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Guia de Contratações

Públicas de
Inteligência Artificial
Guia de Contratações
Públicas de
Inteligência Artificial
Clara Langevin
Project Lead, AI/ML, C4IR Brasil

Rafael Carvalho de Fassio


Procurador do Estado de São Paulo e Government
fellow, AI/ML, World Economic Forum

MEMBROS FUNDADORES

PARCEIROS INSTITUCIONAIS

O conteúdo desta publicação não reflete, necessariamente, opinião ou posicionamento


dos membros do C4IR Brasil nem do Fórum Econômico Mundial
Comitê Executivo do C4IR Brasil
Presidente
Patricia Ellen da Silva
Secretária de Desenvolvimento Econômico, Estado de São Paulo

Vice-Presidente
Fernando Silveira
Associação Brasileira da Indústria de Tecnologia para Saúde

Membros
Eduardo Lopes
Meta

Francisco Soares
Qualcomm

Igor Calvet
Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, Governo Federal

Jackline Conca
Subsecretária de Inovação e Transformação Digital,
Ministério da Economia, Governo Federal

Julio Silvestre
Bracell

Liedi Bernucci
Instituto de Pesquisas Tecnológicas, Estado de São Paulo

Milene Coelho
Astrazeneca

Paulo Alvim
Secretaria de Empreendedorismo e Inovação, Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovações, Governo Federal

Saul Mendonça
Eletrobras

Licença
Este material pode ser citado, adaptado e compartilhado por qualquer meio ou
formato, desde que para fins não comerciais e com indicação de seus autores.

Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0)


Índice
Comitê Executivo do C4IR Brasil_________________________________________________________3

Sobre o C4IR Brasil_________________________________________________________________________6

Prefácios____________________________________________________________________________________7
República Federativa do Brasil . ........................................................................................................... 7
Estado de São Paulo . ............................................................................................................................ 8
Fórum Econômico Mundial .................................................................................................................. 9

Sumário Executivo_______________________________________________________________________ 11

1. Introdução_____________________________________________________________________________ 13
1.1. O que é o AI Procurement in a Box?.......................................................................................... 14
1.2. Por que criar uma versão brasileira?......................................................................................... 16

2. O estado da arte no emprego de IA no setor público no Brasil_________________ 17


2.1. Como a IA tem sido usada pelo Poder Público no Brasil?....................................................... 19
2.2. Por que o setor público opta pelo desenvolvimento interno de soluções de IA?................ 24

3. Diretivas para contratações públicas de inteligência artificial_________________ 28


3.1. Adotar, sempre que possível, o emprego de procedimentos de contratação pública de
inovação para adquirir soluções de IA............................................................................................. 28
3.2. Avaliar os riscos e os benefícios que o emprego de IA pode trazer para a resolução do
problema subjacente à contratação................................................................................................. 34
3.3. Promover o alinhamento da contratação com os objetivos de estratégias nacionais
e locais envolvendo IA........................................................................................................................... 37
3.4. Incorporar todas as exigências da legislação referente à proteção de dados e boas
práticas aplicáveis à solução de IA......................................................................................................39
3.5. Assegurar a acessibilidade, sob o ponto de vista técnico, dos dados necessários
ao uso de IA.......................................................................................................................................... 42
3.6. Avaliar a qualidade, os vieses e eventuais preconceitos dos dados disponíveis................. 44
3.7. Constituir uma equipe diversa e multidisciplinar para acompanhar a contratação de IA... 47
3.8. Incorporar ao procedimento de contratação critérios que assegurem a transparência,
responsabilidade e prestação de contas sobre os algoritmos...................................................... 49
3.9. Prever obrigações de transferência de conhecimento e rotinas de avaliação de riscos
da solução de IA no longo prazo....................................................................................................... 51
3.10. Garantir isonomia no tratamento e igualdade de condições aos fornecedores de
soluções de IA...................................................................................................................................... 53

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 4


Índice

4. Estudo de caso: Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da


Universidade de São Paulo_____________________________________________________________ 58
4.1. Qual o problema que o Hospital das Clínicas pretendia resolver?........................................ 58
4.2. Quais foram as mudanças realizadas pelo Hospital das Clínicas para solucionar o
problema de integração de dados?.................................................................................................. 60
4.3. Quais tecnologias foram adotadas para a integração dos bancos de dados?
Quais as principais etapas desse processo?.................................................................................... 61
4.4. Por que a IA foi escolhida como alternativa técnica pelo HCFMUSP?................................... 61
4.5. Quais os principais desafios, gargalos e dificuldades identificadas para o uso de
dados na área da saúde?.................................................................................................................... 62
4.6. Indique quais recomendações e boas práticas a experiência do Hospital das Clínicas
gera para outros órgãos e entidades públicas.................................................................................. 63

5. Estudo de caso: aplicação de IA na manutenção de trens e vias do


Metrô de São Paulo______________________________________________________________________ 65
5.1. Qual o problema que o Metrô de São Paulo buscava resolver?............................................. 65
5.2. Qual foi a modalidade de contratação escolhida? Por quê? Quais as principais etapas
desse processo de contratação?........................................................................................................ 67
5.3. Por que a IA foi escolhida como alternativa técnica na solução?.......................................... 69
5.4. Porque adotar as diretivas do Fórum Econômico Mundial? Como as diretivas
contribuíram para este processo?..................................................................................................... 70
5.5. Como foi o processo de adaptação das diretrizes ao contexto brasileiro?.......................... 70
5.6. Quais recomendações e boas práticas o caso do Metrô de São Paulo deixa como
legado para outros órgãos e entidades públicas?.......................................................................... 70

Apêndice: Avaliação de Impacto Algorítmico________________________________________ 72

Bibliografia_______________________________________________________________________________ 85

Agradecimentos__________________________________________________________________________ 90

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 5


Sobre o C4IR Brasil
Em 2017, o Fórum Econômico Mundial inaugurou em São Francisco o Centro
para a Quarta Revolução Industrial (C4IR), que se propõe a ser um espaço
multissetorial para a cooperação público-privada entre governo, academia,
empresas e sociedade civil, com vistas à formulação de políticas públicas e
parcerias que contribuam para o desenvolvimento e aplicação de tecnologias
inovadoras de maneira ética e inclusiva.

Nesse sentido, foram instalados outros Centros administrados diretamente


pelo Fórum (China, Índia e Japão) e Centros Afiliados à Rede C4IR, que são
estabelecidos, operados e gerenciados localmente por governos parceiros,
tais como África do Sul, Arábia Saudita, Colômbia, Emirados Árabes Unidos,
Israel, Ruanda, Turquia, entre outros.

O C4IR já estabeleceu parcerias com mais de vinte países e organismos interna-


cionais e, além disso, conta com a colaboração de organizações transnacionais
de diversos setores. A abrangência de sua rede, bem como a diversidade e
relevância dos atores dela participantes, permite ao C4IR o acúmulo da massa
crítica necessária para a formulação de políticas públicas capazes de facilitar
e acelerar a adoção de tecnologias da quarta revolução industrial.

O C4IR Brasil é uma parceria público-privada entre o Fórum, o governo federal,


o governo do Estado de São Paulo e diversos membros da iniciativa privada
que se uniram para desenvolver políticas públicas em três áreas tecnológicas
de grande impacto: ​​​​(i) inteligência artificial e aprendizado de máquina; (ii)
internet das coisas e transformação urbana; e (iii) política de dados.

Este guia é fruto do trabalho colaborativo entre a equipe do C4IR Brasil e


uma vibrante comunidade de especialistas provenientes do setor público,
do setor privado, da academia e da sociedade civil. Torna-se, assim, uma
contribuição sobre o papel das contratações públicas na promoção da ética
no emprego de soluções de inteligência artificial no setor público brasileiro.

Desejo a todos, em nome do C4IR Brasil, boa e proveitosa leitura!

Lucas Tadeu Melo Câmara


Diretor Executivo do C4IR Brasil

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 6


Prefácios
República Federativa do Brasil
Os últimos anos resultaram em grandes avanços para o
Brasil, com diversas reformas que tornaram o ambiente de
negócios nacional mais dinâmico e aprimoraram o marco
legal e regulatório brasileiro no ramo da Ciência, Tecnologia
e Inovação.

Como resultado, o ecossistema brasileiro - o mais ativo e


diversificado na América Latina - subiu cinco posições no Jackline de Souza Conca
Global Innovation Index (GII) em 2021 (57º), em relação Subsecretária de Inovação
e Transformação Digital,
ao ranking de 2020 (62º) e ganhou novos instrumentos de Ministério da Economia
contratação pública que facilitam a interação público-pri-
vada. É o caso, por exemplo, do novo regime jurídico para
a encomenda tecnológica, regida pelo Decreto 9.283/2018,
e da modalidade especial de licitação prevista no Marco
Legal das Startups e do Empreendedorismo Inovador (Lei
Complementar 182/2021), que permite a realização de testes
com soluções inovadoras para facilitar a incorporação de
tecnologia no setor público.

Em meio a tantas alterações normativas, o presente Guia de


Contratações Públicas de Inteligência Artificial buscou no pro-
Paulo César Rezende
jeto AI Procurement in a Box, do Fórum Econômico Mundial, de Carvalho Alvim
a inspiração para reunir boas práticas internacionais para Secretário de Empreendedorismo
contratação de IA já adaptadas ao contexto e à legislação e Inovação, Ministério da Ciência,
brasileira. O objetivo é transpor as recomendações da teoria Tecnologia e Inovações
para a prática do gestor público, apresentando exemplos e
instruções concretas que abrangem desde a etapa interna
de planejamento até a gestão e execução contratual.

Dessa forma, o material elaborado pelo Centro da Quarta


Revolução Industrial (C4IR) do Brasil alinha-se aos objetivos
da Estratégia de Governo Digital, de 2020, e da Estratégia
Brasileira de Inteligência Artificial (EBIA), de 2021, favore-
cendo a incorporação de critérios éticos em contratações
de IA e orientando gestores públicos e fornecedores sobre
seus riscos e múltiplas possibilidades, de modo a auxiliar o Igor Calvet
país a usufruir dessas tecnologias da maneira mais eficiente Presidente da Agência Brasileira
e justa possível. de Desenvolvimento Industrial
Prefácios

Estado de São Paulo


Inteligência artificial e aprendizado de máquina não são
mais tecnologias do futuro. Expoentes da Quarta Revolução
Industrial e largamente usadas na indústria, no comércio
e no setor de serviços, o emprego dessas tecnologias por
governos do mundo todo sinaliza uma transformação
profunda da Administração Pública rumo à digitalização -
processo já em andamento e que foi bastante acelerado
pela pandemia de COVID-19.

Contudo, seja para otimizar processos internos, seja para


melhorar a prestação de serviços públicos, contratar tecno-
logia exige uma difícil conciliação entre o dinamismo dos Maria Lia P. Porto Corona
processos de inovação e o rigor da legislação de compras Procuradora Geral do Estado,
públicas. Não é por acaso que a contratação é percebida Estado de São Paulo

pelos gestores brasileiros como um dos principais gargalos


a superar, assumindo importância estratégica em meio a
esse desafio.

O Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial


foi elaborado pelo Centro da Quarta Revolução Industrial
do Brasil, em parceria com a União, o Estado de São Paulo
e o Fórum Econômico Mundial, consultando especialistas
do setor público, do setor privado, academia e sociedade
civil. O documento pretende reunir as melhores práticas
internacionais sobre a contratação de IA pela Adminis-
tração, garantindo a incorporação de critérios éticos nas Patricia Ellen da Silva
contratações públicas que tenham por objeto o desen- Secretária de Estado de
volvimento ou a customização de soluções baseadas em Desenvolvimento Econômico,
inteligência artificial. Estado de São Paulo

Em São Paulo foram realizados os dois pilotos para adaptar


as diretivas do Fórum à legislação e ao contexto brasileiro.
Assim, os aprendizados obtidos no Metrô de São Paulo e no
Hospital das Clínicas somam-se aos pilotos já realizados no
Reino Unido, na Índia, no Bahrein e nos Emirados Árabes
Unidos, e representam a contribuição do Brasil para esse
projeto global.
Prefácios

Fórum Econômico Mundial


Acelerada pelo COVID-19, a Inteligência Artificial (IA) está
cada vez mais presente no nosso cotidiano. Os governos,
igualmente, tem percebido os benefícios que tecnologias
como IA e aprendizado de maquina podem trazer para a
prestação de serviços públicos. Soluções baseadas em IA, por
exemplo, tem sido aplicadas a tributação, finanças, saúde
e turismo, contribuindo para ampliar o acesso, a qualidade
e a produtividade das atividades a cargo da Administração
Pública. No entanto, essa tecnologia não é isenta de riscos,
tais como vieses e discriminação, que exigem a adoção de
estratégias de mitigação.

Em junho de 2020, o Fórum Econômico Mundial, em parceria


com o governo do Reino Unido e uma ampla comunidade
de atores internacionais, lançou o projeto AI Procurement
in a Box: um guia prático para acelerar a adoção de IA em Kay Firth-Butterfield
organizações do setor público. Desde sua publicação, vários Head, AI/ML, World
pilotos foram realizados em países como Reino Unido, Emi- Economic Forum
rados Árabes Unidos, Bahrein, Estados Unidos da América,
Colômbia e Japão, por exemplo. O projeto busca auxiliar
os agentes públicos a tomar decisões informadas sobre
o emprego de soluções de IA, estimulando a inovação no
mercado e incentivando o uso de processos mais ágeis
de contratação.

Como destacado nos relatórios do AI Procurement in a Box,


pretende-se que os recursos e documentos elaborados no
âmbito deste projeto sejam disponibilizados publicamente,
como um “documento vivo”, para incentivar a sua ampla
adoção no setor público e permitir que as suas diretrizes e
Hubert Halopé
recomendações evoluam após futuros testes. Destarte, os Platform Curator, AI/ML, World
principais aprendizados obtidos a partir dos pilotos realiza- Economic Forum
dos no Brasil serão futuramente incorporados ao projeto.

O Fórum parabeniza o Centro para a Quarta Revolução


Industrial do Brasil (C4IR Brasil) pelo sucesso dos projetos-
-piloto realizados junto ao Metrô de São Paulo e ao Hospital
das Clínicas. Igualmente, esperamos continuar ampliando
iniciativas voltadas a contratações públicas de IA, em par-
ceria com o C4IR Brasil e a comunidade internacional, a fim
de manter o uso ético e responsável dessas tecnologias.
Prefácios

Fórum Econômico Mundial


Accelerated by COVID-19, Artificial Intelligence (AI) is incre-
asingly embedded into our daily lives. Governments are
more and more aware of the benefits that AI and Machine
Learning can bring to public services. AI applications, for
example, in tax services, finance, health, and tourism, con-
tribute to wider service accessibility to citizens, increased
service quality, and higher organizational productivity.
Nevertheless, this technology bears risks such as bias and
discrimination, which require risk mitigation mechanisms.

In June 2020, the World Economic Forum and its global


multistakeholder community co-designed with the UK
Government the Procurement in a Box package, a pragmatic
guidebook to unlock public-sector adoption of AI. Since its Kay Firth-Butterfield
publication, various pilots, use cases, and guideline adop- Head, AI/ML, World
tions have taken place in the United Kingdom, the United Economic Forum
Arab Emirates, the Kingdom of Bahrain, the United States
of America, Colombia, and Japan, to name a few. It has
helped public officials to make informed decisions about
AI solutions and boost innovation by tapping into market
capabilities and accommodating more agile procurement
processes.

As pointed out in the Procurement in a Box white paper,


these resources are available publicly as a “living document”
to encourage wide adoption as well as ensure the guide-
lines evolve with insights from a range of trials. Hence we’ll
embed the insightful findings from the Brazilian use cases
Hubert Halopé
presented in this paper in our subsequent project iteration. Platform Curator, AI/ML, World
Economic Forum
The Forum congratulates the Centre for the Fourth Industrial
Revolution Brazil (C4IR Brazil) community on the successful
pilot projects with São Paulo Metro and Hospital das Clíni-
cas. We look forward to continuing to develop and extend
the public procurement work on AI with C4IR Brazil and the
global community to keep AI technologies as well as their
use responsible and ethical.
Sumário Executivo
O campo da inteligência artificial (IA) é um dos mais fascinantes dentre as tecnologias da quarta
revolução industrial. De um lado, o seu emprego pode trazer grandes benefícios na economia e
no uso eficiente de recursos, tanto financeiros quanto humanos. De outro, devido à alta escalabi-
lidade e à falta de transparência sobre o funcionamento destas ferramentas, o uso de tecnologias
deve ser empregado com cautela e responsabilidade.

Considerando ambos esses aspectos, o Fórum Econômico Mundial desenvolveu um manual para
auxiliar o setor público a contratar inteligência artificial mitigando potenciais impactos negativos:
o AI Procurement in a Box. Inspirado nesta iniciativa, o C4IR Brasil resolveu expandir o trabalho
original, adaptando-o ao contexto brasileiro. O presente Guia de Contratações Públicas de IA,
portanto, visa auxiliar gestores públicos a navegar a complexa seara de contratações públicas de
IA, apresentando 10 diretivas que reúnem, de forma pragmática, as principais recomendações e
boas práticas internacionais:

Figura 1. Panorama das diretivas do Fórum Econômico Mundial para contratação de IA

Procedimentos de
10 contratação orientados
à inovação 2
Igualdade de tratamento
dos fornecedoes Avaliar o custo-benefício do
uso de IA no setor público
9
3
Transferência de
conhecimento e avaliação Alinhamento com estratégias
de riscos no longo prazo nacionais e locais de IA

8 4
Transferência do algoritimo Incorporar a legislação
e na tomada de decisões e boas práticas aplicáveis
à solução
7

Equipe diversa e 5
multidisciplinar 6 Acessibilidade técnica
dos dados necessários
Avaliar a qualidade,
ao uso de IA
viesesve preconeceitos
dos dados disponíveis

Fonte: elaboração própria.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 11


Sumário Executivo

A adaptação do material às especificidades do contexto e da legislação brasileira foi realizado a


partir de duas experiências concretas de implementação das diretivas no Brasil, que resultam em
dois estudos de caso:

1. Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP). Aqui, a aplica-


ção das diretivas destaca a complexidade de alinhar uma multiplicidade de sistemas de
TI, operando em áreas distintas, a padrões comuns de integração e interoperabilidade
que permitam a subsequente adoção de ferramentas de IA. A experiência do HCFMUSP
ressalta a necessidade de alterações institucionais, aliada a mudanças administrativas e
comportamentais, para o sucesso da implementação tecnológica em um ambiente de
alta complexidade no que se refere à coleta e ao tratamento de dados pessoais, como
ocorre no setor de saúde.

2. Metrô de São Paulo. O caso do Metrô de São Paulo destaca os aprendizados obtidos a
partir da aplicação das diretivas do Fórum a um processo de contratação pública no Bra-
sil. Por meio de uma encomenda tecnológica, o Metrô busca desenvolver o Sistema de
Monitoramento da Via Permanente (SMVP), o qual utiliza algoritmos de IA para detecção
proativa e preditiva de danos a trilhos e trens da rede metroviária, otimizando as rotinas
de manutenção e evitando interrupções desnecessárias aos passageiros. Dentre as várias
lições aprendidas, destacam-se a importância da realização de estudos preliminares, com
o exame técnico aprofundado do problema, do mapeamento de riscos e impactos algo-
rítmicos, da estruturação de grupos multidisciplinares, com atribuições específicas, e da
formação de um comitê técnico de especialistas para assessorar o Metrô de São Paulo
durante o processo de contratação.

O presente Guia, fruto dessas contribuições e consolidação desses aprendizados, é formado por
cinco capítulos. O primeiro corresponde à introdução. O segundo capítulo traça um panorama
do emprego de IA pelo setor público no Brasil, realizando um estudo comparativo e uma revisão
da literatura recente para revelar os principais desafios e oportunidades do setor. A terceira parte
apresenta as dez diretivas do Fórum Econômico Mundial, situando-as no contexto brasileiro e for-
necendo orientações para sua implementação no país. O quarto e o quinto capítulos dedicam-se,
respectivamente, à narrativa dos estudos de caso do HCFMUSP e do Metrô de São Paulo, mos-
trando como a implementação das diretivas do Fórum deu-se na prática, em projetos distintos,
nessas duas organizações.

Com isso, espera-se que o presente Guia de Contratações Públicas de IA seja útil ao gestor público
interessado na contratação de tecnologias disruptivas, fornecendo recomendações e orientações
para que a Administração Pública brasileira possa auferir o maior benefício possível das ferramen-
tas de IA com ética e responsabilidade.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 12


1 Introdução
Este guia reúne recomendações, diretrizes e boas práticas para
realizar contratações públicas de soluções de inteligência artificial,
com foco em inovação, eficiência e ética, no Brasil

É imenso o potencial que as tecnologias de inteligência artificial (IA), tais como aprendizado
de máquina, redes neurais e aprendizagem profunda, apresentam para aumentar a produ-
tividade do setor público, estimulando a economia e melhorando o seu desempenho em
tarefas típicas de Estado. É o caso, por exemplo, do uso de atendimento virtual automatizado
(“chatbots”) para expandir o atendimento a cidadãos em serviços públicos ou da aplicação de
grandes dados (“big data”) para monitorar, planejar e fiscalizar a execução de políticas públicas.

Entretanto, os riscos inerentes ao emprego dessas tecnologias podem ser difíceis de prever
- principalmente em órgãos e entidades que ainda não possuem capacidades institucionais
adequadas à implementação de sistemas de IA. A despeito de algumas iniciativas relevantes
nessa área, os governos frequentemente sofrem as consequências da falta de recursos e de
quadros qualificados para acompanhar a contratação e o desenvolvimento de soluções de
IA, o que atrasa a difusão dessa tecnologia no setor público e compromete o seu emprego.
Sem orientações claras sobre como garantir responsabilidade, transparência e aplicabilidade
no uso ético dos algoritmos, a sua aplicação em larga escala pelos governos pode agravar
riscos, provocar danos e abrir espaço para outras consequências negativas decorrentes do
emprego de IA.

Fluxograma 1. O emprego do poder de compra do Estado para fomento à ética


em soluções de IA

O uso de IA é cada vez mais complexo - usuários e pessoas sem formação


técnica não conseguem entender o funcionamento de algoritmos e
redes neurais.

O mercado, por si só, não gera os incentivos necessários ao desenvol-


vimento de IA ética e responsável.

IA produz decisões automatizadas ou semi automatizadas com potencial


para gerar consequências negativas, intencionais ou não, em uma escala
inédita e com efeitos de difícil reversão.

O poder de compra do Estado pode ser um incentivo para adoção de


padrões no mercado (“market shaping”)

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 13


1 Introdução

As contratações governamentais, por isso, tornam-se um locus estratégico para a coopera-


ção público-privada. Os governos, em regra, não dominam os aspectos técnicos da IA e têm
forte assimetria informacional em relação aos contratados no setor de TI. Os fornecedores,
por sua vez, nem sempre compreendem com clareza os desafios e obstáculos inerentes
aos processos de contratação pública. Esse descompasso, embora presente em contrata-
ções públicas, em geral, é ainda mais crítico em se tratando do fornecimento de soluções
de IA, onde o emprego de decisões total ou parcialmente automatizadas pode criar danos
imprevistos, e em escala, à sociedade. Nessa linha, é importante incorporar ao processo de
contratação pública elementos ligados ao uso ético de IA, à qualidade de dados disponíveis,
além do respeito à legislação que tutela a proteção de dados pessoais.

Por isso, é importante que o setor público se prepare, investindo na construção de práticas
responsáveis para a aquisição de IA e no desenvolvimento de centros de experiência com-
partilhada e capacidades institucionais adequadas. Do mesmo modo, a existência de regras
claras e transparentes sobre os processos de contratação nivelam a competição privada,
permitindo que as grandes do setor de tecnologia (“big techs”) e pequenos fornecedores de IA,
como empresas iniciantes (“startups”) e PMEs, possam concorrer em igualdade de condições

1.1. O que é o AI Procurement in a Box?


O AI Procurement in a Box é um projeto do Fórum Econômico Mundial que, com base nas
perspectivas de entidades de governo, setor privado, academia e sociedade civil, reúne
diretrizes, recomendações e boas práticas para a contratação de soluções de inteligência
artificial pelo setor público. O material é composto por cinco documentos: uma introdução
geral, contendo a visão geral do projeto; as dez diretrizes para contratações públicas de IA;
um conjunto de materiais de apoio prático para Servidores Públicos (AI Procurement in a
Box: Workbook), um relatório sobre Desafios e Oportunidades durante a implementação das
diretivas; e, por fim, um relato aprofundado dos casos de uso que serviram como pilotos
para o projeto no Reino Unido.

A elaboração do AI Procurement in a Box contou, outrossim, com os aprendizados obtidos


durante a implementação das diretivas do Fórum em projetos-piloto realizados no Reino
Unido, nos Emirados Árabes Unidos e no Bahrein, como ilustra a tabela a seguir:

Tabela 1. Pilotos internacionais do projeto AI Procurement in a Box

País Órgão/Entidade Porque usar IA?

O DBEIS, entidade do governo britânico responsável


por questões de negócios, energia e indústria, buscou
Department for contratar um sistema de IA para analisar as condições de
Business, Energy & regulação para novas empresas. O objetivo era usar por
Reino Unido
Industrial Strategy análise de dados (“big data”) para apoiar recomendações
(DBEIS) para atualizar o sistema regulatório para melhorar
o ambiente de negócios e, ainda, proteger o meio-
ambiente e a sociedade.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 14


1 Introdução

País Órgão/Entidade Porque usar IA?

A FSA é a agência que promove a regulação de alimentos


e de mantimentos no Reino Unido. Para tanto, a agência
Food Standards
Reino Unido buscou aplicar IA por meio de um sistema preditivo
Agency (FSA)
para analisar riscos acerca da qualidade dos alimentos,
possibilitando a sua mitigação de riscos sanitários.

A DVSA, agência responsável por monitorar padrões


e normas técnicas do setor automotivo, buscou usar
IA para fiscalizar o cumprimento de suas diretrizes e
Driver & Vehicle
normas técnicas. Uma abordagem baseada em dados
Reino Unido Standards Agency
ajudaria a DVSA a realizar inspeções inteligentes das
(DVSA)
garagens autorizadas que realizam testes de padrões em
veículos. A equipe coletou muitos dados que não podiam
ser empregados de forma eficaz nas suas atividades.

A entidade indiana responsável pelo gerenciamento


Controller General de patentes e marcas registradas buscou aplicar
of Patents, tecnologias como IA, blockchain e internet das coisas
India
Designs and Trade (IoT) para aprimorar o seu sistema de processamento de
Marks (CGPDTM) patentes, aumentando a eficiência, a uniformidade e a
consistência das decisões.

Em janeiro de 2017, a DEWA lançou o Agente Virtual


Rammas, um atendimento virtual automatizado (chatbot)
que responde às perguntas dos clientes aplicando IA.
Emirados Dubai Electricity
Após, a DEWA buscou atender às necessidades de acesso
Árabes and Water
aos dados da gerência. A entidade criou protocolos
Unidos Authority (DEWA)
internos de contratação de IA baseado no AI Procurement
in a Box, e assim adquiriu um sistema baseado em
código aberto

O Reino do Bahrein desenvolveu um Portal de


Habilidades de Empregabilidade para criar um
repositório de informações atualizadas referente ao
mercado de trabalho. Este portal poderia ser usado por
Information and futuros funcionários para tomar decisões de carreira
Bahrain eGovernment informadas e, também, por instituições educacionais,
Authority (iGA) para adequar seus programas à demanda do mercado.
O portal usou IA para limpar e integrar dados de
múltiplas fontes, encontrando correlações entre os
dados e fazendo previsões sobre futuras tendências
e indicadores.

Fontes: World Economic Forum (2020c e 2020f, pp. 32-54).

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 15


1 Introdução

1.2. Por que criar uma versão brasileira?


A presente versão foi adaptada pelo Centro da Quarta Revolução Industrial do Brasil (C4IR
Brasil) ao contexto brasileiro, jogando luz sobre os caminhos que devem ser percorridos ao
longo da implementação das diretrizes veiculadas pelo Fórum. O objetivo, aqui, é aproveitar
na maior medida possível as etapas de planejamento prévio que já integram a fase prepa-
ratória das contratações públicas no Brasil, evitando a multiplicação de etapas e a dilação
desnecessária de burocracia.

Para tanto, o C4IR Brasil buscou adaptar as lições aprendidas no cenário internacional às
particularidades da legislação brasileira, com especial atenção ao marco legal que rege as
compras públicas e aos atos normativos que regulam a proteção de dados pessoais. Essa
tarefa foi facilitada:

• Pela realização de dois novos pilotos no Brasil, no Hospital das Clínicas da Facul-
dade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) e no Metrô de São
Paulo, com o intuito de demonstrar como as diretivas do AI Procurement in a Box
podem ser implementadas na prática.
• Pelo apoio da Rede de Especialistas do C4IR Brasil, formado por representantes
do setor público, setor privado, sociedade civil e academia, em diversas oficinas
de co-criação e validação realizadas entre agosto e dezembro de 2021.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 16


2 O estado da arte no emprego
de IA no setor público no Brasil
A maior parte dos casos de uso de IA no setor público são sistemas
desenvolvidos internamente, com grande protagonismo do
Judiciário e órgãos de controle.

O emprego de IA no setor público, sobretudo no campo de decisões total ou parcialmente


automatizadas, suscita discussões importantes sobre a governança e os limites dessa tec-
nologia na implementação de políticas públicas. O potencial da tecnologia para aumentar a
eficiência da Administração na análise de dados, classificação de documentos e outras tarefas
repetitivas é indiscutível. Entretanto, é crescente a lista de casos concretos e evidências que
destacam problemas e consequências negativas no emprego de IA por atores públicos e
privados, como, por exemplo, as experiências destacadas nos repositórios “Artificial Intelli-
gence Incident Database” e “Awful AI”.

Em regra, as soluções de IA realizam decisões automatizadas ou fazem recomendações,


dando suporte a decisões tomadas por agentes públicos. Contudo, o algoritmo depende do
conjunto de dados usado para treiná-lo. Se um conjunto de dados for enviesado de alguma
forma ou não for verdadeiramente representativo da população para a qual a solução está
sendo desenvolvida, o risco de propagação de discriminações e mesmo de exclusão de algu-
mas pessoas é muito elevado e, por isso, precisará ser mitigado.

É o caso, por exemplo, do polêmico uso de IA na segurança pública. Um estudo recente da


Deloitte (2021, pp. 130-131), aponta que tecnologias como reconhecimento facial poderiam
ajudar as cidades a reduzir o crime em cerca de 30 a 40%, mas suscita importantes debates
éticos decorrentes de sistemas de policiamento preditivo, identificação biométrica, sensores
e câmeras corporais. Diante do elevado risco de ameaça a direitos, algumas cidades nos EUA,
como São Francisco, chegaram a proibir o uso de algoritmos de reconhecimento facial pela
polícia, suscitando debates sobre os limites éticos da IA na literatura (Fontes e Perrone, 2021)
e alimentando reações da sociedade civil1.

A regulação de IA, por isso, é uma discussão sobre confiança na própria tecnologia. Nessa
linha, um mapeamento realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE) sobre políticas e estratégias nacionais de IA revelam que o tema é consi-
derado estratégico pela maioria das nações estudadas, com aproximadamente 700 iniciativas
relacionadas à governança de IA no setor público

1  Por exemplo, o Projeto de Lei nº 869/2019 do Estado de São Paulo, que obrigava a instalação de câmeras para reco-
nhecimento facial em trens do Metrô e da CPTM, gerou forte reação contrária por parte da sociedade civil e restou, ao
final, sendo vetado pelo Governador do Estado.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 17


2 O estado da arte no emprego de IA no setor público no Brasil

Figura 2. Estratégias e políticas nacionais de IA no setor público por número


de iniciativas

Fonte: OECD’s AI Policy Observatory (2021)

O Brasil já faz parte deste grupo. Tanto a Estratégia de Governo Digital, de 2020, quanto a
Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial (EBIA), de 2021, preveem ações para difundir
o uso de IA no setor público brasileiro, como se verá adiante. A IA é uma das mais relevantes
tecnologias de uso generalizado (general-purpose technologies), com impacto transversal em
toda a economia (Trajtenberg, 2018) e imenso potencial para o Brasil, tal como recomendado
pela OCDE em estudo dedicado, especialmente, à transformação digital do setor público
(OCDE, 2018). Entretanto, a complexidade e o gigantismo inerentes à estrutura burocrática
da Administração Pública mostram que o caminho é longo, e que ainda há muito por avançar.

Em paralelo, está em debate no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 21/2020, que pre-
tende estabelecer o Marco Legal da Inteligência Artificial no Brasil. O texto foi aprovado
pela Câmara dos Deputados em 29 de setembro de 2021 e deve ser votado pelo Senado em
2022. Entretanto, embora busque estabelecer princípios, direitos, deveres e instrumentos
de governança para a IA para o seu uso no poder público, empresas, entidades diversas e
pessoas físicas, o texto proposto é bastante vago e deixa em aberto como esses objetivos
serão implementados e alcançados.

Este capítulo realiza uma revisão de literatura sobre o emprego de IA no setor público brasi-
leiro, com o objetivo de compreender como a tecnologia é adquirida, como é feita na prática
a sua governança e quais são os principais riscos que o atual estado da arte encerra. Esse
contexto servirá de base para a adaptação das diretrizes do Fórum Econômico Mundial sobre
contratações públicas de IA para o Brasil, no Capítulo 3 deste estudo.

Embora escassa, a literatura já apresenta ricas narrativas sobre o uso de IA em setores


específicos no cenário brasileiro, como se verá no item 2.1. Porém, é importante registrar
que, a despeito das normas de transparência e da Lei de Acesso à Informação, não é simples
encontrar dados sobre a existência de contratações (findas ou andamento) ou informações

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 18


2 O estado da arte no emprego de IA no setor público no Brasil

públicas que expliquem, com detalhes, os casos de uso de IA que já estão em aplicação no
Brasil. Isso prejudica uma análise quantitativa do uso dessa tecnologia no contexto brasi-
leiro e explica a opção, adotada neste estudo, de complementar a revisão bibliográfica com
entrevistas semi-estruturadas realizadas com representantes de alguns órgãos e entidades
públicas que adotaram essa tecnologia. Por sua vez, o item 2.2 discute a complexidade da
decisão fazer-ou-comprar (“make-or-buy”) para aplicações de IA e traz algumas considerações
relevantes sobre a insuficiência da supervisão humana (“human-in-the-loop”) na mitigação de
riscos e, também, acerca da importação, pelo Brasil e outros países do Sul Global, de algo-
ritmos desenvolvidos em outros países.

2.1. Como a IA tem sido usada pelo Poder Público no Brasil?


Antes de iniciar o processo de consulta pública para a elaboração da Estratégia Brasileira de
Inteligência Artificial, o então Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e Comunicação
(MCTIC) firmou parceria com a UNESCO para a contratação de uma consultoria especializada,
cujos produtos serviram de subsídio para a elaboração do documento com a sociedade. Em
especial, o Produto III da consultoria foi dedicado a um estudo comparativo, realizando um
amplo inventário das iniciativas e projetos em andamento relativos ao desenvolvimento ou
à adoção de IA no Brasil.

A tabela a seguir relaciona alguns casos de uso de IA e tecnologias associadas no setor público
brasileiro, com diversos níveis de complexidade, merecendo destaque para o protagonismo
dos Tribunais e dos órgãos de controle.

Tabela 2. Casos de uso de IA no setor público nacional a partir de


iniciativas selecionadas

O Alice (Análise de Licitações e Editais) importa automaticamente editais


publicados no Diário Oficial da União e no portal de compras do governo
Alice TCU federal, analisando o seu texto e cruzando as informações dos processos
com outras bases de dados, apontando indícios de fraudes e outras
irregularidades aos auditores do TCU.

Sofia (Sistema de Orientação sobre Fatos e Indícios para o Auditor) é um


sistema que auxilia o auditor na revisão dos textos elaborados, verificando
fontes e possíveis inconsistências. O sistema correlaciona informações
Sofia TCU
com outros casos concretos ou demais processos que tenham o mesmo
responsável, conferindo a identificação das partes (CPF e CNPJ), registros
de óbito, sanções aplicadas a responsáveis, entre outros elementos.

Monica (Monitoramento Integrado para Controle de Aquisições) é um


painel de contratações públicas que reúne informações sobre licitações
e contratos realizados na esfera federal, incluindo os Poderes Legislativo,
Executivo e Judiciário, além do Ministério Público. O Monica tem amplitude
Monica TCU
maior que o Alice, pois inclui também contratações diretas por dispensa
e inexigibilidade de licitação. O robô permite que sejam feitas buscas
rápidas por palavras-chave no objeto das contratações realizadas no
âmbito do Siasg.

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2 O estado da arte no emprego de IA no setor público no Brasil

Desenvolvido pelo Supremo Tribunal Federal em parceria com a


Universidade de Brasília (Unb), o Victor usa IA e aprendizado de máquina
Victor STF para reconhecimento automático de casos de repercussão geral em
recursos interpostos à Corte, otimizando tarefas que seriam realizadas
pelos servidores do Tribunal.

A ferramenta Sócrates usa IA para realizar a análise semântica das peças


processuais que chegam ao Superior Tribunal de Justiça, facilitando a
triagem de processos, identificando casos semelhantes e pesquisando
Sócrates STJ
jurisprudência do tribunal que possa servir como precedente para o
processo em exame. O sistema também identifica o dispositivo legal
questionado para propor modelos de decisão aos usuários humanos.

Desenvolvido pela Secretaria de Tecnologia da Informação e


Comunicação do Tribunal Superior do Trabalho, o sistema Bem-Te-Vi usa
Bem-Te-Vi TST IA para gerenciar processos judiciais, permitindo a análise automática
de prazos processuais dos servidores do TST na análise de recursos e
processos recebidos de cortes inferiores.

Desenvolvido pela Controladoria Geral da União, o sistema “Malha fina


dos convênios” usa IA para analisar a prestação de contas apresentada
Malha em transferências voluntárias em convênios, otimizando a análise dos
fina dos CGU gestores e a fiscalização dos recursos federais repassados. O sistema
convênios apresenta uma nota de risco que afere a probabilidade de aprovação ou
rejeição das contas apresentadas no Sistema de Gestão de Convênios e
Contratos de Repasse (Siconv), atual Plataforma + Brasil.

O Sistema Aduaneiro por Aprendizado da Máquina (SISAM) foi


Sistema desenvolvido pela Receita Federal do Brasil com base no banco de
Aduaneiro dados de Declarações de Importação com o objetivo de identificar
por erros, fraudes e inconsistências e, assim, impedir a evasão fiscal
RFB
Aprendizado durante o processo de importação. O sistema usa tecnologias como o
da Máquina processamento de linguagem natural (PLN) para identificar erros na
(SISAM) descrição e na classificação de mercadorias e propõe aos auditores
alíquotas e valores corretos de arrecadação.

Iniciativa que busca reestruturar o Sistema de Informação da Atenção


e-SUS
Ministério Básica (Siab), concentrando as informações das unidades de atenção
Atenção da Saúde básica (UBS) em um único banco de dados, de caráter nacional, acessível
Básica
por meio do prontuário eletrônico do cidadão e o número do cartão SUS.

O programa integra a Estratégia de Saúde Digital, do Ministério da Saúde,


Conecte Ministério e pretende modernizar o SUS integrando diferentes bancos de dados
SUS da Saúde para viabilizar a implementação de IA. O projeto está atualmente em fase
piloto no estado de Alagoas.

Projeto do Exército Brasileiro que busca aplicar IA aos bancos de dados


Exército de saúde militares, como o Painel de Indicadores do Sistema de Saúde do
EB S@úde
brasileiro Exército (PI-SSEx), para reduzir os custos e ter sistemas mais eficientes de
recursos materiais, humanos e financeiros.

O Pasto Certo é um sistema de recomendação que usa IA para facilitar


o acesso a cultivares forrageiras tropicais de titularidade da Embrapa e
Pasto Certo Embrapa de domínio público. O sistema usa IA para gerar recomendações de uso
com base nas características de cada cultivar e calcula a quantidade de
sementes necessária para a implantação da pastagem.

Fonte: elaboração própria, com base em Costa e Bastos (2020), Jambeiro Filho (2015), Engelmann, Lietz e
Dahlem (2020), Lemes e Lemos (2020), o Produto III da Consultoria da EBIA (2019), Transparência Brasil
(2020), Ceweb (2021) e informações disponibilizadas na imprensa.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 20


2 O estado da arte no emprego de IA no setor público no Brasil

O papel proeminente do TCU no emprego de IA para o controle externo é destacado em estu-


dos posteriores, como o de Costa e Bastos (2020), que acrescenta à tabela acima os sistemas
ADELE (Análise de Disputa em Licitações Eletrônicas), CARINA (Crawler e Analisador de Registros
da Imprensa Nacional) e ÁGATA (Aplicação Geradora de Análise Textual com Aprendizado).

Outro estudo nacional que merece destaque é o relatório “Recomendações de governança:


uso de inteligência artificial pelo Poder Público”, realizado pela Transparência Brasil (2020)
em parceria com a Northwestern University. O estudo mapeia ferramentas de IA em uso por 44
órgãos e entidades governamentais, classificando-as conforme o tipo de público-alvo (interno
ou externo) e sua utilização (com ou sem tomada de decisão). Os resultados encontram-se
resumidos na seguinte tabela:

Tabela 3. Classificação de ferramentas de IA segundo uso para tomada


de decisão e público-alvo

TOMADA DE DECISÃO SEM TOMADA DE DECISÃO TOTAL

Público interno 20 ferramentas 16 ferramentas 36

Externo 8 ferramentas 0 ferramentas 8

Total 28 16 44

Fonte: Transparência Brasil (2020, p. 7).

A análise dos casos de uso identificados pela Transparência Brasil permitiu a realização de
um mapeamento dos riscos específicos associados a cada tipo de ferramenta, agrupados
em três grandes categorias: (i) ferramentas para apoio à tomada de decisão direcionadas
para os próprios órgãos públicos; (ii) ferramentas de decisão que interagem diretamente
com o público externo, como assistentes de atendimento virtual (chatbots, p.e.); e (iii) ferra-
mentas para aperfeiçoamento de processos internos, sem tomada de decisão, voltadas à
simplificação de processos internos e racionalização de demandas internas à Administração
(Transparência Brasil, 2020, pp. 8-13).

O primeiro grupo é o mais extenso (20 ferramentas) e também o mais sensível, pois envolve
o emprego de IA em decisões que podem gerar impactos a direitos fundamentais ou afetar o
acesso a políticas públicas e serviços públicos. Aqui, há o risco de que o banco de dados ou os
critérios utilizados pelo algoritmo possam levar à reprodução de discriminação social pré-exis-
tente, perpetuando preconceitos. Por isso, quanto maior a sensibilidade, sob o ponto de vista
ético, mais intenso deve ser o grau de interpretabilidade e de explicabilidade do algoritmo.

O segundo grupo (8 ferramentas) apresenta grau moderado de risco de lesão a direitos,


usualmente relacionado à reduzida inclusão digital de alguns grupos ou de restrições inde-
sejadas de acesso por desconsiderar usos e costumes locais. No Brasil, o uso de assistentes
de atendimento virtual automatizado (chatbots) já é uma prática relativamente comum, com
exemplos no atendimento do Poupatempo, no Estado de São Paulo, e no Rio Grande do Sul,
para facilitar o acesso a serviços relacionados à pandemia do Covid-19.

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2 O estado da arte no emprego de IA no setor público no Brasil

Por fim, o terceiro grupo (16 ferramentas) é o que envolve, relativamente, o menor grau de
risco. Isso porque diz respeito especialmente à melhoria de processos administrativos internos,
embora também seja necessário aprimorar a observância de protocolos de transparência.

O estudo aponta quatro recomendações prioritárias para o uso de IA no setor público:

Tabela 4. Recomendações de governança da Transparência Brasil para


implementação de ferramentas de IA no setor público brasileiro

O uso de dados de treinamento viesados é uma das fontes mais


Bases de dados
recorrentes de contaminação de um algoritmo. Para eliminar/mitigar
representativas e
01 apropriadas para
este meio de contaminação, recomenda-se investir em equipes
diversas e multidisciplinares, como recomendado na Diretiva 7 do
o contexto
AI Procurement in a Box.

Inspirada na GPDR, da União Europeia, e nos Princípios de Santa


Necessidade Clara sobre Transparência e Accountability na Moderação de
de supervisão Conteúdo (2018), a supervisão humana é uma garantia importante
humana como para impedir eventuais impactos negativos de sistemas de IA. Aqui,
02 salvaguarda o estudo defende uma interpretação mais ampla ao art. 20, §1º da
para a revisão LGPD, que confere ao titular o direito de solicitar a revisão unicamente
de decisões de decisões tomadas com base em tratamento automatizado -
automatizadas critério que não é claro e que, por isso, deveria ter o direito do titular
estendido também a outras situações de supervisão humana.

Como os sistemas de IA e aprendizado de máquina dependem do


Efetiva proteção
processamento de grandes quantidades de dados pessoais para
dos dados
03 pessoais do
treinamento do algoritmo, é importante fiscalizar a observância das
regras previstas na LGPD para limitar a coleta e o tratamento de
cidadão
dados aos casos autorizados pela legislação.

Garantia de acesso às informações relacionadas aos algoritmos


usados pelo Poder Público, entendendo quais dados são empregados,
Transparência e
como são utilizados, e quais são as variáveis consideradas na tomada
04 explicabilidade
de decisão. Incentivo ao uso de códigos abertos, bancos de dados
dos sistemas
anonimizados e publicação de relatórios de impacto algorítmico são
medidas que contribuem para esse objetivo.

Fonte: Transparência Brasil (2020, pp. 17-26).

O Poder Judiciário brasileiro também se destaca pela profusão de iniciativas voltadas à


aplicação de IA. Segundo o relatório “Tecnologia aplicada à gestão dos conflitos no âmbito
do Poder Judiciário Brasileiro”, da Fundação Getúlio Vargas (2020), o Brasil tem aproximada-
mente 78,7 milhões de processos judiciais em 91 tribunais, o que gera uma forte demanda
pela implementação de sistemas automatizados de apoio à atividade jurisdicional. O relatório
identificou 64 projetos de IA já implementados, em fase de projeto-piloto ou em desenvolvi-
mento em 47 tribunais brasileiros (Fundação Getúlio Vargas, 2020, p. 26). Vale destacar que
as ferramentas listadas, em sua imensa maioria, foram desenvolvidas pela equipe interna de
TI dos tribunais, contando, em alguns casos, com parcerias com Universidades e instituições
de ensino superior.

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2 O estado da arte no emprego de IA no setor público no Brasil

No mesmo sentido, a publicação “O Futuro da IA no Judiciário Brasileiro”, elaborada para


o Conselho Nacional de Justiça pela Universidade de Columbia (2020), em parceria com o
Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS) Rio, buscou apresentar uma estratégia de gover-
nança capaz de integrar as diversas iniciativas de IA em curso no Poder Judiciário. O estudo
destaca que as cortes locais se comunicam pouco com o CNJ e com outros tribunais durante
o desenvolvimento de suas próprias ferramentas, o que contribui para aumentar a fragmen-
tação e a complexidade. Além de maiores esforços de integração e conexão entre iniciativas
semelhantes, o estudo recomenda a adoção de ferramentas de monitoramento e avaliação
que assegurem o uso seguro e ético de IA pelos tribunais brasileiros, em linha com a recente
Resolução CNJ nº 332, de 21 de agosto de 2020, que dispõe sobre critérios éticos e de gover-
nança para produção e uso da Inteligência Artificial no Poder Judiciário.

Outra iniciativa setorial importante - e que ganhou ainda mais destaque e relevo com a
pandemia de COVID-19 - é o uso de IA na saúde pública. Embora a tecnologia possa dar
origem a novos métodos de tratamento e de diagnóstico, a predominância do tratamento
de dados pessoais sensíveis - uma categoria especialmente protegida pela legislação (art.
5º, inciso II e 11, LGPD) - eleva consideravelmente os riscos associados ao setor. Por esse
motivo, privacidade, responsabilidade, transparência e inclusão são fatores que devem ser
considerados em qualquer projeto envolvendo IA na área da saúde, como será aprofundado
no Capítulo 4 e no Quadro 1, abaixo.

Quadro 1. RadVid-19: o emprego de IA em uma frente de combate à pandemia

O RadVid-19 foi uma iniciativa do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universi-
dade de São Paulo (HCFMUSP) apoiada pelo Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR), que teve a
finalidade de coletar exames de Raios-X e Tomografias Computadorizadas de casos confirmados
ou suspeitos de infecção pelo novo coronavírus. A plataforma criou um repositório de casos
de COVID-19 no Brasil, promovendo também o emprego de algoritmos de IA para auxílio à
decisão clínica, com a finalidade de tornar este diagnóstico mais rápido e preciso e, no caso de
tomografia, automatizar dados quantitativos sobre o acometimento da doença.

Em parceria com o IdeiaGov, o centro de inovação aberta do Estado de São Paulo, foi publicada
uma chamada pública para encontrar soluções que conseguissem atender ao desafio RadVid-19,
apoiando o desenvolvimento de soluções inovadoras para diagnóstico de Covid-19 por meio de
imagens de exames de Raios-X e Tomografias Computadorizadas de tórax.

A chamada pública foi organizada em sete principais etapas:

1. Exploração inicial. A definição de um escopo claro no início do projeto foi fundamental para
que todos os atores envolvidos tivessem clareza do problema a ser enfrentado, definido
por meio de diversas reuniões com as equipes médicas e técnicas do Hospital das Clínicas.

2. Definição dos requisitos da solução. Para garantir que a solução pudesse ser imple-
mentada com sucesso, foi fundamental que a chamada pública avaliasse, sob o ponto
de vista técnico, não só a empresa desenvolvedora, mas também a acurácia e a precisão
do algoritmo para a detecção de casos de COVID-19.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 23


2 O estado da arte no emprego de IA no setor público no Brasil

3. Estrutura do desafio. O desafio foi estruturado em quatro etapas: (i) inscrição virtual;
(ii) disponibilização de dados para treino e teste em uma plataforma criada pelo próprio
hospital, uma vez que se tratava de uma doença nova, sem bancos de dados públicos
disponíveis; (iii) duas fases de teste, para conseguir captar a performance do algoritmo
em duas bases diferentes e diminuir a chance de “overfitting” (i.e. situações em que o
modelo é pouco generalizável, com bons resultados na base de teste, mas com desem-
penho ruim em outras bases); (iv) auditoria dos algoritmos, para verificar se as soluções
testadas eram realmente aquelas inscritas pelos participantes.

4. Divulgação, lançamento e execução. Além dos meios tradicionais, a divulgação do


edital foi feita por meio das redes sociais dos parceiros envolvidos no projeto, bem como
por meio de listas de e-mail, notícias na imprensa e oficinas virtuais. Como resultado,
a chamada pública apresentou 21 inscritos, dos quais dois foram eliminados por não
cumprirem com requisitos descritos no instrumento convocatório.

5. Seleção. Os 19 participantes remanescentes foram avaliados em duas fases, com foco


no índice de performance dos algoritmos, maturidade da empresa proponente e docu-
mentação do código enviado. Esses três indicadores constituíram a matriz de decisão
utilizada pela Comissão de Avaliação, a qual escolheu quais participantes poderiam
avançar para a fase seguinte.

6. Piloto. Após a seleção, três proponentes passaram a fazer parte de um piloto dentro do
Hospital das Clínicas, entre novembro de 2020 até abril de 2021. Durante este período,
foram monitoradas as soluções em produção, considerando mais uma vez critérios
relacionados à performance do algoritmo e das empresas.

7. Celebração de Acordo de Parceria para PD&I. Ao final, as duas empresas com melhor
desempenho durante o piloto celebram um Acordo de Parceria para Pesquisa, Desen-
volvimento e Inovação com o Hospital das Clínicas para dar continuidade ao desenvol-
vimento de suas soluções.

Trata-se de projeto extenso, iniciado em maio de 2020 e ainda em execução na data de publicação
deste estudo, e que conta com a colaboração de diversos parceiros, tais como Fundação Novar-
tis, Grupo Tellus, AWS, Deloitte, GE Healthcare, Siemens Healthineers, Itaú, Huawei, Petrobrás,
CBR, SPR, Grupo Fleury, Hospital Sírio Libanês, Secretaria de Desenvolvimento Econômico do
Estado de São Paulo e Banco Interamericano de Desenvolvimento.

Fonte: elaboração própria, a partir de informações da equipe do HCFMUSP. A chamada pública do RadVid-19 está
disponível em https://ideiagov.sp.gov.br/tag-desafios/saude/. Acesso em 15/11/2021.

2.2. Por que o setor público opta pelo desenvolvimento


interno de soluções de IA?
Os casos de uso de IA destacados na seção anterior chamam a atenção para dois pontos de
destaque no cenário brasileiro. Primeiro, o notável protagonismo de Tribunais e órgãos de
controle na implementação de IA no setor público. Em segundo lugar, a clara predominância
de sistemas desenvolvidos internamente (in house) pelas equipes de TI da Administração, ao
invés de aquisições mediante processos de contratação pública.

Este item aprofunda o segundo ponto e mostra que a prevalência de sistemas de IA desen-
volvidos in house não é exclusividade do setor público brasilero. Por exemplo, o relatório
“Government by Algorithm” analisou o uso de IA em 142 agências da Administração federal

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 24


2 O estado da arte no emprego de IA no setor público no Brasil

dos EUA (Engstrom et al., 2020) e concluiu que mais da metade das soluções mapeadas (84
casos de uso, ou 53%) foram desenvolvidas internamente (Engstrom et al., 2020, p. 18). Mas
esse diagnóstico não significa que o governo americano já possua capacidades institucionais
e quadros qualificados para projetar, desenvolver, implementar, auditar e monitorar sistemas
de IA. A literatura, aliás, aponta o contrário e recomenda ações de capacitação e a forma-
ção de centros de competência, formados por especialistas, para o compartilhamento de
conhecimentos técnicos com toda a Administração dos EUA (Rubenstein et al., 2021, p. 35).

Figura 3. Uso de IA no governo federal americano conforme o tipo de desenvolvimento

80
NUMBER OF USE CASES

70
60
50
40
30
20
10
0
In-House Commercial Non-Commercial Data
Contractor Coltaboration Unavailable

DEVELOPER TYPE

Fonte: Engstrom et al. (2020, p. 18).

O mesmo padrão se repete na Administração Pública brasileira, e os dados e evidências dis-


poníveis até aqui convergem para um cenário semelhante ao encontrado nos EUA. Como
dito acima, informações levantadas pela Transparência Brasil (2020) revelam que, entre 44
entidades pesquisadas no estudo citado acima, 33 desenvolveram internamente as suas
soluções de IA. As demais foram desenvolvidas externamente, por meio da contratação de
empresas terceirizadas, parcerias com universidades e instituições de pesquisa, etc.

Também no Brasil, portanto, parece seguro afirmar que a contratação pública não tem sido o
veículo principal para a introdução de soluções de IA pelo governo. Embora não seja possível
apontar a causa predominante para esse contexto, há vários fatores que explicam porque
os desenvolvimentos in house prevalecem no setor público:

• Criticidade das informações e a segurança dos bancos de dados envolvidos, que


fazem com que o desenvolvimento interno seja visto como opção com maiores
níveis de controle e governança;
• Aversão a risco dos gestores, dificuldades na operacionalização do pregão e receio
em aplicar procedimentos de contratação pública de inovação para o desenvol-
vimento de ferramentas de IA;

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 25


2 O estado da arte no emprego de IA no setor público no Brasil

• Impossibilidade de especificar ex ante as especificações técnicas, condições de


desempenho e funcionalidades esperadas da solução;

• Falta de capacitação sobre IA e aprendizado de máquina nos níveis estratégicos


da Administração, o que faz com que muitos projetos sejam iniciativas isoladas
de servidores ou de equipes interessadas em automatização de tarefas e racio-
nalização de trabalho;

• Em contratações, o fato do código-fonte ser mantido em segredo, no todo ou em


parte, pelo fornecedor é fonte de preocupação do setor público com customiza-
ções e manutenções futuras;

• Riscos de dependência tecnológica da Administração (lock-in) e conflitos de inte-


resse envolvendo o fornecedor e outros clientes;

• Bancos de dados desorganizados, com dificuldades de acesso técnico ou inexis-


tentes dificultam a implementação de projetos de caráter estruturante envolvendo
IA em setores complexos e fragmentados, como na área da saúde;

Essa trilha, contudo, deixa de aproveitar o potencial que o poder de compra do Estado repre-
senta para o desenvolvimento ético de IA. Com efeito, a aquisição de soluções de prateleira
pode aumentar a opacidade de algoritmos, pois os quadros do setor público frequentemente
não possuem o nível de capacitação necessário para acompanhar o projeto em igualdade
com o fornecedor, causando um possível efeito de “terceirização” das decisões sobre o fun-
cionamento do algoritmo aos empregados do contratado (Mulligan e Bamberger, 2019).

A internalização dessas preocupações no processo de contratação pública é importante porque


nem sempre a supervisão humana, pelo chamado human-in-the-loop, é capaz de neutralizar
possíveis riscos decorrentes do emprego de IA na tomada de decisão administrativa. Trans-
parência, interpretabilidade e explicabilidade2 são aspectos essenciais, sobretudo porque os
algoritmos de IA e aprendizado de máquina se tornam mais complexos na medida em que
evolui o banco de dados.

A tabela a seguir exemplifica algumas das falhas que a supervisão humana pode apresen-
tar para a governança de sistemas de IA, comprometendo o seu papel para a mitigação de
riscos algorítmicos:

2  Neste Guia, assim como no projeto original do Fórum Econômico Mundial, os termos “interpretabilidade” e “explica-
bilidade” são utilizados com bastante frequência e em alguns contextos, indistintamente. No entanto, em um ambiente
acadêmico, essas duas palavras podem ter significados distintos. De acordo com Rudin (2019), a interpretabilidade se
refere a uma ferramenta de IA que pode ser facilmente compreendida por pessoas que não o programaram (sem o conhe-
cimento técnico para interpretar o algoritmo), e a explicabilidade se refere a uma ferramenta que exige um mecanismo
específico para ser compreendido (XAI e avanços como o Google DeepMind), como é no caso de algoritmos de caixa preta.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 26


2 O estado da arte no emprego de IA no setor público no Brasil

Tabela 5. Problemas relacionados à supervisão humana (human-in-the-loop)


em sistemas de IA

A confiança excessiva nos resultados gerados pelos algoritmos pode tornar inútil
Automation bias a supervisão humana e a atuação do human-in-the-loop, exigindo estratégias de
mitigação e mecanismos adicionais de monitoramento da solução de IA.

A preferência deliberada por “falsos positivos” ou “falsos negativos” nos outputs


Automation gerados por soluções de IA pode ser danosa sob o ponto de vista ético, exigindo
complacency justificativa adequada não só na etapa de desenvolvimento, mas também ao
longo das fases de treinamento e execução.

A supervisão humana pode compensar em demasia os erros e vieses já


Compensation
percebidos nos resultados dos algoritmos, criando novas distorções que afetam
for known bias
o algoritmo sem efetiva correspondência nos bancos de dados.

Fonte: Mulligan e Bamberger (2019, pp. 854-855), Rubenstein (2021, p. 19).

Por fim, vale um comentário final sobre a importação de sistemas de IA - o que aproxima, em
algum grau, o Brasil à condição de muitos países da América Latina e do Sul Global. Chinmayi
Arun (2019) chama a atenção para o fato de que muitas soluções comerciais envolvendo IA e
aprendizado de máquina são desenvolvidas no Norte Global, com base em bancos de dados
representativos dessas populações, mas que não são necessariamente representativos das
populações de países em desenvolvimento. Essas distorções geram desafios éticos, com
necessidade de customização adequada dos sistemas aos contextos locais (por exemplo,
um algoritmo de reconhecimento facial treinado em fotos da população do Rio Grande do
Sul não pode ser simplesmente copiado em sua implementação em Salvador), bem como
suscitam preocupações voltadas a viabilizar o acesso de startups, PMEs e empresas nacio-
nais em países onde o mercado de TI é menos estratificado. Ademais, certos segmentos da
sociedade, como pessoas que não dispõem de acesso à internet e não possuem identidade
virtual, podem ser completamente excluídas do provimento de um serviço ao qual teriam
acesso em caso de atendimento não-automatizado.

Isto não quer dizer que algoritmos desenvolvidos no estrangeiro não devam ser usados no
cenário brasileiro, mas mostra que conhecer as melhores práticas internacionais e reproduzi-
-las em seu contexto não é suficiente. Mbayo (2020) cita tecnologias como o Processamento
de Linguagem Natural (Natural Language Processing) como exemplo da tensão norte-sul
global no uso de IA, e menciona a iniciativa do governo indiano em promover a tradução
automatizada de conteúdos em inglês para os 29 idiomas nacionais da Índia. Nessa linha,
também o Brasil e outros países do Sul Global precisam investir na formação de quadros
qualificados e no desenvolvimento de capacidades institucionais para poder identificar riscos
específicos que a IA pode apresentar em seu contexto, internalizando-os nas várias etapas
do processo de contratação.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 27


3 Diretivas para contratações
públicas de inteligência artificial
O que deve ser avaliado antes, durante e após contratações públicas
que tenham por objeto soluções de inteligência artificial.

No projeto AI Procurement in a Box, o Fórum Econômico Mundial elaborou um conjunto de


dez diretivas que sintetizam as recomendações e as melhores práticas internacionais para
contratações públicas de IA, com foco em inovação, eficiência e ética.

Essas diretivas têm por público-alvo:

• Gestores interessados no emprego de soluções e ferramentas de IA no planejamento,


execução, gestão e controle de ações e políticas públicas;

• Agentes públicos com atuação nas áreas de licitações e contratações ou que necessi-
tem elaborar modelos de editais, contratos e outros documentos técnicos adaptados
a objetos relacionados à IA;

• Profissionais de dados (p.e., cientistas de dados, especialistas em TI) que procurem


identificar potenciais riscos decorrentes do emprego de IA no setor público, analisando
alternativas para sua mitigação;

• Fornecedores de soluções de IA que queiram compreender os principais entraves do


processo de contratação e a alinhar suas propostas com as expectativas do setor público.

As diretivas foram enunciadas a partir de discussões com uma comunidade ampla e plural,
formada por especialistas e representantes de governos, setor privado, sociedade civil e
academia. Note que essas dez recomendações não pretendem resolver todos os desafios
decorrentes da adoção de IA no setor público, mas buscam endereçar a discussão de uma
série de considerações éticas, jurídicas e institucionais que devem ser avaliadas pela Admi-
nistração antes do emprego de soluções de IA.

3.1. Adotar, sempre que possível, o emprego de procedi-


mentos de contratação pública de inovação para adquirir
soluções de IA
A contratação de soluções de IA guarda relação estreita, tanto na teoria quanto na prática,
com procedimentos de compra pública de inovação. O emprego do poder de compra do
Estado - cifra que corresponde a cerca de 12,5% do PIB brasileiro, segundo o a - para incen-
tivar o desenvolvimento e a difusão de novos produtos, serviços e processos é testemunha
frequente do choque entre o rigor e o formalismo das contratações públicas, de um lado, e
a incerteza que caracteriza a inovação tecnológica, de outro.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 28


3 Diretivas para contratações públicas de inteligência artificial

Figura 4. Alternativas de contratação aplicáveis ao desenvolvimento de IA


na legislação brasileira

1 7
Acordos de Pregão
parceria para
PD&I
P&D TI
2 6
Concursos de Licitações “técnica e
inovação preço” ou “melhor
(”innovation prizes”) técnica”

3 4 5
Marco Legal Encomenda Diálogo
de Startups tecnológica competitivo

Fonte: elaboração própria.

Frequentemente, as contratações de IA situam-se na zona de intersecção entre os campos da


Pesquisa & Desenvolvimento (P&D), onde predomina o componente da investigação cientí-
fica, e da Tecnologia da Informação (TI), no qual prevalece o vetor das compras públicas em
geral. Nessa fronteira, nem sempre será possível definir com exatidão todas as especificações
técnicas da solução de IA a ser contratada, como preconiza a Súmula 177 do TCU. Este ponto
é bastante ressaltado pela literatura de compras públicas de inovação3, segundo a qual os
entes públicos devem se concentrar na definição das características funcionais daquilo que se
precisa do que, propriamente, nas características técnicas do objeto pretendido4. Mudar o foco
do objeto para o problema constitui um passo importante para contratações públicas de IA,
estruturadas como “functional procurement” ou “problem-based acquisitions”, saírem do papel.

No Brasil, esse formato é possível em procedimentos como a encomenda tecnológica, con-


curso, diálogo competitivo, procedimento de manifestação de interesse e a modalidade
especial de licitação do Marco Legal de Startups, conforme ilustra a tabela a seguir:

3  Cabral et al. (2006, p. 517), Edler e Georghiou (2007, p. 960), Edquist e Zabala-Iturriagagoitia (2012, p. 1766), Edquist
et al. (2015, p. 13)

4  Em outras palavras, “(...) the function to be achieved should be defined, instead of defining the product to achieve it.
This is a way to develop the creativity and innovativeness of the potential supplier” (EDQUIST et al., 2015, p. 13). “We have
argued that regular procurement has nothing to do with innovation; that is, it is not an innovation policy instrument”
(EDQUIST; ZABALA-ITURRIAGAGOITIA, 2012, p. 1767).

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 29


3 Diretivas para contratações públicas de inteligência artificial

Tabela 6. Procedimentos selecionados relativos à contratação de inovação


na legislação brasileira

Procedimento Previsão legal Como funciona?

A encomenda tecnológica é uma hipótese de dispensa


de licitação que permite ao Poder Público contratar
diretamente a realização de atividades de PD&I voltadas
à solução de problema técnico específico ou à obtenção
art. 20 da Lei nº
de produto, serviço ou processo inovador, quando o
10.973/2004 c/c
objeto envolver risco tecnológico. A encomenda permite
Encomenda art. 24, XXXI, Lei
o desenvolvimento de novas tecnologias por meio de
tecnológica nº 8.666/1993 ou
compras pré-comerciais, que não existem no momento da
art. 75, V, Lei nº
demanda, e favorece grande flexibilidade de negociação
14.133/2021
e oportunidades de interação com fornecedores para
a definição do objeto contratual. Caso bem sucedida, é
permitida a contratação do mesmo fornecedor para o
fornecimento em escala do objeto da encomenda (scale up).

O concurso é uma modalidade de licitação voltada à escolha


de trabalho técnico, científico ou artístico, mediante a
art. 22, §4º instituição de prêmios ou remuneração aos vencedores.
e 52, Lei nº Embora não pensado originalmente para inovação, o
8.666/1993 concurso já foi usado para projetos envolvendo TI e dados
Concurso
ou art. 30 e abertos. Com a Nova Lei de Licitações, foi aprimorado o
93, §2º, Lei nº tratamento dos direitos de propriedade intelectual sobre
14.133/2021 a solução vencedora, que agora podem permanecer sob a
titularidade do contratado, aumentando o interesse por essa
modalidade de contratação.

O diálogo é um procedimento estruturado em fases


pelo qual se permite ao Poder Público negociar com
fornecedores pré-selecionados para definir os contornos da
solução buscada à luz das necessidades da Administração.
Para tanto, é publicado um primeiro edital contendo os
requisitos de pré-seleção e os documentos de habilitação,
que são avaliados nessa etapa à luz das manifestações de
Diálogo art. 32, Lei nº interesse apresentadas pelos interessados em participar do
competitivo 14.133/2021 procedimento. Na fase de diálogo, o edital tem liberdade
para estruturar como será organizada a interação com os
participantes até que a Administração declare encerrado o
diálogo, registrando as comunicações em atas e gravações
de áudio e vídeo. Encerradas as etapas de pré-seleção e
de diálogo, inicia-se uma fase competitiva para receber as
propostas finais dos licitantes pré-selecionados e, assim,
poder contratar a execução do objeto com o vencedor.

O PMI é um procedimento auxiliar pelo qual a Administração


pode solicitar à iniciativa privada, mediante chamamento
público, a realização de estudos, investigações,
Procedimento
levantamentos e projetos de soluções inovadoras que
de Manifestação art. 81, Lei nº
contribuam com questões de relevância pública. O PMI pode
de Interesse 14.133/2021
ser restrito à participação de startups (art. 81, §4º) e pode
(PMI)
ser uma alternativa para identificar soluções inovadoras,
concebidas pelo setor privado, para os problemas
enfrentados pelo Poder Público.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 30


3 Diretivas para contratações públicas de inteligência artificial

Procedimento Previsão legal Como funciona?

A modalidade especial de licitação pretende selecionar


os licitantes - startups ou não - que apresentem a melhor
solução para o problema veiculado no edital, dispensada
Modalidade a descrição de especificações técnicas pela Administração.
especial de art. 12 a 15, Lei Os vencedores celebram o Contrato Público para Solução
licitação do Complementar Inovadora (CPSI), que permite a realização de testes
Marco Legal de nº 182/2021 remunerados, em ambiente real. Caso a solução inovadora
Startups apresentada pelo proponente se revele bem-sucedida, a
Administração pode celebrar um contrato de fornecimento,
com vigência e valores limitados, com o proponente que
alcançar as metas do CPSI.

Fonte: elaboração própria.

Fora desses casos, como na aquisição de algoritmos de prateleira (off-the-shelf) e soluções


de IA de menor complexidade, será necessário licitar. A realização de um procedimento
competitivo não torna impossível a aquisição de IA, mas apresenta limitações jurídicas e
econômicas que fragilizam os incentivos para o desenvolvimento de tecnologias emergen-
tes. É o caso, por exemplo, da menor flexibilidade para alterações contratuais, do apego ao
preço como critério de julgamento, da pequena margem de negociação com fornecedores,
das reduzidas opções quanto à forma de remuneração e, por fim, da rigidez para alocação
de direitos de propriedade intelectual.

Daí a vantagem da encomenda tecnológica, adotada recentemente pelo TCU para o desen-
volvimento de um módulo de instrução processual assistida que detecte significado nas
peças processuais, priorize análises com jurimetria e forneça modelos de documentos aos
membros do tribunal.

A incorporação de critérios éticos para o desenvolvimento de IA centrada no ser humano


em procedimentos licitatórios pode ocorrer, pragmaticamente, nas seguintes etapas: (i) na
definição das características técnicas e funcionais do objeto da licitação, em conformidade
com as especificações do Projeto Básico ou do Termo de Referência; (ii) pela estipulação de
obrigações contratuais, cujo cumprimento será exigido do vencedor ao longo da execução
contratual; (iii) pela exigência de requisitos de qualificação técnica para fins de habilitação
do licitante; (iv) pela possibilidade de valoração de aspectos técnicos nos critérios de julga-
mento, especialmente como elementos de pontuação de propostas nos tipos “melhor técnica”
ou “técnica e preço”, o que foi referendado pela Nova Lei de Licitações; (v) pela exigência
de amostras ou realização de provas de conceito, durante o julgamento das propostas;
e, por fim, (vi) pela previsão de remuneração variável ao contratado, atrelada à obtenção
de resultado considerado desejável no funcionamento do algoritmo. A presença desses seis
critérios nas modalidades de licitação atualmente vigentes é ilustrada pela tabela seguinte:

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 31


3 Diretivas para contratações públicas de inteligência artificial

Tabela 7. Incorporação de critérios técnicos para contratação de IA nas fases interna e


externa das licitações no Brasil, segundo características e modalidades selecionadas

Nova Lei de Licitações


Modalidades da Lei nº 8.666/1993
(Lei nº 14.133/2021)

Tomada Lei das


Pregão Convite Concorrência RDC Concorrência Pregão
de Preços Estatais

Descrição do
X X X X X X X X
objeto

Obrigações
X X X X X X X X
contratuais

Qualificação
X X X X X X X X
técnica

Amostras ou
provas de X X X X X X X X
conceito

Menor preço X X X X X X X X

Melhor
técnica ou
X X X X X X
conteúdo
artístico

Técnica e
X X X X X X
preço

Maior
retorno X X X
econômico

Maior
X X X X
desconto

Remuneração
X X X
variável

Fonte: elaboração própria.

O pregão pode ser uma opção para a aquisição de soluções tecnológicas consolidadas no
mercado ou para contratar bens e serviços de prateleira, como recomenda a jurisprudên-
cia do TCU (Acórdão nº 2.471/2008-Plenário, Acórdão nº 1.274/2010-Plenário, Acórdão nº
297/2011-Plenário, p.e), o Guia de Boas Práticas em contratação de soluções de Tecnologia
da Informação, do mesmo tribunal, e a Instrução Normativa SEGES/ME nº 01/2019. O pregão
pode ser útil para acelerar a adoção de soluções já inseridas no mercado, contribuindo para
a difusão do seu uso nas três esferas de governo. Contudo, parece incontroverso que essa
modalidade - voltada justamente à contratação de “bens e serviços comuns”, i.e. aqueles que
possuem padrões de desempenho e de qualidade objetivamente definidos, com base em
especificações usuais de mercado (art. 1º da Lei nº 10.520/2002) - corresponde ao cenário
mais limitado possível para a contratação de soluções de IA, que possuem características e
padrões de desempenho muito diversificados e heterogêneos.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 32


3 Diretivas para contratações públicas de inteligência artificial

Diretiva 1 l Princípios
1a. O emprego de procedimentos de contratação pública de inovação favorece o desenvol-
vimento conjunto de sistemas de IA e facilita a sua aquisição pela Administração.

- Os procedimentos de contratação pública de inovação favorecem a resolução de problemas concretos


(“mission oriented”) e, por isso, admitem grau maior de flexibilidade para permitir o desenvolvimento
ético de soluções de IA. Em alguns casos, como na encomenda tecnológica e no Marco Legal de
Startups, a modalidade admite o teste da solução pelo contratante antes do seu fornecimento em
maior escala, favorecendo uma sintonia fina entre a customização do sistema e as necessidades do
Poder Público.

- Caso seja necessário licitar sob as modalidades tradicionais, submeter o Estudo Técnico Preliminar, o
Projeto Básico ou o Termo de Referência à consulta pública pode ser uma oportunidade para reduzir
a assimetria de informações, identificar requisitos e exigências polêmicas, e permitir um momento
de diálogo prévio com fornecedores sobre o objeto a ser contratado. Pode, também, propiciar a par-
ticipação dos fornecedores na co-criação de especificações da solução e outros elementos técnicos,
aumentando a aderência da contratação futura com as expectativas do mercado.

- A realização de Provas de Conceito (PoC), quando possível, pode ser uma estratégia para mitigação
de riscos, à luz do problema técnico que a contratação pública almeja resolver.

- Por vezes, um grande projeto envolvendo o uso de IA no setor público pode ser dividido em contratos
menores. Essa cisão, quando viável tecnicamente e factível sob o ponto de vista da gestão contratual,
atende ao princípio do parcelamento do objeto (Súmula 247 do TCU) e contribui para aumentar a
base de fornecedores da Administração, especialmente startups e PMEs. Neste caso, ganha mais
relevância a exigência de provas de conceito (Proof of Concept ou PoC) na escolha dos fornecedores,
de modo a mitigar os potenciais riscos associados às soluções contratadas.

1b. A Administração deve dedicar mais tempo e atenção ao problema a ser resolvido do que
à descrição detalhada das especificações técnicas de uma solução de IA.

- As tecnologias baseadas em IA estão se desenvolvendo rapidamente, com novas soluções sendo cons-
tantemente introduzidas no mercado. Ao concentrar-se na descrição dos problemas e desafios a serem
enfrentados, o Poder Público poderá avaliar com mais clareza qual tecnologia é mais apropriada, bem
como perceber se o foco do projeto está em resolver a causa do problema ou apenas um sintoma.

- Para objetos muito complexos, promover oficinas e seminários abertos para discussão pública da
solução de IA pode contribuir muito para guiar a Administração na elaboração do Estudo Técnico
Preliminar, do Projeto Básico ou do Termo de Referência. Priorizar a inovação aberta é essencial, pois
atores de contextos variados, como academia, setor privado e outros entes públicos contribuem com
pontos de vista distintos sobre o mesmo problema.

- O acompanhamento da área solicitante, em conjunto com a área de compras, é muito importante


e deve abranger todas as fases da contratação (planejamento, contratação e execução contratual).

- A constituição de Comitê Técnico de Especialistas é prevista para a encomenda tecnológica, mas é


uma boa prática que pode auxiliar a Administração a diminuir a assimetria de informações também
em outras contratações de IA.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 33


3 Diretivas para contratações públicas de inteligência artificial

1c. Adotar uma abordagem iterativa, fundada na repetição de um ciclo contínuo de implemen-
tações, avaliações e aprendizados, para o desenvolvimento de soluções de IA no setor público.

- As soluções de IA e aprendizado de máquina diferem de outras tecnologias pela sua habilidade única
de aprender com o treinamento contínuo e periódico e de se adaptar a novos conjuntos de dados,
realizando classificações e elaborando modelos estatísticos para realizar previsões. Essa adaptabi-
lidade precisa se refletir em graus maiores de flexibilidade contratual, seja em relação à vigência
(prorrogações), seja em relação ao objeto (alterações quantitativas e qualitativas).

- O processo de contratação pública não se exaure com a assinatura do contrato. Pelo contrário: o
acompanhamento e a fiscalização da execução contratual - contando, sempre que possível, com a
participação de atores independentes - propiciam aprendizados de muito valor para a Administração
Pública, que geralmente possui poucos quadros qualificados para monitorar o desenvolvimento e a
aplicação de soluções de IA.

- A estruturação do procedimento de contratação em fases ou portões (gates) de seleção (como na


encomenda, no Marco Legal de Startups ou no diálogo competitivo, p.e.) permite um melhor apro-
veitamento da experiência dos fornecedores, representando também uma primeira oportunidade
de conduzir avaliações de impacto algorítmico.

3.2. Avaliar os riscos e os benefícios que o emprego de IA


pode trazer para a resolução do problema subjacente à
contratação
Toda contratação pública parte de um problema. Identificá-lo corretamente é, ao mesmo
tempo, o ponto de partida e de chegada de todo o processo administrativo, orientando desde
o planejamento prévio até a gestão contratual. Identificada a necessidade da Administração,
é neste momento em que ocorre a decisão make-or-buy: ou se decide pelo desenvolvimento
da solução de IA pela própria organização (in house) ou pela sua obtenção junto ao mercado,
mediante uma contratação pública (outsourcing).

Nesta segunda diretiva, o objetivo é saber se a IA de fato representa a melhor alternativa


técnica para solucionar o problema enfrentado. Afinal, essas tecnologias envolvem riscos
e geram desafios sob o ponto de vista ético e de governança de dados que precisam ser
mapeados e mitigados desde as fases mais iniciais de planejamento do projeto. Entretanto, o
setor público é marcado por fortes assimetrias de informação que tornam essa análise mais
difícil. O custo-benefício do emprego de IA em cada caso concreto precisa ser analisado de
forma ampla e plural, contando com a participação de fornecedores e da sociedade em geral.

Nesse contexto, merece destaque o Mapa de Gerenciamento de Riscos, detalhado no


artigo 38 da Instrução Normativa SEGES/ME nº 01/2019, que disciplina a contratação de
soluções de TI na Administração Federal. O objetivo deste documento é identificar e avaliar
os principais riscos que podem comprometer a contratação, desde o planejamento prévio
até a gestão contratual, indicando ações de contingência e os respectivos responsáveis pela
sua implementação. O Mapa deve ser atualizado diversas vezes ao longo das fases interna e
externa da contratação e, em se tratando de IA, deve considerar também riscos específicos
decorrentes do emprego dessa tecnologia. Essas avaliações de risco em IA recebem o nome

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 34


3 Diretivas para contratações públicas de inteligência artificial

de Algorithm Impact Assessment, ou Avaliação de Impacto Algorítmico (AIA) e abrangem


todo o ciclo de vida da solução, desde o projeto até a implementação.

Veja, a seguir, a matriz presente no Manual de Gestão de Riscos do TCU, que combina critérios
de impacto e probabilidade para classificar riscos presentes em contratações públicas em geral:

Figura 5. Mapa de Gerenciamento de Riscos (impacto x probabilidade)

AÇÕES DE GERENCIAMENTO DE RISCO

6 8 9
Considerável Indispensável Indispensável
esforço de gerenciar e extensivo
Alto gerenciamento gerenciamento
monitorar riscos
é necessário de risco
IMPACTO

3 5 7
Riscos podem Esforço de Esforço de
Médio ser aceitos, com gerenciamento gerenciamento
monitoramento é necessário exigido

1 Aceitar, mas 2 Gerenciar e 4


Baixo Aceitar Riscos
monitorar riscos monitorar riscos

Baixa Média Alta

PROBABILIDADE

Fonte: Manual de Gestão de Riscos do TCU, p. 29.

O Apêndice deste documento apresenta um modelo de AIA elaborado à luz da legislação


brasileira. Esse modelo foi elaborado com base no Workbook do projeto AI Procurement in
a Box, do Fórum Econômico Mundial, bem como na Diretiva sobre Decisões Automatizadas,
do Governo do Canadá e nas recomendações do Instituto AI Now sobre a AIA.

Diretiva 2 l Princípios
2a. Nem sempre IA será a melhor alternativa técnica para o caso concreto. Explique clara-
mente no Estudo Técnico Preliminar e no Termo de Referência porque o emprego de IA foi
escolhido, à luz de outras alternativas técnicas, para solucionar o problema da Administração.

- A contratação de um sistema de IA deve ser embasada na análise das alternativas tecnológicas apre-
sentadas durante o planejamento da contratação. Procedimentos como a Encomenda Tecnológica, o
Diálogo Competitivo e o Contrato Público para Solução Inovadora (CPSI) admitem maior flexibilidade na
definição do objeto e podem justificar a incorporação de tecnologias alternativas no escopo do contrato.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 35


3 Diretivas para contratações públicas de inteligência artificial

- Descreva claramente no processo as diligências adotadas pela Administração para analisar o mercado
e conhecer eventuais alternativas técnicas disponíveis para solucionar o problema. Isso será útil para
demonstrar à fiscalização dos órgãos de controle que o órgão ou ente contratante agiu com diligência
no planejamento da contratação.

- As capacidades institucionais do órgão ou ente público para a inovação precisam ser levadas em
conta, bem como a existência de quadros qualificados para acompanhar uma eventual contratação
pública de IA, desde o seu planejamento até a execução contratual.

- Documentar as necessidades do usuário final é importante para o sucesso da contratação, pois pos-
sibilita a descrição das funcionalidades desejadas no edital, permitindo uma comunicação adequada
aos fornecedores de IA.

2b. Explique no Estudo Técnico Preliminar porque os benefícios do emprego de IA superam


eventuais riscos, conferindo transparência ao processo de tomada de decisão adotado pelo
Poder Público.

- Com relação aos sistemas de IA, o benefício público vai além da relação custo-benefício e também
inclui considerações sobre a transparência do processo de tomada de decisão, escalabilidade da
solução e outros fatores que estão incluídos nestas diretrizes.

- Conduzir todo o processo de forma colaborativa, utilizando reuniões abertas, seminários e oficinas
para ouvir os atores afetados pelo problema a ser solucionado pela IA.

- Realizar consultas e audiências públicas, com a participação de fornecedores e da sociedade em


geral, contribui para diminuir a assimetria de informações e pode ajudar a identificar alternativas
para resolver o problema enfrentado. Note que esses procedimentos são possíveis em diversos
momentos da contratação.

- Publicar, sempre que não houver sigilo, a decisão que justifica a melhor alternativa e define a neces-
sidade da Administração, conferindo publicidade aos critérios empregados na escolha da IA.

2c. Realizar uma avaliação inicial dos riscos e dos impactos decorrentes do uso IA ainda na
fase de planejamento prévio da contratação, atualizando-a sempre que necessário ao longo
do processo.

- Integrar a AIA ao Mapa de Gerenciamento de Riscos da IN SEGES/MP nº 1/2019 é importante para


avaliar se, de fato, o emprego de IA atende o interesse público naquele caso concreto. A AIA deve
avaliar as necessidades dos usuários e das comunidades afetadas pelo sistema, bem como os even-
tuais riscos associados ao emprego da tecnologia (proteção de dados pessoais, parcialidade, viés
algorítmico, p.e.), propondo ações de contingência para sua mitigação e controle. A avaliação deve
ser ampla, plural e contar com a participação de múltiplos atores, públicos e privados.

- Coordenar os diversos órgãos envolvidos na contratação pública de IA desde o início (p.e., gestão de
contratos, orçamento e finanças, assessoria jurídica), mantendo-os atualizados de todo o procedimento
e definindo com clareza os momentos em que cada um será chamado a exercer suas atribuições.

- Conduzir uma análise comparada com outras Administrações Públicas, nacionais e no exterior, e com
base na literatura acadêmica, de modo a antever potenciais problemas do emprego da tecnologia
desejada, recorrendo, se for o caso, à contratação de auditorias específicas.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 36


3 Diretivas para contratações públicas de inteligência artificial

- A AIA é o ponto de partida para avaliar possíveis consequências danosas, intencionais ou não, decor-
rentes da tecnologia. Considere que o uso de IA para tomada de decisões automatizadas ou semi-au-
tomatizadas aumenta, relativamente, o grau de risco potencial associado ao sistema e pode exigir
um grau maior de interação com mecanismos de revisão, supervisão humana (human-in-the-loop) e
outras salvaguardas.

3.3. Promover o alinhamento da contratação com os objetivos


de estratégias nacionais e locais envolvendo IA
Muitos países encontram-se atualmente no processo de elaboração de suas Estratégias
Nacionais de IA. Após o pioneirismo do Canadá, que publicou a sua Pan-Canadian Artificial
Intelligence Strategy em 2017, mais de cinquenta países - como Áustria, Bélgica, Cingapura,
Colômbia, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Itália, México, Reino Unido, e Suíça
- publicaram planos voltados ao desenvolvimento de IA5.

A necessidade de uma estratégia nacional, com um planejamento de longo prazo e ações


bem articuladas, é justificada pela posição do Brasil nas classificações internacionais sobre
maturidade de IA. Em 2020, o Government AI Readiness Index, realizado pela Universidade de
Oxford e pelo International Development Research Centre (IDRC), comparou 33 indicadores para
medir o potencial para a implementação de IA em 172 países. O Brasil ocupava a 63º posição
e o 6º lugar na América Latina, atrás de Uruguai, Chile, Colômbia, Argentina e México. O país
melhorou significativamente a sua posição no ano seguinte, atingindo o 40º lugar entre 160
países no Index de 2021. Contudo, o cenário nacional permanece distante não apenas dos
líderes, como EUA (1º), Cingapura (2º) e Reino Unido (3º) e Finlândia (3º), mas também de
países menores e com economias bem menos expressivas que a brasileira.

O mapa abaixo ilustra a forte desigualdade entre países do norte e do sul global na matu-
ridade para emprego de IA e no desenvolvimento de novas tecnologias, comprometendo
avanços no setor:

Figura 6. Índice de maturidade para a adoção de IA em países selecionados

Fonte: Government AI Readiness Index (2020)

5  Para mais informações sobre o mapeamento mundial de estratégias nacionais de IA (atualizado até 2019), confira
a página do Observatory of Public Sector Innovation, da OCDE, neste link: https://oecd-opsi.org/projects/ai/strategies/
Acesso em 30/09/2021.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 37


3 Diretivas para contratações públicas de inteligência artificial

Com base nos Princípios da OCDE sobre Inteligência Artificial, o Brasil publicou a sua Estra-
tégia Brasileira de Inteligência Artificial (EBIA), instituída pela Portaria MCTI GM nª 4.617, de
6 de abril de 2021, e alterada pela Portaria MCTI GM nº 4.979, de 13 de julho de 2021. A EBIA
pretende contribuir para o desenvolvimento de uma agenda de IA no Brasil, apresentando
nove eixos temáticos que estruturam as intervenções e as ações estratégicas para vencer os
desafios e gargalos diagnosticados no documento. Para tanto, a elaboração do documento de
referência da EBIA contou com o apoio de uma consultoria especializada, que realizou estu-
dos de benchmarking nacionais e internacionais, e um amplo processo de consulta pública.

O objetivo desta terceira diretiva é promover o alinhamento dos processos de contratação


pública de IA com os objetivos globais estabelecidos na EBIA (veja, a respeito, o Quadro 2
abaixo). Esse alinhamento é importante para garantir o uso estratégico do poder de compra
do Estado para apoiar os esforços de desenvolvimento e implantação de IA, ajudando a difun-
dir o conhecimento sobre possíveis aplicações de tecnologias emergentes no setor público.

Quadro 2. O poder de compra do Estado na Estratégia Brasileira de


Inteligência Artificial (EBIA)

Algumas ações da EBIA preveem expressamente o emprego do poder de compra do Estado


como forma de incentivo ao desenvolvimento de IA ética e responsável no Brasil. A lista a seguir
elenca algumas medidas que se alinham a essa finalidade:

• “Estabelecer como requisito técnico em licitações que os proponentes ofereçam soluções


compatíveis com a promoção de uma IA ética (por exemplo, estabelecer que soluções
de tecnologia de reconhecimento facial adquiridas por órgãos públicos possuam um
percentual de falso positivo abaixo de determinado limiar)”.

• “Desenvolver técnicas para identificar e tratar o risco de viés algorítmico”.

• “Mapear barreiras legais e regulatórias ao desenvolvimento de IA no Brasil e identi-


ficar aspectos da legislação brasileira que possam requerer atualização, de modo a
promover maior segurança jurídica para o ecossistema digital”.

• “Considerar, em licitações e contratos administrativos voltados à aquisição de produtos


e serviços de Inteligência Artificial, critérios voltados não apenas à eficiência técnica,
mas também relativos à incorporação de princípios éticos relacionados à transparência,
à privacidade, à equidade e à não-discriminação”.

A maioria dessas ações foi incluída no eixo horizontal “Aplicação no Poder Público”, da EBIA.
Aqui, além de ações voltadas à contratação pública de soluções de IA, merece destaque medi-
das voltadas à promoção do uso ético de IA no setor público, intercâmbio de dados abertos e
capacitação de quadros para o desenvolvimento de capacidades institucionais.

Atualmente, o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), com o apoio das instituições
públicas e privadas que integram os Subcomitês Temáticos da EBIA, está elaborando iniciativas
concretas para a aplicação de cada eixo temático da Estratégia, com vistas a aprimorar a sua
governança e o seu potencial para o desenvolvimento de IA no Brasil.

Fonte: Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 38


3 Diretivas para contratações públicas de inteligência artificial

Outra estratégia governamental que pode influenciar o uso da IA no setor público é a Estra-
tégia de Governo Digital (EGD), aprovada pelo Decreto nº 10.332, de 28 de abril de 2020.
A EGD é liderada pela Secretária de Governo Digital do Ministério da Economia e tem por
foco expandir a digitalização da oferta de serviços públicos ao cidadão (em especial, pelo
portal gov.br), bem como favorecer o compartilhamento de dados e a adoção de tecnologias
emergentes no setor público.

O emprego de IA é citado expressamente na iniciativa 8.2 da EGD, que busca“ (...) implementar
recursos de inteligência artificial em, no mínimo, 12 serviços públicos federais, até 2022.” Além
disso, existem várias ações voltadas à facilitação do uso de dados para projetos de digitali-
zação do governo (e-government), inclusive para IA, até o fim de 2022.

Diretiva 3 l Princípios
3a. Consultar as iniciativas governamentais relevantes, tais como estratégicas nacionais
de IA, inovação e/ou estratégias industriais, e documentos de orientação de ministérios e
departamentos que informam as políticas públicas sobre tecnologias emergentes.

- O alinhamento com a EBIA pode oportunizar acesso a uma ampla rede de especialistas envolvidos com
a agenda de IA, bem como contribuir para a formação de uma comunidade de prática em torno do
tema no Brasil. Esse acesso pode propiciar economias de escala e de escopo ao aglutinar demandas
por sistemas de IA provenientes de entes públicos distintos.

- A EBIA expressamente defende a incorporação de princípios éticos relacionados à transparência,


à equidade e à não-discriminação em contratações públicas, inspirando a sua adoção em editais e
contratos como critérios de julgamento, especificações técnicas, pontuação em propostas técnicas
e/ou obrigações contratuais, conforme o caso.

3b. Entrar em contato com órgãos e entes públicos, nas esferas federal, estadual e municipal,
que já contrataram ou desenvolveram sistemas de IA ou que se dedicam à promoção dessa
agenda no Brasil, estreitando laços para compartilhar experiências.

- A formação de parcerias, mesmo informais, entre instituições públicas deve ser incentivada, pois
favorece a troca de experiências e o compartilhamento de conhecimentos técnicos ainda escassos
no setor público.

- Associada a uma comunidade de prática, a criação de plataformas e de redes de gestores são excelentes
medidas para permitir a troca de informações, experiências e melhores práticas sobre a contratação
de soluções de IA no Brasil.

3.4. Incorporar todas as exigências da legislação referente à


proteção de dados e boas práticas aplicáveis à solução de IA
A conformidade com as leis e regulamentos aplicáveis ao objeto da contratação é um passo
importante para a estruturação do projeto. A adoção de tecnologias como IA e aprendizado
de máquina no setor público pressupõe acesso e tratamento de um conjunto expressivo de
dados, internos e/ou externos à organização. Daí a importância que assume a Lei Geral de
Proteção de Dados Pessoais (LGPD), que regulamenta o uso, a proteção e a transferência de
dados pessoais no Brasil.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 39


3 Diretivas para contratações públicas de inteligência artificial

Em vigor desde 18 de setembro de 2020, o texto da LGPD foi fortemente inspirado na regu-
lação vigente na União Europeia, o Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR, em
inglês), aprovado pelo Regulamento UE nº 679/2016 do Parlamento Europeu e do Conselho.
A LGPD prevê hipóteses que autorizam o tratamento de dados pessoais (“bases legais de
tratamento”), bem como alguns casos em que a própria legislação não se aplica (como nos
casos de “dados anonimizados” e de tratamentos realizados para finalidades voltadas a
“segurança pública” ou “defesa nacional”).

Figura 7. Principais aspectos da LGPD a partir de características selecionadas

Fonte: SERPRO.

O consentimento do titular é uma dessas bases legais (art. 7º, I e art. 11, I, LGPD), mas não
é a única e nem é superior às demais. Não será necessário obter autorização específica de
cada titular quando o tratamento estiver enquadrado em alguma das hipóteses em que a
própria lei dispensa o consentimento (art. 7º, II a X; e art. 11, II e art. 23, LGPD), observados
os princípios do art. 6º6 e os deveres de informação, comunicação e transparência entre ope-
rador, controlador, titulares e a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD).

6  Especificamente: finalidade, adequação, necessidade, livre acesso, qualidade dos dados, transparência, segurança,
prevenção, não discriminação, responsabilização e prestação de contas (art. 6º, LGPD).

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 40


3 Diretivas para contratações públicas de inteligência artificial

A LGPD tem impacto no uso de IA, principalmente em algoritmos que processam dados pes-
soais. De fato, eventuais riscos à proteção de dados pessoais devem ser considerados tanto
nos relatórios de impacto de proteção de dados (RIPDs) previstos na LGPD (art. 10, §3º e 38),
quanto nas Avaliações de Impacto Algorítmico (AIA), integrando o mapeamento de riscos
da contratação. Ademais, a transferência, interoperabilidade e a necessária interface com
políticas internas e externas de governança de dados pessoais torna evidente o elo entre a
LGPD e a contratação de sistemas de IA, em que frequentemente o fornecedor assumirá a
posição de operador de dados pessoais e o Poder Público, a de controlador.

Além da LGPD, o Brasil já possui algumas regulações setoriais relevantes para a contratação
de IA em áreas específicas. Por exemplo, na área da saúde, merecem destaque a Política
Nacional de Informação e Informática em Saúde (PNIIS), consolidada pela Portaria GM/
MS nº 1768, de 30 de julho de 2021, bem como a Lei nº 13.989, de 15 de abril de 2020, que
autorizou a telemedicina durante a pandemia de COVID-19. Além disso, o Conselho Nacional
de Justiça (CNJ) editou a Resolução CNJ nº 332, de 21 de agosto de 2020, que dispõe sobre
critérios éticos e de governança para produção e uso de IA no Poder Judiciário. Segundo o ato
normativo, o emprego de ferramentas de IA em decisões judiciais deve preservar igualdade,
não discriminação, pluralidade e solidaridade, criando condições para eliminar ou minimizar
erros de julgamento decorrentes de vieses discriminatórios de qualquer natureza.

Diretiva 4 l Princípios
4a. Realizar uma revisão completa e abrangente de toda a legislação aplicável ao objeto da
contratação, incorporando ao edital ou ao contrato, conforme o caso, as medidas necessárias
ao seu cumprimento pelo contratante e pelo contratado.

- Ao incorporar normas da LGPD e de regulamentações setoriais sobre coleta, tratamento, e transfe-


rência de dados, indique com clareza os atos normativos que serviram de fundamento para requisitos
editalícios e obrigações contratuais.

- Boas práticas e recomendações (soft law) formuladas pela academia, sociedade civil e associações
empresariais também podem ser incluídas nessa revisão e influenciar positivamente na elaboração
do edital.

- No caso de Estados e Municípios, devem-se analisar também eventuais atos normativos locais que
estabeleçam requisitos ou procedimentos próprios para contratações públicas de TI.

4b. Avaliar o grau de sigilo apropriado para proteger adequadamente segredos industriais
e informações confidenciais de licitantes e contratados, adotando também práticas de segu-
rança da informação que permitam o desenvolvimento e a implantação de soluções de IA.

- A celebração de acordos de confidencialidade ou a inclusão de cláusulas de confidencialidade nos


instrumentos contratuais pode ser uma medida necessária para encontrar equilíbrio entre o dever
legal de transparência e a necessária proteção da privacidade dos titulares de dados pessoais, pre-
vendo regras claras sobre a responsabilidade e atribuições das partes.

- Segundo a Lei de Acesso à Informação (LAI), os processos administrativos de contratação pública


têm a publicidade como regra e o sigilo, como exceção (art. 2º). Mas a LAI também protege o segredo
industrial, que pode ser objeto de divulgação parcial ou, em circunstâncias excepcionais, de sigilo
do ato (art. 22).

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 41


3 Diretivas para contratações públicas de inteligência artificial

3.5. Assegurar a acessibilidade, sob o ponto de vista técnico,


dos dados necessários ao uso de IA
A disponibilidade e o acesso a bancos de dados relevantes é um pré-requisito importante
para o desenvolvimento de qualquer solução de IA. Sem dados, a própria contratação fica
prejudicada. Por isso, esta diretiva tratará dos pré-requisitos técnicos recomendados pelo
Fórum Econômico Mundial para acessibilidade dos dados que alimentam o uso de IA no
setor público. No Capítulo 4, essas ideias serão aprofundadas a partir da discussão de casos
concretos no HCFMUSP, com recomendações pragmáticas para robustecer a governança de
dados e infraestrutura de TI necessária para a aplicação de uma ferramenta de IA na Admi-
nistração Pública brasileira.

No Brasil a digitalização do setor público ainda é um desafio. Apesar de avanços recentes,


sobretudo na esfera federal, é preciso reconhecer que na maior parte dos Estados e Municí-
pios a maior parte dos dados mantidos pelo governo ainda não se encontram digitalizados,
sendo armazenados de formas muito diferentes e heterogêneas. Em 2020, o Instituto de
Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS-Rio) publicou o “Mapa da Informação”, que
ilustra como dados pessoais básicos de cada cidadão (tais como CPF, RG, passaporte, título
de eleitor, número do cartão SUS, etc.) ainda são organizados de forma caótica nas bases de
dados governamentais. Esta falta de sistematização na coleta, no tratamento e no armaze-
namento dos dados compromete o emprego de IA em larga escala.

Em uma contratação pública, a Administração precisa deixar claro nos documentos técnicos
do edital como a hospedagem e o processamento de dados relevantes para o projeto estão
sendo realizados atualmente. A depender da sensibilidade dos dados pessoais envolvidos,
bem como de outros riscos éticos, de segurança e/ou de governança, pode ser que o desen-
volvimento interno de uma solução customizada seja mais indicado do que a contratação
de uma solução já pronta no mercado7.

Diretiva 5 l Princípios
5a. Estabelecer uma abordagem de governança de dados desde o início do processo
de contratação.

- Dada a sua importância e complexidade, implementar políticas de governança de dados é pratica-


mente um passo necessário antes de dar início a projetos de IA no setor público. Essa governança
deve abranger todas as atividades relacionadas ao projeto envolvendo dados pessoais, tais como
formas de acesso, transferência, armazenamento e adequação das bases legais de tratamento eleitas,
segundo a LGPD, para cada caso concreto. Boas práticas de governança de dados também exigem a
participação de uma equipe multidisciplinar, como explicado na Diretiva 7, abaixo.

- Mecanismos de governança de IA podem incluir:

7  A depender das necessidades de hospedagem e processamento dos dados, sistemas padrão de mercado (COTS) e
soluções como IaaS (infrastructure as a service), SaaS (software as a service) ou PaaS (platform as a service) são alternativas
a serem consideradas. Sobre essa questão, o cf World Economic Forum (2020f, p. 8).

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 42


3 Diretivas para contratações públicas de inteligência artificial

• a criação de melhores práticas ou códigos de conduta com relação à coleta, implantação e


uso de dados;

• a designação de indivíduos ou de grupos específicos dentro da organização para promover


a conformidade com as regras de governança estabelecidas;

• a adoção de medidas para aumentar a conscientização interna sobre a necessidade dessa


conformidade, inclusive por meio de orientações e treinamentos;

• a criação de selos e certificações, corporativos ou governamentais;

- É importante que sejam criados parâmetros para aferir a necessidade de supervisão ou intervenção
humana em soluções de IA em que o resultado de uma decisão automatizada implique em alto risco
de dano para o indivíduo.

5b. Avaliar se todos os dados relevantes estão disponíveis para o projeto.

- A disponibilidade efetiva dos dados necessários ao funcionamento da solução de IA deve ser avaliada
logo no início do processo de contratação. Para tanto, não é necessário analisar exaustivamente todas
as bases em uso na Administração Pública, mas deve-se realizar um esforço de priorização que indique
qual o grau de disponibilidade das bases que são de interesse para o projeto.

- Considerar a possibilidade de integrar dados de terceiros, como fornecedores ou outras entidades


públicas, quando a Administração não tiver todos os bancos de dados relevantes para o funciona-
mento da solução de IA almejada. No setor público, já é muito comum a celebração de convênios,
acordos de cooperação e parcerias para compartilhamento de dados, nos termos do art. 26 da LGPD. É
essencial, contudo, que se assegure que estas bases de dados importadas de outros contextos sejam
representativas da população nacional e local, evitando assim viés algorítmico ou riscos de exclusão.

- Se as bases de dados não estiverem disponíveis ou não puderem ser aproveitadas, pode ser necessário
construí-las do zero. Para tanto, a Administração pode celebrar parcerias com ICTs e universidades,
públicas e privadas, para estudar as melhores formas de coleta, tratamento, organização e governança
mais adequadas ao caso concreto.

5c. Definir se será preciso compartilhar dados (pessoais ou não) com o fornecedor e quais
medidas serão necessárias para a salvaguarda dos interesses da Administração ao longo do
processo de contratação pública.

- Dependendo da sensibilidade dos dados envolvidos no projeto, a Administração pode optar pela
realização de provas de conceito (PoC) para que os fornecedores tenham acesso a exemplos concre-
tos dos dados disponíveis, no estado em que se encontram (as is), e possam realizar testes de suas
soluções em ambientes próximos ao real. É importante que essa amostra seja representativa do
conjunto geral de dados, sob pena de transmitir informações incorretas aos fornecedores e afetar,
consequentemente, a qualidade das propostas recebidas.

- Criar e documentar condições apropriadas para compartilhamento de dados, tais como:

• Requisitos mínimos para o ambiente onde o fornecedor hospedará os dados;.

• Termos de consentimento, responsabilidade e uso, assinados pelo fornecedor, seus empregados,


subcontratados e prepostos, declarando que os dados serão usados exclusivamente para
desenvolvimento da solução de IA contratada pelo Poder Público;

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 43


3 Diretivas para contratações públicas de inteligência artificial

• Data limite para eliminação de dados que vierem a ser compartilhados;

• Procedimentos de confirmação da exclusão de todos os dados compartilhados com fornecedores.

5d. Garantir, sempre que possível, a anonimização de dados pessoais.

- Há muitas técnicas de anonimização para salvaguardar a privacidade de dados pessoais. Contudo,


é importante ressaltar que o gerenciamento de dados anonimizados deve ser igualmente diligente,
com vistas a evitar quaisquer possibilidades de reversão e processos de re-identificação. Sob o ponto
de vista técnico, os Estudos Técnicos Preliminares, Termos de Referência e Projetos Básicos devem
incentivar técnicas menos intrusivas, ou que alcancem resultados semelhantes a partir de dados
menos sensíveis.

5e. Confirmar que a Administração manterá acesso aos dados utilizados e produzidos pela
solução contratada.

- O acesso aos dados usados e produzidos pela solução de IA é fundamental para monitorar, controlar,
analisar e retificar o seu desempenho. Por isso, é importante garantir o acesso a dados brutos, proces-
sados e/ou combinados pela solução, bem como a dados de terceiros e dados abertos, especialmente
se houver a possibilidade de que essas bases não estejam disponíveis no longo prazo.

- Expirado o contrato, os fornecedores incumbentes podem negar-se a fornecer acesso total aos dados
empregados na solução de IA ou informações relativas ao funcionamento do algoritmo. Nesse caso,
o fornecedor deve justificar claramente a razão pela qual o compartilhamento deve ser restrito, indi-
cando quais informações encontram-se protegidas por segredo industrial (art. 22 da Lei de Acesso à
Informação) ou por direitos de propriedade intelectual. Note que as informações não confidenciais
devem ser fornecidas, nos termos do contrato, evitando assim a dependência tecnológica na Admi-
nistração durante o ciclo de vida da solução de IA.

3.6. Avaliar a qualidade, os vieses e eventuais preconceitos


dos dados disponíveis
As limitações existentes em um banco de dados podem comprometer a confiança no emprego
de IA para solucionar problemas. Com efeito, os dados que integram bases públicas e privadas
podem refletir preconceitos, viéses e outras formas de discriminação e exclusão, fornecendo
entrasdas (inputs) aos algoritmos que podem resultar em resultados (outputs) danosos para
diversas comunidades.

Esta sexta diretiva enfoca a qualidade dos bancos de dados que alimentam a solução de IA,
especialmente sob o ponto de vista ético, para evitar o enviesamento algorítmico. O diagrama
abaixo, elaborado originalmente pela Deloitte, ilustra alguns exemplos de tipos diferentes de
vícios que podem comprometer a imparcialidade do funcionamento de uma solução de IA:

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 44


3 Diretivas para contratações públicas de inteligência artificial

Figura 8. Evitando vieses nos bancos de dados que alimentam soluções de IA

Viés Cognitivo

Viés estatístico Viés baseado em dados Medindo a imparcialidade

Definição de parâmetros Amostra enviesada Desconhecimento


do estudo
Exemplo contaminado Paridade Demográfica
Hipótese estatística
Características limitadas Probabilidades Equalizadas
Detecção
Disparidade no tamanho Probabilidades médias
Avaliação de nível da amostra
de educação Impacto Disparado

Financiamento Proxy (dados representativos) Paridade da Taxa Preditiva

Revelação ou supressão Valores Atípicos Equidade contrafactual


eletiva de informações
Índices de Desigualdade
Perda de informação

Recordação incorreta

Viés do Observador

Fonte: Deloitte (2019).

Devido às vulnerabilidades inerentes ao emprego de IA no setor público, a literatura tem


recomendado que os desenvolvedores de TI criem mecanismos de supervisão humana
(“human-in-the-loop”) para evitar violações de direitos fundamentais - principalmente quando
os dados que alimentam o sistema já estiverem impregnados com vieses e preconceitos em
seus sistemas legados.

O Brasil e os países da América Latina são mais frequentemente importadores do que desen-
volvedores de soluções de IA. Contudo, quando adquirida do estrangeiro, a solução pode
ter sido treinada com base em conjuntos de dados que refletem contextos étnicos e sócio-
-econômicos muito diferentes daqueles em que o algoritmo será efetivamente empregado,
gerando distorções e, consequentemente, a necessidade de retreinamento do algoritmo. Essa
consideração também é válida caso um Estado ou Município pretenda utilizar uma solução
de IA desenvolvida por outra entidade pública de contexto muito díspar, por exemplo.

Por fim, vale lembrar que a construção de bancos de dados para treinamento de algoritmos
e desenvolvimento de modelos de IA requerem quantidades expressivas de trabalho de pré-
-processamento (“pre-processing”) antes do início da fase operacional. É o caso, por exemplo,
do relato do trabalho do AI Lab, da Universidade de Brasília, voltado ao uso de IA no Poder
Judiciário brasileiro. Outras estratégias denominadas em-processamento (“in-processing”) e
pós-processamento (“post-processing”) podem ser consideradas, a partir de uma perspectiva
mais técnica, à luz do caso concreto.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 45


3 Diretivas para contratações públicas de inteligência artificial

Quadro 3. Caso de Estudo: o AI Lab Splitter e o Victor (STF)

Em 2019, o Poder Judiciário brasileiro concentrou cerca de 78 milhões de processos, gerando


desafios que se estendem desde o gerenciamento de arquivos físicos até a alocação de juízes
e de servidores públicos em varas e comarcas. Não é por acaso que, no Brasil, os Tribunais
assumiram posição de liderança no emprego de ferramentas de inteligência artificial.

No âmbito do Supremo Tribunal Federal - a Corte mais importante do país -, o AI Lab, da Uni-
versidade de Brasília, foi escolhido para desenvolver uma solução de Ia, o “Victor” para auxiliar
os servidores e magistrados a reconhecer recursos repetitivos e processos classificados como
de repercussão geral.

Em regra, os sistemas de processo eletrônico em uso nas Cortes inferiores estão sobrecarregados
de documentos escaneados, em formato PDF, com arquivos contendo vários documentos em
separado. O processamento dessas informações por meio de modelos de IA tornou necessária
a divisão de cada arquivo e o posterior agrupamento de conjuntos de páginas para identificar
cada peça em separado. Normalmente, métodos de classificação combinado texto e imagem
rendem bons resultados, porém essa abordagem resultaria em uma demanda computacional
excessiva, gerando dificuldades operacionais.

Em alternativa, o AI lab criou um método novo que emprega um novo sistema de etiquetagem
para obter o mesmo resultado com custos menores. A equipe construiu um novo conjunto de
dados públicos, chamado AI.Lab.Splitter, destinado especificamente à tarefa de segmentação
do fluxo de páginas que conta com mais de 30 mil de amostras etiquetadas.

Fonte: Braz, Silva e Lima (2021).

Diretiva 6 l Princípios
6a. Avaliar previamente possíveis deficiências nas bases de dados que possam gerar reflexos
negativos para o funcionamento da solução de IA contratada.

- Sempre que possível, deve-se incentivar o emprego de dados públicos e abertos. Em se tratando de
dados revestidos de algum grau de sigilo, o edital precisa refletir os requisitos de governança de dados
aplicáveis aos fornecedores do setor público, identificando responsabilidades e prevendo ações de
mitigação de riscos ligados a vieses e discriminação algoritmica.

- Uma base de dados pode ser considerada adequada se atender aos critérios seguintes:

• Representatividade dos dados, ou seja, se representam adequadamente o público-alvo


da solução;

• Proveniência, incluindo a forma e os motivos da coleta;

• Ausência de lacunas na qualidade dos dados (p.e, poucos valores ausentes de um determinado
elemento do banco de dados);

• Inexistência de vieses presente nos dados, como riscos de preconceito e exclusão; e

• Clareza nos metadados.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 46


3 Diretivas para contratações públicas de inteligência artificial

6b. Destacar, no Estudo Técnico Preliminar e no edital da contratação, as limitações conhe-


cidas dos bancos de dados, a fim de que os fornecedores possam propor alternativas para
minimizar possíveis problemas ao longo do desenvolvimento da solução de IA.

3.7. Constituir uma equipe diversa e multidisciplinar para


acompanhar a contratação de IA
Muitos países e organizações internacionais recomendam que os processos de contratação
pública de IA sejam conduzidos por equipes heterogêneas e perfis multidisciplinares, pre-
ferencialmente composta por representantes dos diversos órgãos envolvidos no processo
de contratação (orçamento, jurídico, TI, etc). No Brasil, a Nova Lei de Licitações e Contratos
apresenta preocupação renovada com a capacitação dos agentes de contratação (artigos
7º e 8º) e incorporou a jurisprudência do TCU sobre segregação de funções8.

O fomento à diversidade é importante no desenvolvimento de soluções de IA. Esse ponto é


destacado pela iniciativa fAIr LAC, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que
se dedica à promoção do desenvolvimento de IA ético e responsável nos países da América
Latina e do Caribe:

Figura 9. Desafios para a adoção de IA em países da América Latina

Bases de dados Desenvolvimento de Modelos


Discriminação passada Vazamento de informações
Amostras não representativas Mudanças temporárias
para populações de interesse Sobre-ajuste e subajustes

Governança e Uso e tomada


Segurança de decisões
Governança e Ciberataques Viés Algoritmico (saída)
Penetração ilegal e IA Impacto diferenciado (resultados)
e ataques adversos

Conceptualização Accountability
e design Interpretabilidade e explicabilidade
Necessidade e proporcionalidade Consentimento informado e
Definição correta do problema de limites de privacidade
política pública e resposta Responsabilidade e
prestação de contas

Interoperabilidade e Impacto sistêmico


transformação digital Interação humano-IA
Disponibilidade, interoperabilidade Impactos econômicos, educacionais,
e qualidade dos dados e no mercado de trabalho
Falta de conhecimento técnico Competição e a consolidação
monopolistica de informação

Fonte: Cabrol et al. (2020)

8  “A segregação de funções, princípio básico de controle interno que consiste na separação de atribuições ou respon-
sabilidades entre diferentes pessoas, deve possibilitar o controle das etapas do processo de pregão por setores distintos
e impedir que a mesma pessoa seja responsável por mais de uma atividade sensível ao mesmo tempo”. Acórdão TCU nº
2829/2015, Plenário, Rel. Min. Bruno Dantas.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 47


3 Diretivas para contratações públicas de inteligência artificial

De fato, o planejamento de uma contratação pública de IA pode ser facilitado se a Adminis-


tração constituir, desde o início, uma equipe diversa e multidisciplinar encarregada do seu
acompanhamento. Note que a existência de uma comissão bastante heterogênea é útil não
somente para neutralizar possíveis vieses e preconceitos, mas também para agregar com-
petências técnicas provenientes de perfis profissionais diversos e estratificados.

Por fim, vale destacar a ascensão da relevância das considerações de CSR (Corporate-Social-
-Responsibility), particularmente nos Estados Unidos e na Europa, comumente mensuradas
por meio de indicadores ESG (Environmental, Social and Governance). Em particular, a conside-
ração de “diversidade” no ambiente de trabalho é cada vez mais exigida por consumidores,
funcionários e investidores, extrapolando a preocupação tão somente com a mitigação de
impactos algorítmicos.

Diretiva 7 l Princípios
7a. É importante que o processo de contratação pública de IA favoreça a tomada de decisão
por uma equipe diversa e multidisciplinar, acumulando diferentes perfis sócio-demográfi-
cos e competências técnicas, e que seja capaz de identificar e neutralizar possíveis vieses
e estereótipos.

- Uma equipe diversificada deve abranger pessoas de diferentes gêneros, idades, etnias, deficiências,
orientações sexuais e outras características sócio-demográficas. Uma composição ampla e plural
assegura que eventuais problemas decorrentes da solução sejam abordados de diferentes ângulos,
favorecendo a sua resolução de forma ética e responsável.

- Além disso, é importante que a equipe designada pela Administração tenha clareza das atribuições
e das habilidades necessárias para acompanhar a contratação, desde o planejamento até a execu-
ção contratual. Para tanto, essas equipes devem preferencialmente incluir perfis com competências
técnicas na área-fim em que a solução de IA será aplicada (p.e., justiça, educação, segurança pública,
programas habitacionais, etc), bem como em áreas-meio, como ciência de dados, TI, contratações
públicas, ética e direitos humanos.

7b. Sob o ponto de vista do fornecedor, é importante que o contratado também reúna uma
equipe de desenvolvimento da solução de IA formada por perfis heterogêneos e que ostente
capacitação adequada.

- Caso tenha sido exigida a comprovação de capacidade técnica-operacional como requisito de habili-
tação dos licitantes em certame licitatório, a Administração deve exigir que os profissionais indicados
pelo proponente sejam, de fato, os que executarão o objeto contratado.

- Similarmente, a comprovação da diversidade da equipe desenvolvedora poderá ser considerada


como indício de atenção e esforço pela mitigação de potenciais vieses algorítmicos. Nesse sentido,
treinamentos de diversidade, equidade e inclusão (Diversity, Equity and inclusion, DEI) para a equipe
de desenvolvedores do contratado poderiam ser incluídos como obrigação contratual ou ainda ser
considerado para fins de pontuação em propostas técnicas, mediante justificativa, no edital que rege
a contratação (veja a Diretiva 9, item d).

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 48


3 Diretivas para contratações públicas de inteligência artificial

3.8. Incorporar ao procedimento de contratação critérios que


assegurem a transparência, responsabilidade e prestação
de contas sobre os algoritmos
Superado com êxito o desafio da contratação pública da solução de IA, o acompanhamento
da gestão do contrato pode ser um gargalo ainda mais sensível para a Administração. Esse
monitoramento pode ser especialmente difícil em soluções consideradas “opacas” no que diz
respeito ao processamento de dados e aos seus processos internos de tomada de decisão.
Para isso, a literatura tem chamado a atenção para a necessidade de robustecer mecanismos
de transparência e auditabilidade dos algoritmos contratados pelo Poder Público, priorizando
o estabelecimento de etapas definidas e mensuráveis para o desenvolvimento da solução e
também para a avaliação do seu funcionamento.

A tabela abaixo, elaborada pelo Fórum Econômico Mundial, apresenta um roteiro de per-
guntas que orienta o contratante sobre a importância da explicabilidade de algoritmos em
soluções de IA.

Tabela 8. Explicabilidade de algoritmos em soluções de IA

Objetivos Perguntas orientadoras

1. Como o fornecedor aborda a ética em sua organização?

2. O fornecedor é capaz de explicar, em linguagem simples e


acessível, o funcionamento do seu sistema de IA?

Descrever o 3. O fornecedor fornece orientações e explicações claras sobre


funcionamento do como os resultados do processo de IA devem ser interpretados
sistema de IA para pelo público?
garantir que seus
4. O fornecedor delineia o perfil do usuário da solução (especialista
resultados sejam
em IA, cientista de dados, consumidores e usuários de serviços
explicáveis e/ou
públicos em geral, etc.) e requer uma validação humana da
interpretáveis
explicação apresentada?

5. O fornecedor destaca quais são os parâmetros-chave em seu


modelo de IA e explica como as mudanças nesses parâmetros
afetam os resultados do sistema?

Permissão para auditar o


1. O fornecedor permite a realização de auditorias externas e
sistema de IA por meio de
independentes? No caso de uma auditoria externa não ser
auditorias independentes
possível, deve ser apresentada uma justificativa.
ou terceiros

1. O fornecedor é capaz de descrever quais informações são


capturadas pelo sistema de IA e fornecer uma taxonomia para
Garantia de que o sistema descrever o significado de tais informações?
de IA é auditado de ponta
a ponta 2. O fornecedor fornece documentação adequada relacionada ao
desenvolvimento e suporte do sistema de IA, tais como, por
exemplo, relatórios de testes, registros e critérios de qualidade?

Fonte: World Economic Forum (2020f, p. 24)

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 49


3 Diretivas para contratações públicas de inteligência artificial

A incorporação de considerações éticas é importante para a regulação de novas tecnologias,


particularmente esta que, além do potencial de infligir danos e de sua falta de transparência
(opacidade), permite a uma escalabilidade sem precedentes. No campo da IA, o emprego de
Avaliações de Impacto Algorítmico (AIA) vem sendo recomendado para destacar os even-
tuais riscos decorrentes de sistemas com algum grau de tomada de decisões automatizadas,
favorecendo a transparência, a interpretabilidade e a explicabilidade (quando possível) dos
algoritmos utilizados em cada caso concreto.

Como já dito, o Apêndice deste estudo apresenta um modelo de AIA adaptado ao contexto
brasileiro, o qual pode ser útil para auxiliar a Administração na definição de responsabilidades
e atribuições para o acompanhamento da solução de IA contratada.

Diretiva 8 l Princípios
8a. Incentivar uma cultura de responsabilidade na governança em soluções de IA.

- A Administração não pode confiar cegamente em algoritmos para justificar decisões que afetam
direitos fundamentais, sobretudo em face de possíveis efeitos discriminatórios causados pela IA no
que diz respeito ao acesso a políticas e serviços públicos. Além de incorporar a AIA ao processo de
contratação pública, é recomendável que o Poder Público realize auditorias externas independen-
tes como mecanismos de fiscalização e de certificação do cumprimento de obrigações contratuais.
Estas auditorias, idealmente, deveriam averiguar se as diferentes medidas usadas na avaliação de
algoritmos (como falsos positivo e negativo, acurácia, p.e.) apresentam números muito díspares entre
recortes sócio-demográficos diferentes.

- A responsabilidade do contratante e do contratado sobre potenciais riscos e efeitos indesejados


decorrentes da solução de IA deve ser alocada conforme a matriz de riscos definida no contrato,
atribuindo-se em regra à parte que tenha maiores condições de evitar a sua ocorrência ou minorar
os seus efeitos, conforme o caso.

8b. Assegurar que a tomada de decisões sobre IA seja o mais transparente possível.

- A contratação deve incentivar a explicabildade dos algoritmos contratados pelo Poder Público, incen-
tivando o emprego de linguagem simples para explicar o funcionamento da solução, de forma clara,
ao seu público-alvo.

- A prestação de contas pode incluir a entrega de documentação específica sobre os algoritmos em


uso, contendo informações sobre os dados usados para treinamento, aprendizagem supervisionada,
bem como quaisquer distorções, riscos ou vieses já detectados no modelo. Este conceito, análogo a
uma bula de um remédio, é retratado de forma bastante simples e direta pelo Model Cards, do Google.

8c. Explorar mecanismos para permitir a rastreabilidade, a interpretabilidade e a explicabilidade


dos algoritmos, interna e externamente, para estabelecer contestabilidade à solução de IA.

- A noção de interpretabilidade liga-se à possibilidade de compreender os resultados obtidos por meio


de uma ferramenta de IA sem a necessidade de conhecimentos técnicos. Em paralelo, a explicabilidade
corresponde à apresentação clara dos mecanismos do modelo adotado pela solução, permitindo a
rastreabilidade do resultado para uma etapa em específico. Para garantir a adesão a esses conceitos,
é importante documentar os passos lógicos que a solução de IA emprega, explicando quais variáveis
contribuem para cada resultado.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 50


3 Diretivas para contratações públicas de inteligência artificial

- Existe um trade-off entre explicabilidade e a precisão em soluções de IA. Técnicas estatísticas clássicas
como “árvores de decisão” são mais simples e fáceis de se explicar, mas tem menor grau de precisão
do que modelos mais complexos, como as redes neurais. Estas, por sua vez, têm poder de previsão
bastante elevado, mas são consideradas “caixas pretas” em razão de sua opacidade e complexidade.

- A contestabilidade, ou seja, a possibilidade de que usuários e agentes externos possam questionar


os resultados da ferramenta em caso de lesão, bem como influenciar os seus resultados no futuro, é
um objetivo adicional a ser buscado. Além de flexibilidade nas cláusulas contratuais, mecanismos de
governança e canais para receber e responder demandas dos usuários externos podem ser impor-
tantes para garantir a aderência ética da solução de IA ao longo de todo o seu ciclo de vida.

3.9. Prever obrigações de transferência de conhecimento e


rotinas de avaliação de riscos da solução de IA no longo prazo
Nem sempre é possível prever, nas fases mais iniciais do processo de contratação, como será
o funcionamento efetivo de uma solução de IA. Por vezes, as suas reais consequências só
se tornam evidentes durante a execução contratual, exigindo maior comunicação e intenso
compartilhamento de informações entre a Administração e o fornecedor responsável pelo
desenvolvimento do sistema.

Esta nona diretiva destaca que a redução da assimetria informacional não se perfaz com a
entrega da solução contratada, exigindo treinamento específico e capacitação adequada
nos quadros da Administração. Essa transferência de conhecimentos sobre IA para o Poder
Público é importante para permitir a avaliação do algoritmo ao longo de toda a sua vida útil,
mesmo após o fim da vigência do contrato.

A tabela abaixo destaca algumas considerações relevantes para estruturar um processo de


transferência de conhecimento entre contratante e contratado em soluções de IA:

Tabela 9. Transferência de conhecimento e avaliações de longo prazo


em soluções de IA

Objetivos Perguntas orientadoras

1. O fornecedor oferece treinamento, cartilhas e/ou manuais


O sistema de IA não se aos interessados?
desviará de seu propósito 2. A criação de materiais de treinamento faz parte do escopo
original contratual no desenvolvimento de sistemas de IA sob
medida?

1. O fornecedor descreve o perfil do usuário do sistema de


IA, incluindo as expectativas em torno de sua capacitação e
habilidades?
Garantia de usabilidade
para usuários que não foram 2. O fornecedor explica como os usuários podem ser
previamente treinados para treinados para usar e entender a solução de IA que será
usar a solução implementada?

3. O fornecedor elenca os pré-requisitos e as habilidades


necessárias para usar o sistema de IA?

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 51


3 Diretivas para contratações públicas de inteligência artificial

Objetivos Perguntas orientadoras

1. O fornecedor descreve como será o processo de


transferência e migração para outros sistemas de IA,
desenvolvidos sob medida ou padrão de mercado (COTS)?
Esse processo precisa ser detalhado por meio de:

a. Métricas para garantir a integridade do sistema de IA.


Como o sistema de IA será b. Rotinas e atividades de manutenção preventiva e corretiva.
mantido ao longo do tempo,
c. Contratos de manutenção e suporte.
e se terceiros poderiam
ser contratados para essas d. Adequação para suporte de terceiros.
atividades. 2. O fornecedor apresenta um Acordo de Nível de Serviço, caso
o sistema seja baseado em software como um serviço (SaaS)?

3. O fornecedor apresenta como deve ser a implantação em


escala da sua solução de IA (por exemplo, limite de cobertura
de dados, exigências mínimas de treinamento, sensibilidades
de tempo de processamento do sistema, etc.)?

Fonte: World Economic Forum (2020f, p. 28)

Diretiva 9 l Princípios
9a. Reconhecer que a aquisição de uma solução de IA implica em assumir um compromisso
de longo prazo com a avaliação da ferramenta ao longo de toda a sua vida útil.

- A solução de IA precisará receber manutenção corretiva e preventiva sazonalmente para aprimorar a


acurácia do modelo, mitigar potenciais vieses e monitorar o suporte, a documentação, a disponibili-
dade, o versionamento e a evolução da plataforma. Vale a pena estudar antecipadamente os custos
e desafios envolvidos em cada solução, avaliando também se será necessário obter apoio externo de
especialistas externos à Administração para o desempenho dessas atividades.

- Considerar a implementação de uma estrutura de governança para IA integrando normas, valores e


princípios que orientam os procedimentos e o fluxo de trabalho do projeto. A AIA deve ser repetida
também ao longo da execução contratual, em periodicidade adequada à mutabilidade do funciona-
mento do algoritmo.

9b. Prever no contrato obrigações de capacitação e treinamento que permitam a transferência


de conhecimento e a redução de assimetrias informacionais entre contratante e contratado.

- A transferência de conhecimento deve ser pensada como uma fase da gestão contratual compreendendo
diversas ações, de caráter pontual e/ou continuado, com o objetivo de capacitar adequadamente a
equipe do contratante. O objetivo é permitir que a Administração possa usar a ferramenta por conta
própria após o término da vigência do contrato. É importante que a manutenção e a auditoria da
solução possam ser realizadas independentemente do fornecedor.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 52


3 Diretivas para contratações públicas de inteligência artificial

9c. Solicitar ao fornecedor que disponibilize informações para uso apropriado da solução de
IA por não-especialistas.

- O contrato deve prever obrigações de treinamento, manutenção e suporte em quantidade suficiente


para capacitar os usuários da solução, evitando usos não autorizados dentro e/ou fora da organização.

- Permitir auditoria de ponta a ponta abrangendo as fases de modelagem, treinamento, testes, veri-
ficação e implementação do ciclo de vida do projeto. Isso permitirá um registro contínuo de infor-
mações relevantes que podem contribuir para os objetivos de interpretabilidade e explicabilidade
da solução de IA.

9d. Usar considerações éticas, sempre que possível, como critérios técnicos para avaliação
de propostas.

- A realização de provas de conceito (PoC) pode servir para analisar, com base nos critérios previstos
no Projeto Básico ou no Termo de Referência, critérios éticos relativos ao funcionamento da solução
de IA apresentada pelo fornecedor. Os licitantes devem ser capazes de descrever o roteiro lógico
de seus modelos de decisão e, também, de demonstrar o funcionamento da solução em ambiente
real, apoiando-se, se for o caso, em atestados que comprovem a prévia execução de atividades de
complexidade técnica semelhante àquelas exigidas no instrumento convocatório.

- Caso o procedimento de contratação pública adotado admita a avaliação de critérios técnicos, a


Administração deve adotar parâmetros objetivos de pontuação e definir as métricas de desempenho
mínimo que o modelo de IA deve cumprir para evitar a desclassificação da proposta. Este é um ponto
que depende de grande conhecimento técnico e, por isso, é recomendável que esses critérios sejam
objeto de consultas públicas e oficinas de co-criação com potenciais fornecedores ainda durante a
elaboração do edital.

3.10. Garantir isonomia no tratamento e igualdade de


condições aos fornecedores de soluções de IA
O envolvimento de fornecedores de soluções de IA desde as fases mais iniciais do projeto é
importante não só para o engajamento de atores relevantes no mercado de TI, mas também
porque reduz assimetrias de informação e alinha expectativas entre a Administração e seus
potenciais contratados, aumentando a probabilidade de sucesso da contratação subsequente.

Nas contratações de TI realizadas pelo setor público, a participação de grandes empresas


(big techs) costuma ser proporcionalmente superior à participação de PMEs e startups. Nesse
contexto, é frequente a preocupação da Administração de evitar situações de dependência
tecnológica aos seus atuais fornecedores (lock-in)9.

Ademais, o lock-in também precisa ser analisado sob o ângulo da portabilidade e da intero-
perabilidade dos dados envolvidos na solução da IA. É importante garantir a migração do
contrato do antigo para o atual contratado (v. Opara-Martins, Sahandi, Tian, 2016), bem
como evitar que o fornecedor incumbente aufira vantagens competitivas tão grandes que
impossibilitem a atuação de entrantes no futuro.

9  A respeito, vale lembrar que a “dependência técnica, estratégica e financeira” foi um dos argumentos usados pelo
Conselho Nacional de Justiça para suspender contrato celebrado entre o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e a
Microsoft, como evidencia o voto do relator, Cons. Márcio Schiefler Fontes, no Proc. 0002582- 36.2019.200.0000.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 53


3 Diretivas para contratações públicas de inteligência artificial

A seguir, o Fórum apresenta um roteiro de perguntas orientativas para auxiliar a Adminis-


tração a compreender quais atribuições, dentro de um projeto de IA, devem permanecer
com a sua equipe interna ou ser alocadas a um potencial contratado. Essa lista não pretende
estabelecer um rol taxativo, mas serve como ponto de partida para entender como deve ser
feita a divisão de responsabilidades entre o Poder Público e seus fornecedores.

Tabela 10. Critérios para especificação e avaliação de soluções de IA a partir da


interação com fornecedores - pontos principais

Objetivo Questões relacionadas

1. Qual parte do problema é


solucionado pela ferramenta?

2. O sistema já existe no
mercado ou foi desenvolvido e
customizado sob medida para o
caso concreto?
O fornecedor compreende com 3. Quais algoritmos ou técnicas
clareza qual o problema que a serão implementados por meio
Administração pretende resolver do sistema?
Escopo
por intermédio da contratação
pública, bem como os objetivos do 4. Como garantir que o sistema
projeto. não se desvie de sua finalidade
pretendida?

5. O sistema de IA é adequado ao
conjunto de dados disponíveis?

6. Os novos dados carregados pelos


usuários? Os dados são gerados
por um sistema automatizado?

1. Como que o fornecedor pretende


endereçar as preocupações éticas
e legais do projeto?

2. Como garantir que o


O fornecedor compromete-se consentimento dos titulares
a obter o consentimento dos de dados pessoais será obtido
titulares ao tratar dados pessoais e gerido durante a vida útil da
Consentimento e solução de IA?
para desenvolver um algoritmo,
controle
adotando mecanismos de 3. Quais critérios serão usados
supervisão humana sobre os para definir acesso, controle
resultados do modelo de decisão. e segurança dos dados
empregados no sistema de IA?

4. Qual é o grau de supervisão


humana sobre recomendações e
decisões efetuadas pelo sistema?

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 54


3 Diretivas para contratações públicas de inteligência artificial

Objetivo Questões relacionadas

1. Há clareza nos requisitos de


cibersegurança do sistema e
como será estruturada a proteção
de dados?

2. Quais são as possíveis ameaças


ao sistema de IA, considerando
potenciais adversários externos e
internos?
O fornecedor envidará os seus
Proteção 3. Quais bases de dados foram
melhores esforços para evitar
de dados e utilizadas para treinar o
danos, intencionais ou não, e
cibersegurança algoritmo?
práticas inadequadas.
4. Foram implantadas medidas
para garantir a qualidade dos
processos de coleta e tratamento
de dados?

5. Os conjuntos de dados usados ​​


para treinamento foram
construídos para um propósito
ou foram reaproveitados?

1. Quais limitações foram


identificadas no banco de dados
do sistema?

2. Quais serão as estratégias a


O processo de tomada de decisão
serem adotadas para mitigar o
Considerações do sistema será baseado em
risco de vieses, preconceitos e
éticas critérios justos, transparentes e
exclusão?
auditáveis.
3. Como o sistema de IA será
avaliado ao longo do seu ciclo
de vida para detectar eventuais
riscos?

1. Como a equipe do contratado


poderá garantir que os resultados
Explicabilidade O funcionamento do sistema pode do sistema serão explicáveis e
do modelo de ser explicado adequadamente a acessíveis?
decisão seus usuários. 2. Qual metodologia será adotada
para permitir a auditabilidade do
sistema de IA, de ponta a ponta?

1. Qual será o treinamento a ser


Está claro como será feita a ministrado aos usuários da
manutenção do sistema de IA ao solução por parte da entidade
longo da sua vida útil, bem como contratante?
Gerenciamento
será garantida a sua integridade a 2. Quais são os perfis profissionais
de ciclo de vida
longo prazo, incorporando questões (cientistas de dados, profissionais
sobre a capacitação de servidores de TI, etc) necessários à
públicos e eventuais terceirizados. manutenção e à operação do
sistema?

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 55


3 Diretivas para contratações públicas de inteligência artificial

Objetivo Questões relacionadas

1. Explicar como o sistema de IA


vai interagir com os seguintes
Averiguar se a solução elementos:
segue padrões específicos
(locais ou internacionais) de a. Requisitos de armazenamento,
Interoperabilidade
interoperabilidade aberta e acesso e processamento dos
e outros padrões
outras boas práticas relevantes dados necessários;
de cibersegurança, portabilidade, b. Ferramentas de
acessibilidade e usabilidade. monitoramento;
c. Sistemas padrão de operações.

1. A equipe do fornecedor reúne os


requisitos de capacidade técnica
e as habilidades necessárias para
o cumprimento do objeto?

2. O fornecedor mostra a
importância da diversidade
O fornecedor é capaz de
na equipe relacionada ao
demonstrar que a sua equipe é
Habilidades da desenvolvimento do sistema de
diversa e detém as habilidades
equipe IA?
necessárias para o bom andamento
do projeto 3. Em caso negativo, quais
medidas podem ser adotadas
pelo fornecedor para aumentar
a diversidade considerando
disciplina profissional e
elementos sócio-demográficos,
mostrar ações para melhorar?

Fonte: adaptada a partir de World Economic Forum (2020f, pp. 18-29)

Diretiva 10 l Princípios
10a. Consultar uma grande variedade de fornecedores de soluções de IA.

- Mapear todos os atores, internos e externos à Administração, envolvidos no processo de contratação,


bem como potenciais fornecedores que atuem no mercado de IA e possam se interessar em desen-
volver a solução buscada. O engajamento de fornecedores deve abranger tanto as grandes empresas
de TI quanto startups atuantes no desenvolvimento de soluções de IA.

- Universidades e ICTs, públicas e privadas, podem colaborar com o projeto aportando conhecimento
técnico, ainda escasso no setor público, na área de IA, e podem ter interesse de participar, isolada-
mente ou em consórcio com eventuais fornecedores, em uma encomenda tecnológica, por exemplo.

10b. Envolver os fornecedores desde o início do projeto e interagir com frequência, de modo
isonômico e impessoal, durante todo o processo de contratação.

- Realizar eventos presenciais ou virtuais logo no início da abertura do processo de contratação (“kick-
-off meeting”), com a participação de potenciais fornecedores, membros da comunidade científica

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 56


3 Diretivas para contratações públicas de inteligência artificial

e sociedade em geral, é importante para apresentar o problema enfrentado e ajudar a identificar


requisitos importantes para a contratação futura. Os eventos devem ser públicos e adequadamente
divulgados ao público-alvo.

- A colaboração entre governo e indústria é vital para o sucesso da contratação pública de IA. O envolvi-
mento dos fornecedores na etapa de planejamento pode ajudar a determinar o objeto da contratação
e a viabilidade dos seus requisitos técnicos, aumentando a probabilidade de que o licitante vencedor
atenda às necessidades da Administração a um preço competitivo. A submissão do edital e de seus
anexos técnicos a consultas e audiências públicas pode render contribuições importantes para a
modelagem final do instrumento convocatório e o desdobramento da fase externa da contratação.

- Para mitigar riscos que possam estar associados à competitividade do procedimento, é importante
divulgar amplamente o edital e fixar prazo de apresentação de propostas suficiente para viabilizar a
participação de todos os potenciais interessados.

10c. Assegurar a interoperabilidade das soluções de IA, exigindo licenças abertas ou até
mesmo o uso de software livre como medidas para evitar a dependência tecnológica da
Administração a seus atuais fornecedores (lock-in).

- As estratégias para evitar o lock-in igualmente contribuem para aumentar a transparência e a explica-
bilidade dos algoritmos em uso no setor público. É o caso, por exemplo, da preferência por licenças
abertas e gratuitas, bem como o estímulo ao emprego de software livre, dados abertos e algoritmos
já postos em domínio público.

- Durante a implantação da solução de IA, é provável que os algoritmos sofram customizações ao longo
do tempo ou tenham o seu funcionamento substancialmente alterado em face do advento de novos
bancos de dados. O desenvolvimento de capacidades internas e formação de quadros qualificados
na Administração é essencial para evitar que os sistemas de IA contratados se tornem obsoletos,
garantindo a manutenção da solução de IA independentemente do seu fornecedor original.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 57


4 Estudo de caso: Hospital
das Clínicas da Faculdade
de Medicina da Universidade
de São Paulo
4.1. Qual o problema que o Hospital das Clínicas
pretendia resolver?
Inaugurado em 1944, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo (HCFMUSP) é o maior complexo hospitalar da América Latina e um dos mais impor-
tantes centros brasileiros de ensino, pesquisa e assistência. O HCFMUSP é uma autarquia
vinculada à Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, associada à Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo (FMUSP) e possui uma fundação de apoio (Fundação Faculdade
de Medicina), que apoia as atividades da faculdade e do próprio hospital. O hospital é formado
por oito institutos, dois hospitais auxiliares, 11 núcleos técnicos administrativos, bem como
diversos laboratórios de investigação médica e unidades especializadas.

Atualmente, mais de 60 sistemas estão em operação no HCFMUSP. Com centros e equipes


de TI diversas, e sistemas diferentes executando as mesmas tarefas, um dos maiores desafios
tornou-se garantir a integração, interoperabilidade, disponibilidade e qualidade dos dados
coletados e tratados no âmbito da instituição. Este problema central gera diversas repercus-
sões, como ilustra a tabela a seguir:

Tabela 11. Integração de dados de saúde: reflexos para o HCFMUSP

- O HCFMUSP é um hospital altamente especializado, de atenção médico-hospitalar


no nível terciário. O paciente é encaminhado ao HCFMUSP quando necessita
realizar tratamentos de alta complexidade, retornando posteriormente ao seu
serviço de origem para acompanhamento. A entrada do paciente no hospital se
Assistência dá por meio da Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (CROSS)
e da Central de Regulação de Urgências e Emergências (CRUE), que organizam
o atendimento no âmbito do SUS. Todavia, devido ao tamanho do hospital e à
diversidade de especialidades, nem sempre os registros de atendimentos são
automatizados e integrados pelos diversos sistemas envolvidos.

- A realização de pesquisas na área da saúde normalmente demanda grande


volume de dados clínicos. As dificuldades de integração comprometem a
disponibilidade dos dados e constituem um limitador para que estudos e
Pesquisa publicações científicas de relevo sejam realizados no hospital.

- Dificuldade de acesso a dados em volume e qualidade suficientes para o


desenvolvimento de soluções de IA, bem como ausência de infraestrutura
tecnológica adequada para o tratamento necessário;

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 58


4 Estudo de caso: Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

- Ausência de uma governança centralizada sobre a cultura de dados, o que


dificulta a aplicação de políticas de uso de dados aplicáveis a toda a instituição,
comprometendo a escalabilidade;

- Necessidade de geração e compartilhamento de dados de alta qualidade com os


Pesquisa mais parceiros do hospital - grupos de pesquisa nacionais e internacionais, health
techs, multinacionais, etc. de tal forma a contribuir com o desenvolvimento de
soluções robustas e com o fomento do ecossistema brasileiro de inovação em
saúde. Em se tratando especificamente de soluções de IA, o hospital também
precisa estar preparado para receber estes sistemas no fluxo operacional, de
forma que possa testá-los e utilizá-los no dia-a-dia clínico.

- Investimentos escassos na infraestrutura de TI no setor público, dependente de


recursos orçamentários. Embora no HCFMUSP exista a possibilidade da celebração
de parcerias para a execução de projetos financiados por agências de fomento,
programas governamentais ou empresas privadas, os investimentos realizados
são em regra direcionados a uma área específica, faltando investimentos de
caráter transversal.
Gestão
- Apego a sistemas legados, o que torna mais complicado o emprego de modernas
ferramentas de armazenamento, catalogação e processamento de dados. É
percebida uma dificuldade de integração com sistemas em uso, seja em relação à
governança, seja em relação à arquitetura de TI adotada.

- Existência de silos de dados, gestão não integrada e ausência de padronizações


taxonômicas e metodologias consistentes de registro de estrutura de metadados;

Fonte: elaboração própria.

O problema da integração de dados não é puramente tecnológico. Também é preciso olhar


de perto para a maturidade da cultura de dados da instituição, entendendo seus gargalos e
oportunidades de melhoria, em consonância com as áreas chaves da Avaliação de Maturi-
dade de IA em Saúde, descrita adiante neste capítulo.

Em um hospital, o ciclo dos dados é relacionado intimamente com o processo “saúde-do-


ença”, que varia conforme a gravidade e a complexidade do seu quadro clínico. Cada uma
dessas etapas tem a sua contraparte tecnológica, sendo refletido nas diversas ações e nos
fluxos criados por cada especialidade do HCFMUSP. Entretanto, ao encaminhar um paciente
ao HCFMUSP, ainda não há integração do sistema de prontuário da atenção primária com o
sistema de prontuário de serviços secundários e terciários. A informação de saúde é repas-
sada de maneira incompleta e dependente de relatos do usuário. Daí a necessidade de um
sistema de gestão hospitalar integrado que registre as informações em um banco de dados
único da jornada do paciente, seja qual for a patologia ou o processo de cuidado.

No que se refere aos recursos humanos, foi identificada no HCFMUSP uma grande dispari-
dade. O hospital é formado por profissionais de diversas áreas e níveis de conhecimento, ora
com plena aptidão no registro e manejamento de dados, ora com pouca desenvoltura no uso
de ferramentas de TI. Além disso, ao mesmo tempo em que certos processos não tinham
acesso a mão-de-obra qualificada para sua execução, outros experimentavam duplicidade
de papéis, gerando dissonâncias na operação e impactos na qualidade dos dados utilizados.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 59


4 Estudo de caso: Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Por fim, a transformação do processo assistencial em dados de saúde depende de tecnolo-


gia. Aqui, são tomadas decisões sobre a arquitetura de dados, serviços de gerenciamento e
armazenamento (local ou em nuvem), ferramentas de análise (analytics) utilizadas, etc. No
HCFMUSP, a atual demanda de pacientes excede a oferta de médicos e a infraestrutura para
atendimento, tornando-se necessário o uso de tecnologias mais avançadas para garantir o
monitoramento cíclico sem perda de informações. Além disso, em função da variabilidade
de processos operacionais do hospital, muitos dos sistemas legados foram criados especi-
ficamente para atender às necessidades de determinada especialidade médica. Nesse con-
texto, saber o que cada dado efetivamente significa pode ser um desafio, comprometendo
a qualidade dos seus bancos de dados.

4.2. Quais foram as mudanças realizadas pelo Hospital das


Clínicas para solucionar o problema de integração de dados?
O HCFMUSP precisou atualizar a sua estrutura organizacional para fomentar a gestão de
dados integrada no âmbito da instituição. Um amplo diagnóstico de TI revelou diversos
desafios à coleta e tratamento de dados no hospital, tais como: (i) falta do uso de taxonomias
padronizadas que permitissem a integração e harmonização de diferentes bases de dados;
(ii) ausência de disponibilização dos dados registrados nos sistemas transacionais em um
ambiente analítico; (iii) necessidade de transformação dos dados em painéis de informação,
facilitando e ampliando o acesso pelos usuários. Para tanto, o hospital implantou uma Pla-
taforma de Inteligência Hospitalar (PIH), que automatizou a coleta de dados, antes realizada
manualmente, e ampliou a confiabilidade e disponibilidade das informações geradas pelo
hospital em tempo real.

Em paralelo, as equipes do HCFMUSP passaram por três reestruturações. Em primeiro lugar, a


equipe de TI do HCFMUSP foi integrada ao Núcleo Especializado em Tecnologia da Informação
(NETI). Esta integração buscou ampliar o espectro de entrega de dados transformados e que
demandam algoritmos de IA associados, desde a implantação de sistemas para automação
e registro de eventos, armazenamento, tratativas e organização das variáveis e composição
seja por uso direto ou aplicação de algoritmos para tomada de decisão e direcionamento
de informações.

Em seguida, foi criada uma equipe de Inteligência e Dados (ID) com o objetivo de gerar conhe-
cimento confiável e acessível, com base em evidências, para aprimorar o cuidado assistencial.
A implantação da PIH fez com que os gestores compreendessem a relevância da taxonomia
de dados e do registro de todas as etapas do processo assistencial, principalmente os eventos
críticos, facilitando a integração dos diversos bancos de dados.

Por fim, em setembro de 2020, o Núcleo de Inovação Tecnológica do HCFMUSP inaugurou


o In.lab, um laboratório especialmente dedicado à implementação de IA na saúde. O In.lab
aposta na inovação aberta como estratégia para dinamizar pesquisas sobre o tema e obter
equipes multidisciplinares, em consonância com a Diretiva 7, para o desenvolvimento de IA
ética e responsável.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 60


4 Estudo de caso: Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

4.3. Quais tecnologias foram adotadas para a integração dos


bancos de dados? Quais as principais etapas desse processo?
A padronização dos processos de tratamento dos dados no âmbito do HCFMUSP foi iniciado
a partir de indicadores para prestação de contas a órgãos de controle e entidades gover-
namentais. Para tanto, foi criada à época uma Planilha Única (PU), preenchida de maneira
centralizada pelas unidades para posterior consolidação. Esse processo foi um marco para a
instituição, mas demandava grandes esforços tanto na captura quanto na consolidação das
informações, face ao volume e fragmentação dos dados de origem. Após a PU, o HC buscou
construir um ponto de convergência que automatizasse o tratamento dos dados, capturan-
do-os em tempo real, e simplificasse a gestão por meio de indicadores, uso de ferramentas
analíticas e painéis de visualização.

Para tanto é que foi criada a PIH, mencionada em 4.2, acima. A implantação da plataforma foi
responsável pelo redesenho da estrutura e das metodologias de captura da informação, de
forma estruturada e padronizada. Ademais, a PIH viabilizou investimentos em infraestrutura
(como a aquisição de um banco de dados analítico, e.g.) e alocação de recursos humanos (mais
de 500 horas da equipe de TI para aprimorar a visualização e a integração de ferramentas e
plataformas, por exemplo.

Em 2020, o HCFMUSP construiu uma base de dados dedicada a COVID-19 e conduziu uma
ampla revisão de toda a modelagem da PIH, estimulando a adoção de ferramentas mais avan-
çadas de análise (analytics) para diminuir o tempo de resposta assistencial e a disponibilidade
de dados para pesquisas sobre a pandemia. Para tanto, o hospital planeja a criação de um
data lake que automatiza o processo de anonimização de dados pessoais sensíveis por meio
de um servidor HDFS (Hadoop Distributed File System) e uma chave de controle para a rastre-
abilidade dos profissionais ou entidades que solicitarem acesso, atendendo assim à LGPD.

4.4. Por que a IA foi escolhida como alternativa técnica


pelo HCFMUSP?
Em comparação com outros setores da economia, a saúde é historicamente um dos que
possui menor índice de maturidade digital. O Industry Digitization Index, publicado pelo
McKinsey Global Institute (2015), compara o índice de digitalização em diversas áreas nos
Estados Unidos e classifica a saúde como o 19º dentre os 23 setores analisados. Além disso,
o HCFMUSP também lida com os desafios inerentes ao setor público, que apresenta índices
menores de maturidade digital em comparação com o setor privado.

Entretanto, na área da assistência, o emprego de IA apresenta diversas possibilidades que


poderiam ser mais bem exploradas pelo hospital. Por exemplo, em alguns institutos já está
em operação o uso de algoritmos para detecção de anomalias em eletrocardiogramas. Em
outros, o trabalho com IA é feito por meio de provas de conceito (PoC’s), protótipos e testes
em ambiente real, como foi o caso do sistema RadVid-19, detalhado no item 2.1, acima. Os
testes permitem avaliar não apenas o modelo de IA desenvolvido, mas a própria infraestrutura
tecnológica da solução, seus gargalos e possíveis pontos de evolução. As aplicações também

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 61


4 Estudo de caso: Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

podem abranger indicadores de gerenciamento de fluxo de paciente - tais como análise de


altas, mortalidade e permanência em UTI, por exemplo.

Há, ainda, potencial de implementação de IA na frente gerencial do complexo hospitalar,


gerenciando cenários financeiros, a utilização de insumos e o uso racional de recursos na
gestão da instituição. De acordo com o relatório Reimagining Global Health through Artificial
Intelligence: The Roadmap to AI Maturity publicado pela Broadband Commission em parceria
com a Fundação Novartis (2021) sobre o uso de IA em Saúde, foram identificadas seis áreas
chaves para o emprego dessa tecnologia:

Figura 10. Seis áreas para maturidade de Inteligência artificial

Pessoas e força de trabalho


Capacitar pessoas em dados, recursos digitais e IA através de
treinamento e gestão de mudança

Dados e tecnologia
Garantir conectividade; e dados interoperáveis e de qualidade
para alimentar a IA

Governança e atividades regulatórias


Construir as estruturas e regulamentos necessários para maximizar
as oportunidades de IA, mantendo as pessoas seguras

Design & processos


Garantir que as soluções de IA sejam centradas nas pessoas e
integradas aos sistemas de saúde existentes

Parcerias e partes interessadas


Alinhar e colaborar para garantir que as necessidades locais
sejam atendidas

Modelos de negócios
Assegurar a sustentabilidade através de financiamento inovador,
incentivos e parcerias público-privadas

Fonte: Fundação Novartis (2021)

No mais, como o HCFMUSP é também uma instituição de pesquisa, o uso de IA pode ser
uma oportunidade para avançar a sua produção científica. É o caso do emprego de imagens
clínicas para definição de risco cirúrgico, redução de ruído em imagens de ressonância mag-
nética ou até mesmo a criação de modelos de predição de tempo de uso de salas cirúrgicas,
por exemplo.

4.5. Quais os principais desafios, gargalos e dificuldades


identificadas para o uso de dados na área da saúde?
O artigo 5° da LGPD qualifica como “dado pessoal sensível” aqueles referentes à saúde ou
à vida sexual, bem como dados genéticos ou biométricos vinculados a uma pessoa natural.
Como dado sensível, seu tratamento só é permitido em situações particulares descritas no

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 62


4 Estudo de caso: Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

art. 11 da LGPD. Caso não seja possível obter o consentimento do titular, o tratamento pode
se fundar em outra base legal, como a “(...) realização de estudos por órgão de pesquisa,
garantida, sempre que possível, a anonimização dos dados pessoais sensíveis” (art. 11, II, “c”,
LGPD) ou a “(...) tutela da saúde, exclusivamente, em procedimento realizado por profissionais
de saúde, serviços de saúde ou autoridade sanitária” (art. 11, II, “f”, LGPD).

Vale lembrar que dados anonimizados - i.e. aqueles “relativos a titular de dados que não
possam ser identificados, considerando a utilização de meios técnicos razoáveis e dispo-
níveis na ocasião de seu tratamento” (art. 5º, III) - não são considerados dados pessoais e,
portanto, estão fora do âmbito de aplicação da LGPD. Para mitigar o risco de re-identificação
dos pacientes, o HCFMUSP busca seguir normas e boas práticas internacionais para evitar
a reversão de dados anonimizados, como o HIPAA (Health Insurance Portability and Accoun-
tability Act), dos EUA.

Por isso, o primeiro passo para realizar um projeto de IA no HCFMUSP consiste em iden-
tificar quais tipos de dados serão utilizados e entender se há real necessidade de uso de
dados não-anonimizados no projeto, o que aumenta os deveres e obrigações relacionados
ao atendimento da LGPD. Vale destacar, aqui, a problemática da gestão do consentimento
do titular, o qual pode revogar a sua autorização ou mesmo solicitar a eliminação de seus
dados pessoais, o que exige a realização de mudanças nos bancos de dados que alimentam
a solução de IA.

4.6. Indique quais recomendações e boas práticas a expe-


riência do Hospital das Clínicas gera para outros órgãos e
entidades públicas
Destacam-se, no caso de uso do HCFMUSP, as seguintes recomendações:

- Consciência institucional dos dados disponíveis: este ponto é frequentemente indicado como o
maior gargalo para o desenvolvimento interno de soluções de IA. Antes de começar a desenvolver
um projeto de IA ou planejar a contratação de uma solução, é importante realizar um mapeamento
dos bancos de dados disponíveis e dos possíveis gargalos à sua utilização;

- Integração de equipes e sistemas: a aproximação entre as áreas de dados e de TI com as áreas-fim


da instituição é primordial. Para tanto, é importante incentivar a criação de comitês e de estruturas
decisórias que incentivem fluxos de trabalho conjunto entre as diversas equipes, aumentando sua
integração com estruturas internas e externas. Por exemplo, a integração com a Central de Regulação
de Ofertas e Serviços de Saúde (CROSS), da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, tem impor-
tância chave para permitir a escalabilidade das soluções de IA testadas no HCFMUSP para outros
hospitais de grande porte;

- Governança de dados: a co-criação de estruturas de governança é o primeiro passo para que se


possam definir rotinas e processos de tratamento de dados para a instituição como um todo, inves-
tindo na automação de processos manuais que possam ser integrados à jornada digital do paciente;

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 63


4 Estudo de caso: Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

- Qualificação de recursos humanos: aumentar o investimento em qualificação da equipe - se pos-


sível, por meio da inovação aberta, fomentando o intercâmbio de experiência e trocas com outras
instituições públicas e privadas;

- Foco no problema: é fundamental conhecer muito bem o que a instituição faz, qual o seu papel e
qual será a entrega final. O diagnóstico profundo do problema permite chegar a resultados mais
tangíveis e preparar as bases para o desenvolvimento de uma cultura de dados e de capacidades
institucionais de inovação no âmbito de cada órgão ou entidade.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 64


5 Estudo de caso: aplicação de
IA na manutenção de trens e
vias do Metrô de São Paulo
5.1. Qual o problema que o Metrô de São Paulo
buscava resolver?
Em 2010, o Metrô de São Paulo foi considerado o melhor sistema de transporte sobre trilhos
da América Latina pelo The Metro Awards, sendo o primeiro da região a ter uma estação
equipada com portas de plataforma, sistema CBTC (Communications-Based Train Control)
para sinalização e controle de trens e também trens com tecnologia 100% automática e sem
condutores. Em agosto de 2015, foi eleito um dos melhores sistemas de metrô do mundo
pela revista americana Business Insider, sendo o único sistema latino-americano a pertencer
a essa lista.

Em condições normais, são transportados cerca de 3,7 milhões de passageiros por dia apenas
nas Linhas 1 (Azul), 2 (Verde) e 3 (Vermelha). A operação comercial ocorre entre 4h40 e 0h00,
restando apenas a madrugada para realizar manutenção em trens, vias e equipamentos. Isso
significa que, em média, são transportados dez milhões de passageiros por quilômetro - o que
torna a manutenção um aspecto crítico para o bom funcionamento do Metrô de São Paulo.

A ocorrência de falhas gera um longo tempo de interferência, causada especialmente pela


necessidade de entrada da equipe de manutenção na via. Quando isso ocorre, as equipes
precisam aguardar a autorização do Centro de Controle Operacional (CCO) para acessar a
via - enquanto isso, a velocidade é reduzida ou a circulação dos trens é restrita, causando
prejuízos à oferta de trens para a população.

Por exemplo, entre 2016 e 2020, houve um total de 1.840 minutos de interferência em razão
de ruído anormal identificado pelos operadores de trem durante a passagem das composi-
ções nos trilhos. A receita cessante estimada com esta restrição nesses últimos quatro anos
é estimada em aproximadamente de 2 milhões de reais, prejudicando a mobilidade de apro-
ximadamente 460.000 passageiros. Por isso, o Metrô vem buscando alternativas para reduzir
o tempo gasto com manutenções, diminuindo as interferências em sua operação comercial.

O emprego de IA poderia ajudar o Metrô de São Paulo a otimizar essa tarefa, automatizando
parte do diagnóstico de falhas e intercorrências. A tecnologia reduziria a necessidade de
inspeção humana, economizando tempo e recursos atualmente destinados à inspeção das
vias. Além disso, o aprendizado de máquina tornaria possível o monitoramento dos trilhos
em tempo real a partir de imagens de alta definição, emitindo relatórios automatizados,
atendendo falhas urgentes e priorizando atividades de manutenção.

Atualmente, a inspeção geral das vias na rede metroviária é feita a cada três dias. Com o
desenvolvimento do Sistema de Monitoramento da Via Permanente (SMVP), a inspeção seria

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 65


5 Estudo de caso: aplicação de IA na manutenção de trens e vias do Metrô de São Paulo

realizada, em média, 13 vezes por dia em cada linha, aumentando a segurança no tráfego
de trens e reduzindo as interferências durante a operação comercial.

O SMVP busca transformar a maior parte da inspeção geral das vias em um processo
automatizado, eficiente, seguro e confiável. Além da economia significativa de recursos, o
sistema também deverá diminuir a substituição prematura dos componentes da via e do
material rodante (trens), gerando uma diminuição de vida útil que, em 2020, é estimada em
1,7 milhões de reais.

Figura 11. Defeitos em trilhos de sistemas metroviários a partir de


imagens selecionadas

Fonte: Metrô de São Paulo

Portanto, a ausência de um sistema de monitoramento dinâmico impacta o domínio nos


processos de manutenção e a vida útil dos equipamentos. A coleta de imagens de alta reso-
lução, com tratamento por IA, gerará uma base de dados que tornará possível a emissão de
relatórios e a execução de ações de engenharia com mais qualidade e rapidez.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 66


5 Estudo de caso: aplicação de IA na manutenção de trens e vias do Metrô de São Paulo

5.2. Qual foi a modalidade de contratação escolhida?


Por quê? Quais as principais etapas desse processo
de contratação?
Várias foram as tentativas em busca de uma solução de prateleira (off-the-shelf) que aten-
desse totalmente às necessidades do Metrô de São Paulo. Todavia, os estudos de mercado
não revelaram nenhum sistema capaz de atender todas as funcionalidades necessárias,
principalmente no que diz respeito ao monitoramento on-line e em tempo real das vias, com
grau de precisão adequado à criticidade de uma rede metroviária.

Por exemplo, a modalidade “pregão” pressupõe a existência de um produto pronto e acabado,


capaz de amoldar-se ao conceito legal de bens e serviços comuns (art. 1º, Lei nº 10.520/2002).
No caso, a realização de pesquisas de mercado, especificação completa ex ante e posterior
pagamento não se ajusta à necessidade de desenvolvimento de novas tecnologias, consi-
derando a integração inédita de hardware e software para emprego de IA e aprendizado de
máquina na manutenção preditiva.

Em consulta ao Núcleo de Inovação e Tecnologia (NIT) do Metrô de São Paulo, foi identificada
a oportunidade de emprego da Encomenda Tecnológica (ETEC), modalidade especial de
contratação direta prevista na Lei de Inovação n° 10.973/2004 (art. 20), na Lei nº 8.666/1993
(art. 24, XXXI) e na Lei das Estatais (art. 29, XIV). Atendendo à Diretiva 1, a ETEC permite a
solução de problema técnico específico ou o desenvolvimento de produto, serviço ou processo
inovador envolvendo risco tecnológico, revelando-se uma alternativa para o caso do SMVP.

A elaboração do processo teve início com base no Toolkit do Marco Legal, Ciência, Tecnologia
e Inovação, elaborado pela Procuradoria Geral do Estado de São Paulo. O material reúne
orientações jurídicas, boas práticas e modelos de editais, contratos e outros documentos que
auxiliam e respaldam instituições públicas no emprego de instrumentos da Lei de Inovação,
como a Encomenda Tecnológica. Foi utilizada também a plataforma HUBTEC, desenvolvida e
mantida pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e pela ABDI (Agência Brasileira
de Desenvolvimento Industrial), que oferece um amplo rol de materiais sobre ETEC.

A primeira etapa da contratação da ETEC corresponde à elaboração dos Estudos Prelimi-


nares, concentrando todas as informações técnicas e funcionalidades disponíveis sobre o
SMVP dentro do Metrô de São Paulo. Para tanto, foi também constituído um Grupo Técnico
de Coordenação (GTC), composto por colaboradores de áreas estratégicas do Metrô de São
Paulo, para acompanhar o processo de contratação da encomenda.

Na sequência, foi constituído um Comitê Técnico de Especialistas, composto por pesqui-


sadores, especialistas e professores oriundos de Universidades, Institutos de Pesquisa e
Parques Tecnológicos do Estado de São Paulo. O comitê é de constituição facultativa segundo
a legislação, mas presta um papel fundamental para apoiar o contratante na análise e apre-
ciação, de forma imparcial e isenta, dos documentos produzidos ao longo do processo de
contratação. Dessa maneira, o Comitê agrega ainda mais conhecimento técnico-científico à
equipe do projeto SMVP, reduzindo assimetrias de informação com o mercado.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 67


5 Estudo de caso: aplicação de IA na manutenção de trens e vias do Metrô de São Paulo

O Comitê, considerando também o ineditismo do caso concreto, concluiu pela existência de


risco tecnológico no projeto do SMVP. O risco tecnológico decorre da “(...) possibilidade de
insucesso no desenvolvimento de solução, decorrente de processo em que o resultado é
incerto em função do conhecimento técnico-científico insuficiente à época em que se decide
pela realização da ação” (art. 2º, III, do Decreto Federal nº 9.283/2018), sendo o caso, por
exemplo, de “(...) serviços desenvolvidos por meio de tecnologia de inteligência artificial que
demandam ganho de massa crítica de informações captadas por meio do uso efetivo dos
serviços por seu público alvo” (art. 52, §4º do Decreto Estadual nº 62.817/2017).

Diante disso, o Metrô de São Paulo elaborou, com base nos estudos preliminares e no mapa
de riscos, um edital de chamamento público para obter a manifestação de interesse de
potenciais fornecedores interessados no desenvolvimento da encomenda.

Após a análise das manifestações de interesse, o Metrô de São Paulo avançará para a etapa
de negociação com potenciais parceiros, com o objetivo de definir o tipo de contrato e confir-
mar requisitos de habilitação (como qualificação técnica e regularidade fiscal), cronogramas
de implantação e a forma de pagamento. Prevê-se que cada um dos proponentes apresente
uma PoC (Prova de Conceito), que será avaliada com apoio do Comitê Técnico de Especia-
listas, observando os critérios de pontuação definidos no edital, para melhor definição do
escopo da solução desejada.

A avaliação das propostas será baseada em quesitos técnicos de funcionalidade, conectividade,


respeito ao cronograma, solução de eventuais problemas, experiência anterior, qualidade
do projeto apresentado e aderência da proposta à necessidade do Metrô de São Paulo, con-
siderando o risco tecnológico e a necessidade de esforços de pesquisa e desenvolvimento
para contratar a solução buscada.

Por fim, será firmado contrato para o desenvolvimento final do SMVP e posterior implantação
nas três linhas do Metrô de São Paulo (1-Azul, 2-Verde e 3-Vermelha), celebrado diretamente
por dispensa de licitação, nos termos do art. 20 da Lei de Inovação, combinado com o artigo
29, XIV da Lei das Estatais. A tabela a seguir ilustra as principais etapas da implementação
do SMVP ao longo da execução contratual:

Tabela 12. Níveis de TRL das principais etapas para implementação do SMVP

Fases de desenvolvimento e execução TRL

Desenvolvimento inicial do SMVP (interações, estudos na via, veículos, trolleys e trens)


TRL 4
Pagamento inicial antecipado para aquisição de equipamentos

Implantação do sistema (Fase 1 - testes funcional, conexão no SMA) TRL 5

Implantação do sistema (Fase 2 - testes funcionais na via e testes no SMA) TRL 6

Implantação do sistema (Fase 3 - testes finais) TRL 7

Treinamentos (inicial, avançado, operacional e manutenção) e comissionamento final TRL 9

Fonte: Metrô de São Paulo.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 68


5 Estudo de caso: aplicação de IA na manutenção de trens e vias do Metrô de São Paulo

Em síntese, desde o início até a formalização da contratação, o processo segue as


seguintes etapas:

• Estudos Preliminares;
• Mapa de Riscos, incluindo a Avaliação de Impacto Algorítmico;
• Formação do Grupo de Trabalho da contratação e do grupo técnico de coordenação;
• Constituição do Comitê de Especialistas;
• Pareceres técnicos e jurídicos;
• Publicação do Edital de Chamamento Público;
• Recebimento das Manifestações de interesse;
• Negociação com potenciais contratados;
• Escolha do contratado;
• Ratificação da Dispensa de Licitação e celebração do contrato

5.3. Por que a IA foi escolhida como alternativa técnica


na solução?
Analisando casos concretos no setor metroviário, foi possível constatar que o emprego de
IA poderia automatizar parcialmente algumas das ocorrências mais recorrentes na inspeção
dos equipamentos da rede metroferroviária, tais como trilhos, dormentes e juntas isolantes.
Embora existam soluções de hardware e software no exterior para funções análogas voltadas
à manutenção preditiva, nenhuma solução disponível no mercado atenderia integralmente
às necessidades do Metrô de São Paulo, que exigem a integração inédita de tecnologias
existentes para o desenvolvimento da solução buscada.

Com o emprego de IA, o sistema de monitoramento deverá disparar alertas solicitando a


análise humana apenas quando desvios ou falhas forem identificados, aumentando sua
precisão e acurácia na medida em que o conjunto de dados e o próprio algoritmo evoluí-
rem. Contudo, um grande desafio do projeto diz respeito à integração de bancos de dados
e sistemas existentes para viabilizar a adoção de IA e aprendizado de máquina, com vistas a
obter uma solução customizável e passível de ser integrada ao Sistema de Monitoramento
de Ativos (SMA) do Metrô de São Paulo.

Estima-se que o SMVP multiplicará em aproximadamente dez vezes a quantidade de dados


coletados sobre a manutenção da rede. Aliado à IA, o ineditismo do monitoramento em tempo
real deverá reduzir significativamente os tempos de interferência na operação comercial do
Metrô de São Paulo, reduzindo custos operacionais e melhorando a imagem e reputação da
empresa perante os passageiros.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 69


5 Estudo de caso: aplicação de IA na manutenção de trens e vias do Metrô de São Paulo

5.4. Porque adotar as diretivas do Fórum Econômico Mundial?


Como as diretivas contribuíram para este processo?
As diretrizes e recomendações desenvolvidas pelo Fórum foram importantes para que o
Metrô de São Paulo pudesse incorporar ao seu processo de contratação as melhores práticas
internacionais sobre compras públicas de IA. Por exemplo, o chamamento público do Metrô
de São Paulo é pioneiro, no Brasil, no uso de Avaliações de Impacto Algorítmico (AIA),
elaborada com apoio do C4IR Brasil e integrada ao mapa de riscos da ETEC. A experiência
de outros países também foi fundamental para inserir na AIA o mapeamento de possíveis
riscos relativos a imagens capturadas em movimento, como no caso do SMVP.

No Brasil, ainda há carência de normas específicas acerca do tema, o que torna altamente
estratégica a institucionalização de procedimentos, fluxos e rotinas embasadas em experi-
ências concretas, que possam ser replicadas em outras instituições públicas, mesmo fora
do setor de transporte.

5.5. Como foi o processo de adaptação das diretrizes ao


contexto brasileiro?
A inexistência de experiências anteriores de emprego da ETEC no setor metroviário exigiu a
formação de uma equipe multidisciplinar desde o início do processo de contratação, aten-
dendo à Diretiva 7. Além de profissionais com experiências bastante variadas, a equipe reuniu
representantes de várias áreas envolvidas em etapas distintas do processo de contratação
(Gerência de Manutenção, Gerência Jurídica, Contratações e Compras, Núcleo de Inovação
e Tecnologia), além do apoio do corpo diretivo do Metrô de São Paulo.

O contexto bastante diverso das contratações de inovação fez com que várias áreas tivessem
que ser mobilizadas para viabilizar a ETEC que, até então, era inédita no âmbito da Companhia.
Para tanto, além de atualizações nos regulamentos da empresa, foi necessária a elaboração
de novos modelos de documentos e a revisão dos fluxos de trabalho da Gerência de Contra-
tações e Compras e da Gerência Jurídica.

O C4IR Brasil ministrou uma oficina específica sobre contratações públicas de IA para capacitar
as equipes do Metrô de São Paulo, bem como outros participantes externos interessados.
A disposição da equipe em obter informações adicionais foi imprescindível para mobilizar
todas as frentes envolvidas no processo de contratação da ETEC.

5.6. Quais recomendações e boas práticas o caso do Metrô


de São Paulo deixa como legado para outros órgãos e
entidades públicas?
Embora ainda em andamento, o estudo de caso do Metrô de São Paulo apresenta lições
valiosas para contratações públicas de IA e contratações de inovação em geral:

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 70


5 Estudo de caso: aplicação de IA na manutenção de trens e vias do Metrô de São Paulo

1. Conhecimento profundo do problema. O projeto do SMVP é estudado há anos no âmbito da


companhia, sendo embasado em dados colhidos pela Gerência de Manutenção que demons-
tram porque o emprego de IA de fato atende à necessidade do Metrô de São Paulo. Portanto,
o problema enfrentado pela companhia é que levou à escolha da ETEC e à adoção de IA, não
o contrário. Além disso, é importante efetuar uma profunda análise técnica dos gargalos da
empresa para entender quais caminhos devem ser priorizados.

2. Existência de políticas e de estruturas internas vocacionadas à inovação. O Núcleo de


Inovação e Tecnologia (NIT) foi formalizado no final de 2019 com a publicação da Política de
Inovação do Metrô de São Paulo. A Política estabeleceu diretrizes para as ações institucionais
de suporte à inovação, proteção de direitos de propriedade intelectual e sua transferência
para a sociedade, em apoio à inserção competitiva da companhia na economia brasileira. O
NIT, com o objetivo de promover a cultura de inovação na empresa, tem investido esforços na
capacitação, governança, prospecção, parcerias e apoio no desenvolvimento e mensuração de
iniciativas inovadoras que ofereçam soluções aos desafios e objetivos estratégicos do Metrô
de São Paulo. No SMVP, o NIT atuou identificando a oportunidade inicial de se utilizar a ETEC,
auxiliando na constituição do Comitê Técnico de Especialistas e viabilizando a formalização de
parcerias estratégicas com universidades, institutos de pesquisa e outros atores do ecossistema
de inovação, incluindo o próprio C4IR.

3. Equipe multidisciplinar e dedicada a contratações de inovação. A equipe (squad) de Con-


tratações Públicas de Inovação do Metrô de São Paulo é um grupo multidisciplinar constituído
em meados de 2020 com representantes do NIT, da Gerência Jurídica e da Gerência de Contra-
tações e Compras. O Squad adota uma abordagem orientada a missões, buscando soluções
inovadoras para os desafios enfrentados pela empresa. A integração entre áreas estratégicas
desde o início do processo proporcionou segurança necessária para o avanço do processo de
contratação da ETEC, até então inédito no âmbito da empresa.

4. Envolvimento ativo das instâncias decisórias e do primeiro escalão da companhia. O


apoio da alta direção do Metrô de São Paulo permitiu o avanço do processo de contratação do
SMVP, sendo essencial também para permitir a implementação de novos processos, fluxos e
rotinas no âmbito da empresa. O alinhamento prévio realizado com o corpo diretivo, somado
ao respaldo técnico-científico propiciado pelos parceiros externos, foram fatores importantes
para agregar segurança à deflagração da ETEC.

5. Parcerias externas. É importante engajar parceiros externos (consultorias, universidades e


órgãos de controle) com a instituição pública contratante desde o início do processo. Nessa
linha, o acompanhamento da fase interna da contratação pelo C4IR Brasil, por meio de encon-
tros regulares, contribuiu para oferecer subsídios e alinhar o projeto às melhores práticas
internacionais para contratação de IA.

6. Constituição do Comitê Técnico de Especialistas. A constituição do Comitê Técnico de Espe-


cialistas dependeu da disponibilidade de pesquisadores e professores que, de forma volun-
tária, contribuíram para a análise técnica dos documentos que embasam a ETEC. No caso do
SMVP, a formação do Comitê levou aproximadamente três meses. O processo demanda tempo,
sobretudo para reunir candidatos com conhecimentos bastante específicos e disponibilidade
suficiente para participar das reuniões. Todavia, o Comitê presta apoio fundamental na fase
interna da contratação, emitindo parecer sobre a existência ou não de risco tecnológico, além
de dar respaldo ao contratante na escolha do futuro contratado e ao longo do monitoramento
da execução contratual.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 71


Apêndice: Avaliação de
Impacto Algorítmico
Sem uma orientação clara sobre como garantir responsabilidade, transparência e explicabilidade, o
emprego de IA pode causar danos à população. Por isso, é necessário incorporar ferramentas que
permitam avaliar de forma abrangente os riscos decorrentes dessa tecnologia, abrindo caminho
para sua mitigação.

A Avaliação de Impacto Algorítmico (AIA) é um questionário aplicado durante o planejamento e a


fase interna da contratação para avaliar riscos específicos relacionados ao emprego de IA e apren-
dizado de máquina na solução a ser contratada. A AIA integra o gerenciamento de riscos e abrange
todo o ciclo de vida da solução e deve ser atualizada ao longo de todo o processo de contratação,
inclusive na fase de execução contratual.

A AIA permite:

• elaborar antecipadamente planos de mitigação, com medidas proporcionais ao risco de cada


solução de IA;

• comunicar riscos relevantes para o sucesso do projeto ao público em geral;


• delimitar as responsabilidades do contratado, o perfil das equipes e a necessidade de capa-
citação interna do contratante;

• estabelecer sistemas de monitoramento e avaliação da solução de IA durante toda a sua vida


útil, haja vista que o modelo de decisão também evolui à medida que se modificam as bases,
fontes e conjuntos de dados que a alimentam.

Uma das avaliações frequentemente mencionadas pela literatura é o Algorithmic Impact Assessment
do governo do Canadá, que editou uma norma específica sobre o tema (Directive on Automated
Decision Making). O modelo canadense compreende a avaliação de diversos riscos, classifican-
do-os em quatro níveis (I a IV) conforme a pontuação obtida no questionário. A pontuação final é
computada pela subtração dos fatores de mitigação, como explicado abaixo.

Para o estudo de caso do Metrô de São Paulo, o C4IR Brasil elaborou uma avaliação de impacto
algorítmico com base no modelo canadense, haja vista a sua completude e elevado detalhamento.
O seu uso atende ao disposto na EBIA, tornando a AIA o veículo de uma comunicação transparente
entre a Administração, os fornecedores e a sociedade.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 72


Apêndice: Avaliação de Impacto Algorítmico

I.  IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO E DADOS DO RESPONDENTE DA AIA

1. Detalhes do projeto

Nome do Projeto:

Nome do Respondente: Cargo:

Entidade contratante:

Estágio atual do Projeto: [Desenvolvimento] ou [Implementação]

Descrição:

II.  QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DE POTENCIAIS RISCOS ALGORÍTMICOS


DECORRENTES DO PROJETO

2. Potenciais impactos positivos da automatização

Perguntas Respostas Pontuação

Escolha as respostas mais relevantes:

a. Usar abordagens inovadoras


b. O sistema está executando tarefas
2.1. Indique as principais razões que que humanos não poderiam 0
motivaram a automatização deste realizar em um período razoável [não afeta a
processo de tomada de decisão: c. Baixar custos de transação de um pontuação]
programa existente
d. Melhorar a qualidade geral das
decisões;

3. Perfil de risco do projeto

Perguntas Respostas Pontuação

3.1. O projeto e/ou seus objetivos dizem


respeito a temas de intenso debate público
Sim = +3
(p.e., questões relacionadas à privacidade Sim ou Não
Não = 0
e proteção de dados) ou é tema de litígios
frequentes em sede administrativa ou judicial?

3.2. Os usuários potenciais dos resultados


Sim = +3
do projeto encontram-se em situação de Sim ou Não
Não = 0
vulnerabilidade?

3.3. Os impactos das decisões que podem ser Sim = +4


Sim ou Não
realizadas pelo sistema são muito grandes? Não= 0

3.4. Este projeto terá grandes impactos para


relações de trabalho no âmbito da entidade Sim = +3
Sim ou Não
contratante, como redução no número de Não= 0
colaboradores ou redefinição de suas funções?

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 73


Apêndice: Avaliação de Impacto Algorítmico

4. Governança do projeto

Perguntas Respostas Pontuação

4.1. Haverá órgão, divisão ou departamento


interno na entidade contratante com Sim = +2
Sim ou Não
atribuição para zelar sobre a governança Não= 0
da solução desenvolvida?

4.2. Caso a solução proposta impacte


diretamente indivíduos, a equipe interna Sim = 0
de desenvolvimento será composta por um Não= +2
Sim, Não ou Não se Aplica
grupo diverso de pessoas em termos de raça, Não se
gênero e orientação, dentre outros critérios Aplica=0
sócio-demográficos10?

5. Sobre o Sistema

Perguntas Respostas Pontuação

a. Reconhecimento de imagens
e objetos: análise de grandes
conjuntos de dados para
automatizar reconhecimento,
classificação e contexto associados a
uma imagem ou objeto;
b. Análise de texto e fala: análise
de grandes conjuntos de dados
para reconhecer, processar e
marcar texto, fala, voz e fazer
recomendações com base na
marcação;
c. Avaliação de riscos: análise de
grandes conjuntos de dados para
identificar padrões e recomendar
0
5.1. Indique as principais características do condutas ou, em alguns casos,
realizar ações específicas; [não afeta a
sistema a ser desenvolvido:
pontuação]
d. Geração de conteúdo: análise
de grandes conjuntos de dados
para categorizar, processar,
classificar, personalizar e gerar
conteúdo específico para contextos
específicos;
e. Otimização de processos e
automação de fluxo de trabalho:
análise de grandes conjuntos de
dados para identificar anomalias e
padrões (clusters), bem como para
prever resultados ou formas de
otimizar e automatizar fluxos de
trabalho específicos
f. Outro (por favor, especifique):

10  Questão 4.2 com redação adaptada pelos autores ao contexto brasileiro, não constando do modelo de AIA originalmente
adotado pelo Canadá.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 74


Apêndice: Avaliação de Impacto Algorítmico

6. Sobre o Algoritmo

Perguntas Respostas Pontuação

6.1. O algoritmo será protegido por direitos de


Sim = +3
propriedade intelectual ou será mantido em Sim ou Não
Não= 0
segredo industrial?

6.2. O modelo de decisão do algoritmo será Sim = +3


Sim ou Não
difícil de interpretar ou explicar. Não= 0

7. Sobre a Decisão

Perguntas Respostas Pontuação

Escolha as respostas mais relevantes:

a. Serviços relacionados à saúde;


b. Interesses econômicos (subsídios
e contribuições, benefícios fiscais,
cobrança de dívidas)
c. Assistência social (por exemplo: +1 para
7.1. A decisão pertence a qual das reivindicações por invalidez, cada
programas de auxílio a pessoas de elemento
seguintes categorias? (máx. 6
baixa renda, etc)
pontos)
d. Acesso e mobilidade (autorizações
de segurança, passagens de
fronteira)
e. Licenciamento e emissão de
autorizações
f. Outros (especificar):

8. Avaliação de impactos

Perguntas Respostas Pontuação

8.1. O sistema automatizado será usado


exclusivamente para auxiliar na tomada de Sim = +1
Sim ou Não
decisões a cargo de órgão ou autoridade Não= 0
competente?

8.2. Os resultados do sistema automatizado


Sim = +3
substituirão decisões que seriam tomadas por Sim ou Não
Não= 0
seres humanos?

8.3. O sistema automatizado substituirá


Sim = +4
as decisões humanas que envolvem uma Sim ou Não
Não= 0
apreciação ou escolha discricionária?

8.3.1. Em caso positivo, descreva que tipo de


[...]
decisão será automatizada.

8.4. No âmbito da entidade contratante, o


sistema automatizado será usado por algum Sim = +4
Sim ou Não
órgão, departamento ou seção diferente Não= 0
daquele que promove o seu desenvolvimento?

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 75


Apêndice: Avaliação de Impacto Algorítmico

a. Reversíveis; a. +1
8.5. Os impactos decorrentes da decisão b. Provavelmente reversíveis; b. +2
automatizada serão reversíveis? c. Difíceis de reverter; c. +3
d. Permanentes. d. +4

a. Impactos que provavelmente


serão breves;
a. +1
b. Alguns impactos podem durar
8.6. Quanto tempo durarão os impactos b. +2
alguns meses, enquanto outros
da decisão automatizada? c. +3
podem durar mais tempo;
c. Impactos podem durar anos; d. +4
d. Perpétuo;

8.6.1. Descreva os impactos resultantes


da decisão de acordo com a opção [...]
selecionada acima.

a. Pouco ou sem impacto; a. +1


8.7. A decisão automatizada terá impactos b. Impactos moderados; b. +2
sobre direitos e/ou liberdades individuais? c. Alto impacto; c. +3
d. Impacto muito alto; d. +4

8.7.1. Descreva os impactos resultantes


da decisão de acordo com a opção [...]
selecionada acima.

a. +1
a. Pouco ou sem impacto;
b. +2
8.8. A decisão automatizada terá impactos b. Impactos moderados;
c. +3
sobre a saúde e o bem-estar da população? c. Alto impacto;
d. +4
d. Impacto muito alto;

8.8.1. Descreva os impactos resultantes


da decisão de acordo com a opção [...]
selecionada acima.

a. Pouco ou sem impacto; a. +1


8.9. A decisão automatizada terá impactos b. Impactos moderados; b. +2
socioeconômicos de indivíduos? c. Alto impacto; c. +3
d. Impacto muito alto; d. +4

8.9.1. Descreva os impactos resultantes


da decisão de acordo com a opção [...]
selecionada acima.

a. Pouco ou sem impacto; a. +1


8.10. A decisão automatizada poderá provocar b. Impactos moderados; b. +2
impactos ambientais? c. Alto impacto; c. +3
d. Impacto muito alto; d. +4

8.10.1. Descreva os impactos resultantes


da decisão de acordo com a opção [...]
selecionada acima.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 76


Apêndice: Avaliação de Impacto Algorítmico

9. Sobre os dados

A. Fontes de dados

Perguntas Respostas Pontuação

9.1. O sistema usará dados pessoais como


Sim = +4
dados de entrada (input data) para a realizar Sim ou Não
Não= 0
decisões automatizadas?

Sim = 0
9.1.1 Se sim, o uso de dados pessoais será
Não= +4
limitado somente às finalidades do programa Sim, Não, ou Não se aplica
ou serviço? Não se
aplica =0

Sim = +2
9.1.2 O dado pessoal será utilizado pelo
Não= 0
sistema para tomada de decisões que afetam Sim, Não, ou Não se aplica
diretamente os mesmos indivíduos? Não se
aplica =0

9.1.3 A maneira na qual o sistema utilizará


Sim = 0
dados pessoais é consistente com as normas
Não= +1
estabelecidas pela LGPD e outras regulações Sim, Não, ou Não se aplica
setoriais relevantes à área de atuação Não se
aplica =0
do sistema?

a. Não, tratam-se de informações


abertas, públicas, não sujeitas
a sigilo;
a. 0
9.2. Os dados de entrada (input data) b. Sim, tratam-se de dados pessoais;
b. +2
correspondem a informações classificadas c. Sim, tratam-se de informações
c. +3
como sigilosas, segundo a Lei de Acesso à classificadas no grau “reservado”;
Informação (Lei nº 12.517/2011) d. +4
d. Sim, tratam-se de informações
classificadas no grau “secreto”; e. +5

e. Sim, tratam-se de informações


classificadas no grau “ultrassecreto”.

a. Dados abertos e/ou


informações públicas; a. +1
9.3. Quem é o titular das informações que b. Governo federal; b. +2
integram os dados de entrada do sistema? c. Governos estaduais, distrital e/ou c. +3
municipais; d. +4
d. Iniciativa privada ou sociedade civil;

9.4. O sistema usará dados de várias bases de Sim = +4


Sim ou Não
dados ou fontes diferentes? Não= 0

9.5. O sistema exigirá dados de entrada


de dispositivos conectados à internet ou Sim = +4
Sim ou Não
a redes de telefonia? (Internet das coisas, Não= 0
sensores, p.e.)

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 77


Apêndice: Avaliação de Impacto Algorítmico

9.6. Haverá interface entre o sistema a ser Sim = +4


Sim ou Não
desenvolvido e outros sistemas de TI? Não= 0

a. A própria entidade contratante;


b. Órgãos ou entidades federais; a. +1
c. Órgãos ou entidades estaduais, b. +2
9.7. Quem coletou os dados e informações
distritais e/ou municipais; c. +3
necessários para treinar o sistema?
d. Governos estrangeiros; d. +4
e. Pessoas físicas ou jurídicas de direito e. +5
privado, nacionais ou estrangeiras;

a. A própria entidade contratante;


b. Órgãos ou entidades federais; a. +1
c. Órgãos ou entidades estaduais, b. +2
9.8. Quem coletou os dados de entrada
distritais e/ou municipais; c. +3
usados pelo sistema?
d. Governos estrangeiros; d. +4
e. Pessoas físicas ou jurídicas de direito e. +5
privado, nacionais ou estrangeiras;

B. Tipos de dados

Perguntas Respostas Pontuação

9.9. Será necessária a análise de dados não 0


estruturados para apresentar recomendações Sim ou Não [não afeta a
ou tomar decisões? pontuação]

Selecione todas as opções aplicáveis:


9.9.1. Se sim, quais tipos de dados não a. +2
a. Arquivos de áudio ou texto;
estruturados? b. +4
b. Imagens e vídeos;

III.  QUESTIONÁRIO RELATIVO A MEDIDAS PARA ELIMINAR, REDUZIR OU MITIGAR


RISCOS ALGORÍTMICOS

10. Consultas

Perguntas Respostas Pontuação

10.1. Foram consultados os órgãos e


departamentos internos que sejam Sim= +1
Sim ou Não
relevantes, no âmbito da entidade Não= 0
contratante, para o projeto?

Selecione todas as opções aplicáveis:


• Direção, Administração e Planejamento;
• Assessoramento jurídico;
• Tecnologia da informação;
0
10.1.1. Se sim, quais? • Comunicações;
[não afeta a
• Área responsável pelo Acesso à Infor- pontuação]
mação e Proteção de Dados Pessoais
(DPO);
• Relacionamento com os usuários;
• Outros (especificar).

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 78


Apêndice: Avaliação de Impacto Algorítmico

10.2. Foram realizadas consultas a


fornecedores e entidades externas
Sim= +1
à entidade contratante (Academia, Sim ou Não
Não= 0
sociedade civil, setor privado, etc) que
possam ter interesse no projeto?

Selecione todas as opções aplicáveis:


0
10.2.1. Se sim, quais? • Sociedade civil;
[não afeta a
(indique todas as alternativas aplicáveis) • Academia; pontuação]
• Setor privado;

11. Mitigação de riscos: Qualidade dos dados

Perguntas Respostas Pontuação

11.1. Existem rotinas e/ou processos


(como balancear a representatividade
de grupos minoritários) em vigor
para testar conjuntos de dados contra
Sim= +2
vieses, preconceitos e outros resultados Sim ou Não
Não= 0
inesperados no pré-processamento do
algoritmo (p.e., experiência na aplicação
de protocolos ou outras ferramentas
de avaliação)?

11.1.1. Esta informação está disponível Sim= +1


Sim ou Não
publicamente? Não= 0

11.2. A entidade contratante possui


algum processo interno para documentar
Sim= +1
como problemas relativos à qualidade Sim ou Não
Não= 0
de dados devem ser resolvidos durante o
desenvolvimento da solução?

11.2.1. Esta informação está disponível Sim= +1


Sim ou Não
publicamente? Não= 0

11.3. Os dados pessoais necessários


ao desenvolvimento e ao treinamento
do sistema foram avaliados no
Sim= +1
que diz respeito às características Sim ou Não
Não= 0
sócio-demográficas que refletem,
especialmente dados pessoais sensíveis
(gênero, raça, orientação sexual, p.e.)?

11.3.1. Esta informação está disponível Sim= +1


Sim ou Não
publicamente? Não= 0

11.4. Foi atribuída, no âmbito da


entidade contratante, competências
Sim= +2
ou responsabilidades específicas sobre Sim ou Não
Não= 0
o projeto e seu desenvolvimento,
treinamento, manutenção e melhoria?

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 79


Apêndice: Avaliação de Impacto Algorítmico

11.5. A entidade contratante possui


algum processo interno para evitar que Sim= +2
dados desatualizados ou não confiáveis Sim ou Não Não= 0
sejam considerados pelo sistema na
tomada de decisões automatizadas?

11.5.1. Esta informação está disponível Sim= +1


Sim ou Não
publicamente? Não= 0

11.6. Os dados utilizados para o


desenvolvimento e/ou treinamento
Sim= +2
do sistema encontram-se publicados Sim ou Não
Não= 0
no Portal da Transparência ou sítio
eletrônico equivalente?

11.7. Caso o algoritmo originalmente


Sim= +1
tenha sido desenvolvido fora do Brasil,
Não= 0
ou para um contexto distinto do Sim, Não ou Não se Aplica
Não se
proposto, dados relevantes locais foram
Aplica= 0
providenciados para retreiná-lo?11

12. Mitigação de Riscos: Auditabilidade do sistema e procedimentos de revisão


ou impugnação de decisões automatizadas

Perguntas Respostas Pontuação

12.1. O sistema possui etapas de


auditoria que permitam identificar a Sim= +1
Sim ou Não
autoridade competente responsável Não= 0
pela decisão?

12.2. O sistema fornece um mapa


de auditoria que registra todas as Sim= +2
Sim ou Não
recomendações ou decisões tomadas Não= 0
pelo sistema?

12.3. Todos os principais critérios de


Sim= +2
decisão são identificáveis neste mapa de Sim ou Não
Não= 0
auditoria?

12.4. Os principais critérios de decisão


adotados pelo modelo lógico de Sim= +1
Sim ou Não
decisão do sistema estão lastreados na Não= 0
legislação pertinente?

12.5. A entidade contratante manterá


Sim= +2
registro atualizado detalhando todas as Sim ou Não
Não= 0
mudanças feitas ao modelo e ao sistema?

11  Questão 11.7 com redação adaptada pelos autores ao contexto brasileiro, não constando do modelo de AIA originalmente
adotado pelo Canadá.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 80


Apêndice: Avaliação de Impacto Algorítmico

12.6. O mapa de auditoria do sistema


Sim= +1
indicará todos os critérios de decisão Sim ou Não
Não= 0
adotados pelo sistema?

12.7. O mapa de auditoria gerado pelo


sistema poderá ser usado para gerar
Sim= +1
notificações sobre a decisão (incluindo Sim ou Não
Não= 0
uma exposição de motivos ou outra
motivação, p.e.) quando necessário?

12.8. O mapa de auditoria identifica


Sim= +2
precisamente qual versão do sistema foi Sim ou Não
Não= 0
usada em cada decisão?

12.9. O mapa de auditoria mostra quem é


Sim= +1
a autoridade competente para cada tipo Sim ou Não
Não= 0
de decisão?

12.10. O sistema é capaz de fornecer


justificativas e motivação para as Sim= +2
Sim ou Não
suas decisões ou recomendações Não= 0
caso solicitado?

12.11. Existe um processo interno


Sim= +1
para conceder, monitorar e revogar Sim ou Não
Não= 0
permissões de acesso ao sistema?

12.12. Existe algum procedimento para


receber comentários, sugestões ou Sim= +1
Sim ou Não
devolutivas (feedback) por parte dos Não= 0
usuários do sistema?

12.13. Existe um processo recursal ou


meio de impugnação para que eventuais Sim= +2
Sim ou Não
interessados possam pleitear a revisão Não= 0
da decisão?

12.14. O sistema permite a revisão e/ou a


Sim= +2
anulação por seres humanos das decisões Sim ou Não
Não= 0
automatizadas realizadas do sistema?

12.15. Existe algum registro de decisões


Sim= +1
automatizadas que sejam substituídas, Sim ou Não
Não= 0
anuladas ou revistas por seres humanos?

12.16. O mapa de auditoria do sistema


permite o controle de mudanças para Sim= +2
Sim ou Não
registrar modificações na operação ou no Não= 0
desempenho do sistema?

12.17. O sistema prevê uma etapa de


verificação dos seus resultados na fase Sim= +1
Sim ou Não
de pós-processamento para calibração do Não= 0
seu modelo de decisão?12

12  Questão 12.17 com redação adaptada pelos autores ao contexto brasileiro, não constando do modelo de AIA originalmente
adotado pelo Canadá.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 81


Apêndice: Avaliação de Impacto Algorítmico

12.18. Caso a solução proposta impacte


diretamente indivíduos, a equipe
Sim= +1
responsável pelo seu monitoramento
Não= 0
de desempenho é composta por um Sim, Não ou Não se Aplica
grupo diverso de pessoas em termos de Não se
Aplica= 0
raça, gênero e orientação, dentre outros
critérios sócio-demográficos?13

13. Mitigação de riscos : Privacidade e Proteção de Dados

Perguntas Respostas Pontuação

13.1. Se o seu sistema envolve o uso de


dados pessoais, a entidade contratante
Sim= +1
elaborou um Relatório de Impacto à Sim ou Não
Não= 0
Proteção de Dados Pessoais segundo as
regras da LGPD?

13.2. O projeto buscou, desde as suas


etapas iniciais de concepção e provas
Sim= +1
de conceito, projetar e desenvolver Sim ou Não
Não= 0
mecanismos que garantam a segurança e
a proteção de dados pessoais?

13.3. Os dados e informações pessoais


são usados em sistema fechado (i.e., Sim= +1
Sim ou Não
sem conexão com a Internet, Intranet ou Não= 0
quaisquer outros sistemas)?

13.4. Caso haja transferência ou


compartilhamento de dados pessoais,
Sim= +1
foi celebrado acordo estabelecendo as Sim ou Não
Não= 0
obrigações das partes e as salvaguardas
apropriadas, segundo a LGPD?

IV.  RESULTADOS DA AVALIAÇÃO DE IMPACTO ALGORÍTMICO


O questionário principal da AIA divide-se em duas áreas: análise de riscos (item II, subitens 2 a 9)
e medidas de mitigação (item III, subitens 10 a 13). Cada área contém perguntas cujas respostas
contribuem para o cálculo da pontuação máxima do subitem em questão.

O valor atribuído a cada pergunta é ponderado com base no potencial de impacto bruto da temática
abordada e sua mitigação, assim contribuindo para a pontuação total. A pontuação do impacto
bruto mede os riscos da automação, enquanto a pontuação de mitigação mede como os riscos da
automação serão gerenciados

13  Questão 12.18 com redação adaptada pelos autores ao contexto brasileiro, não constando do modelo de AIA originalmente
adotado pelo Canadá.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 82


Apêndice: Avaliação de Impacto Algorítmico

Área: Análise de Riscos Número de Perguntas Pontuação Máxima

Projeto
1. Descrição do Projeto
2. Impactos positivos 13 16
3. Perfil de risco
4. Governança do projeto

5. Sistema 1 0

6. Algoritmo 2 6

7. Decisão 1 6

8. Impacto 16 36

9. Dados 13 44

SUBTOTAL A (Pontuação
46 108
de Impacto Bruto)

Área: Mitigação Número de Perguntas Pontuação Máxima

10. Consultas 2 2

11, 12 e 13. Mitigação de Riscos 33 45

SUBTOTAL B
35 47
(Pontuação de Mitigação):

A PONTUAÇÃO TOTAL da AIA é determinada da seguinte forma:

a. Se a pontuação de mitigação for inferior a 80% da máxima pontuação possível na área


(ou seja, 80% de 47, i.e, menor que 38)14, a pontuação total da AIA será igual à pontuação
do impacto bruto; caso contrário,

b. Se a pontuação de mitigação for igual ou superior a 80% da máxima pontuação possível


na área (ou seja, maior que ou igual a 38), 15% da pontuação de impacto bruto será
deduzida para computar a pontuação total.

Expressada em porcentagem, a pontuação total da AIA corresponde a uma faixa correspondente a


quatro níveis de impacto, conforme a tabela abaixo. O nível de impacto é determinado pela porcen-
tagem da pontuação total em relação à máxima pontuação possível de impacto bruto (108 pontos).

14  Arredondando-se para o número inteiro imediatamente superior.

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 83


Apêndice: Avaliação de Impacto Algorítmico

Nível de Impacto Definição Porcentagem de Pontuação

Nível I Baixo 0% a 25%

Nível II Moderado 26% a 50%

Nível III Alto 51% a 75%

Nivel IV Muito alto 76% a 100%

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 84


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TRAJTENBERG, M. AI as the next GPT: a Political-Economy Perspective: Working Paper Series.


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Bibliografia

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Poder Público, fev. 2020. Disponível em: <https://www.transparencia.org.br/downloads/publicacoes/
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO (TCU). Manual de Gestão de Riscos do TCU. . [s.l.] TCU, 2020.
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO (TCU). Guia de boas práticas em contratação de soluções de


tecnologia da informação. TCU, 2012. Disponível em: <https://www.google.com/url?q=https://
portal.tcu.gov.br/lumis/portal/file/fileDownload.jsp?fileId%3D8A8182A24F0A728E014F0B22132B-
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Acesso em: 23 fev. 2022

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO (TCU). TCU lança edital inédito para contratação por Encomenda
Tecnológica | Portal TCU. Disponível em: <https://portal.tcu.gov.br/imprensa/noticias/tcu-lanca-
edital-inedito-para-contratacao-por-encomenda-tecnologica.htm>. Acesso em: 23 fev. 2022.

WORKING GROUP ON DIGITAL AND AI IN HEALTH. Reimagining Global Health through Artificial
Intelligence: The Roadmap to AI Maturity. [s.l.] Broadband Commission, Novartis Foundation,
set. 2020. Disponível em: <https://www.broadbandcommission.org/wp-content/uploads/2021/02/
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Referências do Projeto AI Procurement in a Box


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WORLD ECONOMIC FORUM. AI Procurement in a Box: AI Procurement Guidelines: Unlocking


Public Sector AI. [s.l.] WEF, 11 jun. 2020b. Disponível em: <https://www.weforum.org/reports/
ai-procurement-in-a-box/ai-government-procurement-guidelines/>. Acesso em: 23 fev. 2022.

WORLD ECONOMIC FORUM. AI Procurement in a Box: Case Study UK: Unlocking Public Sector
AI. [s.l.] WEF, 11 jun. 2020c. Disponível em: <https://www.weforum.org/reports/ai-procurement-
in-a-box/pilot-case-studies/>. Acesso em: 23 fev. 2022.

WORLD ECONOMIC FORUM. AI Procurement in a Box: Challenges and Opportunities: Unlocking


Public Sector AI. [s.l.] WEF, 11 jun. 2020d. Disponível em: <https://www.weforum.org/reports/
ai-procurement-in-a-box/challenges-and-opportunities-during-implementation/>. Acesso em:
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WORLD ECONOMIC FORUM. AI Procurement in a Box: Overview: Unlocking Public Sector AI. [s.l.]
WEF, 11 jun. 2020e. Disponível em: <https://www.weforum.org/reports/ai-procurement-in-a-box/>.
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WORLD ECONOMIC FORUM. AI Procurement in a Box: Workbook: Unlocking Public Sector AI. [s.l.]
WEF, 11 jun. 2020f. Disponível em: <https://www.weforum.org/reports/ai-procurement-in-a-box/
workbook/>. Acesso em: 23 fev. 2022.
Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 88
Bibliografia

Notícias e páginas da internet:

Abastecido por inteligência artificial, chatbot em sites do governo responderá dúvidas sobre
coronavírus. Disponível em: <https://estado.rs.gov.br/abastecido-por-inteligencia-artificial-
chatbot-em-sites-do-governo-respondera-duvidas-sobre-coronavirus>. Acesso em: 23 fev. 2022.

Architectural Rationale. Disponível em: <https://incidentdatabase.ai/about_apps>. Acesso em:


23 fev. 2022.

Atendente virtual do Poupatempo é destaque em evento de TI. Disponível em: <https://www.


saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/atendente-virtual-poupatempo-e-destaque-em-evento-de-ti/>.
Acesso em: 23 fev. 2022.

DeepMind - What if solving one problem could unlock solutions to thousands more? Disponível
em: <https://deepmind.com/>. Acesso em: 23 fev. 2022.

Desafios SAÚDE. Ideiagov, [s.d.]. Disponível em: <https://ideiagov.sp.gov.br/tag-desafios/saude/>.


Acesso em: 23 fev. 2022

HUBTEC - Escritório Virtual de Apoio as ETECS. Disponível em: <https://hubtec.abdi.com.br/>.


Acesso em: 23 fev. 2022.

Metrô é eleito o melhor serviço de transporte de São Paulo. Disponível em: <https://www.
saopaulo.sp.gov.br/ultimas-noticias/servicos/metro-foi-eleito-o-melhor-transporte-de-sp/>. Acesso
em: 23 fev. 2022.

O que muda com a LGPD — LGPD - Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais | Serpro. Disponível
em: <https://www.serpro.gov.br/lgpd/menu/a-lgpd/o-que-muda-com-a-lgpd>. Acesso em: 23 fev.
2022.

Produtos da Consultoria em Inteligência Artificial. Disponível em: <https://antigo.mctic.gov.


br/mctic/opencms/inovacao/paginas/politicasDigitais/Inteligencia/Consultoria.html>. Acesso
em: 23 fev. 2022.

Pan-Canadian AI Strategy. Disponível em: <https://cifar.ca/ai/>. Acesso em: 23 fev. 2022.

Santa Clara Principles on Transparency and Accountability in Content Moderation. Disponível


em: <https://santaclaraprinciples.org/images/santa-clara-OG.png>. Acesso em: 23 fev. 2022.

This graphic compares the best public transportation systems around the world. Disponível em:
<https://www.businessinsider.com/best-public-transportation-systems-around-the-world-2015-8>.
Acesso em: 23 fev. 2022.

Uso de Inteligência Artificial em Exames de Imagem - Ideiagov, 1 jul. 2020. Disponível em: <https://
ideiagov.sp.gov.br/desafios/diagnostico-atraves-de-imagens-de-tomografia-computadorizada-e-
raio-x-de-torax/>. Acesso em: 23 fev. 2022

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 89


Agradecimentos
Autores principais Fausto Lourenço Gomes Júnior
Assessor no Núcleo de Inovação e Tecnologia
Clara Langevin
Project Lead, AI/ML, C4IR Brasil Kelly Cristina Fernandes
Coordenadora de Licitações de Obras,
Rafael Carvalho de Fassio Serviços e Sistemas Financiados por
Procurador do Estado de São Paulo Organismos Internacionais e Nacionais
e Government fellow, AI/ML, World
Economic Forum Lívia Lopes Garcia
Analista no Núcleo de Inovação e Tecnologia

C4IR Brasil Ricardo Nariçawa


Coordenador Jurídico de Licitações,
Aldo Russo
Project Lead, Internet das Coisas e Novos Negócios e Assuntos Gerais
Transformação Urbana, C4IR Brasil
Sergio Eduardo Macedo Rezende
Julien Marc Hannigan Pigot Engenheiro na Coordenadoria de Estudos
e Planejamento da Manutenção de
Analista Sênior, AI/ML, C4IR Brasil
Equipamentos de Via Permanente, Veículos
Auxiliares, Estruturas e Instalações Civis
Larissa Leme
Analista Sênior, Política de Dados,
Valéria Cabral
C4IR Brasil
Assessora na Diretoria de Assuntos
Corporativos
Lucas Câmara
Diretor Executivo, C4IR Brasil
Wesley das Chagas
Engenheiro Especializado na Coordenadoria
de Estudos e Planejamento da Manutenção de
Metrô de São Paulo Equipamentos de Via Permanente, Veículos
Alvaro Gregorio Auxiliares, Estruturas e Instalações Civis
Coordenador do Núcleo de Inovação
e Tecnologia
Hospital das Clínicas da
Aparecida Edmira Pereira Faculdade de Medicina
Assessora na Diretoria de Operações da USP
Prof. Dr. Giovanni Guido Cerri
Carlos Frederico Guedes Pereira
Presidente do Conselho de Inovação do
Coordenador de Estudos e Planejamento
InovaHC (Núcleo de Inovação Tecnológica
da Manutenção de Equipamentos de
Via Permanente, Veículos Auxiliares, do Hospital das Clínicas da FMUSP)

Estruturas e Instalações Civis


Marco Antonio Bego
Diogo Oliveira Santos Chief Innovation Officer no InovaHC
Analista na Coordenadoria de Contratação
de Obras, Sistemas e Serviços Técnicos

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 90


Agradecimentos

Bruno Kunzler Roriz Pontes Celina Bottino


Gerente do Laboratório de Inteligência Diretora, Instituto de Tecnologia
Artificial - InLab do InovaHC e Sociedade (ITS Rio)

Poliana Ferreira Gomes Christian Perrone


Gerente de dados do Laboratório de Head, Direito e Tecnologia, e GovTech,
Inteligência Artificial - InLab do InovaHC Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS Rio)

Natasha Zanaroli Scaldaferri Daniela Arantes Alves Lima


Assessora Jurídica do InovaHC Engenheira do BNDES Garagem

Vilson Cabello Junior Eddan Katz


Chief Information Officer do Hospital Tech Policy Advisor, Credo AI
das Clínicas da FMUSP
Eliana Emediato de Azambuja
Francis Mironescu Tomazini Coordenadora Geral de Transformação Digital,
Gerente Corporativa de Inteligência e Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações
Dados do Hospital das Clínicas da FMUSP
Elias de Souza
Partner, Deloitte Brazil
Agradecimentos
Emily Ratté
Adriano Leal
Project Specialist, Artificial Intelligence
Gerente Técnico da Seção de Inteligência
and Machine Learning Platform, World
Artificial e Analytics, Instituto de Pesquisas
Economic Forum
Tecnológicas (IPT)

Eugenia Marolla
Ana Carolina da Motta Kohlitz
Subprocuradora Geral do Estado da
Líder de Políticas Públicas, AWS Brasil
Consultoria, Procuradoria Geral do Estado
de São Paulo
Ana Janaina Nelson
AWS Institute
Fabrício Braz
Professor Associado da Universidade de
Arby Ilgo Rech Filho
Brasília e Coordenador do AI Lab
Auditor Federal de Controle Externo e
Assessor de Ministro, Tribunal de Contas
da União Fabio Eon
Coordenador dos Programas de Ciências
Naturais e Ciências Humanas e Sociais da
Bianca Proença Bessa Dias
UNESCO no Brasil
Gerente do BNDES Garagem

Felipe Massami Maruyama


Camila Kühl Pintarelli
Diretor de Operações,
Procuradora do Estado Assessora,
IdeiaGov/Impact Hub
Procuradoria Geral do Estado de São Paulo

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 91


Agradecimentos

Gabriel Romitelli Laryssa Ferreira


Coordenador de Inovação Aberta, Designer Visual, Grupo Tellus
IdeiaGov/Impact Hub
Marcia Ogawa Matsubayashi
Guilherme Diniz de Figueiredo Dominguez Partner, Deloitte Brazil
CEO do BrazilLAB
Mariana Silveira
Ingrid Silva Coordenadora de Projetos do Instituto Tellus
Analista de Comunicação e Marketing
Sênior IdeiaGov/Impact Hub Mariana Spindola
Consultora Sênior, Instituto Tellus
James Gorgen
Coordenador de Economia 4.0 da Marina Coraça dos Santos Eckhardt
Subsecretaria de Inovação e Transformação
Administradora do BNDES Garagem
Digital do Ministério da Economia.

Mario Canazza
Jefferson Lopes Denti
Lead, C4IR Network and Partnerships,
Partner, Deloitte Brazil World Economic Forum

Johannes Boch Marcos Vinicius de Souza


Diretor de Acesso e Saúde Urbana, Fellow do C4IR Brasil e Presidente do
Fundação Novartis Conselho de Administração do Instituto
de Pesquisas Tecnológicas (IPT)
José Gustavo Sampaio Gontijo
Diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação Priscila do Nascimento Costa
Digital, Ministério de Ciência, Tecnologia Líder de Projetos de Tecnologia,
e Inovações Instituto Tellus

Juliana Sakai Rafael dos Santos Bitencourt


Diretora de Operações, Transparência Brasil Especialista em Contratações de Nuvem,
AWS Brasil
Karina Bressan Vidal
Analista de Ciência e Tecnologia, Ministério Virgínia Bracarense Lopes
de Ciência, Tecnologia e Inovações Superintendente de Diretrizes e Inovação na
Gestão Logística e Patrimonial na Secretaria
Karla Skeff de Estado de Planejamento e Gestão de
Oficial de Projetos dos Programas de Ciências Minas Gerais
Humanas e Sociais (SHS) e Comunicação e
Informação (CI) da UNESCO no Brasil Yara Baxter
Executiva de Projetos, Fundação Novartis
Kika Gianesi
Coordenadora de Comunicação e
Marketing Impact Hub São Paulo / IdeiaGov

Guia de Contratações Públicas de Inteligência Artificial | 92


Guia de Contratações Públicas de
Inteligência Artificial, 2022

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