Você está na página 1de 25

UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO

FACULDADE DE DIREITO

João Carlos Ribeiro

COTAS RACIAIS EM CONCURSOS PÚBLICOS


FEDERAIS: (IN)CONSTITUCIONALIDADE

Lagoa Vermelha
2014
João Carlos Ribeiro

COTAS RACIAIS EM CONCURSOS PÚBLICOS


FEDERAIS: (IN)CONSTITUCIONALIDADE

Projeto de pesquisa jurídica apresentado ao curso de


Direito, Faculdade de Direito, da Universidade de
Passo Fundo, como requisito à aprovação na
disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso I, sob
a orientação do Ms. Daniel Menegaz.

Lagoa Vermelha
2014
RESUMO

O sistema de cotas raciais como forma de ação afirmativa busca estabelecer políticas de
igualdade e justiça social. As ações afirmativas são medidas temporárias de políticas públicas
que tem por objetivo promover pessoas de certos grupos, minorias, considerados excluídos e
discriminados, possibilitando-lhes a igualdade de oportunidades. As tais ações afirmativas
têm como principal marco histórico os Estados Unidos, onde foram implantadas com o
objetivo de promover a igualdade de negros na sociedade civil. No Brasil esse sistema foi
implantado e tem como principal e mais notória ação afirmativa a reserva para aqueles que se
autodeclararem negros, pardos e indígenas nas universidades públicas. E como mais recente
discussão sobre a constitucionalidade ou não do Projeto de Lei 6.738/13 que visa garantir
percentual de vagas a negros e pardos em concursos públicos federais bem como a análise dos
princípios constitucionais, que podem ser violados, referentes à Administração Pública.

Palavras-chave: Políticas de ação afirmativa, Cotas em Concursos Públicos Federais,


(In)Constitucionalidade, Princípios da Administração Pública.
SUMÁRIO

1 TEMA......................................................................................................................................4
2 DELIMITAÇÃO DO TEMA................................................................................................5
3 JUSTIFICATIVA...................................................................................................................6
4 OBJETIVOS...........................................................................................................................8
4.1 Objetivo Geral............................................................................................................8
4.2 Objetivos Específicos.................................................................................................8
5 PROBLEMATIZAÇÃO........................................................................................................9
5.1 Formulação do problema..........................................................................................9
5.2 Hipóteses.....................................................................................................................9
6 REVISÃO DE LITERATURA...........................................................................................11
6.1 AÇÕES AFIRMATIVAS........................................................................................11
6.1.1 Origem das ações afirmativas....................................................................11
6.1.2 As ações afirmativas no Brasil...................................................................12
6.1.3 Ações afirmativas para auto declarados pretos, pardos e indígenas......13
6.2 OS PRINCÍPIOS.....................................................................................................14
6.2.1 Princípio da igualdade X Concursos Públicos..........................................15
6.2.2 Princípio da meritocracia nos Concursos Públicos..................................15
6.2.3 Princípios Constitucionais da Administração Pública.............................16
6.3 LEGISLAÇÃO NO BRASIL..................................................................................17
6.3.1 Projeto de Lei 6.738/13...............................................................................18
6.3.2 Autodeclaração de cor................................................................................18
6.3.3 Previsão Constitucional..............................................................................19
7 CRONOGRAMA.................................................................................................................21
8 ESTRUTURA PROVISÓRIA............................................................................................22
9 REFERÊNCIAS...................................................................................................................23
1 TEMA

Cotas raciais em concursos públicos federais e os princípios da administração


pública.

4
2 DELIMITAÇÃO DO TEMA

A (in)constitucionalidade das cotas raciais em concursos públicos federais.

5
3 JUSTIFICATIVA

O presente trabalho é importante como forma de esclarecimento sobre mais uma


ação de afirmação pretendida pelo país, e que visa garantir uma forma diferenciada de
aprovação em concursos públicos federais aos que se auto-declararem pretos ou pardos.
Também há a necessidade de se analisar constitucionalmente esse benefício que coloca em
jogo a imagem e efetividade dos serviços públicos, onde não se aprovaria mais seus
servidores por mérito e sim pela cor da pele. Salientando-se que os serviços públicos devem
ser prestados com extrema eficiência.
O projeto de lei 6738/13 reserva aos negros vinte por cento das vagas oferecidas nos
concursos públicos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da
administração pública federal, das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas
e das sociedades de economia mista controladas pela União. Este critério será sempre adotado
quando as vagas do concurso for igual ou superior a três. O texto do projeto pode ser
interpretado como incoerente em alguns tópicos tornando desproporcional a concorrência com
os demais candidatos do certame quando diz que os candidatos negros além de concorrerem
as suas vagas reservadas também concorrem com os demais candidatos nas vagas de ampla
concorrência. Assim, nota-se que há um certo exagero e um desvio da verdadeira finalidade
das ações de afirmação pelo sistema de cotas.
Se trará como oposição e forma de enriquecimento da discussão ao projeto citado um
projeto contrário à primeira ideia, o PL 7225/14, que visa a proibição da instituição do sistema
de cotas em concursos públicos, e tem em seu texto que a Constituição Federal garante a
igualdade de todos perante a lei (art. 5º, caput) – é o chamado princípio da isonomia. Nesse
sentido, a igualdade racial decorre logicamente do princípio da isonomia.
Nas Universidades, o tal sistema de cotas é uma forma verdadeira de inclusão dos
afro-descendentes que, historicamente, foram pisoteados, mas ai está falando-se em educação
que prepara o indivíduo para o mercado de trabalho. Esta é uma maneira de oportunizar à
pessoa uma base de estudos que depois juntando com seus méritos e esforços possa garantir-
lhe uma possibilidade de aprovação em concursos públicos.
Com base nesses projetos, artigos, doutrinas, posicionamentos de estudiosos, e
juristas, se buscará mostrar se a instituição das cotas raciais nos concursos públicos fere a
essência dos princípios norteadores da Constituição Federal do Brasil. Inclusive, até que
ponto isso poderia reforçar ou aumentar a discriminação no país. Caso aprovado o projeto que
6
institui o percentual mínimo de vagas reservadas para negros, o país poderá estar assinando a
sua nota de incompetência legislativa e operacional, pois estas pessoas aprovadas por critérios
fracos e desmedidos podem estar inclusas dentro de um sistema de discriminação legal a
serviço da administração pública.
A administração pública brasileira é regida por alguns princípios que são a razão de
ser do serviço público, e que deve ser prestado com eficiência e com a maior qualidade
possível. Esses princípios podem estar ameaçados pela instituição destas formas de ingresso,
as quais não medirão o mérito dos melhores, ou seja, mais bem classificados, e sim a cor da
pele do concorrente. Fato que também é bastante relativo e contestável, visto que negros ou
pardos se auto-declaram, não será medido tecnicamente seu nível de melanina, traços típicos
ou descendência hereditária verdadeira sobre a sua origem racial. Simplesmente o candidato
dirá que se enquadra no sistema das cotas e uma contestação dessa auto-declaração pode se
tornar um empecilho à administração pública que poderá ser acionada judicialmente pelo
indivíduo sob a alegação de ter sido discriminado.
Em suma, a pesquisa a ser realizada buscará elencar a efetividade das ações
afirmativas, com enfoque no sistema de cotas em concursos públicos. Será tratado também a
evolução histórica das ações afirmativas e a suposta dívida com a população negra com
abordagem aos aspectos relevantes sobre as ações afirmativas e o seu surgimento no Brasil.
Em seguida se examinará o sistema de cotas frente ao princípio constitucional da igualdade,
como também se verificará quais os princípios que fundamentam os concursos públicos. Na
sequência se estudará os princípios que regem a administração pública com ênfase ao
princípio da eficiência e para finalizar o presente estudo será analisado se essa política
efetivamente favorece os negros e pardos.

7
1 OBJETIVOS

4.1 Objetivo Geral

O objetivo principal do presente trabalho é verificar se a aprovação do Projeto de Lei


6738/13 trará uma forma (in)constitucional de reserva de vagas para negros nos concursos
públicos federais.

4.2 Objetivos Específicos

 Pesquisar o surgimento histórico do sistema de cotas raciais;


 Abordar os aspectos relevantes sobre as ações afirmativas e o seu surgimento no
Brasil;
 Examinar o sistema de cotas raciais nos concursos públicos em âmbito federal frente
ao princípio constitucional da igualdade;
 Verificar os princípios que fundamentam o concurso público;
 Estudar os princípios da administração pública;
 Analisar se essa política realmente favorece os negros e pardos;
 Legislação no Brasil.

8
2 PROBLEMATIZAÇÃO

5.1 Formulação do problema

 O sistema de cotas raciais em concursos públicos é (in)constitucional?


 Qual a efetividade desse sistema nos concursos públicos frente aos princípios
constitucionais da igualdade e justiça e os princípios da Administração Pública?

5.2 Hipóteses

Sim, a estipulação do sistema de cotas raciais em concursos públicos federais é constitucional,


pois estaria vinculado ao texto legal, em uma interpretação extenssiva, por meio das ações
afirmativas destacando-se as seguintes passagens na Constituição: Art 3°, III - erradicar a (...)
marginalização e reduzir as desigualdades sociais (...) Art 170°, VIII- redução das
desigualdades (...) sociais;(...); Art 3° , IV- promover o bem de todos , sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação; (...) Art 23, X-
combater as causas da pobreza e os fatores da marginalização, promovendo a integração
social dos setores desfavorecidos; (...) Art.227, II- criação de programas (...) de integração
social dos adolescentes portadores de deficiências; (...)

Não, tal estipulação estaria indo de encontro à Constituição Federal, pois não existe norma
expressa no texto legal possibilitando a criação desse sistema, diferente de como ocorre com a
destinação de vagas nos concursos públicos para pessoas com deficiência física, Art. 37. A
administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: VIII - a lei reservará percentual
dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os
critérios de sua admissão; também estaria ferindo outros artigos do referido texto, como:
artigo 3º - Constituem objetivos fundamentais da Republica Federativa do Brasil: IV –
promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação; artigo 5º - todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza caput), no inciso I, declara que homens e mulheres são iguais em direitos
e obrigações (...);artigo 7º, XXX e XXXI proibindo distinções à diferença de salários, de
9
exercício de funções e de critério por motivo de sexo, idade, cor estado civil e qualquer
discriminação no tocante a salário e critério de admissão do trabalhador portador de
deficiência e artigo 19 - É vedado à União, Estados e Municípios: criar distinções entre
brasileiros ou preferências entre si.

10
3 REVISÃO DE LITERATURA

6.1 AÇÕES AFIRMATIVAS

As ações afirmativas são medidas temporárias de políticas públicas que tem por
objetivo promover pessoas de certos grupos, minorias, considerados excluídos e
discriminados, possibilitando-lhes a igualdade de oportunidades. Segundo o ministro Joaquim
Barbosa Gomes, as ações afirmativas “definem-se como políticas públicas (e privadas)
voltadas à concretização do princípio constitucional da igualdade material e à neutralização
dos efeitos da discriminação racial, de gênero, de idade, de origem nacional e de compleição
física”.
Na opinião do autor Álvaro Ricardo de Souza Cruz, as ações afirmativas são uma
necessidade temporária de correção de rumos na sociedade, um corte estrutural na forma de
pensar, uma maneira de impedir que relações sociais, culturais e econômicas sejam
deterioradas em função da discriminação. (SOUZA CRUZ, 2003, P.173).
Essas ações afirmativas surgiram com o fito de concretizar o princípio da igualdade e
são destinadas a estabelecer um sistema de cotas aos grupos considerados minorias, que
podem ser de deficientes físicos, de pessoas de certas raças discriminadas, de classes sociais,
de mulheres ou outros considerados hipossuficientes. As ações afirmativas tem como
objetivos reduzir desigualdades e está em foco no momento atual brasileiro, pois busca
garantir mais uma forma de ação afirmativa através da reserva de vagas em concursos
públicos federais a negros e pardos.

6.1.1 Origem das ações afirmativas

Como referência histórica das ações afirmativas deve-se levar em conta a


contribuição dos Estados Unidos que na década de 1960, através da adoção de medidas,
garantia aos negros a possibilidade de participação mais ativa na sociedade civil. Tais
medidas atingiam desde os empregadores civis que tiveram que alterar suas políticas
possibilitando a inclusão dos afro-americanos, como também a promoção de cargos aos
negros. As ações afirmativas também foram estendidas aos contratos do governo e as
universidades que foram obrigadas a estabelecerem medidas de favorecimento à população
negra. Defende-se a ideia que as ações afirmativas são formas de discriminação lícitas e
11
necessárias à consolidação do Estado Democrático de Direito e que a integração das minorias
garantiu ao Estado americano uma nova visão de integração das minorias, sem cunho de
obrigatoriedade. Assim naturalmente a própria sociedade começa a criar maneiras de se auto-
afirmarem, de criarem políticas de inclusão, as chamadas “Voluntary Affirmative Actions”.
As ações afirmativas não se resumem somente aos Estados Unidos, também a outros
países, como a Índia que busca garantir direitos de igualdade aos menos favorecidos com
reserva de vagas no parlamento, nas universidades e no funcionalismo público, na Nigéria que
busca os direitos de diversas etnias e das mulheres, na Malásia onde foi adotado medidas para
evitar uma discrepância de direitos dos malaios diante dos chineses, americanos e indianos.
Diversos outros países também possuem esses sistemas em garantia às minorias.

6.1.2 As ações afirmativas no Brasil

O Brasil historicamente considerado um país onde impera a desigualdade, vem


buscando estabelecer formas de favorecimento aos grupos discriminados pela sociedade. A
Constituição Federal traz em diversos momentos do seu texto a possibilidade do Estado
promover a redução das desigualdades sociais, conforme é elencado nos artigos os artigos 3o,
7º - XX, 37-VIII e 170:
Art. 3º – Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;
[...]
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e
regionais.
[...]
Art. 7º – São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social:
[...]
XX – Proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos,
nos termos da lei;
[...]
Art. 37 [...]
VIII – A lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas
portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão.
[...]
Art. 170 – A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na
livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames
da justiça social, observados os seguintes princípios:
[...]
VII – redução das desigualdades regionais e sociais;
[...]
IX – tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as
leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.

12
A primeira a ser considerada ação afirmativa surgiu com a reserva de cotas nas
universidades no Estado do Rio de Janeiro no ano de 2001, através da Lei estadual 3.708,
porém diversas são as normas que apesar de não terem esta intitulação já buscavam a reserva
de vagas para certos grupos em alguns seguimentos públicos, dentre as leis que reservam
essas vagas pode-se destacar a Lei 8112/90 que prevê, no art. 5°, § 2º, cotas de até 20% para
os portadores de deficiências no serviço público civil da união.
Também a Lei 9.504/97, preconiza, em seu art. 10, § 2º, cotas para mulheres nas
candidaturas partidárias, a Lei 8.213/91, que fixou, em seu art. 93, cotas para os portadores de
deficiência no setor privado, como também o Decreto-Lei 5.452/43 (CLT), que prevê, em seu
art. 354, cota de dois terços de brasileiros para empregados de empresas individuais ou
coletivas.
São exemplos de leis que já previam a reserva de vagas a alguns grupos da sociedade
considerados minorias, mas que não recebiam a denominação de ação afirmativa. Atualmente
as cotas já estão virando formas de promover politicamente o governo. Muitas vezes a criação
dessas reservas é deturpada, pois se diz que foi criada determinada norma para favorecer
minorias, mas que nem sempre são consideradas minorias, como será estudado no
desenvolvimento deste trabalho.

6.1.3 Ações afirmativas para autodeclarados pretos, pardos e indígenas

A mais conhecida das ações afirmativas em nível federal, e que gerou muitas
discussões, é a Lei 12.711/2012 que reserva um percentual de vagas nas instituições de ensino
superior expressando que “em cada instituição federal de ensino superior, as vagas de que
trata o art. 1° desta Lei serão preenchidas, por curso e turno, por autodeclarados pretos, pardos
e indígenas, em proporção no mínimo igual à de pretos, pardos e indígenas na população da
unidade da Federação onde está instalada a instituição, segundo o último censo do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).”
Existem leis bem anteriores que buscavam efetivar o negro na sociedade, como a Lei
7.688/88 que criou a Fundação Cultural Plamares, e que tinha como objetivo a integração
econômica, política e cultural do negro, porém é considerada uma medida tímida. Também
existe um Projeto de Lei 4.370/98 que buscava a inclusão dos negros nas redes televisivas,
mas que não obteve sucesso.

13
Não há de se negar que o Brasil possui desigualdades históricas de brancos para
negros e que através de políticas busca-se um melhoramento desta condição em favor dos
negros. Neste sentido o autor Ricardo Henriques chega à conclusão de que:
“no Brasil, a condição racial constitui um fator de privilegio para brancos e de
exclusão e desvantagem para os nãobrancos. Algumas cifras assustam quem tem
preocupação social aguçada e compromisso com a busca de igualdade e equidade
nas sociedades humanas” (HENRIQUES, Ed.2001).

Assim o sistema de cotas é ferramenta e instrumento apropriados para acelerar o


processo de mudança desse quadro injusto em que se encontra a população negra, que se
coloca a proposta das cotas apenas como um instrumento ou caminho, entre tantos a serem
incrementados.
Outra importante ferramenta desta luta por igualdade racial é a Lei 12.288 – Estatuto
da Igualdade Racial, que elenca em seu artigo primeiro que a referida Lei institui o Estatuto
da Igualdade Racial, destinado a garantir à população negra a efetivação da igualdade de
oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à
discriminação e às demais formas de intolerância étnica.
Nota-se que o país está se adequando a uma política de igualdades, mas que não
poderá ser confundida e ultrapassar outros princípios que regem todo o Estado principalmente
no que tange à eficiência do serviço público. Princípios que serão analisados na sequência do
estudo para um confrontamento com o objetivo do sistema de cotas.

6.2 OS PRINCÍPIOS

A palavra “princípio” vem do latim “principium” e tem sentido definido como início,
começo, origem. Mas no que tange ao direito tem sentido de critério inspirador das leis e
normas. Segundo o autor José Afonso da Silva “os princípios são ordenações que irradiam e
imantam os sistemas de normas, são núcleos de condensações nos quais confluem valores e
bens constitucionais” (SILVA, 2012, P. 92). Neste sentido reforça-se o conceito, Diogenes
Gasparini quando afirma que, “ os princípios são mandamentos nucleares de um sistema, seu
verdadeiro alicerce, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas,
compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão...” (GASPARINI,
2012, P. 61).
Assim, nota-se que os princípios norteiam todo o ordenamento jurídico servindo de
base para analisar e colocar em prática as normas vigentes, aos casos concretos.

14
6.2.1 Princípio da Igualdade X Concursos Públicos.

O princípio da igualdade tem como objetivo a igualdade de aptidões e possibilidades


aos cidadãos, não deixando possibilidades de distinções de qualquer natureza sobre os
indivíduos. A Constituição Federal explicita diversas vezes em seu texto o repúdio a qualquer
tipo de discriminação em razão de raça, sexo, cor, idade ou qualquer outro meio. José Afonso
da Silva defende que:
“É que a igualdade constituiu o signo fundamental da democracia. Não admite os
privilégios e distinções que um regime simplesmente liberal consagra. (...) Reforça o
principio com muitas outras normas sobre a igualdade, ou buscando a igualização
dos desiguais pela outorga dos direitos sociais substanciais.” (SILVA, Ed. 2012).

No que tange a esse princípio, servindo de base também a igualdade de condições


para concorrer em concursos, tais fundamentos começam a ser alicerçados na Constituição,
quando diz no artigo 3º - Constituem objetivos fundamentais da Republica Federativa do
Brasil: IV – promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação. Depois quando trata dos direitos individuais refere
que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza (art. 5º, caput), no
inciso I, declara que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações e na sequência no
artigo 7º, XXX e XXXI apresenta regras que proíbem distinções fundadas em certos fatores,
veda a diferença de salários, de exercício de funções e de critério por motivo de sexo, idade,
cor, estado civil e qualquer discriminação no tocante a salário e critério de admissão do
trabalhador portador de deficiência. Também de forma expressa o art. 19 “É vedado à
União, Estados e Municípios: criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si.”.
Identifica-se claramente que a própria Constituição Federal cria impedimentos para
discriminação em razão de diversos fatores, incluindo-se a questão racial. Assim, a
estipulação de critério diferente para aprovação em concurso público vai de encontro à própria
carta magna.

6.2.2 Princípio da meritocracia nos Concursos Públicos.

A definição clássica de concurso público é que é um processo seletivo que permite o


acesso a emprego ou cargo público de modo amplo e democrático. É um procedimento
impessoal onde é assegurada igualdade de oportunidades a todos interessados em concorrer
para exercer as atribuições oferecidas pelo Estado, a quem incumbirá identificar e selecionar

15
os mais adequados mediante critérios objetivos. E como princípio base do concurso público
está a meritocracia, que dá àquele, que através do esforço pessoal e busca do conhecimento,
apresente a aptidão ao cargo público. Cargo que contempla com os objetivos da
Administração Pública, ajudando a formar os melhores quadros possíveis para a prestação do
serviço público com eficiência. Conforme José dos Santos Carvalho Filho:
“...concurso público é "o procedimento administrativo que tem por fim aferir as
aptidões pessoais e selecionar os melhores candidatos ao provimento de cargos e
funções públicas. Na aferição pessoal, o Estado verifica a capacidade intelectual,
físico e psíquico de interessados em ocupar funções públicas e no aspecto seletivo
são escolhidos aqueles que ultrapassam as barreiras opostas no procedimento,
obedecida sempre a ordem de classificação. Cuida-se, na verdade, do mais idôneo
meio de recrutamento de servidores públicos." (CARVALHO FILHO, 2006, p.525)

O Superior Tribunal de Justiça em decisão recente de recurso especial reafirma o


conceito da meritocracia e assim expressou o MINISTRO HERMAN BENJAMIN, “Concurso
público é o principal instrumento de garantia do sistema de meritocracia na organização
estatal, um dos pilares dorsais do Estado Social de Direito brasileiro, condensado e
concretizado na Constituição Federal de 1988. Suas duas qualidades essenciais – ser
"concurso", o que implica genuína competição, sem cartas marcadas, e ser "público", no
duplo sentido de certame transparente e de controle amplo de sua integridade – impõem
generoso reconhecimento de legitimidade ad causam no acesso à justiça.” Acórdão: Recurso
Especial n. 1.362.269 – CE, decisão proferida em 16/05/2013.

6.2.3 Princípios Constitucionais da Administração Pública.

A administração pública deve seguir padrões e pautar suas atividades em princípios


que dão suporte à atividade administrativa. Na Constituição Federal em seu artigo 37 estão
expressos cinco desses princípios, que são: legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência. Mas, conforme elencam os autores a respeito dessa matéria, existem
outros princípios que norteiam o Direito Administrativo, contudo não serão objetos do
presente estudo.
Para esse trabalho há a necessidade de definição do princípio da eficiência, o qual
pode sofrer um afronto coma estipulação do sistema de cotas raciais nos concursos públicos
federais. O princípio em tela exige da Administração Pública o dever de administrar com
“presteza, perfeição e rendimento funcional” e assim o serviço público será fornecido com
resultados positivos e satisfatórios ao administrado.

16
Na opinião de Diogenes Gasparini as atribuições devem ser executadas com
perfeição, valendo-se das técnicas e conhecimentos necessários a tornar a execução a melhor
possível, evitando sua repetição e reclamos por parte dos administrados. (GASPARINI, 2012,
P. 76).
Resta analisar se o projeto é inconstitucional, pois estaria ferindo o princípio da
eficiência da administração pública. Se os mais bem preparados serão preteridos, a
possibilidade do serviço ser prestado com qualidade inferior é iminente, e assim apresentaria
uma deficiência natural para o serviço público.

6.3 LEGISLAÇÃO NO BRASIL

A legislação brasileira recente envolvendo a questão das ações afirmativas e


consequentemente a estipulação das cotas raciais tem seu marco inicial com a aprovação do
chamado Estatuto da Igualdade Racial pela Lei 12.288/2010 destinado a garantir à população
negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais,
coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica. O
Estatuto esclarece as formas de discriminação racial, bem como estipula o dever do Estado em
promover políticas que garantam igualdade de oportunidades independente de cor ou etnia.
Posteriormente ocorreu a aprovação da Lei 12.711/2012 que instituiu a
obrigatoriedade das instituições federais de educação superior vinculadas ao Ministério da
Educação reservarem, em cada concurso seletivo para ingresso nos cursos de graduação, por
curso e turno, no mínimo 50% (cinquenta por cento) de suas vagas para estudantes que
tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas. Em seu artigo 3º elenca
que as vagas de que trata o artigo 1º desta Lei serão preenchidas, por curso e turno, por
autodeclarados pretos, pardos e indígenas, em proporção no mínimo igual à de pretos, pardos
e indígenas na população da unidade da Federação onde está instalada a instituição, segundo o
último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
E agora está na iminência de ser aprovado o Projeto de Lei 6.738/13 que cria a
reserva de vagas, aos negros e pardos, em concursos públicos em nível federal para
provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração pública
federal, das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de
economia mista controladas pela União.

17
6.3.1 Projeto de Lei 6.738/13

O projeto de lei 6.738 foi apresentado pelo executivo federal com o fito de
reformular os quadros do governo e no setor privado e suprir desigualdades históricas entre
brancos e negros. O texto prevê a reserva 20% das vagas oferecidas nos concursos para
provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração pública
federal, a reserva será aplicada sempre que o número de vagas oferecidas no concurso for
igual ou superior a três.
Para concorrer, os candidatos devem se autodeclarar pretos ou pardos no ato da
inscrição no concurso, porém, se for constatada declaração falsa, o candidato será eliminado
do concurso e, se houver sido nomeado, ficará sujeito à anulação da sua admissão. Os
candidatos negros concorrerão ao mesmo tempo às vagas reservadas e às vagas destinadas à
ampla concorrência, de acordo com a sua classificação e a referida lei terá vigência por dez
anos e não se aplica a concursos cujos editais já foram publicados.
A nomeação dos candidatos aprovados respeitará os critérios de alternância e
proporcionalidade, que consideram a relação entre o número de vagas total e o de vagas
reservadas a candidatos com deficiência e a candidatos negros. A Secretaria de Políticas de
Promoção da Igualdade Racial (Seppir) será responsável pelo acompanhamento do
cumprimento da nova lei e avaliação dos resultados.

6.3.2 Autodeclaração de cor

A autodeclaração de cor é própria e íntima do indivíduo, critério que possibilita-o de


concorrer às vagas em concursos públicos destinadas aos “pretos, pardos e indígenas”. Resta
saber se efetivamente vai ter algum controle por parte do ente público em criar algum critério
para analisar se a autodeclaração pode ser considerada verdadeira ou falsa. Porém, ai se
encontra um grande problema, pois o Brasil é um país mestiço. Não há brasileiro com
genética puramente européia, africana, indígena ou amarela. Adotado o critério da
ascendência (ou genótipo), todo brasileiro teria direito às cotas. Adotado o critério do fenótipo
(da aparência simplesmente), filhos de mesmos pais poderiam ser classificados de forma
diferente, o que seria injusto. O projeto não define o critério. Seja qual for, as cotas poderão
trazer mais problemas e injustiças que benefícios.

18
6.3.3 Previsão Constitucional

Não existe previsão legal expressa na Constituição Federal como aquela que reserva
às pessoas com deficiência física um percentual das vagas no serviço público, como forma de
inclusão social. Na verdade está se criando uma analogia à esse princípio e tentando colocar
os negros em nível de minoria o que na verdade não está correto, pois estatisticamente os
negros e pardos no Brasil são a maioria, sem falar na questão da autodeclaração onde cada
individuo se intitula da cor que melhor lhe convém.
Aqueles que defendem a criação dos sistema de reserva de cotas em concursos
públicos federais a negros e pardos, se valem de uma interpretação extensiva das ações
afirmativas baseados em alguns artigos da Constituição como o Art 3°, III - erradicar a (...)
marginalização e reduzir as desigualdades sociais (...) Art 170°, VIII- redução das
desigualdades (...) sociais;(...); Art 3° , IV- promover o bem de todos , sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação; (...) Art 23, X-
combater as causas da pobreza e os fatores da marginalização, promovendo a integração
social dos setores desfavorecidos; (...) Art.227, II- criação de programas (...) de integração
social dos adolescentes portadores de deficiências.
Já aqueles contrários ao sistema defendem que o projeto é inconstitucional, pois fere o
princípio da eficiência da administração pública e o princípio norteador dos concursos
públicos que é a meritocracia, que dá aos mais bem preparados a aprovação. Sem falar no
choque com alguns artigos da Constituição que buscam garantir o princípio da igualdade,
artigo 3º - Constituem objetivos fundamentais da Republica Federativa do Brasil: IV –
promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação; artigo 5º - todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza caput), no inciso I, declara que homens e mulheres são iguais em direitos
e obrigações (...);artigo 7º, XXX e XXXI proibindo distinções à diferença de salários, de
exercício de funções e de critério por motivo de sexo, idade, cor estado civil e qualquer
discriminação no tocante a salário e critério de admissão do trabalhador portador de
deficiência e artigo 19 - É vedado à União, Estados e Municípios: criar distinções entre
brasileiros ou preferências entre si.
O Juiz Federal Willian Douglas em uma de suas manifestações a respeito do assunto
garante que “Não devemos ter cotas raciais nos concursos, como se propõe. Uma coisa é ter
cotas nas escolas, nas universidades, nos estágios. Aí sim, pois estamos falando de preparação
19
para a vida e para o mercado. Essas cotas devem ser mantidas, aperfeiçoadas e, com o passar
do tempo, obtido seu bom efeito, suprimidas. Mas as cotas nos concursos pervertem o sistema
do mérito. Para o direito e oportunidade de estudar, é razoável dar compensações diante de
um país e sistema ainda discriminadores, mas não para se alcançar os cargos públicos.”
A aprovação do Projeto de Lei 6.738/13 poderá gerar mais discriminações ainda,
agora uma discriminação legal, pois será o assunto das repartições públicas os comentários
sobre o “fulano” só está ali porque teve um benefício, diferentemente se estivesse no cargo
pelos méritos de estudo e esforço. Outra possibilidade de discriminação será da própria
sociedade que se ocupa do serviço público e que costumeiramente reclama da ineficiência do
Estado. A partir da aprovação do sistema terá um motivo a mais para dizer que o serviço está
menos eficiente, pois o país estaria insistindo em projetos de cunho político e assim
prestando um desserviço à população.

20
4 CRONOGRAMA

03/14 04/14 08/14 09/14 10/14 11/14 12/14 02/15 03/15 04/15 05/14
Escolha do tema X
Elaboração do projeto X X
Revisão bibliográfica X X X X X
Contato com orientador X X X X X X X X X X
Apresentação do projeto X
Início de capítulo X X X
Redação e correção de X X X X X X
capítulo
Conclusão e resumo X
Correção da língua portuguesa X
Entrega da monografia jurídica X

21
5 ESTRUTURA PROVISÓRIA

1. AÇÕES AFIRMATIVAS
1.1 Origem das ações afirmativas.
1.2 As ações afirmativas no Brasil.
1.3 Ações afirmativas para autodeclarados pretos, pardos e indígenas.

2. OS PRINCÍPIOS
2.1 Princípio da Igualdade X Concursos Públicos.
2.2 Princípio da meritocracia nos Concursos Públicos.
2.3 Princípios Constitucionais da Administração Pública.

3. LEGISLAÇÃO NO BRASIL
3.1 Projeto de Lei 6.738/13.
3.2 Autodeclaração de cor.
3.3 Previsão Constitucional.

22
6 REFERÊNCIAS

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 16ª ed. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2006.

GASPARINI, Diogenes. Direito Administrativo. 17ª ed. atualizada por Fabrício Motta – São
Paulo: Saraiva, 2012.

GOMES, Joaquim B. Barbosa. Ação afirmativa & princípio constitucional da igualdade: (O


direito como instrumento de transformação social. A experiência dos EUA). Rio de Janeiro:
Renovar, 2001. p. 20).

HENRIQUES, Ricardo. Desigualdade racial no Brasil: evolução das condições de vida na


década de 90. Rio de Janeiro: IPEA, 2001. Texto para discussão nº. 807. 49p.

MEIRELLES, Helly Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 34ª ed. São Paulo: Malheiros
Editores Ltda, 2008.

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 35ª ed. São Paulo:
Malheiros Editores Ltda, 2012.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:


Senado, 1988.

BRASIL. Decreto nº 5.452, de 01 de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho.

BRASIL. Lei nº 8.112, de 11 dezembro de 1990. Dispõe sobre o regime jurídico dos
servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais.
Brasília, 1990.

BRASIL. Lei nº 8.113, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da


Previdência Social e dá outras providências. Brasília, 1991.

23
BRASIL. Lei nº 9504, de 30 de setembro de 1997. Estabelece normas para as eleições.
Brasília, 1997.

BRASIL. Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010. Institui o Estatuto da Igualdade Racial


Brasília, 2010.

BRASIL. Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012. Dispõe sobre o ingresso nas universidades
federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio e dá outras providências .
Brasília, 2012.

BRASIL. Projeto de Lei nº 6.738 de 2013. Reserva aos negros vinte por cento das vagas
oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos
no âmbito da administração pública federal, das autarquias, das fundações públicas, das
empresas públicas e das sociedades de economia mista controladas pela União. Brasília,
2013.

BRASIL. Projeto de Lei nº 7.225 de 2014. Proíbe a instituição de cotas raciais nos concursos
para ingresso no serviço público. Brasília, 2014.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Acórdão RECURSO ESPECIAL Nº 1.362.269 - CE


(2013/0006636-2). Relator: Ministro HERMAN BENJAMIN. Sessão de 21/05/2013. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 2013.

24

Você também pode gostar