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CANOAS, 2021
FILIPE DUARTE BARBOSA
CANOAS, 2021
AGRADECIMENTOS
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 5
2 JUSTIFICATIVA ................................................................................................................................ 6
3 OBJETIVOS....................................................................................................................................... 8
3.1 Objetivo geral ............................................................................................................................... 8
3.2 Objetivos específicos ................................................................................................................. 8
4 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................................. 9
4.1 Identidade de gênero e orientação sexual ............................................................................ 9
4.2 A Situação de pessoas transexuais e travestis no Brasil .............................................. 12
4.5 Transexuais em instituições militares no Brasil ............................................................... 23
4.5.1 Pesquisa documental na internet ........................................................................................... 23
4.5.2 Entrevistas realizadas .............................................................................................................. 25
4.6 Breve histórico do Corpo de Bombeiros no Estado do Rio Grande do Sul .............. 30
5 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO ................................................................................................ 32
5.1 Adequação dos editais do CBMRS a fim de possibilitar a utilização nome social e
áreas de uso comum conforme a identidade de gênero ....................................................... 32
5.2 Propostas secundárias de projeto ao CBMRS .................................................................. 35
5.2.1 Criação de um núcleo de apoio interno ................................................................................ 35
5.2.2 Canal de atendimento ao público externo ............................................................................ 37
5.3 Apresentação das propostas ao CBMRS ............................................................................ 38
6 CRONOGRAMA ............................................................................................................................. 40
7 RECURSOS ..................................................................................................................................... 41
8 RESULTADOS ESPERADOS ...................................................................................................... 42
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 43
5
1 INTRODUÇÃO
2 JUSTIFICATIVA
3 OBJETIVOS
4 REFERENCIAL TEÓRICO
1 Inicialmente, a sigla LGBT era conhecida como GLS (gays lésbicas e simpatizantes), mas sofreu
alterações ao longo dos anos (por busca de reconhecimento e visibilidade de mulheres lésbicas e pela
inclusão outras identidades de gênero e orientações sexuais), podendo também ser alterada
futuramente por novas questões que venham a surgir. Esta sigla pode ser encontrada em outras
versões, de acordo com o momento político e com as demandas defendidas por seus integrantes. Por
ser mais conhecida e utilizada por movimentos sociais e por órgãos públicos a sigla LGBT, esta será
convencionada para a utilização deste trabalho, não se limitando apenas aos grupos e identidades nela
destacados, mas sim a todos os grupos nela representados e incluídos em sua totalidade.
2 É necessário esclarecer que, no Brasil, muitos órgãos utilizam, de forma equivocada, a letra “T”
representando apenas a identidade de gênero transgênero como sendo esta uma identidade única e
global, ou baseando-se em distinções com base em procedimentos cirúrgicos. Cada identidade possui
uma grande complexidade e também possuem demandas diferentes, necessitando de políticas
públicas que atendam essas especificidades e respeitem sua história, garantindo sua
representatividade.
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3 As pessoas trans sofrem um tipo específico de discriminação: a transfobia, que engloba a violência
física, psíquica e moral, preconceito, intolerância e aversão às pessoas trans.
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ela não sofre apenas o ato manifestado de ódio ou repulsa (aquele que se vê ou
escuta, como agressão física ou verbal), o que já causa sérios impactos em sua vida.
O preconceito acaba trazendo consigo, também, a violência, a falta de oportunidade,
a rejeição e até mesmo a exclusão do convívio social, marginalizando essa pessoa e
a deixando em uma situação precária e de risco.
Essa intolerância tem uma origem cultural e estrutural: o concebimento do
modelo de família “normal” sendo aquele constituído apenas o de um casal
heterossexual e seus filhos. Louro (2014, p. 137-138) nos explica que essa forma de
organização social imposta como natural gerou um processo de naturalização do
conceito de família e do padrão heterossexual, o que significa “representar como não
natural, como anormal ou desviante todos os outros arranjos familiares e todas as
outras formas de exercer a sexualidade”. Esse padrão nos traz consequências que
podem ser vistas explícita ou implicitamente, sendo na forma como a sociedade age
em relação ao que se espera das pessoas (seu modo de ser, viver e se relacionar) ou
nas políticas públicas propostas por governos que consideram como única forma
concebível de família tradicional a considerada “normal”, apoiando movimentos
conservadores e religiosos.
Para Hack (2011, p. 63) “A dignidade da pessoa humana é um dos valores mais
importantes que qualquer Estado deve observar”, pois isso implica ao Estado a
adoção de políticas sociais, leis contra discriminação e contra qualquer condição
degradante que alguém possa sofrer. É através desse dispositivo que se encontra a
imposição do Estado de buscar e manter uma vida digna para todos.
4 Segundo o Mapeamento das Pessoas Trans no Município de São Paulo, apenas 58% da população
trans pesquisada estava realizando alguma atividade remunerada (seja ela formal ou informal), sendo
uma das principais barreiras na hora de conseguir um emprego o preconceito e a discriminação. Em
contrapartida, existem projetos como o EDUCATRANSFORMA, uma iniciativa voltada para a
capacitação gratuita de pessoas trans para atuarem no mercado de tecnologia, gestão e inovação,
contando com o apoio de organizações parceiras e pessoas voluntárias para, além de auxiliar na
formação de profissionais tecnicamente qualificados, apoiar as pessoas transgênero em todo seu
processo de inclusão social.
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Mesmo com a visível mudança em torno dos direitos para pessoas LGBT, com
base na dignidade da pessoa humana e no respeito à identidade e livre expressão do
indivíduo, e
5 Em 13 de junho de 2019, o Plenário do STF entendeu que houve uma omissão inconstitucional do
Congresso Nacional por não editar uma lei que criminalize atos de homofobia e transfobia, os
equiparando aos dispositivos da Lei n° 7.716 (lei que define os crimes resultantes de preconceito de
raça ou de cor), considerando estas condutas também como atos de discriminação e preconceito.
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da visão externa dessa população. Atualmente são poucas e esparsas as leis 6 que
promovem essas garantias, existindo sim pessoas que pensam nos direitos para o
público trans e travesti, mas não de uma forma globalizada.
6 Um dos exemplos de leis que defendem os interesses da população trans é a Lei nº 6.503 de 2020,
que estabelece normas gerais para realização de concurso público pela administração direta,
autárquica e fundacional do Distrito Federal, visando assegurar o respeito ao nome social. Leis
semelhantes são encontradas em todo o Estado justamente por não possuirmos uma lei unificada que
verse sobre essa temática.
7 Ainda hoje, é possível vermos propostas inconstitucionais e de teor preconceituoso, como o Projeto
de Lei 504, de 2020 (PL 504), que busca proibir a publicidade (por meio de qualquer veículo de
comunicação e mídia) de materiais que contenham ou façam alusão a preferências sexuais e
movimentos de diversidade sexual relacionados a crianças no Estado de São Paulo, com a justificativa
da defesa da família e dos bons costumes, alegando que esse tipo de divulgação traria desconforto
emocional a inúmeras famílias, não sendo adequada a crianças. Esse tipo de proposta associa pessoas
LGBT a algo impróprio, inadequado ou não correto, indo em total desacordo com os princípios e
fundamentos previstos na Constituição Federal Brasileira.
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intelectuais e integridade moral, conceituando-se como aqueles que têm por objeto os
atributos físicos, psíquicos e morais da pessoa em si e em suas projeções.
Temos a presença do direito da personalidade no Código Civil Brasileiro em
seu artigo 12, onde dispõe que, com exceção dos casos previstos em lei, os direitos
da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício
sofrer limitação voluntária, e, de acordo com Cunha (2014), o Código Civil Brasileiro
não aborda sobre os direitos da personalidade com uma amplitude adequada,
deixando muitas decisões serem resolvidas com base na doutrina e jurisprudência.
Cunha (2014) também evidencia que a defesa do ser humano deve sempre ser
o alvo principal do Direito e que, sendo o direito da personalidade inerente a todos,
toda vez que o indivíduo se encontrar em um impasse legal e necessitar do amparo
do Estado, poderá invocá-lo.
Seguindo a mesma linha de raciocínio dos outros autores, Scheibe (2008, p.
129) observa que “[...] a evolução e a construção da teoria dos direitos da
personalidade se confundem com a evolução dos direitos humanos e fundamentais,
assim como da dignidade da pessoa humana.” Vemos que há uma forte convergência
de todos estes autores nas questões da aplicação do direito da personalidade como
forma inerente de proteção ao ser humano e como base fundamental para as
garantias individuais, o respeito à vida, à honra, e a diversas outras áreas sociais,
mostrando grande valor e importância em nosso ordenamento jurídico.
Assim, cada pessoa busca sua individualidade e seu espaço dentro da
sociedade, no intuito de ser reconhecida dentro do seu círculo social das mais
variadas formas: seja através de sua aparência, modo de vida, nome, apelidos, seu
trabalho e obras intelectuais, dentre outros. Acontece que, a particularidade de cada
indivíduo também está presente juridicamente, pois o Estado irá reconhecer essa
pessoa através de seu nome em seu registro civil e assentamentos, documentos como
o Cadastro de Pessoa Física (CPF) e o Registro Geral (RG), nível de escolaridade,
títulos como graduações, sendo justamente esse um importante âmbito onde direito
da personalidade irá atuar.
acesso à justiça e aos direitos sociais tende a ser negado ou, ao menos,
dificultado. (FERREIRA, 2018, p. 81).
Por não possuir uma lei nacional que trate sobre a retificação do nome e sexo,
as pessoas trans que acionavam o Poder Judiciário não tinham uma certeza do que
poderia acontecer, pois cada estado tratava esse assunto de maneira distinta, o que
implicava em decisões bastante diferentes. Ferreira (2018, p. 80-81) afirma que, por
falta dessa lei nacional, nem os movimentos sociais poderiam afirmar com absoluta
certeza o que seria requisitado em cada processo.
Para Costa e Botton (2020, p.75), "a falta do devido reconhecimento às pessoas
trans repercute em violações de seus direitos identitários." O decreto n° 8.727, de 28
de abril de 2016 (que versa sobre o uso do nome social por transexuais e travestis no
âmbito da Administração Pública Federal Direta, Autárquica e Fundacional) é uma das
formas de devido reconhecimento à autonomia corporal das pessoas trans.
Esse decreto promove uma tentativa de respeito à diversidade sexual e
demonstra o devido reconhecimento por parte do Estado, através do Poder Executivo,
às identidades das pessoas transexuais. Outra forma de assegurar o exercício
identitário dos interesses dos direitos inerentes às pessoas trans implica na
adequação de sua documentação do registo público de acordo com a sua identidade
de gênero.
A Ação Direta de Inconstitucionalidade 4.275 (ADI 4275), garantiu a alteração
do sexo e prenome no registro civil para pessoas transgêneros no Brasil,
independentemente da cirurgia de redesignação sexual, de laudo psiquiátrico ou de
processo judicial. Ela utilizou três premissas básicas, sendo elas: o direito à igualdade
sem discriminações (que abrange a identidade ou expressão de gênero); que a
identidade de gênero é a manifestação da própria personalidade da pessoa humana,
cabendo ao Estado apenas o papel de reconhecê-la e nunca de constituí-la, e que a
pessoa não deve provar o que é, não devendo o Estado condicionar a expressão da
identidade a qualquer tipo de modelo, ainda que meramente procedimental. Para
Costa e Botton (2020, p. 80) essa decisão é um marco histórico no reconhecimento
da liberdade e da autonomia das identidades sexuais, em especial a de pessoas trans.
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[...] através de processo judicial (e cada juiz/a tem tratado essa demanda do
seu jeito), e apesar de termos no Brasil uma proposta de lei baseada na
autodeterminação de gênero (quer dizer, na ideia de que a pessoa não
precisa de um parecer técnico para determinar quem ela é, tampouco precisa
ser tratada como doente), essa proposta não tem sido movimentada já que o
argumento comum é de que isso levaria a uma banalização da troca de nome
e que pessoas cisgênero buscariam essa possibilidade para fugir de
compromissos jurídicos atrelados ao nome que tinham, ou então para
ascender a benefícios sociais (como, por exemplo, o fato de que pessoas do
’sexo jurídico feminino’ no Brasil podem se aposentar mais cedo).
(FERREIRA, 2018, p. 140).
Para Lins, Machado e Escoura (2016, p. 78) “[...] chamar uma pessoa
visivelmente feminina pelo nome masculino, dado quando ela nasceu, demonstra que
a sociedade não aceita sua identidade e é mais uma forma simbólica de violentá-la.”
Para os autores, no que diz respeito à legislação brasileira, as pessoas trans não
possuem garantias jurídicas que assegurem certos direitos fundamentais.
23
Isso indica que não há uma preocupação da instituição com a população trans,
pois, mesmo após o caso de Marcelo, não houve uma atualização e adequação dos
editais da PMPE com a nova realidade em que estamos inseridos.
9
É importante salientar que os termos “transexualismo” e “homossexualismo” são incorretos e não
devem ser utilizados, pois o sufixo “ismo” remete a uma condição patológica.
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justamente para ajudar a entender melhor o que era toda essa situação e poder
recebê-la melhor.
Alega não ter sofrido preconceito e que, quando seus colegas souberam de sua
história, recebeu muitas mensagens de apoio, considerando isso algo que a
surpreendeu positivamente. Quando precisou efetuar a retificação de seus
documentos a nível de corporação, encontrou muitas dificuldades, sendo algo que
demorou muito e teve muitos entraves, mas não sabe dizer se isso foi por preconceito
(a nível de Estado) ou se foi simplesmente por não saberem como lidar com uma
situação nova.
Quando efetuou sua retificação de nome e gênero e alterou todos os
documentos civis, levou esses documentos para a corporação e solicitou a alteração
de seus dados cadastrais como servidor público. Como efetuou vários requerimentos
e a situação não modificava, algumas pessoas a informavam que não poderia alterar
a raiz do sistema, ou ainda que necessitavam analisar as questões previdenciárias,
chegando ao ponto em que teve que ingressar com uma ação judicial exigindo seus
direitos. Em 2020, o juiz que estava julgando sua causa determinou que a Polícia
Militar alterasse todos os seus documentos.
Atualmente, se sente em paz, feliz e realizada, pois antes de realizar sua
transição de gênero, não tinha metas nem sonhos, pois sua cabeça estava sempre
girando em torno disso. Em relação a si e à instituição, entende que esse é um
processo, um caminho que ainda está se construindo. A cada dia que passa percebe
que as pessoas estão se acostumando, que esta é uma situação normal e que ela é
uma pessoa igual a qualquer outra. Ela considera que tudo ocorreu além de suas
expectativas e do que imaginava, pois esperava um cenário bem pior. Afirma estar
satisfeita com a forma como a sua vida está sendo conduzida, tanto pessoalmente
quanto profissionalmente.
Para ela, a falta de informação ainda é grande e as pessoas possuem muitas
dúvidas nas temáticas de gênero e sexualidade. A nível de instituição, considera que
há muita coisa ainda para se desenvolver, principalmente nos concursos públicos e
editais que ainda não contemplam as situações de identidade de gênero, nome social
e utilização de espaços de uso comum, além da própria forma como essas pessoas
são tratadas no dia a dia. Pontua que o mais importante seria a previsão nos editais
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para que a pessoa possa concorrer com o gênero ao qual se identifica, mas com
regras definidas com relação a parte do Teste de Aptidão Física10 (TAF).
Quando sua história saiu na mídia, muitas pessoas começaram a procurá-la e
ela acabou criando perfis em rede sociais para tentar ajudar essas pessoas que
enviavam perguntas, geralmente sobre como ela fez para ingressar na carreira militar,
quais dificuldades teve, se era preciso alterar o nome, dentre outras orientações, tudo
baseado no conhecimento jurídico que desenvolveu para poder ajudar a si mesma.
Seu maior medo na época em que efetuou a transição de gênero não era o
desligamento, mas sim a reforma compulsória, pois dentro do Exército e da Marinha,
conhecia pessoas que foram reformadas compulsoriamente. Alega que não queria ser
reformada como se tivesse uma doença ou algo que a incapacitasse e que, durante
todo esse processo da transição, ocorreram mudanças como a situação da
Organização Mundial de Saúde e, posteriormente, do Conselho Federal de Medicina
que retirou o transtorno de identidade de gênero da modalidade dos transtornos
mentais, passando a ser incongruência, trazendo uma garantia no sentido de que essa
reforma seria mais difícil de ser realizada, pois antes havia o pretexto de que era uma
doença mental.
Houve também uma terceira entrevista, esta realizada com um homem trans
da região sul do país, o qual trabalha na área da segurança privada e possui grande
interesse em participar de concursos públicos da segurança pública, em especial, da
polícia militar, dos bombeiros e da guarda municipal. Inicialmente, ele questionou-me
se era possível identificá-lo ou não como um homem trans. Logo após, abordou sobre
o termo “passabilidade”, que é quando uma pessoa não é identificada como trans
pelas outras pessoas nos locais públicos ou privados que frequenta. Ele pontua que,
possuir o registro civil de acordo com sua identidade de gênero e a passabilidade, nos
locais onde frequenta, faz com que as pessoas não o identifiquem como um homem
trans. Caso a pessoa transexual ou travesti não possua essa passabilidade, acabará
10
Recentemente, o Comitê Olímpico Internacional (COI) passou a utilizar determinadas regras para a
participação de atletas trans nas Olimpíadas. Para que possam concorrer nas disputas como atletas
profissionais, as pessoas trans precisam atender a certos requisitos, como apresentar determinados
níveis hormonais (obtidos através de exames clínicos) e contagem de tempo mínima que essa pessoa
iniciou com a transição de gênero. Mesmo que muitas pessoas sejam contra a participação de pessoas
trans em competições, é importante lembrar que em 1941, no Brasil, havia o Decreto-Lei nº 3.199, que
impedia mulheres de participar de esportes considerados “graves e violentos” como o futebol, esporte
mais popular do país. Somente em 1979 este Decreto-Lei foi revogado e as mulheres garantiram o
direito de praticar esta e outras modalidades.
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se tornando mais vulnerável a sofrer agressões e preconceitos por ser mais facilmente
identificada.
Além da passabilidade, também influenciam as situações de preconceito contra
a classe social da pessoa, etnia, gênero, entre outros, sendo estas agregadas à
transfobia, ou seja, uma mulher trans e negra sofrerá mais preconceito que um homem
trans branco pelo fato de se identificar como mulher e ser negra.
Por ter alterado seu registro civil, ele teve de comparecer na Junta de Serviço
Militar do Exército Brasileiro, pois a Lei n° 4.375 (Lei do Serviço Militar) obriga que
todo brasileiro do sexo masculino, entre 18 e 45 anos, aliste-se nas forças armadas.
Informou que foi bem recebido pela Junta Militar, sendo tratado com respeito e
dignidade, não sofrendo nenhum tipo de preconceito ou constrangimento. No
momento da inspeção de saúde, ele comunicou que era um homem trans e foi
examinado em uma sala separada.
Ele afirma que a passabilidade faz com que se sinta mais seguro em ambientes
onde há maiores chances de sofrer preconceito por ser transexual. Acredita que,
mesmo que seja previsto no edital o respeito à identidade de gênero, devem ser
efetuados treinamentos e instruções para que se garanta o efetivo respeito dos
participantes transexuais e travestis. Outro ponto abordado foi sobre a situação da
exposição da vida pessoal de pessoas trans que ocupam cargos de grande
importância ou que sejam pioneiras em determinadas instituições ou cargos públicos.
Obviamente, todas as pessoas trans que passaram por essa situação e tiveram sua
história divulgada na mídia servem como grande exemplo de superação e conquista,
mas essa exposição também pode acarretar riscos à integridade física e psicológica
dessas pessoas, por conta do preconceito e transfobia presentes em nossa
sociedade.
Mesmo que pessoas trans com alta passabilidade ocupem cargos públicos,
muitas podem não comentar sobre sua situação justamente por não se sentirem
seguras em nossa sociedade ou até mesmo em seu local de trabalho, seja por medo
de perderem seus empregos, pelo preconceito, pelos altos índices de violência e taxas
de crimes contra à vida de pessoas trans ou pela expectativa de vida da população
transexual e travesti ser de aproximadamente 35 anos.
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11
Ilustração extraída do website do CBMRS. Disponível em: <https://www.bombeiros.rs.gov.br/dia-
internacional-do-orgulho-lgbtqia>. Acesso em: 28 jun. 2021.
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5 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
A Polícia Civil do Rio Grande do Sul (PCRS) deu um grande passo em prol da
visibilidade trans, incluindo em seu edital de 2017, na parte de conteúdo programático
da prova objetiva, itens como o tratamento nominal, inclusão e uso do nome social de
travestis e transexuais nos registros estaduais relativos a serviços públicos prestados
no âmbito do Poder Executivo Estadual e a Carteira de Nome Social para Travestis e
Transexuais no Estado do Rio Grande do Sul (Decreto n° 48.118, de 27 de junho de
2011 e Decreto n° 49.122, de 17 de maio de 2012), além dos seguintes parágrafos:
5.7.O candidato transgênero que desejar requerer ser tratado pelo nome
social durante a realização das provas e de qualquer outra fase presencial,
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Antes da Lei Maria da Penha, nos anos 1980, o Brasil havia sido pioneiro em
outra política pública ligada à violência contra mulheres: a criação de
delegacias especializadas. Em 1985, na cidade de São Paulo, foi inaugurada
a 1ª Delegacia de Defesa da Mulher (órgão da Polícia Civil) do mundo, com
o intuito de ser um espaço de atendimento interdisciplinar às diversas
situações de violência às quais as mulheres podem ser submetidas. Nas
últimas décadas delegacias especializadas no atendimento a mulheres em
situação de violência foram criadas nas demais unidades federativas do país.
Em cada estado, essas delegacias têm suas próprias regras de
funcionamento e atribuições, mas, em geral, costumam atender com maior
frequência denúncias de violência doméstica ou familiar e sexual.
Muito embora ainda sofram críticas por não conseguirem corresponder, na
prática, aos objetivos estabelecidos em sua criação, as delegacias
especializadas são importantes conquistas no que diz respeito aos direitos
das mulheres, e seu modelo inspirou a criação de políticas semelhantes em
outros países, como Peru e Equador.
Embora existam delegacias específicas, menos de 10% dos municípios
brasileiros contam com espaços policiais especializados no atendimento a
mulheres em situação de violência. (LINS; MACHADO; ESCOURA, 2016, p.
47-48).
12 Um bom exemplo de política pública em defesa e proteção da mulher é o Disque 180 (Central de
Atendimento à Mulher). Ele funciona diariamente, 24 horas por dia, recebendo e registrando denúncias
de violência contra a mulher (como estupro e agressão física), podendo ser realizado o contato
diretamente pela própria vítima ou também por testemunhas que presenciaram a agressão.
37
14 A ANTRA disponibilizou em seu website um guia informativo sobre alistamento militar para travestis,
mulheres e homens trans, cujo nome e sexo foram retificados em seu registro civil. Ao retificar o gênero
civil para “masculino”, passa a ser obrigatório o alistamento militar para a pessoa travesti ou transexual
que se encontrar nessa situação. É possível encontrar esse guia e outras cartilhas no website da
ANTRA, disponível em: <https://antrabrasil.org/cartilhas/>.
39
6 CRONOGRAMA
Inclusão da opção X
de uso do nome
social e áreas de
uso comum nos
editais
Definição de uma X
comissão que irá
atuar no núcleo
de apoio interno
Definição dos X X X
integrantes que
atuarão no núcleo
de apoio interno
Início das X
atividades do
núcleo de apoio
interno
Início das X
atividades do
canal de
atendimento ao
público externo
Disponibilização X
da cartilha e
perguntas
frequentes no site
Fonte: Autoria própria (2021).
41
7 RECURSOS
8 RESULTADOS ESPERADOS
REFERÊNCIAS
CONNEL, Raewyn. Gênero: uma perspectiva global. São Paulo: nVersos, 2015.
CORPO DE BOMBEIROS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Histórico.
Porto Alegre, 21 mai. 2018. Disponível em:
https://www.bombeiros.rs.gov.br/historico. Acesso em: 9 jun. 2021.
GARCIA, Carla Cristina. Breve história do feminismo. São Paulo: Claridade, 2015.
KER, João. Os 13 são os novos 35?. Revista Híbrida, jan. 2021. Disponível em:
https://revistahibrida.com.br/2021/01/21/os-13-sao-os-novos-35/. Acesso em: 30 abr.
2021.
TOMAZ, Kleber. Polícia Militar de São Paulo tem 1º policial transexual em quase
200 anos de história. G1 SP, Ituverava, 18 abr. 2019. Disponível em:
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/04/18/policia-militar-de-sao-paulo-
tem-1o-policial-transexual-em-quase-200-anos-de-historia.ghtml. Acesso em: 5 mar.
2021.