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Resumo
Neste texto académico, analisamos a relação entre a internet e a globalização da pornografia.
Focamo-nos inicialmente numa contextualização do tema, oferecendo uma definição dos conceitos
principais: o conceito de pornografia e o conceito de globalização. Passamos, então, a explicar ao
leitor a mutação que a pornografia sofreu com a sua chegada à internet. De seguida, apresentamos o
perfil de um consumidor típico de conteúdo pornográfico e terminamos a nossa investigação com a
exposição das possíveis consequências que um consumo excessivo de pornografia pode trazer a uma
sociedade globalizada.
Introdução
Nos últimas dois séculos, as sociedades internacionais passaram pelo fenómeno da
globalização (Reus-Smit & Dunne, 2017). Tim Dunne e Christian Reus-Smit, na obra The
Globalization of Society, reconsideram a ideia de globalização: encaram-na como um processo de “se
tornar” global, e não como um fenómeno pós-Guerra Fria. Numa sociedade cada vez mais evoluída
a nível tecnológico e especialmente dominada pela internet, é natural que o acesso ao mundo virtual
ocupe um papel de grande destaque nas nossas vidas. E, apesar de algumas consequências positivas,
a internet está relacionada com uma variedade imensa de problemas, nomeadamente o vício de
consumo de conteúdo pornográfico (Bisen & Deshpande, 2018).
O consumo pornográfico possui um papel imenso dentro da internet e das suas redes sociais,
principalmente pela globalização inerente à internet. O principal objetivo desta redação é abordar o
tema de partida: “A difusão da pornografia na internet e sua influência na sexualidade de uma
sociedade globalizada”. Com isto queremos perceber se o consumo de pornografia pode influenciar
ou não a forma como uma sociedade globalizada pode ver a sua sexualidade influenciada através do
consumo de pornografia e quais as consequências negativas que isso pode ter na sua vida pessoal e
sexual.
Conceito e Contextualização
Primeiramente, urge definir o conceito de pornografia. Segundo o Dicionário da Língua
Contemporânea da Academia de Ciências de Lisboa (2001), a origem da palavra pornografia deriva
dos vocábulos gregos “porne”, que significa prostituta, com a palavra “graphein”, que designa escrita,
que formam a palavra grega “pornographos”. A palavra pode ser definida como “aquele que escreve
sobre prostitutas, tratado acerca da prostituição, representação de situações obscenas sob a forma de
texto, desenho, fotografia, etc., com o objetivo de despertar e excitar a libido”. Já o Dicionário da
Língua Portuguesa, Porto Editora (2010), complementa o termo pornografia como sendo uma
“representação de elementos de cariz sexual explicito, sobretudo quando considerados obscenos, em
textos, fotografias, publicações, filmes ou outros suportes”. A autora afirma que as várias definições
de pornografia apresentadas estão essencialmente ligadas à prostituição e obscenidade e que a
definição mais difundida caracteriza a pornografia como material destinado a produzir excitação (P.
Lopes, 2013).
A internet foi uma tecnologia crucial no que toca à proliferação da pornografia. Com a sua
popularização, este meio tecnológico de comunicação passou a ser, e ainda é, o meio de eleição para
o consumo de conteúdos pornográficos. Isto deve-se principalmente a três fatores: a acessibilidade, a
disponibilidade e o anonimato (P. Lopes, 2013). A pornografia na internet está disponível para
consumo na privacidade do utilizador e a acessibilidade e o anonimato conseguem atrair um público
cada vez mais amplo (Santiago, Postal, Paradella, Bostelmam, & Cyrino, 2018). A internet traz, então,
a ideia de ser um espaço totalmente alheio àquilo que é, na verdade, o meio físico. Ao nível da
sociologia, é importante questionar se com o desenvolvimento tecnológico, mais em concreto da
internet, sendo que este é o nosso objeto de estudo, as práticas sexuais podem tornar-se,
eventualmente, alvos de condenação pública (Souza Ribeiro, 2017).
Muito conteúdo pornográfico está disponível de forma gratuita, contudo, este material gratuito
não substitui a pornografia paga. Na verdade, os produtores de pornografia utilizam a pornografia
que é gratuita para incentivar o consumo de conteúdos que são pagos (P. Lopes, 2013). Assim, a
pornografia na internet engloba também uma vertente possivelmente económica. Estas plataformas
essencialmente gratuitas têm pouco ou nenhum controlo sob quem as acede, ou seja, qualquer pessoa
de qualquer idade pode assistir aos conteúdos disponibilizados. Sendo que a internet se tornou num
fenómeno de globalização especialmente particular, é possível, agora, transpor a grande velocidade
diversos tipos de fronteiras antes impenetráveis: o consumo de pornografia torna-se cada vez mais
fácil.
Ora, alguns cientistas defendem que o vício em pornografia, eventualmente, pode ter o risco
de acartar danos físicos, psicológicos e emocionais à pessoa viciada em questão (Rosa, 2020). Quanto
maior o consumo, maior é a urgência de procurar novos estímulos pornográficos cada vez mais
extremos para se chegar ao mesmo prazer que se tinha antes de começar o ciclo de dependência.
Existem especialistas que defendem que homens viciados em pornografia, devido ao consumo
excessivo de tal conteúdo, acabam por desenvolver expectativas irrealistas sobre as mulheres;
naturalmente, desenvolvem, ainda, dificuldade em formar e manter relacionamentos e em se sentirem
sexualmente satisfeitos (Santiago, Postal, Paradella, Bostelmam, & Cyrino, 2018). Esta visão
deturpada dos homens sobre as mulheres pode refletir-se em violência para com a mulher e
desigualdade entre os dois géneros: a mulher pode ser vista apenas como um meio de obter prazer.
Salienta-se que cerca de 80% dos homens assistem pornografia semanalmente, o que os torna o maior
consumidor destes conteúdos. No entanto, repare-se que 30% das mulheres dizem assistir conteúdos
pornográficos todas as semanas, assumindo que o vício influenciou negativamente os seus
relacionamentos (Rosa, 2020).
Conclusões
Para estudar as práticas sexuais é preciso, atualmente, compreender o papel de importância da
internet para a pornografia. A internet transformou tanto o processo de produção, como de divulgação,
venda e consumo de conteúdos pornográficos: a chegada da internet facilitou, assim, o acesso rápido,
simples e frequente do consumo de pornografia. Com efeito, a internet juntamente com os avanços
tecnológicos de digitalização da informação reinventou a pornografia.
Pode-se dizer que a pornografia está cada vez mais a transformar o sexo em uma espécie de
mercadoria, pois acaba por piorar os relacionamentos entre indivíduos e a sua sexualidade. As
imagens pornográficas estão disponíveis para consumo na privacidade da casa do consumidor através
da internet e a acessibilidade e o anonimato ligados ao online atraíram um público mais amplo. Com
isto, percebemos que a pornografia pode trazer consequências positivas, mas a incidência de
resultados negativos é evidentemente superior a vários níveis.