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PROPÓSITO
Conhecer os conceitos e os elementos relativos a barragens é importante para o
desenvolvimento de um projeto consistente, que considere as diretrizes técnicas presentes em
normas, bem como para a boa operação pós-obra.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar os principais elementos e tipos de barragens
MÓDULO 2
MÓDULO 3
MÓDULO 4
INTRODUÇÃO
BEM-VINDO AO ESTUDO SOBRE
BARRAGENS
MÓDULO 1
Há registros de que as barragens são obras civis presentes na humanidade desde civilizações
mais antigas, situadas no Egito, Médio Oriente e na Índia, geralmente, com a finalidade de
reservar água, controlar cheias e inundações de cidades.
A Tabela 1 apresenta alguns dados históricos sobre barragens, que evidenciam a evolução
dessas estruturas.
Características gerais e
Ano Local Registro
ocorrências
4.800 a.C. Egito Barragem de Sadd-El- Altura: 12m
Altura: 12 a 27m
Norte da
100 a.C. Itália/Sul Barragens romanas Estrutura em arcos
da França
Altura: 90m
Barragem Madduk-
1.200 d.C. Índia Destruída por
Masur
transbordamento
Altura: 46m
Barragem de Estrecho
1789 Espanha Destruída logo após
de Rientes
enchimento
Barragem de Fort
século EUA Volume de
Peck
XIX material:100.000.000m³
Atualidade
EUA Surgimento dos rolos compactados vibratórios
As primeiras barragens brasileiras foram construídas com terra, no século XX, no Nordeste,
como um plano de ação para combate à seca.
SAIBA MAIS
Nessa época, não possuíamos todo o conhecimento sobre mecânica dos solos que temos
hoje, de forma que essas estruturas foram construídas com conhecimento empírico (a partir da
observação).
1908
Barragem do Guarapiranga - São Paulo
1942
Barragem de Coremas - Paraíba
Altura: 47m
Extensão: 1,55km
1947
Barragem de Terzaghi - Rio de Janeiro
1982
Itaipu - Fronteira Brasil-Paraguai
Altura: 196m
Extensão: 7,919km
1984
Barragem de Tucuruí - Pará
Barragem de terra
Altura: 78m
Extensão: 11km
1996
Barragem Serra da Mesa - Goiás
Altura: 154m
Extensão: 1,5km
Hoje, mundialmente, contamos com técnicas avançadas que nos permitem um controle
tecnológico rigoroso para a construção e operação de barragens cada vez maiores, mais
seguras e de maior eficiência.
CRISTA
Topo
PÉ
TALUDES
OMBREIRAS
MACIÇO
Corpo da barragem
RESERVATÓRIO
ATENÇÃO
Usualmente, as barragens podem ser construídas em várias etapas, de forma que o talude seja
escalonado. Assim, separa-se cada talude por bermas, que podem servir de acesso para
inspeções visuais e manutenções periódicas da estrutura.
A geometria da barragem é então definida pela altura dos taludes e pela inclinação dos
taludes, sejam essas globais ou entre bermas. Além das larguras das bermas e da crista.
Drenagem superficial
Reservatório
Extravasor
Instrumentação
Foto: Ministério de Minas e Energia, 2020. Adaptada por Mirella Dalvi dos Santos
Elementos de barragens
TIPOS DE BARRAGENS
As barragens podem ser classificadas principalmente de acordo com seu porte, seu material
de construção, material de contenção e sua técnica construtiva.
As barragens de grande porte são aquelas que possuem altura superior a 15m, ou entre 10 e
15m, desde que um dos seguintes critérios sejam atendidos:
BARRAGENS DE TERRA
Foto: Shutterstock.com
Barragem de terra
As barragens de terra são as mais comuns no Brasil. Para a construção, o solo compõe o
aterro formando o maciço da barragem. O empréstimo de material pode ser de materiais
disponíveis não convencionais, por exemplo, o rejeito, um subproduto do beneficiamento de
minérios.
Foto: Shutterstock.com
Barragem de enrocamento
Barragens de terra e enrocamento são estruturas cujo maciço é construído com enrocamento
(pedra de mão) e um núcleo argiloso, que imprime estanqueidade à barragem. Como o
enrocamento é um material que apresenta alta resistência, barragens desse tipo tendem a ser
mais estáveis, permitindo serem construídas com taludes mais íngremes quando comparadas
com as barragens de terra.
BARRAGEM DE CONCRETO
Foto: Shutterstock.com
Barragem de concreto com contrafortes
Estruturas que trabalham com peso próprio, também chamadas de muros de gravidade, são
aquelas em que o peso próprio da estrutura (P) é responsável por equilibrar as ações
instabilizadoras do sistema: o empuxo do material de montante (E); e a subpressão da
fundação (U).
Imagem: Shutterstock.com
Barragem de concreto por gravidade
Foto: Shutterstock.com
Barragem em arco
Materiais de
Quais os materiais disponíveis para a construção da barragem.
empréstimo
Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
EXEMPLO DAS BARRAGENS DE CAPIVARI-
CACHOEIRA E RIO VERDE
Nessa mesma região, também se relata a Barragem Rio Verde, que possuía um prazo de
construção de apenas 2 anos, mas o material de empréstimo apresentava teor de umidade
acima da ótima para compactação, além de ter sido identificado solo mole na fundação.
A solução nada convencional para essa estrutura foi utilizar uma barragem em aterro úmido,
com núcleo compactado 5% acima da umidade ótima, associada a bermas de equilíbrio, de
forma a não atrasar o cronograma da obra.
SAIBA MAIS
A Tabela 2 apresenta alguns dados para conhecimento e tomada de decisões, que leva em
conta a geometria e o volume usual de barragens em relação à altura (H), associados ao custo
relativo estimado.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
GABARITO
Segundo a terminologia adequada de barragens, podemos dizer que os itens são: (i) topo da
barragem = crista; (ii) face inclinada a montante = talude de montante; (iii) corpo da barragem =
maciço; (iv) região de retenção = reservatório; (v) face inclinada a jusante = talude de jusante.
MÓDULO 2
MÉTODOS CONSTRUTIVOS DE
BARRAGENS
MÉTODOS CONSTRUTIVOS DE
BARRAGENS
Além dos tipos de barragens já explorados em relação ao material do maciço, as barragens
também podem ser classificadas de acordo com o seu método construtivo, que pode ser por
aterro hidráulico ou aterro compactado.
Aterro hidráulico
No aterro compactado, a construção do maciço é como aterros comuns, onde são lançadas
camadas de material com teor de umidade próximo da umidade ótima, obtida de ensaios de
compactação e, posteriormente, compactada pelo equipamento mais adequado de acordo com
o tipo de material lançado. É a técnica mais recomendada e mais segura.
ALTEAMENTOS
A MONTANTE
Neste tipo de alteamento, o maciço da barragem sobe em direção a montante, de forma que o
material de aterro é apoiado sob o material do reservatório. Quando o alteamento é apoiado
sobre rejeitos, deve-se tomar cuidado com a capacidade de suporte desse material, a fim de se
evitar rupturas. O método a montante é o método mais barato e rápido, mas o que apresenta
menor controle tecnológico da construção e sério risco de ruptura por erosão e dificuldade de
drenagem, constituindo no método menos seguro de alteamento.
A JUSANTE
A LINHA DE CENTRO
Os alteamentos do maciço são dados nas duas direções (montante e jusante), consumindo
menos material em relação aos aterros de jusante e ocupando menos espaço. É o método
mais seguro em relação aos acima.
RUPTURA DE BARRAGENS
Segundo Massad (2010), de um levantamento realizado na década de 60 para 1620 barragens
na Espanha, cerca de 19% apresentaram problemas, em que:
SAIBA MAIS
Também, segundo pesquisas realizadas pelo ICOLD, o percentual de ruptura de barragens é
de 2,2% para estruturas construídas até 1950, e de 0,5% para barragens construídas após
essa data. Outra estatística é que cerca de 70% das rupturas ocorreram em barragens durante
os 10 primeiros anos de operação.
GALGAMENTO
PIPING
INSTABILIZAÇÃO
LIQUEFAÇÃO
GALGAMENTO
PIPING
O piping é uma erosão interna progressiva do maciço, que passa a ser um caminho
preferencial de percolação com carreamento de partículas. Esse fenômeno pode ser evitado
pela implantação de filtro no maciço da barragem.
INSTABILIZAÇÃO
A instabilização é a ruptura clássica de taludes ou do material de fundação, devido à perda de
resistência por saturação ou pela mobilização de uma carga a qual o material não consegue
suportar.
LIQUEFAÇÃO
A tabela a seguir apresenta a incidência dos modos de ruptura em percentual, para 1462
barragens de grande porte construídas até 1982. Observa-se que o piping no maciço da
barragem é o principal modo de falha que ocorre nessas estruturas.
Galgamento 46
Piping no barramento 31
Piping na fundação 15
Instabilidade do talude 46
Abalo sísmico 2
SAIBA MAIS
Além dessas falhas, cita-se a possibilidade de erosões nos taludes do barramento, que podem
ser combatidos com a implantação de rip-rap, que são camadas de enrocamento e transição,
ou de pedriscos e vegetação por biomantas ou hidrossemeadura.
RISCOS ASSOCIADOS
Não é desejável que a barragem apresente as rupturas já exibidas neste conteúdo. No entanto,
no projeto dessas estruturas, é importante levantar quais são os possíveis riscos associados,
de forma que, caso a ruptura venha a ocorrer, a mitigação dos problemas causados seja rápida
e eficiente.
ALAGAMENTO
Um dos riscos associados à ruptura de barragens é o alagamento. Barragens de água ou de
sedimentos, quando rompidas, podem desencadear no carreamento do material reservado por
vários quilômetros, alterando o ecossistema local, afetando a fauna e a flora, alterando o
microclima da região, causando eutrofização, além de alterar a dinâmica hidrológica da região
como um todo. Infelizmente, o alagamento também pode estar associado a perdas materiais e
de vidas.
Foto: Shutterstock.com
Foto: Shutterstock.com
DAM BREAK
A análise do impacto de ruptura de barragens pode ser realizada por meio de programas
computacionais. Conhecido como “dam break”, a análise é hidrodinâmica e realizada a partir
da alimentação do programa com dados sobre os materiais da barragem e do material
reservado, dados topográficos do entorno e do modo de falha mais provável.
Essa modelagem é muito útil para o conhecimento dos riscos associados às eventuais
rupturas, e permite que sejam elaborados planos de ações e emergência caso venham ocorrer.
A partir dessas análises, definem-se, dentre outros aspectos, a Zona de Autossalvamento
(ZAS) e a Zona de Segurança Secundária:
ZONA DE AUTOSSALVAMENTO
Região que está até 10km ou a 30 minutos do ponto de rompimento da barragem. A população
é responsável pelo deslocamento para fora da mancha e por ir para uma zona mais segura por
conta própria, pois não há tempo hábil para a ação de agentes públicos.
SAIBA MAIS
Além dos riscos associados às rupturas, outras consequências que podem ser citadas são os
impactos financeiros e da imagem do empreendedor da barragem.
Construída no final do século XIX com a finalidade de abastecimento de água pela técnica do
aterro hidráulico, possuía 70m de altura, inclinação dos taludes de 1V:5H (aproximadamente
6,4km de extensão e capacidade de conter um volume de 100.000.000m³. A fundação era
composta por aluvião arenoso de 40m de espessura.
A barragem era construída em arco de dupla curvatura, apresentava 60m de altura, largura de
crista de 1,5m, base de 6,8m e capacidade de contenção do volume de 50.000.000m³ de água
para abastecimento da população e controle de cheias.
O rompimento deu-se em 1959, e é relato que a causa foi a ruptura por cisalhamento na rocha
de apoio que apresentava descontinuidades, além da formação de uma zona argilosa na base
da barragem, que diminuiu a permeabilidade da fundação.
A onda do material atingiu 40m de altura a uma velocidade de 70km/h, causando a morte de
423 pessoas, além de ter afetado cerca de 7000 habitantes e ter causado graves danos
materiais na cidade de Fréjus. Ressalta-se que há relatos de que algumas semanas antes da
ruptura dessa barragem, trincas e fendas foram identificadas na barragem, próximo à
fundação.
Foto: Shutterstock.com
Ruptura da barragem de Baldwin Hills
Esta barragem de terra foi construída em 1951, com altura média de 22m e máxima de 71m,
reservatório com capacidade volumétrica de sob uma região com falhas geológicas, solos
colapsíveis e erodíveis.
No dia do rompimento, foi identificada uma infiltração na barragem, quando se tentou iniciar o
esvaziamento do reservatório. Após 4 horas e meia após a identificação da anomalia, uma
brecha formou-se e levou a barragem à ruptura.
Foto: Shutterstock.com
Lama rompida da barragem de Fundão.
Na lama, foram identificados metais pesados, como arsênio, chumbo e mercúrio, que atingiram
o Rio Doce nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, causando a interrupção do
abastecimento de água para milhares de pessoas e danos severos ao ecossistema da região
afetada.
Localizada em Brumadinho, município de Minas Gerais, essa barragem foi construída em 1976
seguida por alteamentos com a técnica de montante com rejeitos de mineração. A ruptura
ocorreu em janeiro de 2019, e a onda de rejeito alcançou uma velocidade de 80km/h.
As sirenes de alerta da região não funcionaram, causando a morte de cerca de 260 pessoas.
Além do efeito social de perdas materiais e de vidas, o rompimento causou grande impacto
ambiental e econômico na região. Trabalha-se com a hipótese de liquefação dos materiais
como causa da ruptura.
Também é importante observar que grande parte das rupturas se deram com um “aviso prévio”
e, nos mínimos sinais de que alguma catástrofe pode ocorrer, o sinal deve ser tratado com
seriedade.
Essas rupturas devem ser encaradas como lições aos engenheiros civis, de forma a evitar
novos desastres por causas já conhecidas no meio técnico.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) A montante
B) Aterro hidráulico
C) Linha de centro
D) A jusante
E) Ponta de aterro
A) Piping
B) Galgamento
C) Instabilização da fundação
D) Instabilização dos taludes
E) Liquefação
GABARITO
Os alteamentos do maciço por linha de centro são dados nas duas direções (montante e
jusante), sendo essa a técnica mais segura em relação às demais alternativas.
O enunciado refere-se ao piping, modo de falha no qual há erosão interna progressiva devido a
um fluxo desordenado com carregamento do material do maciço.
MÓDULO 3
FASES DE UM PROJETO
Antes da construção de uma barragem, o projeto e o planejamento de uma barragem passam
por várias etapas de estudo que se diferem quanto ao nível de detalhamento e de informações
disponíveis.
Essas fases, descritas a seguir, devem ser seguidas sempre que possível, já que ignorar ou
“pular” uma dessas fases poderá ocasionar problemas encontrados durante a execução e a
operação da barragem, que poderiam ter sido identificados e tratados previamente.
VIABILIDADE
O estudo de viabilidade consiste na primeira etapa do projeto. É quando se deve reunir todas
as informações e dados necessários para se investigar se existem particularidades ou
criticidades que devem ser observadas nas demais fases de projeto. Continue Lendo
PROJETO CONCEITUAL
Ao final do projeto, tem-se um arranjo definido, que deverá ser mais bem detalhado nas
próximas etapas de projeto. Será importante, então, especificar quais são as
investigações geológico-geotécnicas complementares a serem realizadas para subsidiar
os estudos da próxima etapa, a fim de se evitar eventuais surpresas na fase de
execução. Nessa fase, já será possível levantar, mesmo que preliminarmente, quais são
os custos dos materiais e da mão de obra para a implantação da barragem.
PROJETO BÁSICO
O nível de detalhamento dos desenhos e documentos dessa fase são suficientes para a
implantação em campo. Logo, o orçamento e o cronograma físico da obra nessa etapa
são próximos ao da realidade.
PROJETO EXECUTIVO
ESTUDOS DE ARRANJO
O arranjo da estrutura consiste nas características geométricas dos elementos da barragem.
Barragem de concreto
Para o maciço de uma barragem de concreto, é usual a utilização de uma base que seja de
70 a 80% da altura. Caso seja a barragem de concreto e dupla curvatura, é usual a utilização
L
de uma razão entre a largura e a altura da barragem ( H ) inferior a 2,5.
Barragens de terra
As barragens de terra possuem características que dependem do tipo de material que será
empregado no maciço, pois essas serão importantes para a sua estabilidade geotécnica. É
comum, por exemplo, adotar uma inclinação dos taludes de montante de
3H (HORIZONTAL) :1V (VERTICAL) (aproximadamente 18°), e de 2,5H:1V
(aproximadamente 22°) para o talude de jusante. Já quando se associa o enrocamento às
barragens de terra, é possível ter taludes mais íngremes, de inclinação de 1V:1,6H a
1V:2,2H(de 32° a 24°).
Barragens construídas com o método de aterro hidráulico são mais abatidos, da ordem de
1V:5H (cerca de 11°). Dessa forma, barragens desse tipo consomem mais material e exigem
uma maior área para a formação do maciço.
ATENÇÃO
A escolha das larguras deverá ser pautada pelo tipo de veículo que se espera trafegar na
barragem.
Altura da barragem
Quando a altura da barragem é tal que a distância entre o pé e a crista forma um talude de
inclinação superior aos supracitados, escalona-se o talude de jusante em pequenas alturas,
geralmente, de no máximo 10m.
DEFININDO-SE A GEOMETRIA, PODE-SE
ESTIMAR O VOLUME DE MATERIAL
NECESSÁRIO PARA A IMPLANTAÇÃO DA
BARRAGEM, ONDE DEVEM SER AVALIADOS
ASPECTOS CONSTRUTIVOS IMPORTANTES,
COMO VOLUME DE TERRAPLANAGEM OU DE
CONCRETO BOMBEADO, REGIÃO DA ÁREA DE
EMPRÉSTIMO, DENTRE OUTROS.
As disposições construtivas dadas neste item são orientativas. Para a validação de uma
geometria, é importante realizar os estudos que seguem.
ESTUDOS GEOLÓGICOS
Os estudos geológicos compreendem, principalmente, o reconhecimento da fundação do
barramento. Para tal, além de dados documentados por mapas geológicos regionais, deve-
se realizar um mapeamento de campo que visará reconhecer, por análise táctil visual, quais
são os horizontes superficiais encontrados na região.
Ao final do estudo geológico, será possível obter o mapeamento da área onde a barragem será
implantada, inclusas possíveis estruturas geológicas, como falhas, intrusões e famílias que
possam afetar na estabilidade da barragem.
Com o arranjo da estrutura definido, poderão ser traçadas seções para avaliar a estabilidade
geotécnica para validação da geometria do barramento. O sobrepeso causado pelo sistema da
barragem também poderá ser utilizado para avaliar a hidrodinâmica da região após a
construção da barragem, de forma que as subpressões e o nível freático possam ser antevistos
e possam guiar a locação da instrumentação necessária para o monitoramento da estrutura.
ESTUDOS GEOTÉCNICOS
Os estudos geotécnicos de um projeto de barragem envolvem, principalmente: o tratamento da
fundação, a estabilidade e a drenagem interna.
TRATAMENTO DA FUNDAÇÃO
ATENÇÃO
Em um caso de fundação que não seja possível a remoção do material, pode-se aplicar
técnicas de melhoramento, como a injeção de calda de cimento (jetgrouting).
Caso o material a ser disposto seja contaminante, será necessário impermeabilizar o contato
com a fundação, para isso, é comum a utilização de argila compactada ou de material geotêxtil.
ESTABILIDADE
Após garantir que a fundação da barragem é adequada para receber o sobrepeso, deve-se
validar a geometria escolhida para a barragem. Para tal, a forma mais comum é realizar
análises de estabilidade com a utilização da Teoria de Equilíbrio Limite, a partir da seção
geológica com a implantação da barragem, do conhecimento do comportamento da superfície
freática e dos parâmetros geotécnicos dos materiais que compõem a seção.
ATENÇÃO
Esse modelo poderá ser confrontado com a análise hidrogeológica dinâmica Já vista.
Em programas mais sofisticados, que utilizam elementos finitos, é possível realizar também
análises de tensão x deformação, de forma a prever os deslocamentos e recalques
esperados para os materiais da fundação.
SAIBA MAIS
Caso a geometria da barragem seja validada, deve-se partir para o detalhamento da barragem.
DRENAGEM INTERNA
Dos tipos de drenagem interna mais usuais, os mais comuns encontram-se ilustrados nas
figuras abaixo:
AUSÊNCIA DE DRENAGEM
ENROCAMENTO DE PÉ
FILTRO ESCALONADO
Dreno de fundo
Para o bom funcionamento do dreno de fundo, além de captar e servir como um caminho
preferencial de água, deve-se garantir que não haja carreamento de finos. Assim sendo, os
drenos internos também são chamados de filtros, e o dimensionamento deve ser realizado
levando em consideração os critérios de:
PERMEABILIDADE
O dreno deve ter alta condutividade hidráulica para impedir a geração de grandes forças de
percolação e pressões hidrostáticas.
CONTENÇÃO
Os vazios formados entre grãos do dreno devem ser suficientemente pequenos para reter
partículas maiores do material protegido.
Para o dimensionamento de drenos internos, deve-se determinar a vazão esperada, seja à
mão, por meio de redes de fluxo, ou por modelagens em programas computacionais. Daí,
determina-se o intervalo aceitável para o coeficiente de permeabilidade dos filtros e calcula-se
a espessura necessária, seja pela Lei de Darcy ou pela Equação de Dupuit.
Para atuar como filtro, os drenos são compostos por transições geotécnicas, que são
materiais de diversificadas e controladas granulometrias, conforme ilustrado na figura abaixo.
Formam-se, assim, os drenos sanduíches, que podem ser associados a materiais geotêxteis.
Também como parte dos estudos geotécnicos, deve-se definir a instrumentação necessária
para o monitoramento da barragem. Isso será tratado posteriormente.
No projeto, são então definidos níveis d’água: de operação, para quando o reservatório estiver
em nível normal; e máximo, que representa o máximo aceitável antes de um transbordamento.
A distância entre o nível d’água normal e a elevação de crista da barragem é chamado borda
livre operacional, ou borda livre remanescente no caso do nível d’água máximo. Para
garantir a saída de água pelo extravasor, em um caso de cheia, a soleira do extravasor deve
coincidir com o nível d’água normal.
As chuvas também podem causar erosões dos taludes e das bermas, que podem ser
controladas por meio de um sistema de drenagem superficial eficiente associado à
vegetação dos taludes e proteção das bermas.
Concepção do sistema.
Caracterização da bacia hidrográfica.
Determinação das chuvas intensas na área de projeto.
Definição das características físicas e parâmetros das bacias de contribuição, como área de
drenagem, características do terreno e tempo de concentração.
Cálculo das vazões de projeto para cada área de contribuição.
Dimensionamento hidráulico das estruturas.
Os dados sobre as chuvas intensas são obtidas de dados históricos disponibilizados pela
Agência Nacional de Águas (ANA). Os dispositivos devem ser calculados por teorias e métodos
de hidráulica consolidados; geralmente, adota-se a Metodologia de Manning para escoamento
permanente e uniforme.
Sump, que consiste em um sistema para retenção de sólidos carreados pela água e evita
a contaminação da água a jusante.
ESTUDOS AMBIENTAIS
Os estudos ambientais envolvem a região que será diretamente afetada pela construção da
barragem e seu entorno. Possíveis nascentes e córregos que sejam impactados pelo
empreendimento devem ser levantados, bem como a área de vegetação que deverá ser
suprimida.
ATENÇÃO
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) Estudo de alternativas
B) Projeto básico
C) Projeto conceitual
D) Estudo de viabilidade
E) Projeto executivo
A) Tratar a fundação.
GABARITO
1. Um engenheiro deseja construir uma barragem de concreto em uma região árida com
a finalidade de reserva de água e geração de energia elétrica. Para tal, ele está realizando
levantamentos geológico, geotécnicos, hidrológicos e socioeconômicos na região. O
mais provável é que esse engenheiro esteja realizando a fase de projeto chamada de:
A drenagem interna de uma barragem tem a finalidade principal de agir como o caminho
preferencial da água dentro da barragem, controlando as poro-pressões e evitando o
carreamento de material e erosões.
MÓDULO 4
OPERAÇÃO DE BARRAGENS
Para garantir o bom funcionamento de barragens, a estrutura deve passar por rotinas de
inspeções e manutenção. O Plano ou Manual de Operação é o documento responsável por
toda sistemática da operação, além de conter algumas características geométricas do
empreendimento para rápida consulta:
Altura da barragem
INSPEÇÃO DE ROTINA
INSPEÇÃO DE EMERGÊNCIA
Realizada sempre que uma anomalia potencial que coloque em risco a segurança da estrutura
seja identificada.
Inspeções adicionais podem ser realizadas caso o engenheiro responsável julgue necessário.
Como inspeções preventivas, que podem ser realizadas antes de épocas conhecidamente
chuvosas, e podem ser úteis para se verificar a condição da estrutura antes de eventos que
possam levar a erosões e a cheias.
ATENÇÃO
No Manual de Operações, também deve constar a periodicidade indicada para a leitura dos
instrumentos da barragem. As leituras devem ser analisadas por um engenheiro habilitado,
que verificará se o barramento pode estar associado a algum risco de ruptura.
Para garantir a boa operação de uma barragem, também se faz necessária a manutenção da
estrutura, que envolve, por exemplo, ações de limpeza, remoção de entulhos e de vegetação,
testes de vida e calibração de instrumentos. Essas ações também devem constar no Manual
de Operações.
INSTRUMENTAÇÃO
Com a finalidade de se monitorar o desempenho de uma barragem, bem como diagnosticar
possíveis desvios da normalidade, a instrumentação geotécnica é implementada para
acompanhamento, principalmente, de anomalias, deformações, deslocamentos, sismos,
condições piezométricas e freáticas da estrutura.
DRONES
Para o monitoramento da elevação do nível d’água dentro do reservatório, podem ser utilizadas
réguas linimétricas, que permitem a leitura direta a partir de suas graduações. A medição do
nível do reservatório pode ser complementada por levantamentos batimétricos,
principalmente, quando o material reservado não é a água.
INSTRUMENTOS DE MONITORAMENTO E
CONTROLE
MARCOS SUPERFICIAIS
Chapa quadrada de aço galvanizado fixada na haste de transferência, que, na sua ponta
superior, possui calota esférica para apoio de mira topográfica. A leitura é realizada por
topografia a partir de um marco de referência (benchmark), e podem ser associadas várias
placas para uma mesma haste, a fim de se medir o recalque em vários níveis.
INCLINÔMETROS
RADAR ORBITAL
GEOFONES
Foto: Shutterstock.com
Medidor de nível d’água
PIEZÔMETROS
A carga piezométrica pode ser monitorada por meio de piezômetros, que podem ser de
diversos tipos, sendo os mais comuns os de tubo aberto (tipo Casagrande) e o elétrico de
corda vibrante. O primeiro consiste em um tubo que liga o bulbo que contém areia e selo de
bentonita ou solo-cimento e a superfície. O corpo do instrumento é preenchido com solo
natural, e as leituras são realizadas com utilização de pio elétrico, que consiste em uma trena
com ponteira elétrica a qual emite som assim que atinge a água. A carga piezométrica será
dada conhecendo-se a distância da boca do tubo e a água, e a cota de instalação.
Foto: Geothra, s. d
Piezômetro de Casagrande.
O piezômetro elétrico mede diretamente a poro-pressão por meio da medida por sensores da
deformação de um diafragma interno. A altura da coluna d’água é somada à cota de instalação,
obtendo-se a carga piezométrica no ponto medido. Esses instrumentos são mais sensíveis,
acurados e, por serem automatizado, permitem que as leituras sejam realizadas remotamente
para a frequência de tempo desejada.
Foto: Geothra, s. d
Piezômetro elétrico.
MEDIDORES DE VAZÃO
Foto: Shutterstock.com
Medidor de vazão.
POÇOS DE MONITORAMENTO
Imagem: Shutterstock.com
Poços de monitoramento
As leituras e as imagens obtidas dos instrumentos devem ser regularmente analisadas por
engenheiro geotécnico experiente, de forma que possíveis desvios de segurança e tomadas de
decisões possam ser conduzidas adequadamente.
ATENÇÃO
CLASSIFICAÇÃO DE BARRAGENS
A preocupação com a segurança de barragens se iniciou após as diversas rupturas dadas a
partir da década de 50.
NO BRASIL, A POLÍTICA NACIONAL DE
SEGURANÇA DE BARRAGENS (PNSB)
ESTABELECIDA PELA LEI Nº 12.334/2010 – LEI
DE SEGURANÇA DE BARRAGENS TEM O
OBJETIVO DE GARANTIR QUE OS PADRÕES E
AÇÕES QUE GARANTAM A SEGURANÇA DA
BARRAGEM SEJAM SEGUIDOS, A FIM DE SE
REDUZIR A PROBABILIDADE DE ACIDENTES.
Nessas normativas, são atribuídas classificações para as barragens, de forma que se tenham
indicadores entre o volume do material contido e as condições de segurança da barragem.
NÍVEL 0
Nível normal.
NÍVEL 1
NÍVEL 3
As barragens também passam por um Sistema de Classificação por categoria de risco e por
dano potencial associado, tendo como base critérios estabelecidos pelo Conselho Nacional de
Recursos Hídricos (CNRH).
A categoria de risco está relacionada aos aspectos da barragem que possam influenciar na
probabilidade da ruptura, como: projeto, integridade, estado de conservação, operação,
manutenção e atendimento do Plano de Segurança da Barragem. Os riscos classificatórios
podem ser: alto, médio ou baixo, dado pela equação:
CRI - CT + EC + PS
Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal
CRI ≥ 60 CRI ≥ 8
MÉDIA
35 ≤ CRI ≤ 60
BAIXO
CRI ≤ 35
O dano potencial associado (DPA), por sua vez, representa o dano esperado com o
rompimento, vazamento, infiltração no solo ou mau funcionamento de uma barragem. Esse
parâmetro é independente da probabilidade de ocorrência da ruptura, e é função do potencial
de perdas de vidas humanas e dos impactos sociais.
ALTA
DPA ≥ 16
MÉDIA
10 ≤ DPA ≤ 16
BAIXO
DPA ≤ 16
A partir do CRI e do DPA, classifica-se a barragem em cinco categorias dadas pelas letras de A
até E. As barragens que apresentam maior risco associado e dano potencial são as do tipo “A”,
e nessas, o plano de segurança merece uma atenção especial, assim como as revisões de
segurança.
DANO POTENCIAL
ASSOCIADO
CATEGORIA DE
ALTO MÉDIO BAIXO
RISCO
ALTO A B C
MÉDIO A C D
BAIXO A C E
DOCUMENTOS DE SEGURANÇA DE
BARRAGENS
Após os desastres ocorridos em Minas Gerais com o rompimento de barragens, a exigência e a
importância de documentos que comprovem e atualizem as seguranças e ações de barragens
têm se tornado cada vez mais amplos. Alguns dos documentos necessários para a legalização
de barragens são:
Revisão
Periódica de Objetiva verificar periodicamente o estado geral de segurança da
Segurança barragem, além de indicar as ações a serem executadas para a
de Barragem manutenção da segurança da estrutura.
(RPSB)
Declaração
de Condição
Documento que certifica a segurança de uma barragem, assinada
de
por um engenheiro consultor experiente na área.
Estabilidade
(DCE)
ATENÇÃO
O PSB e o PAE devem estar disponíveis no local da barragem e na sede do dono da barragem,
além de serem distribuídos para a defesa civil local do empreendimento.
DESATIVAÇÃO DE BARRAGENS
Após a barragem cumprir seu papel ao qual foi designada ou por questões técnicas e
legislativas, para encerrar a sua operação, ela deve passar por processos conhecidos como
descomissionamento e descaracterização.
Descomissionamento
Descaracterização
Nos dois casos de desativação de barragem, vê-se que a estabilidade do entorno é de suma
importância. Caso a barragem não apresente segurança adequada, ela pode ser atingida por
meio de rebaixamentos freáticos e construção de bermas de equilíbrio.
ATENÇÃO
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. O DOCUMENTO EM QUE PODE SER ENCONTRADA A PERIODICIDADE
DE INSPEÇÕES VISUAIS E LEITURA DE INSTRUMENTOS NECESSÁRIAS
EM BARRAGENS É O (A):
A) Carta de Risco
B) Manual de Operação
B) Medidores de vazão
C) Inclinômetros
D) Marcos superficiais
E) Piezômetros
GABARITO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste conteúdo, analisamos os aspectos mais importantes sobre as barragens, desde
concepção, projeto, construção e operação. Vimos que são envolvidos o conhecimento
interdisciplinar de diversos assuntos da Engenharia Civil, já que se misturam conceitos de
mecânica dos fluidos, hidráulica, mecânica dos solos, estruturas de concreto, dentre outros.
REFERÊNCIAS
ADAMO, N.; AL-ANSARI, N.; SISSAKIAN, V. K.; LAUE, J. Dam Safety: Technical Problems of
Aging Embankment Dams. Journal of Earth Sciences and Geotechnical Engineering, v. 10, n. 6,
p. 281-322, 2020.
CRUZ, P. T. da. 100 Barragens Brasileiras. 2. ed. Oficina de Textos: São Paulo, 2004.
DEFESA Civil monitora barragens de Taió e Ituporanga. Governo de Santa Catarina. Publicado
em: 2 de jun. 2017.
MASSAD, F. Obras de Terra – Curso Básico de Geotecnia. 2. ed. Oficina de Textos, São
Paulo, 2010.
ZHANG, L. M.; XU, Y.; JIA, J. S. Analysis of earth dam failures: a database
approach. Georisk: Assessment and Management of Risk for Engineered Systems and
Geohazards. Informa UK Limited. [S.L.], v. 3, n. 3, p. 184-189, set. 2009.
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