo ao militarismo xenófobo.
durante a ausência de Ulisses. Resposta: C

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3. (FUVEST-2021) – Leia o texto RESOLUÇÃO:


“A corrupção nos costumes das mulheres é ainda uma coisa Considerando que o mito precede a História, esta não se relaciona
com ele, por ser essencialmente temporal, contrastando com a
prejudicial ao fim que se propõe o governo, e à boa conservação das
atemporalidade do pensamento mítico.
leis do Estado [...] É o que aconteceu em Esparta [...]. Tais são as
HISTÓRIA AD

observações feitas entre os lacedemônios: no tempo da sua dominação Obs.: o autor deveria ter usado como referência a Ilíada, e não a
Odisseia, pois a primeira é abundante na descrição de heróis e suas
as mulheres resolviam todas as questões. De resto, que diferença existe
mortes gloriosas, ao passo que a segunda narra as aventuras de um
em que as mulheres governem, ou que os magistrados sejam "herói" cuja principal qualidade é a astúcia, que o faz sobreviver
governados por mulheres? [...] As mulheres dos lacedemônios, mesmo incólume a uma série de perigos.
no caso de perigo, fizeram-lhes o maior mal possível”. Resposta: D
(Aristóteles, A política. p. 79-80.)

É correto afirmar sobre as mulheres na Grécia Antiga:


a) obtiveram direitos à educação e acesso às escolas filosóficas da
cidade-estado de Atenas durante o período Clássico.
b) Em Esparta, recebiam educação física na infância, tinham direito à
herança e administravam as propriedades na ausência dos maridos.
5. (PUCCAMP) – Considere o texto abaixo.
c) Adquiriram poderes políticos como cidadãs, apenas com o
“Do ponto de vista territorial, uma pólis se divide em duas partes: a
estabelecimento do Império Macedônico, sob a liderança de
acrópole [...] e a ágora [...]. No entanto, se perguntássemos a um grego
Alexandre Magno.
da época clássica o que era a pólis, provavelmente esta não seria sua
d) Em Atenas, podiam participar de algumas discussões na Eclésia e
definição: para ele a pólis não designava um lugar geográfico, mas uma
possuíam direitos políticos durante o período da Democracia.
prática política exercida pela comunidade de seus cidadãos. [...] Se no
e) Tornaram-se legisladoras e integrantes do Conselho dos mais velhos
caso da pólis o conceito de cidade não se referia à dimensão espacial da
na cidade-Estado de Tebas.
RESOLUÃO: cidade e sim à sua dimensão política, o conceito de cidadão não se
O caráter militarista das instituições espartanas fazia com que os refere ao morador da cidade, mas ao indivíduo que pode participar da
espartíatas (estamento aristocrático predominante), dos vinte aos vida política.”
sessenta anos, estivessem praticamente imersos nas atividades
militares e eventualmente políticas. Tal peculiaridade fez com que (Raquel Rolnik. O que é cidade. In: Nicolina L. Petta e A. B. Ojeda.
as mulheres dessa camada social assumissem funções que, em
História, uma abordagem integrada. São Paulo: Moderna, p. 17)
outras formações sociais, seriam exercidas pelos homens.
Resposta: B
O conhecimento histórico e o texto permitem afirmar que na Grécia
Antiga
a) a cidadania, direito de participar da vida pública, atingia todos os
habitantes da maioria das cidades-Estado.
b) o equilíbrio de poderes presente nas cidades-Estado evitou a
ocorrência de conflitos sociais.
4. (UNESP-2020) – “A Odisseia choca-se com a questão do passado. c) a lei era o resultado de discussões entre os representantes da
Para perscrutar o futuro e o passado, recorre-se geralmente ao adivinho. cidade-Estado e definia o direito dos cidadãos.
Inspirado pela musa, o adivinho vê o antes e o além: circula entre os d) a soberania dos cidadãos dotados de plenos direitos era fundamental
deuses e entre os homens, não todos os homens, mas os heróis, para a existência da cidade-Estado.
preferencialmente mortos gloriosamente em combate. Ao celebrar e) o direito à cidadania e a organização política possibilitaram a criação
aqueles que passaram, ele forja o passado, mas um passado sem da democracia em todo o país.
duração, acabado.”
RESOLUÇÃO:
(François Hartog. Regimes de historicidade: O conceito de cidadania foi uma das maiores conquistas da
presentismo e experiências do tempo, 2015. Adaptado.) civilização grega, que mais tarde iria inspirar , mesmo que de forma
referencial apenas, o conceito contemporâneo de cidadania. Cabe
salientar que a cidadania ateniense era limitada aos homens, livres,
O texto afirma que a obra de Homero
maiores de 21 anos e atenienses natos para prática do exercício
a) questiona as ações heroicas dos povos fundadores da Grécia Antiga, político. Eram excluídos da cidadania escravos, metecos
pois se baseia na concepção filosófica de physis. (estrangeiros), mulheres e menores de 21 anos. Já para os espar-
b) valoriza os mitos em que os gregos acreditavam e que estão no tanos a cidadania era limitada aos homens do estamento
fundamento das concepções modernas de tempo e história. espartíata, com mais de 30 anos e guerreiros.
Resposta: D
c) é fundadora da ideia de história, pois concebe o passado como um
tempo que prossegue no presente e ensina os homens a
aprenderem com seus erros.
d) identifica uma forma do pensamento mítico e uma visão de passado
estranha à ideia de diálogo entre temporalidades, que caracteriza a
história.
e) desenvolve uma abordagem crítica do passado e uma reflexão de
caráter racionalista, semelhantes à da filosofia pré-socrática.

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MÓDULO 2 Atenas e Período Clássico

1. Economia

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Atenas localizava-se na Ática — pe-
nínsula pouco fértil —, o que restringia
a prática da agricultura nos vales e en-
costas mais favoráveis. A proximidade
entre a cidade e o Porto de Pireu impul-
sionou o comércio marítimo e, conse-
quentemente, incentivou a indústria de
cerâmica e a agricultura de exportação
(vinho e azeite). Graças a esses fatores,
a economia ateniense estabeleceu uma
relação dinâmica com o mercado
externo, e a cidade tornou-se o centro
mercantil do Mar Egeu. Muitos
Ruínas da Eclésia, em Atenas.
elementos das camadas pobres da
população participaram da Diáspora dispor dos instrumentos adequados se só na assembleia dos deuses, se as

FÍSICA A
Grega, fixando-se em colônias. A conse- se deseja levar a cabo sua obra. Os lançadeiras tecessem sós e os plectros
quente escassez de mão de obra, tanto instrumentos podem ser animados ou tocassem sozinhos a cítara, os maes-
para a lavoura como para a indústria da inanimados – por exemplo: o timão do tros não necessitariam de ajuda, nem
cerâmica e da construção naval, fez que piloto é inanimado; o vigia, animado de escravos ou amos.
Atenas e outras cidades importassem (pois o subordinado faz as vezes de O que é chamado habitualmente
escravos. Dessa forma, a Grécia veio a instrumento nas artes). Assim, tam- de instrumento, o é de produção, en-
tornar-se a primeira civilização da Anti- bém os bens que se possui são um quanto os bens são instrumentos de
guidade que institucionalizou o escra- instrumento para a vida, a propriedade ação; a lançadeira produz algo à parte
vismo, fazendo dele seu modo de em geral, uma multidão de de seu funcionamento enquanto a rou-
produção. A escravidão foi defendida instrumentos; o escravo, um bem ani- pa ou o leito produzem apenas seu
pelo filósofo Aristóteles. mado, é algo assim como um instru- uso. Além disso, como a produção e a
Para ele, a propriedade é uma mento prévio aos outros instrumentos. ação diferem essencialmente e ambas
parte da casa e a arte aquisitiva, uma Se todos os instrumentos pudessem necessitam de instrumentos, estes
parte da administração doméstica, já cumprir seu dever obedecendo às apresentam necessariamente as
que sem as coisas necessárias são im- ordens de outro ou antecipando-se a mesmas diferenças. A vida é ação, não
possíveis a vida e o bem-estar; na ad- elas, como contam das estátuas de produção, e por isso o escravo é um
Dédalo ou dos tridentes de Hefesto, subordinado para a ação.
ministração doméstica assim como
do que diz o poeta que entravam por si Do termo propriedade, pode-se
nas artes determinadas, é necessário
falar no mesmo sentido que se fala de
parte: a parte não somente é parte de
outra coisa, senão que pertence total-
mente a esta, assim como a proprieda-
de. Por isso, o amo não é do escravo
outra coisa que amo, como lhe
pertence por completo. Disso se de-
duz claramente qual é a natureza e a
função do escravo: aquele que, por
natureza, não pertence a si mesmo,
senão a outro, sendo homem, esse é
naturalmente escravo; é coisa de outro
aquele homem que, a despeito da sua
condição de homem, é uma proprie-
As lutas pela hegemonia sobre a Grécia Antiga destruíram a essência do Mundo Helênico: as dade e uma propriedade sendo, de
cidades-Estado. Exaustas, elas não puderam resistir à expansão dos habitantes do Norte, iro- outra, apenas instrumento de ação,
nicamente considerados inferiores pelos gregos: tratava-se dos macedônios, que iriam construir um
bem distinta do proprietário.
dos maiores impérios da Antiguidade.

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2. Sociedade
Inicialmente, a sociedade ate-
niense (como, aliás, as demais so-
HISTÓRIA AD

ciedades gregas) dividia-se em


eupátridas (aristocratas proprietários
das melhores terras), demiurgos (ar-
tesãos e comerciantes), georgóis
(pequenos proprietários rurais) e
thetas (camponeses sem terra e tra-
balhadores marginalizados).
Imaginemos um camponês grego.
Como os humildes de todas as
épocas, levantava-se cedo, antes do
romper da aurora. Na penumbra da
manhã, procurava as estrelas... Sau-
dava o sol nascente, atirando-lhe um
beijo, como saudava a primeira an-
dorinha ou o primeiro milhano... Mais
do que o sol, desejava a chuva e, por As alianças das cidades-Estado e as guerras de hegemonia que fragilizaram o Mundo Grego.
vezes, a frescura. Contemplava o mais
alto cume das imediações, por vezes Os eupátridas, que constituíam a Areópago. O antigo rei teve seu poder
coroado de nuvens, porque lá em cima, camada social dominante, eram os e função reduzidos às tarefas sacerdo-
no topo da montanha, residia Zeus, o grandes proprietários de terras nas tais, tornando-se mais um entre os ar-
deus que juntava as nuvens, lançava o planícies, nas quais trabalhavam os contes. Os arcontes — membros do
raio, concedia a chuva. Era um grande escravos, rendeiros e assalariados. Os Arcontado — eram escolhidos ini-
deus... O ribombar do trovão era o sinal pequenos agricultores eram deno- cialmente para um período de dez
do seu poder e da sua presença, por minados georgóis. Suas propriedades anos; posteriormente, o poder foi
vezes, da sua cólera. eram pouco férteis e, com a in- reduzido apenas para um ano. Além
A própria linguagem oferece tes- tensificação do comércio, não tiveram do rei, havia o arconte Polemarco, en-
temunho da força das crenças deste condições de competir com as im- carregado do comando do Exército; o
povo. Os gregos não diziam “chove” portações. Muitos, ao pedir emprés- arconte Epônimo, encarregado dos
ou “troveja”, mas “Zeus chove”, timos aos eupátridas, perderam a terra assuntos internos; os arcontes Tesmo-
“Zeus troveja”. tetas, que, em número de seis, cui-
que fora dada como forma de pa- davam da legislação.
Mais tarde, com a expansão das gamento, transformando-se em ren-
atividades marítimas, os mercadores
deiros; outros colocaram seu próprio Os legisladores
tornaram-se uma classe bastante
corpo como garantia da dívida, re- Em meio a uma violenta crise,
próspera e rival dos eupátridas.
duzindo-se à condição de escravos. Os marcada pela força das camadas po-
3. Política thetas compunham a camada de mar- pulares, a oligarquia recuou e foi obri-
ginalizados sociais. Os artífices e gada a fazer concessões. Surgiram,
A organização
artesãos eram denominados demiur- assim, os legisladores, com a finali-
primitiva de Atenas
gos e constituíam uma camada de dade de solucionar a crise política de
Com o processo de colonização
homens livres que colocavam seu Atenas.
provocado pela primeira diáspora, Ate- Em 621 a.C., Drácon iniciou as
trabalho a serviço da comunidade.
nas transformou-se em um grande cen-
Originariamente, o poder político em reformas, preparando uma legislação
tro comercial. As novas classes Atenas assentava-se sobre uma mo- escrita para a cidade. As leis de
surgidas passaram a pressionar os aris- narquia hereditária. O governo era Drácon eram extremamente severas,
tocratas e a fazer oposição ao regime exercido pelo Basileu, que concentra- pois previam a pena de morte para a
oligárquico. Nesse período, formaram- va os poderes político, militar e reli- maioria dos crimes. No entanto, foram
se os partidos políticos e teve início uma gioso. O seu poder era limitado por muito importantes, pois, além de
crise em Atenas. O partido popular um conselho de anciãos, o Areópago. serem escritas, a administração da
reivindicava reformas: exigia leis Gradativamente, o Basileu foi perden- justiça saiu das mãos da aristocracia e
escritas, o fim da escravidão por dívidas do seus poderes para a aristocracia, passou a ser competência do Estado,
e o direito de participar da vida política. que impôs a oligarquia como regime que se fortaleceu com isso. Em
termos políticos, a situação não se
Verificaram-se, então, mudanças sociais de governo. O governo oligárquico era
profundas. exercido pelo Arcontado com apoio do alterou. Os eupátridas continuaram

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514 a.C., quando Hiparco foi assassi-


nado por um aristocrata, e Hípias
iniciou um processo de perseguição
política. Os aristocratas reagiram e ex-

HISTÓRIA AD
pulsaram Hípias de Atenas em 510
a.C. Dois anos mais tarde, lságoras
tornou-se o novo tirano. Em seu
governo, restaurou alguns privilégios
da aristocracia, o que revoltou as
classes populares, obrigando-o a bus-
car apoio na aristocracia espartana.
Em razão da intervenção de Esparta,
os diacrianos e paralianos uniram-se e,
liderados por Clístenes, um aristocra-
ta, expulsaram o inimigo comum em
507 a.C.

A reforma de Clístenes
Entre 508 e 507 a.C., Clístenes

FÍSICA A
deu início a um processo de reformas
em Atenas, para implantar a demo-
cracia. As suas propostas incluíam:
direitos políticos para os cidadãos,
O templo do deus Apolo em Delfos foi uma oferenda dos atenienses pela vitória em Maratona.
representados pelos homens maiores
monopolizando o poder. De fato, Drá- partido dos pedianos (habitantes das de 18 anos, filhos de pais atenienses e
con não conseguiu controlar a crise planícies), aristocrático e conservador, de origem jônia; participação política
política e as camadas populares con- formado pelos grandes proprietários
direta no governo, pois os cidadãos
tinuaram revoltadas. Em 594 a.C., de terras, queria Atenas como era
opinavam na Assembleia ou eram sor-
Sólon foi nomeado legislador de Ate- antes das reformas de Sólon; o partido
teados para ocupar algum cargo. Cabe
nas. As reformas por ele propostas dos paralianos (habitantes da costa),
ressaltar que a democracia ateniense
abrangiam os três pontos fundamen- constituído por comerciantes e
tais da vida ateniense: o econômico, o era exercida por aproximadamente
artesãos, adotou posição moderada
social e o político. 35.000 cidadãos em uma população
diante das reformas, pois muitos foram
Economia – estimulou o comér- de cerca de 450.000 habitantes.
por elas favorecidos; o partido dos dia-
cio e a indústria; estabeleceu um pa- Além da Eclésia, o poder legislativo
crianos (habitantes da montanha),
drão monetário fixo e um sistema de era ainda constituído pela Bulé (ou
composto de pequenos proprietários,
pesos e medidas e proibiu a exporta- rendeiros e thetas, exigia reformas Conselho dos 500), cuja função era
ção de cereais. mais radicais. preparar as leis votadas mensalmente
Sociedade – aboliu a escravidão pela Assembleia dos Cidadãos. A
por dívidas, por meio da Lei Sei- As tiranias Heliae era composta de doze tribunais,
sachteia; concedeu anistia geral; regu- A crise política gerou condições com a função de ministrar a justiça
lamentou a Lei da Herança; eliminou para a implantação das tiranias, nas comum. O Areópago cuidava da alta
os marcos de hipoteca e devolveu as quais o poder era tomado por meio de justiça, ou seja, de julgar a
terras aos antigos proprietários. um golpe. Essa forma de governo do- constitucionalidade dos atos públicos.
Política – acabou com o mono- minou o cenário da vida política de A Heliae e o Areópago compunham o
pólio do poder exercido pela aristocra- Atenas durante cinquenta anos. Poder Judiciário, enquanto o Poder
cia, com base no critério do Pisístrato, de origem aristocrática Executivo era exercido por dez estra-
nascimento, e estabeleceu um sis- e ligado ao partido diacriano, governou tegos, escolhidos, anualmente, pela
tema de participação política Atenas entre 560 e 527 a.C. Durante o Eclésia.
fundamentado na riqueza do indivíduo. seu governo, construiu obras públicas, Outra instituição da democracia
Mas, apesar das reformas, Sólon estimulou o comércio e determinou a de Clístenes era o ostracismo, que
não conseguiu contentar todas as rei- participação dos cidadãos em assem- consistia na suspensão dos direitos
vindicações populares nem atender à bleias e tribunais. políticos dos cidadãos considerados
conservadora aristocracia eupátrida. A Com sua morte, o poder passou nocivos à democracia por um período
luta entre os partidos continuava e para seus filhos Hípias e Hiparco. O de dez anos. Esses cidadãos, após a
impedia o avanço político de Atenas: o governo dos irmãos foi moderado até população votante haver escrito o

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nome deles mais de 6.000 vezes no tiranos. A cidade de Mileto e algumas “Logo que as tropas tomaram
óstrakon (pedaço de cerâmica em outras iniciaram uma rebelião, apoia- posições e os sacrifícios forneceram
forma de concha), eram desterrados das por Atenas. Esse foi o motivo bons augúrios, os atenienses, mal foi
de Atenas, sem que houvesse o imediato para o conflito entre gregos e dado o sinal para atacar, lançaram-se
HISTÓRIA AD

confisco de seus bens. persas. Quando os persas invadiram a em corrida contra os bárbaros; o in-
A democracia de Clístenes foi aper- Grécia, os atenienses venceram-nos tervalo que os separava não era de
feiçoada por Péricles, que convenceu na Batalha de Maratona, em 490 a.C., menos de oito estádios. Os persas,
a Eclésia a estabelecer uma remune- liderados por Milcíades, o que conferiu quando os viram correndo sobre
ração para os cargos públicos, tornan- grande prestígio aos atenienses. Dez eles, prepararam-se para os receber;
do-os acessíveis aos cidadãos pobres. anos depois, os persas fizeram uma verificando que eram em pequeno
A implantação da democracia sig- dupla ofensiva. Por terra, venceram os número, e que, apesar disso, se lan-
nificou o início da consolidação de espartanos no Desfiladeiro de Termó- çavam em passo acelerado, sem
Atenas dentro da Hélade. pilas. Por mar, uma numerosa frota foi cavalaria e sem archeiros, julgaram-
destruída pelos atenienses, liderados nos atacados de loucura, duma lou-
por Temístocles, na Batalha de Sala- cura que lhes causaria a perda total.
mina. Sem o apoio da esquadra, o Era o que pensavam os bárbaros,
exército persa começou a recuar, che- mas os atenienses, em fileiras bem
gando à Plateia, onde, em 479 a.C., foi
cerradas, combateram de maneira
vencido por um exército conjunto de
memorável. Foram eles, que se
espartanos e atenienses, liderados por
saiba, os primeiros a enfrentar o
Pausânias. Os gregos passaram então
equipamento dos medos e homens
à ofensiva. Organizaram uma liga mili-
com ele equipados, pois até então os
tar com sede em Delos e a chefia foi
gregos só de ouvir o nome dos
confiada a Atenas. O tesouro comum
medos se sentiam aterrados. A
foi usado para construir uma poderosa
batalha em Maratona foi longa. No
armada, que, sob o comando de Cí-
centro, a vantagem foi dos bárbaros,
mon, assolou as posições persas no
litoral asiático. Em 488 a.C., pelo Tra- que, vitoriosos neste ponto, desbara-
tado de Susa ou Paz de Cálias, os taram os adversários e os persegui-
Péricles, líder de Atenas no “Século de persas reconheceram a supremacia ram para o interior; mas nas duas
Ouro” da Grécia.
grega no Mar Egeu. alas a vitória foi dos atenienses.
Estes deixaram escapar os bárbaros
4. Introdução do Período Clássico derrotados e, reunidas as duas alas
num só corpo, dirigiram a sua ofen-
Durante o Período Clássico, as pó- siva contra aqueles que haviam rom-
lis gregas disputaram a supremacia pido o centro das suas linhas de
em toda a Grécia. Essa fase foi combate. E a vitória pertenceu aos
marcada pelas hegemonias e imperia- atenienses. Os persas puseram-se
lismos no Mundo Grego, que aca- em fuga, e os atenienses
baram com uma guerra fratricida entre
perseguiram-nos até o mar; chega-
os próprios gregos, concluindo com
dos lá, incendiaram a armada. Desta
sua decadência e dominação por parte
maneira capturaram os atenienses
dos macedônios.
sete navios. Com o resto da frota, os
bárbaros fizeram-se ao largo e con-
5. As Hegemonias Gregas
tornaram Súnio. Era seu propósito
chegar a Atenas primeiro que os ate-
A hegemonia política de Atenas
nienses. Mas estes correram a de-
na Grécia começou com seu êxito nas
fender a sua cidade com toda a
Guerras Pérsicas ou Médicas.
Com a conquista do Oriente Mé- velocidade que lhes permitiam as
dio pelos persas, todas as colônias pernas, e chegaram primeiro. Os
gregas do litoral da Ásia Menor foram “Templo de Atena Niké”. bárbaros atingiram Faleros (que
anexadas. No início, a autonomia des- nesta época servia de porto a Ate-
Heródoto, considerado o “pai da nas) e ancoraram; depois, tomando o
sas cidades foi respeitada; mais tarde,
História”, descreve a famosa Batalha caminho de retorno, fizeram rumo à
porém, os persas passaram a exigir
de Maratona assim: Ásia.”
impostos e estimular governos de

8–
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A hegemonia de Atenas A Guerra do Peloponeso Começava a segunda fase da


O fim da guerra tornou desneces- e a hegemonia espartana Guerra do Peloponeso. Em 413 a.C.,
sária a Confederação de Delos. Entre- Muitos Estados gregos, cuja locali- a esquadra ateniense foi destruída
tanto, os atenienses sofreriam uma zação no interior os colocava a salvo da em Siracusa. Acusado por seus ad-

HISTÓRIA AD
grave crise econômica e social se as frota ateniense, ligaram-se a Esparta na versários políticos, Alcebíades fugiu
contribuições dos aliados parassem de Liga do Peloponeso, francamente hostil para Esparta, para quem entregou os
afluir para a cidade: a indústria naval a Atenas e à Confederação de Delos, planos atenienses. Em 404 a.C., em
seria paralisada, o comércio se retrairia que ela mantinha sob controle. Em 431 razão da grande ofensiva dos espar-
e numerosos remadores, mercenários a.C., um incidente transformou essa ri- tanos, que mantiveram um exército
e artesãos ficariam sem emprego. Por validade em guerra. As ambições na Ática e ampliaram a sua frota,
essa razão, os atenienses obrigaram, territoriais de Atenas em expandir-se Atenas foi derrotada na Batalha de
pela força, os Estados-membros a con- para o Ocidente levaram-na a apoiar e Egos-Pótamos pelo general espar-
tinuar os pagamentos, mesmo contra a celebrar uma aliança com Córcira, tano Lisandro. Os muros de Atenas
vontade desses. Era o início da hege- colônia de Corinto — aliada a Esparta. foram destruídos e a frota caiu nas
monia ateniense sobre a Hélade. Nesse Com isso, explodiu a Guerra do Pelopo- mãos de Esparta. A hegemonia exer-
período, a Grécia conheceu as dimen- neso, que duraria 27 anos e deixaria a cida por Esparta não era menos
sões de um verdadeiro império. No Grécia completamente exausta pelas opressora que a de Atenas. Na Ásia,
destruições recíprocas. Entre 431 e 421 os espartanos iniciaram uma ofen-
século V a.C., Atenas foi governada por
a.C., os espartanos invadiram a Ática. siva contra os persas. Não conse-
Péricles (444 a.C. – 429 a.C.) e suas ins-

FÍSICA A
A população de Atenas resistiu em guindo, porém, manter o domínio
tituições atingiram o máximo esplendor.
suas extensas muralhas, ao mesmo sobre seus inimigos na Grécia e com-
Diversas obras públicas foram iniciadas,
tempo em que sua frota atacava o Pe- bater, ao mesmo tempo, no exterior,
gerando empregos; os membros dos
loponeso. Em 429 a.C., graças à má Esparta assinou, em 387 a.C., a Paz
tribunais e da Assembleia passaram a
alimentação e às péssimas condições de Antálcidas com os persas. Além
receber pagamentos; as camadas
de higiene, a peste provocou centenas da paz, o tratado garantia o domínio
inferiores puderam participar do
de mortes, entre as quais a do próprio da costa da Ásia pelo Império Persa,
Arcontado, e Péricles cercou-se dos
Péricles. Em 421 a.C., Atenas e Esparta que passou a influir na política inter-
maiores artistas e intelectuais da Grécia,
celebraram a Paz de Nícias, estabele- na da Grécia.
como Fídias, Heródoto e Anaxágoras. cendo que não haveria mais guerra
Essa hegemonia, contudo, criou uma durante 50 anos. Em 413 a.C., porém, A hegemonia de Tebas
série de inimigos para Atenas, pois feria motivados pelo ambicioso Alcebíades, Apesar do domínio de Esparta,
a autonomia das demais cidades-Es- os atenienses prepararam uma campa- Atenas conseguiu reconstruir suas
tado; por outro lado, o controle exercido nha militar na Sicília, com o propósito muralhas e sua frota, organizando
sobre a Grécia pela Confederação de de conquistar Siracusa, que era aliada de uma segunda liga marítima. Ao mes-
Delos desrespeitava o princípio de Corinto e abastecia o Peloponeso com mo tempo, a cidade de Tebas aliou-
soberania das cidades. alimentos. se a Atenas e atacou a guarnição
espartana em Tebas. Durante a Ba-
talha de Leuctras, em 371 a.C., a re-
volta dos escravos em Esparta
conduziu os tebanos à vitória, sob o
comando dos generais Epaminondas
e Pelópidas. O período da hegemo-
nia tebana foi marcado pela liberta-
ção dos messênios do domínio de
Esparta e pela conquista e
submissão da Tessália, Trácia e
Macedônia. Para consolidar seu
domínio militar, Tebas iniciou a cons-
trução de uma esquadra, o que lhe
valeu a oposição de Atenas. Em 362
a.C., Atenas e Esparta, agora aliadas,
impuseram a derrota a Tebas, na
Batalha de Mantineia. O enfraqueci-
mento das pólis, em decorrência de
tantas lutas, facilitou a conquista da
Vitória alada de Samotrácia. Vênus de Milo. Chefe gaulês e sua mulher. Grécia por Filipe, rei da Macedônia.

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7. Características da Arte Grega pórtico das Cariátides, com o teto sus-


tentado por seis estátuas de jovens,
A Grécia Antiga alcançou notável em vez de colunas; o Templo de Atena
nível de desenvolvimento artístico e Niké, deusa alada da vitória, que repre-
HISTÓRIA AD

cultural. A arte grega é uma arte an- senta a guerra dos gregos contra os
tropocêntrica, exprimindo valores de persas.
equilíbrio, harmonia, ordem, propor-
ção e medida, sendo empenhada em A escultura grega
exaltar a beleza e o calor da vida hu- No final do século VII a.C., ape-
Parthenon, o mais célebre dos templos gregos,
mana, não a vida além-túmulo. Nessa sar da influência das civilizações
arquitetado por Ictino e decorado por Fídias.
arte, é condenado o mistério. Os ar- orientais, a escultura grega passou a
tistas gregos não estavam sujeitos manifestar suas próprias caracte-
6. Período Helenístico
às limitações impostas pelos rísticas, utilizando-se dos depósitos
O fato de Filipe ter vivido alguns sacerdotes e reis, como na maioria locais de pedra e mármore. O ápice
anos em Tebas deu-lhe condições de das civilizações orientais, e tiveram da escultura foi alcançado durante o
conhecer bem a vulnerabilidade das ci- suas ideias da filosofia racionalista e século de Péricles. O grande nome
dades-Estado gregas e de seus exérci- humanista dominantes. A arte grega da época é Fídias, amigo de Péricles
tos. Em 356 a.C., Filipe tornou-se não se voltava apenas para a e diretor de todos os seus projetos
governante da Macedônia e passou a estética, mas sobretudo visava de construção, criador das imagens
preparar-se para a conquista e submis- demonstrar o orgulho do povo por de Zeus, em Olímpia, e Atena, no
são das cidades-Estado gregas, fato sua cidade. Dessa forma, a arte era Parthenon de Atenas.
que se concretizou na Batalha de Que- também a expressão da vida política
roneia, em 338 a.C., após a derrota im- dos cidadãos. A busca do equilíbrio, a
posta a atenienses e tebanos. Filipe forma de pensar e filosofar e a valo-
utilizou-se de habilidade política para rização do humanismo foram, em
se impor aos gregos, respeitando a au- certa medida, a fonte de toda a
tonomia das cidades-Estado e preser- cultura ocidental. O período mais
vando suas instituições. brilhante da civilização helênica
Seu filho e sucessor, Alexandre Mag- corresponde ao século V a.C., em
no, passou a governar o Império Atenas, o chamado “Século de
quando a organização interna da Ma- Péricles”, o período clássico da cul-
cedônia já estava completa e o seu tura grega.
exército formado, não tendo, portan-
to, enfrentado grandes dificuldades A Arquitetura Grega
para reprimir as cidades-Estado que Dos edifícios da arquitetura grega,
ainda não aceitavam completamente os templos foram os mais impor-
o seu domínio. Em 333 a.C., Alexan- tantes. Apesar de toda a sua excelên-
dre foi o responsável pela derrota de cia artística, é uma das formas
Dario III da Pérsia, que foi inteiramen- estruturais mais simples. Essas cons-
te dominada, em 331 a.C., após a con- truções não eram concebidas para re-
quista de Tiro e a Batalha da Planície ceber multidões; o acesso era
de Gaugamela. Com a morte de Dario reservado exclusivamente aos sacer-
III, Alexandre foi proclamado rei da dotes e à estátua do deus protetor. Os
Pérsia. Marchou em direção ao Egito, cultos eram realizados na parte
onde foi saudado como o filho do deus externa do templo.
O ápice da arquitetura deu-se após Praxíteles foi um dos maiores escultores do Pe-
Amon-Rá. Expandiu o Império em ríodo Clássico. Afrodite de Cnidos.
direção ao Oriente, chegando até os as Guerras Médicas, quando Péricles
Rios Ganges e Indo. Com sua morte, convocou o escultor Fídias para a re-
construção de Atenas, que fora des- Pintura e cerâmica
em 323 a.C., seu vasto Império foi A pintura era muito utilizada em
dividido entre seus principais generais, truída pelos persas. Um dos mais
belos monumentos construídos foi a cerâmica, com uma forte decoração
formando os reinos da Macedônia, do linear ou de figuras geometrizadas,
Egito e da Ásia. Entre 197 a.C. e 31 Acrópole, destacando-se: o Parthenon
e o Erechtheion (dedicado a Erecteus, notando-se a ausência de paisagens.
a.C., todos esses territórios foram Seus temas eram os feitos dos deu-
conquistados pelos romanos. rei mítico de Atenas), que possuía o
ses e semideuses e amores olímpi-

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cos. Encontram-se também cenas de ras e os papéis femininos eram inter- mentos, mesmo que seus resultados
jogos atléticos, de funerais e de car- pretados por homens. Em Atenas, fossem falsos. Sócrates, considera-
ros de corrida, destacando-se, pela onde havia concursos de tragédia no do um dos maiores filósofos gregos,
liberdade de inspiração, observações teatro de Dionísio, surgiram grandes continuou fiel aos antigos métodos

HISTÓRIA AD
anatômicas, combinando de uma for- poetas trágicos. Ésquilo exaltou a filosóficos, buscando sobretudo um
ma engenhosa as quatro cores glória de Atenas e o poder dos deu- método de reflexão. Criticou dura-
clássicas: preto, amarelo, branco e ses justiceiros em Os Persas, Os mente os sofistas, sendo condenado
vermelho. Sete contra Tebas e Orestíada; à morte, acusado de corromper a ju-
Entre os maiores representantes Sófocles mostrou os heróis às voltas ventude e de introduzir novos deu-
da pintura grega, destacam-se Zêuxis com o destino em Antígona e Édipo ses. Seu maior discípulo foi Platão,
e Apeles. Rei; Eurípedes, espírito crítico, que deixou muitos escritos, desta-
A indústria de cerâmica, que teve menos religioso que os anteriores, cando-se suas obras políticas, como
seus principais centros em Atenas e interessou-se mais pelos homens, a República, na qual considera essen-
Corinto, funcionou sob a pressão das suas paixões, grandezas e misérias ciais a sabedoria, a bravura e a
exigências dos mercados internos e em Alceste e Medeia. Os autores cô- justiça.
externos, comportando uma grande micos foram bem recebidos em Ate- Aristóteles, com base nas ideias
variedade de objetos, utilizados co- nas, entre os quais o favorito no de Sócrates e Platão, sistematizou os
mo recipientes de vinho, azeite, mel século V a.C. era Aristófanes. Amigo princípios da Lógica.
e perfumes. As proporções dos da vida tradicional, atacava com vigor

FÍSICA A
vasos eram calculadas com o mes- os partidários da guerra em A Paz, os Cultura helenística
mo requinte que as do Parthenon, excessos dos juízes populares em As Com as conquistas de Alexandre
não estando sua qualidade artística Vespas e os inovadores excessivos Magno, houve grandes transforma-
na sua técnica, mas sim na sua em Os Novos. ções no Mundo Grego. As influên-
forma, o perfil puro e elegante dado cias não ocorreram apenas de
a um material maleável. Outros gêneros Ocidente para Oriente, mas também
A poesia teve em Píndaro seu de Leste para Oeste. A arquitetura,
grande representante, celebrador pintura e escultura gregas nada ga-
dos vencedores dos jogos gregos. nharam, uma vez que os artistas he-
Heródoto de Halicarnasso foi prosa- lenísticos desprezaram a noção de
dor das Guerras Médicas, fazendo equilíbrio e harmonia, traços mercan-
uma análise equilibrada e buscando tes da arte helênica, preocupando-se
as causas da guerra e seus fins. O em dominar um realismo exagerado
ateniense Tucídides contou a Guerra e sensacionalista. Na arquitetura, a
do Peloponeso com objetividade, suavidade dos templos gregos cede-
apesar de seu amor por Atenas. u lugar às construções de suntuosos
A filosofia grega começou na Ásia palácios e casas espaçosas e confor-
(Jônia), com Tales de Mileto, e, no táveis, bem como edifícios buro-
sul da Itália, com Pitágoras. No séc. cráticos que simbolizavam a riqueza
V a.C., a ascensão do homem médio e o poder, refletindo o sentimento
nas cidades gregas trouxe uma nova individualista do período. Um exem-
Cerâmica – Dionísio trazendo a uva para a
preocupação: solucionar os proble- plo deste exagero é o Farol de Ale-
Grécia.
mas práticos mais intimamente liga- xandria, com 120 metros de altura,
dos ao próprio homem. Esta nova tendo no topo oito colunas para sus-
O teatro grego
corrente deu origem aos sofistas, tentar o recipiente do combustível
O teatro, criação dos gregos, era
que procuravam dar ênfase aos argu- fornecedor de luz.
ao ar livre. Os atores usavam másca-

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8. Cronologia
490 a.C. – Batalha de Maratona (Primeira Guerra
Médica).
1150 a.C. – Destruição de Troia.
485-406 a.C. – Eurípedes,teatrólogo.
HISTÓRIA AD

Século VIII a.C. – Governo monárquico em Atenas.


484-425 a.C. – Heródoto, historiador.
Século VII a.C. – Governo oligárquico em Atenas.
480 a.C. – Batalha de Salamina (Segunda Guerra
776 a.C. – Início dos Jogos Olímpicos.
Médica).
Séc. V a.C. – Apogeu da cultura grega.
476 a.C. – Confederação de Delos e início da
621 a.C. – Legislação de Drácon.
Terceira Guerra Médica.
594 a.C. – Legislação de Sólon.
470-399 a.C. – Sócrates, filósofo.
582-497 a.C. – Pitágoras, filósofo e matemático.
460-396 a.C. – Tucídides, historiador.
560-527 a.C. – Tirania de Pisístrato.
448 a.C. – Tratado de Susa, pondo fim às Guerras
527-514 a.C. – Tirania de Hípias e Hiparco.
Médicas.
525-456 a.C. – Ésquilo, teatrólogo.
431 a.C. – Início da Guerra do Peloponeso.
518-448 a.C. – Píndaro, poeta.
427-347 a.C. – Platão, filósofo.
508 a.C. – Governo aristocrático de lságoras,
404 a.C. – Vitória de Esparta na Guerra do Pelo-
apoiado pela aristocracia espartana.
poneso.
507 a.C. – Reforma democrática de Clístenes.
384-322 a.C. – Aristóteles, filósofo.
496-405 a.C. – Sófocles, teatrólogo.
371 a.C. – Vitória de Tebas na Batalha de Leuctras.
492 a.C. – O rei persa Dario I exige a submis-
362 a.C. – Derrota tebana na Batalha de Mantineia.
são dos gregos.

1. (FUVEST) – “Vivemos numa forma de governo que não se baseia ateniense exaltando que todos os cidadãos são iguais
nas instituições de nossos vizinhos; ao contrário, servimos de modelo (isonomia) e podem participar das decisões políticas. O voto
a alguns, ao invés de imitar outros. [...] Nela, enquanto no tocante às leis excluia menores de 21 anos. Vale ressaltar que todos os
cidadãos são iguais, porém mulher, escravos e estrangeiros não
todos são iguais para a solução de suas divergências privadas, quando
eram considerados cidadãos.
se trata de escolher (se é preciso distinguir em algum setor), não é o b) Esparta, localizada na Península do Peloponeso, possuía um
fato de pertencer a uma classe, mas o mérito, que dá acesso aos postos governo aristocrático e militarizado enquanto Atenas, loca-
mais honrosos; inversamente, a pobreza não é razão para que alguém, lizada na Ática, imperava um regime democrático que se
sendo capaz de prestar serviços à cidade, seja impedido de fazê lo pela ancorava na escravidão.
obscuridade de sua condição. Conduzimo nos liberalmente em nossa
vida pública, e não observamos com uma curiosidade suspicaz
[desconfiada] a vida privada de nossos concidadãos, pois não nos
ressentimos com nosso vizinho se ele age como lhe apraz, nem o
olhamos com ares de reprovação que, embora inócuos, lhe causariam
desgosto. Ao mesmo tempo que evitamos ofender os outros em nosso
convívio privado, em nossa vida pública nos afastamos da ilegalidade
principalmente por causa de um temor reverente, pois somos
submissos às autoridades e às leis, especialmente àquelas promulgadas
para socorrer os oprimidos e às que, embora não escritas, trazem aos
agressores uma desonra visível a todos.”
(Oração fúnebre de Péricles, 430 a.C., in Tucídides.
História da Guerra do Peloponeso.
Brasília: Editora UnB, 2001, p. 109. Adaptado.)

a) Com base nas informações contidas no texto, identifique o sistema


político nele descrito e indique suas principais características.
b) Identifique a cidade que foi a principal adversária de Atenas na
Guerra do Peloponeso e diferencie os sistemas políticos vigentes
em cada uma delas.

RESOLUÇÃO:
a) O texto de Péricles, citado pelo historiador grego Tucídides, faz
referência à democracia ateniense que foi criada por Clístenes
em 509 a.C. Péricles destaca o pioneirismo da democracia

12 –
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2. (UFJF-2019) – Observe os quadrinhos a seguir: a) A apatia da população, que não tinha o hábito de participar das
decisões tomadas nas assembleias dirigidas pelos cidadãos.
b) A contradição envolvendo um ideal democrático e a exclusão real
da participação política de sujeitos considerados “não cidadãos”.

HISTÓRIA AD
c) A equivalência entre a forma democrática ateniense e a que é
utilizada atualmente na sociedade brasileira desde a Constituição de
1988.
d) A necessidade de se constituir, na sociedade grega da antiguidade,
uma forma de democracia representativa, na qual cada eleitor
escolhia seus representantes.
e) O favorecimento sistemático de representantes de partidos políticos
que nem sempre representavam a maioria da população.

RESOLUÇÃO:
A questão aponta para as contradições da democracia grega na
Antiguidade. Apesar de representar um avanço em relação à Grécia
aristocrática, a democracia grega antiga surgiu no período clássico,
possuía uma cidadania muito restrita, apenas 10% eram cidadãos,
mulheres, escravos e estrangeiros não eram considerados
cidadãos, ou seja, não tinham direitos políticos. Apesar da tira citar
18 anos, a maioridade em Atenas se dava aos 21 anos. Outro fator
é que a riqueza pessoal não era critério para exclusão da cidadania.
Resposta: B

FÍSICA A
3. (MACKENZIE-adaptado) – A Confederação de Delos, organizada no
século V a.C., que chegou a registrar cerca de 400 poleis gregas, está
vinculada à
a) derrota grega nas Guerras Púnicas e à necessidade de unir forças
para enfrentarem um inimigo em comum.
b) extinção do sistema de produção escravista grego e ao caos
econômico que tal fato determinou.
c) unificação política das cidades-Estados gregas a fim de fazerem
frente à invasão macedônica.
d) defesa por parte grega do controle comercial do Mediterrâneo
oriental diante da ascensão persa.
e) supremacia de Atenas diante das demais cidades gregas após a
vitória sobre os macedônios.

RESOLUÇÃO:
Persas e gregos disputavam a hegemonia comercial nos Mares
Egeu, Jônico e, de forma geral, no Mediterrâneo ocidental.
Resposta: D

(Gilmar – quadrinhos)

O quadrinho do cartunista Gilmar, publicado em 2010, expõe uma crítica


contemporânea ao que se apresentou como “democracia” na Atenas
da antiguidade clássica. Das alternativas abaixo, qual expressa de modo
consistente tal crítica?

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4. (FMJ-2020) – “Depois de ouvirem as queixas de seus aliados 5. (UPE) – “(...) o teatro trágico usava histórias e personagens que
coríntios e os argumentos dos atenienses, os espartanos deliberaram todos conheciam e mostrava o que acontecia a esses personagens, de
entre si. ‘Terras, teria dito o rei espartano Arquídamos, os atenienses tal forma que, no final, os espectadores entendessem que as histórias
têm muitas outras em seu império, e eles farão vir por mar aquilo de que da carochinha que lhes contavam, quando eram crianças, expressavam
HISTÓRIA AD

carecem’. uma espécie de coerência interna no destino do homem, uma


O historiador Tucídides passa então a explicar o voto dos experiência simuladora, cujo objetivo era mostrar o caráter necessário
lacedemônios em favor da guerra com esta conclusão: ‘Se os de tudo aquilo que acontecera a um tipo de indivíduo socialmente
lacedemônios votaram pela declaração de guerra, isso se deu não tanto definido (herói, rei, etc.).”
pela influência dos discursos dos aliados, mas pelo fato de temerem
que Atenas ampliasse ainda mais o seu poder, porque eles já viam boa (Flávia Maria Schlee Eyler. História Antiga: Grécia e Roma: a formação
parte da Grécia em suas mãos’.” do Ocidente. Petrópolis: Vozes, 2014, p. 106. Adaptado.)
(Claude Mossé.
Péricles: o inventor da democracia, 2008. Adaptado.) O trecho fala da função social do teatro trágico em Atenas, que tinha
como principal objetivo a
O excerto refere-se à conjuntura histórica da Grécia da segunda metade a) diversão dos cidadãos.
do século V a.C., marcada b) incorporação dos estrangeiros à cidade.
a) pelo confronto entre as cidades-Estado gregas, que sentiam sua c) educação cívica por meio da performance.
independência ameaçada pela hegemonia ateniense. d) evolução econômica dos metecos.
b) pela colonização grega da península itálica, que fora vista como e) destruição da moral dos espartanos.
solução para minorar os conflitos internos entre as cidades-Estado.
c) pela disputa da hegemonia comercial no mar Mediterrâneo, que RESOLUÇÃO:
O teatro, e várias outras formas de arte, tinha função social
provocou um longo confliSto entre gregos e cartagineses.
educativa na Grécia Antiga. Através de “lições” aprendidas pelos
d) pela ofensiva persa contra as colônias gregas, que fora rechaçada personagens nas peças teatrais, ensinava-se ao público noções de
pela aliança entre Atenas e Esparta. moral, cidadania e política.
e) pela conquista macedônica das cidades-Estado gregas, que se Resposta: C
encontravam enfraquecidas devido aos conflitos internos.

RESOLUÇÃO:
O excerto faz referência à Guerra do Peloponeso, uma guerra civil
que opôs as cidades-Estado gregas, então reunidas em duas Ligas:
a de Delos (cuja liderança era de Atenas) e a do Peloponeso (cuja
liderança era de Esparta).
Resposta: A

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MÓDULO 3 Império Bizantino e Carolíngeo


1. Justiniano e o Império Bizantino

HISTÓRIA AD
Introdução
Quando o Imperador Constantino
escolheu Bizâncio para se tornar a sede
da Nova Roma, a antiga colônia grega
tinha o aspecto de um simples
povoado. Localizada num promontório
da Trácia, entre a Europa e a Ásia,
próximo ao Mar Negro e ao Mediterrâ-
neo oriental, a cidade possuía excelente
posição estratégica, transformando-se,
ao mesmo tempo, em potência
marítima e comercial.
Constantino trouxe arquitetos, ar-
tesãos e valiosas obras de arte das mais
diversas regiões do Império Romano,

FÍSICA A
construindo a cidade num ritmo
frenético e dando-lhe o esplendor de
uma grande capital: a cidade de
Constantino – Constantinopla.
Inaugurada em 11 de maio de 330,
Constantinopla foi produto da fusão de
elementos latinos, gregos, orientais e
cristãos, apresentando uma população
bastante heterogênea, composta de
maioria grega ou de habitantes
helenizados e de um grande número de
imigrantes estrangeiros. A língua grega
e a religião cristã constituíam a união
dessa cidade cosmopolita. A gravura mostra o mapa de Constantinopla, uma fortaleza inexpugnável.
fortemente as heresias, como o aria-
Justiniano e o Os conflitos religiosos nismo, o nestorianismo e o monofisis-
apogeu do Império As preocupações religiosas atin- mo. Graças, porém, à forte influência
Petrus Sabatus era filho de cam- giram proporções exageradas em da imperatriz Teodora, adepta do mo-
poneses e sobrinho do imperador Jus- Constantinopla. O povo discutia reli- nofisismo, tentou conciliar os
tino I. Em 502, foi trazido para a corte, gião com ardor, muitas vezes questio- interesses dessa heresia com a orto-
tendo sido preparado para dar nando os dogmas básicos do doxia defendida pela Igreja, evitando
sequência à Dinastia Justiniana, uma cristianismo e dissimulando fortes dessa forma um choque direto com a
vez que o imperador não tinha filhos. competições políticas. O imperador Igreja de Roma.
Teve uma educação esmerada e Justiniano, consciente dessas dissen-
aristocrática e recebeu o nome de Fla- sões, procurou unificar a religião orto- A reconquista do Ocidente
vius Justinianus, assumindo o trono doxa grega, submetendo a Igreja à sua A política externa de Justiniano
em 527. autoridade e perpetuando o cesaropa- consistia em restaurar as antigas fron-
Em seu governo, assumiu o papel pismo, largamente utilizado pelos seus teiras do Império Romano por meio
de um verdadeiro imperador romano, sucessores. de guerras ofensivas. Visando a isso,
bem como de um monarca oriental. A construção da Igreja de Santa estabeleceu uma “paz perpétua” com
Controlava a diplomacia, as finanças, Sofia pretendia demonstrar a preocu- os persas, seus antigos inimigos do
as leis e os negócios militares, pação do imperador em tutelar a Igre- lado oriental.
cercando-se de uma autoridade abso- ja ao poder do Estado. Procurando O expansionismo teve início com
luta e dando ao seu poder caráter evitar que o divisionismo religioso afe- a reconquista da África, sob domínio
quase sagrado. tasse a unidade do Império, combateu dos vândalos. Seu êxito foi possível

– 15
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em razão não apenas da eficiência povos germânicos. A decadência


militar do general Belisário, com um moral, associada à desorganização
exército de 15 mil soldados, como política, econômica e social, culminou
também da crise política em que se com a falência do Estado.
HISTÓRIA AD

encontrava o reino bárbaro, dividido A cidade de Roma, sede das deci-


em duas facções religiosas: o arianis- sões políticas do mundo antigo, per-
mo e o cristianismo. deu seu brilho e esplendor,
A relativa facilidade da conquista tornando-se a capital das hordas inva-
africana estimulou Justiniano a inves- soras: hunos, vândalos, visigodos,
tir contra os ostrogodos na Itália. As ostrogodos, burgúndios etc. A urbe
divisões políticas existentes no Reino cairia diante dos “atrasados” povos
Ostrogótico facilitaram a vitória dos bárbaros.
exércitos bizantinos, comandados pe-
A origem e a vida
los generais Belisário e Narses. Fun-
dos germânicos
dou-se na Itália o Exarcado de Ravena,
As origens dos povos germânicos
centro das decisões bizantinas na
apresentam diferentes versões por
Península ltálica.
parte dos estudiosos. Uma corrente
Em consequência do rompimento
alemã diz que faziam parte de uma
da “paz perpétua”, Justiniano voltou a Os bizantinos acreditavam
grande família indo-europeia, tendo
concentrar seus esforços no Oriente, em um poder milagroso dos ícones.
como hábitat a parte oriental da Rús-
suspendendo temporariamente o ex-
sia. Outra corrente afirma que eram
pansionismo ocidental. Após o retorno Após um século de crise, a Dinas-
originários das regiões escandinavas
da paz com os persas, os exércitos tia Isáurica (717 a 802), fundada pelo e que sofreram influências de outros
bizantinos conquistaram a Espanha imperador Leão III, deu início a uma povos, acabando por aceitar a língua
meridional aos visigodos. fase de reorganização do Império, que europeia. Porém, em relação ao seu fí-
O Império Bizantino chegava, se distanciou definitivamente das sico, ambas concordam que apresen-
dessa forma, ao limite máximo de sua estruturas ocidentais, tornando-se tavam as seguintes características
expansão geográfica e militar. Após a
cada vez mais um Estado grego-asiá- básicas: estatura elevada, dolico-
morte de Justiniano, as regiões con-
tico. É nesse sentido que surgiu o mo- cefalia e carência pigmentária.
quistadas na Espanha e na África
vimento iconoclasta, provocando
caíram sob o domínio dos árabes, que
forte reação da população e do papado 3. Carlos Magno
também conquistaram o Egito, a Síria,
romano, uma vez que o imperador e o Império Carolíngio
a Palestina e a Mesopotâmia. Era o
fim do sonho de reconstrução do proibiu a representação e o culto às
imagens sagradas, ordenando sua A Dinastia dos
Império Romano.
destruição. Carolíngios (751-987)
Além das crises de ordem interna, A Dinastia Carolíngia foi iniciada
Declínio do Império Bizantino
o Império continuava a sofrer ameaças com forte apoio da Igreja. Pepino, o
A morte de Justiniano foi festeja-
em suas fronteiras. A crise econômica Breve, e seus filhos, Carlomano e Car-
da pela população de Constantinopla,
agravou-se com o desenvolvimento los, receberam do papa o título de
que esperava, a partir daí, um período
das repúblicas mercantis italianas, que patrícios dos romanos, sendo defen-
de paz e diminuição da excessiva car-
disputavam com Constantinopla o sores da cidade de Roma.
ga tributária. Seus sucessores enfren- Em 756, Pepino lutou contra os
taram profundas dificuldades na monopólio do comércio mediterrâneo.
A fragilidade política permitiu uma lombardos, tomando-lhes os territórios
condução da administração, entrando no centro da Itália, que foram doados à
o Império Bizantino em um lento quase completa autonomia das
grandes propriedades, fragmentando Igreja. Esses territórios aumentaram o
processo de decadência. poder do papa e ficaram conhecidos
A Dinastia dos Heráclidas (610 a cada vez mais o poder central, até a
como Patrimônio de São Pedro.
717), que sucedeu a Justiniano, en- invasão de Constantinopla pelo turcos
Antes de morrer, em setembro de
frentou o expansionismo do Islão, per- otomanos, em 1453, pondo fim ao
768, o fundador da Dinastia Carolíngia
dendo vários de seus territórios. As Império Romano do Oriente.
dividiu seu reino entre seus dois filhos:
constantes invasões e insurreições Carlos e Carlomano. Em 771, porém,
ocorridas no vasto império necessita- 2. Os Reinos Bárbaros
com a morte do irmão, Carlos assumiu
vam de um poderoso exército, com- definitivamente o controle do Império.
prometendo as frágeis finanças do Graças em grande parte à sua
Após o domínio dos lombardos, que
reino. grandeza territorial, o Império Romano
ameaçavam conquistar os territórios
abriu caminho para as invasões dos
16 –
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HISTÓRIA AD
FÍSICA A
Os mapas assinalam a evolução da monarquia francesa após a fragmentação do Império Carolíngio.

da Igreja, Carlos Magno lutou contra te visitavam uma determinada região herdeiros, foi decidido, pelo Tratado de
os saxões, anexando a Saxônia (parte do Império para a verdadeira consoli- Verdun, em 840, que Lotário ficaria
da Alemanha) e a Baviera. Na dação da justiça real. com a Itália e parte da antiga
primavera de 778, cruzou os Pirineus, As leis do Império Carolíngio se- Austrásia, que então passou a chamar-
tentando invadir a Península Ibérica,
guiam as capitulares — ordens obriga- se Lotaríngia; Luís herdou a Alemanha;
mas foi obrigado a recuar. Quando
tórias para todo o Império —, que Carlos recebeu a França. Essa divisão
morreu seu sobrinho Rolando, o
episódio transformou-se em tradição abrangiam os mais diversos assuntos, foi fundamental para a estruturação do
lendária, com a Canção de Rolando. Os tais como: instrução aos funcionários feudalismo, uma vez que criou a
conflitos entre os muçulmanos reais, regulamentação da economia do- “nacionalização”, ao mesmo tempo
permitiram que Carlos Magno reto- méstica, regras para exploração do que descentralizou o poder real, dando
masse a conquista, ocupando Barce- domínio real etc. assim absoluta autoridade para os
lona, Pamplona e Navarra e criando as No Natal de 800, logo após o nobres dirigentes das províncias.
marcas da Espanha. apoio dado ao papa Leão III contra os A Lotaríngia, região que coube a
Durante os 46 anos de governo, partidários de uma família inimiga, Lotário, após a morte deste, fragmen-
Carlos Magno procurou aprimorar a Carlos Magno foi coroado imperador tou-se, tendo sido em grande parte in-
administração, centralizando seu po- romano do Ocidente, cargo desocupa- corporada à Germânia. O resto do
der e introduzindo ordem e disciplina do desde 476. Império foi dividido entre Luís (mais
nos negócios do Estado. O Império foi Em 814, com a morte de Carlos tarde, Germânico) e Carlos (depois co-
dividido em condados ou circunscri- Magno, assumiu a chefia do reino nhecido como “O Calvo”). Isso enfra-
ções territoriais, cuja autoridade era franco Luís, o Piedoso, nome dado queceu o Império Carolíngio e propiciou
exercida por um bispo e um conde, pela sua dedicação e submissão à as invasões dos normandos, que devas-
cabendo ao primeiro os assuntos per- Igreja Católica. O novo monarca era taram a região. O enfraquecimento do
tinentes aos costumes e à religião e dotado de predicados morais, porém, poder central, bem como o hábito de
ao segundo, os assuntos militares e no plano político, era um perfeito in- doar terras em troca de fidelidade,
financeiros. competente. Não conseguindo conci- acabou por fortalecer a nobreza
Como os litígios entre o poder es- liar a fé com a razão administrativa, guerreira. Em 987, Hugo Capeto, conde
piritual e o temporal eram constantes, resolveu dividir o reino entre seus fi- de Paris, pôs fim à Dinastia Carolíngia,
foi criado o cargo de missi dominici lhos: Carlos, Luís e Lotário. substituída pela nova dinastia que se
(enviados do soberano), que anualmen- Após longo tempo de luta entre os formava: a Capetíngia.
– 17
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4. Cronologia
bizantinos.
711 – Conquista, pelos muçulmanos, do Reino
330 – Fundação de Constantinopla pelo impe-
HISTÓRIA AD

Visigótico da Espanha.
rador Constantino.
732 – Carlos Martel vence os muçulmanos em
395 – Divisão do Império Romano por Teodósio.
Poitiers.
406 – Os povos germânicos cruzam a fronteira
751 – Pepino, o Breve, é coroado rei dos francos.
do Reno.
756 – Doação por Pepino, o Breve, dos ter-
409 – Invasão da Espanha pelos vândalos.
ritórios lombardos à Igreja Católica,
481-511 – Reinado de Clóvis, iniciando a Dinastia
criando o Patrimônio de São Pedro.
Merovíngia entre os francos.
768 – Morte de Pepino, o Breve.
496 – Vitória dos francos sobre os alamanos em
771 – Carlos Magno assume o controle do
Tolbiac.
Reino Franco.
507 – Os visigodos fixam-se na Espanha.
814 – Morte de Carlos Magno e ascensão de
511 – Morte de Clóvis e divisão do Reino Franco
Luís, o Piedoso.
entre seus herdeiros.
840 – Morte de Luís, o Piedoso.
527-565 – Reinado de Justiniano.
843 – Tratado de Verdun.
532 – Revolta Nika.
962 – Fundação do Sacro Império Romano-Ger-
533-534 – Conquista do Reino Vândalo, na África,
mânico.
por Belisário.
987 – Início da Dinastia dos Capetíngios, na
535-554 – Conquista do Reino Ostrogótico na Itália.
França.
550-554 – Conquista da Espanha Meridional pelos

1. (FUVEST-2021) – “Assim se realizam, no correr do século IV, a rejeição da autoridade do papa (bispo de Roma) como suprema
transformação do cristianismo de religião perseguida em religião do estado autoridade da Igreja Cristã.
e a transformação de um deus rejeitado em um Deus oficial. Os homens
e as mulheres que vivem na Europa ocidental passam, em poucos
decênios, do culto de uma multiplicidade de deuses a um Deus único”.
(LE GOFF, J. O Deus da Idade Média. Conversas com Jean-Luc
Pouthier. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, p. 19-20.)

a) Indique uma motivação que levou o Império Romano a adotar o


cristianismo como religião oficial em seus domínios.
b) Aponte dois exemplos da incorporação de elementos do paganismo
às práticas devocionais cristãs na passagem da Antiguidade para a
Idade Média.
c) Indique duas características do cesaropapismo que se desenvolveu
na cristandade oriental.

RESOLUÇÃO:
a) Diante da crise do Império Romano, que se manifestava desde
o século III d. C., diversos imperadores, a partir de Constantino,
buscaram no cristianismo – em franca expansão, apesar das
perseguições – um ponto de apoio que contribuísse para
estabilizar o Estado Romano. Todavia, a crise do Império era
estrutural, o que levaria à sua queda no século V.
b) Identificação de comemorações pagãs com eventos signi-
ficativos do cristianismo, como a escolha de 25 de dezembro
(festa pagã de culto ao Sol) com o Natal; e valorização dos
espaços dedicados ao culto, comum entre os romanos e pouco
frequente nos primórdios do cristianismo.
c) Subordinação da Igreja (representada pelo patriarca de
Constantinopla) ao Estado (representado pelo imperador); e

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2. (UEL-2020) – Como parte do acervo do Museu do Louvre, as obras 3. (ACAFE-2019) – Em 1054, o Cisma do Oriente serviu para acentuar
Estátua Equestre e Espada Joiosa expressam o período de Carlos o distanciamento já existente entre Constantinopla e a Igreja da Europa
Magno, na alta Idade Média europeia (séculos VIII-IX). Ocidental. Uma das principais consequências do Cisma do Oriente foi:
a) a criação do termo “cristãos novos” para designar a população do

HISTÓRIA AD
Sobre as características da dinastia carolíngia, assinale a alternativa Império bizantino que tinha se desfiliado da Igreja Romana.
correta. b) a convocação das Cruzadas para invadir e conquistar o reino de
a) Carlos Magno criou a Escola Palatina reunindo estudiosos de várias Jerusalém e a formação de um exército no Império Bizantino para
áreas e de diferentes regiões da Europa. apoiar os cruzados que se dirigiam para a Terra Santa.
b) Sob o domínio dos carolíngios ocorreu uma separação entre o poder c) o início das Guerras Religiosas, que vai determinar o surgimento da
temporal e o poder espiritual. Reforma Protestante e acentuar as divisões internas do cristianismo
c) O poder central do rei carolíngio se fortaleceu perante o europeu.
enfraquecimento do poder local dos senhores feudais. d) o surgimento da Igreja Ortodoxa, ligada ao Patriarcado de Constan-
d) O Tribunal do Santo Ofício regulava de forma hegemônica os tinopla e a Igreja Católica Apostólica Romana, dirigida pelo Papa.
conflitos entre os senhores feudais carolíngios.
RESOLUÇÃO:
e) Carlos Magno manteve um período de paz permanente em seus
Desde a queda de Roma no ano de 476, começou a acentuar um
domínios territoriais. distanciamento político, econômico, cultural, artístico e religioso
entre o Império Bizantino de raiz grega com a Europa Ocidental com
RESOLUÇÃO: raiz romana. Essas diferenças culminaram no Cima do Oriente,
Durante o reinado de Carlos Magno ocorreu o que chamamos de 1053, surgindo a Igreja Ortodoxa no Império Bizantino, liderada pelo
Renascimento Carolíngio. Basicamente, Carlos Magno promoveu Patriarca, enquanto a Europa permanecia fiel ao catolicismo sob o
um substancial apoio ao desenvolvimento cultural e educacional poder papal.
em Bizâncio criando, dentre outras coisas, a Escola Palatina, Resposta: D

FÍSICA A
modelo escolar que seria copiado em boa parte da Europa
Ocidental.
Resposta: A

– 19
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4. (UPE-SSA) – 5. (UECE) – Após o fim do Império Romano do Ocidente em 476 d.C.,


o panorama político e cultural europeu encontrou-se extremamente
fragmentado e, aos poucos, iniciou-se o processo feudal. Considerando
essa proposição, escreva V ou F conforme seja verdadeiro ou falso o
HISTÓRIA AD

que se afirma a seguir sobre a periodização relativa ao feudalismo.

( ) Entre os séculos VI-VIII formaram-se os reinos romanos-bárbaros.


( ) No ano de 800 d.C. Carlos Magno criou o Sacro Império Roma-
no-Germânico.
( ) O Sacro Império Romano-Germânico foi dividido em três partes em
843.
( ) O sistema Feudal firmou-se em toda a Europa entre os séculos IX
e XI d.C.

A sequência correta, de cima para baixo, é:


a) F, V, F, F.
b) V, F, V, F.
c) V, V, V, V.
d) F, F, F, V.

RESOLUÇÃO:
Nos primeiros séculos da Idade Média, surgiram vários reinos na
Europa por meio da fusão de romanos e germanos, todos tiveram
vida curta com exceção do Reino dos Francos localizado na Gália.
Duas dinastias governaram o reino dos Francos: dinastia
Merovíngia, 481-751, e Carolíngia, 751-968. Carlos Magno governou
entre 768-814, expandiu o reino dos Francos, surgindo o Império
Carolíngio, e foi coroado imperador no ano de 800. Pelo Tratado de
Verdun em 843, o Império Carolíngio foi dividido em três partes.
Essa divisão, somada com novas invasões na Europa, contribuiu
para a consolidação do sistema feudal, cujo auge ocorreu entre os
Iluminura do Saltério de Chludov. Bizantino, séc. IX. séculos IX ao XII
Resposta: C
(Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/File:Clasm_Chludov.jpg.
Acesso em: 10 jul. 2017.)

O Saltério de Chludov, hoje na Rússia, é um dos mais importantes


documentos provenientes do Império Bizantino. Essa iluminura, em
especial, retrata um importante movimento sociopolítico ocorrido nesse
Estado, denominado
a) Cesaropapismo, a aliança entre o Imperador e o Patriarca.
b) Iconoclasmo, o movimento pela destruição dos ícones religiosos.
c) Bizantinismo, a discussão interminável sobre temas exotéricos.
d) Cisma, a excomunhão mútua entre as igrejas Católica Romana e
Ortodoxa Oriental.
e) Iluminismo, a política em prol da ilustração dos manuscritos.

RESOLUÇÃO:
O Movimento Iconoclasta ocorreu durante o Império Bizantino nos
séculos VIII e IX, e representou um dos mais importantes conflitos
político-religiosos contra a veneração, contemplação ou adoração
de ícones e imagens de cunho religioso.
Resposta: B

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MÓDULO 4 O Feudalismo e a Igreja na Idade Média


1. Introdução mundo dos senhores ao mundo dos produção, por meio de obrigações im-

HISTÓRIA AD
servos). postas pelos costumes: corveia, tra-
O sistema feudal corresponde ao Esta última ligação se processava balho do servo na reserva senhorial;
modo de organização da vida durante por meio das obrigações, que talha, entrega de metade da produção
a Idade Média. Suas origens remon- resultavam das imposições feitas pelo do manso servil; banalidades, taxas
tam à crise do Império Romano a par- senhor aos servos, de realizar paga- pela utilização de certas instalações do
tir do século III. mentos em produtos ou serviços, e feudo; vintém, imposto devido à Igreja;
Costuma-se dividir o período em que constituem a própria essência do mão-morta, taxa pela transmissão de
duas fases: Alta Idade Média e Baixa feudalismo. Tais obrigações eram herança.
Idade Média. A Alta Idade Média, sé- costumeiras e não contratuais, como Levando-se em consideração
que a maior parte da produção
culo V ao XI, corresponde à formação ocorre no sistema capitalista. Note-se
obtida pelo servo não se conservava
e consolidação do sistema feudal; a que o servo era vinculado ao feudo,
em suas mãos, pois passava para o
Baixa Idade Média, século XI ao XV, dele não podendo sair. se nhor feu dal, seu interesse era
caracteriza-se pela crise do feudalismo mínimo. Associando-se a este fato o
e início da formação do sistema ca- de que os trabalhos agrícolas eram
pitalista. realizados coletivamente, tolhendo a
iniciativa individual, eles resultavam

FÍSICA A
2. A Formação do Feudalismo em baixo nível da técnica e pequena
pro duti vi da de: para ca da grão se -
O processo de formação histórica meado, colhiam-se dois. Daí o regi-
do sistema feudal tem seu ponto de me de divisão das terras cultiváveis
partida na crise do século III do Im- em três campos, destinados alterna-
damente para o plantio de cereais e
pério Romano e acentua-se no século
de forragem, reservando-se o tercei-
V, com as invasões bárbaras. A retra-
ro para o des can so (pou sio). Rea li -
ção do escravismo, a formação do co- zava-se a ro ta ção trienal dos
lonato e a posterior implantação de campos, com vistas a impedir o es-
um regime servil constituem o passo gotamento do solo.
decisivo para a formação do sistema.
Por outro lado, os germanos que 5. A Sociedade Feudal
invadiram o Império Romano levaram
consigo relações sociais De acordo com as bases mate-
comunitárias, de exploração coletiva riais descritas, não havia possibilida-
das terras e subordinação aos gran- de de mobilidade social nos feudos:
A sociedade feudal era estamental, e a nobreza
des chefes militares (comitatus). As e o clero sobrepunham-se aos demais mem-
a sociedade era, portanto, estamen-
invasões bárbaras, além de despo- bros. tal. O princípio de estratificação era
voar as cidades, aumentando a popu- o nascimento, surgindo então duas
lação rural, dificultaram as 4. A Organização do Feudo camadas básicas: senhores e servos.
comunicações e provocaram o isola- Existiam também categorias inter-
O regime de propriedade variava mediárias, tais como os vilões (cam-
mento das localidades, forçando-as a
conforme as circunstâncias: proprie- poneses livres) e os ministeriais
adotar uma economia de subsistência
dade privada, no manso senhorial (corpo de funcionários livres do
autossuficiente.
(terra do senhor); propriedade coleti- senhor).
va, nos pastos e bosques (de uso co- O número de escravos reduziu-
3. Relações Sociais
mum para senhores e servos); se cada vez mais, pois não havia
propriedade dupla, isto é, coproprie- guerras de expansão para apresá-los;
O feudalismo pode ser definido
dade, no manso servil. (O senhor além disso, a Igreja condenava a es-
de vários modos. A melhor maneira,
detinha a posse legal e o servo, a cravização de cristãos. Por outro la-
porém, é defini-lo conforme suas rela-
posse útil da terra.) do, os vilões tendiam a se tornar
ções sociais básicas: relações vassá- O regime de trabalho era servil, na servos, pois de nada lhes adiantava
licas (entre os senhores ou nobreza), medida em que os produtores diretos a liberdade dentro da insegurança rei-
relações comunitárias (entre os ser- eram os servos, os quais transferiam nante: o fundamental era a obtenção
vos) e relações servis (que ligavam o para o senhor feudal a maior parte da de proteção.

– 21
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dava início à Dinastia dos Cape-


tíngios.
Na França Oriental, fundou-se o
Reino Germânico, com a união dos
HISTÓRIA AD

duques da Francônia, Saxônia, Suábia


e Baviera. Nessa monarquia, o rei
seria um dos duques, eleito pelos
outros três.
A dependência política e militar
que a Igreja tinha em relação aos Caro-
língios foi, ao final do primeiro milênio,
transferida para os reis germânicos,
que davam proteção a Roma.
Em 962, após derrotar os húnga-
Miniatura datada do século XV, retratando as técnicas e a organização empregadas no trabalho rural,
ros, Oton I foi sagrado imperador pe-
na Idade Média.
lo papa João XII, fato que marca o
nascimento do Sacro Império Roma-
6. Relações Vassálicas Insistia que a sociedade tinha um ca- no-Germânico, que duraria até 1806.
ráter estático por determinação divina, Oton I iniciou um processo de inter-
O poder político no sistema feudal cabendo a cada um viver dentro da venção na Igreja, ampliando seus do-
era exercido pelos senhores feudais, posição que lhe fora designada por mínios territoriais na Alemanha, com
daí seu caráter localista. Não tendo au- Deus. Essa visão enquadrava-se per- a finalidade de controlar o poder dos
toridade efetiva, os reis apenas apa- feitamente nos interesses dominantes duques. Numerosos bispados e aba-
rentavam poder, pois na prática existia do mundo feudal. dias foram fundados e o imperador
uma descentralização político-admi- Durante a Idade Média, o clero entregava aos titulares desses terri-
nistrativa. regular (monges) adquiriu considerável tórios tanto o poder religioso (simboli-
Impossibilitados de defender o rei- preponderância em relação ao clero zado pelo anel e pela cruz e
no, os soberanos delegaram essa tarefa secular (padres). Mesmo assim, não concedido em função da investidura
aos senhores feudais. Por isso, e com conseguiu evitar que se formasse uma espiritual) quanto o poder político (re-
vistas a se protegerem, os senhores camada privilegiada, abades e bispos, presentado pelo báculo e concedido
procuravam relacionar-se diretamente que constituíam o alto clero. em função da investidura leiga), além
por um compromisso: o juramento de De qualquer modo, a força espiri- do fato de que o imperador possuía o
fidelidade. O senhor feudal que o tual da Igreja era incontestável e domi- direito de escolher o bispo de Roma
prestasse tornar-se-ia vassalo e aquele nava a mentalidade do homem (cesaropapismo).
que o recebesse seria seu suserano. medieval, para quem a vida na Terra A intervenção do poder político
Na hierarquia feudal, suseranos e vas- era uma preparação para a vida pós- na Igreja levou a uma série de con-
salos tinham obrigações recíprocas, morte. Contrapunham-se, assim, dois sequências negativas para esta,
pois à homenagem prestada pelo vas- elementos importantes: de um lado, a como o nicolaísmo (desregramento
salo correspondia o benefício força espiritual da Igreja; de outro, a do clero) e a simonia (comércio de
concedido pelo suserano. Essa relação fraqueza do Estado. Dessa contradi- bens da Igreja).
definia-se em um rito denominado ção, resultou a supremacia política do No século XI, do Mosteiro de
“cerimônia de investidura” ou “ceri- bispo de Roma (papa), que passou a Cluny, um movimento propôs uma
mônia de adubamento”. ditar normas para reis e imperadores. série de reformas internas na Igreja.
A hegemonia da Igreja levou-a a um O clero regular foi reformado e o mo-
7. A Igreja Medieval choque inevitável com o poder leigo vimento começou a atuar com o cle-
(temporal) dos imperadores alemães, ro secular, combatendo
Com o fim do Império Romano do na famosa Querela das Investiduras.
principalmente a simonia e o
Ocidente, a Igreja, como única institui-
nicolaísmo; nesse último caso, o
ção remanescente, adquiriu uma im- A Querela das Investiduras
movimento defrontou-se com o
portância fundamental, graças ao Com a divisão do Império Carolín-
poder político, pois era impossível
monopólio cultural que exercia na gio, pelo Tratado de Verdun, a tendên-
acabar com o nicolaísmo sem atacar
sociedade feudal. Além de fornecer os cia foi o enfraquecimento da Dinastia
a investidura leiga e o cesaropapismo.
funcionários preferidos ao Estado, o Carolíngia, que se extinguiu em 911,
A força do movimento de Cluny
clero encarregou-se de fazer a análise na França Oriental, enquanto na Fran-
levou à criação do Colégio de Car-
das relações sociais do feudalismo. ça Ocidental, em 987, Hugo Capeto
22 –
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diu Roma, obrigando o papa a se


refugiar em Salerno, onde mor-
reu.

HISTÓRIA AD
A Igreja passava a ter dois pa-
pas: Clemente III, escolhido por
Henrique IV, em Roma; Urbano
II, escolhido no exílio pelo Co-
légio de Cardeais. Essa situação
somente terminou em 1122,
com a assinatura da Concordata
de Worms, que colocaria fim à
Querela das Investiduras ao
definir que cabia ao papa a en-
trega da investidura espiritual e
ao imperador a entrega da
investidura temporal ou leiga.
Chegava ao fim a preponde-
rância política dos imperadores
sobre o clero, e a Igreja iniciava

FÍSICA A
sua supremacia dentro do
Mundo Medieval.

8. A Vida Cultural

Quando se compara a pro-


dução cultural da Idade Média
com a Antiguidade ou a Mo-
dernidade, ela é considerada
tradicionalmente um período de
trevas. Tal conceito, porém, tem
sofrido algumas revisões, graças
à reabilitação da Idade Média por
certos autores que nela encon-
tram as raízes culturais do Mun-
do Moderno e – num sentido
mais imediato – do Renas-
cimento. Além do mais, não po-
demos ajuizar sobre o valor de
uma cultura, pois os valores são
relativos, e, quando afirmamos
que a Idade Média é um “período
de trevas”, nós o fazemos tendo
deais, em 1059, com a finalidade de Gregório VII, por sua vez, excomungou por base os valores da sociedade
eleger o papa, limitando o cesaropa- o imperador e proibiu os vassalos de atual, que também não são definitivos.
pismo. Em 1073, o líder do movi- lhe prestarem serviços. Em 1077, Hen- Não podemos esquecer o fato de
mento, Hildebrando, era eleito papa, rique IV fez a peregrinação ao Castelo que a Igreja foi a grande mantenedora
assumindo o nome de Gregório VII, de Canossa e pediu perdão ao papa, ao da cultura durante o Período Feudal,
que colocou uma série de medidas apesar de o fazer de forma que
mesmo tempo em que seus inimigos,
reformistas em prática, como a insti- justificasse suas ideias e dogmas.
na Alemanha, elegiam um novo
tuição do celibato clerical e o fim da De qualquer modo, saber ler e es-
imperador.
investidura leiga. crever era privilégio da Igreja na Alta
Perdoado, Henrique IV voltou e
Nesse momento, o imperador ale- Idade Média. De nada adiantaram os
combateu seus adversários, retoman-
mão, Henrique IV, reagiu energica- esforços de Carlos Magno para pro-
mente, considerando o papa deposto. do o poder e, logo em seguida, inva-
porcionar aos nobres franceses rudi-

– 23
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mentos de ensino. As invasões bár- os árabes, que conseguiram um escolástica (“filosofia da escola”),
baras haviam destruído a maioria das notável progresso na Espanha. produzida por São Tomás de Aquino,
obras representativas da cultura anti- Já na crise do feudalismo, com a autor da Suma Teológica. O ideal
ga, restando uns poucos exemplares
HISTÓRIA AD

expansão comercial e a criação das tomista era conciliar o racionalismo


nos mosteiros. A grande exceção no universidades, o pensamento filosófico aristotélico com o espiritualismo
plano cultural, na Idade Média, foram desenvolveu-se, surgindo, então, a cristão, harmonizando fé e razão.

9. Cronologia
843 – Divisão do Império Carolíngio pelo Tratado
de Verdun.
Século IV – Prenúncios socioeconômicos da
874 – Viquingues noruegueses atingem a
formação do sistema feudal.
Islândia.
325 – Concílio de Niceia.
899-955 – Incursões dos magiares (húngaros) no
Século V – Invasões germânicas e fim do Império
Ocidente.
Romano do Ocidente.
910 – Fundação do Mosteiro de Cluny.
529 – Fundação do Mosteiro do Monte Cassino
962 – Fundação do Santo Império Romano-Ger-
por São Bento de Núrsia.
mânico.
534 – Elaboração da regra beneditina.
982 – Descoberta da Groenlândia pelos
590 – Início do pontificado de São Gregório
viquingues.
Magno.
1059 – Criação do Colégio de Cardeais e
596 – Fundação do Bispado de Canterbury.
instituição do celibato clerical.
Século VII – Invasão muçulmana na Europa.
1073 – Gregório VII é eleito papa.
756 – Doação do Patrimônio de São Pedro por
1076 – Início da Querela das Investiduras.
Pepino, o Breve.
1077 – Peregrinação de Henrique IV a Canossa.
768-814 – Reinado de Carlos Magno.
1122 – Concordata de Worms.
790-840 – Ataques viquingues à Inglaterra.

1. (UEL) – “A casa de Deus, que cremos ser uma, está, pois, dividida 2. (SANTA CASA-2021) – “A Idade Média é complexa. Por que a
em três: uns oram, outros combatem e os outros, enfim, trabalham. chamamos de ‘feudal’? Antes de tudo porque ela é dominada por
Essas três partes que coexistem não sofrem com a sua disjunção; os ‘senhores’ que têm subordinados chamados ‘vassalos’, aos quais eles
serviços prestados por uma são a condição da obra das outras duas; e concedem (“emprestam”, se preferirem) terras que lhes proporcionam
cada uma, por sua vez, se encarrega de aliviar o todo. De modo que uma renda e que são chamadas de ‘feudos’, daí o nome ‘feudal’.
essa tripla associação nem por isso é menos unida, e é assim que a lei Essa palavra designa um sistema social que os filósofos do século
tem podido triunfar e que o mundo tem podido gozar de paz.” XVIII e os homens da Revolução Francesa detestam e denunciam, porque
(Adalbéron de Laon (c. 1020). Apud Jacques Le Goff. A Civilização do o povo, os camponeses, as ‘pessoas simples’ são oprimidas pelos ricos
Ocidente Medieval. Lisboa: Estampa, 1984. p. 45-46.) e poderosos. Essa imagem permanece colada à Idade Média.”
(Jacques Le Goff. A Idade Média explicada aos meus filhos,
Esse texto se refere à Europa cristã medieval como a “casa de Deus”. 2007. Adaptado.)
A partir de tais informações, aponte o papel da Igreja Católica na criação A partir da leitura do excerto, pode-se constatar que
e na manutenção do chamado Regime Feudal. a) o primeiro parágrafo descreve relações internas ao setor hegemônico
e o segundo parágrafo mostra uma crítica ao sistema social medieval,
RESOLUÇÃO: feita posteriormente à experiência histórica do Medievo.
Durante a Idade Média na Europa, quando imperava o sistema b) a última frase do texto descreve a persistência da ideia, ainda
feudal, a Igreja católica possuía forte poder político, econômico e
defendida pela maioria dos historiadores, de que a Idade Média foi
cultural, explicando e interpretando todos os fenômenos sociais.
Essa Cristandade ou a Casa de Deus estava dividida em três um período de trevas e estagnação cultural.
estamentos sociais: clero, nobreza e servo. Desta forma, para c) o primeiro parágrafo caracteriza a principal relação de dominação
explicar o regime feudal, a Igreja divulgou a imagem da sociedade social da Idade Média e o segundo parágrafo expõe a forte crítica
de três funções como um corpo, no qual aqueles que oravam (os dos pensadores socialistas contra o Medievo.
clérigos da própria Igreja) eram a cabeça da sociedade; os que
d) o primeiro parágrafo do texto identifica uma relação interna ao setor
combatiam (nobres guerreiros, isto é, senhores feudais e seus
vassalos) eram os braços; e os que trabalhavam (os camponeses, produtivo e o segundo parágrafo aponta para uma interpretação
ligados às terras dos senhores, principalmente, por elos de dessa relação, desenvolvida ainda durante o Medievo.
servidão) eram os pés dela. Essa visão de mundo divulgada pelos e) a primeira frase do texto destaca a particularidade da dade Média,
membros da Igreja Católica permitia a ela manter os diversos diferenciando-a dos outros períodos históricos, marcados pela
grupos sociais do Regime Feudal sob sua orientação.
uniformidade das relações sociais internas.

24 –
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RESOLUÇÃO: com sua função. O Clero cuidava da parte espiritual, a nobreza fazia
O primeiro parágrafo do texto transcrito refere-se à multiplicidade a segurança através das guerras enquanto os servos trabalhavam
das relações feudo-vassálicas, necessárias para a manutenção da mantendo a sociedade pagando impostos. A corveia era um imposto
estrutura de poder mantida pelo estamento aristocrático. Já a pago em trabalho pelos servos no manso senhorial.
Resposta: C

HISTÓRIA AD
segunda parte do excerto explicita a desigualdade de direito
vigente no sistema feudal, responsável pela opressão imposta
pelos setores dominantes às massas. Nesta última visão,
manifesta-se a aversão dos pensadores iluministas à supressão
da liberdade, considerada por eles como o bem supremo da 4. (FAMEMA-2021) – “[...] cristianismo romano na Europa ocidental e
sociedade. central, cristianismo ortodoxo grego em Bizâncio e na Europa oriental,
Resposta: A
islam do Irã à Espanha, e, claro, o judaísmo dos judeus da Diáspora.”
(Jacques Le Goff. O Deus da Idade Média, 2017.)
3. (UPF-2020) – Observe a charge:
Considerando o conteúdo do excerto e conhecimentos sobre a história
da Europa da Idade Média, pode-se afirmar que
a) a natureza das relações entre as pessoas derivou acentuadamente
das crenças religiosas dos grupos sociais.
b) o poder do Papa, restrito aos assuntos religiosos, foi universalmente
aceito pelas autoridades religiosas.
c) a aliança militar de reis católicos e ortodoxos impediu a expansão do
islamismo no continente.
d) o clima de paz política caracterizou as interações entre as formações

FÍSICA A
religiosas monoteístas.
e) a oposição ao culto de imagens uniu, do ponto de vista doutrinal, as
religiões oriundas da Bíblia hebraica.

RESOLUÇÃO:
O quadro religioso descrito no texto reflete a divisão etnocultural
vigente na Idade Média. A alternativa escolhida expressa, por
extensão, a identidade de cada população, dada a importância do
(Disponível em: elemento religioso para a formação desse conceito. Daí as
https://www.facebook.com/poemaPoliticaEconomicaDaMaioria/ frequentes guerras entre os grupos citados (ou perseguições, no
caso dos judeus), apesar de muitas vezes suplantadas pelas
photos/a.217694061936201/516516375387200/?type=3&theater.
relações econômicas entre as diversas comunidades.
Acesso em: set. 2019.) Resposta: A

A charge mostra os servos feudais advogando em favor dos senhores


feudais e critica a teoria de que a redução da taxação sobre os mais
ricos tem por consequência a distribuição de riquezas de forma mais
5. (FAMERP-2021) – “Na cristandade medieval, era fácil apelar para a
eficiente entre os mais pobres.
crença no além, Deus e os personagens sobrenaturais estavam muito
presentes na vida cotidiana. A religião cristã estimulava a imaginação dos
As afirmativas abaixo abordam a questão dos tributos no feudalismo.
homens e das mulheres, e criou um ‘imaginário’ próprio do cristianismo.”
Assinale a alternativa incorreta.
(Jacques Le Goff. A Idade Média explicada aos meus filhos, 2007.)
a) O clero, enquanto classe privilegiada, também se dedicava à
exploração do trabalho dos servos realizado em terras pertencentes
É um exemplo da presença e da persistência desse “imaginário próprio
à igreja, inclusive cobrando tributos.
do cristianismo”:
b) As datas das atividades econômicas realizadas pelos servos e do
a) a ideia de um céu povoado de seres extraordinários.
pagamento de tributos por parte desses eram marcadas
b) a incorporação da tradição judaica de celebrar imagens de santos.
considerando as estações climáticas e as datas religiosas.
c) a obrigação de peregrinar até Jerusalém pelo menos uma vez na vida.
c) Os tributos pagos pelos servos ao senhor feudal eram constituídos
d) a absorção do monoteísmo hegemônico na Antiguidade clássica.
apenas de pagamento em produtos, não havendo pagamento em
e) a crença de que todo católico pode realizar milagres.
dinheiro.
d) Além do pagamento de tributos, os servos eram obrigados a
RESOLUÇÃO:
oferecerem coletivamente ao senhor alguns serviços, que A intensa religiosidade levava o homem medieval a misturar a vida
caracterizavam a chamada corveia. terrestre com a espiritual fazendo do seu cotidiano um mundo
e) Não somente os servos eram obrigados a pagar tributos. Também povoado por seres sobrenaturais e místicos – como anjos e
proprietários menores tinham que pagar tributo ao senhor feudal para demônios – que interferiam constantemente em sua vida. Ao
mesmo tempo que buscava uma ligação com esse mundo
obter proteção.
espiritual pela devoção ritual e desprezo pelos prazeres, almejava
sua redenção e ascensão aos céus.
RESOLUÇÃO: Resposta: A
A Europeia no mundo medieval era caracterizada pelo sistema
feudal, a sociedade era estamental, havia três estamentos, cada um

– 25
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MÓDULO 5 As Cruzadas e o Renascimento Comercial e Urbano


1. Introdução dal para o capitalista, o que não seria nir nesse momento as condições
HISTÓRIA AD

viável num curto período. necessárias: a mão de obra militar es-


No final da Idade Média (Baixa A crise do sistema feudal foi o re- tava marginalizada e ociosa; o controle
Idade Média), tem início a transição sultado da inadequação das velhas espiritual e religioso que a Igreja exer-
para o sistema capitalista. Ao mesmo estruturas socioeconômicas às mu- cia sobre o homem medieval levou-o a
tempo, surgem novas classes sociais, danças ocorridas na Europa, que im- crer na necessidade de resgatar o
principalmente a burguesia, que auxilia puseram um novo tipo de organização Santo Sepulcro e combater o infiel
a realeza no processo de centralização do modo de vida. muçulmano; o poder papal se for-
política. talecera quando Gregório VII impôs
sua autoridade a Henrique IV, na Que-
3. A busca de solução
2. O feudalismo em Crise rela das Investiduras; a Igreja do Oci-
dente pretendia a reunificação da
A crise do sistema feudal deu ori-
É com base no próprio sistema cristandade, quebrada pelo Cisma de
gem a um processo de marginalização
feudal, compreendido como um modo 1054; o imperador de Constantinopla
social, quer pela fuga dos servos, quer
de produção, que devemos entender desejava afastar o perigo que os mu-
pelos deserdamentos ocorridos na
a sua desintegração. Essa crise tem, çulmanos representavam; finalmente,
camada senhorial. Essa marginalização
portanto, uma origem interna, agra- para Urbano II, o papa do exílio im-
trouxe como consequência o aumento
vada por fatores externos. posto pela Querela das Investiduras,
da belicosidade, marcada por assaltos
O problema fundamental é que a convocar as Cruzadas demonstrava
e sequestros a ricos cavaleiros.
produção feudal, baseada no trabalho prestígio e autoridade perante toda a
A Igreja Católica, para tentar con-
servil, é limitada e estática, o que, por Igreja.
ter a crise, propôs a “Paz de Deus”
sua vez, é resultado do baixo nível de Em 1095, no Concílio de Cler-
(proteção aos cultivadores, viajantes e
técnica do sistema feudal. Por outro la- mont, Urbano II convoca a cristanda-
mulheres) e a “Trégua de Deus” (na
do, no século XI, cessaram as ondas de para uma guerra santa contra o Islã.
qual os dias para realizar guerras fica-
invasoras, o que criou uma relativa es- Ao todo, realizaram-se oito Cruzadas
vam limitados a 90 por ano). Porém,
tabilidade na Europa e condições de entre 1095 e 1270.
essa intervenção da Igreja não foi su-
segurança para que aumentasse a Apesar da mobilização realizada
ficiente para conter a crise e a
circulação de mercadorias. Houve uma pelas Cruzadas, estas são considera-
violência feudais.
maior redistribuição da produção, das um insucesso, que se deve em
A saída proposta, então, pela Igre-
gerando um crescimento demográfico primeiro lugar ao caráter superficial da
ja foram as Cruzadas, uma contraofen-
que não foi acompanhado pelo ocupação. A presença cristã no
siva da cristandade diante do avanço
aumento da oferta de empregos e Oriente Médio não criou raízes entre
do Islã. A Europa, que, entre os sé-
alimentos. as populações locais. Outra razão foi a
culos VIII e XI, não teve condições de
Ao mesmo tempo, os senhores anarquia feudal, que enfraquecia as
reagir contra os árabes, passava a reu-
feudais passaram a ter necessidade colônias militares estabelecidas em
de aumentar as suas rendas, pois o
desenvolvimento do comércio e a
oferta de novos produtos de luxo e
especiarias impunham gastos e um
padrão de vida mais elevado. Po-
rém, para elevar suas rendas, eles
eram obrigados a aumentar as obri-
gações dos servos; e a esta pressão
correspondia a fuga de servos dos
campos, em busca das cidades e de
novas oportunidades de vida.
A solução para a crise seria a
substituição do regime de trabalho
servil pelo trabalho assalariado, po-
rém essa mudança incentivou a
A Cruzada dos Reis em direção à Terra Santa, da qual participaram: Ricardo Coração de Leão, da
evolução do modo de produção feu-
Inglaterra; Filipe Augusto, da França; Frederico Barba-Ruiva, do Sacro Império.

26 –
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território inimigo. A luta fratricida foi séculos IX e XIII e decaiu entre os para o comércio marítimo, que carecia
uma constante entre as ordens religio- séculos XIV e XVI. Isso equivale a dizer de instrumentos de navegação e de
sas e os cruzados latinos. Em resumo, que o movimento das Cruzadas, o bons navios.
as Cruzadas fracassaram em razão das renascimento comercial e urbano, o No século XI, termina o domínio

HISTÓRIA AD
rivalidades nacionais entre as potên- aparecimento da burguesia, enfim to- árabe sobre o Mediterrâneo, que pas-
cias ocidentais e da falta de das as transformações socioeconômi- sa a ser controlado pelos comercian-
capacidade da Igreja em organizar uma cas, políticas e até religiosas do início tes italianos. Os comerciantes, antigos
força que soubesse superar essas dis- da Baixa Idade Média não seriam ape- marginais, dirigiam-se das cidades
sensões. nas manifestações do desenvolvimen- italianas de Gênova e Veneza para os
to e apogeu do feudalismo europeu. entrepostos comerciais do Mediter-
4. Consequências das Cruzadas râneo Oriental: Constantinopla, Ale-
6. A Reabertura do xandria, Cairo e Antióquia, que
As Cruzadas não se limitaram às Mar Mediterrâneo formavam a rota do Mediterrâneo.
expedições ao Oriente. Ao mesmo De Flandres, seguindo o roteiro
tempo, os reinos ibéricos de Leão, Cas- Os cristãos retomaram o controle dos antigos vikings através da Rússia,

FÍSICA A
tela, Navarra e Aragão começavam a do Mar Mediterrâneo por meio das os comerciantes chegavam a Constan-
Reconquista da Península Ibérica Cruzadas. A abertura do Mediterrâneo tinopla pela Rota do Mar do Norte. O
contra os muçulmanos. A ofensiva teve à navegação cristã fez renascer o comércio no norte da Europa era
início com a tomada da cidade de comércio entre Ocidente e Oriente, di- controlado pelos mercadores da Gran-
Toledo, em 1086, e concluiu-se, em
1492, com a tomada de Granada.
A vitória dos italianos sobre os
muçulmanos no Mar Tirreno e norte
da África fez com que as cidades italia-
nas iniciassem o seu domínio sobre o
Mediterrâneo, lançando as sementes
do comércio e do capitalismo. As rela-
ções entre Ocidente e Oriente foram
redinamizadas depois de séculos de
bloqueio, e as mercadorias orientais
se espalhavam pela Europa.
O contato com o Oriente trouxe o
conhecimento de novas técnicas de
produção, fabricação de tecidos e
metalurgia.
O renascimento das atividades
comerciais levou ao crescimento das
cidades, a uma economia baseada na As rotas comercias incrementaram o comércio na Baixa Idade Média.
moeda, à expansão do mercado, ao
surgimento de uma camada de co- namizando as relações comerciais há de Hansa Germânica, criada em 1358,
merciantes (burguesia) e à difusão do muito tempo amortecidas. Novos pro- visando a proteger o comércio contra
espírito de lucro. O pré-capitalismo fa- dutos entram em circulação, as moe- os piratas e impor sua vontade ao rei
zia sua aparição no Mundo Medieval das voltam a ser usadas no da Dinamarca, que cobrava altos
e, ao mesmo tempo, o condenava à intercâmbio comercial: uma nova vida pedágios sobre os mercadores.
desintegração. econômica começava a surgir na orla Veneza e Gênova, através da Fran-
do Mediterrâneo. ça, atingiam Flandres, centro manu-
5. Outro enfoque fatureiro de lã, promovendo o
7. O Renascimento Comercial desenvolvimento das atividades co-
Há controvérsias sobre a explica- merciais nas feiras de Champagne.
ção e a própria periodização da crise No início da retomada das ativida- Essa rota terrestre era denominada
feudal. Para alguns historiadores, o feu- des comerciais terrestres, as dificul- Rota de Champagne, que ligava os
dalismo no Ocidente passou por um dades foram muitas: desde a cobrança três centros dinâmicos do comércio:
período de incubação entre os séculos de pedágios até as péssimas condi- Constantinopla, cidades italianas e
IV e VIII, atingiu sua plenitude nos ções das estradas. Também foi difícil Flandres.

– 27
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As atividades comerciais intensi- cio. Uma coisa influenciava a outra. 9. Os Primórdios do Capitalismo
ficaram-se mais ainda com o surgi- Os comerciantes procuravam lo- Europeu: O Pré-Capitalismo
mento das feiras, que eram cais estratégicos para se estabele-
vinculadas ao capitalismo nascente e cer: burgos (castelos fortificados),
HISTÓRIA AD

Esta nova realidade econômica


que tinham um caráter internacional. sedes de bispados, centros adminis- era muito diferente do feudalismo: a
Os locais onde elas se formavam trativos etc. produção se destinava ao mercado, as
eram pontos estratégicos das Entretanto, o crescimento natu- trocas eram monetárias; começavam
correntes comerciais. Os comer- ral e a falta de planejamento das cida- a surgir o espírito de empresa e o ra-
ciantes priorizavam suas realizações des acarretaram-lhes péssimas cionalismo. Para que o capitalismo se
nos chamados “nós de trânsito” condições sanitárias, o que facilitava implantasse definitivamente, faltava
(cruzamentos de rotas). Dentro das as epidemias e fazia crescer a morta- apenas o desenvolvimento das rela-
feiras, desenvolveram-se técnicas de lidade e o fanatismo. ções assalariadas de produção, rela-
comércio exterior, como a troca de Nas cidades, uma nova camada ções essas que somente se
moedas e as letras de câmbio. social exercia o poder: a burguesia, consolidariam na Europa por volta do
de origem humilde, que começava a século XVIII, à época da Revolução In-
8. O Renascimento Urbano rivalizar com a nobreza, disputando- dustrial.
lhe o poder político. Os reis prote- Essa fase de transição não é ainda
giam os comerciantes, dando-lhes capitalista, mas também já não é mais
No século XI, a crise feudal cedia
autonomia nas cidades, com a con- feudal; por isso, vamos denominá-la
espaço a um novo tipo de organiza-
cessão das Cartas de Comuna. pré-capitalismo, que corresponde ao
ção da vida. Nesse tempo, a popula-
A produção artesanal dentro das período entre os séculos XII e XVI.
ção europeia crescia e as cidades
cidades foi organizada em torno das As sociedades agrárias tendem a
passaram a servir de polos recep-
corporações de ofício, que regula- ser imóveis, estamentais. Com o de-
tores a servos e vilões que foram ex-
mentavam a produção das comunas, senvolvimento da riqueza mobiliária,
pulsos das propriedades senhoriais –
fixando quantidade, qualidade, pre- do dinheiro, surge a mobilidade social,
pela escassez de terras – ou que, em
ços e salários. Mestres, oficiais e a possibilidade de ascensão na escala
tempos de fome, partiam em busca
aprendizes compunham a hierarquia social. A tradição deixa de ser o único
de novas atividades, além de serem
elemento de hierarquização na vida so-
as cidades, por excelência, o local de das oficinas medievais.
cial, pois o econômico começa a
desenvolvimento das atividades mer- Dentro das cidades, formaram-se
adquirir importância.
cantis. também as guildas, associações de
Esta sociedade ainda é de tran-
Com a dinamização da vida mer- comerciantes.
sição, feudal, portanto uma sociedade
cantil, esses centros foram se trans- O poder era exercido por uma
estamental, representada pela no-
formando e adquirindo importância Assembleia local, composta de
breza e pelos servos. Porém, a po-
cada vez maior. Se o crescimento do membros das associações de comer-
sição é definida com base no
comércio levou à formação de novas ciantes.
econômico; a sociedade começa a tor-
cidades, estas, por sua vez, pro- nar-se burguesa.
vocaram a intensificação do comér-

10. Cronologia 1212 –


Cruzada das Crianças.
1217-1221 –
Quinta Cruzada.
Século XI – Início da crise feudal. 1228-1229 –
Sexta Cruzada.
1054 – Cisma do Oriente. 1248-1250 –
Sétima Cruzada.
1086 – Tomada de Toledo, dentro da Guerra de 1270 –
Oitava Cruzada.
Reconquista na Península Ibérica. Século XIII –
Aquisição, por parte de certas
1096-1099 – Primeira Cruzada. cidades, do direito de cunhar
1099 – Tomada de Jerusalém. moeda.
1147-1149 – Segunda Cruzada. 1358 – Formação da Grande Hansa
1189-1192 – Terceira Cruzada. Teutônica (ou Liga Hanseática).
1160 – Surgimento da companhia dos merca- Fim do século XIV – Início da decadência das feiras
dores da Ilha de Visby, no Mar Báltico. medievais, sobretudo na região
1202-1204 – Quarta Cruzada. de Champagne.
1204 – Pilhagem de Constantinopla pelos cru- 1407 – Fundação do primeiro banco
zados. público da Europa, em Gênova.

28 –
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HISTÓRIA AD
1. (Digital-2021) – “Constantinopla, aquela cidade vasta RESOLUÇÃO:
e esplêndida, com toda a sua riqueza, sua ativa A afirmativa [02] está incorreta porque o avanço da cultura
muçulmana já acontecia antes das Cruzadas, não foi impedida pela
população de mercadores e artesãos, seus cortesãos
ocorrência desse conflito e, mais, cresceu depois que o contato
em seus mantos civis e as grandes damas ricamente vestidas e entre ocidentais e árabes aumentou por conta das expedições
adornadas, com seus séquitos de eunucos e escravos, despertaram militares;
nos cruzados um grande desdém, mesclado a um desconfortável A afirmativa [08] está incorreta porque os senhores feudais foram
sentimento de inferioridade.” a principal força de luta nas Cruzadas, formando o exército dos
Cavaleiros Cruzados, em apoio à Igreja Católica.
(RUNCIMAN, S. A Primeira Cruzada e a fundação do Reino de
Resposta: V F V F V.
Jerusalém. Rio de Janeiro: Imago, 2003. Adaptado.)

A reação dos europeus quando defrontados com essa cidade ocorreu


em função das diferenças entre Oriente e Ocidente quanto aos(às)
a) modos de organização e participação política.
b) níveis de disciplina e poderio bélico do exército.
c) representações e práticas de devoção politeístas.
d) dinâmicas econômicas e culturais da vida urbana.
e) formas de individualização e desenvolvimento pessoal.
3. (2019) – “A cidade medieval é, antes de mais nada

FÍSICA A
RESOLUÇÃO: uma sociedade da abundância, concentrada num
O movimento das Cruzadas ampliou o contato da Europa Ocidental pequeno espaço em meio a vastas regiões pouco
com o Oriente. Constantinopla, sede do Império Bizantino, era um povoadas. Em seguida, é um lugar de produção e de trocas, onde se
centro cosmopolita e comercial que contrastava com as precárias articulam o artesanato e o comércio, sustentados por uma economia
condições do feudalismo europeu. As características dessa cidade
monetária. É também centro de um sistema de valores particular, do
eram uma decorrência da sobrevivência de estruturas herdadas do
Império Romano e também da condição de portal entre a Europa qual emerge a prática laboriosa e criativa do trabalho, o gosto pelo
e a Ásia ostentado pela metrópole bizantina. negócio e pelo dinheiro, a inclinação para o luxo, o senso da beleza. E
Resposta: D ainda um sistema de organização de um espaço fechado com muralhas,
onde se penetra por portas e se caminha por ruas e praças e que é
guarnecido por torres.”
(LE GOFF, J.; SCHMITT, J.-C. Dicionário temático do Ocidente
Medieval. Bauru: Edusc, 2006.)

No texto, o espaço descrito se caracteriza pela associação entre a


ampliação das atividades urbanas e a
2. (UEPG-2021) – Expedições militares ocidentais comandadas pela a) emancipação do poder hegemônico da realeza.
Igreja Católica, as Cruzadas Medievais tiveram como motivação inicial a b) aceitação das práticas usurárias dos religiosos.
libertação de Jerusalém, então dominada pelos árabes. Apesar desse c) independência da produção alimentar dos campos.
argumento religioso, as Cruzadas provocaram grande impacto político e d) superação do ordenamento corporativo dos ofícios.
econômico no mundo medieval. e) permanência dos elementos arquitetônicos de proteção.

A respeito desse tema, assinale o que for correto. RESOLUÇÃO:


(01) A Ordem dos Cavaleiros Templários foi criada durante o período das A descrição das cidades medievais feita por Le Goff enfatiza a
Cruzadas e teve importante participação militar no enfrentamento importância do controle sobre o acesso à cidade, protegida por
muralhas e um certo número de portas fortificadas. Esse aparato
aos mouros.
defensivo, necessário em uma época extremamente belicosa
(02) Do ponto de vista cultural, as Cruzadas impediram o avanço da quanto o período citado, foi copiado dos castelos medievais, tão
cultura muçulmana para o Ocidente e eliminaram a penetração do significativos no contexto do feudalismo.
islamismo na Europa medieval. Resposta: E
(04) A criação de rotas comerciais ligando Oriente e Ocidente foi uma
das principais consequências econômicas geradas pela ocorrência
das Cruzadas.
(08) Os senhores medievais constituíram uma força de oposição às
Cruzadas. Eles temiam que o movimento provocasse a
desarticulação do feudalismo e o consequente enfraquecimento do
poder que exerciam.
(16) Cruzadas dos Mendigos, Cruzada Albigense e Cruzadas das
Crianças, foram algumas das expedições militares que compuseram
o período das Cruzadas.

– 29
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4. (UPF-2021) – “No final da Idade Média surgiu um provérbio: ‘O ar da 5. (UFRG-2020) – Leia o enunciado abaixo.
cidade torna o homem livre’.”
(PAIS, Marco Antonio de O. “No dia 15 de abril de 2019, um incêndio destruiu uma parte
O despertar da Europa. São Paulo: Atual, 1992, p. 38.) importante da Catedral de Notre-Dame, em Paris, um dos mais famosos
HISTÓRIA AD

edifícios medievais franceses. Embora construções anteriores tenham


Este provérbio indica que está acontecendo uma mudança no cenário existido no mesmo local, foi a partir dos séculos XII e XIII que a igreja
europeu, marcado pelo declínio do feudalismo e o ressurgimento das passou a tomar sua forma mais conhecida, período em que houve a
cidades, refletindo a nova visão do homem daquele tempo diante do consolidação __________ na Europa. Sua arquitetura é hoje uma das
mundo. mais conhecidas manifestações do estilo __________,
predominantemente __________ e marcado pela grandiosidade para
Considerando as transformações decorrentes da transição do abrigar o número crescente de fiéis. Trata-se de um modelo
feudalismo para o capitalismo e o provérbio acima, é correto afirmar: arquitetônico que obedece a uma __________ e que mantém relações
a) as Cruzadas (1096-1270) propiciaram um intercâmbio religioso entre de fundo com a filosofia escolástica.”
o Oriente e o Ocidente, resultando numa maior tolerância religiosa
nas cidades medievais, que passaram a seguir o modelo da cidade Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas do
de Jerusalém. enunciado acima.
b) a vida no mundo rural era marcada por uma estrutura social a) do feudalismo – barroco – feudal – ordem capitalista
estratificada, enquanto nos novos centros urbanos as práticas b) da cristandade – gótico – burguês – ordem escolástica
comerciais e artesanais criaram condições para a ascensão social do c) do feudalismo – barroco – rural – ordem iluminista
homem urbano. d) do feudalismo – gótico – católico – ordem protestante
c) a condição servil caracterizava aqueles que trabalhavam nas terras do e) da cristandade – gótico – urbano – ordem racional
senhor e a ele entregavam parte da colheita, enquanto nas cidades,
já no século XII, as relações de trabalho eram totalmente RESOLUÇÃO:
A Catedral de Notre Dame foi erguida num período medieval de
assalariadas.
grande consolidação e influência da Igreja Católica na Europa. Em
d) as cidades medievais, contando com seu próprio conjunto de leis e estilo gótico, próprio para o meio urbano, uma vez que na Baixa
jurisprudência, livres da influência dos senhores feudais, Idade Média o renascimento das cidades já se fazia presente, a
proporcionaram liberdade a todos aqueles que se sentiam oprimidos Catedral foi pensada sob a lógica da racionalidade típica da filosofia
pelo modelo social feudal. escolástica, que não desprezava o uso da razão nas questões
religiosas.
e) o Renascimento Comercial no final da Idade Média propiciou que as
Resposta: E
cidades medievais ficassem livres do pagamento das taxas e tributos
feudais, deixando os habitantes das cidades livres de tais encargos
monetários.

RESOLUÇÃO:
Na Baixa Idade Média, séculos XII-XV, ocorreram inúmeras
transformações na Europa que contribuíram para a crise feudal e o
surgimento do embrião do capitalismo. No século XII, surgiu a
burguesia, comerciantes que dinamizaram a economia tornando-
a mais urbana e monetária. Clero e nobreza entraram em
decadência, teve início um processo de centralização do poder nas
mãos do rei culminado na formação dos Estados Nacionais
Modernos. A estrutura feudal caracterizada por um mundo rural e
estratificado foi se modificando em função de uma nova
mentalidade burguesa pautada no comércio, no mundo urbano e
no uso de moedas.
Resposta: B

30 –
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MÓDULO 6 Contexto e Fatores da Expansão Marítima


1. Transição do Feudalismo para o Nessas cidades, chamadas bur- tralizado nas mãos dos reis), à afir-

HISTÓRIA AD
Capitalismo gos, habitavam os comerciantes que, mação da cultura renascentista e à rup-
por isso, foram chamados burgue- tura da unidade cristã da Europa
A expansão marítimo-comercial ses. Os burgueses entravam em Ocidental, em decorrência da Reforma.
europeia, ocorrida nos séculos XV e acordo com o senhor feudal a quem
XVI, constitui um dos principais capí- pertenciam as terras da cidade, pa- 2. Fatores da Expansão
tulos da transição da Idade Média para gando-lhe anualmente uma soma em Ultramarina Europeia
a Idade Moderna. Assim, para com- dinheiro; para defender seus interes-
preendê-la, é necessário inseri-la no ses contra comerciantes estrangei- No plano econômico, há que se
quadro das transformações por que ros, organizavam-se em associações. considerar as crises dos séculos XIV
passou a Europa entre os séculos Xll e Muitos artesãos estabeleceram-se (retração do comércio) e XV (necessi-
XV (Baixa Idade Média), fase marca- nos centros urbanos e organizaram- dade de expandir o comércio), que le-
da pela crise do feudalismo e pela se, por sua vez, em corporações de varam à procura de novos mercados,
formação do capitalismo, conhecida acordo com a profissão. As corpora- tanto para consumir os excedentes
como pré-capitalismo. ções evitavam a concorrência exter- europeus de manufaturados como
na e a rivalidade entre os artesãos de para fornecer metais preciosos e
O pré-capitalismo uma mesma cidade, regulando a

FÍSICA A
artigos orientais, através de uma nova
“Vários foram os fatores que con- quantidade, qualidade e preço da rota. No plano sociopolítico, havia o
tribuíram para o surgimento do capita- produção de cada um; adequando a
interesse da burguesia mercantil em
lismo. As Cruzadas propiciaram o produção ao consumo (dos habitan-
ampliar a circulação comercial, a qual
renascimento do comércio na Europa, tes do burgo e da zona rural próxima
foi também impulsionada pelo fortale-
que deu trabalho a numerosos desem- a ele), não havia risco de superprodu-
cimento do poder do Estado Nacional.
pregados. Produtos orientais — es- ção.”
No plano cultural, cabe citar a divulga-
peciarias, principalmente — (Jobson de Arruda) ção de novas ideias, uma maior
começaram a ser importados e distri-
buídos a partir dos portos da Itália. Os curiosidade intelectual por parte dos
A rigor, os empreendimentos marí-
saques efetuados nas cidades muçul- timo-comerciais eliminaram os obstá- europeus e, sobretudo, a contribuição
manas colocaram numerosas moedas culos que se opunham à economia de das grandes invenções (pólvora,
em circulação. Para explorar esse co- mercado europeia, ao mesmo tempo bússola, papel e imprensa). Final-
mércio, foram organizadas grandes em que contribuíam para a desinte- mente, no plano religioso, deve-se
companhias que possuíam diversos gração do sistema feudal. Naquela épo- levar em conta o “ideal cruzadista”,
donos (‘acionistas’) e barcos. Várias ro- ca, o Velho Mundo assistia à ascensão isto é, o empenho em expandir a fé
tas comerciais foram desenvolvidas: a da burguesia mercantil, ao advento das cristã por meio da conversão dos gen-
do Mediterrâneo ligava as cidades ita- monarquias nacionais (poder cen- tios (pagãos).
lianas a Constantinopla e a outros
portos do litoral oriental desse mar;
a da Champagne ligava Itália a Flan-
dres, de onde partia a rota do Mar
do Norte, rumo a Constantinopla.
Formou-se, assim, um anel de co-
mércio que se desenvolveu rapida-
mente. Rotas secundárias
ligavam-se às principais, formando
verdadeiros nós de trânsito onde pa-
ravam os comerciantes para trocar
e vender seus produtos. Assim, sur-
giram as feiras medievais, que eram
de caráter temporário; pouco a
pouco, elas foram prolongando-se e
estabilizando-se, acabando por se
tornar centros permanentes de Trazidas pelos árabes da África e do Extremo Oriente, por via terrestre, as especiarias e os artigos de
trocas, cidades. luxo alcançavam a Europa pelo Mar Mediterrâneo, transportados por genoveses e venezianos.

– 31
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HISTÓRIA AD

1. (UNESP) – “(...) A abertura de novas rotas, a fim de superar os en- 2. (FUVEST)


traves derivados do monopólio das importações orientais pelos
venezianos e muçulmanos, e a escassez do metal nobre implicavam
dificuldades técnicas (navegações do Mar Oceano) e econômicas (alto
custo dos investimentos) (...), o que exigia larga mobilização de recursos
(...) em escala nacional (...) A expansão marítima, comercial e colonial,
postulando um certo grau de centralização do poder para tornar-se
realizável, constituiu-se (...) em fator essencial do poder do Estado
metropolitano.”
(Fernando Novais, O Brasil nos quadros
do antigo sistema colonial.
In: Carlos Guilherme Motta (org.) Brasil em perspectiva.)

A partir do texto, responda:


Por que a centralização política foi condição para a expansão marítima e (Alexander Anievas e Kerem Nisancioglu, How the West Came to
comercial nos séculos XV e XVI? Rule. The Geopolitical Origins of Capitalism. Londres: PlutoPress,
2015. Adaptado.)
RESOLUÇÃO:
Porque caberia ao Estado, representado pelo rei, coordenar os Encontram-se assinaladas no mapa, sobre as fronteiras dos países
esforços econômicos (inclusive com utilização de investimentos
atuais, as rotas eurasianas de comércio a longa distância que, no início
particulares), técnicos e militares para a realização das viagens
ultramarinas e de seu desdobramento lógico: a conquista colonial da Idade Moderna, cruzavam o Império Otomano, demarcado pelo
para fins de exploração mercantil. quadro. A respeito dessas rotas, das regiões que elas atravessavam e
das relações de poder que elas envolviam, é correto afirmar que
a) a China, com baixo grau de desenvolvimento político e econômico,
era exportadora de produtos primários para a Europa.
b) a Índia era uma economia fracamente vinculada ao comércio a longa
distância, em vista da pouca demanda por seus produtos.
c) a Europa, a despeito do poder otomano, exercia domínio
incontestável sobre o conjunto das atividades comerciais eurasianas.
d) a África Ocidental se encontrava em posição subordinada ao poderio
otomano, funcionando como sua principal fonte de escravos.
e) o Império Otomano, ao intermediar as trocas a longa distância,
forçou os europeus a buscar rotas alternativas de acesso ao Oriente.

RESOLUÇÃO:
A partir das Cruzadas (1096-1270), as relações comerciais entre a
Europa e a Ásia, praticamente interrompidas durante a Alta Idade
Média, foram restabelecidas. Nessa nova configuração comercial,
destacavam-se a “Rota da Seda”, que ligava a China ao Oriente
Próximo através da Ásia Central, e a Rota do Índico, na qual os
produtos do Sudeste Asiático e da Índia chegavam ao
Mediterrâneo através do Mar Vermelho. Entretanto, a formação do
Império Otomano e sua rápida expansão, a partir da Anatólia (na
Ásia Menor ou Turquia atual), fez com que essas e outras rotas
euroasianas passassem a ter parte de seu itinerário dominada
pelos turcos, o que elevou os custos por conta de novas
tributações. Esse processo agravou-se quando a tomada de
Constantinopla, em 1453, colocou sob domínio otomano o maior
ponto de contato mercantil entre o Oriente e o Ocidente. A partir
daí, os europeus – notadamente portugueses – aceleraram a busca
de um caminho marítimo para as Índias, com o fito de evitar a
intermediação turca.
Resposta: E

32 –
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3. (PUC-RJ) – A expansão comercial e marítima, dos séculos XV e XVI, c) Teve motivações análogas às da Reconquista, como a conquista de
foi uma experiência de grande impacto no mundo europeu, pois: terras e riquezas, a expansão do Cristianismo e o combate aos
I. possibilitou a exploração das novas terras descobertas, por muçulmanos.
intermédio de atividades econômicas propiciadoras do abastecimento d) Foi promovida pela Igreja estabelecida em Roma, que incumbiu os

HISTÓRIA AD
de gêneros agrícolas e metais preciosos em larga escala. Estados ibéricos de empreenderem a conquista de novos
II. utilizou-se de novas técnicas, possibilitadoras da ampliação dos continentes.
conhecimentos náuticos e astronômicos. e) Foi provocada pelos avanços dos povos islamizados do Norte da
III. estimulou a difusão de relatos de cunho etnocêntrico sobre os povos África sobre o sul do continente europeu.
e terras extraeuropeus.
IV. propiciou a paz religiosa entre reformadores e ortodoxos, na medida RESOLUÇÃO:
A questão estabelece um paralelo entre a Guerra de Reconquista
em que viabilizou a distribuição desses grupos pelos novos espaços
(722-1492), travada na Península Ibérica contra os mouros, e a
habitáveis do mundo colonial. Expansão Marítima Portuguesa, que não apenas contatou povos
islamizados, mas também populações pagãs da África. O
Indique a opção que apresenta as afirmativas corretas. relacionamento com estas últimas envolve outro componente
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. religioso das Grandes Navegações, qual seja o “impulso salvífico”
(desejo de converter os pagãos à fé católica).
b) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
Resposta: C
c) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
d) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
e) Somente as afirmativas I, II, III e IV são corretas.

RESOLUÇÃO:

FÍSICA A
A afirmativa IV está incorreta, pois a expansão marítima não
pacificou os conflitos religiosos. A Europa Moderna foi palco de
inúmeros desses conflitos. 5. (UNICID) – “A partir de 1471, o rei de Portugal anexa São Tomé e
Resposta: C
Príncipe, no golfo da Guiné: é a primeira colônia dessa era. Depois vêm
as grandes expedições marítimas, na virada do século XV para o século
XVI: o genovês Cristóvão Colombo, a serviço da Coroa espanhola,
“descobre” a América em 1492, e o português Vasco da Gama, a Índia,
em 1498. Nos dois casos, trata-se de, simultaneamente, encontrar as
rotas das especiarias, apropriar-se das riquezas da Ásia e evangelizar as
populações. A colonização atende, tanto para Portugal quanto para a
Espanha, a um projeto ao mesmo tempo comercial e religioso. Ouro e
Cristo... .”
4. (FGV) – Leia com atenção o trecho de Os Lusíadas. (Marc Ferro. A colonização explicada a todos, 2017.)

“Quem eram, de que terra, que buscavam, Considerando o texto e conhecimentos sobre as expansões marítimas
Ou que partes do mar corrido tinham? e comerciais europeias, pode-se afirmar que a primazia das colonizações
Os fortes Lusitanos lhe tornavam estava relacionada
As discretas respostas que convinham: a) às cidades-Estado tradicionalmente vinculadas ao comércio de
– «Os Portugueses somos do Ocidente, produtos orientais.
Imos buscando as terras do Oriente. b) aos Estados protestantes enriquecidos com o confisco dos bens da
«Do mar temos corrido e navegado Igreja Católica.
Toda a parte do Antártico e Calisto, c) aos processos de centralização do poder político nas monarquias
Toda a costa Africana rodeado; europeias.
Diversos céus e terras temos visto; d) às sociedades europeias caracterizadas pela manutenção da
Dum Rei potente somos, tão amado, sociedade feudal.
Tão querido de todos e benquisto, e) à pressão demográfica em Estados de pequenas dimensões no
Que não no largo mar, com leda fronte, continente europeu.
Mas no lago entraremos de Aqueronte.”
RESOLUÇÃO:
(Luís de Camões, Os Lusíadas, século XVI. Disponível em:
Os monarcas europeus, especialmente os ibéricos, envolvidos no
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000178.pdf. processo de centralização política, viam na expansão a
Adaptado.) possibilidade de aumentar seus rendimentos e, com isso, fortalecer
seu poder. Daí o pioneirismo de Portugal e da Espanha nas Grandes
Sobre a chamada expansão marítima do século XVI, é correto afirmar: Navegações.
Resposta: C
a) Iniciou-se com o Périplo Africano, que representou o primeiro
contato histórico dos europeus com os povos da África.
b) Foi possibilitada pelo processo de descentralização política
portuguesa, que garantiu a participação de grupos particulares nas
atividades marítimas.

– 33
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MÓDULO 7 Expansão Marítima: Ciclo Oriental


1. Origem de Portugal poder real por meio da Revolução de pentinamente, o que incentivou a bus-
HISTÓRIA AD

Avis (1383-85), promovida pela bur- ca de uma rota para as Índias. Assim,
A formação do Reino de Portugal guesia; aperfeiçoamentos náuticos pela com a morte do Infante D. Henrique
está associada à longa Guerra da Re- invenção da caravela, utilização da vela (1460), que até então dirigira a
conquista entre cristãos e muçulma- triangular ou “latina” e, possivelmente, expansão marítima portuguesa, o Es-
nos na Península Ibérica. Muitos a existência de um centro de estudos tado luso empenhou-se em completar
nobres marginalizados pelas transfor- náuticos em Sagres; posição geográfica o “périplo africano”. Nessa nova etapa,
mações do feudalismo participaram favorável em direção à costa africana e destacaram-se as viagens de Bar-
das lutas contra os mouros em troca até mesmo o espírito cruzadista tolomeu Dias (Cabo das Tormentas ou
de benefícios (feudos). Henrique de presente na expansão lusa. Boa Esperança, em 1488) e de Vasco
Borgonha recebeu do Rei de Leão e da Gama (chegada a Calicute, na Índia,
3. Viagens Portuguesas em 1498). Pouco depois, com o envio
Castela, Afonso VI, terras situadas en-
da esquadra de Pedro Álvares Cabral,
tre os Rios Douro e Minho (Condado
Os empreendimentos marítimos que descobriu o Brasil, em 1500, ini-
Portucalense). Em 1139, Afonso Hen-
portugueses devem ser divididos em ciou-se a construção do Império Colo-
riques, filho de Henrique de Borgonha,
duas etapas distintas: devassamento do nial Português no Oriente.
rompeu as relações de suserania e litoral da África e procura de um novo Já no século XVI, sob o comando
vassalagem com os castelhanos e in- caminho marítimo para o Oriente do almirante Francisco de Almeida,
titulou-se rei de Portugal, fundando a (Índias). A primeira foi iniciada pela to- novas tentativas são desenvolvidas,
Dinastia de Borgonha (1139-1383). mada de Ceuta em 1415, entreposto mas somente por volta de 1509 os
mercantil norte-africano até então portugueses vêm a conhecer suas
2. Pioneirismo Luso controlado pelos mouros. Nessa fase, vitórias mais significativas. Entre
nas Grandes Navegações durante a qual foram fundadas várias esse ano e aproximadamente 1515,
feitorias na costa africana para traficar o comandante alm. D. Afonso de
Portugal foi o país pioneiro na ex- escravos e produtos locais (ouro, mar- Albuquerque — considerado o for-
pansão marítima em virtude de uma fim, pimenta-vermelha), descobriram-se mador do Império português nas
série de fatores: desenvolvimento co- as ilhas atlânticas da Madeira, dos Índias — passou a ter sucessivas
mercial, que proporcionou o surgimen- Açores e de Cabo Verde; as Canárias vitórias no Oriente, conquistas que
to de uma burguesia dinâmica e foram descobertas anteriormente. atingiram desde a região do Golfo
economicamente forte; interesse do Com a conquista de Constantino- Pérsico (Áden), adentraram a Índia
grupo mercantil em expandir suas tran- pla pelos turcos (1453), os preços das (Calicute, Goa, Diu, Damão), a ilha do
sações comerciais; consolidação do especiarias orientais elevaram-se re- Ceilão e chegaram até à região da
Indochina, onde
foi conquistada a
importante Ilha de
Java.

Para realizar o Ciclo


Oriental de
Navegações, os
portugueses
organizaram
sucessivas expedições
que devassaram o
litoral atlântico
africano. Depois,
penetrando o Oceano
Índico, navegaram até
Calicute, na Índia.

34 –
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4. Cronologia dos Módulos 6 e 7 1460 – Morte do infante D. Henrique, o Navegador.


1482 – Construção do Castelo de São Jorge da
722 – Início da Guerra de Reconquista da Mina, no Atual Gana.

HISTÓRIA AD
Península Ibérica. 1488 – Bartolomeu Dias dobra o Cabo das
1139 – Fundação do Reino de Portugal por D. Tormentas (ou Boa Esperança).
Afonso Henriques. 1492 – Descobrimento da América por Colombo.
1249 – Conquista do Algarve e fim da Guerra de 1498 – Chegada de Vasco da Gama a Calicute, na
Reconquista em Portugal. Índia.
1383-85 – Revolução de Avis: D. João I é aclamado rei 1500 – Descobrimento do Brasil por Cabral.
de Portugal.
1507 – Os Portugueses conquistam Ormuz, no
1415 – Conquista de Ceuta: início da Expansão
Golfo Pérsico.
Marítima Portuguesa.
1419 – Descobrimento do Arquipélago da Madeira. 1510 – Os Portugueses conquistam Goa, na Índia.
1444 – Descobrimento do Arquipélago de Cabo 1511 – Os Portugueses conquistam Malaca, na
Verde. Malásia.
1456 – Chegada dos portugueses ao Golfo da 1557 – Chegada dos Portugueses a Macau na
Guiné. China.

1. (PUC-RJ) – A política expansionista empreendida pela Coroa 2. (UEM – Adaptado) – No início da Idade Moderna, os europeus se
portuguesa desde o início do século XV pelo Atlântico, em direção à aventuraram pelos oceanos em busca de riquezas e de novas terras.

FÍSICA A
África e à América Portuguesa, tinha como intuito a exploração Sobre esse processo de expansão marítima conhecido como “Grandes
econômica, obtida por meio do comércio, sobretudo de produtos Navegações”, considere os itens abaixo.
tropicais, metais preciosos e escravos; e também objetivos geopolíticos
e religiosos com o estabelecimento das novas rotas atlânticas e a I. As grandes viagens marítimas ocorridas no século XV foram
expansão do cristianismo. Com relação à expansão do cristianismo nos possibilitadas pelo avanço da tecnologia marítima e pelo
continentes americano e africano, aperfeiçoamento do conhecimento cartográfico.
a) indique duas ações empreendidas pela Coroa portuguesa para II. O pioneirismo português no processo de expansão marítima se
expandir o cristianismo na América portuguesa; deve, entre outros fatores, à consolidação precoce da monarquia
b) explique a relação entre a expansão do cristianismo e os interesses centralizada, à existência de um grupo mercantil enriquecido e à
comerciais portugueses em territórios africanos. liderança em tecnologia marítima.
III. A expansão portuguesa iniciou com a conquista de Ceuta, cidade
RESOLUÇÃO: moura localizada no litoral do Marrocos, que era um importante
a) Incentivo à formação de missões religiosas e ao envio de centro comercial, para onde convergiam as principais rotas
missionários; apoio à catequização dos nativos e à formação de
transaarianas, que transportavam produtos como ouro, marfim,
religiosos que se tornariam missionários locais; por meio do
Padroado a Coroa tinha a função de “erigir” Igrejas; ensino pimenta e escravos.
religioso para os colonos; proibição de outros cultos; delegação IV. O pensamento cristão e católico apresentou-se indiferente às
da Coroa à Companhia de Jesus do direito à catequese. Grandes Navegações, pois a Igreja entendia que o trabalho de
b) Os contatos políticos e comerciais portugueses com as catequese em territórios desconhecidos era penoso e infrutífero.
sociedades africanas foram realizados em conjunto com a
expansão do cristianismo. A conversão de novos povos foi
utilizada para o estabelecimento de privilégios comerciais, São corretos os itens
sobretudo a conversão das elites africanas (reis, chefes, a) I e II somente.
governadores e “corte”), que “em troca” davam vantagens aos b) II e III somente.
portugueses, como permissão para o estabelecimento de c) III e IV somente.
feitorias e envio de missionários e comerciantes para o interior
d) I, II e III somente.
dos territórios, controle de rotas comerciais para o interior e
“monopólio” do comércio de alguns produtos. Além disso, e) II, III e IV somente.
muitos missionários portugueses eram também comerciantes
enviados pelo governo português com esses dois intuitos, o de RESOLUÇÃO:
estabelecer contatos comerciais e políticos e o de expandir o O item IV está incorreto porque um dos fatores das Grandes
cristianismo. Navegações foi a difusão da fé católica por meio da conversão dos
gentios (pagãos), se necessário recorrendo à força, o que alguns
historiadores chamaram de “espírito cruzadista”.
Resposta: D

– 35
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3. (FAMERP) c) os nomes atribuídos pelos colonizadores às terras do Novo Mundo


sempre respeitaram motivações e princípios religiosos.
d) o objetivo primordial da colonização portuguesa do Brasil foi impedir
o avanço do protestantismo nas terras do Novo Mundo.
HISTÓRIA AD

e) uma visão mística da colonização acompanhou a exploração dos


recursos naturais existentes nas terras conquistadas.

RESOLUÇÃO:
O texto, escrito por um clérigo e historiador brasileiro do século
XVII, faz referência à origem mercantil do nome “Brasil”, que veio
a suplantar a denominação original de “Terra de Santa Cruz” –
resultado que, na opinião do autor, representou uma vitória do
espírito profano sobre os valores da religião cristã.
Resposta: E

(Serge Gruzinski. 1480-1520: a passagem do século, 2008. Adaptado.)

Considerando o mapa e o contexto histórico, é correto constatar que


essas viagens
5. (FMABC) – A presença de portugueses e outros europeus na África
a) estabeleceram as bases de uma economia planetária, com plena
intensificou-se a partir do século XV, impulsionada por interesses
integração comercial entre as diversas partes do mundo.
comerciais. No contexto das trocas comerciais que se efetivaram, houve
b) contribuíram para a globalização, ao conectar partes do mundo que
crescente demanda por escravos. O comércio escravista estabelecido
até então se ignoravam ou não se ligavam diretamente.
principalmente por portugueses, na África,
c) resultaram de equívocos e erros de navegação, mais do que de
a) desestabilizou as trocas e as rotas comerciais vigentes no
cálculos ou de um projeto expansionista organizado.
continente, uma vez que o comércio de ouro, marfim e pedras
d) representaram a ampliação da hegemonia romana sobre o planeta,
preciosas, até então hegemônico, foi abandonado e substituído pelo
iniciada na Antiguidade Clássica.
tráfico de escravos gerido pelas feitorias portuguesas.
e) tiveram por objetivo a aquisição de escravos, daí privilegiarem rotas
b) destruiu a convivência pacífica existente entre as sociedades
na direção da África e da Ásia.
africanas, uma vez que a disputa pelo abastecimento do tráfico
instituído pelos portugueses estimulou guerras religiosas, além de
RESOLUÇÃO:
As Grandes Navegações (entre as quais se incluem as viagens de provocar uma grande baixa demográfica.
Vasco da Gama e de Cabral) alargaram em muito o mundo c) alterou a estrutura econômica e a dinâmica do comércio escravista
conhecido dos europeus, permitindo-lhes incluir, em uma existente no continente, uma vez que passou a ser feito em enorme
economia de âmbito planetário/global, regiões e povos até então escala, priorizando a captura massiva de homens para o
desconhecidos (a América) ou com os quais a Europa não mantinha
fornecimento de mão de obra às plantações coloniais no continente
contato direto (Ásia e África).
Resposta: B americano.
d) aprofundou uma prática que existia há séculos, uma vez que o
comércio escravista africano era responsável pela riqueza de vários
reinos, abastecendo não apenas o continente em questão, como os
países árabes muçulmanos e europeus.
e) desequilibrou as relações comerciais, culturais e políticas entre as
diferentes sociedades africanas, uma vez que os reinos da costa
4. (UNESP) – “O dia em que o capitão-mor Pedro Álvares Cabral levan- ocidental passaram a ser subjugados pelos reinos da África oriental,
tou a cruz [...] era a 3 de maio, quando se celebra a invenção da Santa engajados no tráfico escravista implementado por Portugal.
Cruz em que Cristo Nosso Redentor morreu por nós, e por esta causa
RESOLUÇÃO:
pôs nome à terra que se encontrava descoberta de Santa Cruz e por
Embora a escravidão já existisse em numerosas culturas africanas
este nome foi conhecida muitos anos. Porém, como o demônio com o antes da chegada dos europeus, essa atividade somente ganhou
sinal da cruz perdeu todo o domínio que tinha sobre os homens, dimensão extracontinental quando foi inserta no contexto da
receando perder também o muito que tinha em os desta terra, trabalhou Revolução Comercial, como fornecedora de mão de obra para
que se esquecesse o primeiro nome e lhe ficasse o de Brasil, por causa proporcionar uma exploração mais lucrativa das colônias
americanas. Aos chefes tribais (sobas) e a seus súditos que
de um pau assim chamado de cor abrasada e vermelha com que tingem
traficavam com os europeus, o escambo de escravos lhes dava
panos [...].” acesso a produtos que de outra forma não lhes seriam acessíveis,
(Frei Vicente do Salvador, 1627. Apud Laura de Mello e Souza. como aguardente, tabaco, panos e sobretudo armas.
O Diabo e a Terra de Santa Cruz, 1986. Adaptado.) Resposta: C

O texto revela que


a) a Igreja católica defendeu a prática do extrativismo durante o processo
de conquista e colonização do Brasil.
b) um esforço amplo de salvação dos povos nativos do Brasil orientou
as ações dos mercadores portugueses.

36 –
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Ciclo Ocidental e Consequências


MÓDULO 8
da Expansão Marítima

HISTÓRIA AD
1. lntrodução tes das ilhas centro-americanas. Como 4. Consequências da
vice-rei, realizou ainda quatro viagens, Expansão Ultramarina Europeia
Um conjunto de fatores econômi- procurando encontrar os mercados in-
cos, sociais, políticos, culturais e até dianos. Descobriu as Pequenas • Deslocamento do eixo econômico
mesmo geográficos tornou possível a Antilhas, Porto Rico, Jamaica, Trinidad, europeu do Mediterrâneo para o
Portugal ser o pioneiro da Expansão o Continente Sul-Americano na foz do Atlântico, acarretando a decadên-
Marítimo-Comercial dos Tempos Mo- Rio Orenoco e atingiu, finalmente, as cia das cidades italianas.
dernos. Os demais países europeus, costas da América Central (atual Pana- • Colonização da América, com uti-
na mesma época em que os portugue- má). lização do trabalho compulsório
ses se lançaram no movimento de Américo Vespúcio, comerciante e indígena e africano.
expansão oceânica, particularmente piloto florentino a serviço de Portugal e • Expansão do comércio europeu
Inglaterra, França, Países Baixos e Espanha, realizou quatro viagens à (Revolução Comercial) e Revolu-
Espanha, estavam envolvidos em uma América, corrigindo o erro de Colombo. ção dos Preços, provocada pelo
gama de problemas que os retardaram Essas investigações de Vespúcio foram grande afluxo de metais preciosos
na procura de um novo caminho para confirmadas em 1513, quando Núnez provenientes da América.
o Oriente. Balboa descobriu o “Mar do Sul” • Adoção da política econômica

FÍSICA A
(Oceano Pacífico). A confirmação da hi- mercantilista, fundamentada no
2. Empreendimentos Espanhóis pótese da esfericidade da Terra deve- regime de monopólio.
se ao português Fernão de • Acumulação primitiva de capitais,
No caso da Espanha, o principal Magalhães, que, a serviço da Espanha, realizada pela circulação de mer-
obstáculo foi de ordem político-militar. realizou o primeiro périplo mundial, cadorias (capitalismo comercial).
A Guerra de Reconquista contra os entre 1519 e 1522. Morto nas Filipinas • Fortalecimento da burguesia mer-
mouros ocupou os espanhóis durante pelos nativos, a primeira viagem de cir- cantil nos países atlânticos e con-
muitos séculos, pois somente em cunavegação somente foi completada solidação do Estado Moderno
1492, após a Batalha de Granada, é que pelo espanhol Sebastián de Elcano. (absolutista).
os Reis Católicos expulsaram os Como descobridores do Novo Mundo, • Europeização do mundo e expan-
muçulmanos de seu território. Não é os espanhóis procuraram dominar são do catolicismo.
mera coincidência o fato de a viagem rapidamente os impérios indígenas
de Cristóvão Colombo ser dessa épo- existentes no México (astecas) e no 5. A Rivalidade Luso-Espanhola
ca. Colombo, de origem controversa Peru (incas), a fim de se apossar do ouro
(genovês ou catalão), completou sua e da prata americanos. O papel da Santa Sé, como autori-
formação de marinheiro a serviço do rei dade supranacional, sempre foi aca-
português. Acreditava que era pos- 3. França, Inglaterra e Holanda tado pelos monarcas europeus. Estes
sível atingir “el levante por el po- admitiam que somente ao papa com-
niente” dando a volta ao mundo, França e Inglaterra participaram petia distribuir “a missão cristiani-
viajando de Ocidente para Oriente. tardiamente da expansão marítima, zadora a ser desenvolvida em terras
Não conseguindo apoio financeiro de em razão de, sobretudo, fatores inter- de infiéis”. Isso acarretava o reconhe-
Portugal, Colombo associou-se aos ir- nos, tais como o processo de centrali- cimento da respectiva soberania sobre
mãos Pinzon e recebeu uma pequena zação monárquica (retardado pela as zonas conquistadas. Os portugue-
ajuda dos Reis Católicos, Fernando de resistência da nobreza), a existência ses sempre foram beneficiados com
Aragão e lsabel de Castela. Com uma de uma burguesia nacional ainda pou- as intervenções pontifícias durante a
nau (Santa Maria) e duas caravelas co interessada nos mercados extraeu- exploração do litoral africano na pri-
(Pinta e Niña), partiu do Porto de Palos ropeus e a devastação provocada pela meira metade do século XV; por
em 3 de agosto de 1492, fazendo Guerra dos Cem Anos (1337-1453), na exemplo: a bula de 1442 concedia
escala nas Ilhas Canárias para reparo França, e pela Guerra das Duas Rosas soberania a D. Henrique pela missão
numa das embarcações. Em 12 de ou- (1435-55), na Inglaterra. Quanto aos expansionista portuguesa. Entretanto,
tubro do mesmo ano, avistou a Ilha de holandeses, a principal razão de seu na segunda metade do século XV, a
Guanahani (atual São Salvador), a su- atraso em participar das Grandes Na- assinatura dos tratados de Alcácovas
deste da Flórida. Colombo não duvi- vegações foi de ordem política, pois a (1479) e de Toledo (1480), entre os
dou em nenhum momento que Holanda somente se declarou inde- Reis Católicos da Espanha e Afonso V
tivesse descoberto novas terras, por pendente da Espanha em 1581. de Portugal, já demonstra uma certa
isso chamou de “índios” os habitan- rivalidade entre os países ibéricos.

– 37
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Após a viagem de Cristóvão Colombo niência das duas coroas. Acredita-se, 6. Visão Eurocêntrica
e a consequente descoberta de novas entretanto, que a linha de Tordesilhas da História do Brasil
terras além-mar, o papa Alexandre VI deveria passar sobre Belém, no Pará,
(cardeal aragonês), em 1493, pela Bula e Laguna, em Santa Catarina. Apesar Quando tratamos da História do
HISTÓRIA AD

lnter Coetera, outorgou todos os privi- da assinatura do Tratado de Tordesi- Brasil, é comum utilizarmos a expres-
légios anteriormente concedidos aos lhas, continuaram as disputas luso-es- são “Descobrimento do Brasil” para
reis de Portugal, garantindo aos Reis panholas, agora quanto à questão das designar o momento em que os por-
Católicos a posse das terras que ficas- Molucas. As negociações entre as mo- tugueses iniciaram seu processo de
sem além de um meridiano imaginá- narquias ibéricas sobre o problema dominação sobre este território.
rio, traçado de polo a polo e passando chegaram ao final com a assinatura da Na maioria das vezes, esquece-
a cem léguas a oeste de qualquer das Capitulação de Saragoça, em 1529, monos de que, quando os portugue-
Ilhas de Cabo Verde, contanto que não pela qual a Espanha cedeu seus ses aqui chegaram, a terra já se
tivessem sido possuídas por algum eventuais direitos sobre as Molucas
encontrava habitada pelos nativos,
príncipe cristão antes de 1492. D. João em troca de 350 mil ducados de ouro.
que produziam sua subsistência e pos-
II, “o príncipe perfeito”, rei de Por-
suíam sua própria cultura.
tugal, protestou, junto à Espanha,
Como a função básica da História
contra a notória parcialidade do papa e
propôs uma nova linha divisória. Su- é desfazer mitos, trocando a “versão
geriu que fosse adotado um paralelo ideal” dos fatos por uma “versão
que, a partir das llhas Canárias, as- real”, torna-se necessário refletirmos
segurasse o norte para a Espanha e o sobre os diferentes pontos de vista
sul para Portugal, seguindo a orien- relacionados à História do Brasil.
tação dos tratados anteriores. A ne- Não podemos esquecer-nos de
gativa dos Reis Católicos fez D. João que a História do Brasil legada a nós
chegar às vias de fato: mandou apres- foi escrita sob a óptica de quem ocu-
tar uma armada destinada a ocupar as pou as terras e, pela força das armas,
terras descobertas por Colombo. venceu os nativos, ou seja, ela é con-
Temendo a represália de Portugal, a tada, principalmente no que se refere
Espanha sugeriu uma conciliação, que ao período colonial, sob os olhos eu-
resultou na assinatura do Tratado de ropeus. E, nesse sentido, predomina
Tordesilhas, em junho de 1494, origi- a visão eurocêntrica dos fatos que
nariamente conhecido como compuseram nossa História.
“Capitulação da Partição do Mar A própria expressão “Descobri-
Oceano”. Previa-se no tratado um me- mento do Brasil” revela que os portu-
ridiano a ser traçado de polo a polo a gueses desconsideravam a existência
partir das Ilhas de Cabo Verde, esten- dos indígenas e, para eles, o Brasil
dendo-se 370 léguas a oeste deste somente passou a existir a partir da
arquipélago, ficando as terras situadas tomada de posse das terras pela
a leste para Portugal e a oeste para a Apesar da resistência da França, Holanda e Coroa portuguesa. Se aceitarmos es-
Espanha. O Tratado foi ratificado pelo Inglaterra, o Novo Mundo foi dividido entre Por- sa visão, a História do Brasil não
papa Júlio ll, em 1506, por solicitação tugal e Espanha pelo Tratado de Tordesilhas.
passará de um capítulo da História de
de D. Manuel I. A sua demarcação
Portugal.
nunca chegou a ser feita, por conve-
7. Cronologia
1521 – Conquista do Império Asteca por Cortés.
1522 – Sebastián de Elcano completa a primeira via-
1469 – Casamento dos futuros Reis Católicos: Fernan-
gem de circunavegação.
do de Aragão e Isabel de Castela.
1524 – Exploração do litoral da América do Norte por
1492 – Fim da Guerra de Reconquista e Descobrimen-
Verrazano (a serviço da Inglaterra).
to da América.
1524 – Capitulação de Saragoça.
1493 – Bula Inter Coetera do papa Alexandre VI.
1529 – Capitulação de Saragoça, delimitando os
1494 – Tratado de Tordesilhas.
domínios ibéricos no Oriente.
1513 – Descobrimento do “Mar do Sul” (Oceano
1531 – Pizarro inicia a conquista do Império Inca.
Pacífico) por Vasco de Balboa.
1534 – Exploração do Canadá por Jacques Cartier.
1516 – Feitoria portuguesa em Cantão, na China.
1555 – Fundação da França Antártica (RJ).
1519 – Início da primeira viagem de circunavegação,
1562 – Tentativa francesa de colonizar a Flórida.
comandada por Fernão de Magalhães.

38 –
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1. (FUVEST-2021) – No dia 12 de outubro de 1492, três navios a 2. (FUVEST) – A representação cartográfica a seguir refere-se à viagem

HISTÓRIA AD
serviço da coroa de Castela, comandados pelo navegador genovês de circunavegação, iniciada em Sanlúcar de Barrameda, na Andaluzia,
Cristóvão Colombo, chegaram às atuais Bahamas. Relacione tal em 20 de setembro de 1519, e comandada pelo português Fernão de
acontecimento com a Magalhães, a serviço da monarquia da Espanha. A despeito da
a) concepção medieval-cristã de que a Terra era uma criação de Deus; repercussão da viagem para o desenvolvimento dos conhecimentos
b) competição mercantil interestatal europeia de fins do século XV; náuticos e para a exploração do Oceano Pacífico, Battista Agnese foi
c) memória construída em torno dele em dois momentos dos séculos um dos poucos cartógrafos a registrar a empreitada de Magalhães.
XX ou XXI.

RESOLUÇÃO:
a) Dentro das correntes de pensamento que consideravam o
Paraíso Perdido (Éden) como localizado na própria Terra, os
navegadores comandados por Colombo acreditaram ter
chegado a esse local.
b) No período citado, os Estados da fachada atlântica europeia
disputavam a descoberta de um caminho marítimo para as
Índias (tendo Portugal e Espanha à frente dessa competição), a
fim de quebrar o monopólio exercido pelas cidades italianas
sobre a mercantilização dos produtos orientais.
c) Durante muito tempo considerado como um feito heróico dos

FÍSICA A
europeus e benéfico para as populações nativas, que assim
tiveram acesso à civilização ocidental, a chegada dos europeus
à América tem sido contestada como um evento nefasto para os
povos originários, que lhes trouxe miséria, mortandade e
espoliação. Essa interpretação ganhou força nos últimos anos (Battista Agnese, Atlas Portulano, 1545. Biblioteca Digital Mundial.
refletindo-se, entre outras manifestações, na derrubada de Disponível em: https://www.wdl.org/pt/.)
monumentos alusivos ao descobrimento e colonização das
Américas.
A representação cartográfica de Battista Agnese
a) revelava a permanência das técnicas e sentidos simbólicos da
cosmografia medieval, que orientaram os navegadores ibéricos na
época da expansão ultramarina.
b) estava vinculada aos dogmas cristãos e procurava conciliar o registro
da viagem de Fernão de Magalhães com a perspectiva de Terra Plana
ainda presente entre letrados cristãos.
c) estava baseada nos relatos dos navegadores, no acúmulo de
conhecimentos acerca das rotas marítimas e em estimativas de
distâncias a partir de cálculos matemáticos e da planificação do globo
terrestre.
d) apresentava o Oceano Pacífico em suas reais dimensões de acordo
com o entendimento de Fernão de Magalhães e de Cristóvão
Colombo e em desacordo com as perspectivas cristãs.
e) estava assentada nos conhecimentos e detalhamentos geográficos
bíblicos e nas formulações cosmológicas de Ptolomeu, fundamentais
para o sucesso da viagem de Fernão de Magalhães.

RESOLUÇÃO:
Em 1545, o portulano de Battista Agnese foi beneficiado por
conhecimentos já consolidados (esfericidade da Terra e desenho
dos litorais africano e asiático) proporcionados pelos relatos dos
navegadores, e também por cálculos matemáticos baseados em
avaliações mais precisas das distâncias marítimas percorridas.
Resposta: C

– 39
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3. (MACKENZIE-2020) – “Com a longa depressão dos preços do 4. (FAMEMA-2020) – O avanço das culturas sul-americanas nas zonas
açúcar brasileiro que persistiu na maior parte do século XVIII, o tráfico tropicais africanas conhece três etapas. Num primeiro tempo, a América
baiano com a Costa da Mina tornou-se a principal fonte de escravos na exporta mandioca através da Guanabara e do litoral vicentino. Numa
economia colonial em um sistema assemelhado ao uso da geritiba segunda etapa, a mandioca, o milho, a batata-doce e frutas sul-
HISTÓRIA AD

(cachaça) pelos comerciantes do Rio na compra de escravos em americanas passam a ser plantados nas terras africanas. Num terceiro
Benguela e Luanda. Os baianos compravam escravos no ocidente da tempo, tais culturas espalham-se pelos sertões africanos.
África com tabaco de rolo feito com a parte não vendida da colheita e O uso do milho e da mandioca como ração dos povos da região
resultante de um processamento inferior que o tornava um produto permitiu que os guerreiros negreiros dilatassem suas áreas de captura.
agrícola de baixo custo em relação à indústria do fumo orientada para Roças de mandioca e milho são abertas nas áreas de parada e descanso
mercados metropolitanos.” dos bandos, facilitando o transporte terrestre de um maior número de
(PANTOJA, Selma e SARAIVA, José Flávio. cativos do sertão.
Angola e Brasil nas rotas do Atlântico. (Luiz Felipe de Alencastro.
Rio de Janeiro: Bertrand, 1998. p. 27) O trato dos viventes, 2000. Adaptado.)

É possível inferir que o trecho acima indica que O historiador


a) A lucratividade do tráfico negreiro está relacionada com o baixo custo a) relaciona a influência cultural africana com o desenvolvimento da
na aquisição dos escravos em território africano e o alto valor desses agricultura na América.
vendidos no litoral brasileiro. b) mostra o intercâmbio econômico entre os indígenas americanos e os
b) A crise do açúcar brasileiro acarretada pela concorrência com o guerreiros africanos.
açúcar antilhano dinamizou o tráfico de escravos para o sudeste da c) associa a introdução de novos cultivos na África com o aumento do
colônia. tráfico negreiro.
c) A geritiba e a tabaco eram os únicos produtos aceitos nas trocas d) evidencia o escambo de produtos agrícolas americanos por cativos
entre traficantes de escravos africanos e baianos. do interior africano.
d) O preço do escravo africano caiu vertiginosamente no litoral e) destaca a importância da monocultura de exportação desenvolvida
brasileiro, durante o século XVIII, devido às crises econômicas no Atlântico Sul.
coloniais.
e) A economia brasileira foi menos dependente da mão de obra RESOLUÇÃO:
O autor aborda um aspecto pouco estudado do tráfico, através do
escrava, durante o século XVIII, devido à mineração e a uma nova
Atlântico, de africanos escravizados: a introdução de plantas
dinâmica econômica. alimentícias sul-americanas nas áreas de captura de nativos
destinados à escravização, pois o plantio desses produtos permitia
RESOLUÇÃO: a ampliação das áreas de captura, proporcionando alimento tanto
Levando-se em conta que a aquisição dos escravos na África era a captores como a capturados.
realizada por meio do escambo – em que o valor monetário das Resposta: C
mercadorias envolvidas é desigual –, o tráfico negreiro era
extremamente lucrativo para aqueles que o praticavam,
considerando-se o baixo custo dos produtos oferecidos pelo
traficante e o alto preço final dos cativos.
Resposta: A

40 –
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5. (FGV) – “Nas vésperas dos Descobrimentos e no próprio momento


das viagens de Colombo, de Vasco da Gama e de Vespúcio, nenhuma
das cinco representações da Terra descritas por Crates, Aristóteles,
Parmênides (as zonas), Lactâncio e Ptolomeu parece prevalecer. Embora

HISTÓRIA AD
elas nos apareçam como absolutamente incompatíveis, as quatro
primeiras tendem, com efeito, a conjugar-se para preservar o paradigma
medieval de uma ecúmena* plana, colocada sobre uma esfera
‘cosmográfica’.”
(RW. G. L. Randles. Da Terra Plana ao Globo Terrestre. Uma rápida
mutação epistemológica (1450-1520). Lisboa: Gradiva, 1990, p. 35.)

*ecúmena: área da Terra habitada pelos seres humanos.

Acerca das concepções sobre a Terra e da Expansão Marítima Europeia


afirma-se:
I. À época dos Descobrimentos, não havia nenhuma teoria acerca da
esfericidade da Terra, o que reforçava a posição de setores religiosos
que ainda sustentavam o mito bíblico da Terra Plana.
II. A viagem de circum-navegação realizada por Fernão de Magalhães,
entre 1519 e 1522, tornou-se um marco na História mundial por ter
comprovado a tese da esfericidade da Terra.

FÍSICA A
III. As lendas acerca da existência de monstros e de seres fantásticos
que habitariam os mares e terras desconhecidos faziam parte do
imaginário europeu à época dos Descobrimentos.

Está correto o que se afirma em


a) I e III, apenas. b) I, II e III. c) II, apenas.
d) II e III, apenas. e) I e II, apenas.

RESOLUÇÃO:
A assertiva I é incorreta porque contradiz o texto quando este
afirma que os autores citados desenvolveram a ideia de uma
esfera “cosmográfica” para sustentar a Terra. Obs.: Os
pensadores mencionados não estão elencados em ordem
cronológica, a qual deveria ser a seguinte: Parmênides (530-460
a.C.), Aristóteles (384-322 a.C.), Crates (365-285 a.C.), Ptolomeu
(90-168) e Lactâncio (250-325).
Resposta: D

– 41
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MÓDULO 9 Civilizações Pré-Colombianas


1. A origem do Ameríndio atualidade, desconsiderando as espe- Estreito de Behring na última glaciação
HISTÓRIA AD

cificidades do processo colonizador. (cerca de 40 mil anos), quando uma


Introdução Assim, nos dias de hoje, vemos violenta mudança climática no planeta
A América é um continente com uma com nitidez que, sob os aspectos eco- o transformou numa “ponte de gelo”,
área aproximada de 42.083.606km2, ou nômico, social, político e cultural, a facilitando a locomoção entre os dois
seja, possui 28,2% das terras emersas América também é dividida de forma continentes. No entanto, essa explica-
do globo terrestre. Localiza-se no desigual. No Norte, temos uma ção não é suficiente para justificar a
hemisfério ocidental, dividindo-se, no América industrial e imperialista, en- heterogeneidade dos diversos povos
sentido norte-sul, em América do quanto, no Sul, a chamada América pré-colombianos.
Norte e América do Sul, ligadas entre Latina permanece presa a estruturas A hipótese polinésia, defendida
si por um verdadeiro istmo associado arcaicas e, com os países da África e por Paul Rivet, sustenta, baseada nas
a um conjunto de ilhas, que cons- da Ásia, compõe o Terceiro Mundo. semelhanças etnográficas, linguísticas
tituem a América Central. Do lado e biológicas, ter existido também um
leste, existe o Oceano Atlântico e, a A origem do homem na povoamento da América realizado por
oeste, o Oceano Pacífico. Liga-se ao América pré-colombiana povos vindos da Polinésia.
continente asiático através do pequeno O primeiro ponto que se deve sa- Segundo essas hipóteses, os pri-
Estreito de Behring, situado no extre- ber ao iniciar-se no estudo da História meiros habitantes da América, quando
mo noroeste do continente. da América é ter consciência de que aqui chegaram, ainda não conheciam as
O processo migratório desenca- esta não é uma tarefa fácil, principal- técnicas da agricultura, vivendo
deado pela colonização prolonga-se mente no que diz respeito aos basicamente da coleta, caça e pesca.
até a atualidade. Esse processo con- chamados povos pré-colombianos. Como não possuíam a noção de Estado
tribuiu para a formação das socie- As dificuldades devem-se, princi- (que só aparece nas sociedades mais
dades nacionais, distribuindo-se palmente, ao fato de os “conquistado- complexas), viviam em pequenas
desigualmente pelo continente, a res”, ao chegarem ao continente, comunidades caracterizadas pela
ponto de se poder falar em uma terem destruído grande parte dos mo- propriedade coletiva dos meios de pro-
América branca (Anglo-Saxônica e numentos, obras de arte e os dução e distribuição das atividades,
países do Prata), uma América índia chamados “códices” (manuscritos), conforme os critérios de sexo e idade.
(países andinos), uma América os principais materiais de trabalho dos Os laços de parentesco nessas socie-
hispano- índia (regiões centro-ame- historiadores. Além disso, mas em dades eram o seu elo de ligação, refor-
ricanas e Paraguai) e países de mesti- menor proporção, antes da chegada çados pela crença em antepassados
çagem multirracial, como o Brasil. dos espanhóis, alguns povos ame- míticos comuns, nos quais fundamen-
Convém lembrarmos que esse ricanos, como os astecas, por tavam as suas crenças.
imenso continente teve um processo exemplo, também tinham o hábito de O panorama encontrado pelos
heterogêneo de conquista e domina- destruir os vestígios dos povos por primeiros habitantes da América iria
ção pelos colonizadores europeus e, eles dominados. Grande parte das modificar-se quando uma nova trans-
portanto, não é possível tratar a Histó- informações que possuímos desse pe- formação climática e ecológica ocor-
ria da América de forma homogênea na ríodo foi dada pela visão dos europeus, reu por volta de 7 mil a.C. A
a versão dos “vencedores”. temperatura da Terra tornou a subir,
Mas quem eram os povos ame- numerosas espécies de animais que
ricanos? Como chegaram ao conti- esses povos caçavam desapareceram,
nente? Esta é uma questão assim como a “ponte de gelo” do
importante, já que a tese do autocto- Estreito de Behring. Isolados do outro
nismo foi posta por terra. continente e com uma nova realidade,
Atualmente, trabalhamos basica- muitos povos começaram a buscar a
mente com duas hipóteses para ex- sua sobrevivência em outras
plicar o povoamento do continente atividades, destacando-se entre elas a
antes da chegada dos europeus. agricultura, que implicaria a seden-
Uma delas é a hipótese asiática, de- tarização e, consequentemente, o pri-
fendida pelo dinamarquês Ales meiro passo para a urbanização das
Hrdlicka, que considera os amerín- grandes civilizações, como as dos
dios descendentes de populações maias, astecas e incas. Estima-se que,
da Ásia Oriental, que atravessaram o quando da chegada do colonizador
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europeu, a América possuía entre 25 e aldeias transformaram-se em centros plantio feita sobre esteiras de varas
40 milhões de habitantes. cerimoniais e surgiu a classe sacerdotal, flutuantes que eram colocadas no
Distribuindo-se pelo continente, responsável pelos cultos, prin- Lago Texcoco).
esses povos tiveram processos dife- cipalmente os vinculados à fertilidade. A cultura teotihuacana desapa-

HISTÓRIA AD
renciados de estruturação de suas so- Os sacerdotes, detentores do receu durante o século VI, sendo difí-
ciedades – fato esse perceptível visto saber, passaram a controlar também o cil precisar quais fatores foram
que, no momento de chegada dos excedente agrícola, tornando-se uma responsáveis por tal fato. Porém, pre-
colonizadores, os grupos apresen- classe mais poderosa ainda. sume-se que doenças, rebeliões ou
tavam variados graus de desenvol- Organizava-se um Estado Teocrático invasões expliquem a destruição da
vimento cultural e material. dentro dessas sociedades. Cidade dos Deuses e sua civilização.
Podemos, entretanto, encaixá-los Entre 1.500 e 500 a.C., floresceu a
em três grandes grupos, que represen- cultura olmeca na costa sul do Golfo 3. Os Maias
tam três estágios de desenvolvimento, do México. Essa civilização agrícola,
segundo a classificação do antropólogo que vivia sobretudo da produção de Introdução
norte-americano Morgan: milho, desenvolveu a construção de No momento em que Teotihuacán
• Paleolítico (selvageria): grupos reservatórios de pedra para o arma- entrou em decadência, o sul da
cuja subsistência dependia da zenamento de água. Mesoamérica conheceu o esplendor
caça, pesca, coleta vegetal e Os olmecas tinham como dirigente, da civilização maia.
agricultura rudimentar, localizados em suas comunidades, a classe sa- Durante o apogeu de sua civiliza-

FÍSICA A
principalmente no Brasil, Paraguai, cerdotal, a quem pagavam impostos ção, os maias dominaram a Península
Uruguai e Argentina. sobre a produção agrícola ou a artesanal. de Iucatã no sul do México, quase to-
• Neolítico (barbárie): grupos já Os principais centros dessa cultu- da a Guatemala, parte de Honduras e
sedentarizados, com prática da ra foram La Venta, San Lorenzo e Três El Salvador e Belize, ocupando o ter-
agricultura e uma relativa organi- Zapotes. Por volta do século I a.C., ritório da antiga cultura olmeca.
zação social, política e econômica, chegava ao fim a cultura olmeca, que A denominação maia é utilizada
localizados no norte da América legou às posteriores uma avançada em razão da semelhança linguística
do Sul, América Central e, técnica agrícola, o artesanato têxtil e entre os povos da região. Originários
praticamente, em toda a América de barro, um sistema de escrita e das regiões setentrionais, atual Esta-
do Norte. numeração, um calendário – o religio- dos Unidos, estabeleceram-se inicial-
• Civilização: sociedades comple- so com 260 dias e o civil com 365 dias mente ao norte da Guatemala e
xas em alguns aspectos, como o –, além de uma religião extremamente Honduras, constituindo a mais antiga
seu modo de produção, localiza- organizada. das civilizações pré-colombianas.
das no México, Guatemala, Ni- O poder político era exercido pe-
carágua, Peru, Bolívia e Equador. los sacerdotes de origem olmeca e a Características gerais
A Antropologia contemporânea sociedade já se organizava de forma Os maias não chegaram a consti-
considera o esquema evolutivo de mais complexa. tuir um Império. Ao contrário do que
Morgan extremamente rígido e até A religião era extremamente im- se pensava, as cidades maias estive-
certo ponto preconceituoso e defende portante, a ponto de a principal ma- ram constantemente em conflito, sen-
que, na realidade, existem diver- nifestação artística desse povo, a do sua organização caracterizada pela
sidades étnicas e não grupos hu- arquitetura, voltar-se para a religiosi- formação de cidades-Estados.
manos “superiores” ou “inferiores”, dade. Foi durante seu apogeu que es- O poder político era teocrático e
como insinua a teoria de Morgan. sa civilização construiu a Cidade dos hereditário. Cada cidade-Estado pos-
Entretanto, esse esquema evolutivo Deuses – Teotihuacán –, totalmente suía um governante local que devia
será utilizado ao longo do texto. planejada, e também pirâmides de- obediência ao poder central.
dicadas ao Sol e à Lua, ricamente A sociedade era rigidamente dividi-
2. A Cultura Olmeca e Teotihuacana decoradas com esculturas e afrescos. da e a posição social era dada pelo nas-
A cidade de Teotihuacán, locali- cimento. No topo da pirâmide social,
A sedentarização do homem e a zada no nordeste do Vale do México, estava a família governante, altos
prática da agricultura, na região do Mé- estendeu seus domínios por todo o funcionários do Estado (sacerdotes e
xico e América Central – conhecida co- México Central entre 300 e 600 d.C. A militares) e comerciantes; abaixo des-
mo Mesoamérica –, ocorreram entre população de Teotihuacán, sucessora tes, vinham os cobradores de impos-
5.000 e 4.000 anos antes de Cristo. dos olmecas, aperfeiçoou as técnicas tos, militares e responsáveis pelas
Por volta de 2.000 a.C., surgiram de cultivo, desenvolveu o sistema de cerimônias; na base da pirâmide, en-
os primeiros aglomerados humanos, as irrigação e as chinampas (técnica de contravam-se os trabalhadores braçais.

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Na economia, o cultivo da terra O Novo Império Maia “bárbaros” (chichimecas ou ainda me-
era coletivo e as comunidades paga- Por volta do ano 900, iniciou-se o xicas), por pertencerem ao grupo lin-
vam um imposto também coletivo, declínio do Império Maia, que, dois guístico nahuatl.
caracterizando-se pelo modo de pro- séculos mais tarde, passou a sofrer Como todos os grupos, os aste-
HISTÓRIA AD

dução asiático, pois ao Estado cabia influência da cultura tolteca. cas primitivamente viviam da caça,
a propriedade das terras e à comuni- Os toltecas, originários do grupo pesca e coleta vegetal. Possuíam
dade, a posse útil. O principal produ- linguístico naua, haviam ocupado o uma sociedade simples, na qual
to cultivado era o milho, base da Planalto Central Mexicano e transfor- prevalecia a igualdade entre os
alimentação dos maias. mado Tula em sua capital. Formavam membros do grupo, que era liderado
Além da produção agrícola, os uma sociedade urbanizada e militaris- por um chefe guerreiro. Aliás, a guer-
maias davam significativa importân- ta, na qual se destacava a religião, que ra sempre foi um elemento carac-
cia às atividades comerciais. Os mer- tinha como deus principal Quetzalcoatl terístico dos agrupamentos humanos
cadores eram os responsáveis pela (serpente emplumada). durante o período do Paleolítico.
realização de trocas de produtos agrí- Ocorreu, então, a fusão das cultu- Ao se estabelecerem no Vale do
colas e artesanais. ras maia e tolteca, dando início ao cha- México, durante o século XII d.C. –
A religião defendia que o destino mado Novo Império Maia, que, após o saque à cidade de Tula, dos
dos homens era controlado pelos lentamente, entrou em declínio. toltecas –, os astecas sedentariza-
deuses, aos quais prestavam cultos, ram-se, passando à fase Neolítica.
Quando os espanhóis chegaram,
realizavam cerimônias e construíam Em 1325, fundaram a capital do
os maias já estavam em decadência.
templos em forma de pirâmides com
Entretanto, deixaram a marca da sua Império, às margens do Lago Tex-
escadarias, utilizando mão de obra
cultura em muitos povos vizinhos, na coco, que recebeu o nome de
camponesa recrutada de forma com-
Mesoamérica. As hipóteses para ex- Tenochtitlán (que significa Rocha de
pulsória. Ainda em função da religião,
plicar a sua decadência são muitas. Cactus e corresponde à atual Cidade
desenvolveram a escultura em terra-
Entre elas, podemos citar o esgota- do México).
cota, a pintura e o calendário cíclico,
mento do solo, em razão da prática da Firmaram aliança com as cidades-
com 52 anos, fundamentando-se em
agricultura de coivara ou queimada, a Estados de Tlacopan e Texcoco, que
seus avançados estudos de astrono-
deficiência alimentar (o consumo de juntas submeteram os povos do Vale
mia. Com a intenção de facilitar os
carne e, portanto, de proteína era ra- e deram origem ao Império Asteca.
cálculos, inventaram o zero. A escrita
ríssimo) e ainda os acirrados conflitos No início, as três cidades divi-
elaborada é denominada glífica e
consiste em um conjunto de caracte- internos entre os diversos líderes das diam o poder entre si, mas a supre-
res que representam parcialmente cidades-Estados. macia militar de Tenochtitlán acabou
um objeto ou algo relacionado a esse No período de 1517 a 1697, os es- transferindo o poder para os astecas.
objeto. panhóis conquistaram o Império Maia, Em 1440, Montezuma I inicia a
o que foi marcado pela violência do construção de grandes aquedutos e
branco contra o indígena, pela força obras para a irrigação do solo e, prin-
das armas em busca do ouro. cipalmente, a organização do Império.
Entre as culturas pré-colombianas, Quando os espanhóis chegaram
somente os maias resistiram à à região do Império Asteca, em 1521,
conquista europeia; estes não acredi- Montezuma II era reconhecido como
tavam, como os outros povos, que os o único imperador, e os astecas
europeus fossem deuses que che- viviam seu momento de apogeu.
gavam à América.
Economia
4. Os Astecas Na economia, os astecas tinham
a agricultura como principal ativida-
Introdução de; produziam milho, feijão, cacau e
A localização geográfica originária algodão, entre outros produtos. O
dos astecas é a região noroeste do Estado era o proprietário das terras,
México, denominada Aztlán, daí se e a comunidade detinha a posse útil
autodenominarem astecas. e pagava impostos sobre a produção.
Essa região foi ocupada aproxima- Utilizavam as chinampas e aperfei-
Prováveis centros de origem dos principais
damente nos séculos I e II a.C., período çoaram o sistema de regadio em
animais domesticados.
em que os astecas eram considerados suas plantações.

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O comércio, apesar de não ser a cebiam um lote de terra para cultivar


principal atividade econômica, tam- e, nos combates militares, havia a pos-
bém se destacava na sociedade. Rea- sibilidade de ascensão social. Os

HISTÓRIA AD
lizavam-se trocas, dentro das cidades escravos, adquiridos em guerras como
– como, por exemplo, no mercado de pagamento de dívidas ou condenados
Tlatelolco –, de legumes, frutas, por crimes, trabalhavam a terra e
plumas, joias e escravos, além de podiam ser libertados.
produtos importados, como tabaco, A poligamia era admitida no grupo
peles e cristal. Esse comércio levou ao pelo fato de a população masculina
aprimoramento do sistema de troca,
diminuir em períodos de guerra, mas
que transformou a semente de cacau
predominava a monogamia.
em “moeda corrente”.

Organização social
Primitivamente, os astecas organi-
zavam-se em clãs, denominados
calpulli, que tinham por base os laços
de parentesco. Nesse período, a pos-
se da terra era coletiva, inexistindo a

FÍSICA A
noção de propriedade privada.
O imperador e sua família ocupa- Figura de Atlantes, com 4,6 metros de altura,
vam o topo da pirâmide social. que fica no alto da pirâmide B, em Tula, repre-
A expansão sobre o Vale do Méxi- senta o foco militar que predominou nessa ci-
co e a conquista de terras – realizada vilização.
por meio da guerra – conferiram aos
militares um grande poder no Império. Religião e cultura
Os sacerdotes e os militares A religião era politeísta. Entre os
deuses adorados pelos astecas, es-
constituíam a nobreza, compondo a
tavam o Colibri-Azul ou Uitzilopochtli
classe dominante. Esta recebia como Códice mexicano. (o deus do Sol do Meio-Dia) e Tezca-
privilégios a isenção de impostos e o
tlipoca (deus protetor dos guerreiros
domínio sobre extensões de terras, e escravos, simbolizado pela Noite); o
das quais não era proprietária parti- Política contato com outras civilizações os fez
cular, pois essas eram coletivas. adorar deuses como Quetzalcoatl (a
A sociedade asteca, fortemente
Os comerciantes (denominados Serpente de Plumas).
embasada no militarismo e influencia-
pochtecas) e os artesãos compunham a Os astecas acreditavam na ideia de
da pela religião, fez nascer um poder
camada social intermediária. Os co- que seriam o povo incumbido de zelar
merciantes organizavam-se em corpo- político militarizado e teocrático. pela manutenção da harmonia no
rações e detinham o monopólio sobre a O imperador, inicialmente, era universo, o que só poderia acontecer
atividade mercantil, que era transmitida eleito por uma Assembleia de guerrei- por meio da alimentação dos deuses;
de pai para filho. Os artesãos traba- ros. Em razão das conquistas, essa assim, o seu código religioso admitia o
lhavam com a ourivesaria e a confecção Assembleia foi perdendo cada vez sacrifício humano. Os deuses que re-
de peças em plumas; também se orga- mais sua importância e acabou sendo giam o universo e asseguravam as
boas colheitas e vitórias militares tam-
nizavam em corporações e pagavam substituída por um Conselho que
bém regiam o destino dos homens.
impostos ao Estado. A profissão era escolhia os imperadores em uma Em termos culturais, podemos con-
hereditária dentro das famílias. mesma família, o que tornou a siderar que os astecas promoveram
Na base da pirâmide social, esta- sucessão hereditária. uma fusão de elementos das culturas
vam os camponeses e os escravos. Os anteriormente estabelecidas no Vale
O imperador, comandante supre-
primeiros, de origem asteca, deviam do México, porém superando-as.
mo do Exército, dividia o poder com a
obrigações ao Estado, como trabalhar A arquitetura foi extremamente
Mulher-Serpente, função exercida por
em obras públicas, na agricultura, desenvolvida, destacando-se a cons-
um homem, responsável pela chefia
pagar impostos e prestar serviço trução de pirâmides, palácios e siste-
militar. Na época do casamento, re- de governo. mas de irrigação, além de aquedutos.

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Estudavam astronomia e criaram Apesar da dominação espanhola, Com a conquista incaica sobre a
um calendário dividindo o ano em de- a influência dos incas faz-se presente região do altiplano, no século XIII, as
zoito meses (cada mês com vinte até hoje. No Peru, o quíchua, antiga comunidades foram subordinadas e o
dias), mais cinco dias complementa- língua dos incas, é atualmente uma poder político ficou nas mãos de um
HISTÓRIA AD

res; a cada 52 anos, concluía-se um ci- das línguas oficiais do país. imperador – Inca ou Sapa Inca –, cuja
clo. Utilizando esse conhecimento, Os incas eram também conheci- força se fundamentava na religião e no
previam eclipses lunares e os solstí- dos como os “Filhos do Sol” por acre- Exército, do qual era o comandante
cios. ditarem que o Sol (o deus Inti) era o supremo, caracterizando, assim, um
Possuíam escolas: a Calmecac, ancestral de seus governantes. governo teocrático-militarista.
voltada para a formação da nobreza sa- Abaixo do imperador, estava a no-
cerdotal, e a Telpochcalli, destinada ao Economia breza, formada por seus parentes, por
ensino comum. A escrita era pictórica A base da economia inca era a altos funcionários do Estado e do clero
e hieroglífica. agricultura, na qual a batata e o milho e pelos curacas, que mantiveram seu
ocupavam lugar de destaque. Para prestígio em razão da tradição de sua
5. Os Incas ampliar a área cultivável, faziam ter- família. Em seguida, vinham os
raços nas regiões do Altiplano Andino, artesãos, médicos, artistas, militares e
O território ocupado pelos incas o que, além de favorecer a agricultura, contabilistas; finalmente, na base da
corresponde atualmente ao Peru, Bo- evitava a erosão da terra. O solo era pirâmide social, estavam os cam-
lívia, Equador, parte do Chile e norte fertilizado com o guano, fertilizante poneses e os escravos.
da Argentina, na região do Altiplano natural de excremento de aves. Dentro do Império, o ayllu conti-
Andino. Primitivamente, a terra, no Altipla- nuou a ser a base da organização social
A ocupação da região pela civili- no Andino, era propriedade coletiva da e administrativa, sendo formado de
zação inca iniciou-se em 1200 e não comunidade ayllu, que trabalhava em acordo com os laços de parentesco e
constituiu o primeiro agrupamento conjunto nas plantações. Uma parte chefiado pelo curaca, cujo poder era
humano dessa região. da produção era recolhida aos transmitido hereditariamente.
Antes dos incas, o Altiplano Andi- depósitos públicos para ser distribuída Para tentar evitar os conflitos in-
no foi palco de culturas que são deno- aos habitantes em tempo de crise ternos, graças às conquistas sobre
minadas pré-incaicas. Entre essas pelo curaca, líder local. outros povos, os incas tomavam os
culturas, encontramos a Chavin, sécu- Com a chegada dos incas e seu filhos dos curacas dominados como
los IX a II a.C., no norte do Peru. processo de expansão e submissão “reféns” e os enviavam à capital do
Com a decadência dessa cultura, das comunidades, as terras passaram Império para estudar, forçando a
o Altiplano Andino assistiu a um longo a pertencer ao Estado e a estrutura submissão dos líderes derrotados.
período em que predominaram grupos fundiária original foi alterada. As terras Administrativamente, o Império
fragmentados e, no século VI da Era foram, então, divididas em terras da foi dividido em quatro partes (provín-
Cristã, três grandes culturas flores- comunidade e terras do Estado, cias), que eram interligadas por nume-
ceram nessa região. São elas: Império cultivadas pelos membros do ayllu. rosas estradas, permitindo tanto o
Tiahuanaco, no Altiplano Boliviano, O tributo em espécie não era pago serviço dos correios quanto a ação do
próximo ao Lago Titicaca; a civilização diretamente ao Estado, mas este Exército, em caso de revolta. Ironica-
huari, bacia do Rio do Aiacucho, detinha o direito de requisitar a mita, mente, mais tarde, essas vias aca-
estendendo-se da região de Cuzco até paga sob a forma de trabalho compul- baram facilitando o trabalho dos
a costa norte do Peru; o Império sório nas minas, construção de invasores espanhóis.
Chimu, costa norte do Peru. estradas e obras públicas, como ca-
Os incas, originariamente, consti- nais de irrigação. Na época em que a Religião e cultura
tuíam um povo nômade, parte inte- mita era requisitada, o Estado devia Os incas dedicaram-se à astrono-
grante do grupo quíchua, da região da prover os trabalhadores com víveres. mia, elaborando um calendário que,
Amazônia. O comércio também se desenvol- além de marcar o tempo, servia para
Após sucessivas conquistas, os in- veu com base na produção de cerâ- fazer previsões astrológicas.
cas estenderam o seu poder sobre mica, tecidos e artesanato em ouro, Na religião, além do Sol, da Lua,
uma área de quase 5.200.000 km2, bronze e prata. do Trovão e da Terra, cultuavam Vira-
com uma população estimada entre 3,5 cocha, o “Criador do Universo”.
milhões e 7 milhões de habitantes. Organização política e social Completando as suas cerimônias,
Quando os espanhóis chegaram, Antes da dominação inca, a organi- que incluíam danças e uso da
em 1532, o Império Inca vivia seu zação social básica era a comunidade chicha (espécie de cerveja feita de
auge, impressionando os espanhóis denominada ayllu, liderada pelo curaca, cereais), sacrificavam humanos e
pela sua organização e suas impo- fundador ou descendente do ancestral lhamas.
nentes obras arquitetônicas. do grupo.
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HISTÓRIA AD
1. (FUVEST) 2. (FATEC) – As misteriosas cidades e edificações da civilização maia
que resistiram ao tempo incluem obras reconhecidas como patrimônio
Estimativa da população indígena da mundial. Tais achados vêm intrigando pesquisadores até a atualidade, já
América na época do contato europeu que pouco se sabe sobre as origens, a organização social e as causas
do fim dessa civilização, no século X.
Percentual em
População relação à
Região Assinale a alternativa que apresenta corretamente as principais
estimada população total
características da civilização maia.
da América
a) Desenvolveu-se na floresta Amazônica (atuais Peru, Bolívia e
América Suriname) e sua economia se baseava na coleta de tributos
4.400.000 7,7 provenientes do comércio com os incas e os astecas.
do Norte
b) Ocupava a região das atuais Guatemala, Honduras e Península de
México 21.400.000 37,3 Yucatán (Sul do México), e desenvolveu saberes matemáticos,
América astronômicos e arquitetura sofisticados para a época.
5.650.000 9,9 c) O poder era centralizado nas mãos do Imperador, cuja origem era
Central
considerada divina, e a capital, Machu Picchu, foi construída no topo
Caribe 5.850.000 10,2 de uma grande montanha para evitar ataques de povos inimigos.

FÍSICA A
d) Habitava a região do Rio da Prata, atuais Uruguai e Argentina, onde
Andes 11.500.000 20,1 desenvolveu a cultura de algodão, com o qual fabricava tecidos para
exportação, e projetou um sistema de vigilância eficaz para se
Planícies da
8.500.000 14,8 proteger de ataques inimigos.
América do Sul
e) A organização social igualitária favorecia a distribuição equilibrada
Total 57.300.000 100,0 dos recursos naturais provenientes do comércio marítimo, realizado
no Caribe, e os grandes templos e pirâmides honravam as divindades
(Stuart B. Schwartz & James Lockhart, A América Latina na época do Sol (Rá) e da Lua (Anúbis).
colonial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.)
RESOLUÇÃO:
Com base nos dados fornecidos pela tabela, Os maias, que muitos chamaram de “gregos do Novo Mundo”, têm
a) explique as razões da distribuição geográfica desigual da população sua história dividida em duas fases: o I Império Maia, que se
desenvolveu em Guatemala, Honduras e Belize, e o II Império Maia,
indígena no hemisfério americano no momento do contato europeu;
que floresceu na Península de Yucatán. Quanto aos “saberes
b) compare as unidades políticas indígenas do México com as dos sofisticados para a época” (tomando como referencial os padrões
Andes, citando ao menos um padrão comum e uma divergência europeus de então), podemos citar o conceito de zero, a elaboração
entre elas. de um calendário solar e a construção de pirâmides ornamentadas,
com acesso ao topo por meio de escadas externas.
RESOLUÇÃO: Resposta: B
a) Peculiaridades das condições de formação dos diversos grupos
populacionais, com destaque para as civilizações surgidas no
México e na região dos Andes. Nessas regiões, foram
desenvolvidas técnicas mais avançadas para a produção de
alimentos, como instrumentos apropriados, confeccionados em
pedra ou madeira, construção de canais de irrigação, utilização
das chinampas e preparação de terraços para cultivo nas
encostas.
b) Comparando astecas e maias (fixados no México) com incas
(fixados nos Andes), é possível apresentar, como padrões
comuns, a existência de governos teocráticos e sociedades
hierarquizadas, a importância da agricultura de subsistência,
com base no cultivo do milho, e a prática do comércio. Como
divergência entre esses grupos, podemos citar a unidade
política e a centralização dos Impérios Inca e Asteca em
contraste com a organização dos maias em cidades-Estado.

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3. (UNESP) – “Outra prática comum aos povos mesoamericanos foi a 5. (UNICAMP) – Desde o período Neolítico os povos de distintas partes
construção de cidades. [...] As cidades mesoamericanas também do mundo desenvolveram sistemas agrários próprios aproveitando as
serviam para dar identidade grupal aos seus habitantes, ou seja, as condições naturais de seus habitats e do conhecimento adquirido e
pessoas se reconheciam como pertencentes a tal cidade e não como transmitido entre os membros da comunidade.
HISTÓRIA AD

“indígena”, termo que começou a ser utilizado pelos espanhóis para Assinale a alternativa que estabelece corretamente a relação entre o
referir-se aos milhares de grupos que se [...] autodenominavam mexicas, povo habitante de uma determinada área, o sistema produtivo por ele
cholutecas, tlaxcaltecas, dependendo da cidade que habitavam.” desenvolvido, as condições naturais aproveitadas e os produtos
(Eduardo Natalino dos Santos. cultivados.
Cidades pré-hispânicas do México e da América Central, 2004). a) Incas; uso de terraços com técnicas de curvas de nível e irrigação de
vales; aproveitamento dos altiplanos andinos; batata e milho.
As cidades existentes na América Central e no México no período pré- b) Egípcios; uso da irrigação e drenagem; planícies úmidas e férteis dos
colombiano rios Tigres e Eufrates; arroz e café.
a) foram objeto de disputa entre lideranças indígenas e conquistadores c) Chineses; uso intensivo dos terraços das altas montanhas; planalto
espanhóis, pois eram situadas em áreas próximas ao litoral. de Anatólia no extremo leste da Ásia; café e cacau.
b) eram centros comerciais, políticos e religiosos que contribuíam para d) Mesopotâmicos; uso de cultivos de inundação e de regadio; vales
a caracterização e diferenciação dos habitantes da região. férteis dos rios Ganges e Amarelo; cana-de-açúcar e feijão.
c) eram espaços dedicados essencialmente a cultos religiosos
monoteístas, que asseguravam a unificação identitária dos povos da RESOLUÇÃO:
região. Os incas desenvolveram técnicas de cultivo em curvas de nível,
pois ocupavam originalmente os altiplanos andinos.
d) eram as capitais de grandes unidades políticas e sociais, e seus
Os egípcios desenvolveram cultivos irrigados no vale do Rio Nilo.
governantes buscavam a homogeneização dos povos indígenas da Os chineses também aprimoraram técnicas de irrigação do arroz
região. nas áreas de planícies chinesas e não no planalto da Anatólia,
e) foram conservadas quase integralmente até os dias de hoje, graças localizado na Turquia. Na Mesopotâmia, entre os Rios Tigre e
às preocupações preservacionistas dos colonizadores espanhóis. Eufrates, atual Iraque, a irrigação foi característica das culturas
suméria, assíria e babilônia.
Resposta: A
RESOLUÇÃO:
As cidades mesoamericanas pré-colombianas possuíam caracte-
rísticas próprias, com comunidades específicas, dotadas de
identidade própria. A única exceção, que poderia ser considerada
um centro de poder imperial, foi a capital dos astecas, Tenochtitlán.
Resposta: B

4. (VUNESP – Adaptado) – Entre as civilizações pré-colombianas de


maias e astecas, havia semelhanças culturais significativas. No
momento em que foram conquistadas,
a) os maias tiveram seus documentos escritos preservados pelos
espanhóis, enquanto a civilização asteca foi destruída.
b) os astecas e os maias mantinham relações pacíficas com os povos
que habitavam as atuais regiões do México e da Guatemala.
c) o território asteca se estendia do Atlântico ao Pacífico; mas os maias
já não habitavam as cidades que haviam construído.
d) tiveram suas populações dizimadas pelos espanhóis, que destruíram
as cidades astecas de Palenque, Uxmal e Chichén Itzá.
e) eram constituídas por caçadores nômades, desconheciam a agricul-
tura e utilizavam a roda e os metais para fins militares.

RESOLUÇÃO:
Quando os espanhóis iniciaram a conquista da América
Continental, no princípio do século XVI, o Império Asteca estava
no apogeu. Os maias, porém, por motivos ainda hoje não
perfeitamente esclarecidos, haviam abandonado suas cidades na
Península do Yucatán cerca de cinquenta anos antes. Não confundir
Palenque, Uxmal e Chichén Itzá, situadas no Yucatán e
pertencentes ao II Império Maia, com Tikal e Copán, localizadas na
região da Guatemala e relacionadas com o I Império Maia, formado
muitos séculos antes.
Resposta: C

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MÓDULO 10 Bases do Colonialismo Mercantilista


1. Antigo Regime mas impedia a destruição das cor- os reis dominavam os súditos, pois os

HISTÓRIA AD
porações de ofício; ajudava os nobres a púlpitos contribuíam para transmitir a
A Era Moderna, demarcada tradi- debelar as revoltas camponesas, mas vontade do rei aos membros da nação.
cionalmente entre 1453 e 1789, cons- conservava os camponeses como uma Da Bíblia vinha a justificativa do poder
titui uma unidade completa, num arma potencial contra os nobres. Enfim, real, considerado de origem divina. Nes-
sistema com uma estrutura própria: o o monarca vivia dos conflitos sociais e, sa medida, a unidade política do reino
Antigo Regime. Na França, o absolutis- em certos momentos, chegava mesmo dependia de sua unidade religiosa. Não
mo evoluiu até o século XVIII, quando a estimulá-los. havia lugar para a liberdade religiosa,
a Revolução Francesa e os movi- Na tentativa de legitimar essa au- apenas para a intolerância política, pois
mentos liberais burgueses do século toridade, os reis absolutos incentiva- as perseguições religiosas eram, no
XIX eliminaram a estrutura do Antigo ram a produção literária a respeito das fundo, perseguições políticas.
Regime e, com ele, a Dinastia dos origens do poder, procurando dar-Ihes
Bourbons. Na Inglaterra, a monarquia uma fundamentação religiosa. A A razão predomina sobre a fé
absolutista transformou-se numa mo- teorização sobre o poder real teve Enquanto na Idade Média a filo-
narquia limitada, quando das Revo- início com o importante trabalho de sofia escolástica marcava a predomi-
luções Inglesas do século XVII. Maquiavel, O Príncipe, no qual ele nância da fé sobre a razão, na Era
desenvolve a ideia da razão de Estado Moderna assistimos a uma inversão

FÍSICA A
Absolutismo para justificar os atos dos governantes desse princípio. O desenvolvimento do
O Estado absolutista define-se absolutos (“Os fins justificam os capitalismo e da burguesia, com suas
como um Estado de transição entre a meios”). Thomas Hobbes, em seu profundas transformações dentro da
monarquia feudal, dominada pela no- livro Leviatã, justifica a necessidade do sociedade, quebrou o monopólio da
breza, e a República burguesa, pois poder real para que haja paz na socie- Igreja sobre a cultura, estendendo-a
corresponde ao período em que a bur- dade civil. Mas o grande teórico do aos leigos (“laicização da cultura”).
guesia adquiriu a supremacia econô- absolutismo é Jacques Bossuet, autor No Renascimento, a burguesia e o
mica, mas ainda não havia conseguido de Política Extraída das Sagradas pensamento leigo utilizavam a razão pa-
o predomínio político. Escrituras. ra investigar o mundo e a natureza. No
século XVII, na época do Barroco, o ra-
cionalismo era usado para transportar
a natureza para a arte. No século XVIII,
por sua vez, o racionalismo era usado
socialmente, tendo por finalidade de-
finir a posição da burguesia no quadro
da sociedade.
Essa tentativa de visão da socie-
dade em termos racionais dava à
burguesia uma consciência crítica do
Antigo Regime, do absolutismo e da
sociedade estamental, abrindo con-
dições para o movimento iluminista.

Thomas Hobbes, defensor de um Estado todo-


Maquiavel dedicou O Princípe a Lourenço de
poderoso.
Médici, governante de Florença.

O que tornava típico o Estado abso-


A intolerância religiosa
lutista era o fato de que o soberano se
A Reforma religiosa do século XVI
equilibrava sobre as camadas sociais
quebrou a unidade do cristianismo oci-
em conflito, aproveitando-se de seus
dental. Os reis da Era Moderna transfor-
antagonismos. O rei concedia van-
maram a religião num forte elemento
tagens econômicas à burguesia, dava-
de poder, pois controlar a Igreja no país Apoiada no tripé econômico do Antigo Regime
lhe monopólios, mas concedia pensões
era indispensável para que a autoridade (Capitalismo Comercial, Mercantilismo e Siste-
e cargos à nobreza. Protegia os
real fosse absoluta. Por meio do clero, ma Colonial), deu-se a acumulação do capital.
interesses dos grandes capitalistas,

– 49
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A sociedade de
“Estados” ou de “Ordens”
A sociedade da Era Moderna era
uma sociedade de transição, conten-
HISTÓRIA AD

do elementos feudais e capitalistas.


Os elementos feudais eram as ordens
sociais que vinham da Idade Média; os
elementos capitalistas correspondiam
às classes que começavam a surgir.
Essa sociedade apresentava também
a confluência de dois critérios de es-
tratificação social: o tradicional e o
econômico. O Estado, porém, via a so-
ciedade como estamental, dividida em
três ordens: clero, nobreza e povo,
que na França formavam o chamado
Terceiro Estado. Todavia, com o de-
senvolvimento capitalista, começou a
haver uma diferenciação econômica
entre os indivíduos, esboçando-se Minas, portos e rotas do comércio colonial espanhol.
uma sociedade de classes dentro da
sociedade estamental. econômica do capitalismo comercial, num saldo monetário que evidencia o
pois, na medida em que o lucro se êxito da política econômica e repre-
Capitalismo comercial acumula na circulação das mercadorias, senta a riqueza da nação. Para atingir
Entende-se por capitalismo uma a ênfase da política mercantilista recai esse objetivo, desenvolve-se uma
forma assalariada de produção, na qual sobre a atividade comercial. política de monopólios, tanto dentro da
se verifica uma separação entre os Assim, a agricultura e a indústria metrópole quanto em relação às colô-
que detêm os meios de produção passam a ser consideradas atividades
nias. Para uma perfeita realização da
(empresários capitalistas) e os que subsidiárias, que devem ser orien-
política de monopólios, é necessário
possuem apenas o seu trabalho (assa- tadas em função dos interesses.
adotar medidas protecionistas, utilizan-
lariados). Este é o elemento essencial
e definidor do capitalismo, que do navios de guerra para combater o
Objeto
comporta também algumas outras ca- contrabando e elevando as tarifas alfan-
Se hoje em dia consideramos que
racterísticas: organização empresarial, a finalidade de uma política econômica degárias para impedir a importação de
espírito de lucro, atitudes racionais, é proporcionar o bem-estar social à produtos concorrentes. Porém, como a
produção para o mercado e trocas concorrência entre as potências
nação, isso não acontecia na época do
monetárias. europeias era muito forte, os elementos
mercantilismo: nela, o objetivo direto
Chamamos de capitalismo comer- da prática mercantilista somente seriam
e fundamental era promover a força
cial o período no qual a acumulação de exequíveis em relação às colônias. Por
do Estado e, indiretamente,
capital se dá no âmbito da circulação isso, o sistema colonial é a peça decisiva
das mercadorias (troca), e não em sua incrementar a riqueza da burguesia. da política mercantilista.
produção. A acumulação na produção Evidentemente, há uma contradição
somente se desenvolveria com a nesse processo porque, ao enriquecer Tipos de mercantilismo
Revolução Industrial do século XVIII. a burguesia, a política mercantilista As metrópoles que possuíam co-
No capitalismo comercial, a maior cria condições para que ela suplante o lônias conseguiram, ao menos inicial-
parte do lucro fica com os interme- Estado absolutista. mente, manter sua balança comercial
diários, com os comerciantes, e não em situação favorável em relação às
com os empresários que produzem as Prática
demais nações europeias. Assim,
mercadorias. Considerando-se que a riqueza é
quem não tivesse colônias seria obri-
obtida por meio do comércio, cabe ao
gado a empregar meios indiretos para
2. Mercantilismo Estado organizar essa atividade de
atrair as riquezas coloniais, principal-
modo que sejam atingidos seus
Conceito mente os metais preciosos. A Inglaterra
objetivos. Consequentemente, tal po-
“Política econômica” é a prática lítica é intervencionista, e não liberal. O expandiu o mercantilismo comercial,
econômica de um governo, o modo Estado procura conservar a balança cujo modo de ação era o desen-
pelo qual é orientada a economia de um comercial favorável (mais exportação e volvimento do comércio marítimo, por
país. A política mercantilista é a política meio das companhias de navegação,
menos importação), o que se traduz
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procurando manter a balança favorável com que algumas delas acabassem usado na fase de implantação da em-
mediante a diferença entre os preços não atingindo o seu objetivo, ficando, presa colonial, pelo trabalho do negro
de compra e venda. Na França, desen- assim, com a balança desfavorável. africano. De fato, desde que a
volveu-se o mercantilismo industrial (ou Nessa medida, as colônias se torna- atividade econômica açucareira se tor-

HISTÓRIA AD
colbertismo, por causa do ministro vam indispensáveis, pois manteriam nou rentável, o lucro passou a ser
Colbert), no qual as manufaturas de ar- favorável a balança mercantil de suas desviado das mãos do produtor (se-
tigos de luxo produziam os principais metrópoles. Daí a necessidade de en- nhor de engenho) para as mãos dos
rendimentos do Estado e da burguesia quadrar as colônias no conjunto da po- intermediários (reis e burguesia). A
mercantil. A Holanda empenhou-se em lítica mercantilista e do sistema ideia de que o indígena não se adap-
desenvolver um tipo misto (comercial-in- colonial, regidos pela noção de acumu- tou à produção é tradicional e supera-
dustrial), com a criação de companhias lação mercantil, de monopólio e de da.
de comércio e montagem de refinarias protecionismo. As colônias deviam
de açúcar. A Espanha, tendo conse- alcançar sua finalidade: enriquecer a Tipos de colonização
guido metais preciosos na América, pô- burguesia do reino e contribuir para o A grande exploração agrícola pos-
de desenvolver uma política de fortalecimento do Estado. Portanto, a sibilitou a ocupação e defesa das terras
exportação desses metais em troca de exploração colonial, determinada pela da América pelos portugueses. Na
mercadorias; daí o mercantilismo bulio- metrópole, definiu o sistema colonial e América espanhola, a descoberta de
nista (metalista), segundo o qual o o próprio modo de produção colonial: metais preciosos provocou uma
metal era a própria riqueza do país, e monocultura, latifúndio e escravismo. concentração dos interesses e da defe-

FÍSICA A
não mero representante dessa riqueza. sa em áreas mais restritas, como, por
Portugal passou por quase todas as ex- O novo escravismo exemplo, o Golfo do México. A colo-
periências da política mercantilista: A introdução de escravos afri- nização da América do Norte, porém,
mercantilismo comercial (na Ásia e canos ocorreu em virtude da impo- obedeceu principalmente ao regime de
África), mercantilismo industrial (duran- sição do sistema, pois era exatamente colônias de povoamento, nas quais a
te as crises comerciais) e mercantilismo o comércio de escravos que produzia ocupação básica era empreendida por
metalista (no decorrer da fase do ouro os maiores lucros (muito mais do que homens que estavam descontentes
no Brasil). a produção de açúcar). A necessidade com a situação religiosa e política de
de conservar o lucrativo comércio de seus países de origem e que, portanto,
O sistema colonial escravos explica a introdução de ne- pretendiam construir uma nova pátria
Se todas as nações europeias bus- gros africanos na produção colonial. É em terras americanas.
cassem uma balança comercial fa- dessa forma que se entende a subs-
vorável, a concorrência mercantil faria tituição do trabalho forçado indígena,

3. Cronologia
Séc. XVII – Preponderância do comércio.
Séc. XVI – Preponderância do metalismo. Séc. XVIII – Preponderância da indústria.
1492 – Descoberta da América. 1415 – Tomada de Ceuta pelos portugueses.
1500 – Descoberta do Brasil.

1. No período histórico que se estende entre os séculos XVI e XVIII, que ela possuísse. A partir de tal conceito, adotavam-se práticas
com o fim do feudalismo e a consolidação dos Estados Nacionais, a para assegurar o ingresso de metais preciosos no país e evitar
sua saída. Daí a busca da balança comercial favorável e o
doutrina econômica dominante foi o mercantilismo, que possuía como
monopólio sobre o comércio colonial.
uma de suas características o metalismo.
a) Cite e explique duas outras características da doutrina mercantilista.
b) Em que consistia o metalismo?

RESOLUÇÃO:
a) Intervencionismo: interferência do Estado na vida econômica,
por meio de taxações, isenções, privilégios, monopólios e
regulamentações. Protecionismo: proteção à produção nacional
por meio de uma pesada taxação alfandegária, com vistas a
inibir as importações. Monopólio sobre o comércio colonial.
b) O metalismo partia do pressuposto de que a riqueza de uma
nação era determinada pela quantidade de metais preciosos

– 51
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2. (FAMERP) – “A base comum das ideias mercantilistas consiste na 3. (UNESP-2021) – As práticas econômicas mercantilistas são
atuação de dois novos fatores: os Estados modernos nacionais, ou seja, frequentemente relacionadas aos Estados modernos e representam
as monarquias absolutas, e os efeitos de toda ordem provocados pelas a) uma concentração de capitais, alcançada principalmente por meio da
grandes navegações e descobrimentos sobre a vida das sociedades exploração colonial e de mecanismos de proteção comercial.
HISTÓRIA AD

europeias.” b) uma difusão do comércio em escala mundial, obtida com a


(Francisco Falcon. Mercantilismo e transição, 1986. Adaptado.) globalização da economia e a multipolaridade geoestratégica.
c) uma redução profunda no grau de intervenção do Estado na
Os dois fatores mencionados no texto expressam-se, respectivamente, economia, que passou a ser gerida pelos movimentos do mercado.
a) no intervencionismo econômico dos Estados modernos e no d) o resultado da concentração do poder político nas mãos de
aumento dos metais nobres entesourados. governantes que defendiam, sobretudo, os valores e interesses da
b) na redução significativa do comércio interno europeu e na burguesia industrial.
colonização da América e da África. e) o combate sistemático às formas compulsórias de trabalho, que
c) no desenvolvimento de teorias voltadas à defesa do livre comércio impediam o crescimento dos mercados consumidores internos nos
e na política de degredo de encarcerados. países europeus.
d) na difusão das ideias sociais libertárias e no aperfeiçoamento dos
instrumentos e das técnicas de navegação. RESOLUÇÃO:
Como resultado da enorme expansão dos recursos monetários
e) no controle político burguês dos Estados modernos e no surgimento
alcançada pelas Grandes Navegações, a Europa, na condição de
de órgãos regradores do comércio internacional. centro de acumulação primitiva de capital, desenvolveu a política
econômica mercantilista. Este conjunto de práticas metalistas e
RESOLUÇÃO: intervencionistas manteve-se até o final do século XVIII, quando
A política econômica mercantilista, praticada pelos Estados cedeu lugar ao liberalismo econômico de matriz iluminista.
Modernos, tinha por objetivo precípuo fortalecer o poder real por Resposta: A
meio do aporte de recursos financeiros provenientes da atividade
comercial. Dois elementos contribuíram poderosamente para essa
prática econômica: a importância do ouro como fator de
acumulação (metalismo) e o intervencionismo das monarquias
absolutistas, aplicado no incentivo às atividades econômicas e na
cobrança de tributos.
Resposta: A

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4. (FGV-2020) – “Por volta do final do século XVI, teve início uma 5. (SANTA CASA) – “Examinemos, pois, os mecanismos de
transformação profunda no gênero de vida das classes privilegiadas. Os funcionamento do Antigo Sistema Colonial do mercantilismo. É no
castelos deixaram de ser fortalezas e se tornaram residências de lazer regime do comércio entre metrópoles e colônias que se situa o
no campo. Seus fossos foram cobertos e suas torres transformaram-se elemento essencial desse mecanismo.”

HISTÓRIA AD
em ornamentos. As famílias ricas tinham, além disso, solares na cidade, (Fernando Novais.
onde passavam uma parte do ano. Os divertimentos tornaram-se menos Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial,1981.)
guerreiros, o torneio foi substituído pelo carrossel, exercício de
habilidades a cavalo, vindo da Itália. O jogo de combate transformou-se A importância atribuída pelo texto ao “regime do comércio entre
na esgrima com espada, de origem italiana, modificada na França.” metrópoles e colônias” deriva do fato de esse comércio ser
(Charles Seignobos. a) regulado pelo monopólio colonial, ou exclusivo metropolitano, o que
Histoire sincère de la nation française, 1982. Adaptado.) favorecia a acumulação de capitais nos países colonizadores.
b) liberado de quaisquer entraves ou barreiras, o que estimulava a
As transformações assinaladas pelo texto sugerem concorrência e permitia a obtenção de vantagens no comércio
a) a extinção das famílias nobres medievais com a ascensão social da ocidental.
burguesia de comerciantes e industriais. c) controlado por órgãos internacionais, o que assegurava a regulação
b) a pacificação das disputas entre Estados como resultado da evolução dos preços e facilitava a elevação periódica dos preços das
cultural da sociedade europeia. mercadorias.
c) a passagem do poder político descentralizado para a centralização d) caracterizado pela igualdade de condições, ou isonomia de poder,
política do absolutismo monárquico. entre metrópoles e colônias, o que impedia o prevalecimento de uma
d) a dissolução da hierarquização social com base no nascimento face das partes.
ao advento da sociedade de classes. e) desenvolvido por companhias de comércio privadas, o que ampliava

FÍSICA A
e) a democratização do uso das terras produtivas com a abolição da a circulação e a distribuição dos capitais obtidos nas operações
exploração da mão de obra servil. comerciais.

RESOLUÇÃO: RESOLUÇÃO:
O período citado, identificado como século XVI na Europa A base do Pacto Colonial era o exclusivo, ou seja, o monopólio da
Ocidental, descreve mudanças nos hábitos e no modo de vida da metrópole sobre o comércio da colônia. Por meio desse meca-
nobreza senhorial, descaracterizando seu aspecto militarizado e nismo, a economia metropolitana sempre prevalecia sobre a
guerreiro para substituí-lo por padrões de vida e de colonial porque, enquanto os produtos da colônia eram fornecidos
comportamento mais ligados ao luxo, ao conforto e ao bem-estar. à metrópole a preços baixos, os preços dos artigos metropolitanos
Essa transição reflete a perda de poder e de autonomia da vendidos à colônia eram sempre altos. Assim, a existência do
aristocracia feudal, suplantada pelo absolutismo/centralismo Sistema Colonial foi o que permitiu aos Estados europeus a
monárquico, característico do Antigo Regime da Idade Moderna. realização de uma acumulação primitiva de capitais.
Resposta: C Resposta: A

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MÓDULO 11 Colonização Espanhola na América


1. A Expansão Espanhola
HISTÓRIA AD

e a Conquista da América

A expansão ultramarina espanhola


começou tardiamente em relação a
Portugal. Contudo, os mesmos obje-
tivos mercantilistas e a justificativa ca-
tólica que orientaram as viagens
marítimas lusas fizeram-se presentes
nos empreendimentos espanhóis. Por
isso, quando Colombo descobriu a
América, em 1492, anunciou ter chega-
do às Índias dando a volta ao mundo.

Ao contrário do Brasil, as colônias espanholas foram divididas em quatro grandes Vice-Reinos e


quatro Capitanias Gerais, subordinadas diretamente ao Conselho das Índias.

Centralizada nas mãos dos reis, a colonização es- Espanhol em quatro vice-reinos: Nova Todo o aparelho burocrático mon-
panhola foi marcada por um rígido controle, garan- Espanha (México e América Central), tado tinha por objetivo impedir o con-
tindo para o Estado e para os mercadores espanhóis
Nova Granada (Equador, Colômbia, Ve- trabando e garantir a manutenção do
os lucros da exploração colonial americana.
nezuela e Panamá), Peru (Peru, Bolívia monopólio comercial e da cobrança de
Depois dos primeiros contatos e Chile) e Rio da Prata (Argentina, impostos para a coroa espanhola.
com a América recém-descoberta, os Paraguai e Uruguai).
espanhóis começaram a colonização, A ocupação efetiva desse imenso 3. O Trabalho
ocupando a Ilha Hispaniola (Haiti). Daí território concentrou-se na exploração Compulsório (Mita)
partiram os “conquistadores” Hernán argentífera e aurífera, deixando de
Cortés e Francisco Pizarro para a con- lado a agricultura tropical. O polo di- A exploração das minas de prata e
quista do México (terra dos astecas) e nâmico da exploração limitou-se à re- ouro foi realizada por meio do trabalho
do Peru (terra dos incas). As riquezas gião representada pelo Golfo do compulsório dos indígenas, particu-
metalíferas localizadas na meseta me- México, o Porto de Vera Cruz, de onde larmente da “mita”, pela qual as aldeias
xicana e no Altiplano Andino fizeram saíam a prata e o ouro em direção a Se- de índios eram forçadas a entregar
com que a metrópole espanhola con- vilha, cuja Casa de Contratação contro- certa quantidade de seus membros,
centrasse a colonização nessas áreas. A lava todo o comércio das colônias. aptos para realizar trabalhos durante
América possuía em grandes quanti- A administração colonial ficava por um prazo determinado. Esses índios
dades os metais preciosos (prata e ou- conta do Conselho das Índias, criado eram compensados com certa quanti-
ro) que os europeus tanto procuravam. em 1524, por Carlos I (também impe- dade de dinheiro e destinados aos mais
rador da Alemanha, com o nome de variados serviços. Na realidade, a
2. A Administração Carlos V), que nomeava os vice-reis e “mita” era uma instituição anterior à
do Império Espanhol capitães-gerais. chegada dos espanhóis, tendo sido pra-
O vice-rei correspondia à maior au- ticada pelos incas e outras civilizações
Os colonizadores espanhóis esta- toridade executiva na América, sendo pré-colombianas.
beleceram, então, um sistema de or- representante direto da coroa espanho- A base socioeconômica da coloni-
ganização político-administrativo que la e responsável por funções militares, zação espanhola foi o sistema de “en-
visava ao controle direto sobre a Amé- judiciais, fiscais, administrativas e finan- comienda”, pelo qual o colonizador da
rica, por meio da divisão do lmpério ceiras.
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4. Cronologia

HISTÓRIA AD
1469 – Casamento de Isabel de Castela e Fernando
de Aragão.

1492 – Fim da Guerra de Reconquista e Descobrimen-


to da América.

1493 – Bula lnter Coetera.

1494 – Tratado de Tordesilhas, com sede em Sevilha.

1503 – Criação da Casa de Contratação.

1511 – Início da colonização de Cuba por Diego


Velásquez.

1513 – Descobrimento do Oceano Pacífico por


Vasco de Balboa.

FÍSICA A
1519-22 – Primeira viagem de circunavegação da
Terra.

1519-21 – Conquista do Império Asteca por Hernán Cor-


tés.

1524 – Criação do Conselho das Índias, presidido


pelo rei da Espanha.

1532 – Descobrimento da Califórnia.


terra tinha o direito de receber dos índios um pagamento 1531-33 – Conquista do Império Inca por Francisco
em trabalho, devendo em troca convertê-los à fé católica. Pizarro.
Ao longo da colonização, o aparelho burocrático foi
1535 – Fundação de Ciudad de los Reyes (atual
dirigido pelos chapetones – espanhóis nascidos na Espanha
Lima).
–, enquanto os criollos, espanhóis nascidos na América,
ocupavam postos secundários da administração colonial.

1. (FUVEST-2021) – A exploração da prata americana pelos espanhóis RESOLUÇÃO:


no século XVI teve grande importância na história mundial porque: A enorme quantidade de metais preciosos – ouro e prata – que a
a) incentivou a exploração metálica em outras regiões do globo, como exploração colonialista canalizou para a Europa, no séculos XVI e
início do XVII, aumentou de tal forma a acumulação e circulação
Austrália e Ásia, além de facilitar a Revolução Industrial inglesa.
monetária no Velho Mundo que produziu a “Revolução dos Preços”
b) contribui para o declínio do império asteca além de causar impacto (elevação de 400 por cento nos preços no período de cem anos) e
ambiental no litoral da América com a formação de cidades até então serviu de base para as práticas metalistas do mercantilismo.
despovoadas. Paralelamente, a extração de metais na América fortaleceu a
c) acelerou a extinção de formas de acúmulo de capital mercantil em exploração do trabalho compulsório indígena, sob a forma de
escravização e, depois, pela instituição da mita.
escala global substituindo pelo capital industrial e financeiro.
Resposta: E
d) conectou o continente americano com as partes dos Extremo
Oriente onde a prata também era explorada além de atrair grandes
contingentes de africanos escravizados ao Caribe.
e) aumentou a circulação de moeda nas redes mundiais da economia
europeia além de impactar as estruturas sociais indígenas pelo
crescimento da exploração de seu trabalho.

– 55
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2. (FUVEST-2020) – Observe a imagem e leia o texto. 3. (SANTA CASA-2020) – “Assim que os distritos ricos começaram a
vomitar metal, cresceram as vilas em muitas regiões inóspitas — o
planalto do norte do México, por exemplo — onde antes só haviam
vivido populações esparsas. As estradas e o comércio expandiram-se
HISTÓRIA AD

rapidamente à medida que se desenvolveram novos circuitos


econômicos, energizados pela mineração.”
(Peter Bakewell. “A mineração na América espanhola colonial”.
In Leslie Bethell (org.). História da América Latina, v. II, 1999.
Adaptado.)

Nas colônias espanholas da América, a exploração de metais preciosos


implicou
a) a proibição metropolitana de utilização da mão de obra indígena na
economia mineradora.
b) o processo de enriquecimento monetário dos mais tradicionais
povos ameríndios.
c) o confronto militar entre colonizadores espanhóis e ingleses pelo
domínio das minas.
d) a transformação histórica de territórios com a internacionalização de
atividades econômicas locais.
e) o aparecimento de uma burguesia ameríndia politicamente contrária
ao domínio colonial.

RESOLUÇÃO:
A questão trata da inserção das colônias americanas ligadas à
Felipe Guamán Poma de Ayala, o autor da imagem, foi um cronista
mineração no quadro do comércio internacional, dada a importância
ameríndio de ascendência incaica que viveu no Peru entre 1534 e 1615. das práticas mercantilistas na economia europeia. Esse cenário
A imagem faz parte de sua Nueva Corónica y Buen Gobierno, finalizada alterou profundamente as características demográficas e
no começo do século XVII e endereçada ao rei Felipe III, sendo infraestruturais das regiões colonizadas.
acompanhada da seguinte legenda, traduzida do espanhol: Resposta: D

“Pobre dos índios, de seis animais que comem e a que temem os pobres
dos índios deste reino: serpente, corregedor; tigre, espanhóis das cidades;
leão, encomendero; cadela, padre da doutrina; gato, escrivão; rato, cacique
principal. Estes ditos animais que não temem a Deus esfolam aos pobres
índios deste reino, e não há remédio, pobre Jesus Cristo”.
a) Identifique a situação do Peru quando da elaboração da obra.
b) Descreva as estruturas de poder político e econômico que são
comentadas na imagem e no texto que a acompanha.
c) Analise as tensões no mundo indígena sugeridas por texto e
imagem.

RESOLUÇÃO:
a) Colônia espanhola de exploração, submetida à espoliação
mercantilista prevista pelas regras do Pacto Colonial.
b) As estruturas solicitadas estão compreendidas nas seguintes
denominações: corregedor (encarregado da aplicação das
normas judiciárias), comerciantes (controladores das atividades
econômicas coloniais), encomenderos (proprietários rurais de
origem espanhola), padres (responsáveis pela conversão e
aculturação da população indígena), escrivães (burocratas
coloniais) e caciques (líderes de comunidades nativas cooptados
pelos espanhóis).
c) O texto e a imagem sugerem que os ameríndios estavam
sujeitos à opressão, aculturação e exploração praticadas pelos
colonizadores espanhóis e seus cooptados, por meio de
mecanismos administrativos, econômicos e culturais.

56 –
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4. (FGV-2020) – “De maneira geral, a conquista progrediu com mais 5. (FAMEMA) – “A varíola cruzou pela primeira vez o oceano Atlântico,
rapidez e mostrou-se mais eficiente contra os Estados indígenas chegando, especificamente, à ilha Hispaniola no final de 1518 ou início
organizados, uma vez que estes se renderam aos espanhóis como de 1519. Durante os quatro séculos seguintes, a doença desempenhou
entidades unificadas. Quando caía uma capital urbana, todo o território um papel tão essencial quanto a pólvora no avanço do imperialismo

HISTÓRIA AD
imperial perdia muito do seu poder de resistência.” branco do ultramar – um papel talvez até mais importante, pois os
(Charles Gibson. “As sociedades indígenas sob domínio espanhol”. indígenas acabaram voltando o mosquete, e depois o rifle, contra os
In Leslie Bethell (org.). História da América Latina, v. II, 1999.) invasores, mas a varíola pouquíssimas vezes lutou do lado dos primeiros
habitantes.”
O texto alude a um aspecto da conquista espanhola dos povos (Alfred W. Crosby. Imperialismo ecológico:
ameríndios, no século XVI, que a expansão biológica da Europa, 900-1900, 2011. Adaptado.)
a) substituiu, em povos tradicionalmente dominados, a escravidão pelo
trabalho assalariado. Depreende-se do excerto que
b) encontrou nas populações litorâneas da América grandes acúmulos a) o controle sobre o avanço da varíola trazida pelos europeus
de metais preciosos. fortaleceu os ameríndios.
c) contou com o apoio dos líderes religiosos nativos convertidos ao b) a passividade dos ameríndios diante da conquista europeia
monoteísmo cristão. consolidou a colonização.
d) subjugou de forma pacífica antigas instituições imperiais em plena c) a suscetibilidade dos ameríndios a novas doenças facilitou o domínio
decadência política. dos europeus.
e) usufruiu de uma estrutura hierárquica de dominação política nativa d) o uso de armas de fogo foi o fator principal da vitória dos ameríndios
previamente instalada. sobre os europeus.
e) a vulnerabilidade dos europeus decorreu da tecnologia bélica dos

FÍSICA A
RESOLUÇÃO: ameríndios.
A conquista dos Impérios Asteca e Inca pelos espanhóis, no século
XVI, foi beneficiada pela estrutura centralizada e autoritária dessas RESOLUÇÃO:
entidades políticas, cujo poder se estendia sobre povos e regiões Um fator importante para a dominação dos colonizadores euro-
adjacentes aos centros de poder (capitais administrativas). A peus sobre os nativos americanos foi a vulnerabilidade dos
existência dessa estrutura facilitou a conquista, pois a tomada dos segundos a certas moléstias contagiosas trazidas pelos primeiros,
grandes centros urbanos pelos conquistadores acarretava a às vezes empregadas deliberadamente como arma biológica de
dissolução dos laços de submissão que uniam as áreas dominadas destruição.
às sedes de governo. Resposta: C
Resposta: E

– 57
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MÓDULO 12 Primórdios da Colonização Portuguesa


1. Período 3. Capitanias Hereditárias indígenas, desinteresse de vários
HISTÓRIA AD

Pré-Colonial (1500-30) donatários e, acima de tudo, insu-


A implantação do regime de capi- ficiência de recursos.
O governo português pouco se tanias hereditárias no Brasil, em 1534, As capitanias hereditárias não de-
interessou pelo Brasil nos anos que está vinculada à incapacidade econô- sapareceram com a criação do Go-
se seguiram ao descobrimento, uma mica do Estado português em finan- verno-Geral: elas foram gradualmente
vez que o comércio com as Índias ofe- ciar diretamente a colonização, pois o readquiridas pela Coroa, até serem
recia perspectivas de lucro muito monopólio do comércio com as Índias totalmente extintas, na segunda
mais imediatas. É importante notar se tornara deficitário. Por essa razão, e metade do século XVIII, pelo marquês
que, naquela época, a acumulação de considerando a premência de se de Pombal.
capitais se fazia principalmente por colonizar o Brasil, D. João III decidiu
meio da circulação de mercadorias dividi-lo em capitanias hereditárias,
(capitalismo comercial ou acumulação para que elas mesmas fossem co-
primitiva de capitais). Todavia, o lonizadas com recursos particulares,
“abandono” do Brasil pela metrópole sem ônus para a Coroa.
foi apenas relativo, já que a Coroa, O regime de capitanias fora aplica-
além de arrendar a exploração do pau- do com êxito nas ilhas atlânticas (Ma-
brasil a um grupo de particulares, deira, Açores, Cabo Verde e São
chegou a enviar duas expedições ex- Tomé). No próprio Brasil, já existia a
ploradoras e duas guarda-costas. capitania de São João, corresponden-
te ao atual arquipélago de Fernando de
2. Início da Colonização Noronha.
O território brasileiro foi dividido
A Carta de Doação, garantindo a posse da terra
A partir de 1530, Portugal viu-se em 14 capitanias (uma delas subdivi- e estabelecendo as obrigações dos donatários,
obrigado a mudar de atitude, tendo dida em dois lotes), doadas a doze do- era uma das bases jurídicas do sistema de
em vista o fracasso do comércio de natários. Os limites de cada território, capitanias.
especiarias e a presença constante definidos sempre por linhas paralelas
de entrelopos (contrabandistas) fran- iniciadas no litoral, estavam es- 4. O Governo-Geral
ceses no litoral brasileiro. Assim, pecificados na Carta de Doação. Este
com o objetivo de proteger sua colô- documento estipulava também que a Reconhecendo o fracasso do
nia e nela desenvolver a produção capitania seria hereditária, indivisível e regime de capitanias hereditárias, D.
açucareira, o rei D. João III (o Coloni- inalienável, podendo ser readquirida João III resolveu criar o Gover-
zador) enviou para o Brasil uma pri- somente pela Coroa. Um segundo no-Geral. Por meio dessa medida, o mo-
meira expedição colonizadora, sob o documento era o Foral, que regula- narca visava centralizar a administração
comando de Martim Afonso de Sou- mentava minuciosamente os direitos colonial, subordinando as capitanias a
sa. do rei. Na realidade, os donatários não um governador-geral que coordenasse
Martim Afonso percorreu o litoral recebiam a propriedade das capi- e acelerasse o processo de colonização
desde o Maranhão até o Rio da Prata, tanias, mas apenas sua posse. De do Brasil. Com esse objetivo, elaborou-
combateu os contrabandistas que qualquer forma, possuíam amplos se em 1548 o Regimento do
encontrou e finalmente, em 1532, poderes administrativos, militares e Governador-Geral no Brasil, que
fundou São Vicente — primeira vila judiciais, sendo responsáveis unica- regulamentava as funções do gover-
do Brasil, marco inicial da colonização mente perante o soberano. Tratava-se, nador e de seus principais auxiliares – o
portuguesa na América e local de ins- portanto, de um regime administrativo ouvidor-mor (Justiça), o provedor-mor
talação do primeiro engenho de açú- descentralizado. (Fazenda) e o capitão-mor (Defesa).
car. A colonização efetiva, porém, São Vicente e Pernambuco foram O primeiro governador-geral foi
começaria alguns anos depois, me- as únicas capitanias que prospe-raram. Tomé de Sousa, que fundou Salvador,
diante a criação das capitanias here- O fracasso do projeto como um todo primeira cidade e capital do Brasil.
ditárias e a montagem de um decorreu de vários fatores: falta de Com ele vieram os primeiros jesuítas
complexo agroindustrial e comercial coordenação entre as capitanias, e foi criado o primeiro bispado em
com base na produção açucareira. grande distância da metrópole, ex- terras brasileiras. Este último fato é re-
cessiva extensão territorial, ataques levante, tendo em vista a importância

58 –
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da lgreja Católica e sua estreita li- São Luís e, depois, Belém). A reuni- mens-bons”. Elegiam-se três verea-
gação com o Estado português. ficação só seria concretizada pelo dores, um procurador, um tesoureiro
A administração do segundo marquês de Pombal, em 1774. e um escrivão, sob a presidência de
governador-geral, Duarte da Costa, um juiz ordinário (juiz de paz), mais

HISTÓRIA AD
apresentou sérios problemas: subleva- 5. As Câmaras Municipais tarde substituído pelo juiz de fora. Ao
ção dos índios na Bahia, conflito entre longo da colonização, os choques
Além das capitanias e do Governo-
o governador e o bispo e, princi- entre os interesses da metrópole e os
Geral, foram criadas as Câmaras Muni-
palmente, a invasão francesa do Rio da colônia, isto é, entre o centralismo
cipais nas vilas e nas cidades do Brasil
de Janeiro (criação da França Antártica). e o localismo, foram simbolizados, res-
Colônia. O controle político das Câma-
Em compensação, o terceiro go- pectivamente, pelo Governo-Geral e
ras Municipais era exercido pelos gran-
vernador-geral, Mem de Sá, mostrou-se pelas Câmaras Municipais.
des proprietários locais, os
tão eficiente que a metrópole o
“homens-bons”, o que reforçava suas
manteve no cargo até sua morte; foi 6. O Estatuto
posições sociais de mando.
ele quem conseguiu expulsar os inva- Jurídico Da Colônia
Entre suas competências, destaca-
sores franceses, graças à atuação de
vam-se o poder deliberativo sobre pre- A base jurídica da colônia estava
seu sobrinho Estácio de Sá.
ços de mercadorias e a fixação dos assentada num estatuto, idêntico ao da
Depois de Mem de Sá, por duas
valores de alguns tributos. “As Câ- metrópole, isto é, seguia as denomina-
vezes a colônia foi dividida temporaria-
maras de Belém e São Paulo, por das Ordenações Reais, conjuntos de
mente em dois governos-gerais: a Re-
exemplo, procuraram garantir o direito leis publicadas pelo Estado português,

FÍSICA A
partição do Norte, com capital em
de organizar expedições para escra- que possuíam como característica a
Salvador, e a do Sul, com capital no
vizar os índios, e as do Rio de Janeiro ação centralizadora e absolutista. As
Rio de Janeiro.
e Bahia muitas vezes estabeleceram primeiras foram as Ordenações
Durante a União Ibérica (domínio
moratória para as dívidas dos senhores Afonsinas (1446), alteradas em 1512
espanhol sobre Portugal), o Brasil foi
de engenho e combateram os mono- pelas Ordenações Manuelinas e, em
transformado em duas colônias distin-
pólios comerciais” (Bóris Fausto). 1603, pelas Ordenações Filipinas.
tas: Estado do Brasil (cuja capital era
As eleições para as Câmaras Mu- Tinham por inspiração originária o Có-
Salvador e, depois, Rio de Janeiro) e
nicipais eram realizadas entre os “ho- digo Romano e o direito de Justiniano.
Estado do Maranhão (cuja capital era

1534 – Implantação do regime de capitanias


7. Cronologia
hereditárias.
1549 – Tomé de Sousa, primeiro governador-geral;
1501 – Primeira expedição exploradora. fundação da cidade de Salvador.
1503 – Segunda expedição exploradora. 1553 – Duarte da Costa, segundo governador-geral.
1504 – Criação da capitania de São João, doada a 1554 – Fundação de São Paulo.
Fernando de Noronha.
1555 – Instalação da França Antártica na Baía da
1516 – Primeira expedição guarda-costas. Guanabara.
1526 – Segunda expedição guarda-costas. 1558 – Mem de Sá, terceiro governador-geral.
1530 – Expedição colonizadora de Martim Afonso de 1565 – Fundação da cidade do Rio de Janeiro.
Sousa.
1567 – Expulsão dos franceses do Rio de Janeiro.
1532 – Fundação da vila de São Vicente.
1580 – Início da União Ibérica.

– 59
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1. (UNICAMP-2021) – “Em estudo amplamente divulgado pela O texto explicita premissas da expansão ultramarina portuguesa ao
HISTÓRIA AD

historiografia luso-brasileira, o historiador Charles Boxer afirmou: ‘entre buscar justificar a


as instituições que foram características do império marítimo português a) propagação do ideário cristão.
e que ajudaram a manter unidas as suas diferentes colônias, contavam- b) valorização do trabalho braçal.
se o Senado da Câmara, as irmandades de caridade e as confrarias c) adoção do cativeiro na Colônia.
laicas’.” d) adesão ao ascetismo contemplativo.
(Adaptado de Maria Fernanda Bicalho, As Câmaras Municipais no e) alfabetização dos indígenas nas Missões.
Império Português: o Exemplo do Rio de Janeiro. “Revista Brasileira
de História”, São Paulo: ANPUH, v. 18, n. 36, p. 252, 1998.) RESOLUÇÃO:
Embora a utilização do trabalho escravo tenha constituído a base
da economia colonial no Brasil, o trecho transcrito aborda um
A partir da leitura do texto e dos seus conhecimentos, aspecto menor da escravidão, qual seja a utilização de cativos em
a) cite e explique uma função de uma das instituições citadas no texto trabalhos de pequena monta.
que contribuía para a manutenção da unidade de diferentes colônias Resposta: C
do império marítimo português;
b) explique duas razões pelas quais a existência de quilombos no
período colonial problematiza a noção de integridade do império
português.

RESOLUÇÃO:
a) A presença das câmaras municipais nas diversas colônias
portuguesas contribuiu para dar certa unidade à estrutura
administrativa colonial do Império Luso. Formada por moradores
economicamente qualificados (os “homens bons”) das vilas e
cidades, essas entidades administravam a localidade e faziam a
necessária integração entre os colonos e as autoridades
representativas do Estado Metropolitano.
b) A existência de quilombos no Brasil Colônia evidencia a
dificuldade em se estabelecer a ideia de uma integridade do
3. (MACKENZIE) – As diversas etapas político-administrativas do
Império Colonial Português por duas razões: 1) a escravização
de africanos foi um fenômeno característico da colonização Período Colonial brasileiro são marcadas
portuguesa no Brasil (e também em Cabo Verde), mas não de a) pelo prestígio das Câmaras Municipais, em que se manifestava o
todas as possessões portuguesas; 2) a própria existência dos poder político dos grandes proprietários de terras locais.
quilombos, dotados de estrutura social e político-adminstrativa b) pela seleção dos altos cargos da hierarquia administrativa e
própria, mostra um espírito de resistência ao poder colonial que
eclesiástica entre os naturais da Colônia.
não se corporificou em outros territórios coloniais lusos.
c) pela progressiva autonomia da Colônia, principalmente após a
elevação a Vice-Reinado em 1720.
d) pelo incentivo à ocupação de terras no interior no país e pela
catequese dos povos indígenas pelos jesuítas.
e) pela superposição do poder dos representantes eclesiásticos sobre
o poder dos donatários, evidenciando o forte caráter religioso da
nossa colonização.

RESOLUÇÃO:
No Brasil Colônia, as câmaras municipais representavam os
interesses da aristocracia rural, pelo menos até a criação do cargo
de “juiz de fora” para presidi-las. Para alcançar seus objetivos,
eram integradas por “homens-bons” (possuidores de bens) e
gozavam de autonomia local.
Resposta: A
2. “Porque todos confessamos não se poder viver sem
alguns escravos, que busquem a lenha e a água, e
façam cada dia o pão que se come, e outros serviços
que não são possíveis poderem-se fazer pelos Irmãos Jesuítas, máxime
sendo tão poucos, que seria necessário deixar as confissões e tudo
mais. Parece-me que a Companhia de Jesus deve ter e adquirir
escravos, justamente, por meios que as Constituições permitem,
quando puder para nossos colégios e casas de meninos.”
(LEITE. S. “História da Companhia de Jesus no Brasil”.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938. Adaptado.)

60 –
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4. (FATEC) – “O projeto de ocupação populacional da Colônia foi 5.


estabelecido entre 1534 e 1536, com a adoção do sistema de capitanias
hereditárias, que já havia sido empregado com sucesso nas ilhas
atlânticas e, além do Brasil, seria estendido à Angola. O objetivo do rei Texto I

HISTÓRIA AD
D. João III com o sistema de capitanias hereditárias era promover a “E pois que em outra cousa nesta parte me não posso vingar do
ocupação territorial, transferindo o ônus para particulares. O sistema demônio, admoesto da parte da cruz de Cristo Jesus a todos que este
consistia na concessão pelo rei de extensos domínios a particulares, os lugar lerem, que deem a esta terra o nome que com tanta solenidade lhe
quais recebiam uma carta de doação real e um foral, no qual estavam foi posto, sob pena de a mesma cruz que nos há de ser mostrada no dia
especificadas suas obrigações. O donatário, nome dado ao particular final, os acusar de mais devotos do pau-brasil que dela.”
que recebia a capitania, tinha o direito de explorá-la economicamente, (J. Barros. In L. M. Souza. Inferno atlântico: demonologia e
administrar a Justiça e, ao mesmo tempo, estava obrigado a se sujeitar colonização: séculos XVI-XVIII. São Paulo: Cia. das Letras, 1993.)
à autoridade da Coroa, a recolher os tributos e a expandir a fé católica,
entre outras atribuições. Cabia ao donatário, ainda, a concessão de Texto II
sesmarias, grandes extensões de terras que estão na origem do “E deste modo se hão os povoadores, os quais, por mais arraigados
latifúndio no Brasil. O sistema, contudo, começou a apresentar que na terra estejam e mais ricos que sejam, tudo pretendem levar a
problemas para os donatários. Poucas foram as capitanias que Portugal, e, se as fazendas e bens que possuem souberam falar,
efetivamente prosperaram.” também lhes houveram de ensinar a dizer como os papagaios, aos quais
(Disponível em: https://tinyurl.com/y6q37ysu. a primeira coisa que ensinam é: papagaio real para Portugal, porque tudo
Acesso em: 15 out. 2019. Adaptado.) querem para lá.”
(F. V. Salvador. In: L. M. Souza. (org.).
Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, algumas das causas História da vida privada no Brasil: cotidiano e vida privada na América

FÍSICA A
do fracasso do sistema descrito no texto. portuguesa. São Paulo: Cia. das Letras, 1997.)
a) A maior parte dos donatários enfrentou a resistência dos grupos
indígenas à ocupação de seus territórios tradicionais, os altos custos As críticas desses cronistas ao processo de colonização portuguesa na
de manutenção e de desenvolvimento das capitanias e/ou a falta de América estavam relacionadas à
assistência por parte da Coroa portuguesa. a) utilização do trabalho escravo.
b) Por serem de origem nobre, os donatários não demonstraram as b) implantação de polos urbanos.
habilidades necessárias para administrar adequadamente os c) devastação de áreas naturais.
recursos econômicos de suas capitanias e gerar lucros, forçando a d) ocupação de terras indígenas.
Coroa portuguesa a promulgar a Lei de Terras. e) expropriação de riquezas locais.
c) A natureza política do sistema de capitanias hereditárias foi
questionada pela burguesia portuguesa, que recorreu a cortes RESOLUÇÃO:
As referências dos textos à exploração de produtos brasileiros (o
internacionais para impedir a distribuição da maior parte das terras
primeiro texto até especifica o pau-brasil) evidenciam o caráter
americanas aos membros da nobreza. espoliador da atividade colonizadora no Brasil.
d) O declínio do sistema é consequência do fracasso agrícola, causado Resposta: E
pela alternância de períodos de chuva intensa e secas prolongadas,
características do clima de monções predominante na maior parte do
território americano.
e) O sistema entrou em colapso quando a terceira geração de
donatários foi derrotada na guerra contra os corsários franceses, que,
após a vitória, ocuparam os territórios das antigas capitanias
hereditárias.

RESOLUÇÃO:
Embora condenado ao fracasso quase desde sua implantação, o
regime de capitanias hereditárias, no Brasil, foi mantido até o
século XVIII, ainda que de forma cada vez mais reduzida. A questão
contempla alguns fatores que explicam o insucesso das capitanias
(as exceções foram São Vicente e Pernambuco), aos quais
deveriam ser acrescentados a grande extensão das capitanias e a
falta de interesse da maioria dos beneficiados. Apesar de a
resistência índigena ter sido valorizada pelo examinador, somente
a capitania da Baía de Todos-os-Santos fracassou por esse motivo
(o donatário foi devorado pelos índigenas).
Resposta: A

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História Geral FRENTE 2


HISTÓRIA AD

MÓDULO 1 Da Monarquia à República Romana


1. Introdução era formada pelos patrícios, originários 4. A República Romana
das antigas famílias, que constituíam (Sistema Não Escravista)
Do mesmo modo que na Grécia, os grandes proprietários de terra e
também na Itália o primeiro tipo de or- rebanhos; clientes, homens livres, de Neste período, Roma tinha uma
ganização política foi a cidade-Estado. famílias pobres, que viviam sob a economia agropastoril, produzindo
De acordo com a tradição, Roma proteção dos patrícios; plebeus, apenas para as necessidades de sua
surgiu às margens do Rio Tibre, em representados pelos estrangeiros, população. Voltava-se, portanto, para
753 a.C. Era uma espécie de acam- pequenos proprietários, artesãos e o mercado interno, o que dava um ca-
pamento militar dos povos albanos comerciantes. ráter estático à sua economia. O único
contra os etruscos. Até 509 a.C., Ro- Em toda a fase monárquica, as len- comércio mais ativo era o de sal, daí o
ma foi governada por sete reis, quando das falam da existência de sete reis: desenvolvimento da estrada denomi-
o último deles, Tarquínio, o Soberbo, dois latinos, dois sabinos e os três nada Via Salária.
foi deposto. Iniciou-se então a últimos etruscos. Nessa última fase, a Dado o caráter estático da econo-
República Romana. cidade de Roma passou por um grande mia, a sociedade apresentava pequena
O regime republicano duraria até desenvolvimento urbano, em mobilidade social, compartimentando-
27 a.C., data oficial do início do Impé- decorrência do notável conhecimento se em verdadeiros estamentos; dentro
rio Romano, que se extinguiu no Oci- de técnicas arquitetônicas dos etrus- destes, destacavam-se os grandes
dente, em 476 d.C., e no Oriente, em cos, que exerceram uma profunda proprietários rurais, a aristocracia
1453 d.C. influência na civilização romana. patrícia. Chefes de grandes famílias, os
Para compreender a história de Até o advento dos reis etruscos, patrícios congregavam em torno de si
Roma, é necessário dividi-Ia em duas em 640 a.C., Roma era governada por os clientes, parentes afastados e de
fases: a primeira corresponde ao pe- soberanos que dependiam do Senado condição social inferior. Os artesãos e
ríodo em que Roma é apenas uma — Conselho dos Anciãos —, órgão principalmente os pequenos agricul-
cidade-Estado às voltas com inimigos, formado exclusivamente por patrícios. tores das terras pouco férteis formavam
como os cartagineses, quando ainda As decisões eram aprovadas pela As- a ampla camada dos plebeus. A expres-
não se constituíra o modo de pro- sembleia Curiata, que reunia todos os são “povo romano” era usada para
dução escravista; a segunda fase cidadãos das famílias aristocráticas, designar o conjunto das três camadas
reflete Roma transformada em senho- cuja finalidade era votar as leis e
sociais.
ra do Mediterrâneo e dominadora de aprovar a guerra.
Com a queda da Monarquia e a
um grande império, marcado pelo
implantação da República (de res
desaparecimento do trabalho livre e 3. A Crise da Realeza
publica = “coisa pública”), o poder
pela proliferação do trabalho escravo.
passou a ser monopolizado pelo patri-
O último rei de Roma, Tarquínio, o
Soberbo, de origem etrusca, aproxi- ciado, por meio do controle do Sena-
mou-se da plebe com a finalidade de do (Supremo Poder Legislativo), que
anular a força do Senado. Por esta ra- escolhia os magistrados (Poder Execu-
zão, os patrícios depuseram o rei e im- tivo).
plantaram a República, em 509 a.C., Entre as principais magistraturas
órgão essencialmente aristocrático. da Roma republicana, podemos citar:
As lendas, porém, atribuem a de- o Consulado (exercido por dois magis-
posição do rei Tarquínio, o Soberbo, a trados, que tinham como funções con-
uma crise que envolveu Casta Lucré- vocar o Senado, comandar o Exército
Rômulo e Remo: a origem lendária de Roma.
cia, uma jovem de família aristocráti-
e presidir os cultos públicos); os
ca, seduzida pelo filho do rei. Assim, a
2. A Monarquia Romana pretores (ministravam a justiça); os
justificativa que assinalou o fim da
Monarquia envolveu uma profunda censores (zelavam pela moral dos cida-
Durante a fase da Monarquia, a questão moral, que orientou a condu- dãos, faziam o censo, preparavam o
economia de Roma era baseada na ta dos cidadãos romanos durante gran- Álbum Senatorial e orientavam os tra-
agricultura e no pastoreio. A sociedade de parte de sua história. balhos públicos); os questores (admi-

62 –
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nistravam o tesouro e orientavam os seus domínios. Elas eram construídas Na Primeira Guerra Púnica (264-241
gastos financeiros em campanhas pelos legionários do exército durante a.C.), os romanos investiram contra
militares); os edis (responsáveis pela suas campanhas. Primeiro, eles coloca- Cartago na disputa pelo controle sobre
conservação pública); os tribunos da vam fogo no local escolhido, a fim de a Sicília. A vitória romana forçou os

HISTÓRIA AD
plebe (representantes dos plebeus que destruir a vegetação e evitar embosca- cartagineses a pagar-lhes uma pesada
podiam vetar as leis contrárias aos das inimigas; em seguida, ajustavam os indenização de guerra e a entregar-lhes
interesses plebeus). Em caso de blocos de pedra sobre uma camada de a Sicília, a Córsega e a Sardenha.
grave crise política, social ou militar, areia, para depois cobri-los com mistura A Segunda Guerra Púnica, entre
era nomeado um ditador que governa- de cascalho e cimento. As estradas Roma e Cartago (218-202 a.C.), deu
va Roma durante seis meses, com po- eram levemente encurvadas para aos romanos o controle sobre o norte
deres absolutos. drenar a água das chuvas. Elas permi- da África e o sul da Espanha, exceto o
Os plebeus tinham participação tiam o trânsito dos viajantes a cavalo, de Reino da Numídia e Cartago.
meramente formal na Assembleia carroças puxadas por bois e mulas e das Entre 150 e 146 a.C., Roma e Car-
Centuriata, a qual era reunida para vo- tropas de soldados, que viajavam a pé, tago enfrentaram-se na Terceira Guerra
tar as leis já preparadas pelo Senado; em marcha. Púnica, e Cartago sucumbiu diante de
tratava-se, portanto, de leis ao gosto As campanhas militares eram lon- Roma.
dos patrícios. Estes decretavam leis gas e, durante o avanço das tropas, O historiador Políbio afirma que:
que empobreciam a plebe, obrigando-a era preciso montar e desmontar acam- “Os cartagineses deviam lutar pe-
a se endividar e acabando por escra- pamentos com rapidez e eficiência. la sua própria existência e pelo domí-

FÍSICA A
vizá-la pelo não pagamento das dívidas Para isso, cada soldado era sempre nio da Líbia; os romanos, pelo domínio
contraídas dos próprios patrícios. encarregado de executar as mesmas do mundo. Podia alguém permanecer
Tal fato provocou revoltas sociais tarefas, como nivelar o terreno e de- indiferente a tais acontecimentos?
em Roma, obrigando os patrícios a marcá-lo, cavar o fosso, erguer a Nunca existiram antes exércitos tão
fazer concessões à plebe: Tribuno da paliçada e as torres de observação, experimentados nas batalhas, nem
Plebe (494 a.C.), Lei das Doze Tábuas abrir ruas no interior do acampamen- chefes tão afortunados e hábeis na
(450 a.C.), Lei Canuleia (445 a.C.), Lei to, dividindo-o em quarteirões. arte militar, nem enfim a sorte havia
Licínia (366 a.C.) e a lei que criava o Roma preocupou-se com a cons- prometido às partes rivais re-
Comício da Plebe (286 a.C.), o que da- trução de estradas para, justamente, compensas tão preciosas. Ao vence-
va aos plebeus o direito ao plebiscito. facilitar o deslocamento de suas tro- dor não só correspondia como prêmio
pas e a mobilização de recursos ne- o poder sobre a Líbia ou sobre a
5. A Expansão Romana cessários às conquistas. Europa, mas sobre todos os países do
Quando Roma partiu para a expan- mundo conhecido.”
O primeiro momento a ser consi- são além da Península ltálica, inter- Ao mesmo tempo em que Roma e
derado quando tratamos da expansão namente havia uma relativa Cartago se defrontavam, os romanos
romana é a conquista da própria Pe- estabilidade política, pois as questões desenvolviam guerras também no Me-
nínsula ltálica pelos romanos. Foi um sociais entre patrícios e plebeus diterrâneo oriental. Durante a Segunda
processo lento que precisou de mais tinham sido resolvidas, Guerra Púnica, como Filipe V da Mace-
de 230 anos para se efetivar, mas que temporariamente, pelas conquistas dônia havia dado apoio aos cartagi-
resultou na anexação de todos os po- plebeias — algumas ocorreram neses, Roma invadiu o seu território,
vos vizinhos (inclusive os aliados, co- paralelamente à unificação da Pe- tornando as cidades-Estado gregas in-
mo os latinos). Nesse processo, Roma nínsula ltálica. dependentes da Macedônia. O domínio
logrou derrotar e anexar territórios dos sobre a Macedônia e a Grécia concluiu-
sabinos, a Etrúria, a Gália, a Planície da As guerras ofensivas se em 146 a.C. Também no século lI
Campânia e Tarento, conquistas que Com a conquista de Tarento, o a.C., Roma anexou a Síria, a Ásia Me-
lhe deram o controle sobre toda a Pe- grande alvo de Roma passou a ser a nor, a Gália, o Ponto, a Palestina, a Bití-
nínsula. cidade de Cartago, pois essa antiga nia e o Egito.
O principal instrumento para a colônia fenícia dominava o comércio
conquista foi um exército muito bem no Mediterrâneo, chegando a atingir a As repercussões
preparado para dominar os demais po- costa ocidental da África, a Bretanha e das conquistas
vos. a Noruega. Os cartagineses ofereciam O comércio interligava Roma às
Os romanos foram grandes enge- tecidos, perfumes, pedras preciosas, suas províncias em toda a orla do Me-
nheiros. Por volta de 200 a.C., centenas trigo, marfim e ouro, além de possuí- diterrâneo. As atividades agrícolas nas
de quilômetros de estradas, algumas rem uma poderosa frota naval e um províncias foram estimuladas. Contu-
com até 12 metros de largura, cortavam exército de terra. do, na própria Itália, a agricultura prati-

– 63
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camente desapareceu. Os campos cionava espetáculos circenses gratui- O contato com o Oriente e com a
ficaram incultos ou subocupados. tamente: iniciava-se a política de Macedônia colocou os romanos em
Uma classe de comerciantes, ban- “pão e circo”, que tinha como meta encontro direto com a cultura helenís-
queiros, arrendatários, cobradores de primeira a alienação política da plebe tica, que passou a ser assimilada por
HISTÓRIA AD

impostos (publicanos) surgiu, sendo romana. Frequentemente, os plebeus Roma. O Exército, principal agente das
denominada classe dos homens- serviam como agregados aos mais ri- conquistas, também se alterou: os sol-
novos ou cavaleiros. Os patrícios de- cos em troca de esmolas e alimen- dados foram profissionalizados e pas-
pendentes da exploração fundiária se tos. Nessa fase, os escravos saram a receber salários. O Exército
empobreceram, passando a depen- provenientes das conquistas militares cada vez mais interferia na vida políti-
der dos cargos públicos para manter chegavam a Roma em grandes pro- ca romana. A estrutura republicana já
seu nível social. A plebe, marginaliza- porções, tornando-se cada vez mais não dava mais conta do Império Uni-
da pelo aumento do número de es- baratos, e eram considerados seres versal e passava a dar sinais de desin-
cravos, passou a ser sustentada pelo inferiores, apenas “instrumentos fa- tegração.
Estado, que distribuía trigo e propor- lantes” (instrumenta vocalia).

6. Cronologia
335 a.C. – Submissão dos latinos.
272 a.C. – Conquista de Tarento, no sul da Itália.
753 a.C. – Fundação de Roma, segundo a tradição.
265 a.C. – Anexação da Etrúria.
640 a.C. – Roma passa a ser governada por
264-241 a.C. – Primeira Guerra Púnica.
soberanos etruscos.
218-202 a.C. – Segunda Guerra Púnica.
509 a.C. – Deposição de Tarquínio, o Soberbo, e
instauração da República Romana. 200 a.C. – Ocupação da Macedônia.
494 a.C. – Criação do cargo de Tribuno da Plebe. 150-146 a.C. – Terceira Guerra Púnica.
450 a.C. – Lei das Doze Tábuas. 146 a.C. – Submissão da Grécia.
445 a.C. – Lei Canuleia. 133 a.C. – Domínio romano sobre a Espanha.
366 a.C. – Lei Licínia. 120 a.C. – Anexação do sul da Gália.
287 a.C. – Criação do Comício da Plebe. Século I a.C. – Conquista da Ásia Menor, Síria,
restante da Gália e Egito.
395 a.C. – Conquista da cidade etrusca de Veios.

1. (UFPR-2019) – Leia abaixo um excerto das Leis das Doze Tábuas, RESOLUÇÃO:
sistematizadas em 450 a.C.: a) No contexto da República, 509-27 a.C, ocorreram grandes
transformações em Roma, entre elas, a luta de classes entre
patrícios e plebeus, culminando em diversas conquistas
“TÁBUA NONA – Do direito público plebeias por meio de aprovação de leis: Lei Licínia (igualdade
1. Que não se estabeleçam privilégios em lei (Ou que não se façam política), Canuleia (igualdade civil), Olgúnia, entre outras, que
leis contra indivíduos) [...] foram aprovadas nesse momento.
3. Se um juiz ou um árbitro indicado pelo magistrado receber dinheiro b) As Leis das Doze Tábuas caracterizam essas conquistas dos
plebeus, trata-se da primeira compilação escrita das leis
para julgar a favor de uma das partes em prejuízo de outrem, que
romanas responsáveis pelos fundamentos essenciais do Direito
seja morto; [...]” Romano.
(Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/
anthist/12tab.htm. Acesso em: 07 set. 2018.)

A partir dos conhecimentos sobre o período republicano da Roma Antiga


(509 a.C. - 27 a.C.):
a) Explique as motivações que levaram à sistematização dessas leis e
quais mudanças elas trouxeram em relação à vida política e social
vigente no período monárquico (753 a.C. - 509 a.C.).
b) As Leis das Doze Tábuas deram origem a qual conjunto de leis e
normas jurídicas?

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2. (UNISC-2021) – Em 2001, a Publifolha lançou dois livros de história prevalecer o interesse público do bem comum acima de interesses
e filosofia política, “A Democracia” e “A República”, ambos do filósofo particulares. Cabe ao indivíduo se doar a comunidade. Conforme o
Renato Janine Ribeiro. Em que pese serem duas publicações indepen- texto do pensador Renato Janine Ribeiro, o próprio pai condena
os filhos a morte em função do bem comum.
dentes, os dois volumes estão estreitamente relacionados. Em “A
Resposta: C

HISTÓRIA AD
República”, Janine estabelece uma historicização do conceito a partir da
pintura abaixo:

3. (2020) – “Com efeito, até a destruição de Cartago, o


povo e o Senado romano governavam a República em
harmonia e sem paixão, e não havia entre os cidadãos
luta por glória ou dominação; o medo do inimigo mantinha a cidade no
cumprimento do dever. Mas, assim que o medo desapareceu dos
espíritos, introduziram-se os males pelos quais a prosperidade tem
predileção, isto é, a libertinagem e o orgulho.”
(Os litores levam ao Cônsul Brutus os corpos de seus filhos, de

FÍSICA A
(SALÚSTIO. A conjuração de Catilina/A guerra de Jugurta.
Jacques Louis David, 1748-1825 (Museu do Louvre, Paris).
Petrópolis: Vozes, 1990. Adaptado.)
Imagem disponível em: https:br.pinterest.com/pin/
445223113131739282/?nic_v2=1a21wzY4H.)
O acontecimento histórico mencionado no texto de Salústio, datado de
O quadro é relacionado a um episódio da Roma Antiga. Depois de expulso I a.C., manteve correspondência com o processo de
o último rei e proclamada a República, Brutus exercia o poder executivo a) demarcação de terras públicas.
juntamente com outro cônsul eleito. Seus filhos, porém, conspiraram para b) imposição da escravidão por dívidas.
restaurar a dinastia dos Tarquínios, de origem etrusca e externa à cidade. c) restrição da cidadania por parentesco.
Depois de presos, o próprio pai os condena à morte. Na sua função d) restauração de instituições ancestrais.
pública, não poderia agir de outro modo. No quadro, vemos ao fundo os e) expansão das fronteiras extrapeninsulares.
cadáveres com mulheres agonizando em sofrimento pela morte dos
RESOLUÇÃO:
jovens. “No primeiro plano, o cônsul, em silêncio, meditando – e, na sua
O texto fala sobre a expansão territorial romana durante o
forma discreta, máscula, condensada, sentindo imensa dor.” período da República. A partir de tal expansão, houve o avanço
(RIBEIRO, R. J. A República. São Paulo: Publifolha, 2008. p. 8.) das fronteiras extrapeninsulares – a ponto de os romanos
passarem a chamar o Mar Mediterrâneo de Mare Nostrum – e o
O que nos diz o quadro de Jacques Louis David em relação ao conceito crescimento da escravidão de guerra em Roma.
de República? Resolução: A expansão romana no Mediterrâneo, sobretudo após
a) Que a família na Roma Antiga era patriarcal, ou seja, toda a a vitória contra Cartago nas Guerras Púnicas (264-146 a.C.)
alterou profundamente a estrutura econômica e social de Roma,
autoridade era delegada ao pater famíliae que não poderia aceitar
agravando os conflitos internos e gerando a crise da República,
nenhum tipo de conspiração. com o consequente advento do Império.
b) Que a conspiração era algo natural entre as famílias de poder na Resposta: E
Roma Antiga e a reação enérgica de Brutus reflete a necessidade
de líderes com “pulso firme” para manterem suas funções no
sistema republicano.
c) Que o bem público se sobrepõe ao privado, uma vez que por
princípio deve-se levar ao sacrifício as vantagens e até mesmo os
afetos pessoais em prol do bem comum.
d) Que Brutus, apesar de bom pai, tinha muito receio em ser vítima de
algum golpe de estado e agiu de forma desproporcional ao retirar a
vida dos próprios filhos.
e) Que filhos, mulheres, parentes e amigos podem participar do
universo público e da tomada de decisões que constitui os princípios
republicanos, mas jamais devem conspirar contra o poder do pater
famíliae.

RESOLUÇÃO:
A questão aponta para a passagem da monarquia para a república
na Roma antiga, exatamente em 509 a.C. A palavra “república”
deriva do latim “res publica, isto é, o poder é coisa pública. Deve

– 65
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4. (FUVEST-2019) – “(…) o ‘arco do triunfo’ é um fragmento de muro 5. (ESPM) – “Como decorrência das conquistas romanas no
que, embora isolado da muralha, tem a forma de uma porta da cidade. Mediterrâneo, estendeu-se amplamente o território sob o domínio de
(...) Os primeiros exemplos documentados são estruturas do século Roma. Graças às especulações com o dinheiro (usura) e ao
II a.C., mas os principais arcos de triunfo são os do Império, como os desenvolvimento das relações comerciais com as províncias, de onde
HISTÓRIA AD

arcos de Tito, de Sétimo Severo ou de Constantino, todos no foro Roma importava artigos de luxo (tecidos, objetos ornamentais), metais
romano, e todos de grande beleza pela elegância de suas proporções.” preciosos (ouro e prata) e cereais, os grandes comerciantes e usurários
(PEREIRA, J. R. A. Introdução à arquitetura. Das origens ao romanos concentraram grandes fortunas nas suas mãos.”
século XXI. Porto Alegre: Salvaterra, 2010, p. 81.)
(Rubim Santos Leão de Aquino. História das Sociedades: das
Dentre os vários aspectos da arquitetura romana, destaca-se a comunidades primitivas às sociedades medievais.)
monumentalidade de suas construções. A relação entre o “arco do
Os grandes comerciantes e usurários romanos, citados no texto,
triunfo” e a História de Roma está baseada
compravam cargos públicos, votos, influenciavam nas decisões políticas
a) no processo de formação da urbe romana e de edificação de
e constituíram uma camada social conhecida como:
entradas defensivas contra invasões de povos considerados
a) patrícios.
bárbaros.
b) vilões.
b) nas celebrações religiosas das divindades romanas vinculadas aos
c) clientes.
ritos de fertilidade e aos seus ancestrais etruscos.
d) cavaleiros ou classe equestre.
c) nas celebrações das vitórias militares romanas que permitiram a
e) metecos.
expansão territorial, a consolidação territorial e o estabelecimento do
sistema escravista. RESOLUÇÃO:
d) na edificação de monumentos comemorativos em memória das lutas Somente a alternativa [D] está correta. A questão aponta para a
dos plebeus e do alargamento da cidadania romana. expansão romana na Itália, que, através das Guerras Púnicas,
e) nos registros das perseguições ao cristianismo e da destruição de venceu Cartago, dominando o mar Mediterrâneo (daí a famosa
frase “mare nostrum”, o mar é nosso). Com a expansão, ocorreram
suas edificações monásticas.
transformações na sociedade romana, como aumento da
escravidão, desigualdade social, violência e surgimento de uma
O militarismo teve papel central na consolidação da República
nova classe social denominada cavaleiros ou equestres.
romana. A sociedade criou o costume de celebrar as vitórias
Resposta: D
militares – e as consequentes expansões territoriais – em uma
cerimônia batizada de triunfo que, ao longo do tempo, acabou
levando à construção de edificações em forma de arco. Daí a
expressão arco do triunfo.
Resposta: C

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MÓDULO 2 Império Romano


1. A Guerra Civil República entre si. Mais tarde, Otávio Equestre era composta de romanos

HISTÓRIA AD
afastou Lépido, venceu Marco Antônio com renda acima de 400 mil sestércios,
As instituições políticas da Repú- e Cleópatra e se apoderou do Egito. usava a cor azul e possuía menos
blica começaram a se desintegrar. Não Os tesouros pilhados propiciaram-lhe direitos. Abaixo desse nível, ninguém
mais se adaptavam às novas con- um exército numeroso e celeiros mais possuía direitos políticos; a grande
dições de um Império Universal. A cri- abarrotados de trigo, distribuído à maioria constituía a Ordem Inferior.
se da República evidenciou-se durante plebe em seu nome. Voltou para Apiano mostra as transformações
as guerras civis, que em seu final le- Roma e foi recebido como o salvador provocadas pelas guerras civis:
varam à implantação do Império. da República; na verdade, Caio Otávio “Os ricos, após ocuparem a maior
As forças políticas que se defron- tornava-se o fundador do Império. parte das terras não assinaladas no
taram durante essas guerras eram as ager publicus, confiando que com o
seguintes: os patrícios, que procura- 2. O Alto Império passar do tempo ninguém as tomaria
vam manter a República e os seus pri- mais, voltaram-se contra os pequenos
vilégios; os cavaleiros, que almejavam O Império estabeleceu-se de fato proprietários vizinhos, dominados pela
o controle do poder político; os clien- em Roma quando Caio Otávio retor- pobreza e relegados ao desamparo, se-
tes, que serviam de instrumento na nou do Egito com seu Exército. O Se- ja por meios amigáveis, seja pela for-
luta política; o Exército, que, refor- nado concedeu-lhe vários títulos que ça: dessa forma, em vez de pequenos

FÍSICA A
mado a partir de 105 a.C., constituiu legalizaram seu poder absoluto: côn- campos, passaram a ser cultivados
igualmente um instrumento político sul vitalício, censor, príncipe do Sena- grandes domínios.
nas mãos dos generais. do e, finalmente, Augusto — título que Para fazer render essas terras,
Os primeiros sinais da crise apare- até então era reservado aos deuses e eles se serviam de escravos para o
ceram quando os Irmãos Graco — Ti- que permitia a Otávio escolher seu trabalho de cultivo e para o pastoreio;
bério e Caio — pretenderam realizar a sucessor. os ricos proprietários tinham medo de
Reforma Agrária, a fim de libertar a Embora Caio Otávio, o Augusto, que, se empregassem homens livres,
plebe de seu estado de submissão. conservasse durante seu reinado as estes abandonassem as culturas para
Foram abatidos pelos nobres e cava- aparências republicanas, seu poder ingressar no Exército. Além disso,
leiros unidos. apoiava-se efetivamente no Imperium, esse procedimento lhes trazia um
Surgiram, em seguida, generais comando do Exército; no poder pró- benefício considerável, em razão do
políticos – primeiro Mário, depois consular, ou seja, no direito de indicar nascimento de novos escravos. Eles
Sila –, que, apoiados na plebe e no os governadores das províncias; no po- acumulavam também grandes rique-
Exército, exerceram o poder de forma der tribunício, de caráter popular e zas e o número de escravos se multi-
absoluta durante anos. delegado pela plebe. Era a fase do plicava no país. Os italianos, ao
Em 60 a.C., César, Pompeu e principado de Augusto, em que as contrário, sofriam o despovoamento e
Crasso formaram o Primeiro Triunvira- aparências republicanas escondiam o a falta de homens, despojados que es-
to, reduzindo a autoridade do Senado. seu poder de imperador. tavam pela pobreza, pelas contribui-
Crasso morreu na Pérsia, Pompeu foi Augusto reorganizou as províncias, ções e pelo serviço militar. Eles se
vencido por César no Egito, onde a dividindo-as em imperiais (militares) e corrompiam na sua ociosidade, pois as
rainha Cleópatra passou a receber a senatoriais (civis). Indicava os governa- terras estavam nas mãos dos ricos,
proteção do vencedor. Em Roma, Cé- dores e controlava-os por meio de ins- que não os empregavam como cultiva-
sar procurou legalizar o seu poder, peções diretas e relatórios anuais. dores; no lugar de homens livres,
obtendo a ditadura. O Senado cumu- Criou o sistema estatal de cobrança de utilizavam os escravos. O latifúndio
lou-o de títulos, mas César passou a impostos, acabando com a concessão perdeu a Itália.”
pretender também a hereditariedade da arrecadação a particulares. Augusto procurou conter a in-
que só o título de “rei” lhe proporcio- No plano social, acabou com a tra- fluência da cultura helenística (fusão
naria. Por isso, foi assassinado por um dicional superioridade do patriciado, grega e oriental), que estimulava a
grupo de senadores liderados por criando uma estrutura social funda- busca do prazer (hedonismo) e o culto
Brutus e Cassius. mentada em critérios censitários. Os aos deuses orientais. Para tanto,
Marco Antônio, general e amigo mais ricos, que tinham uma renda tentou reavivar os valores do passado
de César, uniu-se ao sobrinho deste, acima de 1 milhão de sestércios, per- agrário de Roma, sem muito êxito.
Caio Otávio, e, com Lépido, formou o tenciam à Ordem Senatorial, que tinha Para defender suas ideias, trouxe para
Segundo Triunvirato. Venceram os os privilégios políticos e distinguia-se a corte literatos como Tito Lívio,
rebeldes na Macedônia e dividiram a pelo uso da cor púrpura. A Ordem Virgílio, Ovídio e Horácio.

– 67
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Não tendo herdeiros diretos, Au- nuíam, o que impedia a aquisição de Ao mesmo tempo, essas altera-
gusto indicou como sucessor seu filho novos escravos, gerando uma retração ções provocaram uma retração geral
adotivo, Tibério. Não obstante, as in- econômica que contribuiu para a crise da economia, à medida que a produ-
dicações seguintes seriam feitas em do escravismo.
HISTÓRIA AD

ção urbana e o comércio geravam ca-


geral pelos militares. Até 68 d.C., a Como consequência desse pro- da vez menos riquezas.
Guarda Pretoriana monopolizou o cesso, Roma assistiu a mudanças sig- Para o Estado, os impostos dimi-
processo de sucessão política. Então, nificativas. Os proprietários rurais
nuíram, o que dificultava o pagamento
teve início a revolta militar, e os começaram a adotar o sistema de ar-
de despesas. Então, emitia-se moeda.
demais exércitos — Espanha, Gália, rendamento como saída para a crise.
Os produtos escasseavam no mer-
Germânia e Oriente — passaram a in- Os trabalhadores passaram a se sus-
tentar com o próprio trabalho, num cado e seus preços subiam, o que não
tervir nesse processo, cada um indi- era acompanhado pelo aumento de
pedaço de terra arrendado pelo
cando um candidato. salários. O Império passava a vivenciar
proprietário, porém deveriam trabalhar
Na época dos Severos, o imperador a inflação.
alguns dias por semana para pagar os
era um soberano que se apoiava na bu-
benefícios recebidos — por exemplo,
rocracia e no Exército. O Senado havia- As medidas para conter a crise
a concessão de casa para morar.
se esvaziado. A economia prenunciava O Império foi obrigado a reduzir
Assim, os escravos foram diminuindo
a crise: os impostos diminuíram e o e alguns chegaram a comprar seu suas despesas em razão da crise. Pa-
governo passou a emitir dinheiro, ge- próprio lote de terras, transformando- ra tanto, deixou de sustentar a plebe
rando aumento de preços, de salários e se em homens livres. Dessa forma, o urbana, limitou os gastos da corte im-
da inflação. Além da crise interna, os escravo elevava-se à condição de perial, dispensou funcionários e redu-
romanos enfrentavam ainda pressões colono, ou seja, um homem livre, mas ziu os contingentes militares.
dos bárbaros sobre suas fronteiras. preso à terra. Diocleciano, para impedir que os
As cidades foram deixando de ser atritos entre militares no momento de
3. O Baixo Império o centro da vida do Império, verifi- sucessão aumentassem e para ga-
cando-se uma tendência de ruralização rantir a eficiência contra as invasões
A crise do escravismo da economia, pois os latifúndios bárbaras, estabeleceu a Tetrarquia, di-
No século III, tem início o cha- tornaram-se autossuficientes e in- vidindo o Império em Ocidente e
mado Baixo Império Romano, fase da dependentes da economia urbana. Oriente. Cada região passava a ser
crise aguda do escravismo, pois os
Esse fato se acentuou com as pres- governada por quatro imperadores –
problemas do Império se acumularam
sões bárbaras sobre o Império, levan- dois augustos (imperadores principais)
em razão de três fatores: militar, reli-
do as vilas a constituírem verdadeiras e dois césares (imperadores subal-
gioso e econômico.
fortalezas, o que fez a vida de suas ternos) –, que comandariam os des-
Em termos militares, a anarquia e o
populações mais segura. tinos de Roma.
final das guerras de conquistas con-
tribuíram para a diminuição do número
de escravos, pois a agricultura romana,
para garantir uma boa produção, neces-
sitava de um número abundante de
escravos. À medida que as guerras
cessavam, escasseava a mão de obra
disponível e o seu preço se elevava.
O cristianismo foi também um
fator religioso que, ao pregar a liberda-
de como um dom natural do ser hu-
mano, fez com que grandes levas de
escravos se convertessem e fugissem
das propriedades, fazendo diminuir a
população escrava.
As dificuldades para manter a mão
de obra escrava aumentavam, os
senhores gastavam grande parte —
senão toda — da produção para ali-
mentá-los e vesti-los, além dos gastos
com vigilância para impedir as fugas.
A divisão do Império Romano, realizada pelo imperador Teodósio, em 395, e a demarcação dos
Enquanto isso, os latifúndios come- limites, destacando os impérios existentes nas fronteiras no ano 450.
çavam a ser divididos e os lucros dimi-
68 –
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Em 301, Diocleciano publicou o mano do Ocidente: visigodos, na Es- 4. O Legado Cultural


Edito do Máximo, numa tentativa de panha; vândalos, na África; francos, na A estrutura do Direito Romano
controlar o aumento de preços e de Gália; anglo-saxões, na Bretanha; influenciou toda a sociedade ociden-
salários, fixando o valor máximo que ostrogodos, na Itália. tal. Seu Código de Justiça, o Direito

HISTÓRIA AD
ambos poderiam alcançar. Com isso, Em 476, o Império do Ocidente Romano, é até hoje a base de todos
pretendia conter a inflação. reduzia-se à Itália. O imperador Júlio os códigos de justiça do Ocidente e,
Com a morte de Diocleciano, Nepos foi deposto por Orestes, chefe por isso, disciplina obrigatória na for-
Constantino subiu ao poder e aboliu a do Exército, que colocou seu filho de 6 mação de juristas.
divisão do Império, reunificando-o. Em anos no trono com o nome de Rômulo Com exceção do Direito, as de-
313, o novo imperador legalizou o cris- Augústulo. Odoacro, rei dos hérulos, mais ciências não atingiram grande
tianismo por meio do Edito de Milão. chefe bárbaro aliado a Júlio Nepos, destaque na civilização, já que muitas
Durante o governo de Teodósio, o deu um contragolpe: afastou Orestes delas, como a Medicina, permanece-
cristianismo foi oficializado por meio e Rômulo Augústulo, tornando-se rei ram no espaço do folclore.
da Lei da Tessalônica, de 391. O Im- da Itália. A ideia de homem e sociedade
pério foi novamente dividido em As insígnias imperiais foram envia- dos romanos é a mola-mestra no mun-
Oriente e Ocidente, mas já era tarde, das para Constantinopla, o que signi- do atual. Afinal, é deles que herdamos
pois a desintegração de sua parte oci- fica, ao menos teoricamente, a a ideia de família como a célula-mãe
da sociedade.
dental era evidente mediante a pene- reunificação do Império sob o domínio
O latim deu origem às línguas ro-
tração dos bárbaros em suas de Constantinopla. Mais tarde, o impe-
mânicas da Europa: o português, o
fronteiras. rador do Oriente, Zenon, pretendendo

FÍSICA A
francês, o espanhol, o italiano e o
livrar-se dos ostrogodos, que lhe
romeno.
As invasões bárbaras causavam problemas, concedeu-lhes
Devemos ainda destacar seus en-
e o fim do Império no Ocidente a Itália. Chefiados por Teodorico, os
sinamentos na arte militar, na admi-
O enfraquecimento militar facilitou ostrogodos formaram o Reino Ostro-
nistração pública e na arquitetura.
as invasões dos bárbaros, que foram gótico da Itália, pondo fim ao Império
ocupando o território do Império Ro- Romano do Ocidente.

5. Cronologia
213 – Edito de Caracala, estendendo a cidadania
romana a todos os homens livres do
133 a.C. – Tibério Graco é eleito Tribuno da Plebe.
Império.
132 a.C. – Assassinato de Tibério Graco.
235 – Início da anarquia militar.
124 a.C. – Caio Graco é eleito Tribuno da Plebe.
Século III – Início da crise econômica do Império
121 a.C. – Suicídio de Caio Graco.
Romano.
107 a.C. – Primeiro consulado de Mário.
284 – Início do governo de Diocleciano e criação
104 a.C. – Realização da reforma do Exército por
da Tetrarquia.
Mário.
301 – Edito do Máximo.
105-100 a.C. – Mário é cônsul por seis vezes con-
313 – Constantino abole a Tetrarquia e assina o
secutivas.
Edito de Milão.
82 a.C. – Sila é nomeado ditador perpétuo.
391 – Edito da Tessalônica.
79 a.C. – Renúncia de Sila à vida pública.
395 – Morte de Teodósio e divisão do Império
60 a.C. – Primeiro Triunvirato.
Romano.
44 a.C. – Assassinato de Júlio César.
406 – Início das Grandes Invasões Germâ-
40 a.C. – Segundo Triunvirato.
nicas.
30 a.C. – Conquista do Egito por Otávio.
410 – Saque de Roma pelos visigodos.
27 a.C. – Otávio é proclamado Augusto. Início do
415 – Fundação do Reino Visigótico.
Principado.
439 – Fundação do Reino Vândalo.
14 d.C. – Morte de Otávio Augusto.
443 – Fundação do Reino Borgúndio.
54-68 – Reinado de Nero.
449 – Ocupação da Bretanha por anglos, saxões
96 – Morte de Domiciano, último dos Doze
e jutos.
Césares. Início da Dinastia dos An-
455 – Saque de Roma pelos vândalos.
toninos.
476 – Deposição de Rômulo Augústulo e fim do
98-117 – Reinado de Trajano. O Império Romano
Império Romano do Ocidente.
atinge sua extensão máxima.
488 – Ocupação da Itália pelos ostrogodos.
193-235 – Dinastia dos Severos.

– 69
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HISTÓRIA AD

1. (UNICAMP) – “Com relação ao ornamento, Roma não correspondia, 2. (UNICAMP-2021) – “Os aposentos comuns são aqueles aos quais
absolutamente, à majestade do Império e, além disso, estava exposta o povo pode ir, como os vestíbulos e pátios. Assim, magníficos
às inundações, como também aos incêndios. Porém, Augusto fez dela vestíbulos, aposentos e átrios não são necessários para as pessoas de
uma cidade tão bela que pode se envaidecer, principalmente por ter fortuna comum, pois visitam, mas não são visitados. As casas de
deixado uma cidade de mármore no lugar onde encontrara uma de banqueiros deveriam ser mais espaçosas e vistosas, protegidas contra
tijolos.” ladrões. Advogados e retóricos deveriam morar com elegância. Para
(Adaptado de Suetônio, A Vida dos Doze Césares. aqueles que ocupam cargos e magistraturas, deveriam ser feitos
São Paulo: Martin Claret, 2006, p. 91.) vestíbulos reais, amplos e devidamente decorados com grandeza.”
(Adaptado de Vitrúvio, “Sobre a Arquitetura”, em Pedro Paulo Funari,
Considerando o texto e o período de Otávio Augusto no governo de Antiguidade Clássica. Campinas: Editora da Unicamp, 2003, p. 81.)
Roma, responda:
a) Qual a relação da nova urbanização da capital do Império com o O arquiteto romano Vitrúvio expressa, em seu texto clássico sobre os
período de paz que Augusto pretendia simbolizar? princípios da Arquitetura,
b) Identifique uma medida social e uma medida política estabelecidas a) a naturalização das diferenças sociais impressas na vida material, já
por Augusto para adaptar a tradição romana ao novo momento. que as habitações ditas comuns deveriam ser simples e as dos
enriquecidos deveriam ser espaçosas e vistosas.
RESOLUÇÃO:
b) a resistência contra as diferenças sociais impressas na vida material,
a) Na tentativa de reurbanizar Roma, que era um grande domínio,
mas ainda carecia de uma melhor organização urbana (suas já que as habitações de pessoas de fortuna comum, magistrados e
ruas eram estreitas e sujas, havia vários cortiços e prédios funcionários públicos deveriam ser iguais.
construídos com tijolo), Otávio promoveu uma grande reforma c) a percepção das diferenças sociais durante todo o Império Romano,
urbana para embelezar e engrandecer a cidade. A substituição materializadas nas habitações, e a busca por moradias mais belas e
do material utilizado nas construções (tijolo por mármore)
espaçosas para todos.
simboliza a superação dos problemas enfrentados por Roma no
final da República. A transformação da cidade indica o poder d) a determinação em conservar as diferenças sociais no Império
centralizador de Otávio. Romano, a partir de políticas públicas de construção de moradias
b) Otávio manteve a estrutura de poder da República (Senado), amplas para pessoas de fortuna comum.
mas com poder meramente simbólico, centralizando a política
em torno de si; Otávio criou a divisão censitária na cidade, RESOLUÇÃO:
relacionando posição social e participação política com a renda A alternativa escolhida (A) repete termos que constam no próprio
dos romanos. excerto transcrito. Aliás, a observação de que as moradias dos
membros das camadas superiores da sociedade romana deveriam
ser mais espaçosas reflete uma característica comum à maioria das
formações sociais ditas "civilizadas".
Resposta: A

70 –
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3. (UEL) – Otávio tornou-se o primeiro imperador no período do alto 4. (SANTA CASA-2021) – “A vitória total do cristianismo deu-se na
império romano e a Pax Romana impôs militarmente seu domínio época do imperador Teodósio, no final do século IV, que concedeu aos
hegemônico no cotidiano de diferentes povos da região norte da África cristãos numerosos privilégios [...].
e de grande parte da Europa. Enfim, o cristianismo passou de religião do imperador para religião

HISTÓRIA AD
oficial, primeiro convivendo com o culto aos deuses e, depois, proibindo
Com base nos conhecimentos sobre o Império Romano sob o governo de vez o paganismo.”
de Otávio, considere as afirmativas a seguir. (Pedro Paulo Funari. Grécia e Roma, 2019.)

I. Quando Otávio se tornou o primeiro romano a congregar o título de Para alguns historiadores, a oficialização do cristianismo no Império
Augusto, implantou-se o culto ao governante, diferentemente dos Romano simbolizou o fim do Mundo Antigo, pois
dirigentes anteriores. a) caracterizou o prevalecimento da lógica medieval de que Deus deve
II. Otávio buscou interferir no cotidiano dos romanos ao incentivar a ser representado à imagem e à semelhança dos reis e imperadores.
constituição de famílias numerosas e impor punição às mulheres b) provocou conflitos internos à sociedade romana, que acabaram por
adúlteras. fragmentar social e politicamente o Império.
III. Sob seu governo, estabeleceu-se uma diferença dos governos c) demonstrou, com o desencadeamento da perseguição aos pagãos,
anteriores pelo sistema de coleta de impostos, pois o Estado o início da intolerância religiosa da Idade Moderna.
assumiu o papel que era dos publicanos. d) impediu a constituição de alianças e negociações com os povos
IV. A organização social dos romanos distribuído em ordens sociais foi germânicos, que eram politeístas.
revisada e implantou-se a hereditariedade como critério privilegiado e) revelou, com o triunfo do monoteísmo, o surgimento de uma nova
da diferenciação. mentalidade e a fusão entre Igreja e Estado.

FÍSICA A
Assinale a alternativa correta. RESOLUÇÃO:
A promulgação do Edito de Tessalônica (380), que deu ao
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
cristianismo o status de religião oficial, significou a consolidação de
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. uma tendência, manifestada desde o Edito de Milão de 313, no
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. sentido de fortalecer a autoridade imperial junto às massas
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. romanas, então já predominantemente cristãs. Todavia, essa
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. providência, embora de certa forma significasse o fim do mundo
greco-romano, não evitou a derrocada do Império do Ocidente, cuja
decadência se revelou irreversível.
RESOLUÇÃO:
Resposta: E
[IV] Incorreta, porque o governo de Otávio Augusto não mudou a
organização social romana, baseada na divisão: patrícios, plebeus
e escravos.
Resposta: D

– 71
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5. (ALBERT EINSTEIN-2021) – “O Império Romano, após a profunda


crise do século III, tentou a sobrevivência através do estabelecimento de
novas estruturas, que não impediram (e algumas até mesmo
aceleraram) sua decadência, mas que permaneceriam vigentes por
HISTÓRIA AD

séculos. Foi o caso, por exemplo, do caráter sagrado da monarquia, da


aceitação de germanos no exército imperial, da petrificação da hierarquia
social, do crescente fiscalismo sobre o campo, do desenvolvimento de
uma nova espiritualidade.”
(Hilário Franco Junior.
A Idade Média: nascimento do Ocidente, 1988.)

O texto apresenta alguns elementos que se aprofundaram nos dois


séculos seguintes e caracterizaram a transição entre
a) a Alta Idade Média e a Baixa Idade Média, marcada, entre outros
elementos, pela penetração de povos estrangeiros nos domínios do
Império Romano e pela militarização do cotidiano.
b) a Idade Média e a Idade Moderna, marcada, entre outros elementos,
pela centralização do poder político nas mãos dos reis e as severas
limitações na mobilidade social.
c) a Antiguidade e a Idade Média, marcada, entre outros elementos,
pela negação do caráter divino do imperador e pela transformação do
cristianismo em religião do Estado.
d) o Império Romano do Ocidente e o Islã, marcada, entre outros
elementos, pela feudalização e pelo aumento da tributação sobre a
produção agrícola.
e) o Mundo Antigo e o Mundo Moderno, marcada, entre outros
elementos, pelo desaparecimento dos grandes impérios e a
consolidação dos Estados nacionais europeus.

RESOLUÇÃO:
Mais do que as características do sistema feudal, tal como se
definiu nos primeiros séculos da Idade Média, a questão aborda
mudanças ocorridas nos três últimos séculos do Baixo Império
Romano e suas tentativas de sobreviver à sua própria crise: a partir
do reinado de Constantino, o imperador perdeu efetivamente sua
essência divina; em 380, pelo Edito de Tessalônica, Teodósio
oficializou o cristianismo, em um esforço para canalizar o apoio da
Igreja às enfraquecidas instituições do Império Romano.
Resposta: C

72 –
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MÓDULO 3 Islamismo
1. Introdução mesmo pelos romanos, que diziam comercial. Sua única grande rival era

HISTÓRIA AD
não lhes interessar as “pedras e a Yatreb, velha cidade situada em um
O aparecimento efetivo dos ára- areia da Arábia”. oásis, 350 quilômetros ao norte de
bes na História ocorreu somente na Meca. Desse afluxo de beduínos
Idade Média, quando formaram um 3. A Religiosidade dos Árabes viviam os grandes comerciantes per-
vasto Império que passou a rivalizar tencentes à tribo dos coraixitas, que
com o Império Bizantino (ou Império A palavra islamita quer dizer “sub- controlavam o santuário da cidade e o
Romano do Oriente) e o Império Per- misso a Deus” e muçulmano significa poder político local.
sa. A rápida expansão dos árabes, que “crente”. Os árabes acreditavam em
constituiu um dos principais aspectos espíritos (djinns), representados por 4. Maomé
da História Medieval, resultou da uni- árvores e pedras, e em uma infinidade
ficação política e religiosa da Arábia, de divindades subordinadas a um ser Maomé era descendente de uma
efetuada por Maomé, que lançou as superior – Alá (Deus, a divindade). O família pobre (haxemitas), mas perten-
bases da fundação do primeiro Estado único fator de unidade religiosa era o cia à tribo dos coraixitas. Dedicando-
nacional árabe. santuário existente na cidade de se desde cedo ao trabalho em
Meca, a Caaba, em cujo interior era caravanas, conheceu outros povos do
2. O espaço Geográfico
guardada uma Pedra Negra, Oriente Médio e entrou em contato

FÍSICA A
reverenciada por todos os árabes que com o cristianismo e o judaísmo. De-
A Península Arábica é uma região
para lá se dirigiam em peregrinação. pois de seu casamento com uma rica
desértica em sua maior parte, loca-
Ali estavam também representados os viúva, Kadidja, Maomé entregou-se
lizada entre o Mar Vermelho e o Golfo
ídolos das diversas tribos da Arábia, aos retiros espirituais e meditações,
Pérsico. Essa região imensa, aparen-
que todos os anos eram visitados sem abandonar por completo a ativi-
temente vazia, possuía numerosos
pelos peregrinos que aproveitavam dade profissional. Segundo ele próprio
oásis e postos caravaneiros, além de
para realizar suas práticas comerciais. afirmou, teve sucessivas visões do ar-
algumas cidades situadas na proxi-
Aos habitantes de Meca interes- canjo Gabriel. Este lhe teria confiado a
midade da costa e dos portos. As ru-
savam, sobretudo, as romarias que se missão de propagar uma nova religião,
des condições de vida da região
realizavam ao final de cada ano, pois cuja essência se consubstanciava na
explicam seu isolamento; assim, não
dinamizavam as trocas e transfor- seguinte frase: “Maomé, tu és o
foi conquistada pelos grandes Im-
mavam a cidade em um grande centro Profeta do Deus único, Alá.”
périos da Antiguidade Oriental, nem

As conquistas árabes, após a morte de Maomé, deram origem ao mundo muçulmano.

– 73
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Maomé converteu primeiramente A unidade do mundo muçulmano cológico – atração exercida pelo paraíso
seus familiares e, em seguida, tentou foi quebrada após a morte do profeta, muçulmano, que prodigalizava recom-
convencer os coraixitas, sem obter com o surgimento de vários movi- pensas materiais. Consideram-se ainda
êxito. Perseguido, fugiu de Meca para mentos, entre os quais se destacam elementos propulsores da expansão
HISTÓRIA AD

Yatreb (desde então chamada Medina os sunitas e os xiitas. A divergência árabe, facilitando suas conquistas, a
en Nabi, que significa “a Cidade que inicial entre esses dois grupos reside fraqueza dos Impérios Bizantino e Persa
recebeu o Profeta”) com vários na questão do direito de sucessão ao e a instabilidade política dos reinos
familiares, no episódio que ficou governo do Islão. Segundo o Corão, germânicos do Ocidente.
conhecido como Hégira, que marca o somente os parentes de Maomé Omar foi o principal califa da Di-
início do calendário muçulmano. poderiam substituí-lo no comando dos nastia Haxemita. Conquistou a Síria, a
Apoiando-se nos habitantes de crentes. Mas na Suna não havia a Palestina, a Pérsia e o Egito.
Medina, Maomé deu início à Guerra mesma afirmação sobre a questão. A substituição dos califas haxemi-
Santa contra Meca, atacando suas Assim, os xiitas constituíram o grupo tas pelos omíadas, em 660, levou a
caravanas. O prestígio de Maomé fundamentalista que aceita apenas as duas mudanças: a capital foi transfe-
cresceu com suas vitórias e, com o regras estabelecidas pelo Corão, ou rida para Damasco, na Síria, e as con-
apoio dos beduínos, marchou contra seja, que apenas os descendentes de quistas voltaram-se para o Ocidente.
Meca, destruindo os ídolos da Caaba, Maomé possuem o direito de Avançando de forma fulminante, os
declarando sagrado o recinto do san- governo, enquanto os sunitas abra- maometanos conquistaram a África do
tuário e implantando definitivamente o çaram a Suna e iniciaram um processo Norte, a Península Ibérica e até o sul
monoteísmo. Nesse ano de 630, nas- de disputa sucessória com os xiitas. da Gália, onde foram detidos pelos
ceu o Islã. francos, liderados por Carlos Martel,
Os últimos anos de sua vida, Mao- 5. A Expansão Muçulmana na Batalha de Poitiers; as ilhas de
Córsega, Sardenha e Sicília também
mé passou convertendo os demais (Séculos VII-XI)
caíram sob dominação muçulmana.
árabes pela força das armas. Morreu
Os árabes passavam a deter o con-
em Medina, onde construíra a primeira Quando Maomé morreu, deixou a
trole sobre o Mar Mediterrâneo.
mesquita do Islão, deixando elaborada Arábia unificada, com sua capital em
Em 750, em Damasco, um golpe
a doutrina islâmica, que transmitiu a Meca e sob a preponderância política
político afastou os omíadas do poder.
seus seguidores. dos haxemitas. A morte do profeta não
Nesse momento, ascendia a Dinastia
As transcrições de seus ensina- provocou a dissolução do incipiente
Abássida, formada por parentes do
mentos consubstanciaram-se mais Estado árabe: primeiro, porque os ade-
profeta, que instalaram a capital em
tarde no livro sagrado, o Corão ou ptos do islamismo, em sua maioria,
Bagdá (Mesopotâmia) e orientaram as
Alcorão. A doutrina islâmica é um sin- eram crentes apegados à fé e à pro- conquistas rumo ao Oriente, em
cretismo fundamentado no cristianis- pagação dos ideais religiosos; segundo, direção à Índia e à China.
mo e no judaísmo, bem como nas porque surgiram de imediato dois
tradições religiosas da própria Arábia. homens, Abu Bekr e Omar – os dois 6. Consequências das
Prega a crença em um único Deus, primeiros califas –, que souberam as- Conquistas Muçulmanas
nos anjos, no paraíso celestial e no Juí- sumir a sucessão e a herança de Mao-
zo Final. Impõe aos fiéis como prin- mé, exercendo autoridade civil, militar e A economia do Mundo Antigo foi
cípios essenciais do dogma: religiosa. Um ano após a morte de caracterizada pela unidade em torno
peregrinar a Meca, pelo menos uma Maomé, Abu Bekr conseguiu eliminar do Mar Mediterrâneo. Os bárbaros, ao
vez na vida; dar esmolas; jejuar no os focos de resistência locais e invadir a Europa Ocidental no século
mês do Ramadã; orar e pronunciar a consolidar a unificação da península. V, esfacelaram o Império Romano,
profissão de fé cinco vezes ao dia, A expansão islâmica, iniciada ime- mas não interromperam as comunica-
voltados em direção a Meca; fazer a diatamente após a morte do profeta, foi ções pelo Mediterrâneo. A expansão
Guerra Santa, que representava uma estimulada por diversos fatores: eco- muçulmana dos séculos VIII e IX,
obrigação ocasional. nômico – interesse pelo saque contra porém, bloqueou a navegação cristã
As tradições em torno da vida de os vencidos (“butim”); social – alta através daquele mar, isolando o Oci-
Maomé foram reunidas por seus densidade demográfica, provocada pelo dente europeu e fortalecendo sua ten-
adeptos em outro livro denominado crescimento da população e pela dência para uma economia
Suna (Tradição), utilizado sempre que grande capacidade de miscigenação autossuficiente, com base numa pro-
se tratava de achar argumentos para dos árabes; político – unificação política dução rural. Evidentemente, houve ex-
impor uma decisão ou definir uma alcançada pela unidade religiosa; reli- ceções a essa regra geral, como, por
norma de governo para a qual o Corão gioso – obediência ao preceito de exemplo, o comércio entre as cidades
não fornecesse elementos. Guerra Santa contra os infiéis; psi- italianas e os árabes da Sicília.

74 –
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De qualquer maneira, mesmo que grega que se pode verdadeiramente em pesquisas e experiências, com a
os árabes não tenham sido diretamen- falar em uma “civilização árabe”. finalidade de descobrir o elixir da longa
te responsáveis pela implantação do Durante a Dinastia Abássida, os vida e a pedra filosofal, que permitiria
feudalismo na Europa – pois este pro- estudos científicos ganharam impor- transformar todos os metais em ouro.

HISTÓRIA AD
cesso já se iniciara durante a crise do tância. As ciências introduzidas no No domínio da Medicina, o nome mais
Império Romano –, contribuíram meio árabe foram a Filosofia, a Mate- célebre foi Avicena, considerado um
decisivamente para acelerar a con- mática e a Medicina. gênio universal.
solidação do processo. Na Filosofia, destacou-se Averróis, A arquitetura árabe foi notável, de-
que viveu no século XII, estudioso da senvolvida com uma finalidade prática:
7. A Arte Islâmica obra de Aristóteles e, ao mesmo assegurar, onde quer que os muçul-
tempo, filósofo, médico, jurisconsulto manos se encontrassem, a pos-
Afora a civilização material criada e astrônomo. Os princípios da Mate- sibilidade de fazer em comum suas
pelos árabes, ocorreu também um mática foram buscados em Euclides; preces de sexta-feira, num edifício
florescimento intelectual. A os cálculos, muito simplificados pelo destinado para isso – a mesquita.
conquista da Pérsia possibilitou o uso dos algarismos arábicos – que, na A pintura e a escultura pratica-
contato com uma civilização muito verdade, foram assimilados da Índia – mente não se desenvolveram, em razão
antiga, fecundada por influências e pela criação da Álgebra. da proibição à idolatria. Porém, os

FÍSICA A
indianas e helenísticas, conservadas Além da Matemática, os árabes ti- árabes destacaram-se na arte deco-
cuidadosamente pelos documentos nham predileção pela Astronomia, pois rativa, na sua escrita ornamental (ara-
reproduzidos por copistas já estavam familiarizados com as cons- bescos), na caligrafia e na ilustração.
profissionais. É somente a partir da telações que lhes serviam de guias em Na Literatura, cabe destacar: As
época em que os árabes começaram suas travessias noturnas no deserto. Mil e Uma Noites, o Livro dos Reis e
a assimilar os valores da cultura A Alquimia também foi estimulada Rubayat, de Omar Khayan.

8. Cronologia
660-750 – Governo dos califas omíadas.
570 – Nascimento de Maomé. 711 – Invasão da Espanha pelos árabes (mouros).
610 – Maomé tem a primeira visão do arcanjo 732 – Derrota dos árabes perante Carlos Martel
Gabriel. na Batalha de Poitiers.
622 – Hégira. 750-1258 – Dinastia Abássida.
629 – Conquista de Meca por Maomé. 756 – Fundação do califado de Córdoba; início da
632 – Morte de Maomé. fragmentação do Império Árabe.
630-660 – Governo dos califas haxemitas.

1. (UECE-2020) – A contribuição dos árabes para o mundo moderno


ocidental entre os séculos VII e XI é significativa, especialmente porque
alguns valores culturais da Antiguidade clássica foram difundidos por
meio da
a) tradução e difusão, entre os europeus, de importantes obras gregas.
b) distribuição de obras proféticas sobre o destino da humanidade
através das estrelas.
c) introdução de novas técnicas de cultivo e de métodos inovadores
da medicina.
d) valorização da ciência experimental não submetida ao pensamento
religioso.

RESOLUÇÃO:
Os árabes, em especial no Califado Abássida (a partir da segunda
metade do século VIII), desenvolveram uma bem remunerada rede
filosófica de tradução das obras gregas. Por isso, podemos dizer
que no século X em Bagdá, por exemplo, os árabes tinham o
mesmo acesso às obras clássicas gregas que nós temos hoje.
Resposta: A

– 75
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2. (FATEC) – No século VIII, tropas muçulmanas, lideradas pelo general Com base na reportagem, na charge e nos conhecimentos sobre
Tarik, saíram do Norte da África, atravessaram o mar Mediterrâneo pelo islamismo, responda aos itens a seguir.
Estreito de Gibraltar e conquistaram quase toda a península Ibérica.
Sobre o período de domínio muçulmano na península Ibérica, é correto a) Cite três características do islamismo.
HISTÓRIA AD

afirmar que b) Discorra sobre duas motivações para a intolerância/discriminação em


a) contribuiu para a consolidação do feudalismo, isolando a Europa do relação ao islamismo.
restante do mundo, e estimulando as pessoas a abandonarem as
cidades. RESOLUÇÃO:
a) O Islamismo, religião monoteísta fundada pelo Profeta Maomé,
b) o desenvolvimento mercantil provocou o crescimento de cidades
em 622, na península arábica que se localiza no Oriente Médio.
como Córdoba e Toledo, atraindo poetas, letrados e músicos, Para fugir de perseguições, no ano de 622, Maomé e seus
estimulando o ambiente intelectual. seguidores migraram para Yathrib, cidade que posteriormente
c) sua duração foi maior em Portugal do que na Espanha, reino do qual passou a se chamar Medina. Essa migração de Meca para
os muçulmanos foram expulsos pelos cruzados, cerca de trinta anos Medina, que ficou conhecida como hégira, marcou o início da
Era Islâmica para os muçulmanos. “Islã” é uma palavra árabe
após a ocupação da península Ibérica.
que significa “submissão”. Aqueles que obedecem a "Alá", e
d) durou aproximadamente meio século, e foi marcado pela perse- aceitam Maomé como seu profeta, são chamados de
guição aos cristãos, pela obstrução das rotas mercantis e pela Peste muçulmanos. O termo “Allah”, na língua árabe, significa
Negra, que dizimou parte da população europeia. "Deus". O livro sagrado do Islamismo é chamado de “Alcorão”
e) consolidou o sistema escravocrata medieval, fechou universidades, ou “Corão”. Nele, estão reunidas as palavras de Deus, reveladas
ao profeta Maomé. Os muçulmanos oram cinco vezes por dia,
desestimulou o desenvolvimento científico e proibiu manifestações
sempre voltados para Meca: ao amanhecer, ao meio-dia, à tarde,
literárias e musicais pagãs. ao pôr do sol e ao se deitar. Durante o mês islâmico do Ramadã,
os muçulmanos jejuam diariamente entre antes do nascer do
RESOLUÇÃO: sol até o anoitecer. Durante o jejum é proibido o consumo de
Ao invadirem a Península Ibérica, a partir do ano de 711, os alimentos, bebidas e cigarro. Crianças, doentes e idosos são
muçulmanos criaram um sistema de domínio que incluía avanço liberados do jejum. A peregrinação a Meca (Hadj) deve ser
tecnológico agrícola, desenvolvimento comercial, exploração mineral
realizada pelo menos uma vez durante a vida de todo
e alargamento das vias de ligação entre Ocidente e Oriente. Nesse
muçulmano. Em Meca, os peregrinos circundam sete vezes um
sentido, fundaram algumas cidades, como Córdoba e Toledo, que
santuário sagrado (a Pedra Negra, conhecida como Caaba), que
acabaram por representar a opulência e a riqueza da civilização árabe.
fica no pátio da Mesquita de Al-Haram, na Arábia Saudita.
Resposta: B

b) É importante interpretar as fontes históricas e considerar a


intolerância religiosa e/ou cultural e o estereótipo produzido
3. Leia o texto e observe a charge a seguir. em torno do islamismo, por vezes associado ao terrorismo,
principalmente após o 11 de setembro de 2001.
“Os parlamentares austríacos aprovaram uma lei que proíbe o uso do
véu islâmico nas escolas primárias. A medida foi proposta pela coalizão
de governo de direita e extrema direita. O texto não menciona
explicitamente o véu islâmico, mas “qualquer vestimenta de influência
ideológica ou religiosa que cubra a cabeça”, detalhando que se refere a
itens que “que cubram todo o cabelo ou grandes partes dele”.
(Áustria proíbe véu islâmico em escolas.
Disponível em: g1.globo.com. Acesso em: 16/05/2019.) 4. (UFJF) – A notícia abaixo, publicada em uma revista semanal
brasileira, informa acerca de um importante problema contemporâneo.
Observe:
Islã e Terrorismo (Carta Capital, 01/12/2015)

“Homem carrega cartaz com a inscrição ‘terrorista não é muçulmano’


(Charge do cartunista brasileiro Carlos Latuff. durante marcha a favor da paz que reuniu 10 mil pessoas em Toulouse,
Ópera Mundi. 2011. www.ibahia.com) na França, em 21 de novembro de 2015.”

76 –
C1_AD_2022_HISTORIA_JR.qxp 08/11/2021 15:09 Página 77

"Os atentados terroristas em Paris serviram de estopim para uma nova d) na expansão marítima europeia no século XV.
onda de discurso de ódio direcionado ao islã. Na França, a desconfiança e) na ocupação dos territórios americanos pelos europeus no século
e a hostilidade aos muçulmanos se solidificam, enquanto nos Estados XVI.
Unidos a islamofobia ganha legitimidade no debate político e, até no

HISTÓRIA AD
RESOLUÇÃO:
Brasil, muçulmanos são alvos de agressões físicas."
Na chamada Alta Idade Média, em especial a partir do século VII,
(Carta Capital, 01/12/2015) quando a civilização árabe, após o estabelecimento do Islamismo,
passou a se expandir pela Europa Ocidental, árabes e cristãos
O problema evocado na notícia possui uma raiz histórica profunda e passaram a se enfrentar em diversos territórios, o que levou a
secular. Em que cenário histórico podemos situar essa raiz? algumas guerras, como as Cruzadas e a Guerra de Reconquista.
Resposta: C
a) nas sucessivas guerras entre cidades-Estado gregas no século V a.C.
b) nos conflitos provocados pelas chamadas expansões bárbaras no
século V.
c) na relação entre mundo árabe e cristão desde a expansão árabe no
século VIII.

5. (FGV-2020)

rotas comerciais Ouro


792 Âmbar Prata
Batalha Verdun Cobre Peles
de Poitiers

FÍSICA A
Veneza Estanho Pedras preciosas
Batalha Marselha
Samarcanda Escarvos Sal
de Poitiers
Barcelona Roma Bizâncio Especiarias Seda
Cabul Ferro Tecidos
Córdoba Antioquia Nisapur
Málaga Túnis Marfim
Alepo
Ceuta Bugia Bagdá
Fez Damasco
Trípoli Cairo Jerusalém Siraz
Alexandria
Basra
Siral
Medina
622
Meca
630
O mundo islâmico
à morte de Maomé (632)
dos primeiros califas (632-661) Áden
dos omíadas (661-750)

(A expansão muçulmana (séculos VI e VIII) E AS ROTAS COMERCIAIS (Séculos VIII ao XI).


FRANCO JR., Hilário e ANDRADE FILHO, Ruy de Oliveira Atlas. História Geral. São Paulo: Scipione, 2006, p. 19.)

Sobre a expansão e as rotas comerciais islâmicas, é correto afirmar:


a) Constituída a partir de antigos centros urbanos, como Cairo e Damasco, a expansão foi marcada pela centralização do poder e pelo
estabelecimento de um circuito mercantil articulado à Europa medieval.
b) Impulsionada simultaneamente com a difusão da religião muçulmana, a expansão foi sucedida pela fragmentação política nos séculos
subsequentes, a despeito do rico mercado que articulava o Oriente ao continente europeu.
c) Estabelecida devido à crise do mundo romano, a expansão permitiu aos árabes o restabelecimento de algumas instituições políticas de Roma
e o restabelecimento do Mediterrâneo como Mare Nostrum.
d) Tributária do desenvolvimento da economia europeia, a expansão islâmica manteve as características das estruturas sociais e políticas do Norte
da África e estimulou um processo inédito de urbanização na Mesopotâmia.
e) Vinculada à proliferação das práticas religiosas pagãs e animistas, reativas ao cristianismo, a expansão islâmica esteve imbricada à religião que
defendia as práticas mercantis e a ascensão social como sinal da bênção dos deuses.

RESOLUÇÃO:
Após a morte de Maomé em 632, a região da Arábia Saudita foi governada pela família de Maomé, ficou conhecido como Califas Piedosos
ou Legítimos, 632-660. No ano de 660 a família Omíadas tomou o poder e governou até 750, ocorreu a expansão através da Guerra Santa
(djihad), dominou o Mar Mediterrâneo contribuindo para a consolidação do Feudalismo. Mudou a capital de Meca para Damasco. Em 750,
a família Abássidas tomou o poder, mudou a capital para Bagdá. Essa dinastia governou até o ano de 1258. Durante o governo Abássidas,
ocorreu a decadência e fragmentação do mundo Islâmico em califados independentes.
Resposta: B

– 77
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MÓDULO 4 Monarquias Nacionais e Crises dos Séculos XIV e XV

1. Contexto Histórico reino nunca fora questionada pelos pelo monarca francês. Apesar de o
HISTÓRIA AD

sucessores; nunca houve regências papa ir contra as resoluções tributárias


Com a crise do feudalismo e o imperiais; o florescimento comercial do rei francês, os legistas publicaram
nascimento do capitalismo, o poder dava à dinastia condições de manter- uma carta sem grande força jurídica,
evoluiu da descentralização para a cen- se inabalável diante da pressão nobi- apoiando o monarca contra o papa.
tralização, dos senhores feudais para liárquica.
Bonifácio VIII excomungou Filipe em
o rei. O exercício do poder pelo rei so- A monarquia nacional francesa
1303, porém o papa foi cercado pelas
bre a nação (povo) dá origem às tem seu início com Filipe Augusto
tropas reais em Anagni, onde morreu.
monarquias nacionais. (1180-1223) nomeando funcionários
A política de Filipe, o Belo, visava
Vários fatores contribuíram para o de sua confiança para supervisionar a
angariar fundos para o erário francês e
êxito real: a fragilidade da nobreza por justiça nos tribunais feudais, o que di-
causa da crise do feudalismo, o forta- assim partiu contra os judeus, ban-
minuiu consideravelmente a autono-
lecimento da burguesia decorrente da queiros italianos, confiscando suas pro-
mia dos senhores feudais. Apesar de
ascensão do capitalismo e a neces- priedades. A crise política agravou-se,
continuar dependendo de seus vas-
sidade de dar unidade política ao ter- obrigando Filipe, o Belo, a convocar,
salos em questões bélicas, preocu-
ritório nacional, o que somente seria em 1302, uma assembleia do clero,
pou-se em tomar providências para
possível com a centralização do poder. nobres e representantes das cidades;
criar um exército nacional submetido
A condição básica para conseguir surgiram, então, os Estados-Gerais.
a unificação é a centralização. O rei é à sua própria autoridade. Por isso,
Os constantes litígios entre o Estado e
o único que tem condições de uni- tratou de assalariar e convocar solda-
o Papado culminaram com uma cisão
formizar pesos, medidas, moedas, leis dos aos milhares, conseguindo, dessa
profunda no seio da Igreja Católica,
alfandegárias e, ao mesmo tempo, or- forma, o poder da força. A partir daí,
uma vez que Filipe, o Belo, forçou o
ganizar a expansão em direção ao muitas funções, até então atribuídas
Colégio de Cardeais a escolher
mercado externo, rumo às conquistas aos senhores feudais, caíram em
Clemente V como Sumo Pontífice,
marítimas. mãos reais.
transferindo a sede do Papado de Ro-
Para realizar a sua tarefa, o rei te- A unificação da França, porém,
ma para Avignon. Este cisma durou
ria de se aproximar do aparelho de Es- avançou substancialmente com a fi-
até 1309. O papa passou a ser um
tado, isto é, dominar a tributação gura de Luís IX (1226-1270). Com sua
instrumento nas mãos reais, uma vez
(apropriação dos excedentes), mono- vida monástica, soube utilizar-se de
polizar a violência pelo domínio da for- que os dízimos cobrados dos fiéis
princípios religiosos em seu proveito
ça e, finalmente, exercer o poder por acabavam passando aos cofres do Es-
político, instituindo o direito de apelo,
intermédio da administração burocrá- tado francês.
segundo o qual todos os casos graves
tica e da justiça organizada. Com a extinção da Dinastia dos
seriam julgados pelos juízes reais. Nas
Esse processo de centralização te- Capetíngios, no século XIV, assumiu o
províncias, combateu duramente os
ve início na França, continuando na In- trono Filipe VI (1328-1350), iniciador da
glaterra, Portugal e Espanha. abusos dos funcionários, adotando leis
Dinastia dos Valois, que governou a
escritas, e proibiu também as guerras
França até 1589. Com a nova dinastia,
privadas. Em nível externo, destacou-
2. A Centralização iniciou-se o conflito com a Inglaterra:
Monárquica na França se pela assinatura do Tratado de Paris, a Guerra dos Cem Anos, motivada
no qual tentou abrandar as difíceis rela- pelas ambições econômicas e
Em 987, após derrubar o último rei ções com a Inglaterra, cedendo Li- territoriais sobre Flandres, grande
carolíngio, Hugo Capeto assumiu po- mousin e Perigord aos ingleses em produtora de lã – matéria-prima
deres políticos que serão preservados troca dos territórios franceses questio- indispensável para o desenvolvimento
por mais de 300 anos. Embora não nados pela Inglaterra. da manufatura – e pelo direito de
houvesse leis que concedessem à Filipe, o Belo, governou a França sucessão ao trono francês. A violenta
Dinastia Capetíngia poderes centrali- entre 1285 e 1314, sucedendo o rei- guerra acabou provocando a
zadores, diversos capetos governaram nado do rei cruzado São Luís e logo de
poderosamente. Vários foram os fato- destruição da nobreza feudal, contri-
início entrou em litígio com o papa Bo- buindo para a formação de um senti-
res que auxiliaram esta excessiva
nifácio VIII. O Sumo Pontífice não acei- mento de nacionalidade, que
centralização medieval: a divisão do
tou a excessiva tributação cobrada favoreceu sobremaneira o poder real.
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3. A Centralização Monárquica reinado foi praticamente dominado Guerra das Duas Rosas. Essa violên-
na Inglaterra pelo seu envolvimento na Terceira cia não teve limites, varrendo a Ingla-
Cruzada. Esta desastrosa política ex- terra de ponta a ponta. Os campos

HISTÓRIA AD
Em 1066, a influência normanda terna colocou o trono inglês na depen- foram queimados, as cidades sa-
se fazia sentir na Inglaterra, uma vez dência do Papado, que acabou, assim, queadas e a nobreza restante viu na
que Guilherme, o Conquistador, acom- oferecendo o trono a Filipe Augusto, família Tudor uma esperança para o
panhado de um exército das mais di- da França. Essa pressão forçou o her- fim da contenda. Em 1485, Henrique
versas origens, venceu o herdeiro deiro dinástico, João Sem Terra, a do- VII assumiu o trono, fortalecendo o
legal, Haroldo, na Batalha de Hastings, brar-se diante da autoridade papal, da poder real.
apoderando-se, dessa forma, do trono qual passou a ser vassalo. Enquanto
inglês. Guilherme, o Conquistador, Ricardo combatia os infiéis no Oriente, 4. A Guerra de Reconquista e a
submeteu a nobreza inglesa, obri- João Sem Terra tentava manter-se no Formação de Portugal e da
gando-a a prestar-lhe um juramento de poder despoticamente. Em 1215, os Espanha
fidelidade. Para centralizar seu poder, barões ingleses, sentindo-se pres-
dividiu o reino em condados, colo- sionados pela excessiva centralização A Guerra de Reconquista durou
cando os sherifs, pessoas de sua con- do rei regente, impuseram-lhe a Carta até 1492, quando o último reduto mu-
fiança, para administrar as províncias Magna, que limitava os seus poderes. çulmano, o reino de Granada, caiu
reais e obtendo desta forma um vasto Esta “Constituição” assegurava a todos em mãos de Isabel de Castela e Fer-

FÍSICA A
controle sobre seus domínios. os ingleses proteção contra o despotis- não de Aragão; oito séculos, portanto.
Com sua morte, o poder foi ocu- mo real, sendo considerada precursora Seu início é marcado pela Batalha
pado por Henrique II, que iniciou a Di- das liberdades individuais. de Covadonga, em 718, ganha por
nastia dos Plantagenetas, reforçando Com a derrota na Guerra dos visigodos dirigidos por Pelágio e re-
ainda mais o poder real. Seu filho, Ri- Cem Anos, a expulsão dos campone- fugiados nas montanhas do norte do
cardo Coração de Leão, conduziu de ses e os cercamentos das terras pre- País. Foi nas montanhas asturianas
maneira desastrosa a política externa nunciavam uma nova servidão. Os que se organizou o pequeno reino das
do reino, perdendo vários feudos que camponeses sentiam-se cada vez Astúrias, como símbolo da resistência
a Inglaterra possuía na França. Seu mais ameaçados, provocando uma cristã. Nos Pirineus, surgiu também
guerra sem propor- outro reino – pois os islamitas haviam
ções. De um lado, os sido desalojados pelos francos –, que
belicosos senhores dará origem ao reino de Navarra, ao
feudais e, do outro, Condado de Barcelona e a Aragão.
os novos nobres que Já no século IX, Astúrias apodera-
buscavam na manu- se de Leão e Castela e a capital do reino
fatura da lã uma forte passa a ser Leão em 944. Mas
fonte de riquezas. dissensões, tipicamente feudais, entre
Essa guerra acabou os vários reinos cristãos (Leão, Castela,
por envolver duas Navarra, Galiza) agravaram ainda mais a
grandes famílias de luta permanente travada contra os
nobres, que acaba- muçulmanos. Violentas alternativas veri-
ram por disputar o ficaram-se durante a Reconquista.
direito ao trono Uma delas é a tomada de Toledo,
inglês: os Lancasters em 1085, por Afonso VI, rei de Leão e
e os Yorks. Coinci- Castela, que teve como um de seus
dentemente, ambas vassalos o famoso Rodrigo Dias de
traziam em brasões Vivar, o “Cid Campeador”. Mas os
uma rosa, uma amorávidas, rudes guerreiros da África
vermelha e a outra Saariana, acudiram em auxílio a seus
branca, ficando a irmãos e destroçaram no ano seguinte
guerra conhecida as tropas de Afonso VI, sem quebrar a
A formação da Monarquia Nacional Inglesa.
com o nome de frente cristã.

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Posteriormente, merece destaque o partido da Galiza contra D. Urraca. bém representantes dos conselhos,
a vitória luso-castelhana de Las Navas Mas foi derrotada e não pôde desfa- isto é, das vilas e lugares que gozas-
de Tolosa, em 1212. Mas o Reino de zer-se da vassalagem que a prendia à sem de certa autonomia, estabelecida
HISTÓRIA AD

Granada, que ainda sobraria em mãos irmã, nem ao sobrinho, quando este nos forais.
maometanas em fins do século XIII, ocupou o trono de Leão (1126). D. Sancho II (1223-1248), a exem-
durou mais dois séculos. O confronto entre os herdeiros plo de seu predecessor, procurou con-
deu-se em 1128 no campo de São solidar a autoridade real, em meio a
5. O Condado Portucalense Mamede, perto de Guimarães, e choques com o clero e a nobreza.
saldou-se pela vitória de Afonso Com Afonso III (1248-1279), foi
Cavaleiros cristãos colaboraram na Henriques e de seus partidários. retomada a política expansionista pela
Reconquista. Distinguiram-se no apoio Expulsa de Portugal, D. Teresa morreu anexação definitiva do Algarve
a Afonso VI dois fidalgos de alta no exílio dois anos mais tarde. (1249), integralizando assim o território
linhagem: Raimundo, filho do conde de Pretendendo realizar o sonho de português.
Borgonha, e seu primo Henrique, seu pai, Afonso Henriques venceu D. Dinis (1279-1325), poeta, fo-
sobrinho-neto de Henrique II da França. seu primo, Afonso VII (Afonso Rai- mentou a agricultura, fundou a Uni-
Em retribuição aos serviços pres- mundes), em Cerneja, em 1137. versidade de Coimbra, incentivou o
tados contra os sarracenos (talvez), o Finalmente, em 1139, vencendo povoamento, a exploração das terras,
rei Afonso VI consorciou a filha legíti- os mouros em Ourique, Afonso Hen- as atividades navais e o comércio das
ma, D. Urraca, com Raimundo, e a riques adotou o título de Rei de feiras; aproveitando a extinção da
filha bastarda, D. Tereza, com Henri- Portugal, reconhecido por Afonso VII Ordem dos Templários, criou a Ordem
que, recebendo o primeiro o Condado em 1143, pelo Tratado de Zamora, de Cristo (1319), que teve grande
da Galiza, ao norte do Rio Minho, e o bem como pelo de Santa Fé, em importância na expansão ultramarina.
segundo o condado Portucalense (no- 1179. D. Afonso IV (1325-1357) lutou
me derivado da povoação de Portucale contra os mouros e autorizou o assas-
junto à foz do Douro) em 1094. Este 6. A Dinastia de Borgonha sinato de D. Inês de Castro, amante
Condado estendia-se do Rio Minho ao do Infante D. Pedro, por fidalgos que
Rio Tejo e compreendia as cidades de A monarquia portuguesa foi funda- temiam a influência da futura rainha.
Braga, Coimbra, Viseu, Lamego e da por D. Afonso I (Afonso Henriques), D. Pedro I (1357-1367) vingou-se
Porto. que alargou consideravelmente o com selvagens requintes e ministrou
Entretanto, D. Henrique de Bor- território português, impondo-se a justiça com extraordinária severidade.
gonha aspirava obter a independên- seus vizinhos cristãos e sarracenos. D. Fernando (1367-1383) iniciou a
cia. Conseguiu transferir a vassalagem Venceu Afonso VII em Val-de-Vez, aliança com a Inglaterra (desde os
que devia a D. Raimundo para o rei de forçando-o à assinatura do Tratado de primórdios do século XIII já havia
Leão. Com a morte de D. Raimundo e Zamora; tomou dos árabes Santarém, comércio entre Portugal e Inglaterra),
D. Afonso VI, D. Urraca herdou o Lisboa (com a ajuda de cruzados, em proibiu aos membros do clero e da no-
reino. Seu segundo casamento, desta 1147), Cintra, Almada, Pamela, Alcácer breza o exercício de mercador, envol-
vez com o rei de Aragão, originou do Sal, Évora, Beja, Serpa etc. Morreu veu-se em três guerras desastrosas
vários conflitos, principalmente com em 1185, tendo instalado uma monar- contra Castela (pretendia o trono), ca-
Afonso Raimundes, filho do conde quia nacional, com poderes centrali- sou-se com D. Leonor Teles, cujo matri-
Raimundo, que governava a Galiza. zados e obediência de todos os mônio anterior conseguiu anular,
O casamento entre o rei de Ara- súditos, numa franca negação do Es- desbaratou as riquezas acumuladas por
gão e D. Urraca acabou desfazendo-se tado feudal que caracterizava as seus antecessores, aviltou a moeda e
e as lutas prosseguiram, com vaivéns relações de poder na Europa. tentou inutilmente tabelar os produtos
que parecem hoje absurdos; D. Hen- D. Sancho I (1185-1211), seu filho essenciais com o objetivo de obstar a
rique passava de um campo a outro e sucessor, fomentou o povoamento especulação desenfreada dos preços.
sem o menor embaraço e sem êxito do Reino, atraindo estrangeiros. Mas o êxodo rural se acentuava e
para suas ambições. Morreu em 1114. D. Afonso II (1211-1223) convo- as terras caíam no abandono; faltavam
Sucedeu-lhe a viúva, D. Teresa, in- cou as primeiras Cortes, reuniões das os cereais; o trigo e a cevada atingiam
sinuante e formosa, que usou abu- quais participavam a família real, o preços astronômicos; o governo não
sivamente do título de rainha e tomou clero, a nobreza e, mais tarde, tam- tinha outros meios senão compelir os

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proprietários das terras a lavrá-las e os giram a velha ordem feudal, anuncian- dos campos e da fuga dos servos, a no-
aldeões ao trabalho agrícola. Foi este o do a nova ordem capitalista, a Europa breza feudal estava arruinada.
objetivo da Lei das Sesmarias (1375). foi sacudida por crises de natureza es-

HISTÓRIA AD
A posse das terras implicava a trutural e conjuntural. Guerras, pestes, A Peste Negra
obrigação de cultivá-las; caso fomes generalizadas e rebeliões
Durante a guerra, a peste chegou
contrário, seriam confiscadas. Quanto camponesas marcaram o Velho Mun-
à Europa por intermédio de comer-
à crise braçal, decretou-se a proibição do no século XIV, considerado na
ciantes italianos que a contraíram na
dos filhos e netos dos lavradores de época um “século demoníaco”.
Ásia. Alastrou-se rapidamente, ceifan-
abandonarem a lavoura. Os operários
do grande parte da população. O
de ofícios menos úteis que a lavra da A Guerra dos Cem Anos
misticismo atribuiu a peste a um
terra podiam ser constrangidos ao tra-
Em 1337, estourou a Guerra dos castigo divino, o que deu origem a um
balho agrícola.
Cem Anos, que se estendeu até 1453 forte fanatismo religioso. Os campos
A crise social e econômica recru-
e envolveu a nobreza feudal inglesa e se esvaziaram, abalando a produção
desceu, pois o rei não estava em con-
os senhores feudais da França. A dis- agrícola, o que provocou a escassez
dições de fazer aplicar seus decretos,
puta da riquíssima região de Flandres, de alimentos, a alta dos preços e, em
em virtude de seu envolvimento nas
célebre pelas feiras que lá eram reali- consequência, a fome.
guerras contra Castela.
zadas, e o problema sucessório foram
À sua morte, em 1383, sua filha,

FÍSICA A
responsáveis pelo conflito. A generalização da Fome
D. Beatriz, casou-se com o rei de Cas-
Eduardo III, da Dinastia dos Planta-
tela. E a rainha-viúva, D. Leonor Teles, A crise agrícola provocada pela
genetas, rei da Inglaterra e neto de
já profundamente antipatizada, abdi- guerra e pela peste foi associada tam-
Filipe, o Belo, da França, foi impedido
cou da regência em nome de sua filha. bém às péssimas condições atmosfé-
de assumir o trono francês, tendo em
Eclodiu então uma revolta popular, ricas da Europa do século XIV. Com
vista que na Lei Sálica os descen-
dirigida e controlada pela burguesia isso, criou-se um ciclo que parecia
dentes por linhagem feminina não
comercial, ligada a D. João, filho interminável: guerra, peste e fome.
tinham direito ao trono. A França foi in-
bastardo de D. Pedro I e Mestre da Com a crise, muitos servos acaba-
vadida pelo norte, com o apoio da re-
Ordem Monástico-Militar de Avis. ram conseguindo sua liberdade e os
gião de Flandres. Nesse momento,
Este, aliás, assassinou o Conde An- senhores feudais, incapazes de man-
emergiu plenamente a crise do feuda-
deiro, amante de D. Leonor Teles. São ter a estrutura feudal, começaram a
lismo: os camponeses se rebelaram,
os primórdios da Revolução de Avis. substituir as obrigações servis por ser-
eclodindo as Jacqueries; cavaleiros
viços e arrendar as terras para não per-
em busca de vantagens pessoais vie-
7. A crise do Século XIV dê-las.
ram à luta e exércitos mercenários se
O processo de transformação para
Após um período caracterizado formaram. Em meio à guerra e ao fer-
o capitalismo acelerou-se na Europa
pelo desenvolvimento comercial e ur- vor religioso, surgiu Joana d’Arc, que,
Ocidental. Com a expansão ultrama-
bano, pelo processo de fortalecimento conduzindo camponeses franceses à
rina, as crises foram superadas, con-
do poder real mediante aliança do rei luta, foi aprisionada e condenada, pos-
tribuindo para o crescimento da
com a burguesia mercantil e, particu- teriormente, como herege pela Igreja.
burguesia e para a consolidação do Es-
larmente, pelas mudanças que atin- A guerra terminou com a vitória da
tado Moderno.
França e, em virtude das devastações

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8. Cronologia 1171 – Início da conquista da Irlanda.


1189-1199 – Reinado de Ricardo Coração de Leão.
1348 – Início da Peste Negra.
1199-1216 – Reinado de João Sem Terra.
HISTÓRIA AD

FRANÇA
1214 – Derrota de João Sem Terra por Filipe
987 – Início do reinado de Hugo Capeto, funda- Augusto.
dor da Dinastia dos Capetíngios.
1215 – Carta Magna.
1180-1223 – Reinado de Filipe Augusto e início da 1216-1272 – Reinado de Henrique III.
centralização monárquica na França.
1265 – Instalação do primeiro Parlamento.
1223-1226 – Reinado de Luís IX (São Luís).
1272-1307 – Reinado de Eduardo I; conquista do País
1285-1314 – Reinado de Filipe IV, o Belo. de Gales.
1302 – Primeira convocação dos Estados-Gerais. 1327 – Deposição de Eduardo II pelo Parlamento
e ascensão de Eduardo III.
1303 – Excomunhão de Filipe, o Belo, por
Bonifácio VIII. 1350 – Divisão do Parlamento em Câmara dos
Lordes e Câmara dos Comuns.
1309 – Transferência do Papado para Avignon.
1381 – Revolta camponesa (Wat Tyler).
1328 – Ascensão de Filipe VI de Valois.
1399 – Início da Dinastia de Lancaster.
1337 – Início da Guerra dos Cem Anos por 1455 – Início da Guerra das Duas Rosas.
Eduardo III.
1461 – Ascensão da Dinastia de York.
1346 – Vitória dos ingleses sobre os franceses na
1485 – Fim da Guerra das Duas Rosas e
Batalha de Crécy.
ascensão da Dinastia Tudor.
1355 – Derrota dos franceses na Batalha de Poitiers.
PAÍSES IBÉRICOS
1358 – Rebelião dos camponeses (Jacquerie).
718-1492 – Guerra de Reconquista.
1422 – Início do reinado de Carlos VII; domínio da
944 – Leão, capital do reino das Astúrias.
maior parte da França pelos ingleses.
1085 – Conquista de Toledo por Afonso VI.
1429-1431 – Participação de Joana d’Arc na Guerra dos
1094 – Casamento de Henrique de Borgonha
Cem Anos.
com D. Tereza e de Raimundo de Bor-
1431 – Morte de Joana d’Arc. gonha com D. Urraca.
1453 – Fim da Guerra dos Cem Anos. 1128 – Batalha de São Mamede.
1461 – Início do reinado de Luís XI e retomada do 1139 – Fundação de Portugal e início da Dinastia
processo de centralização monárquica na de Borgonha.
França. 1212 – Batalha de Las Navas de Toloso.
INGLATERRA 1319 – Criação da Ordem de Cristo.
1066 – Conquista da Inglaterra por Guilherme, o 1383 – Início da Revolução de Avis.
Conquistador, duque da Normandia. 1385 – Início da Dinastia de Avis.
1154-1189 – Reinado de Henrique II, da Dinastia dos 1469 – Casamento dos reis católicos Fernando
Plantagenetas. de Aragão e Isabel de Castela.

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HISTÓRIA AD
1. (UFPR) – Sobre Joana D’Arc, o historiador Jules Michelet escreveu: 3. No século XIII, os barões ingleses, contando com o apoio de alguns
“Pela primeira vez, sente-se, a França é amada como uma pessoa, e mercadores e religiosos, sublevaram-se contra as pesadas taxas e
ela torna-se tal desde o dia em que a amam. Até ali era uma reunião de outros abusos. O rei João Sem Terra acabou aceitando as exigências
províncias, um vasto caos feudal, um país imenso, de ideia vaga. Mas dos vassalos sublevados e assinou a Magna Carta. Pode-se afirmar que
desde esse dia, pela força do coração é uma pátria.” o documento apresenta importante legado do Mundo Medieval porque
(MICHELET, Jules. Joana D‘Arc. a) reafirmava o princípio do poder ilimitado dos monarcas para fixar
São Paulo: Fulgor, 1964, p. 16.) novos tributos.
b) freou as lutas entre os cavaleiros e instituiu o Parlamento,
Comente esse excerto, explicando as consequências da Guerra dos subdividido em duas Câmaras.
Cem Anos (1337-1453) para a França e para o sistema feudal. c) assegurava antigas garantias a uma minoria privilegiada, mas
veiculava princípios de liberdade política.
RESOLUÇÃO: d) limitou as ambições políticas dos papas, mesmo se tratando de um
O texto de Jules Michelet remete à participação de Joana D’Arc na contrato feudal.
Guerra dos Cem Anos entre França e Inglaterra (1337-1453), bem
e) proclamava os direitos e as liberdades do homem do povo, por meio
como à importância histórica desse conflito para o contexto feudal
europeu. de 63 artigos.
A jovem camponesa, heroína francesa, Joana D’Arc ajudou seu país
na guerra contra a Inglaterra. Morreu queimada em Rouen aos 19 RESOLUÇÃO:
anos de idade em 1431. O rei deveria respeitar os direitos dos nobres e aceitar limitações

FÍSICA A
A guerra terminou em 1453 com a vitória da França, que expulsou à sua autoridade.
os ingleses de suas possessões no norte francês e de seu território, Resposta: C
contribuindo para a centralização do poder nas mãos do rei – afinal
Carlos VII foi coroado como rei em Reims, no norte do país,
seguindo antigas tradições – e para o desenvolvimento do conceito
de nacionalidade e da consolidação do Estado Nacional Francês,
que até então era um amontoado de províncias.
Sem dúvida, a Guerra dos Cem Anos significou a passagem da
França medieval com poder político descentralizado para a França
moderna com centralização política que culminou no absolutismo.

4. (UPF-2021) – Observe a imagem e o extrato de texto.

2. (ESPCEX-2021) – A formação dos Estados modernos fez desa-


parecer os laços de suserania e vassalagem e, com isso, foram
formados(as), na Europa,
a) os exércitos nacionais.
b) os burgos.
c) as Cruzadas.
d) os Cavaleiros da Luz.
e) as Capitanias Hereditárias.

RESOLUÇÃO:
Durante a crise do Feudalismo, alguns Monarcas deram início ao “A Peste Negra, vinda do Oriente, devastou a Europa nos meados
processo de reunificação dos feudos, o que acabou originando o
do século XIV. Subsistiu depois no estado endêmico, mostrando bruscas
desenvolvimento dos Estados Modernos europeus. Uma das
características desse processo foi a formação dos chamados e violentas acometidas que afectavam especialmente as cidades. A
Exércitos Mercenários, necessários para que os Monarcas medicina estava praticamente desarmada perante este flagelo. O único
enfrentassem os então Senhores Feudais. Esses exércitos, no remédio era o isolamento – de uma pessoa, de um quarteirão de casas
Absolutismo, transformaram-se nos Exércitos Nacionais. ou de toda uma cidade.”
Resposta: A
(DELUMEAU, Jean. A civilização do Renascimento.
Vol. I. Editora Estampa, Lda., Lisboa, 1983.)

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Assim como a Peste Negra na Europa Moderna, as epidemias Os Quatro Cavaleiros são personagens descritos na terceira visão
acompanham o desenvolvimento das civilizações desde a Antiguidade, profética do Apóstolo João no livro bíblico de Revelação ou Apocalipse.
com a Varíola; até os dias atuais, com o Coronavírus. A este respeito, Este, para os cristãos, acontecerá antes do fim de todas as coisas, e
analise as afirmativas a seguir: haverá o julgamento dos maus e o prêmio para os verdadeiros fiéis.
HISTÓRIA AD

I. No mundo medievo, o movimento das Cruzadas provocou uma Durante o século XIV, na Europa medieval, essa passagem do texto
intensa movimentação da população, provocando epidemias na bíblico ganhou muita relevância devido
Europa, entre elas, a Varíola. a) à onda de guerras, como a dos Cem Anos, entre Inglaterra e França,
II. Entres os séculos XI e XIII, ocorreu na Europa uma expansão das à disputa pelo Reino de Navarra, motivada por questões econômicas,
áreas de cultivo, proporcionando a ampliação de alimentos que levou à Peste Negra e à onda de fome e morte que estas provocaram.
ao crescimento populacional e as cidades despontaram como Isso fortaleceu a Igreja Católica e a nobreza, dificultando a
centros comerciais. No entanto, no século XIV, esta expansão é consolidação de monarquias nacionais centralizadas surgidas no
interrompida, surgindo uma crise geral, incluindo doenças como a século anterior.
Peste Negra, vista como “flagelo de Deus”. b) ao advento de uma série de eventos catastróficos, como a Grande
III. Durante a primeira metade do século XIX, com a precariedade das Fome, a Guerra do Cem Anos, entre França e Inglaterra, e à gripe
cidades industriais, surgiram bairros operários sem saneamento espanhola, provocando uma enorme mortalidade. Os camponeses,
básico e, assim, como na Europa no século XIV, a sujeira tomava agora em número menor, exigiram melhores salários, o que lhes foi
conta e a insalubridade causou milhares de vítimas de doenças, recusado, gerando agitações como a Revolta da Boêmia, na atual
como: a varíola, a febre tifoide, a tuberculose ou diarreia e gripe. República Checa, enfraquecendo a Igreja e a nobreza.
Muitas epidemias eram transmitidas pelos ratos, que propagavam a c) ao aparecimento de uma onda de problemas graves, como a Grande
peste bubônica. Fome, a Guerra do Cem Anos, entre França e Espanha, e à Peste
IV. O século das luzes promoveu a ampliação dos conhecimentos em Negra, e logicamente às mortes provocadas por eles. A expansão
todas as áreas, entre elas, a medicina. Nesse contexto, o médico demográfica gerada causou o aumento da exploração senhorial
britânico, Edward Jenner (1749-1823), desenvolveu a vacina contra sobre os servos, que iniciaram várias revoltas, como a Jacquerie na
a varíola. França.
V. A partir das alternativas anteriores, podemos dizer: “As epidemias d) ao advento de uma série de eventos catastróficos, como a Grande
correspondem a grandes sinais de alerta que mostram ao verdadeiro Fome, a Guerra dos Cem Anos, entre França e Inglaterra, e à Peste
estadista que um distúrbio ocorreu no desenvolvimento de seu Negra, e logicamente à onda de mortes provocadas por eles. A crise
povo, que nem mesmo uma política caracterizada pelo desinteresse demográfica gerada implicou o aumento da exploração senhorial
pode negar”. (ROSEN, George, 1979). sobre os servos, que iniciaram várias revoltas, como a Jacquerie na
Assinale a alternativa que indica quais afirmativas estão corretas. França. De forma geral, esses eventos aceleraram o declínio do
a) I, II, III, IV e V. b) II, III e V, apenas. sistema feudal de produção.
c) I, II, III e IV, apenas. d) II, III, IV e V, apenas.
RESOLUÇÃO:
e) I, III e IV, apenas.
A crise do Século XIV simboliza uma série de eventos ocorridos
entre os séculos IV e XV que estagnaram o crescimento e a
RESOLUÇÃO: prosperidade que a Europa havia desenvolvido desde o começo da
Todas as afirmativas estão corretas. Baixa Idade Média. O colapso demográfico, a instabilidade política
Resposta: A e as revoltas religiosas estão na origem das crises que provocaram
alterações profundas em todas as áreas da sociedade. Isso gerou
um aceleramento da crise do feudalismo, que já mostrava sinais
5. de esgotamento.
NÍQUEL NÁUSEA - Fernando Gonsales Resposta: D

OS QUATROS CAVALOS
DO APOCALIPSE.

BÉ!

E VOCÊ? SOU A
QUEM É? CABRA DA
PESTE!

84 –
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MÓDULO 5 Renascimento: Conceito, Origem e Características


1. Introdução tes e os artistas. Estes acabavam 4. Características do Renascimento

HISTÓRIA AD
conhecidos e respeitados por todos; a
A crise do sistema feudal, iniciada arte os ajudava a conseguir créditos e O Renascimento promoveu um
no século XI, e o surgimento do ca- a divulgar as atividades de suas em- retorno à cultura greco-romana ou cul-
pitalismo, promovendo a ascensão da presas. tura clássica, tanto no plano artístico
burguesia e a centralização do poder O mecenato passava a constituir como na maneira de pensar.
político pelos reis, foram acompanha- um sinal de prestígio e a ele aderiram Assim, os artistas do Renascimen-
dos pelo aparecimento de uma nova príncipes e papas. Porém, entre me- to contrapunham os valores medievais
cultura, caracterizada pelo Renasci- cenas e obras encontrava-se, muito aos valores clássicos, julgando viver
mento Cultural, e uma nova conce- mais, o interesse econômico e político um período de luzes depois das trevas
pção religiosa, que resultaria na da classe que as patrocinava do que o medievais.
Reforma. interesse pela arte em si. O homem passava a ser coloca-
Se a burguesia buscava na arte um do como o centro de tudo, o antropo-
2. O Significado do Renascimento meio de divulgar seus negócios e a centrismo; o estudo da natureza
projeção social, os novos príncipes ganhou acentuada importância; a uti-
O Renascimento, como o próprio (condottieri), surgidos nas cidades ita-

FÍSICA A
lização de métodos experimentais
nome indica, significa o revivescer de lianas, buscavam a legitimação de seu traduzia a busca de um profundo ra-
algo que se encontrava adormecido. poder político, uma vez que não ti- cionalismo na contabilidade e na or-
Empregado no contexto da transição nham tradição de sangue. ganização do Estado; o universalismo
feudo-capitalista, significa o revivesci- Contribuíram para o Renascimen- predominava enquanto realização
mento dos valores da cultura antiga to na Itália a presença dos sábios bi- total do artista; os homens desco-
greco-romana. zantinos depois de 1453, as profundas briram o prazer no ato de criar (hedo-
Como manifestação que dá início marcas da cultura antiga e a invenção nismo); o individualismo superava a
a uma nova visão do mundo, o Renas- da imprensa. visão coletivista e de massas que
cimento desloca o interesse do campo
imperava durante a Idade Média.
religioso para o profano e secular. É
uma revolução cultural que corres-
ponde à ascensão da burguesia, que
pretende romper com os padrões
estabelecidos pela cultura medieval,
impregnada de misticismo e religio-
sidade.

3. Origem do Renascimento

O Renascimento teve origem na


Itália por diversos fatores.
A partir do século XI, as cidades
italianas transformam-se nos princi-
pais centros econômicos e comer-
ciais da Europa. Justamente nessas
regiões em que primeiro se firma o
capitalismo, consolida-se a vida urba-
na e uma forte e poderosa classe
mercantil.
Da acumulação de riquezas foi
possível o surgimento dos mecenas,
homens que enriqueceram a ponto de Principais centros do Renascimento italiano e sua difusão.
ficar em condições de proteger as ar-
– 85
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O Renascimento teve também Em razão das obras e das caracte- da Itália. Roma passou a ser a sede do
dois aspectos: o civil, que era ligado rísticas que elas apresentam, o Re- movimento e, sob a proteção de me-
às cidades republicanas dirigidas pela nascimento pode ser dividido em três cenas papas, Michelangelo pintou os
HISTÓRIA AD

alta burguesia e nobreza mercantil e fases distintas. afrescos na Capela Sistina e esculpiu
cultivava os temas do cotidiano, que A primeira é denominada Trecento, Pietá, Davi e Moisés.
eram mais humanizados; o cortesão, que corresponde à arte do século XIV, Mas, sem dúvida, Florença, nesse
restrito aos príncipes, que destacava quando se assiste a uma arte de transi- período, abrigou o maior dos huma-
temas mais ligados à nobreza cor- ção do Período Medieval para o Renasci- nistas italianos: Nicolau Maquiavel,
tesã. mento. Nessa fase, destacam-se Dante, que, ao escrever O Príncipe, estabele-
Nas artes plásticas, o Renasci- com a Divina Comédia, Petrarca, com ceu os fundamentos teóricos do Esta-
mento dá início a um movimento que África, e Boccaccio, com a obra Deca- do Moderno, essencialmente na
busca integrar o natural, o humano e meron. Nas artes plásticas, Giotto re- formulação da razão de Estado, que
sobretudo o espaço tridimensional, presenta os ideais precursores da arte seria, posteriormente, pedra angular
dando a ilusão de profundidade. Novas renascentista. na teoria política dos Estados euro-
técnicas e novos materiais (como óleo No Quatrocento, que corresponde peus.
sobre tela) foram utilizados pelos ao século XV, Florença abriga um dos
artistas na constante busca da per- mais célebres momentos do Renas-
feição e da harmonia na obra de arte. cimento, sob a proteção do mecenato
da Família Médici. Desse período, des-
5. O Renascimento tacamos a figura do mecenas Lorenzo
Italiano e O Humanismo de Médici, o “Magnífico”, que fundou
a “Academia Platônica”, na qual pen-
Sendo a Itália o berço do Renasci- sadores ilustres buscavam conciliar o
mento, foi aí que esse movimento se ideal cristão com o pensamento anti-
desenvolveu em plenitude, tanto nas go. Nas artes plásticas, esse período
artes plásticas quanto na literatura e representa um grande brilhantismo na
ciência (Humanismo). produção de obras, sendo seus ex-
Os humanistas, geralmente, eram poentes Masaccio, Boticelli,
eclesiásticos ou professores universi- Tintoretto, Ticiano e Leonardo Da Vinci
tários que desprezavam a cultura gó- (“O Gênio Universal da Huma-
tica medieval e primavam pelo nidade”).
individualismo, a vontade do poderio, A terceira e última fase do Re- Pietá, de Michelangelo. A virgem, muito jovem,
não olha para Cristo. A cabeça inclinada e o
o refinamento cultural e espiritual. De- nascimento é denominada Cinque-
gesto da mão demonstram aceitar, resignada, a
dicavam-se a dominar todos os ramos cento e corresponde à arte do século vontade divina.
do conhecimento e constituíram o ver- XVI, que, apesar de ter artistas como
dadeiro espírito do movimento renas- Rafael e Michelangelo, já demonstra o
centista. período de crise do movimento dentro

6. Cronologia
1452-1519 – Leonardo Da Vinci.

1265-1321 – Dante Alighieri. 1469-1527 – Nicolau Maquiavel.

1266-1337 – Giotto. 1483-1520 – Rafael.

1304-1374 – Francesco Petrarca. 1475-1564 – Michelangelo.

1313-1375 – Giovanni Boccaccio. 1517-1576 – Ticiano.

1518-1594 – Tintoretto.
1444-1550 – Sandro Botticelli.

86 –
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HISTÓRIA AD
1. (UFJF-pism) – Observe as seguintes figuras e leia o texto a seguir: No final da Idade Média, a Europa Ocidental passou por transformações
sociais, políticas e econômicas relacionadas ao desenvolvimento do
comércio e das cidades. E, no âmbito da cultura, as cidades italianas
constituíam um ambiente propício para a consolidação de um
movimento de transformação cultural, o chamado Renascimento.

a) Disserte sobre uma transformação socioeconômica que possibilitou


a afirmação da cultura renascentista na Península Itálica.
b) Cite e analise um aspecto da cultura renascentista que entrava em
conflito com os ensinamentos da Igreja.
(Os quatro evangelistas, c) Analise um aspecto do Renascimento no âmbito das artes.
iluminura de 820. Catedral de
Aachen, Alemanha. RESOLUÇÃO:
Disponível em: a) A reabertura do Mar Mediterrâneo, proporcionada pela
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ar ocorrência das Cruzadas, favoreceu o enriquecimento de
te_carol%C3%ADngia. mercadores e comerciantes. Tal segmento social passou a
Acesso em: 6 ago. 2014.) apoiar práticas que denotavam luxo e riqueza, como o
colecionamento de obras de arte, o que incentivou a prática do

FÍSICA A
mecenato, principalmente na Península Itálica.
b) Concepção antropocêntrica de mundo, em oposição à
concepção teocêntrica proposta pela Igreja Católica.
c) Influência da cultura greco-romana, humanismo e valorização
do corpo humano.

(Rafael. Madonna Cowper.


1504/1505. National Gallery
of Art, Washington.
Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/R
enascimento.
Acesso em: 6 ago. 2014.)

(Michelangelo. David. 1504.


Gallerie dell’Accademia.
Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/R
enascimento.
Acesso em: 6 ago. 2014.)

– 87
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2. “Sempre que se evoca o tema do Renascimento, a Essa imagem pode ser considerada renascentista porque:
imagem que imediatamente nos vem à mente é a a) representa as personagens de forma simbólica e recorre a temas da
dos grandes artistas plásticos e de suas obras mais doutrina cristã.
famosas, amplamente reproduzidas e difundidas até os nossos dias, b) reforça a perspectiva teocêntrica, ao representar a virgem Maria no
HISTÓRIA AD

como a Monalisa e a Última ceia, de Leonardo da Vinci, o ‘Juízo final’, centro da composição pictórica.
a ‘Pietá’ e o ‘Moisés’, de Michelangelo, assim como as inúmeras e c) retoma o tema da pureza da alma feminina estabelecendo uma
suaves Madonas, de Rafael, que permanecem ainda como modelo releitura narrativa sobre o pecado original.
mais frequente de representação da mãe de Cristo. Como veremos, d) adota o contraste dramático entre tons claros e escuros em sintonia
de fato, as artes plásticas acabaram se convertendo num centro de com as tensões religiosas do período.
convergência de todas as principais tendências da cultura e) utiliza a técnica da perspectiva tridimensional, que provoca a ilusão
renascentista.” de profundidade e espaço.
(SEVCENKO, N. O Renascimento.
Campinas: Atual, 1988. Adaptado.) RESOLUÇÃO:
A noção de perspectiva, que gerava a ideia de tridimensionalidade
e, consequentemente, a visão em profundidade, foi uma das
Esse movimento cultural, inserido no processo de transição da
importantes contribuições do Renascimento no campo da pintura,
modernidade europeia, caracterizou-se pela conforme afirma a alternativa E. A essa característica renascentista
a) validação da teoria geocêntrica. poder-se-ia acrescentar a temática inspirada na mitologia clássica e
b) valorização da integração religiosa. a naturalidade da representação da figura humana.
c) afirmação dos princípios humanistas. Resposta: E
d) legitimação das tradições aristocráticas.
e) incorporação das representações góticas.
4. (UFMS-2020) – Em 2019, completaram-se 500 anos da morte de
RESOLUÇÃO: Leonardo Da Vinci, considerado um dos maiores expoentes do
O Renascimento cultural europeu valorizava a cultura clássica movimento denominado Renascimento Cultural. Esse movimento foi
trazendo conceitos como antropocentrismo, racionalismo, um marco importante na sociedade ocidental, pois promoveu uma
individualismo, compreendidos dentro do conceito geral de mudança profunda na maneira de pensar, impactando crenças e valores
“humanismo”. Tais características estão presentes nas obras
que norteavam o homem europeu até então.
mencionadas no texto.
Reposta: C Sobre as características do Renascimento Cultural, assinale a alternativa
correta.
a) O conhecimento passou a ser dirigido pelo clero católico, que
administrava escolas e universidades. Assim, essa nova visão de
mundo foi compreendida a partir de um único caminho: o da fé e da
religião.
b) Surgiu na Península Itálica no final do século XIV e início do XV. Foi
marcado por um espírito científico, de valorização da razão e do
raciocínio lógico, colocando o ser humano como centro do Universo.
c) Surgiu na Península Itálica no século XVI. Promoveu mudanças
políticas, econômicas e sociais baseadas nas ideias de liberdade,
igualdade e fraternidade.
d) Surgiu na Península Itálica no final do século XIV e início do XV.
Nesse contexto, muitos artistas e intelectuais foram buscar
3. (FUVEST-2021) – A imagem é considerada uma das referências inspiração num período considerado por eles de grandes realizações
do movimento artístico e cultural denominado Renascimento. Analise e esplendor: o Egito Antigo.
atentamente. e) Os renascentistas defendiam uma visão humanista, naturalista e
teocêntrica, buscando superar a Antiguidade clássica, período que
classificaram como trevas, devido à falta de produção de
conhecimento.

RESOLUÇÃO:
Com a reabertura do Mar Mediterrâneo, século XII, após o término
das Cruzadas, as cidades do Norte da Itália monopolizaram o
Mediterrâneo, realizaram comércio com o Oriente em um processo
de intensa troca comercial e cultural. Esse intercâmbio cultural foi
fundamental para, no século XIV, dar início ao Renascimento
Cultural, caracterizado pelo antropocentrismo, racionalismo,
empirismo, individualismo, hedonismo, naturalismo etc. O espírito
do Renascimento Cultural era de inquietação e investigação, daí o
questionamento do geocentrismo e o surgimento da ciência
moderna no século XVII.
Resposta: B
(A Primavera, Sandro Botticelli, século XV.)

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Texto para a próxima questão: RESOLUÇÃO:


A invenção da imprensa em meados do século XV pelo alemão
As maiores descobertas/invenções da humanidade Johannes Gutenberg, contribuiu para a disseminação de ideias
exatamente em um contexto importante caracterizado pelo

HISTÓRIA AD
Renascimento Cultural que teve início na Itália no século XIV.
“Um dos aspectos que diferenciam os humanos de outros seres Também foi de suma relevância para a Reforma Protestante
vivos é a capacidade de lidar com situações de maneira inteligente, iniciada em 1517 quando Lutero elaborou as 95 teses e traduziu
criando meios para solucionar problemas ou para, simplesmente, parte da bíblia para a língua alemã. Sem dúvida, a invenção da
compreender melhor o Universo. A busca pela inovação/descoberta imprensa tornou possível a propagação de pensamento
corroborando para a Reforma Protestante.
levou muitos homens e mulheres a desenvolverem ferramentas,
Resposta: A
materiais e tecnologias tão bem-sucedidas que mudaram
completamente a forma de as pessoas viverem e verem o mundo.

Nesse sentido, a(s) questão(ões) abordarão o eixo temático ‘As maiores


descobertas/invenções da humanidade’.”

5. (USC-2021) – “Em meados de 1455, o ourives alemão Johannes


Gutenberg realizou seu grande sonho. Após anos de pesquisas e
trabalho duro, pegou nas mãos seu trunfo em forma de livro, impresso
com uma técnica inédita: a prensa de tipos móveis. A técnica de
impressão com moldes não era novidade – já havia sido iniciada havia

FÍSICA A
14 séculos, na China, por meio da impressão de gravuras. Mas, com a
criação de Gutenberg, que moldara os tipos em um material bem mais
resistente e durável que os usados pelos chineses, ela ficava muito mais
eficaz e rápida. A impressão em massa, possibilitada a partir daí,
transformaria a cultura ocidental para sempre. Antes dela, cada cópia
de livro exigia um escriba – que escrevia tudo à mão, página por página.
Em 1424, por exemplo, a Universidade de Cambridge, no Reino Unido,
possuía apenas 122 livros – e o preço de cada um era equivalente ao de
uma fazenda ou vinícola. Gutenberg conseguiu, com seu invento, suprir
a crescente necessidade por conhecimento da Europa rumo ao
Renascimento. A partir desse feito, a informação escrita deixou de ser
exclusividade dos nobres e do clero. Até 1489, já havia prensas como a
dele na Itália, França, Espanha, Países Baixos, Inglaterra e Dinamarca.
Em 1500, cerca de 15 milhões de livros já haviam sido impressos.”
(Disponível em:
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/acervo/prensa-
gutenberg-435887.phtml. Acesso em: 22 fev. 2021. Adaptado.)

Levando em consideração seus conhecimentos em História e os


impactos da técnica de impressão criada por Gutenberg, é correto
afirmar que a
a) invenção da imprensa, associada à tradução da Bíblia para o alemão,
feita por Lutero, provocou uma grande difusão do protestantismo na
Alemanha.
b) consequência das novas técnicas de impressão foi o desapare-
cimento das gravuras, que deram lugar a uma nova manifestação de
arte gráfica: as iluminuras.
c) transformação proporcionada pela revolução da imprensa foi
facilitada, principalmente, pelo fato de a grande maioria da população
europeia já ser alfabetizada no século XVI.
d) invenção da imprensa deu à Igreja Católica acesso a diversas obras,
já que até então as bibliotecas eram praticamente monopólio das
realezas europeias.
e) invenção dos tipos móveis de metal tornou possível a rápida difusão
de livros e, consequentemente, dos ideais do Humanismo e do
Renascimento.

– 89
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MÓDULO 6 Difusão e Crise do Renascimento


1. Difusão do Renascimento xos, as artes plásticas desenvolveram-se 2. Renascimento Científico
HISTÓRIA AD

de forma independente dos modelos


A Renascença manifestou-se pri- clássicos e refletiam o luxo da vida dos O conhecimento medieval era
meiramente na Itália, difundindo-se comerciantes. Seus maiores ex- fundamentalmente livresco, isto é,
posteriormente para o exterior e atin- poentes foram Peter Brueghel, Bosch, aceitavam-se totalmente as informa-
gindo quase todos os países da Eu- Van Eych e Rembrandt. ções e explicações contidas nos livros
ropa Ocidental. Em nenhum deles, o sagrados e profanos. A curiosidade
movimento apresentou tanta expres- Inglaterra impõe o surgimento de experiências e
são quanto na Itália. observações durante o Renascimento.
Podemos afirmar que, durante a No Humanismo inglês, ganhou O resultado foi o extraordinário
fase do Trecento, o movimento renas- destaque Sir Thomas Morus, com a desenvolvimento científico.
centista circunscreveu-se à Itália. Foi obra Utopia, que, diante das mu- Um dos melhores exemplos da
durante os fins do século XV, quando danças sociais promovidas na Inglater- ciência renascentista é Leonardo da
se iniciaram as guerras da Itália (pro- ra em decorrência da manufatura, Vinci. Nasceu em Florença, mas viveu
movidas pelos reis franceses), que a a maior parte da sua vida em Milão.
condenou os abusos da nova socieda-
extraordinária criação cultural da Itália Sua obra é principalmente artística.
de que se formava e propôs uma so-
foi vislumbrada pelos demais países Somente após sua morte é que foram
ciedade ideal.
europeus. Os soldados e os diplo- difundidas suas ideias científicas, que
William Shakespeare foi o repre-
matas foram os principais agentes são precursoras de inventos moder-
sentante máximo da obra teatral, es-
dessa difusão. nos. Teorizou alguns princípios da
crevendo mais de 40 peças para a
Tendo em vista as características geologia e pode ser considerado pre-
dramaturgia, entre elas Romeu e Ju-
sociais e econômicas dos demais paí- cursor remoto do avião, do submarino
lieta, Macbeth, Hamlet e Rei Lear. e do carro de assalto.
ses europeus, foram os temas pro-
duzidos pelo Renascimento Cortesão O polonês Copérnico demonstrou
Países Ibéricos que a Terra não era o centro do
que tiveram maior acesso aos outros
países, cuja estrutura era de cunho au- Sistema Solar, mas sim o Sol. Não era
Miguel de Cervantes foi o maior o Sol que girava em torno da Terra,
tocrático.
representante do Humanismo na Es- como se pensava na Idade Média,
Por outro lado, as obras do Renas-
panha. Em sua obra Dom Quixote de mas a Terra que girava em torno do
cimento Civil só poderiam penetrar em
La Mancha, satirizou a sociedade feu- Sol. Suas pesquisas foram completa-
regiões onde as condições fossem
dal e os costumes da cavalaria. das pelo alemão Keppler e pelo italiano
semelhantes às italianas: foi esse o
Nas artes plásticas, El Greco e Galileu.
caso dos Países Baixos.
Murillo desenvolveram obras impreg- Na medicina, Versálio publicou uma
Países Baixos nadas de religiosidade e emoção. obra que continha os princípios da
Em Portugal, Luís Vaz de Camões, anatomia; o espanhol Miguel Servet
Erasmo de Rotterdam, sem dúvi- com sua obra Os Lusíadas, traçou a descobriu uma parte da lei da circulação
da, é o maior expoente do Humanis- épica narrativa das navegações sanguínea; o médico francês Paré
mo nos Países Baixos. Chamado de portuguesas. Gil Vicente produziu uma encontrou uma nova forma de estancar
“O Príncipe dos Humanistas”, em obra considerável, tendo títulos como a hemorragia.
1509 publicou sua obra mais famosa, A Farsa de Inês Pereira e Auto da Apesar de todo esse progresso
Elogio da Loucura, na qual tece críticas Barca do Inferno. intelectual e científico demonstrado,
não devemos esquecer que para o
satíricas à sociedade de seu tempo.
França homem da Renascença a noção de
Tendo dedicado a sua vida à carreira
medida, de tempo de precisão, era
eclesiástica, Erasmo é considerado François Rabelais satirizou a Filo-
muito limitada. As coisas sobrenatu-
um humanista cristão. sofia Escolástica e a Igreja nas obras
rais mesclavam-se com as coisas
Nas artes plásticas, o Renascimento Gargântua e Pantagruel. Michel Mon-
materiais com grande facilidade. A
teve maior expressão do que o taigne, em Ensaios, criticou a socieda-
crença em fantasmas e em bruxarias
Humanismo. Na região dos Países Bai- de francesa de seu tempo.
era generalizada.

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3. Fim do Renascimento

O declínio do Renascimento não foi simultâneo nem


nos diversos países onde ocorreu nem em suas três

HISTÓRIA AD
vertentes – artística, literária e científica. Na Itália, esse pro-
cesso começou em meados do século XVI, quando a eco-
Galileu Galilei foi um nomia italiana passou a sentir a perda do monopólio sobre
dos mais destacados o comércio de produtos orientais (provocada pelo des-
nomes do cobrimento do caminho marítimo para as Índias). O Re-
Renascimento
Científico, dando ao
nascimento clássico foi então substituído pelo maneirismo,
mundo uma notável estilo artístico caracterizado pelo artificialismo, tanto na
contribuição, pintura quanto na escultura e na arquitetura. O maneirismo
principalmente no prenunciava o advento do barroco, que dominaria a arte
campo da Física. europeia no século XVII.
Em países como Espanha, França, Inglaterra e Holanda,
cuja prosperidade coincidiu com o enfraquecimento econô-
mico da Itália, não foi a falta de recursos que prejudicou o
Renascimento, e sim a mudança nas formas de pensamento
trazida pela Reforma Protestante e pela Contrarreforma

FÍSICA A
Católica. O aguçamento das tensões religiosas, que frequen-
temente chegaram ao conflito armado, recolocou em
destaque valores que o Renascimento desconsiderara, como
o teocentrismo, o dogmatismo, o misticismo, o coletivismo
e a intolerância. Assim sendo, a visão de mundo predo-
minante no século XVII encontraria no barroco uma
expressão mais adequada à mentalidade do período.
Como movimento artístico, o Renascimento terminou
por volta de 1580; na literatura, estendeu-se até princípios
do século XVII; no plano científico, enfim, considera-se que
ele se encerrou em 1642, ano da morte de Galileu e do
nascimento de Isaac Newton (1642-1727), o Pai da Física
Moderna*.
*Historicamente, a expressão “Física Moderna” é entendida como
pertencente à Idade Moderna, nos séculos XVII e XVIII. Entretanto, a
maioria dos especialistas chama a Física de Newton e seus continuadores
de “Física Clássica”, reservando o termo “Física Moderna” para a ciência
desenvolvida a partir de Max Planck (1858-1947) e de Albert Einstein (1879-
Luneta de Galileu. Esse instrumento óptico, precursor
1955), embora ela faça parte da Idade Contemporânea.
do telescópio, foi inventado pelo holandês Hans
Lippershey e aperfeiçoado por Galileu a partir de 1609.

4. Cronologia

1450-1550 – A Península Itálica desponta como centro irradiador do Renascimento.

1507 – Leonardo da Vinci, o “gênio universal”, pinta Monalisa.

1509 – Erasmo de Rotterdam publica Elogio da Loucura.

1513 – Maquiavel publica O Príncipe.

1564 – Nascem Galileu Galilei e o escritor inglês William Shakespeare.

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HISTÓRIA AD

1. (UERJ-2020) 2. (FMJ-2020)

(Sandro Botticelli. O Nascimento de Vênus, 1485.


(François-Guillaume Ménageot.
Têmpera sobre tela. 172,5 x 278,5 cm.
A morte de Leonardo da Vinci. 1781. Pintura, óleo sobre tela. Galeria dos Uffizi, Florença, Itália.)
Disponível em: pt.wahooart.com)
A pintura “O nascimento de Vênus” apresenta os seguintes princípios
Na tela que representa o leito de morte de Leonardo Da Vinci, encontra- culturais do Renascimento nas artes plásticas:
se o rei da França, Francisco I, que acolheu o gênio renascentista em um a) representação da imagem de forma estática e ausência de
dos castelos reais de 1516 até 1519. proporção.
b) temática religiosa cristã e representação fiel da anatomia humana.
Identifique a prática adotada por monarcas como Francisco I, ao
c) noção de profundidade e valorização de temas da Antiguidade greco-
acolherem artistas como da Vinci. Indique, ainda, duas características
romana.
culturais desse período.
d) frontalidade das imagens e representação hierárquica das
divindades.
RESOLUÇÃO:
O rei Francisco I, da França, foi mecenas do pintor italiano Leonardo e) valorização de contrastes e predomínio da representação de
da Vinci. Mecenato significa o investimento que reis, burgueses, emoções.
papas etc, realizavam com os artistas. Dentre as principais
características do Renascimento, cabe destacar o Humanismo, o RESOLUÇÃO:
Racionalismo, o Antropocentrismo, a valorização da Antiguidade Valorização dos temas da Antiguidade Clássica, ênfase ao papel
Clássica Greco-Romana, bem como aspectos relacionados às humano, uso da profundidade, do jogo de claro-escuro e da
técnicas empregada nas pinturas, que podem ser interpretados a perspectiva são algumas das características da arte renascentista.
partir da tela de Ménageot como a adoção da perspectiva e o uso Resposta: C
de “claro e escuro”. Vale dizer que Mecenas viveu na Roma antiga,
patrocinou a cultura e as artes, daí o mecenato.

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3. (Espcex-2021) – No período do Renascimento, durante os séculos 4. (FAMERP-2020) – “[Maquiavel] elogia a República romana como
XV e XVI, ocorreram mudanças na qualidade e na quantidade da tendo sido a mais perfeita forma de governo e um verdadeiro Estado
produção cultural. Dentre os fatores que influenciaram essas mudanças, unido pelo espírito público de seus cidadãos; no entanto, numa época
destacam-se o/a: como a sua, seria necessário um líder que utilizasse a força como

HISTÓRIA AD
I. Absolutismo monárquico. princípio, tese que desenvolve em ‘O Príncipe’.”
II. Desenvolvimento da imprensa. (Teresa Aline Pereira de Queiroz. O Renascimento, 1995.)
III. Advento do “Século das Luzes”.
IV. Ação dos Mecenas. A obra “O Príncipe” foi escrita por Maquiavel em 1513 e publicada em
V. Empirismo e liberalismo político de John Locke. 1532. Nela, o pensador florentino
a) rejeita a noção de república, valorizando o princípio de participação
Assinale a alternativa que apresenta todos os fatores corretos, dentre os política direta de todos os cidadãos.
listados acima. b) defende a submissão do poder secular ao poder atemporal,
a) I, apenas. b) I e III, apenas. reconhecendo a Igreja como o centro da vida política.
c) II e IV, apenas. d) III, apenas. c) analisa experiências políticas do passado e do presente, propondo
e) III e V, apenas. um modelo de atuação do governante.
d) celebra o princípio da experiência do indivíduo, identificando os
RESOLUÇÃO: conselhos dos anciãos como origem de todo poder.
Por uma razão cronológica, os itens [III] e [V] estão incorretos,
e) questiona o militarismo da Roma Antiga, sugerindo aos governantes
porque estão relacionados ao Iluminismo, típico do século XVIII. E
o item [I] está incorreto porque o Absolutismo Monárquico não abandonar projetos imperiais e expansionistas.
influenciou ou impulsionou a produção cultural do Renascimento.
Resposta: C RESOLUÇÃO:

FÍSICA A
Maquiavel, homem do seu tempo, viveu na Itália entre 1469-1527.
Neste contexto, a Itália estava fragmentada politicamente, passava
por muitos problemas, tais como invasões de países vizinhos.
Assim, o pensador de Florença, Nicolau Maquiavel, escreveu a obra
“O Príncipe”, em que defende a unificação política da Itália,
observou elementos importantes do passado e presente e deu
diversas dicas, para o governante obter êxito no campo da política,
sobre armas, leis, exércitos, uso da força etc.
Resposta: C

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5. (ESPM-2019) – “Compostos nas melhores tradições da prosa


satírica, conta as aventuras de um cavalheiro que ficou meio
desequilibrado em virtude da leitura constante de romances de cavalaria.
Com a mente cheia de todas as espécies de aventuras fantásticas, aos
HISTÓRIA AD

50 anos parte finalmente pelo caminho incerto das aventuras


cavaleirosas. Imagina que moinhos de vento são gigantes enfurecidos
e rebanhos de ovelhas, exércitos de infiéis, cabendo-lhe o dever de
desbaratá-los com a espada. Em sua imaginação enferma toma
estalagens por castelos e as criadas por damas galantes perdidas de
amor por ele. Os galanteios que elas não tinham a intenção de fazer, ele
os repelia muito polidamente a fim de provar a devoção que consagrava
a sua Dulcinéia.”
(Edward Mcnall Burns.
História da Civilização Ocidental.)

O texto em questão deve ser relacionado a importante autor


renascentista e à obra considerada a maior sátira já produzida em todos
os tempos. A alternativa correta é:
a) Miguel de Cervantes – Dom Quixote.
b) Lope de Veja – O Cavaleiro de Olmedo.
c) Tirso de Molina – Dom Juan.
d) Rabelais – Gargântua e Pantagruel.
e) Molière – O Tartufo.

RESOLUÇÃO:
Uma das obras mais importantes do Renascimento Cultural,
séculos XIV, XV e XVI, foi “Dom Quixote”, do escritor espanhol
Miguel de Cervantes. Ela foi publicada em duas partes, a primeira
em 1605 e a segunda em 1615. Ao ser traduzido, o livro teve uma
grande aceitação entre os leitores. Narra as aventuras e
desventuras de Dom Quixote, um homem de meia idade, que
decidiu se tornar cavaleiro andante depois de ler romances de
cavalaria. Conseguiu um cavalo e armadura e resolveu lutar para
provar seu amor por uma mulher imaginária.
Resposta: A

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