Você está na página 1de 6

Pornografia e Internet

O consumo de pornografia e a sua relação com a Internet


Flávia Gones (13292); Inês Policarpo (13278); Mariana Madeira (13249)

Resumo
Neste texto académico, analisamos a relação entre a internet e a globalização da pornografia.
Focamo-nos inicialmente numa contextualização do tema, oferecendo uma definição dos conceitos
principais: o conceito de pornografia e o conceito de globalização. Passamos, então, a explicar ao
leitor a mutação que a pornografia sofreu com a sua chegada à internet. De seguida, apresentamos o
perfil de um consumidor típico de conteúdo pornográfico e terminamos a nossa investigação com a
exposição das possíveis consequências que um consumo excessivo de pornografia pode trazer a uma
sociedade globalizada.

Palavras-Chave: Pornografia, Internet, Sociedades Globalizadas

Introdução
Nos últimas dois séculos, as sociedades internacionais passaram pelo fenómeno da
globalização (Reus-Smit & Dunne, 2017). Tim Dunne e Christian Reus-Smit, na obra The
Globalization of Society, reconsideram a ideia de globalização: encaram-na como um processo de “se
tornar” global, e não como um fenómeno pós-Guerra Fria. Numa sociedade cada vez mais evoluída
a nível tecnológico e especialmente dominada pela internet, é natural que o acesso ao mundo virtual
ocupe um papel de grande destaque nas nossas vidas. E, apesar de algumas consequências positivas,
a internet está relacionada com uma variedade imensa de problemas, nomeadamente o vício de
consumo de conteúdo pornográfico (Bisen & Deshpande, 2018).
O consumo pornográfico possui um papel imenso dentro da internet e das suas redes sociais,
principalmente pela globalização inerente à internet. O principal objetivo desta redação é abordar o
tema de partida: “A difusão da pornografia na internet e sua influência na sexualidade de uma
sociedade globalizada”. Com isto queremos perceber se o consumo de pornografia pode influenciar
ou não a forma como uma sociedade globalizada pode ver a sua sexualidade influenciada através do
consumo de pornografia e quais as consequências negativas que isso pode ter na sua vida pessoal e
sexual.

Conceito e Contextualização
Primeiramente, urge definir o conceito de pornografia. Segundo o Dicionário da Língua
Contemporânea da Academia de Ciências de Lisboa (2001), a origem da palavra pornografia deriva
dos vocábulos gregos “porne”, que significa prostituta, com a palavra “graphein”, que designa escrita,
que formam a palavra grega “pornographos”. A palavra pode ser definida como “aquele que escreve
sobre prostitutas, tratado acerca da prostituição, representação de situações obscenas sob a forma de
texto, desenho, fotografia, etc., com o objetivo de despertar e excitar a libido”. Já o Dicionário da
Língua Portuguesa, Porto Editora (2010), complementa o termo pornografia como sendo uma
“representação de elementos de cariz sexual explicito, sobretudo quando considerados obscenos, em
textos, fotografias, publicações, filmes ou outros suportes”. A autora afirma que as várias definições
de pornografia apresentadas estão essencialmente ligadas à prostituição e obscenidade e que a
definição mais difundida caracteriza a pornografia como material destinado a produzir excitação (P.
Lopes, 2013).

Segundo Tim Dunne e Christian Reus-Smit, a globalização no contexto da sociologia é mais


do que uma extensão numérica, geográfica e institucional da sociedade internacional. É, na verdade,
um processo que se apresenta ainda em transformação. A globalização não se refere apenas à
globalização de uma sociedade internacional, mas também à sua produção global (Reus-Smit &
Dunne, 2017).

A chegada da pornografia à internet


Antes da sua chegada ao meio de comunicação que é a internet, a pornografia já tinha um forte
lugar no contexto da sociedade. Os conteúdos pornográficos podiam ser vistos, por exemplo, nas
revistas destinadas a adultos e no cinema (P. Lopes, 2013). As atividades pornográficas tornaram-se
cada vez mais comuns a partir da década de 1960 com a popularidade que o movimento hippie
ganhou. Hoje em dia as estimulações eróticas visuais possuem um grande campo, tanto em marketing,
como através de revistas, filmes, vídeos e sites com conteúdo erótico, entre outros. Hoje, estima-se
que, de todos os utilizadores dos sites pornográficos, 72% são visitantes do sexo masculino e os
restantes 28% são visitantes do sexo feminino (Santiago, Postal, Paradella, Bostelmam, & Cyrino,
2018).

A internet foi uma tecnologia crucial no que toca à proliferação da pornografia. Com a sua
popularização, este meio tecnológico de comunicação passou a ser, e ainda é, o meio de eleição para
o consumo de conteúdos pornográficos. Isto deve-se principalmente a três fatores: a acessibilidade, a
disponibilidade e o anonimato (P. Lopes, 2013). A pornografia na internet está disponível para
consumo na privacidade do utilizador e a acessibilidade e o anonimato conseguem atrair um público
cada vez mais amplo (Santiago, Postal, Paradella, Bostelmam, & Cyrino, 2018). A internet traz, então,
a ideia de ser um espaço totalmente alheio àquilo que é, na verdade, o meio físico. Ao nível da
sociologia, é importante questionar se com o desenvolvimento tecnológico, mais em concreto da
internet, sendo que este é o nosso objeto de estudo, as práticas sexuais podem tornar-se,
eventualmente, alvos de condenação pública (Souza Ribeiro, 2017).

Muito conteúdo pornográfico está disponível de forma gratuita, contudo, este material gratuito
não substitui a pornografia paga. Na verdade, os produtores de pornografia utilizam a pornografia
que é gratuita para incentivar o consumo de conteúdos que são pagos (P. Lopes, 2013). Assim, a
pornografia na internet engloba também uma vertente possivelmente económica. Estas plataformas
essencialmente gratuitas têm pouco ou nenhum controlo sob quem as acede, ou seja, qualquer pessoa
de qualquer idade pode assistir aos conteúdos disponibilizados. Sendo que a internet se tornou num
fenómeno de globalização especialmente particular, é possível, agora, transpor a grande velocidade
diversos tipos de fronteiras antes impenetráveis: o consumo de pornografia torna-se cada vez mais
fácil.

Podemos ter acesso a diferentes conteúdos pornográficos através de um único site. A


separação que existia entre consumidores e produtores de pornografia já não é a mesma: a internet
veio quebrar essa distância e a produção e troca de material doméstico ou amador cresceu. Dentro
dos sites pornográficos existe uma maior oferta de géneros e categorias altamente específicas, por
vezes consideradas ilegais ou criminalizadas, não tão evidentes nas produções impressas ou em vídeo
(P. Lopes, 2013).

O perfil do consumidor de pornografia online


Um dos estudos desenvolvidos sobre o tema chegou à conclusão de que o perfil do típico
consumidor de pornografia online corresponde a sujeitos jovens adultos, na casa dos 30 anos, casados,
do sexo masculino e com trabalho. Conquanto, outros estudos revelam um consumo significativo de
pornografia entre crianças e jovens na sua adolescência. Por conseguinte, estes jovens são
considerados um grupo de risco para o desenvolvimento de comportamentos compulsivos em relação
ao consumo de pornografia e outras atividades de cariz sexual na internet. O acesso facilitado à
internet aumenta a probabilidade de crianças e jovens adolescentes consumirem pornografia (P.
Lopes, 2013), o que atinge um dos pilares do desenvolvimento (Santiago, Postal, Paradella,
Bostelmam, & Cyrino, 2018).

Em um outro estudo, chegou-se à conclusão de que a orientação sexual é um fator


determinante no consumo de pornografia ou no envolvimento em outras atividades sexuais na
internet. Segundo os dados deste estudo, pessoas homossexuais e pessoas do sexo masculino são mais
propensas ao envolvimento neste tipo de atividades em comparação a pessoas heterossexuais e
mulheres (P. Lopes, 2013).
Os problemas da globalização da pornografia
Nos últimos anos, foram vários os investigadores da área da sociologia que, argumentando
que a pornografia pode afetar a sexualidade e relacionamentos dos indivíduos de uma sociedade,
alertaram para o impacto potencialmente negativo do consumo de conteúdos pornográficos. Para
algumas pessoas, a pornografia é apenas uma experiência divertida, mas para outras pode tornar-se
num hábito do qual são dependentes, gerando comportamentos desestabilizadores (Santiago, Postal,
Paradella, Bostelmam, & Cyrino, 2018). A este hábito dependente devemos dar o nome de vício
cibersexual, ou seja, o uso compulsivo de websites para adultos para aceder a pornografia (Bisen &
Deshpande, 2018). Com isto, podemos perceber que a globalização da internet se traduziu na criação
de um local onde os desejos eróticos encontram um espaço, que, ao mesmo tempo, pode ser um campo
perigoso (Souza Ribeiro, 2017). Estima-se que 50% de todo o tráfego na Internet esteja relacionado
a conteúdos sexuais.

Ora, alguns cientistas defendem que o vício em pornografia, eventualmente, pode ter o risco
de acartar danos físicos, psicológicos e emocionais à pessoa viciada em questão (Rosa, 2020). Quanto
maior o consumo, maior é a urgência de procurar novos estímulos pornográficos cada vez mais
extremos para se chegar ao mesmo prazer que se tinha antes de começar o ciclo de dependência.
Existem especialistas que defendem que homens viciados em pornografia, devido ao consumo
excessivo de tal conteúdo, acabam por desenvolver expectativas irrealistas sobre as mulheres;
naturalmente, desenvolvem, ainda, dificuldade em formar e manter relacionamentos e em se sentirem
sexualmente satisfeitos (Santiago, Postal, Paradella, Bostelmam, & Cyrino, 2018). Esta visão
deturpada dos homens sobre as mulheres pode refletir-se em violência para com a mulher e
desigualdade entre os dois géneros: a mulher pode ser vista apenas como um meio de obter prazer.
Salienta-se que cerca de 80% dos homens assistem pornografia semanalmente, o que os torna o maior
consumidor destes conteúdos. No entanto, repare-se que 30% das mulheres dizem assistir conteúdos
pornográficos todas as semanas, assumindo que o vício influenciou negativamente os seus
relacionamentos (Rosa, 2020).

O consumo de pornografia durante a adolescência é outro dos problemas inerentes à


globalização da pornografia na internet. É na adolescência que o desejo sexual começa a despertar e
a procura por satisfação e prazer sexual surge. Em média, a idade em que as crianças ou pré-
adolescentes começam a assistir a pornografia é aos 13 anos, com uma incidência maior no sexo
masculino (Rosa, 2020). Se o consumo precoce de pornografia for excessivo, os jovens podem ver a
sua futura vida sexual altamente prejudicada. Os espectadores tornam-se menos sensíveis às imagens
pornográficas, então a excitação sexual cai. Isto, consequentemente, afeta as relações sexuais da vida
real, já que os jovens desenvolveram numa primeira instância a sua sexualidade através da
pornografia: o envolvimento sexual com um parceiro real torna-se uma tarefa complicada. Pesquisas
indicam que a média de visualizações de pornografia por adolescentes é cerca de duas horas por
semana, com sessões medidas de nove minutos (Santiago, Postal, Paradella, Bostelmam, & Cyrino,
2018).

Conclusões
Para estudar as práticas sexuais é preciso, atualmente, compreender o papel de importância da
internet para a pornografia. A internet transformou tanto o processo de produção, como de divulgação,
venda e consumo de conteúdos pornográficos: a chegada da internet facilitou, assim, o acesso rápido,
simples e frequente do consumo de pornografia. Com efeito, a internet juntamente com os avanços
tecnológicos de digitalização da informação reinventou a pornografia.

Pode-se dizer que a pornografia está cada vez mais a transformar o sexo em uma espécie de
mercadoria, pois acaba por piorar os relacionamentos entre indivíduos e a sua sexualidade. As
imagens pornográficas estão disponíveis para consumo na privacidade da casa do consumidor através
da internet e a acessibilidade e o anonimato ligados ao online atraíram um público mais amplo. Com
isto, percebemos que a pornografia pode trazer consequências positivas, mas a incidência de
resultados negativos é evidentemente superior a vários níveis.

Concluímos que os maiores consumidores de pornografia online são indivíduos do sexo


masculino e pessoas homossexuais. Verificámos também que a pornografia na adolescência pode,
eventualmente, traduzir-se em consequências, nomeadamente a dificuldade em envolver-se
sexualmente com pessoas na vida real. Salientamos ainda a desigualdade de género e violência para
com a mulher, consequência das expectativas que os indivíduos do sexo masculino criam através da
visualização de conteúdos pornográficos. A nossa maior conclusão incide no vício como fonte de
todas as restantes consequências.
Bibliografia
Bisen, S. S., & Deshpande, Y. M. (2018). Understanding internet addiction: a comprehensive review.
Mental Health Review Journal.
Dicionário da Língua Contemporânea Portuguesa da Academia de Ciências de Lisboa (Vol. II).
(2001). Verbo Editora.
Dicionário da Língua Portuguesa. (2010). Porto: Porto Editora.
P. Lopes, A. S. (2013). Consumo de Pornografia na Internet, Avaliação das Atitudes Face à
Sexualidade e Crenças sobre a Violência Sexual. Lisboa: Universidade Autónoma de Lisboa.
Reus-Smit, C., & Dunne, T. (2017). The Globalization of Internacional Society. Em C. Reus-Smit,
& T. Dunne. Oxford.
Rosa, N. (2 de dezembro de 2020). Pornografia: cientistas divergem se vício faz mal à saúde física e
psicológica. Obtido em 6 de junho de 2021, de Canal Tech:
https://canaltech.com.br/saude/pornografia-cientistas-divergem-se-vicio-faz-mal-a-saude-
fisica-e-psicologica-175602/
Santiago, L., Postal, A., Paradella, V., Bostelmam, A., & Cyrino, L. (2018). Possíveis Consequências
da Pornografia na Sexualidade Humana. Joinville: Vivências.
Souza Ribeiro, W. (2017). Pornografia e... Vingança? Niterói: Universidade Federal Fluminense.

Você também pode gostar