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ALUNO:__________________________________________________________________________________

MINHA MÃE É NEGRA, SIM!


Patrícia Santana
Desde o dia em que a professora de Artes disse a ele que pintasse
sua mãe de amarelo, que ficava mais bonito, Eno ficou
entristecido. Uma tristeza fininha que doía e doía, e ele sem saber
falar por quê.
Não havia entendido direito o porquê de a professora fazer aquela
sugestão, quase exigência, pelo tom e pela dureza de sua fala.
Naquele dia não quis desenhar mais nada e nem colorir. A
professora esperou por seu desenho, que não veio. Não veio
também aquele sorriso largo de todo dia, que ele lançava pra Dona
Lia, que ficava no portão vendo as crianças da escola indo embora.
Chegou em casa mudo. Não correu para os braços do pai, que sempre o esperava na hora do almoço.
Correu para o seu cantinho lá no terreiro.
Cantinho feito com um monte de caixas de banana que ele pegava no sacolão da sua rua.
Era o esconderijo de menino. Menina não entrava, adulto também não. Somente os bons amigos, e de
vez em quando, seu cachorro vira-lata Simba.
Nem do Simba queria saber naquele dia.
Não comeu quiabo com angú que seu pai pôs no prato e nem aceitou um bocado de paçoca deixado por
tia Nini na última visita.
O pai achou tudo muito esquisito, ía esperar pela mulher para ver se descobria o motivo do banzo de
Eno.
Os dias foram passando, e cada dia pai e mãe estranhavam mais a tristeza do menino. Ele nem queria ir
à aula. Um dia inventou dor de cabeça. Outro dia perdeu a hora. No outro apareceu com o uniforme todo
molhade de leite.
Amoado pelos cantos, Eno pensava no sentido de tudo. E não encontrava resposta. Ele era preto, seu
pai e sua mãe também, porque não podia pintar sua mãe de preto? Já ficava chateado com os apelidos que os
meninos lhe davam, tudo coisa ou bicho. Mas a professora dizer a ele que pintasse sua mãe de amarelo? Era
demais!
Depois de uns dias de silêncio, Eno pediu para ir à Biblioteca do bairro. Seu pai, satisfeito pela
pequenina mudança, deixou.
Eno foi direto procurar no dicionário o significado da palavra preto. Lá não viu muita coisa boa, achou de
novo tudo muito esquisito.
Voltou para casa triste demais. Queria melhorar, mas não conseguia, ainda mais na quinta-feira, que era
o dia de seu avô fazer a visita de sempre.
O vô Damião já estava sentado no banquinho, na frente de casa, com seu chapéu no colo e guard-chuva
do lado. O vô logo viu a tristeza do menino-neto. “Que banzo é esse, menino?” Eno já sabia que banzo era
uma tristeza de preto, vinha do tempo da escravidão, a saudade da terra, o medo da solidão e outros mares...
Eno não suportava mais tanto silêncio e resolveu contar ao avô o motivo de tanta agonia.
O avô ouviu tudo, pensou, mastigou vento, coçou a cabeça. E começou. Falava de uma forma que só avô
sabe, dando uma aula mansa, contando do tempo antigo, falando das coisas de hoje em dia. Falou de racismo,
das dificuldades que as pessoas negras enfrentaram e enfrentam para serem aceitas neste mundo. O sorriso
voltou ao rosto para presentear a Dona Lia.
A professora, no corredor, recebeu o desenho feito com orgulho e dignidade: “Professora, meu desenho
de mãe, não pintei de amarelo, pintei de preto e negro como é a minha mãe, como é a jabuticaba, como é o
ébano, a beleza da noite escura. Pintei com a cor de mim mesmo”.
A professora olhou espantada, mas percebeu a seriedade da situação. E Eno completou: “Qualquer dia
desses meu vô vem aqui dar aula para todos aprenderem sobre a nossa história”.
Na cabeça de Eno, tocava uma música, que seu avô havia cantado pra ele: “Eu sou negro sim, como
Deus criou. Sei lutar pela vida, cantar liberdade, gostar dessa cor. Eu sou negro sim”.

*INTERPRETAÇÃO DE TEXTO:
1) Qual o Título da História?
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2) Quem escreveu?
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3) Quem são os personagens?


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4) O que deixou Eno, tão triste?


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5) O que significa banzo?


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6) Qual era, a atitude, dos meninos na escola em relação a ele? Você concorda?
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7) Qual raça você se considera?


( )Branco ( ) Indígena ( ) Negro ( ) Pardo

8) Se você for negro, o que você faria se alguém o tratasse com apelidos de coisas e bichos? Caso não seja, o
que você faria se ouvisse alguém agir assim com um colega negro?
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9) O que aconteceu que Eno, voltou a sentir-se confiante?


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*GRAMÁTICA:
1)Retire do texto 3 substantivos próprios e 3 substantivos comuns:
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2) Pinte de amarelo, os pronomes pessoais identificados no texto.

3) Marque com um X, os pronomes possessivos, nas frases abaixo:


a) Correu para o seu cantinho lá no terreiro.
b) “Professora, meu desenho de mãe..
c) “...pintei de preto e negro como é a minha mãe...”
d) ‘...meu vô vem aqui dar aula para todos aprenderem sobre a nossa história”.

4) Transforme as frases para os tempos verbais indicados entre parênteses.

a) Uma tristeza fininha que doía e doía. (Presente)

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b) A professora esperou por seu desenho, que não veio. (Futuro)

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c) Eno pensava no sentido de tudo. (Presente)

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d) Já ficava chateado com os apelidos que os meninos lhe davam. (Futuro)

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e) “...meu vô vem aqui dar aula para todos...” (Passado)

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1) No Brasil, mesmo em pleno século XXI, a população negra ainda sofre preconceito ao buscar uma
vaga de emprego. A maioria dos recrutadores ainda preferem contratar brancos, com “melhor
aparência”, do que negros. O racismo é sentido diariamente até no momento em que sustentar a
família se torna necessário. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad),
no período de 2012 a 2019, quantas pessoas negras, eram registradas no mercado de trabalho?

2) Presenciamos o impacto da covid-19 entre os negros no Brasil. Observe o gráfico abaixo, e faça as
anotações necessárias:
a) Quantidade de pessoas negras em óbito
b) Qual população obteve maior número de óbitos internados nas enfermarias?
c) Qual a diferença de números de óbitos entre pessoas brancas e negras, na UTI?

3) Todos os dias, ao ir e voltar da escola, Eno observava as crianças em situação de rua, na cidade em
que morava. Em sua maioria, eram crianças negras, e passou questionar, o porquê de haver poucas
crianças negras em sua escola. Então, ivestigou que nas seis escolas de ensino fundamental do
bairro, há um total de 5.040 alunos, apenas 258 eram negros. Enquanto que nas ruas, haviam
metade de crianças negras, sem estudar, pedindo dinheiros nas esquinas ou sem casas. Calcule:

a) Quantos alunos brancos existem nas escolas?


b) Qual a quantidade exata de crianças, em situação de rua e vulneráveis que talvez nunca terão
oportunidades?
c) Se essa quantidade de crianças que estão fora das escolas, estivesses estudando, quantos
estudantes haveriam no bairro?

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