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Prólogo: A Profecia.

Duzentos anos atrás, em uma gruta, um homem coberto por um manto preto desenhava símbolos pelas
paredes usando os próprios dedos. Ao terminar, seus desenhos se encaixavam formando um enorme círculo de
magia, que logo mudou sua cor de branco para vermelho. O homem foi até o centro do círculo, estendeu seus
braços para os lados e fechou suas mãos como se segurasse alguma coisa.

Após alguns segundos, a luz vermelha começou a ficar branca, consumindo toda a sala, que logo se tornou
um enorme espaço sideral, infinito e cheio de corpos celestes.

— Leis da Natureza, obedeçam seu mestre criador. Revelem todos os limites do tempo e me mostrem o
temido futuro: Magia Pilar do Tempo, Oráculo! — disse o encapuzado.

Quando recitou o encantamento, os olhos do encapuzado começaram a brilhar, as estrelas começaram a


girar descontroladamente e brilharam ainda mais intensamente, tão intensamente que poderiam chegar a cegar uma
pessoa comum. Um enorme cristal surgiu na frente do encapuzado, largo e alto, porém muito fino, e imagens
começaram a passar rapidamente no reflexo do cristal, enviando infinitas informações por toda a sala.

Depois de alguns segundos, o encapuzado começou a cambalear procurando um suporte, mas caindo de
joelhos no chão. O encantamento se quebrou, tornando o local em apenas uma reles gruta novamente, foi quando
um homem de pele vermelha e musculatura alta entrou na gruta e foi até o encapuzado.

— Mestre Lúcifer, o senhor está bem? — disse o homem de pele vermelha.

— Fique tranquilo, Elphaseus, eu estou bem. Apenas não gosto de usar este encantamento, mesmo sendo eu
que o criou — respondeu o encapuzado.

— Espere! Então ele funcionou? O que o senhor conseguiu ver, meu lorde?

— Não vi muito, mas foi o suficiente para saber o que devo fazer, ou melhor, o que você deve fazer.

— Não estou entendendo, meu lorde.

— Em minha visão, em cem anos eles vão voltar, e é seu destino estar lá. Você será responsável por
despertar aqueles três.

— O senhor está dizendo que eu deverei despertar os três lordes? Isso não é muito para um mero servo como
eu?

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— O destino que escolheu, não é possível mudar isso — disse ele, se levantando — e eu confio em você,
Elphaseus, sei que não irá me decepcionar.

— Se o senhor está me ordenando, eu cumprirei sua ordem com muito gosto, meu lorde.

— Ótimo. As engrenagens do tempo vão finalmente começar a se mexer. Por enquanto, vamos para o
castelo, vou lhe explicar o que devemos fazer.

Depois disso, o servo desenhou alguns símbolos no ar, abrindo um portal, onde os dois entraram, deixando a
gruta vazia.

Os dias foram passando, e logo os dias se tornaram meses, que logo se tornaram anos e por fim se passou
um longo século.

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Capítulo 1: O Despertar.

No anoitecer, as pessoas iam saindo de um enorme cemitério, lotado de covas podres e caindo aos

pedaços. Mesmo estando em uma situação tão ridícula, esse cemitério continha sua beleza, um enorme mausoléu
feito de mármore e obsidiana, lotado de enfeites em suas laterais, como se fosse importante mesmo ficando em um
local tão lamentável.

Apesar dos problemas do local, um visitante surgiu nas sombras, coberto por um capuz branco. Ele foi até a
frente do mausoléu, se ajoelhou e começou a recitar: — Pelas garras de um demônio foi selado… pelas garras de
um demônio será liberto… obedeça a minha ordem e disperse este selo… Cadeado Demoníaco!

Ao recitar o encantamento, uma luz cobriu o corpo dele, surgiram amarras ao redor da porta do mausoléu
que foram se quebrando uma a uma até liberarem totalmente a porta, revelando uma escadaria que levava até o
subsolo do mausoléu. Quando todas as amarras se desfizeram, a luz em volta do corpo do homem encapuzado
desapareceu e ele começou a descer as escadas, mas, sem perceber que três vultos o seguiam de longe, o
observando com cuidado.

Quando chegou ao final da escadaria, o encapuzado se deparou com três tumbas enormes, cheias de enfeites
de ouro e outras pedras preciosas.

— Está na hora. — Ele estendeu sua mão direita e fez um pequeno corte na palma, para seu sangue escorrer.
— Que o caos reine… que a fé desapareça… seus exércitos clamam por seus comandos. Óh! Amados lordes,
levantem de seu sono profundo e governem sobre esta terra devastada… Retorno do Caos!

O sangue derramado começou a brilhar, assumindo uma cor negra ao invés do vermelho natural, e se tornou
uma fumaça totalmente preta que se espalhou por toda a sala. Depois de alguns segundos, a fumaça começou a se
dissipar e dar lugar a um brilho vermelho carmesim, que cobriu toda a sala. Enquanto o brilho se apagava, as três
tumbas começavam com três homens saindo delas.

— Argh, como é bom sentir as minhas dobras de novo. Já faz um bom tempo heim, Hayakaz — disse um
dos três, um homem de pele cinza escura, cabelo cinza claro e olhos amarelos. Suas roupas, mesmo desgastadas,
pareciam ser feitas em tecidos de grande qualidade, como as roupas de um nobre, com uma longa calça preta e
uma camiseta cinza desabotoada na região do peito.

— Oh se faz, Hexoth. Dormir tanto assim faz um mal terrível pra minha coluna, daqui a pouco ela vai estar
fazendo um “U” — disse o segundo homem, um mais baixo de cabelo longo e branco com orelhas de felino e

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olhos vermelhos. Seu kimono era quase todo vermelho, com alguns detalhes em dourado e cheio de buracos
causados pelo tempo, mas parecia ser feito de um tecido muito leve.

— Vocês podem se comportar na frente do servo? Nem parecem demônios do alto escalão — disse o
terceiro, um de altura mediana, com orelhas pontudas, olhos azuis e pele cor de bronze. Suas roupas lembravam as
de um cavaleiro, com ombreiras e protetores nos pulsos, porém com um toque nobre, como a leveza de seu tecido
e uma gravata em seu pescoço.

— Calma, Garrik. Eu e o Hayakaz só estamos colocando o papo em dia. Não precisa ser rabugento o tempo
todo, só nas horas vagas já é o suficiente.

— É cara. Você precisa ficar mais relaxado, o cara acordou a gente, vamo da essa colher de chá pra ele, poh.

— Desculpe interromper o assunto, meus lordes, mas tudo ocorreu da maneira correta com o despertar? Não
houve nenhum problema, certo? — perguntou o servo.

— Naaah! Tamo de boa, deu tudo certo. Aliás, aproveitando a deixa, se sabe quem apag…

— Olha a compostura, Hayakaz. — Garrik o interrompeu.

— Cala boca Garrik. Você é muito chato! — respondeu Hayakaz perdendo a paciência — enfim, você sabe
quem nos adormeceu?

— Sinto em lhe informar, mas não possuo essa informação, tudo o que sabemos é que os senhores foram
adormecidos no ápice da guerra e por isso perdemos a última batalha contra a igreja, isso cerca de trezentos anos
atrás, mas não sabemos quem os adormeceu, apenas sabíamos a data de seus retornos por causa da previsão do
todo-poderoso Lúcifer.

— Saqu… Quero dizer, entendi. Onde nós estamos? Parece uma catacumba, uma caverna, algo do tipo.

— É verdade, esse lugar está caindo aos pedaços, parece mais uma… uma… — Hexoth tentou achar a
palavra certa para a frase.

— Catacumba? — respondeu Hayakaz.

— Não.

— Caverna?

— Não.

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— Então não sei.

— Lembrei! Uma cova! — falou Hexoth, estalando os dedos no alto.

— Você tem toda a razão. — Hayakaz coçou o queixo e concordou com a cabeça.

Enquanto os dois lordes conversavam, o servo se apoiou em uma das pilastras e começou a tossir.

— Ei! Você tá bem, cara? — perguntou Hayakaz.

— Não se preocupe, meu lorde. Eu estou apenas cansado devido ao ritual. Em breve eu vou estar be…

Antes que o servo pudesse terminar, uma corrente com uma lâmina atingiu suas costas, o que o fez ele
cuspir um pouco de sangue e cair no chão, então os três vultos desceram as escadas revelando serem três humanos,
um baixo de cabelos pretos com um martelo, um magro com uma corrente com lâmina e um musculoso com duas
espadas.

— Ara, então era isso que ocê tava tramoiando, seu demonho safado — disse o da corrente.

— Eu disse que não era boa coisa cara. Os bichos têm chifres, CHIFRES! — falou o do martelo.

— Bom, se esse caiu assim fácil, os outros não vão ser problema, huehuehue — disse o das espadas batendo
suas lâminas.

Naquele momento, os três demônios apenas observavam os humanos rindo acima do corpo caído do servo.

— Vocês…

Hayakaz juntou suas duas mãos e as levantou para o alto, para logo depois jogar, com tudo, os seus braços
para os lados invocando duas manoplas.

— Como vocês ousam… — Uma aura amarela surgiu ao redor de Hayakaz, fazendo seus cabelos se
mexerem para os lados. — ferir um dos meus servos?!

Hayakaz pulou para cima do humano com a corrente, o arremessando contra a parede e o fazendo cuspir
sangue.

Hexoth juntou suas mãos próximo a lateral da cintura enquanto uma aura branca o rodeava.

— Vocês, humanos, sempre estão causando problemas. Não achem que eu serei piedoso pelo que fizeram ao
meu servo!

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Ele balançou seus braços, ainda juntos, e invocou uma espada katana. Logo após, ele pula em direção ao
humano com as espadas.

— Ao menos me divirta…

Hexoth golpeou na região do ombro do espadachim, que por pouco conseguiu bloquear, o que fez um
buraco surgir abaixo de seus pés.

— Que força é essa?! Você é mesmo um orc? — disse o homem com espadas assustado.

— Um orc? Tsc! Eu não sou isso a muito tempo!

Hexoth começou a pressioná-lo, aumentando o buraco abaixo deles. Enquanto isso, Hayakaz continuou
golpeando seu alvo contra a parede.

— Ara! Ma ocê inté quié fortim, pra um homi gato. Eu me alembro deles serem fraco por dimais.

— Cala a boca. Seu lixo!

O homem com corrente se aproveitou de uma brecha deixada por Hayakaz em seu momento de fúria e o
golpeou na lateral do peito, o empurrando para longe.

— Ocê tá dando muita brecha homi. Assim o vo te cume com farinha, hehe.

Hayakaz parou por um segundo, retomando sua consciência e saindo do momento de fúria. Ele tocou a
cabeça e a empurra um pouco para trás como se estivesse decepcionado.

— Droga! Vamos recomeçar! — falou ele, apontando para o homem com a corrente

Hayakaz deu um mortal de costas e juntou as palmas das mãos, canalizando sua mana. Uma aura amarela
surgiu ao redor do seu corpo novamente, porém, dessa vez muito mais densa nos braços.

— Garras de Lobo!

Os braços de Hayakaz começaram a brilhar ainda mais, formando uma silhueta amarela que foi mudando
aos poucos de braços humanos para braços musculosos e peludos, revelando braços de lobo no lugar dos braços
normais de Hayakaz.

— É hora do show!

O homem com corrente olhou curioso para os braços de Hayakaz, recolheu a sua corrente para a sua mão e
começou a balançá-la em tom de ameaça.

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— Então essa era a sua magia. Bem briósa pra usa num combate. Vamo ve se ela é tudo isso mer…

Antes que o homem com corrente pudesse terminar de falar, Hayakaz pula e acerta uma sequência de cinco
socos que fazem o ar ao redor estremecer e arremessa o homem com corrente contra a parede novamente, dessa
vez o deixando inconsciente.

— Ah! Bati forte demais. Devia ter socado ele com menos força. — Hayakaz abaixou a cabeça, desanimado.

Do outro lado da sala, Hexoth pressionava o homem com espadas usando sua katana.

— Eu não acredito que estou sendo pressionado pela merda de um Orc!

O homem com espadas deu uma joelhada no estômago de Hexoth com o objetivo de tentar afastá-lo, porém
não teve sucesso.

— Mas que droga. Sai de cima de mim, Orc de merda. Brilhe e parta meu inimigo ao meio, Corte Luminoso!

As espadas dele então começaram a brilhar, fazendo Hexoth pular para trás para evitar os cortes.

— Hmm? Você precisa recitar o encantamento para usar um Corte Luminoso?

— O que está dizendo?

— Corte Luminoso! — A espada de Hexoth começou a brilhar, e logo ele cortou o ar para desfazer o
encantamento.

O homem com espadas pulou para cima de Hexoth que apenas deu um pequeno pulo para o lado, assim
desviando.

— Vamos… Você pode fazer melhor que isso, humano.

— Cale-se, seu maldito! .

O homem com espadas cruzou suas espadas e começou a sussurrar:

— Que meu corpo se torne a parede de lâminas que trará a vitória ao meu rei, Evolução do Espadachim!

O corpo dele começou a brilhar em um tom azul mais claro. As lâminas dele começaram a aumentar de
tamanho.

— Agora eu vou te quebrar, seu monte de merda!

Ele pulou para cima de Hexoth, que começou a ser pressionado contra o chão.

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— Opa! Agora sim vai ficar divertido.

Hexoth deu uma joelhada no estômago do espadachim, porém ele não pareceu sentir nada.

— Minha resistencia foi aumentada, seu idiota. Você não vai me causar dano algum agora, huehuehuehue.

Então, uma flecha atingiu o ombro do espadachim, causando um impacto tão forte que o jogou para longe.
Quando o espadachim olhou para a direção de onde a flecha veio, ele reparou em Garrik com um enorme arco.

Hexoth se recuperou e se levantou do chão.

— Não quero a sua ajuda, Garrik. Não se meta.

— Não era o que parecia. Você estava sendo bem pressionado.

— Só cala a boca e não se mete.

Hexoth levantou seu braço na altura do peito e passou a mão por toda a lâmina da sua katana, a cobrindo
com uma fumaça preta e então disse:

— Presas de Serpente.

Então, a lâmina da katana de Hexoth começou a mudar de forma, tendo seu metal trocado por escamas e sua
ponta afiada trocada por vários dentes venenosos.

— A sua lâmina virou uma cobra?! Que tipo de magia esquisita é essa? Argh! Por que eu to tentando
entender isso? — disse o espadachim, já sem paciência.

— Agora…

Hexoth abaixou sua cabeça e sua aura branca começou a escurecer.

“Mas que merda! Por que minhas pernas não saem do lugar?!”, pensou o espadachim

— Humano. Eu vou te mostrar o que é força de verdade.

Hexoth balançou sua espada na direção do espadachim, fazendo a cobra em sua lâmina se esticar e morder o
braço do espadachim, que soltou um grito de dor.

— SEU DESGRAÇADO!!! QUE PORRA É ESSA?!

— Só vai piorar — disse Hexoth, se aproximando com um sorriso de um lado ao outro do rosto.

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Enquanto isso, do outro lado da sala, os outros dois lordes observavam o Orc maníaco torturando a sua
“vítima”.

— Fazia tempo que esse maníaco não se divertia, não é? — falou Hayakaz em um tom desesperançoso.

— Só espero que isso não nos atrapalhe mais para frente — disse Garrik com uma mão tapando seu rosto.

Hexoth se aproximou e rapidamente golpeou a perna do espadachim, o derrubando no chão enquanto ele
gritava de dor. O veneno já parecia ter se espalhado por uma boa parte do seu corpo, bolhas já eram visíveis.

— Vamos ver quanto mais você vai resistir.

— Seu… seu… — disse o humano, tendo dificuldade em respirar.

— Não vai ser pra mim que você vai morrer. Vai ser pro veneno da minha Presas de Serpente.

Hexoth então aproximou sua espada do braço do espadachim, porém, a cobra não se mexia para atacá-lo.
Hayakaz se aproximou de Hexoth e disse.

— Cara. Ele já tá morto.

— Que droga, eu esperava mais dele.

— Acontece, acontece. Bom, o que a gente faz com aquele ali? — disse Hayakaz apontando para o humano
com martelo, que parecia estar em choque.

— Bom, eu matei um, você matou o outro. Eu acho justo o Garrik matar esse.

— Eu me abstenho disso. Não estou com vontade alguma, só se livrem dele logo — respondeu Garrik.

— Você é muito chato, Garrik. Tenta se divertir um pouco — falou Hayakaz, já sem paciência.

Enquanto os lordes discutiam, o humano restante olhava o corpo dos outros dois humanos caídos no chão.

— Seus…— disse o humano.

— Ih! Ele fala — disse Hayakaz.

— Eu… eu… VOU MATAR VOCÊS!

O humano começou a gritar de ódio enquanto seu corpo aumentava de tamanho e uma aura vermelha o
cobria.

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— Eu avisei para matarem logo ele, seus malditos — disse Garrik colocando a mão no rosto em tom de
decepção.

O humano começou a se mover, lentamente, na direção dos lordes, causando pequenos tremores e rachando
o chão por onde andava.

— Agora a coisa esquentou de verdade, hahaha — falou Hayakaz, não conseguindo segurar sua animação.

O humano pulou na direção de Hayakaz, o prensando contra a parede. Logo após isso, ele começou a socar
o corpo de Hayakaz, que por causa do susto não conseguiu se defender.

— HAYAKAZ! — Hexoth correu na direção do amigo.

Ao chegar no humano enlouquecido, Hexoth o golpeou com a sua Presas de Serpente assim colocando
veneno em sua corrente sanguínea, porém, ele levou um soco de surpresa, que o arremessou para a outra parede.

Hayakaz aproveitou a chance e golpeou o peito do humano com uma sequência de cinco golpes, que
fizeram o humano recuar um pouco, assim permitindo que ele acertasse mais uma sequência.

— Toma!

O humano recuou mais um pouco, e então segurou um dos braços de Hayakaz.

— Eita! Me lasquei — disse Hayakaz, surpreso.

Ele então esfrega Hayakaz contra a parede do mausoléu e, no fim, o arremessa na mesma parede de Hexoth.

— Esse maldito… cof… não cai nunca?! — falou Hayakaz, cheio de machucados.

— Os humanos eram tão fortes assim naquela época? — perguntou Hexoth.

— Não. Esse humano é uma exceção — respondeu Garrik, com um leve sorriso no rosto — Uma exceção
que vale a pena caçar!

Garrik armou seu arco, deu um pulo para trás e disparou três flechas no ombro do humano, o que quase não
causou efeito. Após ver que seu ataque não foi útil, Garrik armou seu arco novamente e disse: — Finalmente
alguém digno de morrer para o meu arco! ME DIVIRTA MAIS UM POUCO!

Enquanto Garik armava seu arco, Hayakaz correu e golpeou novamente o humano, que logo em seguida foi
acertado pelo corte da katana de Hexoth, que já tinha voltado para a forma de katana.

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— Não fique com a diversão toda pra você Hayakaz — falou Hexoth, com um sorriso de lado a lado do
rosto.

— AAAAARGH! — O humano começou a ficar maior e mais musculoso, quase como um gigante.

— Essa merda não para de crescer não? — perguntou Hayakaz, logo antes de pular e acertar mais uma
sequência de golpes no gigante, que revidou o golpeando de cima para baixo tentando esmagá-lo.

Garrik aproveitou que o gigante se distraiu e acertou mais três flechas, agora em seu peito, enquanto Hexoth
desferia cortes em suas pernas tentando derrubá-lo.

— Cai… logo… seu… desgraçado! — disse Hexoth, enquanto o golpeava.

Após levar muitos golpes, o gigante cedeu por um momento, que já foi o suficiente para Hayakaz sair
debaixo de seus punhos e se afastar junto com Hexoth.

— AGORA GARRIK — gritou Hayakaz, já sabendo o que estava por vir.

— Pena que durou tão pouco — disse Garrik, desapontado — Disparo Marinho!

Ao recitar a magia, uma enorme quantidade de água se acumulou na frente da flecha de Garrik, formando
um pequeno redemoinho. Quando a flecha foi disparada, fez um pequeno tremor e em questão de segundos ela
atingiu o peito do gigante, causando uma explosão de água que explodiu o peito do gigante, que caiu no chão com
seus membros separados.

Depois de vencerem a batalha, os lordes se sentaram e ficaram olhando os corpos dos inimigos caídos ao
chão.

— É. Essa foi uma das boas hein — disse Hayakaz enquanto se recuperava da luta.

— Nem me fale. Não me sinto tão bem assim desde que a gente lutou com aquele exército do Reino do
Norte, e isso faz o que. Trezentos anos? Haha — disse Hexoth.

Enquanto os dois lordes riam, algo começou a se mover nas sombras, se levantando do chão e foi na direção
deles.

— Mil perdões, meus lordes. Acabei desmaiando por causa daquele golpe. O que aconteceu enquanto eu
estava caído? — disse o servo, que antes havia sido golpeado.

— Mas que?! VOCÊ TÁ VIVO?!?! — Hayakaz pulou para trás.

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— Ahn… sim? — respondeu o servo, confuso

— Pera, como você ficou vivo depois daquele corte? Eu vi você caindo e esguichando tanto sangue que
parecia uma esponja — falou Hayakaz, cada vez mais surpreso.

— Bom, eu possuo a capacidade de me regenerar, meu lorde. Graças a isso, também não consigo envelhecer,
morrer de doenças fracas ou morrer de ferimentos não fatais.

— Hexoth! Por que a gente não se renegera? Isso é muito injusto.

— A gente não se regenera porque não somos demônios de por inteiro. Lembra que a gente só fez o ritual,
mas não a gente não virou demônios por completo.

— Ainda acho isso muito injusto cara, eu queria ter super renegeração.

— Se diz regeneração, não renegeração — corrigiu Garrik.

— Vai a merda, Garrik.

— Enfim. Ignorando a briga interna desses dois, precisamos sair daqui — disse Hexoth, olhando para o
servo.

— Certo, meu lorde. Eu peço que sigam-me, senhores — respondeu o servo apontando para a escada de
saída.

— Calma! Qual o seu nome? Ficar te chamando de servo toda hora é meio chato — disse Hayakaz.

— Oh, claro. Este pequeno servo tem o nome de Elphaseus — respondeu o servo fazendo reverência.

— El… o que? — perguntou Hayakaz.

— Elphaseus, senhor.

— Que nome difícil, heim.

Quando terminaram as apresentações, os três lordes subiram as escadas, acompanhados de Elphaseus, e se


retiraram do mausoléu.

— Então, qual a próxima parada Hexoth? Você é o cara das ideias aqui — disse Hayakaz.

— Até parece. Não fala merda Hayakaz.

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Enquanto os dois lordes discutiam, Garrik observava os arredores do cemitério enquanto seguia até a saída.
Após chegar no portão do cemitério, Garrik reparou uma coisa.

— Ei! Os dois idiotas ai. Aquilo não é uma cidade? — Garrik apontou para uma área brilhante não muito
longe do local onde eles estavam.

— Aquela é a cidade de Mizuhara, meu lorde. A maioria dos humanos a chamam de Nação da Água.
Existem alguns relatos dos nossos informantes que dizem que nela existe um mago que controla monstros. Minha
sugestão, como vosso servo, é que investiguemos o boato.

— Até que você é bem inteligente para um servo — respondeu Garrik

— Deixando as grosserias do Garrik de lado, parece que temos um rumo. O que você acha Hayakaz? —
falou Hexoth.

— Vamo nessa — respondeu Hayakaz, empolgado.

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Capítulo 2: Uma Alma Nobre.

Conforme eles iam andando pela floresta, Hayakaz reparou que Elphaseus estava inquieto, e então

resolveu agir.

— O que deu, cara? Por quê se tá todo pensativo aí? — perguntou Hayakaz.

— Meu lorde! Me desculpe… Estou apenas um pouco preocupado em relação a esse mago. Controlar
monstros é uma magia realmente poderosa. — Elphaseus coçou o queixo.

— Saquei, mas não se preocupa. A gente vai vencer.

— Esse não é o meu medo, meu lorde. Eu estou preocupado com o fato de que este mago pode acabar nos
fazendo lutar uns contra os outros.

— Entendi. Ele não vai nos fazer lutar uns com os outros, sabe o porquê?

— O que quer dizer, senhor?

— Porque é o dever de um líder proteger seus aliados.

Ao ouvir as palavras de Hayakaz, Elphaseus abriu um sorriso tão genuíno que chegava a ser contagiante, o
que fez Hayakaz sorrir também.

Após conversarem, os quatro repararam que a cidade se aproximava, ficando cada vez maior. Ela era
rodeada por enormes muros de pedra, tão altos que era difícil de ver algo dentro, mas não pareciam tão resistentes,
como se fossem improvisados. Ao chegarem mais perto, eles reparam em um guarda sentado perto da entrada da
cidade, mesmo estando tão tarde.

— Ei, vocês quatro! Pra entrar tem que pagar o pedágio. Podem ir colocando as moedas na mesa, cinco
pratas por pessoa — disse o guarda.

— Pera, pedágio? — perguntou Hayakaz.

— É assim que as coisas funcionam agora, bichano. Ou paga, ou vaza.

— Do que você me cha… — disse Hayakaz, não conseguindo terminar a frase.

— Desculpe o incomodo, senhor. Estamos de viagem e não fomos informados deste pedágio. Vamos nos
retirar. — Garrik colocou o braço na frente de Hayakaz.

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Após os quatro se retirarem, se afastando da muralha, Hayakaz pegou no braço de Garrik e disse:

— Qual foi? Tu me corta pra falar uma merda dessa? Qual é a tua, Garrik?

— Não seja burro, bola de pelos. Atrair atenção só vai causar problemas. Vamos procurar outro modo de
entrar — respondeu Garrik, com a mão no rosto e balançando a cabeça.

— Ele tá certo, Hayakaz. Só vamos ter problemas se atrairmos a atenção dos guardas sem um plano — falou
Hexoth.

— Meus lordes, me permitem dar uma ideia? — perguntou Elphaseus fazendo reverência.

Depois de conversarem um pouco, Hayakaz olhou para os outros três e disse:

— Você tá louco? Você sabe o que vai acontecer se isso der errado?

— Meu lorde. Por favor me deixe ajudar. Vocês estão fazendo todo o trabalho. Eu ainda sou um servo,
senhor.

— Você não precisa se forçar a isso, Elphaseus — disse Hexoth.

— Não estou me forçando, meu lorde. Eu realmente quero fazer isso.

— Isso não é motivo pra fazer algo desse tipo — falou Hayakaz.

— Hayakaz, ele é bem forte. Vai ficar tudo bem. Deixe de ser protetor com um servo, temos vários outros —
disse Garrik.

— Não importa que ele seja um servo. Ele é nosso amigo. Não eram vocês que estavam falando de atrair
atenção? — falou Hayakaz.

— Quando ele terminar, muita gente vai entrar junto, logo, não vão reparar que fomos nós que causamos
isso.

— Meu lorde, eu prometo que vou voltar vivo, afinal eu vou servir vocês pelo resto de suas vidas.

Hayakaz olhou para Elphaseus e, após ver seu olhar determinado, disse:

— Argh. Ta! Eu não concordo com isso, mas se não tem outro jeito… vamos fazer isso.

O servo então voltou até o lugar do pedágio com o manto cobrindo todo o seu corpo.

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— O que você quer? Pra entrar tem que pagar, baixinho — falou o guarda, com a cabeça erguida e um
sorriso no rosto.

— Que seus pecados sejam julgados… — sussurrou Elphaseus.

— O que se disse? Fala pra fora!

— Que sua alma seja purificada, em nome de Lúcifer. — Depois de Elphaseus dizer isso, seu corpo
começou a brilhar em vermelho — Vazio Sombrio!

Depois de recitar o encantamento, a luz no corpo de Elphaseus começou a ficar cada vez mais ofuscante, até
se tornar uma total silhueta vermelha, resultando em uma explosão seguida de uma enorme destruição, o que
deixou uma brecha para os três lordes entrarem correndo, junto de várias pessoas que não conseguiram pagar o
pedágio.

— Esse sabe fazer um belo show heim, haha — disse Hexoth enquanto corria.

— Servir de distração se explodindo. Isso não me parece uma boa ideia — falou Hayakaz

— Calem a boca e continuem correndo — disse Garrik — Não sabemos quanto tempo essa distração vai
durar.

Após ouvirem as palavras de Garrik, os dois lordes se focaram em correr sem olhar para trás, e depois de
muita corrida os três acabaram parando em um beco.

— Cara… isso foi incrível… — falou Hexoth, ofegante.

— Eu… não esperava… algo tão… grande assim… — falou Hayakaz, que mal conseguia manter sua língua
na boca.

Garrik apenas se sentou, encostado na parede, sem dizer nada.

— Certo, ele disse que nos alcançava depois da distração, mas cadê ele? — perguntou Hayakaz

— Não sei, Hayakaz, mas ele deve tá chegando. Ele acordou a gente, acho que isso não seria problema pra
ele, haha — respondeu Hexoth.

— Ta! Temos que bolar um plano. Tem um mago humano que controla monstros na cidade. Então a gente
tem que matar ele, porque senão a gente não vai ter como usar o exército contra a humanidade. O que acham de
procurarmos informações, por hora?

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— Certo, Hayakaz. Não esperava que você conseguisse ter uma ideia plausível

— Cala boca, Hexoth.

Enquanto os dois lordes discutiam, Garrik decidiu sair do beco e se misturar na multidão.

— Ele não vai fazer o que eu to pensando, né? — perguntou Hexoth.

— É. Ele vai.

Após ficar um pouco na multidão, Garrik voltou para o beco com alguns pequenos sacos de couro, que
jogou perto dos dois.

— Pronto. Agora temos um pouco de dinheiro — falou Garrik, com um sorriso no rosto.

— Algumas vezes você é incrível, Garrik — disse Hexoth, segurando o riso.

— Ta! Voltando ao foco principal, como vamos conseguir mais informações? — perguntou Hayakaz.

— Detesto depender de humanos, mas precisamos explorar a cidade e conseguir mais informações sobre o
tal mago. Eu vou perguntar para alguns guardas que eu vi nas muralhas. Não causem problemas! — intimou
Garrik.

— Pode deixar. A gente não vai fazer nada errado dessa vez, Senhor Certinho, eu acho — falou Hayakaz.

— Espero que isso seja verdade, bola de pelos.

Os três então se separaram, com Hexoth e Hayakaz andando pelo centro da cidade e Garrik andando pelas
proximidades das muralhas.

Após andar um pouco, Garrik acabou achando alguns guardas que estavam discutindo em um dos cantos da
muralha.

— Com licença, senhores — falou Garrik, tentando manter a compostura.

— Heim? Ah! É só um elfo qualquer. Não tem nada pra você aqui, vaza — respondeu um dos guardas.

— Eu apenas quero informações. Mais especificamente sobre o Grande Mago. — Garrik mostrou o saco de
moedas.

— Então você quer saber sobre o senhor Azazel? — perguntou o primeiro guarda — Agora você parece
alguém respeitável. É o seguinte, orelhudo, a alguns anos a cidade tava com problemas por causa da superlotação

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de monstros nas florestas ao lado, então o senhor Azazel apareceu e matou a maioria dos monstros, o resto ele
controlou e levou para longe, assim salvando a cidade. Nós devemos as nossas vidas a ele.

— Entendo. Por algum acaso ele tem momentos específicos para aparecer na cidade?

— Geralmente ele aparece nos desfiles, mas só isso mesmo. Inclusive, vai acontecer um desfile em algumas
horas.

— Entendi. Obrigado pelas informações. Espero que aceitem esse… agradecimento pelas informações. —
disse Garrik entregando cinco moedas de prata falsas.

— Hehe. Foi bom negociar com você, elfo.

“Isso foi mais fácil do que eu pensava. Bando de idiotas”, pensou Garrik.

Enquanto isso, Hayakaz e Hexoth andavam pela cidade, pedindo informações, quando perceberam uma
ferraria aberta e decidiram ir até ela.

— Opa, tem algum human… digo ferreiro, disponível? — falou Hayakaz,

— Claro. O que desejam? — falou um humano atrás do balcão.

— Nós queríamos fazer algumas perguntas, se possível — respondeu Hexoth,

— Informações? Bom, minha memória não esteve tão boa nos últimos dias, sabe?

— Entendi. Isso é suficiente? — Hexoth colocou cinco moedas de prata na mesa.

— Hexoth, você não acha que tá exagerando?

— Eu sei o que eu to fazendo, Hayakaz.

O humano colocou uma mão no queixo e outra nas moedas e falou:

— O que querem saber?

— Bom. O que você sabe do Mago que Controla Monstros?

— Ah… são forasteiros! Entendi. O senhor Azazel salvou nossa cidade. Tinham demônios na floresta e
então ele controlou todos os animais e atacou os demônios nos salvando.

— Até bem simples. Então ele salvou toda a cidade. Bem honroso, eu diria — falou Hayakaz com a mão no
queixo.

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— Eu tenho mais uma pergunta. Você sabe quando ele aparece na cidade? — disse Hexoth.

— Bom, minha memória ficou bem ruim de novo! Olha que coisa.

— Certo. Mais dez? — perguntou Hexoth

— Vinte!

— Argh. Ta! Trato fei… — disse Hexoth, antes de ser interrompido.

— Não! — Hayakaz bateu no balcão.

— Bom. Que peninha. Eu não me lem…

— Você vai nos dizer, e vai ser agora, a menos que queira seu órgãos espalhados por toda a cidade — falou
Hayakaz, olhando nos olhos do ferreiro enquanto o segurava pela roupa e o ameaçava com a outra mão.

— Gua… GUARDAS! SOCORRO! — gritou o ferreiro.

Ao ouvir os gritos do ferreiro, Hayakaz golpeou a cabeça dele com sua manopla, o esmagando, e então foi
até o lado de fora, seguido por Hexoth.

— É. Você é mesmo um pavio curto, Hayakaz. Ainda dissemos ao Garrik que não íamos fazer algazarra —
Hexoth começou a se alongar.

— Eu não sou pavio curto, eles que são muito irritantes.

— Você tem razão, mas você precisa aprender a se controlar, nem que seja um pouco.

Os guardas então os cercam, apontando seus projéteis mágicos de terra e fogo.

— Abaixem suas armas e se rendam, ou seremos obrigados a usar a força — disse um dos guardas.

— Força? Tsc… Vamos ver quem é mais forte — falou Hexoth, liberando sua aura com uma pressão
enorme, que fez alguns guardas caírem de joelhos.

— Ma… mas que merda é essa?! — gritou um dos guardas.

— Vamos acabar com isso rápido, certo, Hexoth?

— Eles não parecem ser fortes, não acho que seria divertido. Só vamos embora.

— Do nosso jeito? — perguntou Hayakaz com um sorriso no rosto.

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— Óbvio — respondeu Hexoth com um olhar psicótico.

Após receber a resposta de Hexoth, Hayakaz abriu um sorriso ainda maior e pulou para cima dos guardas,
abrindo um caminho para Hexoth, que veio golpeando os guardas que sobraram.

No beco, Garrik estava sentado em um dos cantos, quando um enorme portal surgiu em sua frente, o
deixando confuso. Após alguns segundos, uma pessoa saiu do portal, era Elphaseus.

— Ah. Então você sobreviveu àquela explosão. Pelo visto você cumpre com a sua palavra — disse Garrik.

— Fico lisonjeado, meu lorde — disse Elphaseus, soltando vapor de suas feridas.

— Então? Você conseguiu alguma informação útil, servo?

— Eu estive fugindo até agora, meu lorde. Não consegui nenhuma informação.

— E isto me é útil em que? Eu pensava que você era mais útil — falou Garrik, colocando sua mão no rosto,
se segurando para não xingá-lo ainda mais.

— Sinto muito, meu lorde.

Depois da conversa, Garrik reparou que Elphaseus estava com um olhar distante e resolveu perguntar:

— Pelo o que você está tão preocupado?

— Ah! Não é nada, meu lorde.

— Me diga o que aconteceu. É uma ordem do seu superior.

Elphaseus se assustou com a mudança de tratamento de Garrik, mas logo se recompôs e falou:

— Eu estou preocupado com o que o senhor Hayakaz me disse… se esse mago for como as pessoas falam
pelas ruas, ele será um grande problema.

— Você quer nos proteger?

— Sim, meu lorde.

— Então… prove isso.

Ao ouvir isso, Elphaseus levantou sua cabeça, como se tivesse finalmente entendido algo.

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Garrik foi até a entrada do beco e começou a observar a multidão, quando de repente ele escutou uma
explosão vindo do centro da cidade.

— Argh! Droga. Eu disse para eles não causarem problemas! — Garrik correu na direção do som.

Ao chegar no centro da cidade, Garrik viu Hayakaz e Hexoth cercados por vários guardas caídos.

— O que vocês fizeram?! — perguntou Garrik.

— Nada demais — respondeu Hayakaz.

Enquanto eles conversavam, uma voz misteriosa surgiu: — Vá, N37.

Após isso, um enorme lagarto bípede caiu do céu, próximo aos dois. O lagarto então começou a golpear os
dois descontroladamente.

— Mas que merda é essa? Por que você tá atacando a gente? — disse Hayakaz, antes de ser golpeado e
jogado contra uma parede.

— Esse bicho não vai ouvir a gente. Vamos ter que… — disse Hexoth, antes de ser agarrado pelo lagarto.

O lagarto levantou Hexoth, próximo ao seu rosto, e abriu a boca tentando devorá-lo, quando Hexoth reparou
em algo desenhado na testa do lagarto.

— Entendi — falou Hexoth

Garrik preparou seu arco e disparou na mão do lagarto, assim soltando Hexoth.

— Ele tem um círculo mágico na testa. Aquele mago deve estar controlando — disse Hexoth

— Beleza, mas como a gente mata essa coisa?! — perguntou Hayakaz.

— Eu não sei vocês, mas eu vou me divertir com isso.

— Você já teve ideias melhores, Hexoth — falou Garrik.

Hayakaz abriu um sorriso e pula na direção do lagarto, dando um leve toque na pele dele enquanto se
desviava dele.

— Patas de Lagarto!

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Após terminar de falar, seus braços começaram a brilhar em amarelo, dessa vez assumindo a forma de
braços de lagarto. Ele então começou a golpear o lagarto, causando leves danos. Hexoth pulou na direção do
lagarto, invocando sua espada e golpeando suas pernas.

— Agora, Garrik! — disse Hexoth.

Garrik então preparou seu arco e disparou três tiros seguidos no lagarto, o fazendo recuar um pouco, assim
dando uma abertura para Hayakaz que golpeou as patas do lagarto, o fazendo cair e permitindo que Hexoth
golpeasse a cabeça dele até cortá-la.

Eles se afastaram do corpo e repararam todas as pessoas reunidas ao redor deles com olhares de nojo e
medo. Então Elphaseus apareceu na multidão e correu na direção deles.

— Esse bicho foi difícil de matar, mas não foi pior que aquele baixinho do mausoléu — falou Hexoth

— Você tem toda a razão. Aquele cara era forte demais — disse Hayakaz.

— Meus lordes. Parece que esse lagarto estava sendo mesmo controlado. Suponho que deve ter sido o tal
mago — Elphaseus analisou o corpo.

— Era realmente controle mental. Parece que temos um grande problema aqui — falou Garrik coçando o
queixo.

— Então… vocês sobreviveram. Isso é inesperado, mas não vai mudar o resultado final. — Um encapuzado
pulou de cima de uma casa.

Após ouvirem a voz, eles repararam na pessoa com um manto cinza escuro que se aproximava. Quanto mais
perto ela chegava, mais o sol ia nascendo e iluminando a cidade aos poucos.

Quando o sol iluminou o corpo do lagarto, ele se desfez em pó.

— Você não serviu nem pra isso. Vou ter que fazer mais alguns ajustes em você, N37 — falou o encapuzado
olhando para o lagarto que virava pó.

— Você controlou a mente dele e ainda diz isso?! — falou Hexoth, com um olhar de desprezo.

— Ele era apenas uma marionete, não tenho motivo para ter pena dele, mas isso não importa agora. Eu vou
acabar com isso de uma vez..

— Então… você é o Azazel, o “Mago Controlador de Monstros”? — perguntou Garrik.

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— Oh! Então você sabe o meu nome? Interessante. Sim, eu sou Azazel. E vocês? Quem são? — perguntou
Azazel.

— Hayakaz, esse é o nome daquele que vai te matar. — Hayakaz apontou para Azazel.

— Belas palavras… Não está sendo audacioso, nyancaller?

— Vamos acabar com isso logo. — Hexoth empunhou sua katana.

Hexoth pulou na direção de Azazel, golpeando-o contra o chão e levantando uma nuvem de poeira. Quando
a poeira baixou, Hexoth percebeu que uma barreira anulou seu golpe.

“Ele usou um encantamento sem recitar?", pensou Hexoth.

— Seu golpe mais forte? — disse Azazel, antes de chutar Hexoth na direção dos outros dois.

— Aprenda o seu lugar, humano — disse Garrik, disparando contra Azazel, que bloqueou os projéteis com
outra barreira.

— Concentrem-se em lutar, não em falar. Senão, nunca vão me acertar — falou Azazel.

— Que merda. Esse cara não para de bloquear. O que a gente faz? — perguntou Hayakaz.

— Talvez a “Lobo de Guerra”? — falou Hexoth.

— Certo — disseram Hayakaz e Garrik, entrando em suas posições.

Hayakaz então começou a carregar energia enquanto transformava seus braços.

— Elphaseus, atrasa ele um pouco pra gente, pode ser?

— Certo, meu lorde. Correntes de Sangue! — Elphaseus invocou um círculo mágico que surgiu ao redor de
Azazel, que liberou sua aura tentando quebrar o círculo, mas sem efeito.

— Um encantamento? — falou Azazel, olhando para o Elphaseus.

Quando Azazel olhou diretamente para Elphaseus, seus olhos se arregalaram.

— É você! — disse Azazel — SEU DESGRAÇADO!

Azazel pulou na direção de Elphaseus, quebrando o encantamento ao seu redor, e começou a golpeá-lo, o
arremessando de um lado para o outro da arena.

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— Por quê você ainda tá vivo?! — gritou Azazel, enquanto golpeava Elphaseus.

— Do… que… você… tá… falando?! — Elphaseus tentou dizer.

Elphaseus então abriu os braços liberando uma aura que afastou Azazel.

— Eu não sei o que você tem contra mim, mas eu não vou perder tão fácil — disse Elphaseus, tirando seu
capuz branco e revelando sua aparência. Era um demônio de pele vermelha, chifres de magma, cabelos pretos e
olhos dourados.

— Você… você vai pagar pelo que fez! VOCÊ VAI PAGAR! — falou Azazel, pulando na direção de
Elphaseus, recomeçando a troca de socos.

No meio dos socos trocados, Elphaseus se aproveitou de uma abertura nos golpes de Azazel e o golpeou, o
fazendo recuar um pouco.

— Morra de uma vez — Azazel tentou socar Elphaseus, que segurou seu punho e disse:

— Eu disse… que eu não vou perder.

Elphaseus golpeou Azazel no peito, o fazendo recuar, e logo em seguida seguiu o golpeando com uma
sequência, sem dar chance para ele se livrar.

Após ser golpeado diversas vezes, Azazel olhou para Elphaseus e disse: — Caia!

Após Elphaseus ouvir as palavras de Azazel, uma enorme pressão caiu sobre seu corpo, o fazendo ficar
deitado no chão.

— Como… — falou Elphaseus, mal conseguindo se mexer.

— Você parece ser um bom feiticeiro, mas se esqueceu que eu não preciso nem recitar eles.

— Do que… está falando…

— Se eu não preciso recitar eles, significa que eu já tenho um poder imenso para encantamentos, mas se eu
os recitar mesmo assim, eles podem ter até o triplo da força original… Agora… Abaixe sua cabeça perante as
correntes de seu senhor… — Azazel começou a recitar um encantamento com um sorriso no rosto.

— Eu… não… vou… traí-los…

Elphaseus então se levantou, quase não conseguindo se manter.

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“Não está funcionando? Ele tem tanta determinação assim?”, pensou Azazel.

— Eu vou cumprir a minha promessa… — disse Elphaseus, indo na direção de Azazel. — Eu vou servir
meus lordes até o fim da minha vida! — Elphaseus golpeou Azazel que dessa vez não recuou.

— Você… está mais fraco — disse Azazel, golpeando o peito de Elphaseus e o fazendo cair no chão outra
vez.

— Pensando bem, te tornar uma marionete seria uma punição muito leve para você. Então… eu vou te
torturar até você implorar pra eu te matar! — falou Azazel, se preparando para chutar a cabeça de Elphaseus.

Quando Azazel ia golpear Elphaseus, um punho acertou seu rosto em uma velocidade absurda, era Hayakaz.

— Eu não sei qual o seu problema, mas você mexeu com o meu servo — disse Hayakaz, o golpeando de
novo — Se ponha no seu lugar.

Após alguns golpes, Hayakaz pulou para trás fazendo um sinal com a mão para Garrik, que disparou contra
Azazel o fazendo recuar um pouco, dando chance para Hexoth ativar sua magia — Corte Sombrio! — e
arremessar sua katana coberta por sombras para Hayakaz, que por último, golpeou Azazel com um corte de cima a
baixo com a katana e suas manoplas de lobo — Técnica em Conjunto: Lobo de Guerra — gerando uma explosão
enorme.

Após alguns segundos a poeira começou a se desfazer, revelando Azazel com um enorme ferimento no
peito.

— Seu… SEU VERME!!! — disse Azazel, criando uma lança de pedras vermelhas e se preparando para
golpear Hayakaz — Lança Vulcânica.

Antes que ele pudesse acertar Hayakaz, algo surgiu na frente do ataque, bloqueando o ataque, era
Elphaseus, que após receber o golpe caiu nos braços de Hayakaz, com um enorme buraco no peito.

— Elphaseus? Po… por quê? — perguntou Hayakaz, com lágrimas caindo de seus olhos.

— Eu fiquei… cof cof… sem mana… Era o único… jeito de… cof cof… te salvar — disse Elphaseus, mal
conseguindo falar.

— Não! Calma! A gente vai te curar! É só a gente usar um encantamento, não é?! — falou Hayakaz, não
conseguindo mais segurar suas lágrimas.

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— Não adianta… — Elphaseus parou a mão de Hayakaz. — Não é possível… cof cof… curar um
ferimento… de magia sagrada. — Elphaseus fechou os olhos. — Me perdoe… Eu não pude… cof cof… cumprir
a… minha promessa…

Então, a mão de Elphaseus, que estava apoiada na mão de Hayakaz, caiu ao chão sem forças.

— Só morra de uma vez. Está atrasando a minha diversão — falou Azazel, com um olhar assustador.

— Elphaseus? Não, não! Elphaseus! AAAAARGH!!! — gritou Hayakaz, que caiu em um mar de lágrimas.

Hayakaz lentamente colocou no chão o corpo de Elphaseus, que foi se desintegrando conforme o sol o
cobria. Depois de alguns segundos, o céu inteiro escureceu de maneira anormal. Hayakaz, de cabeça baixa e de
olhos fechados, disse:

— Você não sente nem um pingo de culpa pelos seus crimes… — Uma aura amarela começou a transbordar
do seu corpo de Hayakaz, causando uma leve pressão ao redor — Então eu também não vou me sentir culpado
pelo que eu vou fazer agora…

Raios começaram a sair da aura de Hayakaz, que agora mostrava dentes de garras enormes.

— EU VOU TE MATAR!

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Capítulo 3: Significado de União.

O céu havia se fechado por completo, lotado de nuvens carregadas mas sem nenhuma gota de água caindo.
A aura de Hayakaz continuava a crescer, exalando uma pressão gigantesca. Os outros lordes permaneciam calados,
apenas observando.

— Que pressão densa, onde você estava esconden… — Antes que Azazel pudesse terminar, Hayakaz pulou
em sua direção e o golpeou no estômago, o arremessando contra uma casa.

— Cale-se — disse Hayakaz, andando lentamente na direção que Azazel foi lançado.

Azazel se levantou, tocou o local do ferimento e disse:

— HAHAHAHAHA!

— Do que você tá rindo?

— Eu não me divertia assim a muito tempo. — Azazel abriu um sorriso.

— Você ficou bem tagarela, heim. Eu te soquei forte demais? — Após ouvir as palavras de Azazel, Hayakaz
pulou até ele, mas foi recebido por um rosto com um sorriso anormal.

— Ka-Boom! — falou Azazel, antes de abrir os braços e causar uma enorme explosão, jogando Hayakaz
para longe. — Haha! Você acha que eu vou apanhar sem revidar? Você é idiota?

— Argh! Você realmente vai explodir a cidade inteira só pra me derrotar? — falou Hayakaz, enquanto se
levantava dos escombros.

— Hahahahaha! É lógico. Eu só preciso mandar eles reconstruírem, não é problema meu!

Ao ouvir Azazel, Hayakaz fechou seus punhos e começou a andar na direção de Azazel, cada passo que
Hayakaz dava gerava um tremor. Seus olhos estavam completamente brancos e sua aura já havia se dissipado.

Quando Hayakaz se aproximou, Azazel conjurou novamente sua lança e os dois começaram a trocar golpes
novamente. O choque dos golpes era tão forte que gerava tremores nos arredores.

— Você está ficando mais forte… isso seria a sua raiva?

A cada golpe, Hayakaz batia com mais força, gerando cada vez mais rachaduras na lança de Azazel, até que
ela finalmente se partiu.

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— Mas co…

Hayakaz agarrou o rosto de Azazel e o arrastou em uma parede por quase vinte metros. — Você não passa
de um verme que sai por ai matando os outros sem motivos.

Azazel se levantou e disse:

— E você acha que fez o que até agora? — Hayakaz parou por um segundo. — Você não é diferente de
mim. Um monstro.

Azazel encostou a mão no peito de Hayakaz e conjurou um encantamento — Ka-boom — lançando


Hayakaz para longe.

Ao ver que Hayakaz foi arremessado para longe, Azazel criou outra lança e tentou conjurar um círculo
mágico, aproveitando o tempo obtido, mas um enorme punho atravessou seu círculo de magia, como se não fosse
nada.

— Morra! — Hayakaz continuou golpeando Azazel.

Durante o momento de fúria de Hayakaz, Azazel reparou nas diversas aberturas geradas por Hayakaz e o
golpeou com sua lança, perfurando o seu peito.

— Finalmente… Cheguei a pensar que eu ia morrer — falou Azazel, enquanto Hayakaz dava alguns passos
para trás.

— Isso… não é nada! — disse Hayakaz, arrancando a lança de Azazel de seu peito.

— O que?! Não é possível! V-você deveria ter morrido. Eu acertei no seu coração!

— Haha. — Hayakaz abriu um sorriso, enquanto quebrava a lança de Azazel. — Eu sou o Lorde Demônio
das Bestas. Você achou mesmo que ia me matar facil assim? Minha magia é a Metamorfose, eu posso mudar a
posição dos meus órgãos o quanto eu quiser.

Após ouvir isso, Azazel começou a tremer e tentou se afastar um pouco, mas acabou encostando em uma
parede de escombros e logo percebeu o punho de Hayakaz ao lado de seu rosto e a face dele na frente da sua.

— Você não queria lutar? Não queria ver toda a minha força? Você vai pagar pelo que fez com o Elphaseus
— falou Hayakaz, com um olhar macabro e uma voz serena.

— Caia! — disse Azazel, na esperança de obter tempo.

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— Não, isso não vai funcionar agora. — Hayakaz pegou Azazel pelo pescoço e se preparou para dar o golpe
final.

Antes que ele pudesse fazer isso, seus olhos se arregalaram, uma enorme dor começou a percorrer seu
corpo, o que fez ele se ajoelhar e sua pressão desaparecer.. Quando Garrik e Hexoth iam interferir, círculos
mágicos surgiram abaixo deles, os prendendo em enormes paredes de energia vermelha.

— O que você fez?! Cof cof — perguntou Hayakaz.

— Isso? Se lembra daquele círculo que você socou sem nem se importar? Era um encantamento de paralisia,
um tão forte que poderia prender toda a cidade de uma vez, mas como você é bem forte, demorou para fazer efeito.
— Azazel chutou o rosto de Hayakaz. — Eu queria continuar brincando com você, mas vou ter que terminar isso.

Azazel começou a liberar uma névoa roxa, cobrindo todo o seu corpo, o chão começou a tremer, as nuvens
de chuva que haviam se juntado começaram a relampejar e os olhos de Azazel começaram a ficar vermelhos.

— A brincadeira acabou… — O corpo de Azazel foi completamente coberto pela névoa roxa. —
Receptáculo da Destruição!

“Merda. Eu devia ter matado ele de uma vez!”, pensou Hayakaz, sentindo o poder de Azazel aumentar. “O
que eu fiz?!”

O corpo de Azazel começou a se transformar, sua pele ficou toda branca, uma auréola surgiu em sua cabeça,
seus cabelos ficaram loiros, seus olhos ficaram totalmente vermelhos e um par de asas brancas surgiram em suas
costas.

— Agora… é a hora do julgamento — disse Azazel, com um sorriso no rosto.

Hayakaz se esforçou para tentar se levantar, mas não teve sucesso. Azazel se aproveitou da situação e
segurou Hayakaz pelo pescoço, desferindo sequências de socos em seu peito. Ao verem isso, Garrik e Hexoth
começaram a golpear as barreiras, na esperança de quebrá-las.

Depois de golpear Hayakaz diversas vezes, Azazel o arremessou no chão, conjurou uma lança totalmente
feita de luz e falou: — Você realmente me fez usar todo esse poder. Você é forte, isso é motivo de orgulho, mas
você não é forte o suficiente para me vencer… Sucumba à minha benção… Lança do Anjo Caído!

A lança em suas mãos começou a crescer, ficando maior que seu próprio corpo. Logo após isso, ele a
disparou contra Hayakaz, que apenas viu tudo à sua volta ficando completamente branco.

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— Eu vou morrer assim? Tsc! Que morte ridícula… Não consegui proteger você… não consegui proteger
ninguém… não cumpri nenhuma promessa. Me desculpe, amigo… — disse Hayakaz, fechando seus olhos.

Um enorme barulho de metal foi soado. Uma enorme sombra surgiu na frente de Hayakaz, tampando a luz
gerada pela lança.

— Você acha que não deve viver porque não cumpriu nenhuma promessa? Porque não conseguiu proteger
ninguém?

Hayakaz abriu seus olhos, finalmente vendo o vulto em sua frente, era Hexoth que bloqueava a lança com
sua katana.

— Se você acha que não tem mais que viver por causa desse peso nas suas costas… então não carregue ele
sozinho! Você é o mais justo de nós três, nunca matou ninguém sem motivo, sempre nos impediu de matar aqueles
que eram inocentes. Nós devemos muito a você, mas se acha que não é digno de viver por causa dos seus erros…
ENTÃO TORNE-SE DIGNO! — falou Hexoth.

Após ouvir as palavras de Hexoth, Hayakaz arregalou seus olhos, com lágrimas escorrendo, se levantou e
abriu um sorriso, colocando a mão no ombro de Hexoth e disse:

— Eu não consigo vencê-lo sozinho. Preciso de ajuda, Hexoth e Garrik… meus amigos!

— Esse é o Hayakaz que eu conheço. Agora vamos dar um fim nisso. — Hexoth redirecionou a lança para o
céu.

“Ele bloqueou a minha benção…”, pensou Azazel.

Hayakaz invocou suas manoplas, foi até o lado de Hexoth e Garrik e falou:

— Agora… é hora do segundo round.

— Vocês realmente querem continuar? Eu já disse. Vocês pode ser fortes, mas não são o suficiente para me
matar.

— Se você soubesse o quanto de pessoas com essa mesma aparência e esse mesmo pensamento nós já
matamos, você não estaria tão confiante — Hexoth abriu um sorriso.

— Você fala disso? — Azazel apontou para suas asas. — Eu não costumo usar essa forma, ela me deixa
muito cansado, mas se eu estiver com ela, você não vai me matar. Foi o próprio Papa que me ensinou a usá-la.

— Então foi o Papa que te ensinou isso. Agora eu to com ainda mais vontade de te matar — falou Hexoth.

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— Eu nunca concordei tanto com você quanto agora, Hexoth — disse Hayakaz.

— Chega de conversa fiada. Temos um “anjo” para matar. — Garrik preparou seu arco.

Azazel conjurou espadas de luz ao seu redor e as arremessou no grupo.

Os três se separaram para conseguirem desviar das espadas. Hexoth correu na direção de Azazel, golpeando
as espadas que eram lançadas nele e pulou na direção de Azazel tentando golpeá-lo diretamente, mas acabou sendo
bloqueado por diversas espadas, que o empurraram para trás.

Ao ver isso, Garrik disparou contra Azazel, mas teve suas flechas bloqueadas por mais espadas de luz, que
logo foram disparadas contra ele, que se afastou para desviar. Ao longe, Hayakaz observava atentamente os golpes
de Azazel, pensando uma estratégia.

“Droga! Isso também não vai funcionar. Esse cara é intocável?”, pensou Hayakaz

Hayakaz teve uma ideia e tomou a frente, passando por Hexoth e Garrik, enquanto rapidamente sussurrava
algo para eles, e indo na direção de Azazel, desviando das espadas que eram lançadas nele, para pular na direção
dele, no ar, e tentar golpeá-lo, mas acabou sendo bloqueado por duas espadas, cruzadas, que o fizeram recuar.

— Trocar! — Hayakaz recuou e deu lugar para Hexoth, que golpeou as espadas cruzadas, as destruindo e
abrindo caminho para Hayakaz seguir em frente.

— Trocar! Corte Sombrio! — Hexoth se afastou e jogou sua katana, imbuída em sombras, para Hayakaz que
a pegou no ar.

Hayakaz aproveitou a oportunidade e partiu na direção de Azazel que, de olhos arregalados, esticou seu
braço para o lado, onde uma ponta de lança surgia.

— MORRA! LANÇA DO… — disse Azazel, não conseguindo mais controlar sua raiva.

Ao tentar conjurar sua magia, Azazel acabou baixando sua guarda, o que permitiu que Garrik acertasse uma
flecha em seu braço, o cortando e o mandando para longe, o impedindo de sacar sua lança, gerando uma abertura
para Hayakaz.

— Você mata todos aqueles que discordam de você. Eu nunca perderia pra alguém que despreza o
significado de união! Técnica Combinada, Lobo de Guerra! — Hayakaz acertou um corte no peito de Azazel o
arremessando contra o chão.

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“Eu perdi?”, pensou Azazel, olhando o rosto de Hayakaz. “Como… isso aconteceu? Eu era invencível…
Ele me disse que eu não perderia para ninguém… Onde eu errei… Eu não consigo lembrar… Talvez se eu não
tivesse desistido de você… Talvez se eu não tivesse aceitado… Se eu não tivesse te traído…”

Após bater contra o chão, todas as espadas de Azazel desapareceram. Hayakaz caiu no chão ao lado de
Azazel, o olhando fixamente e reparando que ele ainda estava respirando.

— Espere… cof cof… Hayakaz — falou Azazel, enquanto ia virando poeira.

— Você ainda tá vivo? Não tenho nada pra ouvir de vo…

Antes que Hayakaz pudesse terminar, Azazel sussurrou algo que fez Hayakaz arregalar os olhos, e por fim
virou poeira, sinalizando a sua morte. Após isso, Hayakaz levantou sua cabeça, fechou seus olhos e começou a
chorar. Hexoth se aproximou com uma expressão confusa no rosto, Hayakaz disse:

— Seu maldito. Por que se arrependeu só no final…

Após desistir de tentar entender, Hexoth reparou que a cidade toda estava reunida ao redor da cratera com
um olhar assustado. Depois de alguns segundos, eles se aproximaram para pensar em alguma estratégia para
saírem daquele lugar.

— Então, o que a gente faz? — perguntou Hexoth.

Hayakaz se afastou dos outros dois lordes, limpou suas lágrimas e olhou para os moradores na lateral da
cratera e disse:

— Nós, os Três Grandes Lordes Demoníacos, finalmente despertamos do nosso sono. Caso duvidem que
somos os Lordes, nós matamos o Grande Mago Azazel, que possuía um enorme poder. Espalhem minhas palavras:
Nós declaramos o início da Segunda Grande Guerra Demoníaca!

Após alguns segundos, Hexoth olhou para Hayakaz e perguntou:

— Será que isso não vai causar um problema ainda maior?

— Uma hora ou outra eles iam descobrir mesmo, não é como se tivéssemos muitas opções — respondeu
Garrik.

— Se o Hayakaz e o Garrik, os extremos opostos, estão concordando, não sou eu que vou discordar.

Enquanto os lordes conversavam, um enorme círculo de magia começava a se formar no céu. Seus símbolos
eram completamente vermelhos e tinham o formato de hexagrama.

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— Ei! Vocês dois! O que é aquilo lá no alto? — perguntou Garrik.

Ao olharem para o alto, os outros lordes perceberam o enorme círculo desenhado no céu, que começou a
brilhar e então eles foram teleportados. No outro lado do círculo, os três acordaram em uma câmara de pedras,
rodeada de estátuas.

— Sejam bem-vindos, meus lordes — falou uma voz, no meio das sombras, que foi se aproximando dos
lordes e, aos poucos, revelando sua aparência. Era um humanoide semelhante a um humano, porém com um par de
chifres pretos como carvão, olhos dourados e um terno roxo.

— E você, quem é? — perguntou Hayakaz.

— Oh, que erro o meu, mil perdões. Eu sou Dartanham, vosso Gran-Servo — Respondeu o homem.

— Desculpa. Gran-Servo?

— Exato, meu lorde. Eu sou o servo que está acima de todos os outros.

— Acima… dos outros? — perguntou Hayakaz, de cabeça baixa.

— O senhor está certo.

— Então… você devia protegê-los. Esse é o dever de um líder — disse Hayakaz indo na direção de
Dartanham. — Então me responda: Por que você não protegeu o Elphaseus?! Por que deixou ele morrer?! —
gritou Hayakaz, segurando o servo pela gola do terno.

— Hayakaz, ele não teve culpa. Se acalme — falou Garrik, com um olhar severo na direção do amigo.

— Não. Ele está certo, meu lorde — disse Dartanham, retirando a mão de Hayakaz de sua gola. — Eu
deveria ter o protegido, ele era minha responsabilidade, porém eu não posso interferir, em larga escala, no mundo
humano. Graças a essa regra, não pude protegê-lo.

— Ele deu a vida dele pela minha. Se você realmente quisesse salvá-lo, você não ligaria para essa regra e
daria até a sua vida, igual a ele. Eu só não te mato aqui e agora porque preciso de você vivo. Senão, sua cabeça já
não estaria no corpo a muito tempo — Hayakaz soltou o servo e voltou ao lado dos outros lordes.

— Bem. Onde estamos, Dartanham? — perguntou Garrik, olhando para as paredes da câmara.

— Oh, sim. Os senhores estão em uma dimensão de bolso que eu criei. Neste local os senhores terão toda a
mordomia que lhes é de direito. Este local é como se fosse uma base temporária.

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— Entendi. Então? Onde ficam nossos quartos? — perguntou Hexoth.

— Sigam-me, meus senhores — falou Dartanham, os guiando a um enorme castelo de pedras.

Enquanto isso, em um lugar completamente vazio, um homem com um manto branco flutuava em uma
enorme escuridão. Várias vozes começaram a soar, ecoando no local, e logo se tornando impossíveis de se
entender, fazendo o homem abrir seus olhos, e ao fazer isso, diversas imagens começaram a girar ao redor de seu
corpo, lotando o local.

— O que… é isso — falou o homem. — Como eu… fui me esquecer…

Após dizer isso, o homem estendeu seus braços, invocou uma lança de magma e disse:

— Eu tenho que pôr um fim nisso. Pelo bem dos meus irmãos…

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Capítulo 4: Sonho Corrompido.

Durante a apresentação do castelo, Dartanham mostrou diversos cômodos para os três, desde uma cozinha
extremamente arrumada até uma sala quase vazia, com apenas uma grande mesa redonda rodeada de cadeiras, que
era onde eles estavam.

— Bom, agora falta somente nossos quartos. Estou certo, servo? — disse Garrik, sentado em uma das
cadeiras.

— Está correto, meu lorde, porém há algo que eu devo fazer para os senhores antes disso — disse
Dartanham, com a coluna curvada fora da mesa.

— O que seria? — falou Hexoth.

— É algo simples. Prometo não demorar. — Dartanham levantou sua cabeça. — Eu vou trazer para a
realidade o desejo mais forte de cada um dos senhores. Isto foi pedido diretamente pelo Grande Deus Lucifer.

— Ele disse o motivo disso?

— Ele apenas me deu a ordem de fazer isto e disse que fazia parte de seus planos.

— Se é uma ordem direta, vamo nessa — falou Hayakaz, indo na direção de Dartanham.

Dartanham guiou os três lordes para suas posições respectivas, e ao iniciar o ritual, três coisas começaram a
se materializar: Uma enorme espada, tão grande que seria difícil de usar, um enorme quadro de uma elfa de longos
cabelos prateados, pele extremamente branca e olhos dourados, e por fim, um peixe com quase o tamanho da sala.

— Calma! O seu maior desejo é um peixe gigante, Hayakaz?! — perguntou Hexoth, incrédulo.

— Como você sabe que é meu? Eu não disse nada!

— Porque ele não é meu e não tem como ser do Garrik, ele não gosta de peixe!

Hayakaz parou por um segundo e respondeu: — Droga.

— Bom, o que seria isso, Dartanham? — Garrik apontou para a espada.

— Este é o seu maior desejo, meu lorde.

— Eu não sei o que é isso. De onde veio essa espada?

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— Bom, se eu tivesse que chutar, eu diria que ela pode ser de algum dos Sete Pecados.

— E por que eu desejaria algo dos Sete Pecados?

— Entendo… Então o senhor não se lembra.

— Lembrar de que? Diga de uma vez, chega de enigmas.

— O senhor era o responsável pelos Sete Pecados, meu lorde.

— O que está dizendo? Eu sou um dos Sete Pecados?! Eu não me lembro de nada disso!

— Não, meu senhor. O senhor não é um dos Sete Pecados, eles obedecem o senhor, como se fossem seus
servos.

— Por que eu não me lembro de nada disso? Eu tenho certeza que lembraria de algo assim!

— Eu não sei, meu senhor, mas creio que possa ser uma amnésia causada por despertar, ou seja, o senhor
está com amnésia por ter dormido por tanto tempo.

— Argh! Isso me causou dor de cabeça. — Garrik se sentou com as mãos na cabeça.

Quando Dartanham voltou seu olhar para os outros lordes, Hayakaz já havia comido todo o peixe.

— Cuidado para não ter indigestão, Hayakaz — disse Hexoth.

— É que, chomp chomp, isso ta muito, chomp chomp, bom mesmo. — Hayakaz cuspiu os ossos do peixe.

— Bom, se o peixe era do senhor Hayakaz, então por dedução, o quadro deve pertencer ao senhor, senhor
Hexoth.

— Você está certo… Não pensei que fosse ver isso de novo, fazem mais de trezentos anos que eu pedi para
pintarem ela… — Uma lágrima começou a escorrer dos olhos de Hexoth.

— Então… essa seria ela, meu lorde?

— Ah… Então você sabe sobre ela… a Hen…

— O clima ficou meio pesado aqui… melhor mudarmos de assunto? — perguntou Hayakaz.

— Você está certo, meu lorde. Posso lhes dar uma ideia de plano que os senhores poderiam fazer? Eu já
tenho um próximo passo planejado, se me permitem dizer.

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— Contanto que não seja uma ideia idiota — falou Garrik.

Após se sentarem, Dartanham colocou um papel, com um círculo mágico desenhado, no centro da mesa, e
logo após isso, uma projeção de uma torre surgiu no centro da mesa.

— Certo. Como os senhores estão com poucas de suas memórias, e não temos tantas informações sobre o
que aconteceu nesses últimos séculos, eu deduzi que a melhor ideia seria buscar por informações e juntar forças o
mais rápido possível. Com isso em mente, eu encontrei essa biblioteca mágica, creio que dentro dela possa haver
informações sobre os exércitos demoníacos e sobre os Sete Pecados. Seriam dois coelhos com uma cajadada só. —
Dartanham mostrou a projeção.

— Entendo. Então podemos encontrar informações sobre os Sete Pecados nesta biblioteca? — perguntou
Garrik, com uma de suas mãos massageando sua testa.

— Está correto, meu lorde, mas além disso, poderíamos encontrar informações sobre todas as coisas que
aconteceram com o mundo nesses últimos anos.

— Espera. O Grande Mestre Lúcifer não possui nenhum informante no mundo humano? — perguntou
Hayakaz.

— Creio que possui, mas com todos os preparativos para o despertar dos senhores, ele não tem entrado em
contato com os seus informantes.

— Saquei.

— Certo. Basta enviarem tropas para reunir informações, afinal, é para isto que temos servos — falou
Garrik.

— Infelizmente, ainda não nos foi disponibilizada nenhuma tropa de análise, meu lorde.

— Então o seu plano seria: Irmos até lá e “pedirmos educadamente” para eles cederem informações? —
Garrik fez sinais de aspas com as mãos.

— Felizmente, não há mais nenhum ser vivo nesta biblioteca. Isto deve facilitar a situação.

— Entendo. Então creio que está tudo resolvido. Vamos para lá.

— Vou preparar o portal imediatamente, meus senhores.

— Adoro quando eu não preciso dizer nada e as coisas se resolvem, não é, Hexoth? — Hayakaz abriu um
sorriso.

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— O Garrik é o nosso estrategista de guerra, afinal de contas — respondeu Hexoth.

Após se organizarem, os quatro se reuniram em frente a um grande círculo de pedras com símbolos
desenhados.

— Supere os limites do espaço, distorcendo a realidade ao meu redor, e realize meu desejo de conhecer todo
o mundo, Fenda Espacial. — Dartanham preparou o ritual.

— Vocês sabem que agora os quatro reinos sabem que estamos vivos, então a segurança dos reinos vai ser
muito maior — disse Hexoth.

— Se não tivesse um desafio, não ia ter graça nenhuma — falou Hayakaz.

Após alguns segundos, os símbolos desenhados nas rochas começaram a brilhar em vermelho, e então, um
enorme rasgo surgiu em frente a eles.

— Está feito, meus senhores. Infelizmente não consigo os mandar diretamente para dentro da biblioteca,
parece ter alguma barreira, então os mandarei para a frente dela. Vou reabrir a fenda assim que os senhores assim
desejarem.

Hayakaz ignorou Dartanham e pulou para dentro da fenda. Ao ver isso, Hexoth disse: — Não liga pra ele.
Ele só precisa de um tempo para digerir tudo que aconteceu com o Elphaseus. Não foi sua culpa.

Os outros dois logo pularam para dentro da fenda, e do outro lado, encontraram uma enorme floresta.
Depois de andarem um pouco pela mata, eles encontraram uma grande torre feita de tijolos soltos e desgastados.

— É aqui? Parece meio pequeno para uma “Grande Biblioteca” — Hayakaz coçou a cabeça.

— O Dartanham disse que era aqui, então deve ser mesmo, apesar dos pesares — respondeu Hexoth.

— Vamos entrar de uma vez! — Garrik acelerou o passo.

Quando estavam prestes a entrar na torre, um enorme peso caiu sobre os três, deixando os três com
dificuldade de se mexer, era uma presença absurdamente poderosa.

— Mas o que?! — Hayakaz procurou a origem da presença, e logo se deparou com um enorme lobo negro
os observando de dentro da floresta.

“Faz muitos anos, Lorde Garrik…” Uma voz ecoou no local.

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Quando olhou para o lobo, Garrik arregalou os olhos, um sentimento de familiaridade tomou seu corpo,
mesmo ele não sabendo quem ou o que era aquele lobo. Após cruzar os olhares com Garrik, o lobo se virou e
pulou floresta adentro, levando a pressão junto.

— O que foi isso?! — Hayakaz sentou no chão.

— Aquela coisa não era normal — falou Hexoth.

— Se ta bem, Garrik? — perguntou Hayakaz.

— Não é nada… só vamos entrar logo.

Ao entrarem na biblioteca, os lordes entenderam por que Dartanham recomendou esta biblioteca. Por
dentro, ela era quase cinco vezes maior do que por fora, permitindo que centenas de livros fossem guardados em
suas prateleiras.

— Uou! Isso sim me surpreendeu — disse Hayakaz.

— Vamos nos separar, assim poderemos reunir mais informações em menos tempo. — Garrik chamou a
atenção dos outros dois.

Os outros dois concordaram com a cabeça e, logo depois, se separaram. Conforme ia olhando o conteúdo
dos livros, Garrik jogava os livros lidos no chão.

“Quanta coisa inútil. Não há nada que realmente possa me ajudar aqui” pensou Garrik, tateando os livros.

Após jogar muitos livros no chão, Garrik encontrou uma capa que lhe interessou: “Os 7 Pecados Capitais”.

— Após muitas guerras, finalmente juntamos as informações necessárias para escrever este livro. Para
quem o ler, os chamados “7 Pecados Capitais” são monstruosidades com o poder para destruir uma nação
inteira sem dificuldades — leu garrik em voz alta — eles são demônios de alto escalão, no exército demoníaco.
Como os pecados da Luxúria, Inveja e Ganância desapareceram a centenas de anos, antes de conseguirmos
informações, falaremos apenas dos outros quatro, por hora. — Garrik parou por um segundo. — Vocês dois.
Encontrei algo importante. Venham aqui.

— Ótimo! Esse era o quinto livro sobre tomates que eu encontrei. Pra que tantos livros sobre tomates?! —
Hayakaz saiu de uma pilha de livros.

Após se juntarem, Garrik voltou a ler: — Comecemos pelo Pecado do Orgulho: Conhecido como O
Demônio Anarquista, ele possuía uma repulsa enorme a reinos humanos, e somando isso ao seu enorme poder, ele

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foi capaz de destruir dezenas de reinos sem deixar rastros, além de ser o responsável pela destruição de Camelot.
Sua magia consistia em uma enorme manipulação de lâminas de energia, capazes de cortar até mesmo o mithril.
Sobre o Pecado da Ira e o Pecado da Gula: Conhecidos como Os Irmãos da Catástrofe, os dois, além de serem
irmãos, estavam sempre juntos, o que tornava quase impossível um combate vitorioso para nós, humanos. As
magias dos Pecados da Ira e da Gula consistiam em, respectivamente, criação de Shikigamis, seres feitos
puramente de mana, e transformação. Sobre o Pecado da Preguiça: Conhecido como O Demônio Duplo, o
Pecado da Preguiça desapareceu na mesma época em que os Três Grandes lordes surgiram, então acreditamos
que ele deve ter morrido em um combate com eles, porém descobrimos que sua magia consistia em manipulação
de Gelo e Chamas.

— Então, os que temos mais chance de encontrar são o Orgulho, Ira e Gula — disse Hayakaz.

— Basicamente isso. Mas não acho que será tão fácil quanto estamos pensando. — Hexoth coçou o queixo.

— No começo fala que juntaram bastante informação, mas não tem muita coisa.

— Eu nunca vou entender os humanos. Bom, agora precisamos continuar procurando, não é como se a gente
tivesse outra coisa para fazer.

Os três novamente se separaram, mas dessa vez não durou tanto: — Ei! Tem uma coisa aqui — disse
Hexoth tocando em um enorme cristal laranja. Após tocar o cristal, Hexoth arregalou os olhos, de repente ele se
viu em uma cidade, aparentemente na periferia.

— Mas o q… — Antes que ele pudesse terminar, uma fumaça negra tomou o ar, seguida de um cheiro podre.
— Não… não, não. Isso só pode ser um sonho. Com certeza é um sonho. É UM SONHO! — Hexoth colocou as
mão na cabeça.

“Hexoth…” Uma voz ecoou na mente de Hexoth.

— Essa voz… não… — Hexoth levantou a cabeça e reparou em uma enorme fogueira, com alguém dentro.
— Eu já entendi… Eu sei que foi minha culpa… Por favor, façam isso parar… por favor. — Hexoth caiu de
joelhos, com os olhos cheios de lágrimas. De repente, tudo foi coberto por uma escuridão.

“Aquilo foi sua culpa?” Uma voz novamente ecoou no meio das sombras, mas Hexoth continuava em
silêncio.

“Você ainda não está pronto, Hexoth” Quando a voz terminou, a escuridão começou a se desfazer, voltando
para biblioteca.

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— Hexoth! O que aconteceu, cara. Por quê você tá chorando? — Hayakaz ajudou Hexoth a se levantar.

— Esse cristal… ele não é algo bom…

Após ouvir o amigo, Garrik se aproximou do cristal, lentamente aproximando sua mão.

— Garrik? O que você vai fazer? — perguntou Hayakaz.

— Ele parece estar chamando o meu nome… Mesmo parecendo uma ideia muito idiota, eu quero muito
encostar nele…

Garrik então encostou no cristal. Seus olhos se arregalaram, logo ele se viu em uma enorme floresta,
cercado por pessoas encapuzadas.

— O que? — Garrik deu um passo para trás.

— Renda-se, aberração! — disse um dos encapuzados.

— Aberra… ção? Aberração?! — A aura de Garrik começou a transbordar. — Eu sou a aberração?!

— Preparem-se para atacar. — Os encapuzados começaram a se aproximar.

Ao ver que eles se aproximavam, Garrik liberou toda a sua aura, criando enormes tentáculos de água que
atacaram os encapuzados. Alguns foram prensados contra árvores, revelando seus cabelos loiros e orelhas
pontudas, outros perfurados, cortados, mas no final, o último elfo de pé era Garrik.

— Sua aberração… Você será amaldiçoado por toda a raça élfica… Você é o maior erro da nossa mãe, seu
monstro… — disse o último encapuzado, antes de morrer.

Quando Garrik voltou a si, arregalou os olhos, colocou as mão na cabeça e caiu de joelhos.

— Não… — Garrik socou o chão. — Eu fiz de novo… Por que isso tem que acontecer de novo?! POR
QUE?!

“Garrik…” Uma voz ecoou na cabeça de Garrik.

— Quem disse isso?! — gritou Garrik, olhando ao redor.

“Aquilo foi sua culpa?”

— Do que você tá falando?

“Aquilo foi sua culpa?”

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— Cale-se! Me deixe em paz!

“Aquilo foi sua culpa?”

— CALE-SE!!! — Garrik golpeou o chão novamente, dessa vez criando uma cratera.

“Você também não está pronto, Garrik.” Quando a voz terminou de falar, a escuridão novamente se desfez,
voltando para a biblioteca.

— Garrik? Se ta vivo? — perguntou Hayakaz, colocando o corpo de Garrik do lado de Hexoth, que ainda
estava se recuperando.

— Estou bem. Não preciso da sua preocupação, bola de pelos.

— Calma ai cara, só to tentando ajudar, orelhudo. Enfim, o que você viu quando tocou o cristal?

— Algo que eu queria esquecer, mas não é da sua conta.

— Vocês vão continuar gritando? Isso enche o saco! — Hexoth se levantou, já recuperado.

— Você já tá melhor, Hexoth?

— Sim, sim. Fique tranquilo, foi apenas um pequeno choque emocional.

— Uff… bom, eu diria que entendo você, mas não entendo, porque o cristal parou de brilhar e não
funcionou mais.

— Como assim? — perguntou Hexoth.

— Olha ali. — Hayakaz apontou para o cristal, já sem cor.

— Isso é bem estr… — Antes que Garrik pudesse terminar de falar, um enorme estrondo foi soado de trás da
biblioteca.

Para encurtar caminho, Hexoth destruiu a parede, e ao chegarem no local do estrondo, os três viram
diversos guardas ao redor do enorme lobo que eles haviam visto antes, alguns mortos no chão, tentando o puxar
com enormes correntes brilhantes para um portal.

— O que vocês estão fazendo, malditos?! — gritou Garrik, armando seu arco.

Após verem os três, alguns guardas foram em direção dos três.

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— Saiam daqui, é perigoso, estamos tentando conter esse lobo demo… — Garrik disparou na cabeça do
guarda que falava.

— Se quiserem levar ele… vão ter que passar por mim.

— Eles atacaram um de nós, eles são inimigos, ao ata… — Antes que o guarda pudesse terminar, uma
lâmina de luz roxa saiu do portal, quase acertando Garrik.

Após isso, um homem saiu do portal, um homem de pele clara, cabelos e olhos azuis e uma espada enorme,
tão grande que se assemelhava a um martelo, com uma esfera roxa em sua guarda.

— Olha só, você desviou do meu Corte Luminoso, surpreendente. — O homem se aproximou do lobo, mas
olhando para Garrik.

— Aquele Corte Luminoso gerou um fantasma de lâmina. Esse cara deve ter uma quantidade incrível de
mana para fazer isso — disse Garrik.

— Oh! Você parece entender bastante sobre magias de lâminas, Elfo. Quem seria você?

— Por quê eu diria quem sou para um humano imundo como você?

— Essa doeu! Enfim, não tenho tempo a perder com vocês. — O homem foi em direção ao portal.

— Quem disse que você podia sair desse local? — falou Garrik, atirando uma flecha na direção do humano,
que a destruiu com um único golpe.

— Eu disse que não tenho tempo a perder com vocês — disse o homem, entrando no portal e levando o lobo
demoníaco.

Quando o portal se fechou, Garrik caiu de joelhos, dando socos no chão.

— DROGA!

Após falar isso, Garrik se levantou e andou na direção da floresta.

— Garrik, espe… — disse Hayakaz, antes de ser interrompido.

— Deixa ele, Hayakaz. Eu também não sei o que aconteceu com ele, mas ele precisa esfriar a cabeça. —
Hexoth colocou o braço na frente do amigo.

No meio da floresta, Garrik socou uma árvore.

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— Porcaria! Eu não consegui proteger vocês, igual da outra vez.

Alguns segundos depois, uma mulher surgiu, era uma mulher de aparência jovem, mas com cabelos longos
e brancos, como o manto que usava, olhos dourados e uma enorme tatuagem de um dragão em seu pescoço. Sua
presença era esmagadora, Garrik mal conseguia se manter de pé.

— Parece que eu cheguei tarde demais — disse a mulher.

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Capítulo 5: Acordo Demoníaco.

A pressão que a mulher emanava logo se dissipou, permitindo que Garrik recuperasse totalmente seu

equilíbrio.

— Quem é você? — perguntou Garrik.

— Droga! Por que aquele idiota sempre faz a primeira coisa que da na telha? — A mulher colocou a mão na
cabeça em decepção. — Se eu tivesse sido mais rápida…

— Me responda! Quem é você? Como você tem uma pressão tão esmagadora?

— Ah… Então você perdeu mesmo a memória… Enfim, eu não vou responder nenhuma das suas perguntas
agora. Quando for a hora, eu vou atrás de você. Até lá, não se mate, Garrik!

— Como sabe o meu nome? Me responda de uma vez! — Garrik disparou contra a mulher, que com apenas
uma mão destruiu a flecha.

— Eu já te disse… agora não! — A mulher deu as costas à Garrik, que finalmente reparou na enorme
tatuagem de dragão em seu pescoço

— Essa marca! Argh! Minha cabeça… — Garrik caiu de joelhos, com as mãos na cabeça.

— Não se esforce demais, você ainda não se recuperou totalmente. De qualquer forma, em breve vamos nos
reencontrar, Garrik.

A mulher foi em direção a floresta e desapareceu da visão de Garrik. Hayakaz e Hexoth apareceram logo
em seguida.

— Você tá bem? A gente escutou você gritando. — Hayakaz se abaixou e estendeu a mão.

— Desde quando você se preocupa comigo, bola de pelos?

— Calma, Garrik, só viemos ajudar — falou Hexoth.

— Cale-se! Não preciso da sua ajuda! Vamos voltar de uma vez.

— Cara, as vezes você é muito chato mesmo! Você não se cansa de ser um babaca?

— E você não se cansa de ser tão irritante?

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— Parou! Deu dessa merda. Calem a boca e vamos pro castelo. Não aguento mais ouvir as discussões de
vocês! — Hexoth separou os dois.

Após isso, os três seguiram para o local da fenda, e pularam para dentro dela assim que ela se abriu. No
castelo, Dartanham estava os esperando com um banquete.

— Que bom que os senhores voltaram tão cedo, a comida acabou de ficar pronta. Sentem-se, por favor.

— Eu passo. Vou descansar. Não aguento mais olhar pra cara do Garrik — falou Hayakaz, indo em direção
ao seu quarto.

— Certo… irei pedir que levem o almoço para os seus aposentos, meu lorde. Enquanto isso… eu poderia ter
uma palavra com os senhores, lorde Hexoth e lorde Garrik?

— Claro! Algo aconteceu? — perguntou Hexoth.

— Eu que deveria perguntar isso, meu lorde. A aura dos senhores está liberando uma mana muito desregular.
É como se os senhores estivessem fora do controle! O que aconteceu naquela biblioteca, meus lordes?

— Desregular? Estranho… será que tem algo a haver com aquele cristal, Garrik?

— Muito provavelmente, Hexoth. Mas eu não sei o que ele fez conosco.

— Desculpem, mas… cristal? — perguntou Dartanham.

— Ah… sim. A gente encontrou um cristal na biblioteca, ele era meio alaranjado, e tinha uma energia
estranha saindo dele. Eu tive algumas alucinações quando encostei nele. — Hexoth abaixou a cabeça.

— Eu também tive uma alucinação ao tocar ele… mas prefiro não falar sobre isso… Somente Hayakaz não
tocou o cristal

— Hmmm… Entendo… Eu creio que esse cristal deve ter interferido na mana dentro de seus corpos, mas
por qual motivo o senhor Hayakaz também estava emanando esta mana desregular? Bom… O mais importante é
pensarmos em um jeito de resolvermos isso. Vou chamar o senhor Hayakaz, talvez ele consiga nos ajudar — disse
Dartanham, indo na direção do quarto de Hayakaz.

Após alguns minutos, os quatro estavam novamente reunidos na mesa. Para quebrar o silêncio, Dartanham
disse:

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— Certo, os senhores disseram que tocaram em um cristal durante a investigação da biblioteca e tiveram
alucinações devido a isso. Eu inicialmente acreditava que este cristal tinha alterado as manas nos corpos dos
senhores, mas o senhor Hayakaz não tocou o cristal…

— Então…? — perguntou Hayakaz.

— O que alterou nossas manas? — Hexoth completou.

— Certo… Posso fazer um teste com o senhor, senhor Hexoth?

— Hm? Certo? — Hexoth se levantou da cadeira e foi até Dartanham, que também foi na direção de Hexoth.

Ao ficar em frente a Hexoth, Dartanham estendeu sua mão na direção de Hexoth e então uma esfera de
energia surgiu em sua mão. Ela se mexia de maneira anormal, como se não conseguisse se manter, e logo começou
a reduzir de tamanho e ir na direção do peito de Hexoth. — Me empreste seus olhos… Clarividência! — Ao tocar
o peito de Hexoth, os olhos de Dartanham ficaram totalmente brancos, mas em sua visão tudo estava escuro, com
uma enorme chama roxa no centro de tudo. Ela se mexia descontroladamente, como se fosse um incêndio, e
crescia sem parar.

“Então era isso!”, pensou Dartanham. “Como chegou a um estágio tão avançado?”.

As chamas então consumiram Dartanham, que despertou no mundo real.

— Argh! — Dartanham perdeu o equilíbrio e acabou caindo no chão.

— Você tá bem? O que aconteceu? — Hexoth estendeu a mão para levantar Dartanham.

— Eu estou bem, meus lordes, mas os senhores estão com um sério problema!

— O que quer dizer com isto? O que você viu com a Clarividência? — falou Garrik.

— Meus lordes, parece que alguém plantou uma chama santificada dentro dos senhores.

— Chama santificada? Só pelo nome já parece algo ruim! O que é isso? — perguntou Hayakaz.

— Isto se trata de uma chama sagrada, criada para matar demônios. Quando usada diretamente, pode
facilmente matar um demônio de baixo escalão, mas quando plantada diretamente no núcleo de mana, pode matar
até mesmo um Pecado Capital, mas é quase impossível plantar uma dessas em um demônio forte sem que ele
perceba. No estágio em que ela se encontra, não entendo como os senhores ainda conseguem se mover.

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— Espera, alguém plantou um fogo da igreja na gente e esse negócio vai matar a gente se não fizermos
algo?! Como isso foi parar dentro da gente?!

— As únicas opções que eu consigo pensar são: Durante a luta com o mago Azazel, ele plantou as chamas
em vocês; ou durante o momento do despertar alguém interferiu e plantou as chamas sagradas.

— Ta! Como a gente tira isso? Existe um jeito de tirar essa coisa, não é?

— Existe uma maneira, mas não é nada boa…

— Como assim? — falou Hexoth.

— Há um ritual que podemos fazer, mas eu não tenho conhecimento sobre como realizá-lo, fora os efeitos
colaterais…

— Pare de enrolar. Fale de uma vez quais são todos os problemas! — gritou Garrik, o que fez Dartanham
hesitar por um segundo.

— Certo… Ao realizar este ritual, os efeitos de demonização serão acelerados, além de que a única pessoa
que consegue realizar este ritual é o Pecado da Ira.

Após ouvirem isso, Hexoth e Garrik arregalaram os olhos. Vendo a situação, Hayakaz perguntou:

— Demonização?

— A demonização é um efeito colateral do ritual que nos deu sangue de demônio, ela vai nos tornando cada
vez mais parecidos, fisicamente, com os demônios em si, mas vai apagando a nossa sanidade. Existem casos raros
em que a demonização acontece mas não se tem a perda de sanidade, como o senhor Asmodeus. Você não se
lembra disso? — falou Hexoth.

— Não. Não faço ideia do que seja isso.

— Bom. Para realizar este ritual, precisamos dos conhecimentos do Pecado da Ira, mas não temos a locali…

— Não precisam disso! — De repente, uma enorme pressão caiu sobre os quatro, e em menos de um
segundo, uma enorme fenda se abriu em frente à porta. Dela saiu uma mulher, com uma tatuagem de dragão
totalmente à mostra.

“Esses cabelos brancos e essa tatuagem… poderia ser…”, pensou Dartanham.

— Você! — disse Garrik.

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— Quanto tempo, Garrik! Soube que vocês precisam de mim — respondeu ela.

— Então… você deve ser a Ira, estou certo?

— Está correto. Eu sou Sanarion, o Pecado da Ira!

— Então eu estava certo, você era mesmo a Ira — disse Garrik.

— Hm? O senhor já havia se encontrado com a senhorita Sanarion, meu lorde?

— Eu a encontrei na floresta quando fomos investigar a biblioteca…

— Enfim! Eu preciso da ajuda de vocês, por isso tenho uma proposta. — Sanarion se sentou em uma das
cadeiras. — Eu posso fazer o ritual de fluxo de mana, mas preciso que vocês façam um favor para mim.

— Que favor seria esse? — perguntou Hexoth.

— Meu irmão, Hendebrant, foi levado para uma prisão em Earthbring e eu não consigo tirar ele de lá
sozinha. Vocês vão me ajudar.

— Seu irmão seria o Pecado da Gula, não é? — perguntou Hayakaz.

— Vejo que vocês estão bem informados.

— Mas como eles prenderam um dos Pecados Capitais?

— Se lembram daquele lobo gigante que vocês encontraram na floresta?

— Não me diga que…

— Sim, ele era o Hendebrant. De alguma forma, aquele idiota conseguiu ser preso por humanos e foi para
em uma prisão de segurança maxima em Earthbring.

— Então você quer a nossa ajuda para libertá-lo, e em troca você realizará o ritual de fluxo de mana? —
Garrik coçou o queixo.

— Exatamente. Como esperado de você, Garrik.

— Além de nos libertarmos dessa chama santificada, vamos conseguir o Pecado da Gula… São dois coelhos
com uma cajadada só.

— Espera! O Dartanham disse que esse ritual acelera os efeitos da demonização! Aceleraria em quanto? —
Hayakaz bateu na mesa.

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— Isso é verdade. Com esse ritual, talvez vocês percam a sanidade mais cedo que o natural… mas esse é o
único jeito de desfazer a chama santificada.

— Me responda! Aceleraria em quanto tempo.

—…

— Fale de uma vez!

— Quatro mil anos…

Ao ouvirem isso, os três lordes arregalaram os olhos, isso era mais que dez vezes o tempo de vida de cada
um deles.

— Dartanham… o Hexoth disse que existem casos onde a sanidade não é perdida… Isso é verdade?

— Sim, meu lorde, o Grande Asmodeus não perdeu sua sanidade.

— Então nós também podemos não perder a sanidade depois de um tempo. Eu vou crer nisso! Eu aceito sua
proposta, Sanarion! — Hayakaz se levantou e estendeu a mão para Sanarion.

— Eu também creio que não vou enlouquecer por causa disso, não vou cair tão fácil. Eu aceito sua proposta,
Sanarion! — Hexoth também se levantou e foi na direção de Sanarion.

Ao chegarem ao lado de Sanarion, Hexoth e Hayakaz olharam para Garrik em busca de aprovação.

— Argh! Eu aceito seu acordo, Sanarion! — disse Garrik.

— Esse é o Garrik que eu conheço. Certo, vou cumprir a minha parte do acordo. Me sigam!

Sanarion os levou para o pátio do castelo, onde começou a desenhar um enorme pentagrama, feito de
símbolos de magia, organizado por jóias em suas pontas.

— Vão para o centro. — Sanarion fez um pequeno corte em sua mão, para escorrer sangue de sua mão,
sangue esse que ela colocou em cada jóia do pentagrama. — Estão prontos?

— Vamo nessa — disse Hayakaz.

— Claro — falou Hexoth.

— Se der errado, irei te fazer em pedaços — Garrik fechou os olhos.

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Após alguns segundos, o pentagrama começou a brilhar em azul, o vento começou a girar mais rápido ao
redor deles. — Oh! Amado deus das trevas e do caos… traga o poder de seus eternos exércitos a este ser…
Grandioso Senhor da Destruição… gire a chave do destino para este corpo… Lendário Cavaleiro da Morte…
levante sua espada em nome desta alma… Despertar de Mana! — Ao terminar de recitar o feitiço, faíscas
começaram a sair das pontas do pentagrama, onde as jóias brilhavam emanando energia. Após um minuto, o vento
cessou e a luz das jóias se apagou.

— Então… é isso? — Hayakaz analisou seus membros. — Não me sinto diferente.

— Meus lordes, a mana dos senhores está muito mais estável, nem parece a mesma mana de antes — falou
Dartanham.

— Pois realmente não é! — corrigiu Sanarion.

— O que quer dizer, senhorita Sanarion?

— Esse ritual libera todo o fluxo de mana do usuário, ou seja, ele libera o potencial de quem o usar. Eles
estão com cerca do dobro da força anterior. Com a mana circulando mais efetivamente pelo corpo, ela mesma
apagou as chamas sagradas plantadas nos senhores.

— Desculpa, o dobro da força?! Isso é um aumento absurdo — Hayakaz quase caiu para trás.

— Sim, Hayakaz. Você realmente não notou a diferença? Eu até me sinto mais jovem — disse Hexoth.

— Não! Pra mim, tudo parece igual.

— Você é mesmo lerdo, heim.

— Mas lembrem-se de uma coisa: esse ritual acelera os efeitos da demonização. Pode ser que vocês percam
a sanidade…

— Fique tranquila. Não é como se nós fossemos cair tão fácil. — Hexoth abriu um sorriso.

— Se você diz… Enfim, eu cumpri a minha parte do acordo, agora é a vez de vocês cumprirem a parte de
vocês!

— Espere, senhorita Sanarion! Eu lhe peço alguns dias, assim eu poderei treiná-los para que se acostumem
com as mudanças corporais. Podem surgir problemas caso eles liberem essa mana sem nenhum controle

— Ele está certo. Meu corpo ficou muito leve, é difícil controlar. — Hexoth socou o ar.

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— Acontece que não temos muito tempo, já devem ter descoberto que ele não é apenas uma besta como
outra qualquer, por mais que às vezes ele pareça. Provavelmente irão decretar uma execução.

— Antes de tudo, me responda: Por que ele mesmo não se liberta? Ele é um dos Sete Pecados! — perguntou
Garrik.

— Eu também não entendo… Talvez algum feitiço, ou restrição de mana… o fato é que ele não consegue
sair sozinho. Enfim, eu não tenho tempo pra esperar!

— Apenas três dias, senhorita — Dartanham se curvou.

Sanarion arregalou os olhos em surpresa, então disse:

— Argh, seu… Ta! Três dias!

— Oh! Agradeço profundamente, senhorita Sanarion.

— Certo, mas por precaução… — Sanarion se afastou um pouco dos quatro e estendeu suas mãos na direção
deles e disse: — La Serpiente!

Após o feitiço ser recitado, um brilho verde surgiu em frente a Sanarion, diversos pedaços de papel
começaram a cair do céu e aos poucos foram formando uma enorme cobra.

— Isso seria… — disse Dartanham, antes de ser interrompido.

— Sim. Esse é um dos meus Shikigamis, La Serpiente. Vou deixá-lo aqui, você é bem traiçoeiro quando
quer, Dartanham!

— Você duvida da minha palavra, Sanarion? — Garrik liberou sua pressão.

— Vocês perderam suas memórias, também são imprevisíveis, mas se vão mesmo cumprir, então não tem
problema eu deixar a La Serpiente aqui, não é?

— Sua… — disse Garrik, antes de ser interrompido.

— Acalme-se, Garrik. Ela está certa, não há problema em deixar esse Shikigami aqui — disse Hexoth.

— Bom, está tudo resolvido, vou indo, tenho outros assuntos a tratar.

— Lhe desejo uma boa viagem, senhorita Sanarion. — Dartanham se curvou novamente.

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Após Sanarion sumir em um portal, Dartanham se virou para os três lordes e disse: — Meus lordes,
devemos começar?

De repente, os três se viram em uma enorme planície de grama, era como se estivessem no meio do nada.

— Mas o q… — Hayakaz tentou falar, mas uma enorme pressão caiu sobre os três.

Ao olharem para a origem da pressão, viram uma enorme névoa negra saindo da sola dos pés de Dartanham,
que estava em sua forma demonizada: com seus chifres ainda maiores, pele e asas totalmente vermelhas e uma
roupa totalmente feita de sombras.

— Vocês estão prontos, meus senhores?

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Capítulo 6: Fome de Zelo.

Após o prazo de três dias, um portal se abriu em frente ao castelo dos lordes e dele saiu Sanarion.
— Certo. Onde eles estão? — disse Sanarion, olhando ao seu redor.

Após alguns segundos, um enorme portal se abriu em frente a ela. Quando os três lordes saíram do portal,
os olhos de Sanarion se arregalaram, além de estarem cheios de cicatrizes, a mana emanada de seus corpos era
absurda, como se fossem pessoas totalmente diferentes.

— Estamos prontos, Sanarion. — disse Hexoth.

— Espera! O que foi que vocês fizeram? A mana de vocês está totalmente diferente.

— Digamos que… aquele cara é realmente assustador — disse Hayakaz, olhando para Dartanham.

Após ouvir isso, Sanarion ficou quieta por um segundo, mas logo disse: — Bom… vistam isso. Vão
precisar. — Sanarion jogou pedaços de roupas para os três.

— Armaduras de guarda? — perguntou Hayakaz.

— Não entraremos destruindo tudo, vamos nos infiltrar e tirá-lo de dentro para fora.

— Partiu então — disse Hayakaz, indo em direção ao castelo, com os outros dois, para se trocar.

— O que você fez com eles? — disse Sanarion, olhando para Dartanham com um olhar ameaçador.

— Como eu disse três dias atrás, apenas três dias já seriam o suficiente. Eles possuem um potencial
devastador.

— Não tente me enganar, Dartanham. Eu conheço você e sei do que é capaz. Você não fez “apenas um
treino” com eles.

— Será? Você vai descobrir o que eu fiz, mas só quando for necessário… — disse Dartanham, voltando para
o castelo.

Após alguns minutos, os três lordes voltaram até onde Sanarion estava.

— Supere os limites do espaço, distorcendo a realidade ao meu redor, e realize meu desejo de conhecer todo
o mundo, Fenda Espacial! — disse Sanarion, ao abrir um portal. — Vamos logo.

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Os quatro então entraram no portal, e, do outro lado, se depararam com uma enorme fortaleza de tijolos
pretos com runas desenhadas.

— Uou! É maior do que eu esperava — disse Hayakaz.

— Estamos em frente à prisão mais segura de todos os quatro reinos. Esses tijolos são pedras da negação,
eles anulam a mana, impedindo o uso de magia.

— Espera. Esses tijolos anulam o uso de mana? Então como a gente vai tirar ele daí?

— Vou explicar depois, tem um guarda vindo. Eu resolvo.

Quando o guarda chegou perto, ele olhou os três, os analisando, e então disse: — Esses são os novatos,
senhorita?

— Exatamente. São aqueles que eu mencionei três dias atrás.

— A senhorita vai levá-los para o tour? Tivemos alguns problemas com o prisioneiro 235, não prefere que
eu os leve para esse tour?

— Não será necessário, já fui informada desses problemas, vou resolver após o tour. Segure as pontas.

— A senhorita tem certeza? Não seria melhor se…

— Está duvidando de mim, soldado? — Sanarion liberou um pouco de sua pressão de mana, fazendo o
guarda arregalar os olhos.

— D-De forma a-alguma, senhorita. A senhorita tem toda a razão. Vou voltar para a minha posição —
respondeu o guarda, dando meia volta enquanto tremia.

Após entrarem na prisão os três se depararam com diversas paredes feitas de pedras da anulação, era quase
um castelo inteiramente roxo e estonteante.

Ao andarem até uma área vazia, Hayakaz perguntou: — O que foi isso? Você trabalha na prisão? Hahaha!

— Pode parar de rir. Eu fiz um ritual de disfarce e troquei de lugar com outra guarda que trabalhava aqui em
uma posição alta — respondeu Sanarion.

— Mas essas pedras não absorvem mana? Como o disfarce continuou?

— Eu estou constantemente alimentando o ritual, pois se ele tiver mais mana do que as pedras podem
absorver, ele não será desfeito, porém, isso é bem cansativo — disse Sanarion olhando um mapa da prisão. Após

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olhar o mapa por dois minutos, ela disse: — Certo, parece que o Hendebrant está em algum lugar do subsolo. Eu
só estou aqui a três dias, então não sei todos os caminhos, se tivermos que correr com ele, vamos ter problemas.

— Então a melhor ideia seria fazer todo o processo em silêncio? — disse Garrik.

— Correto. Vamos indo. — Sanarion seguiu andando na frente dele.

Quando eles se afastaram da área vazia, uma pessoa se revelou, seu corpo estava totalmente coberto por um
manto marrom, suas mãos e pés por uma roupa metálica e em seu rosto havia uma máscara preta metálica com
chifres.

Ao chegarem na escada para o subsolo, Sanarion parou e disse: — Preparem-se. A partir daqui, não sei o
que podemos encontrar. Estejam prontos para qualquer coisa.

— Eu to sempre pronto! — disse Hayakaz, com um sorriso

— Não vamos cair tão fácil, Sanarion — disse Hexoth, estalando as mãos.

— Tsc, vocês são dois idiotas. Não esqueçam que nossa mana está restrita nessa prisão — disse Garrik,
arrumando a gola da sua roupa de guarda.

— Você até diz isso, mas você parece bem mais animado do que de costume — Hexoth deu tapinhas nas
costas de Garrik.

— Cale-se, Orc maníaco!

— Nós dois somos demônios e só eu sou o maníaco?

— Não me compare com vocês dois, seu maníaco por lutas.

— Não me mete nessa, elfo pescotapa — disse Hayakaz.

— Hahaha, realmente vocês três parecem preparados — disse Sanarion, não conseguindo conter o riso. —
Certo, vamos!

Conforme eles iam descendo, o lugar ia ficando cada vez mais cheio de canos, como se fosse uma enorme
máquina, e após descerem toda a escada, eles se depararam com diversas celas com engrenagens ao invés de
trancas de chave.

— Certo, vamos nos separar. Quando um de nós o achar, dá um grito — falou Hayakaz.

— Certo! — falaram Garrik e Hexoth, logo indo para caminhos diferentes.

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Após andar e checar diversas celas, se assustando algumas vezes, Garrik reparou em uma cela com uma
engrenagem dourada, diferente das outras que eram marrons.

— Não pode ser… — disse ele, enquanto se aproximava da cela, antes de ouvir alguém se aproximando e ter
que se esconder.

— Veja: Esses são os frutos do seu investimento, meu senhor — disse um homem de pele clara, cabelos e
olhos azuis, que ia na direção da cela dourada acompanhado por um homem encapuzado com uma máscara preta
com chifres, que apenas se aproximou da cela, invés de responder. — Logo logo vamos isso vai estar funcionando
a todo o vapor, vamos ter tanta energia que até mesmo a igreja vai se curvar. Hahahahaha!

— Você fala demais, para alguém que tem um plano tão arriscado nas mãos, Flanel — respondeu o
encapuzado, com uma voz rouca e robotizada.

— Desculpa, acho que você está aqui para ver o progresso do Coração Angelical. Ele tem funcionado muito
bem até agora, inclusive, foi graças a ele que eu pude capturar essa belezinha aqui. — Flanel deu um tapinha na
cela dourada. — Se não fosse pelo Coração Angelical, eu acho que eu teria morrido por causa desse maldito aqui.
Alias, ja ta na hora da manutenção.

Flanel então abriu a cela, revelando um enorme mecanismo de canos que iam até um homem preso por
pedras da negação. Seus cabelos eram brancos, seu corpo era musculoso e tinha uma enorme tatuagem de javali
em seu peito. Flanel então começou a mexer em alguns canos, sugando uma espécie de eletricidade do corpo do
homem, o fazendo gritar.

— Então você tava acordado, que pena. Não ia sentir dor se tivesse dormindo. — Flanel girou uma
engrenagem, fazendo o homem gritar ainda mais.

— Seu maldito! Quando eu sair daqui, eu vou te fazer em pedaços! — disse o homem.

— Se você pode falar, então não devo ter pego energia suficiente. — Flanel riu, apertando mais ainda a
engrenagem.

— Não vou ficar vendo esta infantilidade, eu tenho outros assuntos a tratar — disse o encapuzado, indo
embora.

Após ver Flanel torturando o homem, diversas memórias sobre o sonho criado pelo cristal vieram à mente
de Garrik, que olhou para sua mão tentando criar seu arco, mas tendo sua magia absorvida.

— Não… Eu não vou deixar! — gritou Garrik, invocando seu arco.

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— Quem disse isso?! — gritou Flanel, saindo da cela e a fechando.

— Despertem e cacem… Disparadores Tubarão. — Após recitar o feitiço, o arco de Garrik se desfez em
água e logo voltou na forma de duas pistolas com aparência de tubarão, que Garrik usou para disparar na direção
de Flanel.

— Como você pode usar magia aqui? Espera, como você chegou aqui? Não! Quem é você?! — disse Flanel,
desviando dos tiros feitos de água, que amassaram o metal da cela ao atingirem.

— Pare de falar e lute — respondeu Garrik, disparando outra série de tiros, que dessa vez foram rápidos o
suficiente e acertaram Flanel, o arremessando para longe.

— Argh! Droga! Vou ter que lutar aqui. — Flanel estendeu a mão para o lado e então uma enorme espada
surgiu, ela era ornamentada em ouro e bronze com uma enorme esfera roxa em sua guarda. — Corte Luminoso!

Uma enorme lâmina de energia foi na direção de Garrik, que apenas pulou para o lado deixando ela passar e
destruir outras celas.

— Você é deplorável. Não entendo como conseguiu capturar Hendebrant. — Garrik disparou outra série de
tiros, os quais Flanel conseguiu esquivar.

— Então é por isso que você está aqui! Hahaha, como eu não pensei nisso?

— Isso não importa. Você não vai sobreviver para se aproveitar disso.

— Tsc, essa sua arrogância está me irritando… — Então, em um piscar de olhos, Flanel desapareceu e
reapareceu na frente de Garrik que instintivamente pulou para trás, evitando um golpe de espada

“O que? Isso foi velocidade?”, pensou Garrik, quase sendo acertado por outro golpe de Flanel, que surgiu na
sua frente.

— Você é bem ligado, heim? — falou Flanel, olhando para Garrik, que estava arfando. — Mas isso deve
deixar você bem cansado, afinal, estou me movendo mais de dez vezes mais rápido que você.

— Maldito…

— Aliás, dá pra me responder? Eu ainda quero saber como você pode usar magia aqui, era pras runas
sugarem toda magia que não fosse a minha.

— Não preciso responder a alguém que age de maneira tão desleixada, você não iria entender minha
explicação.

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— Argh. Eu já te disse pra deixar de ser arrogante. Você só fica chato assim, e eu acho que descobri seu
truque, você tá usando mais mana do que as pedras podem sugar, não é?

—…

— Hmph. Ao menos responda, maldito — disse Flanel, desaparecendo novamente.

Ao ver Flanel desaparecer, Garrik olhou ao seu redor procurando-o, quando de repente recebeu um corte nas
costas, o fazendo cair no chão e soltar suas pistolas.

— Eu esperava mais de você, já que chegou até aqui. Mas parece que você não é grande coisa.

— Você fala demais, assim vai deixar sua guarda baixa…

— O que? — De repente, uma das pistolas de Garrik disparou sozinha, acertando o rosto de Flanel e o
empurrando para trás enquanto gemia de dor.

— Você confia demais na sua força… e isso ainda irá te matar.

— Argh! Seu merda! Eu vou te encher de porrada! — disse Flanel, antes de receber um tiro da outra pistola
de Garrik. — Argh!

— Eu avisei. — Garrik estendeu sua mão na direção de cada pistola e rapidamente elas voltaram para suas
mãos.

— Vamos terminar is… — Antes que Garrik pudesse terminar de falar, uma enorme cortina de fumaça
surgiu entre ele e Flanel, e então ele ouviu uma voz: — Esconda tudo em sombras… El Ratón! — e logo após isso,
Hexoth e Hayakaz surgiram e agarraram Garrik, o afastando do lugar.

— O que vocês pensam que estão fazendo, seus malditos, eu vou matá-lo.

— Cala boca, Garrik, a gente sabe o que tá fazendo — respondeu Hayakaz.

— Por aqui! — gritou Sanarion, apontando para um enorme buraco na parede de runas.

Após saírem e se afastarem da prisão, os três pararam em uma floresta, onde os dois lordes soltaram Garrik,
que sacou suas pistolas e as mirou em Hexoth e Hayakaz.

— O que vocês, energúmenos, acham que estão fazendo?! Eu ia matá-lo e então vocês resolveram impedir?
De que lado estão?

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— Eu que pergunto, Garrik, de que lado você está? Você colocou todo o plano a perder e ainda revelou
nossos objetivos para o inimigo! — disse Sanarion, liberando sua pressão. — O plano era tirar ele de lá
secretamente e o que você fez? Você atacou o inimigo mais forte da prisão inteira na primeira oportunidade!

— Eu ia vencer e tudo estaria acabado!

— Não… Garrik. Você não ia… — disse Hexoth.

— Do que você está falando? Eu tinha ele na palma da mão.

— Você não entendeu? Ele disse que as runas não sugam a mana dele, mas não é assim. Ele é um monstro,
tem tanta mana que as runas não dão conta de segurá-lo — respondeu Sanarion

— O que?! Que merda você tá falando?!

— Pensa por um segundo. Ele conseguiu vencer o pecado da Gula. Você acha que ele era apenas aquilo? Me
diz em que momento da luta você analisou o potencial mágico dele? — falou Hayakaz

—…

— Pra vencer algo daquele nível, vamos ter que lutar juntos, todos juntos!

— Calem-se! Vocês não viram o que eu vi. Eu tenho que…

— Quem disse? — perguntou Sanarion. — Você acha que eu não vi o meu irmão preso naquela cela quando
fui ajudar você? Você acha que eu não quero matar ele por ter feito isso? Logo eu, o pecado da Ira?! Me responde,
Garrik!

— Eu… não quis…

— Bota na sua cabeça que você não é o único que quer se vingar aqui, eu também quero matar aquele cara,
mas eu não podia causar um alvoroço antes de achar o Hendebrant, fora que a força dele é descomunal, é como se
ele tivesse muitos núcleos de mana.

Garrik então abaixou suas pistolas, que logo se desfizeram em água comum.

— Qual o plano, agora que estamos nesta situação?

— Nós vamos com tudo! — respondeu Sanarion, fazendo Garrik arregalar os olhos.

— Mas você não disse que não era para causarmos alvoroço?

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— E você ouviu? Além de que agora sabemos onde está o Hendebrant, então podemos fazer um ataque
direto.

— Mas aquelas runas absorvem mana, como vamos lutar?

— Hahaha, isso vai ser divertido… — Sanarion olhou para a prisão com um olhar assustador.

— Deixa que eu explico, Garrik — disse Hexoth. — Aquelas runas podem absorver infinitamente a mana, já
que elas dissipam ela, mas elas tem um limite de quanta mana pode absorver de uma vez, e elas não são mais
resistentes que tijolos de pedra.

— Foi assim que fizeram aquele buraco na buraco na parede?

— Exatamente.

— Mas o que, exatamente, ela pretende fazer?

— Você vai ver. Ela tem um poder incrível. — Hayakaz interrompeu.

Logo após isso, Sanarion foi até um dos extremos da floresta, de frente para a prisão, e então começou a
dizer: — Curvem-se perante o grande rei, o senhor de todos os espíritos, aquele que reina por todo o céu e por tudo
o que ele toca. Destrua tudo em seu caminho e mostre a verdadeira ira… El Dragón! — Após dizer isso, nuvens
de tempestade surgiram no céu tampando qualquer visão do sol, um estrondoso rugido pode ser ouvido, e então
uma enorme fonte de luz surgiu se enrolando nas nuvens. Seu corpo tinha quase o dobro do tamanho da prisão,
suas escamas brilhavam como o sol, seus dentes eram quase do tamanho de um humano. Um Dragão enorme
surgiu em cima da prisão.

— Obliterar! — disse Sanarion, e logo após isso o enorme dragão abriu sua boca ainda mais, gerando uma
enorme esfera de energia, e a disparou na direção da prisão, criando uma enorme explosão em forma de cogumelo
que apagou toda a parte de cima da prisão, deixando apenas seu subsolo, o qual não havia sobrado mais que a
metade. — Vamos, temos um trabalho a fazer — completou Sanarion, indo na direção das ruínas da prisão.

Após andarem um pouco, eles chegaram na enorme cratera e rapidamente visualizaram a cela de
Hendebrant, que estava conectada a diversos canos, tanto no solo quanto para cima.

— Vamos! — Sanarion desceu escorregando pelas paredes da cratera e foi correndo na direção da cela. —
Droga! Não consigo abrir. — continuou ela, chutando a tranca da cela.

— Olha, eu acho que não é assim que a tranca funciona… — disse Hexoth.

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— Me da sua katana!

— Oi?

— Só me entrega ela. Agora!

— Olha, eu acho que… — disse Hexoth, segurando sua katana, antes de ela ser tomada de suas mãos.

— Abre… logo… droga. — Sanarion começou a bater na tranca com a lâmina da katana.

— Para! — Hexoth pegou sua Katana de volta.

— Seus… SEUS MERDAS! — gritou alguém, nos escombros ao longe.

De repente, uma enorme sede de sangue surgiu e Flanel saiu de um monte de escombros.

— Seus desgraçados! Olha a merda que vocês fizeram! Eu vou matar todos vocês!

Os três então olharam na direção de Flanel, a pressão podia ser sentida a uma distância enorme, até que
Hayakaz disse: — Continue tentando soltar o Hendebrant. Nós vamos cuidar desse cara…

— Você realmente tá confiante agora, não é? — falou Hexoth.

— Obvio! Olha essa mana… esse cara é um monstro.

— Parem de falar asneiras. Disparadores Tubarão! — Antes de Garrik terminar de falar, ele já havia
disparado na direção de Flanel, que desviou pulando para o lado.

Após o disparo, os outros lordes partiram em direção a Flanel e começaram a trocar golpes, mas foram
bloqueados pela espada gigante que Flanel carregava.

— Seus merdinhas, eu vou esmagar cada osso do corpo de vocês! — disse Flanel.

— 1… — disse Hayakaz, socando a espada de Flanel para o chão.

— 2… — continuou Hexoth, segurando a espada de Flanel no chão com sua katana.

— 3! — gritou Garrik, disparando uma barragem de tiros de água na direção de Flanel, que por ter sua
espada presa ao chão, não conseguiu desviar.

— Argh! — gemeu Flanel, ao ser arremessado pela barragem de tiros.

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— Eu disse que sua confiança seria a causa de sua morte… — disse Garrik, assoprando o cano de disparo de
suas pistolas.

Flanel então se levantou, empunhou sua espada e disse: — Morram! — e então desapareceu, surgindo atrás
de Hexoth e o chutando na direção de Hayakaz, para logo surgir atrás de Hayakaz e arremessar os dois contra um
monte de escombros.

“Aquela velocidade de novo!”, pensou Garrik, procurando Flanel ao seu redor, mas sendo arremessado
contra um monte de escombros por um gancho de direita.

— Confiança… falou a arrogância em pessoa. Vocês acham que podem me matar, mas não conseguem nem
acompanhar o Passo Angelical… patético.

— Beleza, mas o que a gente faz agora? — perguntou Hayakaz, levantando dos escombros. — A gente bate
nele até um de nós cair?

— Acho que dessa vez isso não vai funcionar — respondeu Hexoth. — Precisamos de uma estratégia.

— Me consigam tempo, eu sei o que devo fazer — disse Garrik.

— Agora sim. Se o Garrik diz, então é verdade! — disse Hexoth.

— Não bota tanta fé não, às vezes a gente se ferra por causa dele.

— Não lembro de nenhuma!

— Eu também não, mas deve ter uma.

— Vocês dois vão ficar batendo papo ou vão me conseguir tempo? — Garrik cortou a conversa.

— Ta! Ta! Vamos logo. — Hayakaz invocou suas manoplas e desceu dos escombros com Hexoth.

Após descerem dos escombros, os dois correram na direção de Flanel e começaram a tentar golpeá-lo, mas
todos os golpes eram defendidos pela espada gigante, então Hayakaz pegou um monte de terra e arremessou nos
olhos de Flanel, que pulou para trás para desviar e acabou abaixando sua guarda, deixando Hexoth golpeá-lo com
sua katana coberta de sombras, mas logo sumindo e devolvendo o golpe nas costas de Hexoth. Enquanto isso,
Garrik olhava atentamente a luta, a distância.

“Como ele faz isso?! Tem que ter uma explicação!”, pensou Garrik.

— Droga! Esse cara é um fantasma, só pode. Eu pisco e ele some, que porcaria é essa? — disse Hexoth.

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— Ele chamou de Passo Angelical. Deve ter algum gatilho pra ele usar essa merda, eu só não sei qual.

— Pera… Você tem razão! Eu não tinha pensado nisso. Se analisarmos, podemos achar um padrão nesse
passo e evitá-lo. Nunca pensei que você ia pensar algo tão genial, Hayakaz, você tá com febre?

— Eu não sei se isso foi um elogio ou uma ofensa, mas vamos continuar! — Hayakaz pulou na direção de
Flanel, tentando golpeá-lo novamente, mas sendo bloqueado.

— É tão difícil pra você entender, seu merdinha? Você não vai conseguir me acertar! — disse Flanel, que
logo depois desapareceu.

Quando Flanel reapareceu atrás de Hayakaz, ele foi recebido com um disparo de Garrik. “Ele me acertou na
sorte?!”, pensou Flanel enquanto recuava e então desaparecia. Ao reaparecer atrás de Garrik, um disparo acertou
seu peito, Garrik havia deixado uma de suas pistolas entre seu braço e seu peito mirada em suas costas.

— Argh! Maldito! Como você fez isso?! — disse Flanel, recuando.

— Eu te avisei que sua confiança traria sua derrota. Você achou mesmo que eu não ia perceber?

— Cala a boca! — Flanel desapareceu e surgiu atrás de Garrik, mas foi recebido com uma espada negra
saindo do chão. — O que?!

— Sempre que você vai desaparecer, você curva levemente as suas pernas, como se fosse pular, além de que
sempre opta pelos pontos cegos do adversário. E parece que eu não fui o único que reparou isso… — Garrik olhou
na direção de Hexoth, que estava com sua katana enfiada no chão. — Armadilha de Lâminas! — disse Hexoth.

— Merda… mas saber disso não vai fazer vocês ganharem. Se eu mudar o padrão, vocês já eram!

— Você fala como se pudesse… — Garrik abriu um sorriso. — Você mesmo deve saber que isso é um
reflexo natural do seu corpo, além de que parece que você não treinou muito essa técnica, então não vai conseguir
desfazer isso a tempo. — Garrik mirou uma de suas pistolas em Flanel e disparou. — Xeque-mate!

Flanel desapareceu para fugir do disparo, mas quando voltou foi acertado por um soco de manopla, sendo
arremessado contra o monte de escombros. — Argh.

— Acertei! — gritou Hayakaz, com um sorriso no rosto.

— Droga, vou ter que usar isso contra vocês. Não… Eu preciso usar… — disse Flanel, e então seu corpo
começou a emanar uma aura dourada. — Coração Angelical!

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De repente, toda a pressão que Flanel emanava desapareceu, era como se ele não tivesse mana alguma,
porém, seu corpo permanecia com um contorno dourado.

— Um… — Flanel dobrou levemente suas pernas, como se fosse usar o Passo Angelical, e então Garrik
entrou em guarda, mas ao invés de desaparecer, Flanel deu uma investida na direção de Garrik, o pegando
desprevenido. — Dois… — disse Flanel, ao acertar um corte leve no braço de Garrik, que recuou.

“Um blefe?!”, pensou Garrik.

— Três… — Flanel então olhou na direção de Hexoth e usou o Passo Angelical, o que fez Hexoth se virar
para bloquear as costas, mas apenas golpear o ar.

“Onde ele foi”, pensou Hexoth, antes de Flanel surgir em suas costas e o golpear.

— Quatro… — disse Flanel, após golpear Hexoth. — Cinco… — Ele então olhou para Hayakaz, que já
estava vindo em sua direção, mas acabou sendo acertado por um corte tão rápido que ele nem ao menos viu o
movimento. — Seis…

“Ele tá muito mais rápido!", pensou Hayakaz, enquanto era arremessado pelo corte.

Flanel então olhou para os três lordes caídos ao chão e disse:

— Seis segundos… foi o que eu precisei para derrubar os três… Como você disse, elfo? Ah! Xeque-mate!

— El Tigre! — De repente um enorme tigre surgiu, arremessando Flanel para longe, e Sanarion apareceu no
local de onde o tigre saiu. Sua expressão estava totalmente diferente da de costume, seus olhos estavam totalmente
escuros e frios, porém seu rosto não expressava nenhuma emoção, nem mesmo ódio ou repugno — Eu serei sua
inimiga… — disse ela, pulando na direção de Flanel, que bloqueou o soco com sua espada.

— Você parece ser mais forte, mas ainda não é o suficiente. — Flanel tentou pressionar Sanarion com o peso
da espada, mas ela conseguiu esquivar para o lado e pular na direção da cela dourada.

— El tig… — falou Sanarion, antes de Flanel surgir em sua frente e impedi-la de terminar sua invocação.

— Parece que você também sabe apenas falar… Pensei que os Sete Pecados eram mais fortes — disse
Flanel, se preparando para golpear Sanarion. — Veja toda sua esperança escorrer pelas suas mãos… Desapareça!

Ao investir para golpear Sanarion, Flanel esqueceu de tudo a sua volta e perfurou a lateral do tórax de
Sanarion, mas acabou acertando a tranca da cela, que foi abrindo lentamente conforme ele ia recuando.

— Obrigado por… cof cof… abrir a tranca que eu não consegui… — disse Sanarion

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— Droga! Esse era o seu plano desde o começo?! Sua desgraçada!

— Cale logo a boca… Flanel. Eu já não aguento mais escutar você falando merda! — disse uma voz vinda
de dentro da cela. Era um homem alto, mesmo tendo uma aparência jovial, seus cabelos e barba eram brancos, seu
corpo era definido, ostentando uma enorme cicatriz em seu peito.

— Não… Era pra você estar cheio de ferimentos! Por quê você está ileso?!

— Argh! — O homem começou a se alongar. — Acho que você se esqueceu, mas eu sou um demônio, seu
imbecil. Eu tenho uma regeneração absurda, diria que absurda até para os próprios demônios.

— Finalmente deu as caras… irmão! — disse Sanarion, mal conseguindo se manter de pé.

— Desculpa o atraso, um idiota me prendeu e tentou drenar a minha energia, mas parece que você se
machucou muito pra me soltar, né?

— Ainda não entendi… como você foi preso… cof cof… por esse idiota! Ele caiu… em um plano tão
simples… cof cof… quando eu fui abrir a sua cela.

— Ele pode ser um tremendo idiota, mas aquela bola na espada dele realmente pode causar um estrago.

— Eu ainda estou aqui, seus desgraçados. — Flanel interrompeu.

— Bom, eu vou te falar uma coisa, Flanel! — Hendebrant estalou os dedos. — Mexer comigo até vai… mas
você tocou no meu amigo e na minha irmã, eu vou deixar o seu corpo tão desfigurado que estará irreconhecível!
— De repente a expressão de Hendebrant mudou de um sorriso carismático para um olhar de desprezo e de ódio.

Hendebrant então estendeu sua mão para o lado, fazendo surgir um enorme martelo de batalha, e então
pulou na direção de Flanel, golpeando-o com uma sequência de golpes que faziam o chão tremer. Por causa dos
tremores, os três lordes retomaram suas consciências e puderam se levantar.

— Caraca! Ele tá pondo pressão no Flanel! — falou Hayakaz, limpando a poeira em seu kimono.

— Não vou ficar aqui, apenas olhando. Eu vou lutar — disse Garrik, invocando seu arco.

— Você tá certo, não vamos deixar ele ficar com toda a diversão! — Hexoth sacou sua katana e partiu para
cima de Flanel, que por estar distraído não conseguiu desviar. — Você achou que eu ia levar aquela surra e aceitar?

Hendebrant aproveitou a distração causada por Hexoth e golpeou o peito de Flanel com seu martelo, e se
aproveitando disso, Hayakaz apareceu e o golpeou, assim iniciando uma sequência de acertos seguidos.

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— Corte Sombrio! — dizia Hexoth, enquanto o golpeava.

— Lobo Esmagador! — disse Hendebrant, ao bater em Flanel com seu martelo com uma aura de pata lobo.

— Punho Reptiliano! — disse Hayakaz, o golpeando com um punho de lagarto.

Conforme eles iam golpeando Flanel, ele cada vez mais ia recuando e entrando na defensiva, o que permitiu
que Garrik acertasse uma flecha em um de seus braços, o deixando inabilitado.

— Seus desgraçados, saiam do meu caminho! — disse Flanel, empurrando Hexoth para o lado e tentando
golpear Hendebrant, o que gerou uma enorme nuvem de poeira, que quando se desfez revelou que o golpe de
Flanel foi segurado pelas presas de Hendebrant em sua forma de lobo gigante.

Ao ver a forma do lobo gigante, as pernas de Flanel congelaram. Na visão de Flanel, Hendebrant exalava
uma enorme aura sombria na forma de um monstro com olhos vermelhos.

— N-n-não é-é po-po-ssí-vel-vel! — Os olhos de Flanel se arregalaram, seu corpo tremia


descontroladamente, ele mal conseguia segurar sua espada.

— Devorar! — De repente, Hendebrant abriu sua boca e começou a sugar a aura de Flanel, o fazendo cair de
joelhos. Uma marca começou a brilhar no lado direito de suas costas, era a tatuagem de javali.

— ARGH!!! — gritava Flanel, enquanto sua mana era absorvida por Hendebrant.

— Argh… esse gosto continua horrível… nunca vou ficar satisfeito com isso! — disse Hendebrant, parando
de devorar a mana de Flanel.

— Seu desgraçado… Seu desgraçado! Seu desgraçado! Seu desgraçado! — Flanel colocou as mãos na
cabeça e começou a balançar a cabeça

— Ele enlouqueceu… Vamos terminar isso de uma vez… — Disse Garrik se aproximando.

De repente Flanel percebeu Sanarion, não muito distante, e disse: — A culpa é sua… foi você que causou
tudo isso! — e de repente desapareceu do meio dos quatro e surgiu na frente de Sanarion — Sua vadia! — e tentou
golpeá-la, mas foi bloqueado por Hendebrant com uma mão de lobo.

— Uff… Sabe, Flanel, não dá mais… Eu vou ter que te explicar uma coisa que você parece não ter
entendido… — O corpo de Hendebrant começou a brilhar em branco — Eu sou ganancioso demais para deixar
você tirar algo de mim… — Então, os músculos de Hendebrant começaram a crescer, seus cabelos que se
espalharam por todo seu corpo, suas orelhas se tornaram pontudas, suas unhas se tornaram garras, seus dentes se

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tornaram presas, a marca de javali em suas costas começou a mudar para a de uma raposa, ele havia se tornado um
enorme lobisomem albino.

— Não… não pode ser! — disse Flanel, que agora estava pequeno perto de Hendebrant.

— Eu não vou deixar ninguém tocar no que é meu! — falou Hendebrant, pegando Flanel pela cabeça e o
erguendo do chão, para logo depois o arremessar contra o chão, gerando uma enorme cratera.

Depois disso, Hendebrant começou a arremessar Flanel contra os vários montes de escombros e rebatendo
com seu martelo. Então Hendebrant arremessou Flanel contra o chão e o esmagou com seu martelo.

“Ele não tinha usado essa forma quando lutou comigo! De onde veio essa força absurda?!”, pensou Flanel.

— Che-chega, por… favor, cof cof, eu im…

— Não implore… você não tem esse direito… Lua Cheia de Avareza! — Hendebrant interrompeu Flanel, e
então levantou seu martelo o mais alto possível. Na visão de Flanel, o martelo havia tomado a forma de uma
enorme lua cheia e Hendebrant havia se tornado um vulto sombrio com olhos vermelhos.

Quando o martelo atingiu o corpo de Flanel, um enorme brilho branco no formato de esfera tomou a arena,
obliterando todos os destroços próximos, e logo após, tomando a forma de um pilar de energia que foi se afinando
até desaparecer.

Após a luz se desfazer, apenas alguns pedaços de Flanel sobraram, incluindo sua espada, que havia sobrado
apenas a guarda com esfera roxa, porém Hendebrant, que havia voltado para sua forma humana, estava ileso.

Depois de alguns segundos, os cinco se reuniram no topo da nova cratera, então Hayakaz disse:

— Caraca! Isso foi incrível! Você é absurdamente forte!

— Haha! Não é pra tanto. Eu fiquei quase sem magia depois disso — respondeu Hendebrant, com um
sorriso no rosto.

— Isso não é algo divertido, Hendebrant, cof cof — falou Sanarion, tentando curar o próprio ferimento.

— E como tá a situação aí? Consegue andar? — Hayakaz se aproximou do ferimento.

— Estou bem, já tive ferimentos bem piores…

— Usuário morto. Iniciando protocolo de reformulação e protocolo de defesa. — De repente, uma voz saiu
da esfera roxa na guarda da espada, e então, um enorme brilho surgiu nos restos de Flanel, que começaram a se

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regenerar. Após alguns segundos, Flanel estava inteiro, mas com sua aparência mudada, sua pele ficou toda
branca, uma auréola surgiu em sua cabeça, seus cabelos ficaram loiros, seus olhos ficaram totalmente vermelhos e
um par de asas brancas surgiram em suas costas.

— Argh! Como é bom estar vivo… — disse Flanel — Agora… quem devo matar primeiro? — Flanel então
olhou para Garrik, que mal conseguia se mexer por causa do cansaço acumulado, e surgiu perto dele com sua
espada, pronto para finca-la.

Porém, antes que a espada acertasse Garrik, alguém pulou na frente e teve seu corpo perfurado, era
Hendebrant.

— Ah! Então você quis ser o primeiro… aprenda a esperar a sua vez na sua próxima vida… — falou Flanel,
que logo em seguida tentou retirar sua espada do corpo de Hendebrant, porém, algo segurou sua espada.

— Eu já te avisei, Flanel… EU SOU GANANCIOSO DEMAIS PARA DEIXAR VOCÊ TIRAR ALGO DE
MIM! — Hendebrant segurou a espada de Flanel com uma de suas mãos e levantou seu martelo com a outra —
Lobo Esmagador! — Hendebrant então golpeou Flanel, que saltou para o lado para desviar, mas acabou tendo
seu braço decepado pelo impacto.

Após isso, Hendebrant tirou a espada de Flanel de seu corpo e a jogou no chão, porém, seu corpo caiu para
o lado oposto, com um enorme buraco em seu peito, buraco esse que queimava em dourado.

— Incrível que ele tenha conseguido se mover com aquele ferimento, só é uma pena que ele tenha errado o
golpe final. Devia ter acertado minha cabeça, idiota…

Quando o corpo de Hendebrant caiu no chão, ele estava jogado em frente a Garrik, que arregalou os olhos e
deixou uma lágrima escorrer. Ao ver essa cena, Sanarion tentou se mover para atacar Flanel, mas seu ferimento a
impediu de chegar até ele.

— Então você quer ser a próxima? Vou realizar o seu desejo… — Flanel levantou sua espada, mirando em
Sanarion, pronto para golpeá-la, e então desceu seu braço com toda a força.

Ao ver a espada de Flanel se aproximar de Sanarion, tudo ficou lento na visão de Garrik, tudo que ele havia
vivido, desde seu despertar, passou pelos seus olhos, mas a visão criada pelo cristal predominou em sua mente, os
elfos dilacerados, todas as perdas que Garrik teve, todos que ele não pode proteger vieram a sua mente.

“Não… Por favor… Eu não quero perder mais ninguém… Por favor…”, pensou Garrik, vendo a espada se
aproximar de Sanarion.

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“Você faria qualquer coisa para salvá-los?", disse uma voz na mente de Garrik.

“Sim… Qualquer coisa…”

De repente, Garrik se viu em um enorme vazio escuro, onde apenas um olho pairava sobre o ar.

“Não resista mais aos seus instintos, e se torne um demonio!”, uma voz veio da direção do olho, e logo
após, enormes mãos vermelhas surgiram e começaram a segurar Garrik, o afundando no vazio.

— Eu… aceito… — falou Garrik, segundos antes de afundar na escuridão.

De repente, a aura de Garrik começou a transbordar de seu corpo na forma de água. A mudança repentina
assustou Flanel, o fazendo parar sua espada. Então, um enorme pilar de água surgiu ao redor de Garrik, a pressão
criada pela mana era absurda, fazendo Flanel mal conseguir se mover.

Após alguns segundos, o pilar se desfez, revelando Garrik, que estava com uma aparência totalmente
diferente, uma armadura metálica com uma cor de azul marinho cobria todo seu corpo, uma máscara de tubarão
martelo cobria seu rosto completamente, porém não havia nenhuma calda, suas mãos se tornaram híbridos entre
barbatanas e garras, igual a seus pés.

— O qu… — Antes que Flanel pudesse terminar, Garrik surgiu em sua frente com uma esfera de água em
suas mãos e o arremessou para longe.

“Passo Angelical?!”, pensou Flanel.

Antes que Flanel atingisse o chão, um disparo vindo da direção para onde foi arremessado o acertou, Garrik
havia disparado um feixe de água por seu dedo indicador.

Antes que ele tivesse tempo para reagir, uma chuva de disparos caiu sobre Flanel, o fazendo ficar cheio de
ferimentos. Logo após isso, Garrik surgiu em frente a ele e o segurou pelo pescoço. Na visão de Flanel, Garrik
estava totalmente coberto por um demônio feito de sombras, como se fosse apenas uma marionete vazia.

— O que é você?! — falou Flanel, com seu corpo inteiro tremendo.

— … — Ao invés de responder, Garrik carregou um disparo com sua outra mão, um disparo tão
concentrado que emanava uma luz cegante.

— Não… NÃO!!! — gritou Flanel, antes de ter todo o seu corpo pulverizado pelo feixe de água de Garrik.

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O disparo foi tão poderoso que não restou nada do corpo de Flanel, nem mesmo cinzas, nem mesmo a esfera
roxa. Ao longe, os três o observavam, seus corpos não conseguiam se mexer, a aura intimidante que Garrik
emanava era muito grande.

De repente, Garrik se virou na direção dos outros e estendeu seu braço, começando a carregar um feixe de
luz. Então Hexoth e Hayakaz surgiram ao redor dele, o segurando.

— Garrik… chega… — disse Hexoth, o segurando com um olhar assustado.

— Garrik, não era isso que ele queria… você sabe disso melhor que ninguém! — disse Sanarion, na
esperança de fazê-lo voltar a si.

— Chega, cara! — disse Hayakaz, socando a máscara de Garrik, que apenas continuou carregando o ataque.

Antes que Garrik pudesse disparar o ataque, sua máscara começou a se rachar, até se desfazer, revelando
que seus olhos estavam totalmente negros e sua pele vermelha como fogo. Após isso, os olhos de Garrik se
fecharam e ele caiu para trás, disparando o ataque para o alto e desfazendo toda a armadura em seu corpo.

Após isso, Hayakaz rasgou alguns pedaços do pano de sua armadura e enrolou ao redor dos ferimentos de
Garrik, tentando estancar o sangramento.

— Hexoth, ajuda o Hendebrant!

— Certo!

Quando ele chegou até o corpo de Hendebrant, ele reparou que algo estava errado, e disse:

— Sanarion…

— Como ele tá? Ele tá bem, né?

— Ele… não tá regenerando…

— O que? Isso não é possível! Você olhou direito?! Ele não pode não estar se regenerando!

— Sanarion…

— Não… Não me fala isso…

— Ele já está morto…

— Não… Não! — Lágrimas começaram a cair dos olhos de Sanarion

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— Esse ferimento foi feito por queimadura sagrada… ela desfaz as regeneração… ele morreu quando a
espada caiu do seu peito — disse Hexoth, de cabeça baixa.

— Não… NÃO!!! — Sanarion caiu de joelhos, com as mãos na cabeça, e começou a chorar —
DARTANHAM! VOCÊ DISSE QUE ISSO NÃO IA ACONTECER!!! CADÊ VOCÊ, SEU MALDITO!!!

Após alguns segundos, um enorme portal se abriu, e dele saíram vários demônios com uma maca
improvisada, que carregaram Garrik e o corpo de Hendebrant para dentro.

— O que? — perguntou Hayakaz, olhando a situação.

Hayakaz, mesmo surpreso, entrou logo em seguida, mas antes que Hexoth entrasse, ele olhou para Sanarion,
que ainda estava em choque, e disse: — Estamos esperando você, senhorita… — e logo entrou no portal
novamente.

Dentro do portal, Dartanham estava os esperando, e então disse:

— Meus lordes! O que aconteceu!

— Muita coisa aconteceu, mas o Garrik se feriu, consegue ajudar? — respondeu Hexoth.

— Eu acho que consigo, meu lorde, mas preciso que os senhores me expliquem o que aconteceu,
detalhadamente, depois.

— Eu explico o que for preciso, só arruma isso.

— Certo…

Enquanto isso, Sanarion continuava na cratera, incrédula sobre o que havia acontecido.

— Por quê? Por quê eu nunca consigo salvar ninguém… Primeiro a mamãe e agora você… — disse
Sanarion, enquanto chorava.

— A morte é algo assustador… não concorda, pequena? — De repente um homem encapuzado com uma
máscara preta com chifres e roupas metálicas apareceu.

— O que? Quem é você?!

— Mas… talvez eu tenha a solução para o seu problema…

— Do que está falando? Solução para o que?

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— A morte sempre foi algo assustador… por isso eu quero criar um mundo onde ela não seja um
problema… um mundo onde ninguém precisará temer a ela, e aqueles que se foram poderão voltar… um mundo
onde não haverá tristeza…

—…

— Mas para criar este novo mundo, eu gostaria que a senhorita me ajudasse, sua força seria de grande
ajuda…

— Criar um novo mundo?! E como você quer fazer isso?

— Usando isto… — Então, o encapuzado tirou uma enorme espada, tão grande que seria difícil de usar, de
seu capuz.

— Não pode ser. Isso é…?!

— Esta é uma das chaves para esse novo mundo, pequena. Com isso, quero saber se tenho a sua confiança…

Então, Sanarion se levantou, de cabeça baixa, e estendeu sua mão apertando a mão do encapuzado.

No castelo, após algumas horas na ala médica mágica, Dartanham apareceu na porta e chamou Hayakaz e
Hexoth para dentro, onde ele disse:

— Meus lordes… me desculpem, mas eu não pude fazer nada pelo senhor Hendebrant…

— Então ele…? — perguntou Hexoth

— Sim… é impossível curar algo que já está morto… — Nesse momento, os dois abaixaram a cabeça em
luto.

— Mas… e o Garrik? — perguntou Hayakaz.

— Por enquanto ele precisa descansar. O lorde Garrik passou por uma cirurgia em seu núcleo de mana, ele
usou muito poder de uma vez, poderia ter sido fatal se não fosse tratado rápido. Falando sobre isso, os senhores
podem me explicar o que aconteceu naquele local?

— Certo — disse Hexoth.

Após explicarem sobre tudo que ocorreu na prisão de Earthbring, Dartanham disse:

— Entendo. Foi realmente uma situação bem extrema… — Dartanham, coçando o queixo.

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— Mas você sabe o que pode ter sido aquilo? Era como se ele tivesse virado outra pessoa… — perguntou
Hexoth

— Na verdade, meu lorde, eu tenho noção do que pode ser… — respondeu Dartanham, com uma expressão
séria e preocupada no rosto. — Eu creio que isso… tenha sido o despertar da Maldição Desperta do lorde Garrik!

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Capítulo 7: Máscara de Duas Faces.
Após ouvirem Dartanham, Hexoth e Hayakaz arregalaram os olhos e então Hayakaz disse:
— Maldição Desperta?! Você tá querendo dizer “Aquela Maldição Desperta”? Aquela magia absurda dos
demônios?!

— Está correto, meu lorde. Eu me refiro a magia de transformação que somente demônios e pseudo
demônios podem executar.

— Não… isso deveria ser impossível, não? Nós não somos demônios ou pseudo demônios, lembra?

— Na verdade, meu lorde, após um certo nível de demonização, o usuário se torna um pseudo demônio
enquanto transformado. Então creio que ele deve ter ativado por acaso sua Maldição Desperta enquanto estava
demonizado, é a única explicação plausível.

— Espera! Então ele demonizou? Quando?

— Eu acho que foi quando ele viu que a Sanarion ia morrer, Hayakaz — disse Hexoth, com a mão no
queixo.

— O Garrik se preocupando com alguém?

— Pode ser estranho vindo dele, mas eu acho que todos nos preocupamos com algo, não é? — Hexoth
abaixou um pouco a cabeça.

— Desculpa, eu não queria fazer você lembrar daquilo, foi mal.

— Nah, não se preocupa, eu to bem.

— De qualquer forma, meus lordes, o senhor Garrik precisa descansar por um tempo, manter a Maldição
Desperta consome muito do usuário. Mas eu estou preocupado com outra coisa também, onde está a senhorita
Sanarion?

Após dizer isso, os dois lordes se deram conta de que Sanarion não os havia seguido e então Hexoth disse:

— Ela não voltou com a gente, será que ela ainda tá na cratera?

— Eu vou mandar alguns corvos procurarem a mana dela. — Dartanham saiu do quarto e acompanhou
Hexoth e Hayakaz até o portal.

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— Eu… vou… procurá-la! — De repente, Garrik tentou se levantar, mas Hexoth o segurou.

— O que você tá fazendo? Você só vai piorar seus machucados se fizer força!

— Cale-se! Eu preciso… Argh! — Antes que Garrik conseguisse se levantar, ele começou a sentir uma dor
absurda na região dos ferimentos e acabou desmaiando.

— Ele avisou, cara. Fica aí, que o Dartanham já enviou corvos pra procurar ela — falou Hayakaz, abrindo a
porta.

— Procure informações sobre a senhorita Sanarion, Dartanham. Eu vou ficar aqui pra fazer esse cabeça dura
descansar. — Hexoth arrumou Garrik na cama e o cobriu.

— Entendo… Obrigado, meu senhor. Quando eu conseguir mais informações, chamarei os senhores —
disse Dartanham, se curvando e desaparecendo em sombras.

— Ele realmente é o rei das entradas e saídas dramáticas…

Após isso, Hexoth olhou para o rosto de Garrik e algumas lembranças da última luta vieram a sua mente,
entre elas a imagem de Garrik transformado. Um calafrio correu por todo o corpo de Hexoth, lembrar de Garrik
naquele estado o deixava angustiado, como se aquele não fosse o amigo que sempre o seguiu.

“Como chegamos a isso…?”, pensou Hexoth, com uma das mãos tapando o próprio rosto. "Será que isso tá
certo? É certo todos se machucarem?".

De repente, tudo ao redor de Hexoth ficou branco, como se fosse um enorme vazio. Hexoth olhou ao seu
redor, procurando qualquer coisa que pudesse esclarecer o que estava acontecendo.

— Salve-a… — disse uma voz vinda do vazio, e então, o corpo de Hexoth paralisou, porém seu corpo
tremia de medo. — Recupere aquilo que lhe tiraram… Salve-a.

Então, Hexoth olhou para trás e seus olhos se arregalaram, ele podia ver uma silhueta brilhante de uma
garota encolhida, rodeada de enormes mãos, negras como vultos, a prendendo.

De repente, Hexoth abriu os olhos e se levantou rapidamente, ele arfava e tossia como se estivesse sendo
sufocado, ele havia dormido na cadeira enquanto cuidava de Garrik.

— O que… foi… isso…? — disse ele, tentando se recompor.

— Senhor? Está aí? — disse Dartanham, batendo do outro lado da porta.

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— Entra! Eu to bem!

Após ouvir Hexoth, Dartanham abriu a porta e entrou com Hayakaz.

— Hm… Vejo que o senhor Garrik ainda não se recuperou… Mas fico feliz que o senhor tenha acordado,
senhor Hexoth.

— O que?! Por que você não me acordou?!

— O senhor estava dormindo tão bem, eu não achei correto privá-lo desse bom sono.

— Bom sono nada, eu tive um pesadelo, isso sim.

— Um pesadelo? Um demônio tendo pesadelos? O senhor poderia me dizer mais, senhor?

— Melhor não, não quero nem lembrar daquilo!

— Entendo. Se o senhor prefere assim…

— O papo de sonhos tá interessante e tudo mais, mas eu ainda quero saber por quê você chamou a gente,
Dartanham — falou Hayakaz, encostado na porta.

— Ah! Claro! Senhor Hexoth, senhor Hayakaz, eu acho que os senhores devem ver isso…

Quando os dois se aproximaram, Dartanham mostrou um cristal do tamanho de uma mão, onde imagens
começaram a ser reproduzidas, mostrando Sanarion e o encapuzado saindo de um portal e andando por uma
cidade.

— Quem é esse cara? Por que a Sanarion ta seguindo ele? — perguntou Hayakaz.

— Esse foi o último local onde meus corvos localizaram o rastro de mana da senhorita Sanarion, a cidade
Fallarborn, mas há uma coisa que os senhores devem ter notado…

— Que seria?

— Os dois estavam emanando energia sagrada! — falou Hexoth, de cabeça baixa.

— Espera… Não… Você não está dizendo que ela… — Hayakaz arregalou os olhos.

— A senhorita Sanarion se tornou uma traidora… — De repente, os olhos de Dartanham perderam sua cor,
seu tom passou de algo passifico para algo terrivelmente sério.

— Espera… Vocês tem certeza? Pode ser um erro, não?

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— Hayakaz… uma vez condenado, sempre condenado… Não tem como se purificar sozinho.

— Mas… então como? Isso deveria ser impossível, não?

— Não é possível purificar sua aura sozinho, mas se um anjo puro pode purificar outros seres.

— Droga! — Hayakaz socou a parede.

— Senhor, por favor se acalme!

— Como você quer que eu fique calmo?!?! Primeiro a gente perdeu o Elphaseus, o Hendebrant morreu, o
Garrik ta inconsciente, e agora a Sanarion trocou de lado! Como você quer que eu me acalme se a gente tá
perdendo todos que ficam ao nosso lado?

— Hayakaz… — Hexoth levantou sua cabeça e olhou nos olhos de Hayakaz.

— O que foi?!

— Só existe uma coisa que os lordes demônios podem fazer quando um subordinado os trai… — Ele então
sacou sua katana e a apontou para Hayakaz. — Temos que corrompê-la novamente!

Hayakaz olhou nos olhos de Hexoth, suas palavras ressoavam em sua cabeça e então ele respirou fundo,
expirou e disse:

— Certo… desculpa, você tem razão. Perder o controle só vai piorar tudo.

— Que bom que percebeu, mas… e ele? — Hexoth olhou para Garrik, que ainda estava desacordado.

— Meus senhores, é melhor o senhor Garrik ficar aqui descansando, ele ainda não está recuperado o
suficiente para ir para uma missão.

— Pior que você tem razão, Dartanham. Vamo indo. Quando ele acordar, a gente já vai ter terminado tudo
isso. — Hayakaz cerrou os punhos.

Após preparar o ritual, Dartanham abriu um portal e disse:

— Meus lordes, quando retornarem e o senhor Garrik acordar, iremos realizar um funeral digno para o
senhor Hendebrant.

— Não se preocupa, não vamos demorar — disse Hexoth.

— Vamos pegar a Sanarion o mais rápido que der — disse Hayakaz, com um olhar sério.

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— Os senhores têm razão… não preciso me preocupar.

Hayakaz e Hexoth entraram no portal, que os levou para um beco em uma cidade enorme. Uma multidão
estava reunida ao redor de um mensageiro, mas Hexoth e Hayakaz apenas ignoraram o que ele estava falando.

— Certo… por onde devemos começar? — perguntou Hexoth.

— Acho que é melhor não fazermos tumulto, pode dar muito problema.

— Você tem razão. Espera, você tem razão? Hayakaz, você tá com febre? — Hexoth o olhou confuso.

— Cala a boca! Não é como se eu só falasse merda.

— Na verdade…

— Ei! Vocês aí! — Um guarda os interrompeu de longe. — Parados! Vocês parecem os suspeitos da prisão
de Earthbring!

— Merda! Só corre pra multidão! — disse Hexoth, entrando na multidão.

Ao ouvir isso, Hayakaz correu na direção da multidão e se misturou nela.

— Droga! Hexoth, cadê você?! — Hayakaz olhou ao redor, mas não conseguiu encontrar Hexoth. —
Porcaria!

Hayakaz continuou andando na mesma direção até sair da multidão, parando em um beco. De repente, ele
escutou a voz de alguém:

— Você finalmente chegou… Siga-me, Hayakaz…

— Quem disse isso?! — Quando Hayakaz olhou para a origem da voz, ele viu apenas a ponta de um manto
virando em uma esquina.

Hayakaz então começou a seguir o vulto pelo beco, o local fazia a transição dos tijolos cinzas tradicionais
para tijolos de arenito amarelados

“Que lugar é esse? Desde quando tem tijolos de areia no meio da cidade?”, pensou Hayakaz, seguindo o
caminho de tijolos.

Após andar por um tempo, Hayakaz se deparou com uma enorme construção com o formato de um templo
grego, mas feito com tijolos de arenito. Ao entrar no local, Hayakaz se deparou com um homem parado em pé no
centro templo, ele usava robes marrons claros, enormes luvas pretas cobriam seus braços, usava uma capa feita de

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dois tecidos, um tecido branco com um símbolo de um urso preto e que cobria sua cabeça e um tecido negro um
pouco menor que o outro, uma mascara totalmente branca com um olho desenhado no centro cobria seu rosto,
carregava um livro de couro na cintura.

— Quem é vo…

— Tsc, tsc, tsc. — O homem interrompeu. — Antes de responder suas perguntas… Você sabe onde estamos?

— O que? — Hayakaz olhou ao seu redor, as paredes internas do templo eram repletas de desenhos
repetidos, o padrão dos desenhos se baseava em um enorme demônio com uma espada vermelha ao lado de uma
enorme caveira em imbuída em chamas. — Que lugar é es…

— Quer saber uma coisa interessante? Esses desenhos não estão ali por nada…

— Dá pra parar de…

— Eles contam uma história, uma história bem triste, mas acho que ela vai lhe soar familiar… Hayakaz.

Hayakaz ficou em silêncio por alguns segundos e então disse:

— Como você sabe o meu nome?

— Ah… Eu sei de muitas coisas, entende? Mas tem algo que eu sei sobre o seu amigo orc…

— O Hexoth?!

— Que bom que tenho sua atenção agora. Continuando… — O encapuzado andava passando a mão nas
paredes. — Esses símbolos… eles contam uma história, como eu já disse, a história de um homem que perdeu
tudo… família… amigos… até mesmo sua humanidade… A muitos anos, um certo guarda estava voltando de uma
viagem de escolta, ele queria matar a saudade de sua família, mas sabe o que ele encontrou quando chegou? — O
encapuzado colocou a mão na imagem da caveira em chamas.

—…

— Ele encontrou o desespero… sua casa destruída… a coisa mais preciosa de sua vida estava queimando…
Ele encontrou a maior dor de sua vida… mas ele não teve tristeza e nem medo… ele se viu coberto de ódio! Era
tanto ódio, que ele abandonou seus sonhos… sua esperança… ele abandonou sua humanidade…

— Você quer dizer… — De repente, o templo começou a tremer, diversas rachaduras surgiram e o teto
começou a desmoronar.

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— Oh! Que pena, parece que nosso tempo acabou… — O encapuzado começou a andar na direção do fundo
do templo, sendo cercado pelos destroços.

— O que? Espera! Quem é você? Como sabe essas coisas?

— Por enquanto… me chame de Rameel

Hayakaz tentou se aproximar, mas foi parado pelos destroços. Então, tudo ao seu redor ficou escuro, como
um enorme vazio, e de repente Hayakaz foi acordado por Hexoth no beco.

— Hayakaz! O que aconteceu?

— Que? Foi um sonho?

— Cara, você tá bem?

— Ah! Desculpa, eu tive um sonho muito estranho…

— Como assim?

— Eu… eu não consigo me lembrar…

— As vezes você é muito esquisito, muito esquisito mesmo.

— Tá, mas você achou alguma coisa?

— O máximo que eu descobri foi que essa cidade é a sede da da igreja continental.

— Espera, aqui é onde fica a igreja principal?!

— Sim, e parece que aquele mensageiro tá passando as últimas mudanças que a igreja ordenou.

— Calma. Se a gente ouvir o que ele diz, talvez a gente consiga alguma informação valiosa.

— Até agora ele só falou enrolação, nada realmente importante.

— Vamos mais perto, talvez a gente consiga ouvir me… — Antes que Hayakaz pudesse terminar, uma
pequena luz surgiu entre os dois.

— Que isso? — perguntou Hexoth.

— Eu sei lá. Essa coisa acabou de aparecer.

A luz começou a se mexer, formando círculos no ar, como se sinalizasse algo no palanque.

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— E o último aviso de hoje vem diretamente do cardeal mestre, o grande Papa — gritou o mensageiro,
abrindo um pergaminho branco ornamentado com enfeites dourados.

Ao ouvirem isso, os dois lordes voltaram seus olhares para o mensageiro e repararam que uma enorme jaula
estava sendo trazida para fora da igreja atrás dele. Quando a jaula ficou visível, a pequena luz começou a se mexer
freneticamente.

— Venho, por meio desta mensagem, decretar que a sentença para a garota amaldiçoada, nomeada de
Kagura, foi decidida! — O mensageiro saiu da frente da jaula, revelando que nela havia uma garota, seus cabelos
eram totalmente prateados, sua pele acinzentada, suas orelhas pontudas, seus olhos eram dourados e ela vestia um
kimono branco com flores de lótus estampadas.

Ao ver a garota, Hexoth arregalou os olhos e disse:

— Não… não pode ser!

— Hexoth? — Hayakaz tentou chamar a atenção do amigo, mas ele parecia não conseguir escutar.

— Após despertar seu poder, Kagura se mostrou sendo um perigo em potencial. Seu poder de criar lâminas
feitas de luz se mostrou ser algo profano e que vai contra as leis do sagrado. Dito isso, eu, Papa Leonard terceiro,
junto dos quatro grandes cardeais, declaro que sua punição será a execução pela alabarda divina, daqui a três
noites e exatamente a meia noite.

— Não… eu não vou deixar! — Hexoth começou a correr na multidão, indo na direção da jaula. Pequenas
faíscas negras começaram a sair do corpo de Hexoth e a pequena luz desapareceu.

— Kagura, a partir de hoje, é declarada como uma bruxa e não merece a compaixão de nenhum fiel do
grande sagrado!

— Eu não vou deixar! — Hexoth sacou sua katana e pulou do meio da multidão.

Conforme Hexoth ia se aproximando da jaula, seu corpo começava a ser coberto por sombras. As pessoas
olhavam, assustadas com o que viam, Hexoth havia se tornado um enorme vulto de sombras, seus olhos estavam
totalmente vermelhos, seus cabelos haviam se tornado em enormes tentáculos feitos de sombras, um grande par de
asas negras havia surgido em suas costas.

“Salve-a”, uma voz ecoava em sua cabeça.

— NINGUÉM VAI TOCAR NELA! — gritou Hexoth, com a voz totalmente desfigurada e quase
irreconhecível.

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— Cale-se! — Antes que ele pudesse tocar a jaula, seu golpe foi parado por uma enorme espada toda feita
de ferro sendo segurada por um homem de armadura branca.

— SAIA DA MINHA FRENTE, VERME!

— Parece que você só continuou decaindo… Hexoth! — disse o espadachim, criando outra espada igual
com a mão esquerda e o golpeando.

Após ser golpeado, Hexoth recuou um pouco e começou a retornar para a sua forma original. Então ele
olhou nos olhos do espadachim que o golpeou, ele era um um elfo alto com longos cabelos prateados, pele
extremamente branca e olhos dourados, ele vestia uma enorme armadura dourada com detalhes em vermelho.
Naquele momento, Hexoth sentiu uma familiaridade com o elfo.

— Quem é… cof cof… você?

— Não me surpreendo que você não se lembre, afinal, você já deve até mesmo ter se esquecido do rosto da
Hen…

— Da Hen? Não me diga que… Klaus?!

— Hmph! Então você lembrou o meu nome… mas não quero ele na boca de um traidor! — Em questão de
segundos, Klaus surgiu em frente a Hexoth, com a lâmina de sua espada próxima da garganta dele.

Antes que Hexoth fosse golpeado, um enorme círculo de magia surgiu entre ele e Klaus, bloqueando o
ataque e afastando Klaus, e logo após, outro círculo surgiu abaixo de Hexoth, que começou a ser sugado para
dentro dele.

— Você não vai fugir, traidor! — Klaus tentou se aproximar, mas Hexoth foi rapidamente sugado pelo
círculo de magia.

Enquanto era sugado pelo portal, Hexoth conseguiu olhar mais uma vez para a garota enjaulada. O olhar
dela era frio, como o de um cadáver, e lágrimas escorriam por seu rosto.

“Me desculpe, pequena…”, pensou Hexoth.

Quando Hexoth foi totalmente sugado pelo portal, um outro círculo surgiu acima de Hayakaz, que
rapidamente pulou para dentro dele, assim voltando para o castelo.

Ao chegar no castelo, Hayakaz se deparou com Hexoth de joelhos e totalmente paralisado.

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— Hexoth! — disse Hayakaz, se aproximando para ajudar o amigo, mas antes que pudesse chegar perto,
Dartanham o parou. — O que você tá fazendo, Dartanham?! A gente tem que ajudar ele!

— Espere, meu lorde, ou ele terá um colapso total.

— Do que você tá falando?!

— AAAAARGH!!! — De repente, uma enorme névoa negra começou a sair do corpo de Hexoth, que logo
depois caiu desmaiado no chão.

— Hexoth!

Após isso, Dartanham carregou Hexoth para a enfermaria e começou a curá-lo.

— Espera… Você pode curar ferimentos?! Ta de brincadeira! Por quê você não curou o Garrik?! — Hayakaz
puxou Dartanham pela gola.

— Se o senhor me atrapalhar… eu não vou conseguir terminar… lorde Hayakaz.

— Argh! Tá! Mas você vai me explicar isso direitinho quando isso acabar! — Hayakaz se sentou ao lado de
Hexoth e ficou olhando durante todo o processo.

Após algumas horas, Dartanham terminou de regenerar Hexoth e foi até a porta, onde chamou Hayakaz, que
o seguiu até a sala de jantar.

— Meu lorde, gostaria de um…

— Não pense que vai me enrolar, Dartanham!

— Entendo… O senhor deve querer respostas, não é?

— Por quê você só aparece quando está tudo acabado? Por quê você não nos curou nenhuma vez, mesmo
podendo fazer isso?! Por quê você sempre sabe quando algo vai dar errado e nunca faz nada?!! — Hayakaz puxou
Dartanham pela gola do termo e o olhou nos olhos.

— Vou responder todas essas perguntas, mas…

— Sem “mas”! Chega de esconder tudo! Quem é você afinal de contas?!

— Certo… — Dartanham tirou a mão de Hayakaz de sua gola e sentou em uma das cadeiras. — Eu sou
Dartanham, Gran-Servo dos Lordes Demoníacos. Por ser um Gran-Servo, eu tive acesso a todas as informações

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sobre os senhores. Eu sei tudo sobre vocês, tanto suas vidas como lordes demônios quanto antes delas. Não
somente dos senhores, mas de todos os demônios de alto calão.

— O que? — Hayakaz abaixou sua cabeça, foi até Dartanham — Seu… seu desgraçado! — e então lhe deu
um soco, o derrubando no chão. — Você sabia tudo sobre todos nós! Você sabia nossos medos e traumas, mas não
moveu um dedo?!

— Eu apenas posso servir os senhores como uma ponte para seus futuros, sejam eles quais forem. Eu estou
proibido de mudar o que irá acontecer…

— Mudar o que vai acontecer?

— Há mais de duzentos anos, O Grande Lorde Lúcifer usou a magia Oráculo, assim ele conseguiu todas as
informações sobre os senhores…

— Não…

— Até mesmo os seus futuros… — Hayakaz arregalou os olhos e logo depois abaixou a cabeça.

Ao ouvir isso, Hayakaz foi em direção a porta do castelo e saiu em meio a floresta, fechando a porta com
tanta força que quase a quebrou. Logo após, Dartanham se levantou e começou a arrumar a sala de jantar, quando
foi interrompido por uma massa de energia preta que começou a se formar.

— Finalmente você abriu o jogo pra eles, né não? — disse uma voz vinda da massa de energia, que logo se
transformou em Rameel.

— Então… você já fez contato? — perguntou Dartanham.

— É claro! Tá tudo indo conforme o planejado, mas… você não acha que deveria falar toda verdade pra
eles? Tipo, eles vão te odiar se você só contar essa parte da história.

— Eu não me importo de ser odiado, todas as peças tem que estar em seus locais corretos ao fim desse
jogo…

— Saquei! Bom, eu vou tentar resolver esse problemas com o Hayakaz. Boa sorte, hehe! — Rameel se
transformou em sombras novamente e desapareceu.

— Boa sorte, é…?

Na floresta próxima ao castelo, Hayakaz estava socando árvores para se acalmar.

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— Droga! Primeiro o Elphaseus morreu, depois o Garrik e o Hexoth tiveram um colapso, e agora isso! Por
que tudo tá dando errado?!

— Acho que bater em galhos não vai te ajudar — disse uma voz vinda do nada.

— Quem tá aí?!

— Não lembra da minha voz? — Uma massa de energia preta começou a surgir e logo tomou a forma de
Rameel.

— Você!

— Bom dia pra você também, Hayakaz.

— Para de brincar e me responde! O que foi aquele sonho? Como você sabia o que ia acontecer com o
Hexoth?

— Bom, porque o Dartanham me contou.

— O que?! Então você também tá com ele?!

— Na verdade… não! É mais um “me ajuda, que eu te ajudo”, saca?

— O que?!

— Dá pra parar de gritar, sua garganta não dói não? — Rameel tapou a região dos ouvidos.

— Ah… foi mal… ta tudo dando errado…

— Bom, respondendo a sua pergunta: Eu só estou dando uma mãozinha pra ele pois ele é um velho amigo.

— Velho amigo?

— Isso não vem ao caso. Bom, eu sei que você se sente traído por ele, mas se você realmente quiser proteger
todos, acho que você vai precisar dele

— Do que você tá falando?

— Não reparou? Quando ele treinou vocês, vocês voltaram muito mais fortes.

— Você está observando a gente a quanto tempo?

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— Aaaaah, eu não diiiiigo! — Rameel juntou as mãos na região das bochechas e começou a girar, como se
estivesse envergonhado.

— Para de brincar, desgraçado!

— Ui! Que brabo! Bem, eu entendo a sua desconfiança. Você desconfia do Dartanham, pois ele não salvou o
Elphaseus, não é?

— Então você sabe até disso…

— Eu entendo você, vocês conviveram por pouco tempo, mas você sentia que ele era importante, não é?

— Sim… mesmo que eu só o conhecesse a poucas horas, eu sentia como se eu tivesse que me aproximar
dele… como se ele precisasse de mim… como se…

— Como se…?

— Não é nada, só esquece!

— Bom, o Dartanham pode ser muito suspeito, e ele é, mas ele é uma boa pessoa, ou demônio, e ele não é
do tipo que dá ponto sem nó, então ele deve ter um plano pra ajudar vocês, eu acho.

— E como você garante isso?

— Bom, se você quer uma garantia… — Rameel estendeu a mão — Eu juro que se ele for o vilão no final,
eu ajudo vocês a se livrarem do presunto.

— Presun… Ah! Hahaha! — Hayakaz arregalou os olhos e começou a rir. — Ok, você me surpreendeu.

— Finalmente você tirou essa cara de defunto, confia em mim agora?

— Certo, certo. Você parece mais confiável que o Dartanham, eu confio em você. — Hayakaz estendeu a
mão para Rameel.

— Ser mais suspeito que ele é bem difícil. — Rameel apertou a mão de Hayakaz. — Bom, eu tenho que ir
agora, mas antes, não fala de mim pra ninguém, beleza?

— Por que?

— Eles vão te chamar de louco…

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— Como as… — Antes que Hayakaz pudesse terminar, Rameel se transformou em sombras e desapareceu.
— Droga, ele nem me deixou terminar a pergunta!

Após alguns minutos, Hayakaz estava de volta ao castelo, onde encontrou Dartanham.

— Ola, meu lo…

— O Hexoth e o Garrik já acordaram?

— Sim, meu senhor. Eles o esperam na sala de jan…

Antes que Dartanham pudesse terminar, Hayakaz subiu as escadas, indo até a sala de jantar. Ao chegar lá,
ele abriu um sorriso e disse:

— Vocês dormiram bastante, heim?

— Desculpa, eu acabei deixando meus sentimentos me tomarem… — disse Hexoth.

— Eu não acredito que minha serva se voltou contra nós… — falou Garrik.

— Bom, chega de fazer cara de defunto. Vamos resolver esses problemas, o do Hexoth primeiro, ele parece
mais simples. — Hayakaz puxou uma cadeira e se sentou.

— Nunca pensei que eu diria isso, mas você tem razão, começamos por onde? — perguntou Garrik.

— Pelo que o mensageiro do Papa disse naquele discurso, aquela garota que ele quer proteger vai ser
executada à meia noite, daqui a três dias e três noites.

— Vocês realmente estão preocupados com isso? Esse problema não é importante… — Hexoth abaixou sua
cabeça.

— Como ele falava, Garrik? — falou Hayakaz

— “Se você acha que não é digno de viver, por causa dos seus erros… então torne-se digno!” — falou
Garrik.

Ao ouvir aquelas palavras, os olhos de Hexoth se encheram de lágrimas e um enorme sorriso surgiu em seu
rosto.

— Vocês… vocês são os melhores amigos que eu poderia ter, haha! — Hexoth se levantou e abraçou os
dois.

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— Argh! Acho que ouvi minhas costelas quebrando… — disse Hayakaz.

— Hexoth… eu não consigo… respirar… — falou Garrik.

Após Hexoth soltá-los, os três começaram a rir da situação.

— Bom, qual o plano? — falou Hexoth.

— Antes, tem algumas coisas que vocês precisam saber… — disse Hayakaz.

Hayakaz então explicou tudo que Hayakaz havia contado, tanto sobre sua restrição quanto sobre saber de
seus futuros. Após isso, ele se levantou da cadeira e disse:

— Talvez a gente deva deixar ele por perto, pra monitorar.

— Realmente… ele é absurdamente forte… — falou Hexoth.

— Ele disse que não pode interferir no nosso futuro, então ele não pode se virar contra nós. — Garrik coçou
o queixo.

— Você tem razão, mas talvez ficar de olho nele seja a melhor opção. Melhor tomarmos cuidado — disse
Hexoth. — Mas então? Qual o plano, estrategista?

— Me diga você, Hayakaz. Você começou com isso.

— Me sigam!

Após dizer isso, Hayakaz desceu as escadas e foi até a entrada, onde Dartanham estava.

— Dartanham, temos que conversar! — disse Hayakaz.

— O que desejam, meus lo…

— Eles já sabem de tudo!

— Entendo… os senhores devem querer que eu me retire, estou certo?

— Errado!

Ao ouvir isso, Dartanham arregalou os olhos sem entender nada.

— Nós vamos salvar a garota na jaula e queremos que você nos treine para isso! — Hayakaz abriu um
sorriso.

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Capítulo 8: Correntes de Vidro.
Após alguns minutos, os quatro estavam reunidos na frente da entrada do castelo, suas roupas estavam
totalmente reparadas e seus ferimentos haviam sido curados.

— Estão todos prontos, meus lordes? — perguntou Dartanham.

— Estamos — disse Hexoth.

— Vamos logo — falou Hayakaz.

— Certo, certo. — Dartanham bateu as duas mãos, gerando um som que ecoou por todo o local, e então os
três lordes se viram novamente em uma enorme planície de grama.

— Não importa quantas vezes ele faça isso, é sempre muito estranho — falou Hayakaz.

— Fiquem atentos, ele deve começar logo! — Garrik entrou em posição de defesa e invocou suas pistolas
tubarão. — Despertem e cacem… Disparadores Tubarão!

Após alguns segundos, Dartanham apareceu em sua forma demoníaca, sua presença era tão forte que
chegava a ser sufocante.

— Muito bem, meus senhores. Vejo que já estão em posição de luta.

— O que vai ser dessa vez? Vai bater na gente até cansar, que nem na última vez? — disse Hayakaz, dando
uns passos para trás.

— Quase isso, lorde Hayakaz. Primeiro irei lhes ensinar a despertar e controlar seus poderes. Se
conseguirem fazer isso, eu vou lhes demonstrar uma técnica que pode ser útil em um futuro próximo, e depois irei
lhes ensinar a realizá-la.

Os três lordes se olharam sem entender nada, e então Hexoth disse:

— Agora as coisas estão interessantes. Vamos de Águia de Sangue! — Hexoth olhou para os dois e então
partiu na direção de Dartanham, que bloqueou a espada com as mãos.

— Arrume sua postura! — Dartanham golpeou o tríceps e as costas de Hexoth, mudando sua formação.

— Droga! Presas de Serpente! — A lâmina de Hexoth então se transformou em uma serpente que tentou
morder Dartanham, que apenas se virava de lado para desviar.

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— Atacar de maneira disforme é uma estratégia interessante, mas isso pode te deixar mais desprotegido que
um ataque coordenado… — Dartanham correr na direção de Hexoth, desviando da serpente como se não fosse
nada, e então golpeou Hexoth com a palma da mão esquerda, o arremessando para longe. — Um inimigo que sabe
seus padrões é um grande problema, mas um inimigo que consegue ver através de seus ataques é ainda pior.

— Argh! Eu sei! Você falou a mesma coisa da última vez. — Hexoth correu novamente na direção de
Dartanham, mas ao invés de o golpear com sua serpente, ele a fez entrar dentro do solo — Armadilha de Lâminas!
— e de repente diversas lâminas saíram do solo, prendendo Dartanham.

— Interessante… Essa foi uma boa armadilha, mas você sabe que isso não vai me parar por muito tempo,
estou certo?

— Já é tempo suficiente! — Hexoth abriu um sorriso e olhou na direção de Garrik, que estava carregando
um ataque com suas pistolas.

— Disparo Marinho! — Garrik então disparou na direção de Dartanham, que quebrou as lâminas que o
prendiam e tentou esquivar, mas teve seu braço esquerdo explodido.

— Argh! Ok! Isso foi uma estratégia surpreendente, mas… — Antes que Dartanham pudesse terminar, seu
braço direito foi decepado. — O que?

De repente Hayakaz apareceu do lado de Dartanham, seus braços haviam se tornado enormes asas de águia,
suas penas eram tão afiadas quanto a lâmina de uma espada. — Asa de Águia!

— Eu não era a única distração, professorzinho. Hahaha! — disse Hexoth.

Dartanham arregalou os olhos com a situação, e então abriu um sorriso.

— Duas distrações seguidas, realmente surpreendente.

— Se você tem tempo pra falar, tem tempo pra desviar! — Hexoth correu na direção de Dartanham — Lobo
de Guerra, agora!

Hexoth tentou golpear Dartanham, que agora tinha dificuldade para desviar.

— Trocar — falou Hayakaz, saindo de trás de Hexoth e tentando socar Dartanham. — Garras de Lobo!

Após isso, Hayakaz começou a pressionar Dartanham, o fazendo recuar.

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— Seus socos realmente estão cheios de raiva e força, mas você cometeu o mesmo erro do senhor Hexoth.
— Dartanham começou a investir contra Hayakaz, desviando de seus socos e então chutou Hayakaz, criando uma
nuvem de poeira. — Golpes aleatórios geram aberturas aleatórias.

Quando a poeira baixou, Dartanham arregalou seus olhos. Seu chute havia sido bloqueado por Hayakaz.

— Quem disse que eram aberturas aleatórias? — Hayakaz abriu um sorriso e então olhou para Hexoth. —
Agora!

— Corte Sombrio! — falou Hexoth, imbuindo sua espada em sombras enquanto a descia com toda a força.

— Disparo Marinho! — disse Garrik, disparando contra Dartanham.

O impacto do disparo e do corte gerou uma enorme explosão, tanto de energia quanto de poeira, e conforme
a poeira ia se dissipando, Garrik ia se aproximando em guarda alta. Após a nuvem se dissipar totalmente, Garrik
pode ver o resultado dos ataques: os braços de Dartanham haviam se regenerado totalmente e criado dois escudos
de pedras, um para bloquear o golpe de Hexoth e o outro para bloquear o golpe de Garrik.

— Droga, não pensei que sua regeneração fosse tão rápida… — disse Hexoth.

— E eu não pensei que a sua Criação conseguisse segurar o Hexoth e o Garrik — falou Hayakaz.

— O plano dos senhores foi muito bom, conseguiram me obrigar a usar a Criação, foi um grande feito.

— Droga, a gente não consegue nem furar a sua defesa — reclamou Hayakaz.

— Com tempo e treino, os senhores vão voltar a seus ápices de poder… Mas há algo que eu não entendi.

— O que quer dizer com isso? O que você não entendeu? — Perguntou Garrik.

— Eu não disse que teríamos um treino de combate…

— Ah não. — Hayakaz bateu em seu próprio rosto com a palma da mão.

— Eu disse que iríamos treinar a liberação e controle de seus poderes.

— Droga! Então a gente apanhou de graça?!

— Digamos que… sim, meus lordes.

Ao ouvirem isso, os três sentaram no chão, de cabeça baixa. Após alguns segundos, Hexoth olhou para
Dartanham e disse:

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— Bom, se não viemos para tomar uma surra, como vai ser o tal treino?

— Meditação, meu lorde.

— É o que? — disse Hayakaz.

— Isso mesmo, meu lorde, os senhores vão passar todo o treinamento meditando.

— Já aviso que isso não vai dar certo…

Enquanto os lordes treinavam, havia uma grande movimentação de pessoas por todos os lados da catedral.
Klaus se movia em meio às pessoas, com algo em suas mãos, desviando de todas as pessoas que passavam por
perto.

— Desculpe, senhor Klaus! — disse uma atendente que quase esbarrou nele.

— Não foi nada, não se preocupe. Você não me acertou, afinal — respondeu Klaus, com um sorriso
carismático no rosto.

Após isso, Klaus continuou andando, até passar por uma escada circular. Seus tijolos eram requintados,
eram dourados e bem cuidados, como os tijolos de um castelo. Ao chegar no topo da escadaria, Klaus pode ver
uma enorme gaiola dourada que parecia ser projetada para pássaros, dentro dela repousava a garota de pele cinza e
cabelos brancos, Kagura.

— Senhorita? Aqui está seu almoço — disse Klaus, entregando a coisa que carregava: uma vasilha com
uma boa quantidade de comida e uma jarra de água.

— Obrigado, senhor Klaus — disse ela, pegando o almoço e comendo lentamente, com um pequeno sorriso
no rosto.

De repente uma pequena bolinha brilhante surgiu rodeando Karura.

— Você fez um novo amigo? — perguntou Klaus, com um pequeno sorriso.

— Eu não sei ao certo… esse vagalume apareceu hoje cedo e resolveu ficar…

— Ele parece gostar de você.

— Não… eu não teria esse direito… — Kagura tentou forçar um sorriso, mas Klaus percebeu.

— Sinto muito… Eu não consegui impedi-los…

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— Não se preocupe… Isso ia acontecer uma hora ou outra… E você esteve junto de mim o tempo todo,
você já fez mais do que devia…

— Mas…

— Não se preocupe… Eu apenas quero que você faça o que tem que ser feito, por favor.

— Eu… Tudo bem… — Klaus concordou com a cabeça e saiu do local. — Me desculpe, pequena flor…

Após isso, Klaus trancou a porta que dava passagem à gaiola e começou a descer as escadas.

“Pobre criança, nascer com um poder tão profano em suas mãos…”, uma pequena sombra se manifestou no
ombro de Klaus.

— Não! Ela não nasceu assim, Pandora! — disse Klaus, com um olhar repleto de ódio. — É tudo culpa
dele! Ele amaldiçoou a Kagura!

“Você está certo… É tudo culpa de Hexoth…”, a sombra se posicionou atrás de Klaus e colocou as mãos ao
redor do pescoço dele.

— Sim… Ele causou tudo isso!

“Igual fez com a Hen…”

— Sim! Todas essas coisas são culpa dele! Ele tirou a vida da Hen, e agora vai matar a Kagura!

“Só há uma forma de terminar isso…”

— Sim… — Olhar de Klaus estava completamente ameaçador. — Ele tem que morrer!

Enquanto isso, na dimensão de treino, os três lordes estavam em postura de diamante, de olhos fechados e
com as mãos nos joelhos.

— Os senhores precisam respirar calmamente — disse Dartanham, golpeando o peito de Hexoth — e


precisam se concentrar no fluxo de mana pelo corpo. — Dartanham golpeou a nunca de Hayakaz.

— Ai! Vai com calma, cara!

— Concentrem-se! Os senhores não podem perder o foco em uma batalha de magia, senão, podem acabar
perdendo o controle e machucando a si mesmos no lugar do inimigo.

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Ao ouvir isso, Hexoth arrumou sua postura e voltou a se concentrar, e de repente escutou uma voz ecoar em
sua mente.

“Salve-a…”, disse a voz.

Quanto mais Hexoth tentava se concentrar, mais ouvia a voz ecoar.

“Cale-se!”, pensou Hexoth, que de repente se viu em um enorme vazio negro.

— Mas qu… — Antes que Hexoth pudesse terminar, ele viu um enorme olho pairando pelo ar.

“Salve-a… Você deve salvá-la…", a voz ecoava por todo o lugar.

Então, enormes mãos vermelhas começaram a sair debaixo de Hexoth e começaram a puxá-lo para baixo,
tentando o afundar no vazio

— O que? Que droga é essa?! — disse Hexoth, golpeando as mãos com sua espada.

“Salve-a! Salve-a! Salve-a!”, a cabeça de Hexoth se encheu dessas vozes, ele mal conseguia ouvir a própria
voz e os próprios pensamentos.

— Chega! — gritava Hexoth, enquanto era puxado para baixo, até sobrar apenas a sua cabeça.

— Hexoth! Acorda, Hexoth! — Hexoth acordou com Hayakaz o sacudindo e dando tapas em seu rosto.

— O que… aconteceu? — perguntou Hexoth.

— Cara, você tá bem? Você começou a liberar mana adoidado e gritar! Tá tudo bem?

— Eu… não sei. Eu não me lembro o que aconteceu. — Hexoth colocou a mão na cabeça, tentando se
lembrar do que havia acontecido. — Minha cabeça tá doendo pra caramba!

— Talvez o senhor deva descansar um pouco… — disse Dartanham.

— Não! Eu vou ficar bem, vamos continuar! — gritou Hexoth, com um olhar fulminante.

— O senhor tem certe…

— Vamos! Continuar!

— … — Dartanham abaixou a cabeça. — Certo, meu lorde.

Após alguns segundos, Hexoth estava novamente na postura de diamante, tentando meditar.

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— Senhor Garrik, o senhor está deixando sua mana escapar do controle.

— Ah? Droga! — Garrik respirou fundo e voltou a se concentrar.

— Senhor Hayakaz, arrume sua postura e mantenha o foco.

Enquanto Dartanham tentava colocar Hayakaz nos eixos, Garrik tentava manter o foco e meditar
corretamente, quando de repente, a visão dos elfos mortos veio à sua mente, o fazendo liberar a mana contida.

— Argh! Droga!

— O senhor precisa manter o foco em apenas um pensamento.

— Ta! Mas pra que a gente tá treinando isso? — disse Hayakaz.

— Tendo controle de seu foco, é possível não demonstrar sua vontade assassina, além de que assim sua
mana não sairá do controle. Agora, volte para a meditação.

Garrik respirou fundo e tentou se concentrar novamente, mas toda vez que fechava os olhos, as imagens do
massacre vinham à sua mente.

— Argh! Já chega! Eu cansei disso! — disse Garrik, se levantando.

— Fique calmo, meu lorde. Isso não é algo difícil.

— Se é tão fácil, faça você! Eu já me cansei disto! — Garrik arrumou suas roupas. — Abra a fenda!

— Mas, meu lo… —

— Agora!

— Certo… — Dartanham começou a desenhar símbolos no ar, e então criou uma fenda na frente de Garrik,
que atravessou sem olhar para trás.

— Ele só precisa de um tempo. Ele não quis dizer aquilo — falou Hexoth, de olhos fechados tentando
controlar sua respiração.

Dartanham não respondeu, apenas abaixou a cabeça e continuou os guiando. O tempo foi passando, foram
segundos que se tornaram minutos, minutos que se tornaram horas e, por fim, horas que se tornaram três dias.
Garrik não apareceu em nenhum dos outros dias de treino, exceto no último dia.

— Todos estão prontos? — disse Dartanham, parado em frente aos três lordes.

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— Óbvio! Cai dentro! — disse Hayakaz, com um sorriso no rosto.

— Claro! — Hexoth entrou em guarda, segurando sua katana.

— Vamos logo com isso… — disse Garrik, com seu arco empunhado.

Ao ouvir isso, Dartanham concordou com a cabeça e começou a desenhar um símbolo em seu peito, e logo
após isso um clone dele surgiu ao seu lado.

— Este clone pode não ser tão forte, mas ele é necessário para o que irei lhes mostrar. Vocês precisarão de
alguém com um corpo parecido com o de vocês.

— Tá, mas o que você vai mostrar, afinal de contas? — perguntou Hayakaz.

— Acalme-se, meu lorde, esta técnica leva um bom tempo, mas é muito poderosa. — Dartanham então
colocou a mão no ombro de seu clone e ambos começaram a liberar mana na forma de aura. — Você terá que
igualar a sua mana com a de seu parceiro, isto evitará uma separação instantânea!

— Separação instantânea?

— Me dê seu poder, que eu te darei o meu, e então nos tornaremos um só com a mana… — Dartanham e
seu clone começaram a recitar o feitiço juntos. Alguns segundos após isso, o sorriso gentil de Dartanham foi
substituído por um olhar de desgosto, um enorme clarão se formou, forçando os lordes a fecharem os olhos. —
Magifusão!

— Fusão?! — Os três lordes falaram juntos.

Após alguns segundos, o clarão começou a se desfazer, revelando uma versão um pouco diferente de
Dartanham. Seus cabelos e chifres estavam muito mais longos, seu corpo parecia mais velho e suas roupas
pareciam iguais.

— O que aconteceu? Ele parece igual! — disse Hayakaz, ainda de guarda alta.

— Hayakaz… Eu não consigo sentir a força dele! — Hexoth arregalou seus olhos e colocou sua espada em
bloqueio.

— Espera! Você tá dizendo que ele tá tão forte que nem você consegue saber o quão forte ele tá?! —
Hayakaz deu um passo para trás. — Você só pode tá me zoando!

— Vamos acabar logo com isso, senhores — disse Dartanham, mas sua voz parecia uma junção de duas
vozes iguais.

-97-
Hayakaz olhou para os outros dois e disse: — O que a gente faz agora?

— Eu… quero muito lutar com ele! — disse Hexoth, com um olhar maníaco em seu rosto.

— Calma, Hexoth! A gente tem que… — Antes que Hayakaz pudesse terminar, Hexoth saltou na direção de
Dartanham.

— Corte Som…! — disse Hexoth, mas Dartanham apenas deu um passo para frente e Hexoth foi
arremessado para longe.

— Hexoth! — gritou Hayakaz. — O que você fez, Dartanham?!

Hayakaz pulou na direção de Dartanham, que apenas se movia alguns centímetros para os lados para desviar
de todos os golpes de Hayakaz.

— Disparo Marinho! — Garrik disparou contra Dartanham, que parou seus golpes com a palma das mãos.

— Você é… fraco!

— Asa de Águia! — Hayakaz tentou o golpear com suas asas, mas não conseguiu nem se aproximar.

— O que está fazendo? — perguntou Garrik, carregando outro disparo.

— A técnica da fusão não apenas junta suas forças, mas aumenta esse resultado de maneira exponencial…
— Dartanham se aproximou de Hayakaz e acertou um chute, o arremessando contra uma parede de pedras que
surgiu no mesmo instante. — Se os senhores não puderem me vencer… Como pretendem mudar este mundo?

— Argh! — Hayakaz foi obrigado a recuar, com sangue escorrendo por todo o seu corpo e um braço
inutilizado. — O que a gente faz, Garrik?!

— Lutar não parece uma boa opção, mas ele não para de atacar!

— O que aconteceu, meus lordes? Os senhores não queriam criar um novo mundo? Como vão fazer isso se
não podem nem me vencer? O exército do Grande Lúcifer não precisa de demônios fracos!

— Ora, seu…! — Garrik transformou seu arco nas pistolas de tubarão — Disparadores Tubarão!

— Eu não cai ainda! — De repente, Hexoth surgiu do céu com sua espada embainhada em sombras, não
apenas suas espada, quase todo seu corpo estava coberto por elas. Ele havia entrado em sua forma demoníaca. —
Eu não vou perder uma luta tão maravilhosa com apenas um golpe!

— Disparo Mari… — Antes que Garrik pudesse terminar, Hayakaz colocou a mão em seu ombro.

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— Eu tenho um plano. Segura ele por três minutos!— Os olhos de Hayakaz estavam mais sérios do que
nunca.

— … — Após pensar por alguns segundos, Garrik concordou.

Cada espadada de Hexoth fazia Dartanham recuar, o pressionando com mais e mais força.

— Não vai vencer se apenas me fazer recuar. Seus ataques são fracos demais para me ferir! — disse
Dartanham, empurrando a katana de Hexoth com as duas mãos.

— Hahaha! Se você me bloquear, é só eu bater de novo e de novo até quebrar sua defesa! — Hexoth puxou
sua espada com a mesma velocidade que a chocou contra Dartanham novamente. A cada golpe, Dartanham sentia
que Hexoth ia ficando mais forte.

“Ele estava escondendo a força?!” Dartanham continuou bloqueando, até que a katana de Hexoth conseguiu
lhe causar um pequeno corte.

— Eu não vou perder! Eu não posso perder! — As sombras da espada de Hexoth começaram a reduzir de
tamanho.

— Já chega de brincar! — Dartanham então golpeou Hexoth na região do estômago, o arremessando


novamente ao chão. — Eu vou matar vocês três e terminar o que vocês não conseguiram.

— Disparo Marinho Sequencial: Chuva Caótica! — Garrik começou a disparar dezenas de flechas d'água
na direção de Dartanham, o fazendo recuar.

— O senhor já começou a enlouquecer? Uma hora você irá ficar sem mana… — Após Dartanham dizer
isso, a frequência de disparos de Garrik começou a diminuir. — Seu tempo está acaban…

Antes de Dartanham acabar de falar, uma enorme lâmina de sombras surgiu perto do seu pescoço, o fazendo
recuar.

“Ele não reduziu os disparos por estar ficando sem mana…”, pensou Dartanham.

— Ta recuando por que? Você não ia matar a gente?! Responde! — Hexoth surgiu em meio aos disparos e
começou a golpeá-lo.

“Ele reduziu para que o Hexoth pudesse se aproximar!”

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Após isso, Dartanham começou a bloquear os disparos de Garrik com um de seus braços, enquanto
bloqueava as espadadas de Hexoth com o outro. Conforme ia bloqueando, ele uma camada de pedras ia surgindo
ao redor de seus braços, o protegendo dos golpes.

“Se eles continuarem assim, eu vou ceder em algum momento. Tenho que mudar o ritmo da…”, antes que
Dartanham pudesse fazer algo, um disparo passou por sua defesa e o acertou no ombro, o desestabilizando e
permitindo que Hexoth acertasse mais um golpe.

— Argh!

— Desapareça! Corte Sombrio! — Hexoth levantou sua espada e as sombras começaram a se expandir em
sua lâmina.

Ao ver a lâmina de Hexoth se aproximar, Dartanham levantou seus braços para bloquear, mas uma força o
empurrou contra o chão, o impedindo de bloquear e o fazendo receber o corte em cheio, tendo seu braço esquerdo
e perna esquerda decepados.

“Um encantamento?! Mas quem…?!”, pensou Dartanham, caído no chão.

— Caia! — recitou Hayakaz, apontando para Dartanham com as duas mãos juntas. — Eu não curto usar
encantamentos, sabe? Mas vou abrir uma exceção pra você… Pare!

Ao ouvir o encantamento, o corpo de Dartanham foi completamente paralisado, permitindo que Hexoth e
Garrik o golpeassem novamente. Cada golpe acertado era capaz de atravessar a camada de pedras, causando dano
direto em Dartanham.

— Onde… você… aprendeu… isso?! — disse Dartanham, tentando se levantar, mas falhando
miseravelmente.

— Eu aprendo as coisas bem rápido… Eu só tive que ver o Azazel usando…

“Vou ter que usar isso! Espero que esse corpo suporte!”, pensou Dartanham, que logo depois usou todas as
suas forças para se levantar, contrariando o encantamento, e então começou a liberar uma quantidade enorme de
mana, fazendo Hexoth recuar.

— Maldição Desperta: Luar Absoluto! — Sombras começaram a surgir ao redor de Dartanham, se tornando
um manto de pura escuridão.

Quando as sombras se dissiparam, Dartanham estava coberto por uma armadura completamente negra, um
enorme par de asas, também negras, havia surgido em sua costas e uma silhueta de uma lua cheia havia surgido

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acima de sua cabeça. A pressão liberada por ele fez Hexoth e Garrik caírem de joelhos, enquanto Hayakaz estava
completamente paralisado.

Dartanham então foi até Hayakaz, passando ao lado de Hexoth, que não conseguia se mexer e disse: —
Você me surpreendeu, senhor Hayakaz, mas nenhum encantamento seu irá funcionar em mim, agora. Sua carta na
manga foi feita em pedaços…

— Como… você…?

— Esta é a minha Maldição Desperta… o ápice do meu poder.

— Por que… você está… fazendo isso?

— No começo, eu acreditava que os senhores apenas estavam escondendo suas forças, mas com o passar do
tempo eu percebi que os senhores já estavam dando tudo de si mesmos… logo, se os senhores conseguiram causar
uma guerra apenas com essa força tão deprimente, o meu poder seria muito mais do que o suficiente para purificar
a humanidade. Eu cansei de abaixar minha cabeça para as besteiras de vocês… Sempre que o senhor Garrik se
cansa de algo, ele desiste na mesma hora! O Senhor Hexoth pensa apenas em lutar e lutar, não consegue se
concentrar em algo simples! E o senhor… você não se destaca em nada! É o mais fraco dos outros lordes! Você é
mesmo um lorde demônio?!

— Hahaha…

— Do que está rindo? — Dartanham pegou Hayakaz pela gola do kimono e o levantou na altura dos olhos.

— Do que eu to rindo? Hahaha! Dessas suas falas de merda! Hahahahaha!

— Então você ainda consegue falar asneiras… — disse Dartanham, ao dar um soco no rosto de Hayakaz, o
fazendo cuspir sangue.

— Mas… o mais engraçado… é como você… o “Todo-Poderoso-Dartanham”... caiu em uma armadilha tão
simples!

Ao ouvir isso, Dartanham reparou na enorme quantidade de mana se acomulando ao seu redor.

— Maldito!

— Liberte as chamas do inferno: Purgatório! — Após Hayakas dizer isso, um enorme clarão vermelho se
formou ao redor dos dois, para logo assumir a forma de uma enorme lâmina de chamas que acertou os dois em

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cheio, sem deixar nem mesmo suas silhuetas. A lâmina era vermelha como o sangue, mas brilhava como o sol,
destruindo tudo em seu caminho.

“Eu detesto ter que admitir isso… mas acho que você tava certo… são eles…”, pensou Dartanham, antes de
desaparecer no clarão de chamas.

Após alguns minutos, a enorme lâmina começou a se desfazer, deixando uma enorme cratera em seu lugar.
Quando Hexoth e Garrik acordaram, eles estavam em frente ao castelo e estavam intactos, mas não havia sinal
nem de Dartanham e nem de Hayakaz.

— Nós… voltamos? — perguntou Hexoth, com a mão na nuca.

— Aquele maldito do Hayakaz colocou um encantamento de proteção na gente… Ele realmente pensou em
tudo. — Garrik estava limpando suas roupas, que estavam suja de poeira.

— Eu ainda to sentindo a mana dele, parece que ele também colocou uma medida de segurança em si
mesmo. — Hexoth estava olhando os arredores, na esperança de ver Hayakaz.

Após alguns segundos, um enorme casulo de terra e pedras saiu do chão, sua estrutura estava muito
danificada, mas ainda estava fechado.

— Mas que… — Antes que Hexoth terminasse, o casulo começou a se desfazer, revelando Dartanham, que
estava com sua aparência original, mas cheio de ferimentos e caído no chão.

— Essa foi… cof cof… por pouco… não acha?

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