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Centro de Ciências Sociais e Humanas

Departamento de Filosofia
Curso de Licenciatura em Filosofia
Professor Noeli Dutra Rossatto

Vítor Albieiro Brasil


Matrícula: 201910222

Resenha do Livro XI (Tempo) das Confissões de Agostinho

O tempo é, realmente, um ente? Se tem como um Ser? Como podemos perguntar-nos


qual a medida de uma faixa de tempo, dado a suposição que o tempo não existe?
Quando declaramos que um período de nossa vida foi de um tempo longo e que um
período que vamos viver será de um tempo curto, utilizamos a nossa percepção para
determinarmos e afirmarmos essas durações. O que ocorreu, o que ficou no passado, já
não é mais; e o que ocorrerá, ainda não é, pois ainda não existe. Se o que nos sobra é
essa formulação – o que já foi (o passado) e o que será (o futuro) – dependemos do
presente para formula-la.
Ainda que utilizemos o tempo presente para formular, como vamos lembrar e formular
sobre um tempo passado ou imaginar e estipular um tempo futuro, se essas duas
categorias de tempo dependem da existência do tempo (que não existe)? Não podemos
realmente calcular, nesses casos, porque não dominamos (não compreendemos) o
elemento do passar do tempo e, por isso, utilizamos a sensibilidade para formular tais
cálculos. Fazer-se uso da sensibilidade para calcular, não é calcular.
Apesar de não ter a capacidade de compreender o passar do tempo, posso indicar onde
esse tempo esteve. No passado, dependo de minha memória, no presente, de minha
atenção ou visão, e no futuro, de minha esperança ou expectativa. Não existem
exatamente o passado, o presente e o futuro. Existem o presente do passado, o presente
do presente e o presente do futuro, visto que também dependo de mim, do eu, da minha
alma, para calcular esses tempos a partir do momento presente que realizo o cálculo.
Teríamos o artificio de medir o tempo quando esse passa, ou seja, medir o passar o
tempo. Mas, onde realizaríamos essa medida? O passado não existe, o presente não tem
extensão e o futuro ainda não existe. Se estamos impossibilitados de usar o que não
existe, ainda ficamos com o tempo presente sem extensão e, ao querermos medir o
passar do tempo, implicitamente queremos medir um espaço de tempo. Como medir um
espaço se o que nos resta não tem extensão? Agostinho nos apresenta a noção de
distensão.
O tempo não pode ser dado como o transcorrer do dia para noite ou do sol dando lugar a
lua, porque o tempo não depende de uma mecânica de corpos que o possibilitaria existir.
O tempo é a medida da duração dos movimentos e de toda ação. Essa medida de
duração só está habilitada graças ao espírito, que guarda as impressões dadas pelo
passar do tempo. Impressões do tempo presente, do tempo passado e do tempo futuro.
A atividade do espírito acaba ficando tendida com a presença de três operações distintas
que se interagem/se interligam: o presente, o passado e o futuro (memória, atenção e
expectativa), assim, distendendo-se. Por fim, só um espírito tendido se abre e, se
distende.

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