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 Colégio Diocesano de Nossa

 Senhora da Apresentação
 Estabelecimento de ensino integrante da rede pública.
Financiado pelo Ministério da Educação ao abrigo do
Rua Pe. Batista, nº 100
3840-053 Calvão
  contrato de associação.
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Português – 11º Ano – outubro de 2021 – Duração: 100 minutos

Grupo I

PARTE A
Leia o texto e responda ao questionário, de uma forma clara, cuidada e fundamentada.

Mas já que estamos nas covas do mar, antes que saiamos delas, temos lá o irmão Polvo, contra o
qual têm suas queixas, e grandes, não menos que São Basílio e Santo Ambrósio. O Polvo com aquele
seu capelo na cabeça parece um Monge, com aqueles seus raios estendidos, parece uma Estrela, com
aquele não ter osso, nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão. E debaixo desta
5 aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa, testemunham contestamente 1 os dois grandes
Doutores da Igreja Latina, e Grega, que o dito Polvo é o maior traidor do mar. Consiste esta traição do
Polvo primeiramente em se vestir, ou pintar das mesmas cores de todas aquelas cores, a que está
pegado. As cores, que no Camaleão são gala, no Polvo são malícia; as figuras, que em Proteu2 são
fábula, no Polvo são verdade, e artifício. Se está nos limos, faz-se verde; se está na areia, faz-se
10 branco; se está no lodo, faz-se pardo; e se está em alguma pedra, como mais ordinariamente costuma
estar, faz-se da cor da mesma pedra. E daqui que sucede? Sucede que outro peixe inocente da traição
vai passando desacautelado, e o salteador, que está de emboscada dentro do seu próprio engano,
lança-lhe os braços de repente, e fá-lo prisioneiro. Fizera mais Judas? Não fizera mais; porque nem fez
tanto. Judas abraçou a Cristo, mas outros O prenderam: o Polvo é o que abraça, e mais o que prende.
15 Judas com os braços fez o sinal, e o Polvo dos próprios braços faz as cordas. Judas é verdade que foi
traidor, mas com lanternas diante: traçou a traição às escuras, mas executou-a muito às claras. O Polvo
escurecendo-se a si tira a vista aos outros, e a primeira traição, e roubo, que faz, é à luz, para que não
distinga as cores. Vê, Peixe aleivoso, e vil, qual é a tua maldade, pois Judas em tua comparação já é
menos traidor.
20 Oh que excesso tão afrontoso, e tão indigno de um elemento tão puro, tão claro, e tão cristalino
como o da Água, espelho natural não só da terra, senão do mesmo Céu! […] E que neste mesmo
elemento se crie, se conserve, e se exercite com tanto dano do bem público um monstro tão
dissimulado, tão fingido, tão astuto, tão enganoso, e tão conhecidamente traidor?
Padre António Vieira, Obra completa (dir. José Eduardo Franco e Pedro Calafate),
tomo II, vol. X, Lisboa, Círculo de Leitores, 2014.

Notas:
1 contestamente: de forma concordante; 2 - Proteu: deus marinho da mitologia grega que tinha o poder de se metamorfosear.

1. Apresente as características do Polvo, explicitando-as. (13 pontos)

2. Demonstre a natureza argumentativa do excerto, identificando a tese que é defendida e o modo como
se desenvolve. (13 pontos)

3. Refira dois recursos expressivos ao serviço da intenção persuasiva do Sermão, comentando a sua
expressividade. (13 pontos)

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PARTE B

Leia o seguinte poema camoniano.

Oh! como se me alonga, de ano em ano,


a peregrinação cansada minha!
Como se encurta, e como ao fim caminha
este meu breve e vão discurso humano!

Vai-se gastando a idade e cresce o dano;


perde-se-me um remédio, que inda tinha;
se por experiência se adivinha,
qualquer grande esperança é grande engano.

Corro após este bem que não se alcança;


no meio do caminho me falece,
mil vezes caio, e perco a confiança.

Quando ele foge, eu tardo; e, na tardança,


se os olhos ergo a ver se inda parece,
da vista se me perde e da esperança.

Luís de Camões, Rimas, edição de Álvaro J. da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 2005, p. 129 4.

4. Refira quatro dos aspetos que integram a reflexão sobre os efeitos da passagem do tempo na vida do
sujeito poético, com base nas duas quadras. (13 pontos)

5. Relacione o sentido do verso «qualquer grande esperança é grande engano» (v. 8) com o conteúdo dos
dois tercetos. (13 pontos)

PARTE C
6. Escreva uma breve exposição onde explicite a razão pela qual o Sermão de Santo António, de Padre
António Vieira, constitui uma alegoria. (15 pontos)

A sua exposição deve respeitar as orientações seguintes:


 uma introdução ao tema;
 um desenvolvimento no qual explicite dois aspetos que comprovem o valor alegórico da obra,
fundamentando cada um deles com exemplos concretos;
 uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.

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Grupo II

Leia o texto seguinte. Em caso de necessidade, consulte as notas.

A ciência tem hoje tantas e tão úteis aplicações nas nossas vidas que a associação mais imediata
que o cidadão comum faz hoje à ciência não pode deixar de ser a tecnologia. Essa associação, embora não
diga o essencial sobre a ciência – que é acima de tudo a descoberta do mundo pelo homem –, não deixa de
ser adequada. A tecnologia precedeu a ciência – isto é, o fazer antecipou o saber – mas, na modernidade,
5 toda a tecnologia passou a derivar da ciência – o saber passou a ser a única fonte do fazer.
As aplicações da ciência não se fazem sem riscos. Aliás, nada na vida humana se faz sem risco. Não
existe risco zero: é inevitável que vivamos permanentemente sob ameaças. Há que distinguir, na análise
dos riscos, entre aquilo que são azares, eventos naturais desfavoráveis (que, nas antigas apólices de
seguro, se chamavam «atos de Deus»), e erros, que resultam de falhas humanas (errare humanum est),
10 que podem ir desde o insuficiente cuidado no planeamento até uma ação dolosa, passando por um acidente
involuntário. Se os azares não podem ser evitados, os erros podem e devem, tanto quanto possível, ser
prevenidos. É decerto virtuosa a aprendizagem que podemos fazer a partir deles. A ocorrência de um certo
erro deve despoletar medidas para evitar situações do mesmo tipo. Podemos continuar a errar, mas os
novos erros serão menores e, sobretudo, diferentes. A ciência, através do seu moderno braço armado que é
15 a tecnologia, protege-nos dos riscos inerentes à natureza e minimiza os riscos originados por ações
humanas. Se é certo que os avanços da ciência, ao possibilitarem novas intervenções do homem no
mundo, geram riscos, não é menos verdade que a ciência, a aplicação correta do método científico, ainda é
o melhor instrumento de que dispomos para errar cada vez menos.
Como medir o risco? A ciência quantifica normalmente o risco usando a noção de probabilidade.
20 Contudo, a noção de probabilidade não é de fácil apreensão pelo comum das pessoas. Muitos passageiros,
mesmo sabendo do baixo risco de fatalidade (0,0000185 por cento), têm medo quando entram num avião. O
nosso cérebro tem dificuldade em avaliar riscos.
O risco, correta ou incorretamente percecionado, está por todo o lado nas nossas vidas, sendo várias
as interrogações que se podem colocar em face dele. A ciência traz-nos constantemente novos riscos,
25 assim como maneiras de os minimizar.
Qual é então o valor da ciência? E quais são os perigos da ciência? De facto, a ciência como
processo intelectual de descoberta do mundo é inofensiva. É melhor saber do que não saber. Mas a
atividade que o homem exerce ou pode exercer no mundo, uma vez em posse do conhecimento científico, é
sempre arriscada.

Carlos Fiolhais, «Aprendendo com os erros», XXI, Ter Opinião, Fundação Francisco Manuel dos Santos, n.º 5, jul.-dez. 2015
(adaptado)

NOTAS: dolosa (linha 12) – fraudulenta; que causa prejuízo conscientemente. errare humanum est (linha 11) –
expressão latina que significa errar é humano.

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1. Para responder a cada um dos itens de 1.1. a 1.4., selecione a opção correta. Escreva, na folha de
respostas, o número de cada item e a letra que identifica a opção escolhida. (4x10 pontos)

1.1. Na atualidade, a associação entre a ciência e a tecnologia caracteriza-se pelo facto de esta última
(A) anteceder a ciência.
(B) divergir da ciência.
(C) resultar da ciência.
(D) legitimar a ciência.

1.2. Segundo o autor do texto, ao contrário dos erros, os azares


(A) são incontornáveis.
(B) podem ser prevenidos.
(C) resultam da ação humana.
(D) diminuem com o avanço científico.

1.3. O exemplo apresentado no terceiro parágrafo evidencia a ideia de que


(A) é impossível fazer o cálculo do risco de cada situação.
(B) a perceção do risco tem uma vertente psicológica inquestionável.
(C) é imprescindível calcular a probabilidade de risco de cada situação.
(D) o medo resulta diretamente do conhecimento da probabilidade de risco.

1.4. Do ponto de vista do autor, os «perigos da ciência» (linha 26) decorrem


(A) da posse do saber científico pelo homem.
(B) do processo intelectual próprio da ciência.
(C) do uso dos conhecimentos científicos.
(D) da excessiva valorização da ciência.

2. Classifique a oração iniciada por «que» (linha 1). (10 pontos)

3. Refira a função sintática desempenhada pela oração subordinada presente em «é inevitável que
vivamos permanentemente sob ameaças» (linha 7). (8 pontos)

4. O uso das palavras «dele» e «os» (linhas 24 e 25) contribui para a coesão (8 pontos)
(A) lexical.
(B) aspeto-temporal.
(C) frásica.
(D) referencial.

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