Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
LITERATURA BRASILEIRA
Textos literários em meio
eletrônico
Despoemas, de Maura de
Senna
Edição de base:
Maura de Senna Pereira, Poesia
reunida e outros textos,
Org. de Lauro Junkes,
Florianópolis:
ACL, 2004.
ÍNDICE
Do amor
No vale
samaritano
Sublimação
Lua e luta
Intemporal
João Paulo I
Inauguração da
lua
A estátua
O homem e o
tempo
Terra minha sob o
signo
da poesia
Palácio Cruz e
Sousa
Os adeuses
https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8799 1/16
16/04/2022 15:21 Despoemas, de Maura de Senna Pereira
Eu não verei a
aurora
Testamento
No
livro
da
editora
Achiamé:
Quando
essa
era,
porém,
chegar
a
vossos
lares,
Eu
já
terei
voltado
ao
selo
do
universo.
Mas,
porque
vos
amei
—
homens!
irmãos!
—
nos
ares
Minha
alma
ficará,
vibrando
no
meu
verso.
Rufiará
pelo
céu
—
numa
asa
https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8799 2/16
16/04/2022 15:21 Despoemas, de Maura de Senna Pereira
que
se
solta,
Tinirá
—
no
rumor
de
algemas
se
quebrando
E,
em
frêmitos
de
amor
e
gritos
de
revolta,
Convosco
ficará
—
nos
aquilões
cantando.
Almeida
Cousin
(In
"Itamonte")
Em
Busco
a
Palavra:
Maura
de
Senna
Pereira,
que
está
Sempre
em
vigília
poética,
vem
Disfarçada
em
"Despoemas".
Mas
é só
https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8799 3/16
16/04/2022 15:21 Despoemas, de Maura de Senna Pereira
disfarce,
porque
o
livro
Oferece
poemas
de
verdade".
Lago
Burnet
—
"Revista
Nacional"
https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8799 4/16
16/04/2022 15:21 Despoemas, de Maura de Senna Pereira
Do amor
I
No Vale Samaritano
Eis que hoje me despeço
deste vale
onde a tragédia nos fez
aterrissar
por todo um mês (ou todo
um
século?)
Ele, em seu leito, por hábeis
mãos
cuidado,
recebendo no soro as
substâncias
que foram reabsorvendo o
sangue
extravasado
Eu era toda aflição contida e
esperança
na ação dos dois médicos
perfeitos
Já tarde, quando, sedado ou
não,
ele dormia
em vigília sempre eu ia
contemplar
a noite:
a rua de casas belantigas
(elas
existem?)
o morro de pedra e verdes
novos
pela frente
o grande edifício à esquerda,
os
outros menores,
e sobretudo o céu estrelado,
a lua
às vezes
e, bem no alto, aquele que
foi
crucificado
https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8799 5/16
16/04/2022 15:21 Despoemas, de Maura de Senna Pereira
https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8799 6/16
16/04/2022 15:21 Despoemas, de Maura de Senna Pereira
https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8799 7/16
16/04/2022 15:21 Despoemas, de Maura de Senna Pereira
https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8799 8/16
16/04/2022 15:21 Despoemas, de Maura de Senna Pereira
https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8799 9/16
16/04/2022 15:21 Despoemas, de Maura de Senna Pereira
https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8799 10/16
16/04/2022 15:21 Despoemas, de Maura de Senna Pereira
https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8799 11/16
16/04/2022 15:21 Despoemas, de Maura de Senna Pereira
https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8799 12/16
16/04/2022 15:21 Despoemas, de Maura de Senna Pereira
https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8799 13/16
16/04/2022 15:21 Despoemas, de Maura de Senna Pereira
vossos
lares
Eu
já
terei
voltado
ao
seio
do
universo.
Mas,
porque
vos
amei
—
homens!
—
nos
ares
Minha
alma
ficará,
vibrando
no
meu
verso.
Almeida
Cousin
Quando este mundo imundo
desabar
caírem as ditaduras, a
ignomínia
das torturas
tiver fim, os povos forem
livres e fartos, as castanhas
saltarem
festivas em todos os pratos
a longa noite acabar
eu não verei a aurora
Eu não verei a aurora
e saúdo com aleluias
todos aqueles que a verão
temendo somente que ela
não venha
logo resplandecente e, ao
surgir,
traga ainda estigmas do
século
pálidos painéis de guerras e
holocaustos
https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8799 14/16
16/04/2022 15:21 Despoemas, de Maura de Senna Pereira
sombrias manchas de
mártires e
déspotas
sinistras forcas esmaecendo
ainda doendo antes de
tragadas
pelo esplendor da nova
gênese
II
Testamento
O que me punge não é
propriamente
a morte
embora me revolte: é a
tumba, a
podridão
Quando tudo deveria ser
feito para
alegrar a vida
que só a vida importa
nada se omite para tornar
menos
triste a morte
ao ponto de fazer a terra
cúmplice
do banquete macabro que eu
não
quero ser
A terra é para se abrir em
flor e
fruto
dar a espiga o cacho o grão
a
fonte o bosque
a terra é para nutrir, não
para
consumir
(Como, em verdade, definir
a vida
se me transformarei em
lembrança? e
a eternidade
se, quando por sua vez
morrerem os
que me amam,
de todo me finarei? Porém o
que
não é inevitável
é a degradação de
apodrecer)
Ora, dirão, a cremação não
tarda
e poderás escolher... Pois, se
assim for,
que eu arda morta como ardi
em
vida
por meu amor, meu sangue,
meu
amigo, pelo ser
humano,
https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8799 15/16
16/04/2022 15:21 Despoemas, de Maura de Senna Pereira
https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=download&id=8799 16/16