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RECONCILIAÇÃO

MEDICAMENTOSA :
o passo a passo definitivo
Sobre a
Autora

Meu nome é Luciana Pires, tenho 9 anos de experiência na área


hospitalar, neste tempo adquiri vasta bagagem nas diversas
modalidades de atuação do farmacêutico dentro do hospital.

Ministrei treinamentos internos para equipes de enfermagem, para


médicos e também para farmacêuticos.

Atuei na revisão de protocolos junto de equipes multidisciplinares e


participei do processo de conquista de selos de qualidade importantes
para o hospital.

Hoje tenho como objetivo passar para os meus pupilos os aprendizados


da vida real de um farmacêutico.

@FARMALUPIRES
ÍNDICE
Introdução ............................................... pág 4
Passo 1 ..................................................... pág 7
Passo 2 .................................................... pág 16
Passo 3 .................................................... pág 21
Exemplos ................................................ pág 28
Dicas de como montar um fluxo ..... pág 36
Indicadores ............................................. pág 41
Reconciliação medicamentosa ou Conciliação
medicamentosa, o nome não importa:
precisamos entender como desenvolvê-la e quais
seus objetivos.

OBSERVAÇÃO:

Até existe uma recomendação para chamarmos sempre de


conciliação medicamentosa para não ser confundida com
uma ação na área da farmácia que também tem esse nome.

Mas é uma área completamente diferente na manipulação,


então, dentro do contexto, tanto faz
reconciliação ou conciliação.
Essa atividade importante na estratégia de promover o uso
seguro de medicamento, tem como base a coleta de
informações sobre o uso prévio de medicamentos do
paciente e fazer uma validação com a prescrição atual do
paciente.

O principal objetivo é evitar duplicidade, omissões,


prescrições desnecessárias considerando a clínica atual
do paciente.

Lembrando que é um processo e que, como qualquer processo ou


rotina que vão introduzir no nosso serviço, precisa ser desenhado de
forma clara. Assim, definimos o fluxo que ela irá seguir, além de definir
responsáveis, tempo, documentações e registros que iremos utilizar
para que a atividade funcione e que conseguiremos atingir seu
objetivo principal que é garantir a segurança do paciente.
Para montar um
processo de
reconciliação
medicamentosa iremos
dividir em 3 passos, que
são os mais importantes
e a base da atividade.

1º PASSO

Coleta de dados
Quem irá coletar esses
dados?
A reconciliação medicamentosa
não é uma atividade exclusiva do
farmacêutico, então podemos
compartilhar essa atividade de
acordo com a nossa
possibilidade de desenvolvê-la.

E é principalmente na fase de
coleta das informações que
vamos enxergar isso, pois nem
sempre será possível desenhar o
processo com o farmacêutico
coletando as informações e
entrevistando paciente.

Então podemos pensar em um


fluxo onde o médico faz essa
coleta e o farmacêutico atua
nas fases seguintes ou a
enfermagem coleta os dados e
o farmacêutico da continuidade
no fluxo.
Importante:

O farmacêutico é o melhor profissional


para fazer a entrevista de reconciliação
medicamentosa. Isso é um fato! Como
nosso olhar é focado nos medicamentos,
não nos perdemos em outras informações
e conseguimos observar com mais carinho
coisas que outros profissionais não dão
tanta importância.

Caso não seja possível o farmacêutico


fazer essa entrevista para coleta de
informações, pois sabemos que nos falta
braços para tantas atividades no dia a dia, é
importante ter uma forma padrão dos
outros profissionais fazerem isso e, em
caso de alguma informação que não passe
muita clareza, é importante o farmacêutico
refazer a coleta e confirmar as
informações.
Quando será feita a coleta
dessas informações?
Essa parte do processo vai levar muito em
consideração o perfil da instituição que você trabalha e
o tipo de paciente que ela atende. Por exemplo: em
pacientes cirúrgicos (na maioria das cirurgias), a
permanêcia do paciente dentro hospital é tão rápida
que o farmacêutico não chega nem a conhecer o
paciente.

Outro fato que precisa ser levado em consideração é o


número de farmacêuticos e o tempo que temos
disponível para atender. Você não pode colocar como
meta do seu processo que a reconciliação
medicamentosa será feita imediatamente após a
internação se você não tem farmacêutico disponível
para fazer isso.

Mesmo que a coleta de


informação seja feita de
forma imediata pelo
médico, todo o
processo de
reconciliação, que
envolve outros passos,
não terá sido concluído.
A entrevista

Nossos objetivos é tentar coletar o máximo de informações


do paciente quanto os usos dos medicamentos de forma
clara, segura e completa.

Uma dica é usar formulários que facilitem esse processo.

Abaixo eu vou disponibilizar um modelo para adaptar com a


sua realidade e acrescentar o que achar importante.

CLIQUE AQUI PARA ACESSAR O SEU MODELO DE


FORMULÁRIO.
Atenção:

Como todos processo novo, ele vai se


aprimorando, e de acordo que você vai
fazendo no seu dia a dia, é possível
perceber pontos de melhorias, coisas que
você está gastando tempo de forma
desnecessária e etc..

Então vá melhorando o seu processo aos


poucos, até ficar bem redondo.

Perguntas importantes
durante uma reconciliação
medicamentosa
Nome do medicamento;
Dose;
Via de administração;
Frequência;
Indicação;
Quando foi feita a última dose;
Alergias (não só de medicamentos, mas qualquer tipo
de alergia que o paciente tenha, depois - se for o caso -
você exclui as que não tem relação medicamentosa.
Assim fica mais fácil o paciente lembrar, porque ele não
sabe o que tem relação com os medicamentos);
Adesão ao tratamento (é importante conversar com seu
paciente para entender como ele lida com o
medicamento. É comum o paciente falar que usa o
medicamento porque ele sabe que deveria estar
usando, mas ele esquece de tomar ou ele sente mal
quando toma e tem vergonha de falar. Enfim, ouça o
seu paciente);
Observações:

Cuidado para não induzir o seu paciente, como


por exemplo falar nome do medicamento se ele
não estiver se lembrando (ou quando ele usar
cores para se referenciar aos medicamentos),
isso por induzir ele dizer que toma algo que não
toma.

Usar sempre linguagem simples e menos


tecnicista, para facilitar o entendimento do
paciente. As vezes o paciente vai falar que faz
uso de medicamento X para açúcar no sangue,
ou para fazer xixi. Acompanhe o raciocínio e use
o seu conhecimento técnico para entender.

Sempre que possível tente validar as


informações obtidas, solicitando para trazerem
as caixas do medicamento ou receituários
antigos, confirmado as informações com
acompanhantes.
2º PASSO

Usando as
informações
coletadas
Fazer uma lista com os medicamentos
que o paciente usa não é reconciliação
medicamentosa, pelo menos não uma
atividade com qualidade. Precisamos
usar essas informações.

Essa fase é aonde vamos - através do


que temos de informações da nossa
entrevista e o nosso conhecimento
sobre a clínica do paciente e os
protocolos institucionais - avaliar se as
discrepâncias foram intencionais ou não
intencionais.
A discrepância intencional
ocorre quando o prescritor teve a
intenção de realizar, possuindo,
assim, justificativa clínica.

Já a não intencional acontece


quando não houve intenção por
parte do prescritor em alterar a
farmacoterapia, na maioria das
vezes sendo por omissão.
Exemplos:
Existem protocolo institucionais que
padronizam que se o paciente faz uso
de antidiabéticos em casa, quando
internado, deve modificar para insulina (
devido a mudança de rotina do paciente
e melhor controle).

Se o seu paciente faz uso de algum


medicamento que não tem o uso
recomendado por sonda (e ele, no
momento, está com o dispositivo),
deve-se pensar em qual será a
estratégia a ser usada.

Muitas vezes o médico só prescreve,


mas não pensa nesse pequeno grande
detalhe.
Uma dica:

Se você não tem muita experiência,


comece pelo simples e, aos poucos,
você vai se aprimorando.

Questione os médicos, peça ajuda para


aqueles que são mais acessíveis.

Leia o prontuário com atenção pois ali


pode conter informações que te
ensinarão muito!
3º PASSO

Registro da
atividade
SE VOCÊ
NÃO
REGISTRA,
VOCÊ NÃO
FAZ!
SE VOCÊ
NÃO

REGISTRA,
Essa frase precisa estar registrada na sua
cabeça de forma bem clara.

Você pode ser um farmacêutico excelente

VOCÊ NÃO
e não ter tempo nem para tomar café de
tanta coisa que faz, inclusive atividades
clínicas e cuidados com os seus pacientes.
Mas, se você não registra, você não tem

FAZ!
como comprovar que fez, então fica a sua
palavra contra a palavra dos outros e contra
um prontuário sem a presença do
farmacêutico.

Então registre tudo!


E como fazer isso?

Sem caçar pelo em ovo!

Não tem certo ou errado.

Você vai fazer o que é viável para você.

Veja:
Você pode, por exemplo, usar o próprio
formulário de entrevista como forma de
registro.

Você vai fazer o formulário bem bonitinho


com informações claras, incluindo um campo
onde você vai fazer suas observações e
registrar suas condutas.
Você pode alinhar com os outros
profissionais (com a qualidade, com a
comissão de prontuário), como é a melhor
forma de fazer isso para que seja um
documento válido. Analise se é importante
ter assinaturas, como a do paciente, do
acompanhante, do médico (para ciência), do
farmacêutico (que coletou as informações).

Não é para ser um bicho de sete cabeça, é


para ser simples e efetivo.
Mais uma dica:

Pode ser também um registro um prontuário


estilo evolução (inclusive por estar junto com
a evolução do farmacêutico). Aquela
evolução onde o foco não é só a
reconciliação, mas sim todas as atividades
feitas pelo farmacêutico.

Exemplos de

evolução
exemplo 1
“Evolução de reconciliação medicamentosa"

Paciente relata fazer uso do medicamento X uma


vez ao dia as X hora por via oral, todos os dias
por muitos anos com X indicação. Paciente trouxe
a caixa do medicamento para o hospital, porém
como se trata de uma medicamento padronizado
pela instituição, solicitei que na próxima visita o
paciente peça para o medicamento ser levado
para casa.

Após minha avaliação da prescrição médica atual,


o medicamento foi prescrito conforme uso
habitual. Por esse motivo, oriento o paciente a
não fazer uso do seu, pois o hospital
providenciará tudo que ele precisar durante a
internação.

Paciente não possui nenhuma alergia conhecida

Luciana Pires - Farmacêutica CRF xxxxx


exemplo 2
“Evolução de reconciliação medicamentosa"

Acompanhante, esposa do paciente (nome),


relata que paciente faz uso de vários
medicamentos, possui uma lista com os nomes
dos medicamentos e horários, mas não sabe
dizer qual a indicação de cada um dele.

Relata que ele faz uso a muito tempo.

Lista dos medicamentos:


(Aqui está os nomes, dose, intervalos, via de
administração)

Alerta: PACIENTE RELATA ALERGIA A DIPIRONA


(questionada sobre a alergia, acompanhante
não soube explicar).

Após checagem dos medicamentos de uso


habitual do paciente com prescrição médica, foi
verificado que medicamento X não conta na
prescrição atual e não possui relato do motivo da
não prescrição do medicamento. Realizo
contanto com médica X responsável no memento
pelo paciente que realiza adequação da
prescrição.
Alguns medicamentos de uso habitual do
paciente não são padronizados pela instituição.

Acompanhante fornece os medicamentos que


ficarão a cuidados da enfermagem durante a
internação conforme protocolo institucional.

Luciana Pires - Farmacêutica CRF xxxxx


Esses exemplos citados acima foram
apenas para exemplificar que não tem
um certo ou errado: a evolução precisa
ter as informações importantes relatadas,
pois são informação para consulta.

Caso algum profissional precise saber os


medicamentos que o paciente fez uso
isso será possível, pois verificará -
também - as condutas e observações
realizadas.

Evolução é registro de ações já tomadas,


ou informações para acompanhamento.

Nunca use a evolução para comunicar fatos


importantes que precisam de ações, isso
deve ser feito pessoalmente, por telefone
ou qualquer forma que seja resolvida ou
que as partes envolvidas estejam cientes.

Após isso sim: registramos.


Dicas extras para


montar o seu fluxo
Você pode ter um gatilho para reconciliação
medicamento. Exemplo: a enfermagem te sinaliza
que o paciente faz uso de medicamentos, mas ao
invés da enfermagem coletar as informações ela
cria um fluxo para apenas avisar o farmacêutico e
ele pode fazer a entrevista.
A reconciliação medicamentosa na transição de
cuidado dentro do hospital pode ser feita durante
a avaliação técnica ou clínica da prescrição.
Essa validação consiste em manter o plano
terapêutico definido para o paciente, mesmo que
ele tenha mudado de setor.

Ex: Se atentar aos dias dos antimicrobianos,


para que a contagem de dias continue e não se
inicie novamente e nem que esqueça de
colocar na prescrição do novo setor.

Dei o exemplo de antimicrobiano, mas isso vale


para todos os medicamentos. Inclusive para os
que precisavam ser suspensos assim que o
paciente fosse transferido de setor e por algum
motivo foram mantidos na prescrição;
Quando falamos de
medicamento de uso próprio
do paciente que não são
padronizados pela
instituição entramos em uma
esfera muito maior do que
podemos imaginar (visto que
lidamos com hospitais de
perfis diferentes, temos
hospitais SUS, hospitais que
atentem SUS, planos de
saúde e particular, temos
hospitais com planos de
saúde próprio).

Então cada hospital tem


um método diferente de
trabalhar em cima dessa
decisão que é a de
comprar ou não os
medicamentos que já são
de uso próprio do
paciente.
Outro ponto é quanto a
decisão do paciente trazer
os medicamentos que faz
uso para o hospital: como
será o cuidado com esse
medicamento durante a
internação, se ficará sob a
responsabilidade do
paciente, da enfermagem
ou da farmácia.

Esse também é um fluxo que vai depender da rotina e


das possibilidades do hospital.

Nós, como farmacêuticos, precisamos ter um olhar


centrado para a segurança do paciente quanto ao uso
de qualquer medicamento sendo fornecido pelo
hospital ou não, a partir disso precisamos ter um fluxo
seguro para garantir que não ocorra erros envolvendo
os pacientes e os medicamentos.
Dicas de
indicadores
É importante acompanhar as atividades
através de indicadores, que tem como
objetivos mostrar se as atividades estão
tendo relevância, se está abrangendo o
número de pacientes propostos, dentre
outros acompanhamentos que você deseja
fazer.

Você não precisar ter todos esses


indicadores, nem precisam ser exatamente
esses. Os exemplos a seguir são para
clarear a respeito das possibilidades
existentes e ser possível adaptar a sua
realidade.
Nº de paciente reconciliados

Nesse indicador você pode fazer através de


número absolutos, ou seja, o número de paciente
que teve a atividade de reconciliação
medicamentosa finalizadas em todos as fases.

Você pode também fazer o indicador


comparando os números de pacientes
internados com o número de pacientes que a
reconciliação foi feita.

Esse indicador vai te ajudar acompanhar a


produtividade da atividade e identificar o que
falta para chegar na sua meta.
Não conformidade no processo

Esse indicador é importante em início da


atividade, onde os profissionais ainda não têm um
engajamento muito grande sobre a atividade.

Pode ser feito através de auditoria, identificando


falhas no processo, como falta de
documentação, fluxo incompleto, registro
inadequado etc.
Redução de gastos

Em alguns casos, principalmente


quando o hospital autoriza o
paciente a trazer o medicamento
de uso próprio para hospital, uma
reconciliação medicamento bem
alinhada tende a diminuir o
número de solicitação de
medicamentos não padrão feitas
à farmácia, reduzindo assim o
gasto com esse medicamento.
Eventos evitados

É possível fazer um indicador com os dados dos


erros evitados através da realização da reconciliação
medicamentosa, como evitar a omissão de um
medicamento que o paciente faz e precisa fazer uso,
a prescrição inadequado de algum medicamento,
seja pela dose, via de administração ou qualquer
outro fato que seja identificado como um quase erro.
Espero que tenha te ajudado!

@FARMALUPIRES

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