Anno 1. Cidade da Campanha, 27 de Setembro.de 1873. Num. 4.

O SEXO FEMININO
SEMANÁRIO DEDICADO AOS INTERESSES DA MULHER.
Assinatura*. . £' pelo intermédio da mulher que a
Por anno BJOOO natureza eteret» no coração do homem » Toda a correspondência será
Por semestre . . . 2ÀB0O dirigida á D. Francisca Senbe-
Publica-se i vez por semana. (Ame' Martin.) rinha da MottaDiniz.

PRINCIPAL REDACTORA—D. FRANCISCA S. DA M. DlNIZ.—COLLABORADORAS, DIVRRSAS.

tabandeiras do regresso—esses senti-

O Sexo Feminino. nellas immutaveis de uma antiouaria
escola—deisão de acompanhar a luz do
A mulher no magistério.
progresso, e no mesmo lugar ficão,
Graças ás luzes deste século—aos muito embora ás escuras, com tanto
passos gigantescos do progresso—á il- que se não movão, talvez porque iá
lustraçãodiffundida pela imprensa, mes- perderão ou nunca tiverão o habito de
mo assim tão desprotegida como é neste andar, na elegante phrase de um es-
vasto império, em uma superfície de criptor moderno.
156,886 léguas quadradas, jà nâo se Si o pai pode ser legalmente compel-
depara com um pai dc familia que ouse lido a alimentar o filho, a fortiorio deve-
impunemente dizer—não é preciso, não rá ser a prestar-lhe o alimento intel-
quero que minha filha aprenda a Ur, como lectual o—ensino,
outr'ora dizião nossos antepassados, Tudo caminha a mil maravilhas; mas
aue não comprehendião para que po- ainda muito resta que fazer.
deria servir a educação e instmcçào. E' problema resolvido, e hoje sem a
Bem longe vão esses tempos cesses menor contestação, que somente a.mu-
homens cujo pensar jamais ha de dei- lher pôde com-vantagem educar a mo-
xar de ser reprovado e estigmatisado. cidade—e que uma tal educação assim
Vemos hoje prefessoras leccionando bebida desde o berço é capaz de for-
em suas cadeiras publicas e particulares mar as boas ou más inclinações do edu-
suas alumnas, a quem distribuem ins- cado, que tal será qual fôr a educação
tnuçáo e educação, e, o que c mais, lec- que tiver tido,
cionando já a meninos! Pois bem—já qne ninguém ousa pôr
*
Saudemos alegres este progresso, e em duvida a capacidade da mulher para
esquecendo e matando esse triste passa- educar—c visto que o próprio governo
do, lembremo-nos de vivificar o pre- também por seu turno a considera apta
sente. para professora não somente de meninas,
Também gozamos das vantagens do mas até mesmo de meninos, confian-
moderno ensino livre— bem dizendo do-ílie a regência de taes escolas, fa-
a necessidade e importância da obriga- zendo-a destarte depositaria de sua
toriedade da instrucção primaria ele- confiança oficial, è oceasião, ó tempo
mentar. opportuno parado alto da imprensa cia-
Esses retrógrados, e anachronicos per- mar e convencer taes professoras de
seguidores do ensino livre— esses por- que não se contentem com a inslrucçâo
^ulTiciente para ensinar o-A B C—;*, Aq..ella~m..lh.*r úum Mto enfio «ma
necessário, é urgente que possuão a boba
_:..A1 An AnnViopiinon—
maior somma possivel de conhecunen-
tos, o que só consejuiráõ com estudo Quanto á conjuneção si: é preferível
profundo methodisado. ensino conve- escrever si cm vez de se.
Só poderá transmittir o
niente e vantajosamente a professora que Qucstilo grammatical sob n, 3.
tiver uma intelligeneia cultivada, um
espirito illuslrado, uma experiência ama- Qual é o correclo:
durecida.euma idéa ciara de pedagogia. Eu me despido—ou eu me despeço
Não basta saber uma matéria para deFuão! ..
bem possa cnsinal-a ;é preciso ver Eu impido, tu impides, elle impide—
que
si possue o dom de transmittir. ou eu impeço, tu impedes, elle impede?
Ensinar ai er mecânica muita gente Mo—¦ -o*****"*********""^

o faz; lêr e escrever material muitos sa-

o faz Problema n. 2 c 3 sobre arithmetica.
bem; porem raro é aquelle que
racionalmente. N" 2.—Lm pescador prometteu a seu
E quem sabe si muita gente nao filho 200 rs.de cada lanço que trouxesse
lê pelo temor e certeza que lem de nao peixe, com a condição de pagar-lhe o
comprehender a leitura ? isto é m Jito filho 50 rs. por cada um que fosse bal-
provável. dado. Depois de 42 lanços o menino rc-
E' preciso preparar professoras-mo- cebeu 4*400 rs.
delos, que não somente nas cidades e Pergunta-se:—Quantos lanços trou-
villas, mas também nos campos, ou xerão peixe ?
mesmo nesseslonginquos sertões possâo N° 3._Um homem muito caritalivocos-
ensinando bem ser consultadas em vez tumava distribuir todos os sabbados por
de consultarem muitas vezes a quem não certo numero de pobres 500 rs. a cada
é capaz de guia-las. um. Um dia, em que tinha 4*500 mais
O resaltado grandioso que se deve que dc costume, quiz dar a cada um
esperar da instrucção e educação trans- 700 rs. porém foi forçado a desistir deste
mittida pela mulher no magistério de- intento, por lhe faltar 500 rs. Pergunta-
pende de prepara-la previamente para se que dinheiro tinha, e quantos erão os
esse honroso, mas diífieil e árduo en-
pobres ?
cargo de ensinar.
Variedade.
Collaboração.
O dote de uma noiva.
Escola normal.
Solução da questão grammatical sob Julgou de certo pae que si aos attractivos
sua filha, já em edade de ca-
n. 2 qúe vem no 3.° numero deste pe- naturaes
reunisse a cubiçada prenda de ura
riodico. Deve-se dizer: sar,
Maria é bom musico—e não ooa bom bom dote, não tardaria a apparecer-lhe
um noivo, e po/ isso diza a toda
musica. . sua filha tinha 4 40 mil reales de
Joanna é bom grammatico c nao boa gente que
Era hespanhola. Não faltarão ef-
ammmatica
-T/r idote. e entre ei es o preferido
L\a t Tom
vum rtorieoenfio boa rtoo-lfecliva.ncnte,
.
n commerciante, a quem,
rica. J
 s
no dia da boda, mas antes da celebração
chamou o pae c disse: tempestades, a taboa de salvação nos
Meu querido genro, vou-lhe entregar naufrágios, igualmente doce e piedosa
cfdote de minha filha. aos viajantes celebres* e aos passagei-
—E para que já ? respondeu o noivo. ros desconhecidos. Posto que ella tenha
Tempo temos dc mais para isso. os olhos cobertos com um véo, sua vista
Insistio o pae, não obstante, apresen- penetra o futuro; algumas veze3 tem
tou ao joveíi um papel em que se lia o flores nascentes em sua mão, outras
seguinte: vezes um copo cheio de um nectár deli-
« Dote dc minha filha. » cioso, nada ó igual ao encanto de sua
Educação esmerada, consciênciarecta, voz, á graça de seu sorriso; quanto mais
c sufliciente esperteza, tudo isto valerá se avizinha da vida mais ella se mostra
80,000 reales.—Minha filha não éco- pura e brilhante aos mortaes consolados.
a Fé e a Charidade lhe dizem: « Minha
quette, qualidade, que deve estimar-se irmã! » e ella se chama a Esperança.
cm outros 80,000.—E' virtuosa, amiga
da ordem e da economia, capaz de dedi- Traduzido do francez por
car-sc inteiramente aos seus deveres e á Albertina Piniz.
direeçâo da sua casa, 120,000 reales.— Campanha 20 de Setembro de 1873.
Nào gosta de assistira bailes nem a es-
qualidade que pôde bem ava-
iar-se em 40,000 reales.—'E' activa, Leia-se de qaalquet* maneira.
f>ctaculos,
laboriosa, e pôde dispensar as modistas S | a | t | o | r
e as costureiras, o que bem vale oulros
40.000.-E por ultimo lhe deu 40,000 á 1 r | e | p | o
em dinheiro, que valem mais do que
valeria uma grande fortuna em Uma mu- t | e | n 1 e | t
Iher de defeitos oppostos ás qualidades
que felizmente adornão minha filha.—• o | p | e | r | a
Total 400,000 reales.
Como pôde julgar-se, ficou soípre- r | o | t | a | s
hendi.lo, c ligeiramente desgostoso o
noivo ao inteirar-se do que resava a cô*
dula total, mas depois de um momento Ditos sobre as mulheres.-
de reflexão, decidio-se a acceitá-la, e os As mulheres fazem brotar todas as fló-
resultados do casamento hão sido tão res
felizes, que está sempre dizendo que seu que colhemos na primavera da vida*
sogro ainda avaliou em muito pouco as Às mulheres são para o homem o que
prendas de sua filha, porque esta lhe as flores sào para a primavera.
tem dado a paz, a fortuna e a felicidade As mulheres são por si mesmas as flô-
domestica. res da vida como os meninos são os fru-
ctos; são ellas que fazem o.encanto de
Esperança. nossas sociedades, quer formem entre si
coros de dansa, quer cada uma passeie
Ha no céo uma potenciadivina, com- com seu esposo, ou rodeada de numero-
panheira assídua da religião e da virtu- sos filhos.
de; ella nos ajuda a supportar as penas e
o tédio da vida, embarca-se comnosco Amante, filha, irmã, esposa, mãe, avó;
para nos mostrara entrada do porto nas nestas seis palavras está tudo que o cora-

cão humano encerra de mais doce, de
ínais extatico; de mais sagrado, de mais
puro, e demais ineffavel.
Deus também ensaiou fazer composi-
a sua poesia
ções: a sua prosa é o homem,
é a mulher.
O que mais agrada-nos na mulher é o
pudor e a castidade.
As mtitòeressfto no mundo inoral. o que
as flores são no mundo physieo.
Poesia.
Cântico a Jesus-Chrlsto
Senhor l as tuas doutrinas
Puras, eternas, divinas
Enchem minh'alma de fé!
Tua sagrada lembrança
Dá-me celeste esperança,
Oh Mestre de Nazareth!
Em vâo a turba insensata,
Em seus desvios ingrata,
Busca-te o nome olvidar!
Na fiel, tenaz memória,
Tuasacrosanla historia
Rediviva, ha de brilhar!
A virtude, a heroicidade,"
As crenças da mocidade,
Tudo, Senhor, vem de ti!
Só justiça, amor, verdade,
Ensinaste á humanidade,
Santo filho de David!
Em teu nome, ao desgraçado
Dá o rico, afortunado,
Abrigo, conforto e pão;
Ao mais torpe criminoso
Concede o homem piedoso
O grato nome de irmão!
Ai! se estas idades cevas,
Teu culto votão às trevas,
Que virtudes restaráõ ?!
Sobre o mundo, fero,insano,
Tremulará, soberano,
J)a maldade o pavilhão!
Porém, nfto! Tu reinarás!
Eternamente serás
O pharol da humanidade!
Debalde hodiernos sábios,
Tendo o embuste nos lábios
Te neguem a divindade.
A cada estância da vida
Bella, triste ou desluzida,
Teu nome ligado està!
Os varões esclarecidos
Proclamáo-te convencidos
DilectodeJeovah!
Clame embora a impiedade:
Extingua-se a christandade,
Sublime, excelso Jesus!
Mas do templo derrocado,
Pelos homens profanado,
Eu exaltarei a Cruz!...
D. ErnestinaFagundes Varella.
Noticiário.
Escola normal do ttio de Janeiro.—
Consta do relatório apresentado pelo
respectivo presidente da província á as-
sembléa, que essa escola é freqüentadae
sendo 22 moços,
por 54 alumnos,
32 moças.
O mesmo se dàaqui na da Campanha,
onde o numero de moças é muito supe-
rior ao de moços,
Novas nomeações para o magistério»
.—Quasi todos os examinados e exanu-
lentes
nadas julgados habilitados pelos acabao
cidade,
|da escola normal testa
ser nomeados professores.
1 de Oxalá abando-
que taes pedagogos não suas ca-
nem os livros, c que ornando
deites, illustrando suas intelligencias,
um
comprehendendo o magistério como
sacerdócio, honrem sempre a escola
normal que os habilitou perante o go-
verno. _ L ,
Typ. áo-Monarchista-Campanha.