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8. O QUE É A CEIA?

Em parte herança, em parte novidade

Muita gente não se dá conta de que os


primeiros cristãos eram judeus. Aliás, tão
judeus quando foi Jesus. Ocorre que em
certo momento de sua vida entre os
homens Jesus começou a trilhar por um
caminho novo: deu grande ênfase à
necessidade do arrependimento genuíno, à
simplicidade, ao cuidado com as pessoas e
a uma vida conduzida não pela letra fria da
Lei, mas pelo amor e pela compaixão.
Além disso, Jesus não se apresentava apenas com um mestre como muitos
outros, mas como o próprio Filho de Deus. Como alguém capaz de perdoar
pecados.

Assim como Jesus reinterpretou muitos dos ensinamentos preservados pelos


judeus, os primeiros cristãos também reinterpretaram costumes e tradições
judaicas. Já falamos, numa lição anterior, sobre o batismo, uma prática rica
em significado, realizada pela imersão do candidato em água. Entre os judeus a
imersão do corpo visava sua purificação e tinha o nome de Mikvah (Lv 15,13).
Para nós, a imersão em água (ou batismo), significa: morte para nossos desejos
carnais, e nova vida em Cristo. Não visa, como no judaísmo, purificar pecados,
mas apenas cumprir uma ordenança de Jesus. Outra ordenança deixada por
Jesus é a ceia, uma cerimônia que celebra o sacrifício de Cristo por nós.

A ceia de Jesus

Embora seja possível encontrar alguns exemplos no Antigo Testamento


descrevendo refeições comunitárias, como Melquisedeque oferecendo pão e
vinho a Deus (Gn 14,17-20) a ceia cristã tem significado bem diferente. Pouco
antes de ser traído por Judas, Jesus repartiu pão, tomou um cálice nas mãos e
disse: “Tomem isto e partilhem uns com os outros. Pois eu lhes digo que não
beberei outra vez do fruto da videira até que venha o Reino de Deus”. Tal Reino,
embora inaugurado na ressurreição de Jesus, só se concretizará de forma
definitiva no retorno de Cristo para resgatar a sua igreja.

Participar da ceia significa, de acordo com 1Co 10, 16-17 “que o pão que
partimos é uma participação no corpo de Cristo” e que “somos um só corpo, pois
todos participamos de um único pão”. Em 11,24 e 25 surge a ordenança e o
propósito da ceia: “façam isto em memória de mim” (24), pois fazendo isto,
“vocês anunciam a morte do Senhor até que venha” (25). Imagine uma mãe cujo
filho partiu para uma viagem distante e que sempre põe a refeição na mesa à
espera de seu retorno. Pois é, a ceia funciona mais ou menos assim. Celebramos
um acontecimento muito esperado, que em algum momento vai se concretizar.

A ceia na igreja

Além do simbolismo apresentado no tópico anterior, a ceia tem outros


propósitos. É momento de reflexão, de autoexame: “examine-se o homem a si
mesmo, e então coma do pão e beba do cálice” (1Co 11,28). O texto não diz que o
cristão deve fazer um autoexame e decidir se deve ou não cear. Sugere que ele
deve olhar para si mesmo, fazer uma autoanálise, corrigir o que precisa ser
corrigido, e finalmente cear.

Por fim a ceia é também um momento de comunhão e partilha. Em sua


primeira carta aos Coríntios, Paulo adverte os cristãos da comunidade em
relação à negligência deste elemento importante. Ao que parece, alguns cristãos
estavam participando da ceia com o único propósito de saciar sua fome. Pior
que isso, uns comiam demais e não deixavam nada para os outros (1Co 11,21).
Paulo recomenda que “uns esperem pelos outros” (33) e que “se estiverem com
fome, que comam em casa” (34).

Como vimos, a ceia é repleta de significados e cumpre diversos


propósitos importantes: 1. Ela celebra o sacrifício de Cristo por nós, até que
ele retorne; 2. Estreita os laços que nos unem como corpo de Cristo; 3. Serve
como momento de autoexame; 4. Funciona como exercício de partilha e de
comunhão entre os irmãos.

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