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enfrentar a queda
antes mesmo de pular
Morrer no meio do caminho
entravando a pa(i)ssagem
Cuspir pedras no escuro
para engolir
lascadas
e rasgar as tripas na saída
Ver nascer o filho
natimorto
entre as horas e segundos
Mapear os fins entre os
começos
Separar aos poucos
o que habita e gela o peito
Em matéria de palavras
e metáforas
E pra não dizer que
não fiz nada
E pra não dizer que faço falta
escrevi esse poema
Dois pássaros conversavam na minha frente de certo tramavam roubar as migalhas de bolo,
enumeravam os mortos por gatos e descreviam as tempestades no meio do pacífico
sobre a fossa das marianas.
Depois seguiram caminho rumo alguma ilha distante….
Desleixo incoerente
Corrente quente
Corre a lugar algum
Cheiro de pólvora
Nenhuma bala ou
Gaivota
Só ondinhas bombas
A balançar
A mil milhas submarinas
Minas e mais minas
que um dia desistiram
também de estourar
Diablos joros
me levem a profundo
abissal
Não tenho guelras
pra respirar teu ar
Cânticos órficos ao pé do ouvido
As sereias estão la
mas não querem roer meus ossos
também desistiram da vaidade tosca
Agora vivem
catando tranqueiras na orla
Pequenos e brilhosos pedaços de vidro
que também já não cortam mais
e vão cantando baixinho
pra ninguém ouvir
como faca cega
Escondida
Na última gaveta
Sussurrando amores perdidos
que já não afiam os dentes
Ode as samambaias
Pontas soltas de
fios de cobre
Cumulonimbus
que paira sorrateira
anunciando
o fim do mundo
em água
novamente….
Noé está morto
e todas as barcas
carregam óleo
e carvão mineral.
Ainda serei eu nas paredes das farmácias
na boca dos matutinos
e dirão:
— tão jovem que deus o tenha
e direi remexido
com terra nos olhos
com balsamo nas tripas
de onde quer que esteja
— fodam-se todos vocês.
De longe avisto terra quase firme, bote que flutua e nada mais, apenas flutua as vezes ameaçando
virar…
Balanço
de
pernas bambas
Câimbras…
meus olhos miram o horizonte
mapeiam o translado transversal até o fim
talvez também até a queda …
Salinas palavras vem a garganta
Salmoura
pranto quase doce escorre a face
Não ha ninguém aqui comigo…
nem mesmo a mim restou a falta
sou marinheiro agora
Antes fosse quase nada
Ao menos seria como a
Vaga que dissolve o sal
São quatro da manha não consigo dormir e sinto a sua falta
me sinto escritor coisa boba, palavrinhas salpicando….
posso forjar o sono e sua presença, mas não quero.
Conversa as 4 da manhã
Vi estrelas cadentes
que
Caiam como dentes
(dantes)
Da boca de mendigos
E pessoas que pularam
Do vigésimo andar…
Com a língua
Conto os meus
Por hora perfilados
Em um sorriso amargo.
Tortura chinesa
千切
Amanheço ensanguentado….
Seu nome
me cortou a noite inteira
Suplico em mandarim:
— 只是砍下我的头
Mas nenhum de nós entende.
Coisas para jogar em ácido
Trepanação trêmula
Corte de obsidiana
Sem morfina …
O dedo que bate na quina
Dor que escorre
Grossa
Abaixo
Crânio furado e mancha no
Papel
—Pressão já esta boa senhor,
Você vai ficar bem por pouco não
Explodiu.
Assim diria Zaratustra
زرتشت گفت
Os pardais estão morrendo
de malária
As corporações destruindo o mundo
A síria
Tuaregues cantando
no dorso de camelos
وقت خود را تلف کرده اید، شن و ماسه دریا یا چیزی
ao som de flautins
e alaudes
Comendo damasco
tâmaras
e chá de menta
com testículos de bode
Mulheres lutando por direitos
trabalhadores
revoluções
incêndios
os índios
A síria de novo
rosa do oriente
O cancro
Petróleo
A grecia em crise
Shiva ainda vai destruir o mundo
Jesus vai voltar
Maome terceiro
quarto
quinto
já estão todos aqui
Na áfrica alguma mulher
perdeu o clítoris
Na china fazem sabão
com bebes e cachorros
O mercado financeiro comprou todos nos
as baleias estão sumindo
No entanto cá estamos
lendo esse poema mais que inútil.
Entrincheirado
aguardo o batalhão
que sei
não vira
Preparei tudo a espera
mascara de gaz
morteiro
o presente para o
armísticio
Estou só
la fora
travam batalha sem mim
Reforcei demais a retaguarda
longe o
longo brilho dos lança-chamas
me chama no escuro….
Reforcei demais a retaguarda.
Tento desesperadamente
conter barragem
com o correr das mãos
no batente frio da porta
posso sentir o tempo escorrer
sinto a gota que faltava
escorrer no rosto.
Urso d´água quer ser musgo
Morre embasbacado
A luz neon
Hipotérmico
Abissal
Acnidário fora d´água
No quintal
Bebe um litro se soda
Em alto-mar
Quase não sente
O buraco
O barco
A falta que faz
Quer ser musgo
Rasgo no concreto
Urso d´água fora d´água
Quimioluminescência
Forçada
A beira da forca do dia
Corda grossa no pescoço
Pender descalço
Com desgosto
Enquanto ouve
O pai nosso de cada dia
Rogar pragas aos pobres
Cortar com faca cega o escalpo
Dos malditos
história de amor entre a bala e o peito
ferrugem gasta
coágulo consanguíneo
alvo e atirador
amargura perpétua
sangria desatada
e depois amor
quando o corpo aceita a bala
engloba o chumbo
e sorri com a dor
mas uma hora
corpo estranho
quer sair
fechar ferida aberta
e o homem
sente falta
do rasgo
e o rasgo
já não desfaz
já não sobrou
homem
sem estilhaço
faço de conta que durmo
e no sono faço de conta
que boio
a deriva no norte
converso com baleias
e em determinado ponto
afundo
como pedra redonda
a conversar com os naufragados
e la embaixo contemplo
a verdadeira face dos icebergs
ao menor sinal de tempestade
recolha as roupas do varal
ao menor sinal de chuva
suba em uma árvore ou
aprenda a nadar
nada como nadar
nas enchentes
nas
nascentes
e morrer
afogar
entorpecido
subaguatico
e poder dizer a todos
eu tentei
exercício de ler versos avulsos
E vou
lustrando dentes e sabres
comparando
compassado morto
e vivo
Chego a ver
nas entrelinhas
Babilônia enfurecida
escrita cuneiforme
corrompida
Cumprida agonia
de morrer
e deixar rastros
Ossos escavados com desdem
por aqueles que desejam muito
mais do que convêm
Poética
as vezes enclausurada
incauta
louca varrida
pra debaixo do tapete
As vezes sólida
pungente
ferida
Um soco no estômago
mas quase nunca
quase nunca
inteiramente compreendida.