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tic action, and the other corresponds to a selfish action, since they give
(tobacco, coffee etc.) considering receive (lullaby, not foreboding, etc.).
The importance of this anthropological study studies is to approach
the popular belief, grounded in this expression of popular literature, to
sociology-anthropology as another way to approach and collate bragan-
tinas oral narratives.
Keywords: Gift, Matinta Perera, oral narratives, Taperaçu Campo.
Seu Augustino presta serviços para a Em virtude de uma visita à casa de seu
família de seu Raimundo ordenhando Agostinho da Silva Sousa, em 24 de
as vacas e preparando o subproduto da janeiro de 2014, questionei acerca do
mandioca, a farinha, na casa de forno funcionamento dos trabalhos comuni-
do amigo com a mandioca cultivada tários em Taperaçu Campo, especial-
pela família de seu Raimundo e colhida mente aquele voltado para o embarre-
com a ajuda de seu Agostinho da Silva amento das casas de taipa. De acordo
Sousa, os trabalhos, assim, envolvem com ele, a construção desse tipo de
as duas famílias. As atividades deste moradia era9, via de regra, responsabi-
não são vistas como puro altruísmo, lidade do proprietário levantá-la com
ele o faz porque granjeia para seu lado madeira geralmente extraída de mata
parte do leite que tira, tal qual da fari- próxima e coberta com palhas ou com
nha que prepara, assim como dará para telhas de fibrocimento onduladas10.
seu amigo Raimundo parte do pescado Já no momento do embarreamento,
que trará da maré. outros homens da comunidade eram
As relações sociais invadem a ma- convidados a ajudarem o proprietário,
neira de lidar com as aparições de momento da comunhão e do testar
Taperaçu Campo, a Matinta é uma a força dos laços que os rodeiam. O
pessoa da comunidade com a qual embarreamento, que durava de um a
cotidianamente se irá relacionar, se- dois dias, era regado à bebida alcóolica,
não na mesma residência, como é o geralmente destilada, fornecida pelo
caso do filho curandeiro que rivali- proprietário enquanto o almoço ficava
za com a mãe também curandeira, a cargo da esposa do anfitrião, este úl-
quando ela se transforma em Matinta timo detalhe foi salientado pela esposa
Perera e em égua, o mesmo caso do de seu Agostinho, dona Maria, que nos
filho que surpreende a mãe Matinta acompanhava na conversa.
transformada em passarinho (sururi- O retorno de seu Agostinho aos cole-
na) e descobre que se tratava da ge- gas do mutirão do embarreamento era
nitora somente quando esta chega a dado na ocasião em que outro mem-
sua casa toda dolorida por conta das bro da comunidade o requisitasse para
bordoadas que tomou do filho ao serviço semelhante, se julgássemos que
tentar fugir das pancadas dentro de a retribuição de seu Agostinho alcan-
casa, provavelmente encontrará um çaria todos àqueles que embarrearam
vizinho se transformando em Matin- sua casa, chegaríamos à conclusão de
ta ou labisonho em uma das olarias que todo esforço empenhado em retri-
ou embaixo de alguma árvore nas buir a ajuda dos vizinhos equiparou ou
noturnas e solitárias ruas da comuni- ultrapassou o necessário para ter em-
dade. A dádiva, em certa medida, ex- barreado sozinho sua residência sem
plica essas relações de ida e volta das a ajuda dos demais moradores, não
ações que se pratica na comunidade, obstante, um aspecto da vida comuni-
mas também justifica a manutenção tária de Taperaçu Campo esmaeceria o
das amizades em Taperaçu Campo. vínculo e a sociabilidade entre os indi-
as relações para nunca ter perdas, en- dos, como bem nota o holismo (Caillé
quanto que, no pólo antagônico, todas 1998:12).
as atenções se concentram no “costu- Não caberia essa mesma definição para
me, valores ou regras” que regem de- o sacrifício cunhado por Mauss e Hu-
terminado grupo social, para o qual as bert antes do Ensaio sobre a dádiva? Cail-
ações nunca surpreendem porque são lé (1998:12) diria que sim, conforme se
ditadas por regras que não serão rom- trata de “um modelo de ação social to-
pidas, nesse caso “ninguém trairá” e, talmente diferente o que ele nos apre-
com isso, a responsabilidade de parida- sentava na reflexão acerca do sacrifício
de ser completamente seguida. ou da dádiva”. Contudo, o ato de dar
No paradigma da dádiva, institui-se e de receber ganha expressão somente
uma “aposta na aliança e na confian- quando fixados “numa certa atmosfe-
ça”, aproximando essa leitura para ra de espontaneidade. É preciso dar e
nosso objeto, apesar das regras serem retribuir. Sim, mas quando, quanto, e
transparentes (a oferta ter de ser paga com que gestos, quais entonações?”.
e o retorno egoísta ser esperado) o Estes são questionamentos que locali-
que se dá é um voto de confiança, a zam as situações e a prática de oferecer
certeza é sempre presumida, cria-se mediante os elementos que determi-
a máxima: “‘confiar totalmente ou nam o posicionamento dos actantes
desconfiar totalmente’, eis a solução” nesse jogo que são as relações de alian-
proposta por Mauss no Ensaio sobre a ça dentro de uma comunidade, a rela-
dádiva e definido por Caillé (1998:11) ção de convizinhaça é a máxima entre
como o terceiro paradigma. Acer- os moradores, por isso, o objeto dado
ca disso, este autor retoma o termo ser colocado a serviço dos laços, o do-
gift de Mauss para exemplificar que natário reforça as relações apertando
na dádiva há a mesma proposta do o nó ao aceitar a oferta; nas anotações
pharmakos: o remédio e o veneno são realizadas por Godbout (1992:15), o
dádivas obrigatórias àqueles que dão dom deve ser pensado como uma re-
(morador local) e àqueles que rece- lação contínua e bilateral, como uma
bem (por exemplo, a Matinta Perera), relação, sobretudo, entre sujeitos.
pois quem “quer o dom, acrescenta Mesmo que para Mauss (2003:187) os
Godbout (1992:15), quer o veneno”: presentes sejam, a rigor, voluntários,
o donatário que aceita a dádiva, acei- eles se expressam “na verdade obri-
ta as regras de retribuição. gatoriamente dados e retribuídos”. O
A dádiva é, segundo ele [Mauss], indis- que Mauss (2003:188) diz claramente
sociavelmente “livre e obrigada” de um é que “nesse gesto que acompanha a
lado, e interessada e desinteressada do transação, há somente ficção, formalis-
outro. Obrigada, pois não se dá qual- mo e mentira social, e quando há, no
quer coisa a qualquer pessoa, num mo- fundo, obrigação e interesse econômi-
mento qualquer ou de qualquer modo, co”. Essas trocas não são apenas coi-
sendo os momentos e as formas da sas materiais, as trocas, como foi dito,
dádiva, de fato, socialmente instituí- são de amabilidades, enquanto que as