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IMAGINOLOGIA

Miriãn Ferrão Maciel Fiuza


Princípios de proteção
radiológica
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Aplicar as normas da CNEN para radioproteção.


„„ Reconhecer as limitações de dose de exposição a pacientes e pro-
fissionais de saúde.
„„ Identificar os equipamentos de proteção individual e coletiva a serem
utilizados na aplicação de exames radiológicos.

Introdução
As radiações ionizantes podem resultar em importantes efeitos biológicos
ao organismo exposto. Como exemplo podemos citar os erros no pare-
amento de bases, o rompimento de ligações fosfodiéster e as quebras
cromossômicas. Dessa forma, medidas de proteção radiológica devem
ser implementadas e seguidas rigorosamente, para evitar exposições
desnecessárias.
Neste capítulo, você vai estudar as normas da Comissão Nacional de
Energia Nuclear para radioproteção, assim como as limitações de dose
de exposição a pacientes e profissionais de saúde. Também vai ver quais
são os equipamentos de proteção individual e coletiva a serem utilizados
na aplicação de exames radiológicos.

Normas para radioproteção


As radiações ionizantes são as radiações que têm a capacidade de arrancar
um elétron de um átomo. Esse processo é definido como ionização. Esse tipo
de radiação é caracterizada por sua alta energia e pequeno comprimento de
onda, como os raios X, por exemplo. O processo de ionização torna as molé-
culas muito instáveis e vulneráveis a reações químicas. Além do mais, essas
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substâncias podem se alternar com o DNA, provocando erros no pareamento


de bases, e romper as ligações fosfodiéster, originando quebras cromossômicas.
Esse tipo de radiação ficou conhecido no século XIX, a partir dos experi-
mentos de Wilhelm Conrad Röntgen. Desde então ela tem sido utilizada com
sucesso para o diagnóstico de doenças. Além disso, as radiações ionizantes
têm sido crescentemente utilizadas na indústria, agricultura, pesquisa e ati-
vidades nucleares relacionadas à produção de energia. Entretanto, seu uso
inadequado ou descuidado pode implicar em graves consequências. Portanto,
as instituições que fazem uso dessa ferramenta devem estar atentas à imple-
mentação de tecnologias, normas e protocolos para radioproteção, buscando
maior benefício e segurança efetiva aos seus usuários (BORGES-OSÓRIO;
ROBINSON, 2000; MENDES; FONSECA; CARVALHO, 2004; MESQUITA
FILHO; CRUZ; VON ATZINGEN, 2012).
Além das fontes artificiais de radiação, produzidas pelo ser humano, como
os raios X, há também as fontes naturais de radiação, como os raios cósmicos.
Desse modo, os indivíduos estão constantemente expostos a uma radiação
base, ou a chamada de radiação de fundo, que é definida como a soma da
radiação natural com a artificial.
As principais fontes de exposição às quais a população está submetida
provêm da manipulação da radiação em hospitais, consultórios odontológicos
e clínicas médicas. Quando a manipulação dos equipamentos de raios X
não cumpre requisitos de segurança e proteção, podem acontecer distúrbios
relacionados à saúde para os profissionais, os pacientes e o meio ambiente.
Os danos dependem da dose de radiação, podendo ser irreversíveis e provocar
eritemas, descamação da pele, neoplasias e defeitos genéticos.

Outros possíveis danos provocados pela radiação são catarata, esterilidade e anemia.
Os tecidos com alta taxa de renovação celular, como a medula óssea e as gônadas,
são mais sensíveis à radiação.

Levando isso em consideração, o profissional que trabalha com raios X


deve, obrigatoriamente, conhecer os riscos e efeitos biológicos derivados das
radiações ionizantes, para aplicar a adequada proteção e segurança durante sua
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utilização (MESQUITA FILHO; CRUZ; VON ATZINGEN, 2012; SANTOS;


MIRANDA; SILVA, 2010).
No Brasil, o Ministério da Saúde regulamentou a utilização dos raios X para
fins de diagnóstico médico e odontológico, determinando rigorosos parâmetros
de proteção radiológica, pela Portaria da Secretaria de Vigilância Sanitária e do
Ministério da Saúde nº. 453, de 1º de junho de 1998. Essa portaria estabelece
processos que devem ser aplicados para proteção de quem manipula e tam-
bém de quem utiliza esses serviços, como técnicas e procedimentos seguros,
revestimentos adequados de paredes, periodicidade de assistência técnica
e manutenção. A Portaria SVS/MS nº. 453/98 também exige a utilização
de equipamentos de proteção individual (EPI’s) e a fiscalização sistemática
e ordenada dos equipamentos e técnicas, tendo como finalidade prevenir a
exposição de profissionais, pacientes e população em geral a doses impróprias
e desnecessárias de radiação ionizante.
Já a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) tem como finalidade
garantir que as instituições façam uso adequado de radiações ionizantes,
dentro dos padrões e regras de radioproteção, visando a assegurar que os
níveis de radiação sejam tão baixos quanto aceitavelmente possível, reduzindo
a exposição às radiações ionizantes dos indivíduos como um todo. No país,
existem 756 instalações autorizadas pelo CNEN somente na área médica,
representando a necessidade de normas e critérios que regulamentem as suas
atividades (MENDES; FONSECA; CARVALHO, 2004; MESQUITA FILHO;
CRUZ; VON ATZINGEN, 2012; BRASIL, 2019).
A CNEN dispõe e disponibiliza diversas normas de livre acesso ao público,
como Instalações Nucleares; Controle de Materiais Nucleares; Proteção Física
e Proteção Contra Incêndio; Proteção Radiológica; entre outras. A norma
CNEN NN 6.10 institui requisitos de segurança e proteção radiológica para
serviços de radioterapia. Nela estão previstas as mais diversas orientações,
em capítulos como “Processo de licenciamento”, “Responsabilidades em
serviços de radioterapia” e “Requisitos de segurança e proteção radiológica em
radioterapia”. Os aspectos abordados iniciam pela qualificação do responsável
técnico, passando pelas instalações físicas e equipamentos de radioproteção
necessários, além de incluir os procedimentos de manipulação de fontes e
resíduos gerados. Em caso de irregularidades, a quantificação é possível pela
atribuição de pesos para cada uma delas, considerando a gravidade dos riscos
oriundos medicina nuclear e os riscos relacionados a cada item (MENDES;
FONSECA; CARVALHO, 2004; BRASIL, 2014).
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Mundialmente, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)


orienta a cerca de princípios gerais de regulamentação do uso de energia
atômica. A AIEA é uma associação que foi fundada em 1957 e está ligada à
Organização das Nações Unidas (ONU), atuando como um fórum técnico-
-científico de cooperação intergovernamental. Tem sede em Viena, nas Áustria,
e possui 150 Estados membros, cujos representantes se reúnem anualmente
para uma Conferência Geral, em que elegem 35 componentes para o Conselho
de Governadores. Os membros do conselho reúnem-se cinco vezes ao ano e
ordenam as decisões que serão mantidas pela Conferência Geral.
Devido ao aumento das atividades nucleares na década de 1990, as ativida-
des da AIEA passaram a incluir as investigações e fiscalizações de suspeitas
de violações do Tratado de Não Proliferação Nuclear, sob encargo das Nações
Unidas. A AIEA tem como objetivo promover o uso pacífico da energia nuclear
e também buscar garantir que a energia não seja utilizada para fins militares.
Tem autorização para providenciar qualquer atitude necessária para incentivar
a pesquisa, o desenvolvimento e as aplicações práticas da energia nuclear com
finalidade pacífica. Além disso, pode fornecer materiais, serviços, instalações
e equipamentos para a realização dessas pesquisas, assim como incremen-
tar o desenvolvimento de aplicações práticas da energia atômica, atentando
sempre para as carências dos locais menos desenvolvidos do mundo. Por fim,
pode instituir ou aprovar normas de segurança nuclear, promover a troca de
informações técnicas e cientificas, entre outras atribuições (FONSECA, 2013;
MESQUITA FILHO; CRUZ; VON ATZINGEN, 2012).

Em 1968, na cidade de Genebra, na Suíça, foi assinado o Tratado de Não Proliferação


Nuclear (TNP). Esse é um acordo realizado com base em negociações conduzidas,
primeiramente, por Estados Unidos e União Soviética. Atualmente, o acordo conta
com 190 Estados-Partes, com ausência de Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte.
O tratado reforça o regime preconizado pela Agência Internacional de Energia Atômica,
mantendo a legitimidade do uso pacífico da energia nuclear e reconhecendo a ne-
cessidade de acabar com os testes de explosão nucleares, dando início a um processo
de desarmamento. Ainda de acordo com o TNP, somente as nações que explodiram
a bomba atômica antes de 1967 têm o direito de ter esse tipo de armamento. Nesse
grupo estão incluídos os Estados Unidos da América, a Federação Russa, antiga União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas, o Reino Unido, a França e a China (FONSECA,
2013; MESQUITA FILHO; CRUZ; VON ATZINGEN, 2012).
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Limitações de dose de exposição a pacientes e


profissionais da saúde
A dose de radiação se refere à quantidade de energia absorvida pelo organismo
após o contato com a radiação. Inicialmente, a dosagem era realizada de forma
qualitativa por meio de análise da hiperemia, vermelhidão causada na pele
exposta. Na atualidade, a exposição é medida pela unidade rad (radiation
absorbed dose) ou Gray (Gy). Além dessas, outra medida utilizada é o sievert
(Sv), que leva em consideração a capacidade de certo tipo de radiação de causar
um efeito biológico específico em comparação com raios X ou raios gama. Essa
unidade é considerada útil por permitir verificar a dose máxima permitida por
um órgão ou tecido. Para verificar e controlar a dose de radiação recebida pela
pessoa exposta, utiliza-se o dispositivo conhecido como dosímetro (BORGES,
2015; LINET et al., 2012).
A norma brasileira de proteção radiológica da CNEN estabelece parâmetros
sobre a produção, o armazenamento de materiais e a prática relacionada às
radiações ionizantes, além de definir requisitos essenciais ao trabalho seguro
dos profissionais. Entre as diversas recomendações, um dos princípios estabe-
lecidos nas diretrizes básicas de radioproteção se refere às doses individuais de
trabalhadores que manuseiam materiais radioativos, que não devem exceder
os limites determinados na norma CNEN-NE-3.01.6.
Segundo a norma, a exposição normal das pessoas deve ser limitada de
tal forma que nem a dose efetiva nem a dose correspondente nos órgãos ou
tecidos de interesse ultrapassem a dose efetiva de 20 mSv ao ano no corpo
inteiro, assim como 20 mSv para o cristalino e 500 mSv para pele, mãos e
pés como dose equivalente. Situações que excedam esses valores só podem
ocorrer em circunstâncias especiais, autorizadas pela CNEN. O termo dose
anual deve ser considerado como dose no ano calendário, ou seja, no período
entre janeiro e dezembro de cada ano. Sendo assim, essas recomendações de
dose se referem a valores médios em cinco anos, não podendo exceder 50 mSv
em um único ano, quando se trata do corpo inteiro (BRAND; FONTANA;
SANTOS, 2011; LINET et al., 2012).
6 Princípios de proteção radiológica

Em média, os indivíduos são expostos a uma dose de radiação natural de


2.400 μSv por ano. Porém, embora a radiação varie conforme o local e, como
consequência, a exposição também, existem relatos de que diversas pessoas
estão expostas a uma dose entre 10.000 μSv e 20.000 μSv por ano. Além disso,
estima-se que, durante uma viagem de ida e volta entre Tóquio e Nova York,
um indivíduo é exposto a, aproximadamente, 200 μSv. Para os procedimentos
diagnósticos de tomografia computadorizada, a exposição é de 6.900 μSv e,
em um exame de raios X abdominal, 600 μSv.
A CNEN determina que o limite de dose anual para o público deve ser de
1 mSv (1.000 μSv). Quando se trata de radiação natural, a dose limite é de
2,4 mSv e, para aplicações médicas, é 0,03 a 2,0 mSv, excluindo radioterapia,
para a média anual. Embora o risco de câncer aumente de forma proporcional
ao aumento da dose, qualquer valor inferior a 100 mSv recebido por um
indivíduo não exibe aumento significativo dos riscos de desenvolvimento de
câncer (BORGES, 2015; BRAND; FONTANA; SANTOS, 2011).
Conforme mencionado anteriormente, a dose se refere à quantidade de
energia doada à matéria pelos fótons ou partículas ionizantes por unidade de
massa. Já a dose equivalente é a relação entre a dose média absorvida no
órgão ou tecido e o fator de ponderação da radiação, sendo que este fator
leva em consideração a radiossensibilidade do tecido ou órgão.
As aplicações médicas representam as principais fontes de exposição
artificial da população mundial às radiações ionizantes. Estima-se que a
exposição à radiação para o diagnóstico por imagem tenha aumentado em
600% entre 1980 e 2006. Dessa forma, se as normas de proteção radiológica
e controle de exposição não forem adotadas, importantes implicações pato-
lógicas podem ocorrer.
Alguns procedimentos podem resultar em elevados níveis de exposição,
sendo possível observar efeitos secundários a doses elevadas, classificados
como determinísticos, ou proporcionais à dose recebida, sem existência de
limiar, definidos como estocásticos. Há relatos de pacientes que foram sub-
metidos a procedimentos intervencionistas e sofreram danos pela radiação,
como o mostrado na Figura 1. Entre os primeiros registros de lesão, há um
de necrose na pele por cateterismo guiado por fluoroscopia no ano de 1976.
Outro exemplo de efeitos biológicos por exposição à radiação é a ocorrência de
cataratas entre os funcionários de laboratórios de radiologia intervencionista.
Vano et al. (2013) relataram que 50% dos médicos cardiologistas expostos a
radiações ionizantes exibiram opacidade do cristalino (BRAND; FONTANA;
SANTOS, 2011; LEYTON et al., 2014; VANO et al., 2013).
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Figura 1. Lesão de pele em homem de 40 anos submetido a


múltiplas coronariografias. Cerca de 20 meses após o procedi-
mento, evidencia-se necrose dos tecidos.
Fonte: Adaptada de Leyton et al. (2014).

Indícios epidemiológicos e experimentais relacionam a exposição constante


à radiação ionizante ao desenvolvimento de tumores sólidos e hematológicos,
inclusive em baixas doses. Por essa razão, pessoas expostas, particularmente
funcionários da área de saúde, precisam ser monitorados permanentemente.
A dose cumulativa durante o período de cinco anos não pode ultrapassar
100 mSv, considerando que a dose máxima dentro de um ano é de 50 mSv.
Já as doses de radiação a que os pacientes são expostos normalmente não
são verificadas, e essa é uma questão preocupante, já que a complexidade das
intervenções tem aumentado nos últimos anos, requerendo maior tempo de
duração das técnicas, bem como sua repetição. Dessa forma, é imprescindível
que certos cuidados sejam tomados para evitar a exposição desnecessária e
imprópria do paciente, como investigar se o exame é clinicamente necessário
para realizar o diagnóstico e verificar se há meios alternativos que não utilizem
radiações ionizantes e que possam disponibilizar informações suficientes ao
8 Princípios de proteção radiológica

diagnóstico. Além disso, também é importante limitar o número de radiografias


e aprimorar as técnicas radiográficas utilizadas, analisando sua adequação às
características do paciente e a finalidade do exame (MEDEIROS et al., 2010;
OLIVEIRA; KHOURY, 2003).
A Comissão da Comunidade Europeia produziu um documento com guias
para se obter imagens com qualidade associadas a baixas doses para exames
radiológicos frequentes. Entre os parâmetros do documento, os tempos de
exposição devem ser os mais curtos possíveis, para que a dose de entrada
na pele seja mínima. Em casos que não for possível usar tempos reduzidos,
recomenda-se utilizar filtração adicional, para que os fótons de menor energia
sejam absorvidos e não alcancem a pele do paciente. As doses de referência
para radiologia são produtos de amplas investigações; entretanto, sempre que
possível, deve-se tentar reduzir as doses, especialmente quando são constata-
dos avanços nos equipamentos e nas técnicas (OLIVEIRA; KHOURY, 2003;
VANO et al., 2013).

As crianças são mais sensíveis à radiação e têm uma expectativa de vida maior se
comparada aos adultos, o que aumenta a probabilidade de manifestarem um efeito
danoso tardio relacionado à exposição à radiação ionizante.

Equipamentos de proteção individual e coletiva


utilizados na aplicação de exames radiológicos
Já vimos que, apesar dos grandes benefícios do uso da radiação no diagnós-
tico e tratamento de patologias, a interação entre radiação e tecido humano
pode provocar efeitos biológicos. Dessa forma, é de extrema importância a
implantação de um programa de proteção radiológica, visando a minimizar os
possíveis efeitos da exposição em pacientes e trabalhadores (FERNANDES;
CARVALHO; AZEVEDO, 2005; OLIVEIRA; KHOURY, 2003).
A forma mais eficaz, simples e de baixo custo para a proteção dos indivíduos
ocupacionalmente expostos à radiação ionizante, além das exposições médicas
dos pacientes, é a utilização de vestimentas de proteção radiológica (VPR).
O termo VPR está sendo empregado em substituição aos equipamentos de pro-
teção individual (EPIs), porque o termo “vestimenta”, conforme a Associação
Princípios de proteção radiológica 9

Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e a Norma Regulamentadora nº. 6,


é usado para denominar a proteção de corpo inteiro e também do tórax, como
os aventais de chumbo. Sendo assim, os aventais e luvas de chumbo devem
atender a certos requisitos durante a sua fabricação, e somente após teste e
certificação pelo Ministério do Trabalho e Emprego podem ser certifica-
dos e receberem o selo de denominação (BORGES, 2015; FERNANDES;
CARVALHO; AZEVEDO, 2005).
Os equipamentos de proteção radiológica individual são os aventais
de chumbo, os protetores de tireoide, os óculos plumbíferos e os protetores
de gônadas.
Os aventais são fabricados em diferentes tamanhos e formas, e têm como
objetivo proteger a região torácica e abdominal dos raios ionizantes, por isso
os profissionais devem sempre utilizá-los nas salas de exame. Já os pacientes
devem utilizá-los quando outras regiões do corpo estão sendo analisadas,
evitando assim uma exposição indevida.
Os protetores de tireoide são utilizados de forma semelhante a colares,
quando o seu uso não interfere na realização do exame necessário. Têm como
finalidade proteger a glândula tireoide, pois ela é bastante sensível à radiação.

Em 2015, surgiram notícias falsas sugerindo uma associação entre o aumento da


incidência de câncer de tireoide em pacientes que realizam o exame de mamografia
sem o protetor de tireoide. Apesar de essas matérias serem frequentemente compar-
tilhadas, causando preocupação em parte da população, não há dados consistentes
que demonstrem a existência dessa relação. Além disso, a dose de radiação utilizada
na mamografia é extremamente baixa, não sendo capaz de provocar danos, e o uso do
protetor de tireoide pode interferir no posicionamento da mama e piorar a qualidade
da imagem, podendo levar à necessidade de repetição do exame.

Os óculos plumbíferos são produzidos por uma mistura de chumbo com


vidro, permitindo uma perfeita visibilidade, além de proteção para exposição
à radiação, pois são capazes de absorver os raios. Os órgãos do aparelho repro-
dutor feminino e masculino são igualmente sensíveis à radiação, assim como
os olhos e a tireoide; dessa forma, protetores de gônadas devem ser utilizados
sempre que não provocarem interferência na qualidade do exame (BRAND;
FONTANA; SANTOS, 2011; FERNANDES; CARVALHO; AZEVEDO, 2005).
10 Princípios de proteção radiológica

Os equipamentos de proteção coletiva (EPCs), por definição, são equi-


pamentos utilizados para proteção durante certas tarefas realizadas por um
grupo de pessoas. De maneira oposta ao EPI, o EPC atua de forma coletiva e
compreende o ambiente de trabalho inteiro, protegendo radiologistas, técni-
cos de ultrassonografia e de ressonância magnética e demais profissionais e
pacientes que estão presentes em centros de radiologia.
Os principais EPCs que devem ser utilizados no serviço de radiologia são:

„„ visores radiológicos;
„„ lençóis de chumbo;
„„ biombos plumbíferos, que podem ser retos ou curvos;
„„ biombos odontológicos, quando se refere à área da odontologia;
„„ portas radiológicas para o ambiente, que podem ser de abrir ou correr,
com ou sem visores radiológicos;
„„ massas e argamassas baritadas, que impedem o acúmulo de radiação
ionizada nas paredes.

Esses são materiais práticos e descartáveis, e têm certificações de pureza,


impedindo que o material radiológico fique concentrado e contamine quem o
estiver manuseando. A importância da utilização dos EPCs está relatada na
legislação, que deve ser cumprida rigidamente. Os projetos que não estejam
dentro das especificações não poderão ser executados, tendo em vista que a
autoridade designada para licenciar e liberar o estabelecimento não o fará
enquanto as exigências legais não forem cumpridas (BORGES, 2015; FER-
NANDES; CARVALHO; AZEVEDO, 2005).
As vestimentas de proteção radiológicas (VPRs) podem englobar todos
os equipamentos utilizados para proteção radiológica, como óculos, luvas,
aventais, protetor de tireoide, protetor de gônadas, coletes, saias, entre outros.
As VPRs são divididas entre dispositivos para pacientes e para indivíduos
ocupacionalmente expostos (IOE), e são utilizadas para reduzir a dose de
radiação primária e secundária.
Segundo a norma NBR IEC 61331 da ABNT, as VPRs para pacientes
consistem no protetor de gônadas, blindagem de escroto, blindagem de ovário,
blindagem por sombreamento e avental. Nas gônadas estão às células ger-
minativas, que apresentam alta sensibilidade à radiação; por esse motivo há
grande preocupação em proteger essas glândulas do processo de ionização.
Princípios de proteção radiológica 11

Os equipamentos de proteção, individuais ou coletivos, devem ser utilizados


toda vez que qualquer indivíduo, profissional, paciente ou acompanhante,
estiver exposto à radiação, desde que o uso do EPI não afete a qualidade do
exame. A qualidade do exame se torna prioridade quando um exame de má
qualidade implica na realização de outro, pois, caso isso ocorra, o paciente e
o profissional serão expostos a uma dose dupla de radiação (BORGES, 2015;
SOARES; PEREIRA; FLÔR, 2011).
Além do fornecimento e da utilização adequada dos equipamentos de
proteção, deve haver rigoroso monitoramento da exposição à radiação com a
finalidade de garantir que os limites de dose não sejam excedidos. Para isso,
utilizam-se dosímetros, que fornecem as estimativas de dose efetivas, que
representam a taxa de dose no corpo inteiro, órgão ou tecido. O dosímetro
é de uso individual e deve ser utilizado pelos profissionais de saúde durante
realização de procedimentos que envolvam o manuseio de radiação. Sua utili-
zação consiste na principal forma de avaliação da eficácia de um programa de
controle de dose individual determinado no serviço de radiodiagnóstico. Dessa
forma, é imprescindível que os dosímetros sejam usados de forma correta,
associados aos EPIs e EPCs (BORGES, 2015; MELO, 2015).

O Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD) da CNEN


tem como principal atribuição promover o uso seguro
da radiação ionizante no Brasil. Em 2018, o IRD promo-
veu uma campanha de alerta sobre uso da radiação em
diagnósticos por imagem em crianças. Acesse o link ou o
código a seguir para ter acesso às informações completas
dessa campanha.

https://qrgo.page.link/vXkDn
12 Princípios de proteção radiológica

BORGES, C. F. Avaliação nacional da exposição ocupacional à radiação por urologistas


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