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IV Domingo do Advento

“José, sinal e mistério”

No quarto domingo do Advento (A) aparece na liturgia o tema dos sinais. O rei Acaz habituado
a confiar nas alianças humanas, por vezes soturnas, para equilibra-se ao poder, é desafiado por
Deus a pedir um sinal do alto. Resiste num primeiro momento, mas depois cede a proposta do
profeta Isaias: “não basta que andeis a molestar os homens, para quererdes também molestar
o próprio Deus? Pois isso, o próprio Deus vos dará um sinal: a virgem conceberá e dará à luz
um filho, e o seu nome será Emanuel” (Is 7, 14).

Para quem se acostumou a confiar no poder e nas seguranças humanas, como Acaz, passar
agora a esperar em uma aliança que venha do alto e da fé é um processo bem mais exigente.
Se faz necessário dilatar o coração e abandonar-se em Deus. O interessante aspecto que a
liturgia do IV domingo do Advento nos faz meditar é que estes sinais e alianças que fazemos
com Deus, não são totalmente transcendentais, como se estivessem fora do espaço-tempo da
humanidade, pelo contrário, são mediados por uma participação humana, quase sempre
paradoxal, mas humana.

O sinal dado a Acaz é o de uma virgem que ‘conceberá e dará à luz a um filho, e o seu nome
será Emanuel’. O paradoxo está no centro da promessa: uma virgem que dá à luz. Na cabeça
do rei, habituado as seguranças das alianças espúrias, o sinal da Virgem-mãe é inconcebível.
Deus pede entrada na nossa vida e história muitas vezes por arestas que não esperamos. É
preciso estar atento aos seus sinais. Quando as coisas estão indo muito tranquilas, sem perigos
e riscos na vida cristã, comece a desconfiar, um ‘desconcerto’, um desajuste, uma mudança de
rota, pode ser a hora de Deus na nossa vida.

A segunda leitura nos coloca diante do trabalho do apóstolo Paulo. Início da célebre epístola
aos Romanos. Paulo escreve a uma comunidade diversa: feita de judeus emigrados há muito
da Palestina e romanos helenizados. Paulo sabe do mistério de sua vocação: “Por Ele
recebemos a missão de Apóstolo, a fim de levarmos a todos os gentios à obediência da fé ” (Rm
1, 5). Mas tem clareza de que o anuncio do Evangelho contém um paradoxo. O exórdio da
carta fala de dois nascimentos de Cristo: “nascido segundo a carne, da descendência de Davi,
mas segundo o Espírito que santifica, constituído Filho de Deus[...] Ele é Jesus Cristo, Nosso
Senhor” (Rm 1, 3). A recepção à epistola paulina, pelas comunidades judaico-cristãs não foi de
fácil absorção. Os que vinham da tradição judaica, queriam repetir as formas e tradições
mosaicas no acolhimento do evangelho e também exigir dos gentios esta mesma obediência
ao formalismo da Lei. A pregação paulina reitera a importância da “obediência”, porém uma
“nova obediência” dada à “fé”. Esta, sem dúvida integra o paradoxo do nascimento da carne
(mediação humana) e do nascimento do Espírito que santifica. A fé em Cristo, convida-nos a
um novo nascimento, a partir do alto, da fé e do Espírito: “vos é preciso nascer de novo” (Jo 3,
8)

O Evangelho de são Mateus, fala-nos do anuncio a são José sobre o nascimento de Jesus. José,
torna-se aqui uma antítese do rei Acaz (Is 7). Acaz, não confia em Deus e prefere alianças com
nações pagãs. José, é o homem justo que após receber anuncio que Maria sua esposa estava
grávida, resolveu repudiá-la em segredo e não a difamar. São José, tem o nome de patriarca.
Como José do Egito, Abraão e Isaac, são pais de filhos que nascem a partir da fé. O silêncio de
José diante do inusitado fato, não significa omissão, revolta e fechamento, mas meditação,
oração e recolhimento. É no seu recolhimento que Deus entra na vida de José. A aresta para
Deus passar foi o seu sono. Quando dormimos, estamos totalmente entregues, abertos e sem
resistências. O sono de José, marca parte de sua identidade como justo de Deus. José o justo,
estava aberto a Deus, e o Senhor o falou no sonho: “ José, filho de David, não temas receber
Maria como tua esposa, pois o que nela se gerou é fruto do Espírito Santo, Ela dará à luz um
Filho, e tú por-lhe-ás o nome de Jesus, pois Ele salvará o seu povo de seus pecados” (Mt 1, 20).

Mais uma vez Deus se revela no mistério paradoxal da Divina-humanidade: Como no sinal de
Acaz da Virgem-mãe, como nos dois nascimentos da epistola paulina: “Filho de David segundo
a carne, Filho de Deus segundo o Espírito e no inesperado episódio de São José. Vos é
necessário sempre nascer de novo, para cada um de nós e até mesmo para alguém como o
justo são José, foi-lhe necessário a aventura da fé e da confiança. Tenhamos sempre em nós a
atitude “desarmada diante de Deus de São José”.

Boa preparação ao Natal!

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