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SAÚDE E SEGURANÇA DO OCUPACIONAL EM UNIDADES DE MEDICINA

NUCLEAR E RADIOTERAPIA

Marcelo Nery dos Santos


Engenheiro Ambiental

INTRODUÇÃO

Com o avanço do conhecimento científico na sociedade, a descoberta de técnicas e a


criação de novas tecnologias visam um maior conforto humano. A descoberta da radiação
nuclear, que é um fenômeno natural e inevitável, fez com que a comunidade científica no
século XX dedicasse seus maiores esforços para a mais proveitosa aplicação dessa energia
contida no núcleo de um átomo.
Essas descobertas acarretaram, primeiramente, em tragédias para a
sociedade, com a sua aplicação em atividades bélicas, porém as aplicações pacíficas da
energia nuclear foram se destacando ao longo das décadas vindouras.
Uma das aplicações da energia nuclear (além da produção de energia
elétrica, agricultura, indústria, etc.) é na medicina, transformando esse grande temor da
sociedade em um aliado da vida humana.
Porém o uso da energia nuclear inspira grandes cuidados para o
trabalhador, fazendo com que organismos internacionais e nacionais regulamentem
atividades de serviços de saúde em prol da proteção ao trabalhador.

REFERENCIAL TEÓRICO

Um dos principais tipos de riscos considerados dentro da higiene e saúde ocupacional é


o risco físico. Este se manifesta em diversas formas que difere dos riscos biológicos (onde
há a exposição a um agente biológico) ou químicos (onde há a exposição a um agente
químico que possa causar toxicidade no organismo ou mesmo contaminar o ar do
ambiente ocupacional). Os riscos físicos, por sua vez, dependem das condições de
temperatura, pressão, ruído e as radiações incidentes no ambiente ocupacional.
As radiações se subdividem em duas categorias importantes, as radiações
não-ionizantes e as radiações ionizantes.
Radiações não-ionizantes podem acarretar em malefícios ao trabalhador
em função da intensidade da exposição. A radiação não-ionizante mais comum é a própria
luz visível, que sua incidência excessiva pode causar problemas na visão do trabalhador.
Outras radiações desta categoria, consideradas pelo anexo 7 da NR-15 são a radiação das
microondas os raios ultravioleta (menores que 320 nanômetros) os lasers (BRASIL,
1978).
As radiações ionizantes possuem a propriedade de retirar ou adicionar de
um elétron nas camadas mais externas do átomo, ocorrendo um desequilíbrio molecular
no objeto atingido – sendo esse objeto um tecido vivo, pode acarretar em vários danos,
desde queimaduras leves até câncer e síndromes hereditárias.
A radiação ionizante, por sua vez, se subdivide em duas categorias: a
radiação corpuscular e a radiação eletromagnética.
Radiação corpuscular nada mais é do que a emissão de partículas a partir de
um núcleo atômico instável. Essa partícula é “expelida” do núcleo com energia
relativamente alta, fazendo com que a ionização ocorra devido ao choque dessa partícula
energizada com o material receptor (HINRICKS, CLEINBACH, 2004).
A radiação eletromagnética é a emissão de raios eletromagnéticos (sem
massa, somente energia) a partir do núcleo atômico instável. Esses raios também contêm
uma energia relativamente alta e desestabilizam os elétrons mais externos dos átomos
atingidos, ocorrendo assim a ionização.
A diferença crucial é que a radiação eletromagnética é muito mais
penetrante do que a corpuscular, fazendo assim com que a maior parte da segurança
radiológica em unidades de saúde – e em outros ramos - seja para “blindar” o corpo
humano de doses excessivas dessas radiações.
O limite das doses, são de 20 mSv por ano, não podendo ultrapassar 50 mSv
dentro do período de 1 ano, segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA,
2018 p. 53), o Sievert (Sv) é a unidade de medida que estima o efeito biológico de uma
dose absorvida por um organismo (RODITI, 2005 p. 68).
Fontes radioativas são utilizadas e presentes em diversos meios na
sociedade, um desses meios é a medicina. A medicina nuclear – ramo da medicina
diagnóstica – utiliza de fontes radioativas, como o Iodo-123 ou Iodo-131 para a detecção
de anomalias na tireoide. Também é utilizado o Tecnécio-99m para detecção de
anomalias na tireoide e também em outras partes do organismo.
Na radioterapia – ramo da medicina terapêutica – os materiais mais
utilizados para o tratamento de tumores malignos são o césio-137, o cobalto-60 e o irídio-
192 (SCAFF, 1997).
Para a segurança do indivíduo ocupacionalmente exposto (termo que a
CNEN utiliza para os trabalhadores na área nuclear ou radiológica) a CNEN dispõe de
um conjunto de normas para Radioproteção, que seria a CNEN 3.01 de Março de 2014
endossado pelo Anexo 5 da NR-15 (BRASIL, 2018). Para serviços de Medicina Nuclear,
as normas de radioproteção são mais específicas (NN 3.05/2013), pois a capacidade de
contaminação do local pelas fontes radioativas e muito maior. Para os serviços de
radioterapia a norma regente é a norma CNEN NE-6.10/2014. Esta norma se diferencia
da norma de Medicina Nuclear devido ao fato de as fontes serem diferenciadas. A
fiscalização está a cargo da ANVISA (Agencia Nacional de Vigilância Sanitária),
segundo a portaria no 453/98, sendo competência dos órgãos de Vigilância Sanitária dos
Estados e Municípios (AUGUSTO, 2009).
Em unidades de radioterapia é comum a prática do uso de dosímetros -
perante o método TLD – em diferentes partes do corpo. Este método consta no uso de
cristais termoluminescentes que absorvem a radiação local (a absorção deve ser maior
que 0,2 μGy) (BATISTA, 2011).
Em unidades onde pode haver contaminação de superfície, o uso de
equipamentos eletrônicos como Sondas Pancake e indispensável. Contadores-Geiger são
utilizados para o levantamento radiométrico e/ou a dosimetria do ambiente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AUGUSTO, J. V.; Conceitos básicos de física e proteção radiológicas; Editora Atheneu,


1a Ed., São Paulo, 2009.

BRASIL, Portaria MTB 1.084, de 18 de dezembro de 2018, NR-15 Atividades e


Operações Insalubres – Anexo nº 5 – Radiações Ionizantes;
https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-
especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/normas-
regulamentadoras/nr-15-anexo-05.pdf
Acessado dia 08/07/2022

BRASIL, Portaria MTB 3.214, de 8 de julho de 1978, NR-15 Atividades e Operações


Insalubres – Anexo nº 7 – Radiações Não-Ionizantes;
https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-
especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/normas-
regulamentadoras/nr-15-anexo-07.pdf
Acessado dia 08/07/2022
BATISTA, Bernardo José Braga; Avaliação de dosímetros termoluminescentes para uso
em radioterapia com fótons de alta energia; dissertação de mestrado; Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2011;
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/43/43134/tde-26042012-
152350/publico/DissertacaoBatistaBernardo.pdf
acessado dia 09/07/2022
HINRICHS, R. A., KLEINBACH, M. Energia e Meio Ambiente; Editora Pioneira
Thomson Learning; tradução da 3a edição norte-americana; São Paulo – SP; 2004.

IAEA, International Atomic Energy Agency; Occupational Radiation Protection -


General Safety Guide No. GSG-7; Vienna, 2018
https://www-pub.iaea.org/MTCD/publications/PDF/PUB1785_web.pdf
Acessado dia 09/07/2022

RODITI, I. Dicionário Houaiss de Física; Editora Objetiva; 1a Ed, Rio de Janeiro – RJ,
2005.

SCAFF, L. A. M; Física da Radioterapia. Ed. Sarvier; São Paulo – SP; 1997.

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