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disciplina Arte, para os anos iniciais da Educação Básica. Buscamos traçar um paralelo
entre a formação docente e o que define os dispositivos legais sobre este assunto.
Na trajetória histórica percorrida, foi evidenciado, em muitos momentos, uma
desvalorização da Arte enquanto disciplina curricular. Tal posicionamento, ainda
presente na atualidade, demonstra que a disciplina Arte, garantida pela legislação
brasileira, ainda enfrenta obstáculos para uma efetiva prática pedagógica, como tem
sido evidenciado por pesquisas recentes, relativas ao campo da Arte Educação,
sustentadas, por Peixoto (2003; 2008); Santos (2010) e Souza (2012).
As análises realizadas nestas investigações, reflexo do cenário educacional no
município de São João da Barra, localizado no estado do Rio de Janeiro, se, por um
lado, ainda apresenta os embates da área do ensino de Arte, por outro, ressaltam que
onde existem dificuldades, existem possibilidades, nos estimulando à crença sobre a
importância do ensino da Arte na Educação, tendo em vista o crescimento cultural do
povo brasileiro, como afirma Barbosa (2008:33):“uma sociedade só é desenvolvida,
quando ela é artisticamente desenvolvida. A todos os momentos civilizatórios áureos da
historia da humanidade coincidem extraordinários desenvolvimentos artísticos”.
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Na segunda parte deste trabalho, buscamos compreender a história do curso de
formação de professores do primeiro segmento do Ensino Fundamental, e como se
configurou a identidade docente nesta trajetória. Para esta analise obtivemos auxilio nas
obras de Valdemarin (1998), Cardoso (2004), Mendonça (2005), Saviani (2008), Villela
(1990, 1992,1999, 2001, 2005) entre outros. Nesta direção aprofundamos nossos
estudos buscando compreender a trajetória histórica que configurou o professor
“Artesanal” aos cursos Normais, os Institutos de Educação, a história do curso de
Pedagogia, a profissão docente nos dias atuais e a legislação para o curso de formação
de professores e suas implicações. Buscamos neste recorte teórico compreender os
componentes: históricos, políticos, filosóficos, econômicos e culturais que forjaram o
ser professor na atualidade.
A terceira parte deste trabalho se caracteriza pela análise teórica dos dados
empíricos coletados no contexto desta pesquisa. Subdividimos esta análise em seis
sessões, começando pela caracterização da pesquisa de campo, a metodologia utilizada
para a coleta e tabulação dos dados, o mapeamento de como acontece o ensino de Arte
no Ensino Fundamental. Terminamos o estudo teórico/prático com nossas
considerações acerca dos resultados desta pesquisa. Este trabalho busca confrontar a
prática docente com a formação docente, delimitando neste espaço de reflexão
teórico/prático a formação para a disciplina Arte nos anos iniciais do Ensino
Fundamental.
Objetivos da Pesquisa:
Compreender como acontece o ensino de Arte nas escolas da rede municipal.
Como é a formação do professor que atua no primeiro segmento do Ensino
Fundamental para disciplina Arte;
Traçar um paralelo entre a formação docente e os dispositivos legais a respeito
do ensino de Arte.
Justificativa:
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2 - CONCEITUANDO: EDUCAÇÃO E ARTE
Traçar um diálogo conceitual entre Educação e Arte não é tarefa simples, devido
às amplitudes conceituais e epistemológicas, e vários estudiosos já se debruçaram sobre
o tema. Deste modo, percebemos que o diálogo entre Arte e Educação forma um
rizoma1 que desloca sentidos, entrelaçando saberes, fazeres, paradigmas conceituais e
epistemológicos, em um emaranhado teórico que nos aguça e surpreende.
Assim, vamos convidar para nos ajudar neste desafio Brandão (1981), Freire
(1982-1996-1997-2000), Durkheim (1978), Arroyo, (1995), Bourdieu (1974), Elliot
Eisner (2002), Ficher (1976), Barbosa (1998-2008), Peixoto(2008), Read (2001) e
Saviani (2002). Não faremos um mergulho profundo e epistemológico nos termos, mas,
buscaremos dialogar conceitos de forma reflexiva, vislumbrando caminhos entre Arte e
Educação, fazendo um recorte no Ensino fundamental.
Abriremos nosso diálogo com Émile Durkheim, considerado o pai da Sociologia
moderna, e suas contribuições teóricas sobre Educação.
1
Rizoma
é um dos conceitos utilizados por DELEUZE e GUATTARI em Mil Platôs (v. I, 1995:32-33). É
um termo originariamente da botânica, que o define como um caule subterrâneo responsável pela
produção de ramos aéreos com características de raízes. Os autores se apropriam resignificando-lhe como
uma rede conectiva de vários sentidos.
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A educação consiste numa socialização metódica das novas gerações. Em cada
um de nós, já o vimos, pode-se dizer que existem dois seres. Um constituído de
todos os estados mentais que não se relacionam senão conosco mesmo e com
os acontecimentos de nossa vida pessoal, é o que poderia chamar de ser
individual. O outro é um sistema de idéias, sentimentos e hábitos, que exprime
em nós, não a nossa individualidade, mas o grupo ou os grupos diferente, de
que fazemos parte, tais são as crenças religiosas, as crenças ou praticas morais,
as tradições nacionais ou profissionais, as opiniões coletivas de toda a espécie.
Seu conjunto forma o ser social. Constituir esse ser social em cada um de nós –
tal é o fim da educação (DURKHEIM, 1978.p.41-42).
A educação então pode ser definida como um processo social, que embora
assumindo formas diversas, é comum a todas as comunidades humanas. É através dela
que se formam pessoas aptas a sobreviver e viver em sociedade.
Esta consideração caracteriza a educação como um processo amplo que possui
formas diversas de se concretizar, mas em todas elas, esse processo implica a
experiência do aprender, ensinar e aprender-ensinar, sabendo-se que uma comunidade
constrói socialmente vários saberes (conhecimento, atitudes, valores). Desta forma,
quando Brandão afirma que “Ninguém escapa da educação”, ele nos sinaliza que ela
pode acontecer livre e entre todos, ou imposta por um sistema institucionalizado.
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Sistema este centralizado, no qual o saber escolar é determinado por relações de forças.
Nesta direção Freire (2000) relata que:
Estruturas administrativas a serviço do poder centralizado não favorecem
procedimentos democráticos. Um dos papéis das lideranças democráticas é,
precisamente, superar os esquemas autoritários e propiciar tomadas de decisão
de natureza dialógica. O centralismo brasileiro, contra o que tanto lutou Anísio
Teixeira, expressa nossas tradições autoritárias e as alimenta (p. 45).
Desta relação de forças, vão se configurando os currículos oficiais, que como
Arroyo (1995) sublinha:
A educação moderna vai se configurando nos confrontos sociais e políticos, ora
como um dos instrumentos de conquista da liberdade, da participação e da
cidadania, ora como um dos mecanismos para controlar e dosar os graus de
liberdade, de civilização, de racionalidade e de submissão suportáveis pelas
novas formas de produção industrial e pelas novas relações sociais entre os
homens. O que importa ressaltar é que relação entre educação e construção de
uma nova ordem política não é invenção de educadores ou políticos, trata-se de
uma relação que faz parte de um movimento maior de interpretação dos
processos de educação e constituição das sociedades modernas (p.36).
2
Em “Estrutura, habitus e prática” (Bourdieu, 1982),versão brasileira do livro Architecture gothique et
pensée scolastique, de Erwin Panofsky,Bourdieu retoma o conceito de habitus segundo uma ótica
original. Ou seja, aproveitando-se das reflexões de Panofsky sobre a relação de afinidade entre a arte
gótica e o pensamento escolástico. Segundo as palavras do autor, as semelhanças “têm seu princípio na
instituição escolar, investida da função de transmitir conscientemente e em certa medida
inconscientemente ou, de modo mais preciso, de produzir indivíduos dotados do sistema de esquemas
inconscientes (ou profundamente internalizados), o qual constitui sua cultura, ou melhor, seu habitus.
(Bourdieu, 1974, p. 346).
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Bourdieu nega o determinismo e a estabilidade das estruturas, e que o sentido das ações
mais pessoais e mais transparentes não pertencem ao sujeito que as produz, senão ao
sistema complexo de relações nas quais e pelas quais elas se realizam. Para ele o sujeito
tornar-se produto e produtor de ações na dinâmica da estrutura, visto que esta representa
um conjunto de relações históricas, que é condicionada e é condicionante. Assim, ao
mesmo tempo em que a Educação exerce uma ação sobre o individuo, o indivíduo
exerce uma ação sobre a educação.
Tal reflexão nos leva novamente a Freire (2000), pois para ele “a educação é um
processo político que ou reforça as injustiças sociais, pelo controle da consciência, ou
promove mudanças pelo processo de “conscientização”” (BASTOS apud FREIRE,
2008, p.230). O autor vai mais adiante sustentando que:
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Para a autora, é neste ponto conceitual que estes filósofos da educação
encontram com o ideal de John Dewey, na valorização da experiência. “Se para Dewey
experiência é conhecimento, para Freire é a consciência da experiência que podemos
chamar conhecimento. Já Eisner destaca da experiência do mundo empírico, sua
dependência de nosso sistema sensorial [...]” (BARBOSA, 2008. p.12).
A arte como linguagem aguçadora dos sentidos transmite significados que não
podem ser transmitidos por meio de nenhum outro tipo de linguagem, tal como
a discursiva ou a científica. Dentre as artes, as visuais, tendo a imagem como
matéria prima, tornam possível a visualização de quem somos, de onde
estamos, e de como sentimos (BARBOSA, 2008.p.11).
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A arte capacita um homem ou uma mulher a não ser um estranho em seu meio
ambiente nem estrangeiro em seu próprio país. Ela supera o estado de
despersonalização, inserindo o individuo ao lugar a que pertence, reforçando e
ampliando seus lugares no mundo (BARBOSA apud FENON, 2008.p.99).
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O desenvolvimento cognitivo e o trabalho com a cultura visual emergiram em
movimentos opostos nos Estados Unidos: “Eisner dá a entender que a decisão de
ampliar a análise visual circunscrita à Arte para outros universos visuais, como a
publicidade, o cinema e o videoclipe, fez surgir nos Estados Unidos a preocupação com
a multiculturalidade” (BARBOSA apud EISNER, 2008.p.14).
A autora ressalta que no Brasil este movimento foi inverso, pois o processo de
redemocratização, iniciado no fim de vinte anos de ditadura “trouxe em seu bojo a
preocupação plural com a multiculturalidade” (Ibdem, p.15). Nesta perspectiva, avalia
que a volta ao Brasil, em 1980, de Paulo Freire com suas ideias inovadoras, como uma
das principais causas da preocupação com o multiculturalismo, “[...] assim como o
inicio do pós-modernismo em Arte/Educação, no festival de inverno de Campos de
Jordão, em 1983, consolidando o valor do reconhecimento das diferenças
[...]”(Ibidem.p.15).
O conceito de Arte na Educação surge nos Estados Unidos, após dez anos
de pesquisa, demonstrando que alunos que frequentavam pelo menos duas disciplinas
de Arte, se destacavam, entre os dez primeiros colocados, no SAT3. Lamentavelmente,
segundo Barbosa (2008), tal concepção de Arte ainda não chegou ao Brasil, apesar de
sua presença em nossa legislação.
3
SAT (Scholastic Aptitude Test ou Scholastic Assessment Test) é um exame educacional padronizado
nos Estados Unidos aplicado a estudantes do 2º grau, que serve de critério para admissão nas
universidades norte-americanas, equivalente ao ENEM brasileiro (Exame Nacional do Ensino Médio).
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seja teórico ou prático. Neste sentido para Bosia atividade literária, assim como toda
obra de arte, ultrapassa toda especificidade individual e se torna um instrumento de
enorme importância para a formação e a caracterização da cultura.
Para o filósofoItaliano, Nicola Abbagnano, Arte em seu significado mais geral:
“Arte significa filosoficamente, todo conjunto de regras capazes de dirigir uma
atividade humana qualquer” (2000, p. 81). No dicionário de Filosofia, o autor entende a
Arte como:
“A teoria dos elementos simples e primitivos no conhecimento filosófico e
matemático". Kant retomou essa palavra para indicar "a arte do sistema", ao
qual dedicou um capítulo (o III) na segunda parte principal de Crítica da Razão
Pura. Como sistema, entendeu "a unidade de conhecimentos múltiplos
reunidos sob uma única ideia", isto é, organização finalista que cresce de
dentro, como o organismo vivo. Na esteira de Kant, C. S. Peirce fala de
arquitetura das teorias científicas e filosóficas cujas regras procuram definir
(Chance, Love and Logic, II, 1).4
4
Nicola Abbagnano,Dicionário de Filosofia - disponível: http://ep1.com.br/site/wp-
content/uploads/2012/01/Nicola-Abbagnano-Dicion%C3%A1rio-de-Filosofia-parte-I.pdf- acesso em
07/01/13
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segunda forma de educação, evolui a todo o momento. Atributo característico de uma
sociedade tecnológica, a educação é passível de constantes inovações e transformações.
Ainda de acordo com Abagnano (2000), a educação, neste ponto, não ocorre apenas na
transmissão de técnicas, do uso e da produção de objetos, mas na transmissão das
técnicas que vão regular a conduta dos seus indivíduos e seus comportamentos em
grupo. Assim, a educação não é definida do ponto de vista da sociedade, mas do pondo
de vista do indivíduo, ou seja, por sua formação e amadurecimento. Deste modo, como
na epigrafe inicial deste estudo, Barbosa(1991: p.2), sustenta que “a arte na educação
afeta a invenção, inovação e difusão de novas ideias e tecnologias, encorajando um
meio ambiente institucional inovado e inovador”. A Arte Educadora Maria Duarte
(1983.p.22-23), brasileira, educadora de Arte, completa nosso argumento ao afirmar que
as compreensões das relações da Arte e da Educação devem partir do pressuposto de
que a educação é um componente da cultura, neste sentido a cultura é o conjunto
procedente do “fazer” humano, sendo este conjunto acumulável, alterado e transmissível
pela Educação.
O educador de Arte Raimundo Matos de Leão (1991), citando Barbosa, vai além
e diz: "Precisamos levar a arte que hoje está circunscrita a um mundo socialmente
limitado a se expandir, tornando-se patrimônio da maioria e elevando o nível de
qualidade de vida da população"(1991:6). Neste sentido, o autor argumenta que é
através da Educação que se pode, efetivamente, dar aporte no sentido de possibilitar o
acesso à Arte.
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3 – PERCURSO HISTÓRICO DO ENSINO DA ARTE NO BRASIL:
3.1 - Períodos históricos do ensino da Arte no Brasil do século XVI até o século XIX.
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modelos portugueses, se configurou no primeiro produto cultural brasileiro. O Barroco
foi adquirindo particularidades nacionais e se modificando pela criatividade nativa e
forças popular.
II - O segundo período que destacamos neste estudo vai de 1808 ate 1870, e se
configurou pela vinda da família real para o Brasil e a instalação oficial do ensino de
Artes com a criação da Academia Imperial de Belas Artes no Rio de Janeiro, em 1816.
Os organizadores da Academia de Belas-Artes, célula máter do nosso
ensino de Arte, eram franceses, todos membros importantes da Academia
de Belas-Artes, do Instituto de França, e bonapartistas convictos. [...]
Lebreton (1760-1819) encarregou-se de reunir o grupo,[...] com o objetivo
de fundar e pôr em funcionamento a Escola Real de Ciências, Arte e
Ofícios . Instituição assim designada pelo decreto de 12 de agosto de 1816,
mas que teve seu nome mudado para Academia Real de desenho, Pintura,
Escultura e Arquitetura Civil, pelo decreto de 12 de outubro 1820. A
designação foi novamente modificada para Academia Imperial de Belas
Artes em 1823 e finalmente com a proclamação da Republica, chama-se
Escola Nacional de Belas Artes (BARBOSA, 1978. p.16-17).
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Ainda nesta trilha de reflexões, para Barbosa (1978), o processo de
configuração do preconceito e desvalorização de Arte na educação, teve sua célula
máter com a vinda da missão francesa, se configurando logo no início pela oposição
política à ordem estética. O Ensino de Arte, na academia, seguia os modelos
neoclássicos europeus. Nessa época, o Brasil já possuía um estilo próprio Barroco-
rococó “[...] As incursões da Arte brasileira no Neoclássico haviam sido esporádicas
como é o caso de Manoel Dias, o Brasileiro e de mestre Valentim” (Ibidem,p.19).
Além da rejeição política ao estilo Neoclássico, o “calor do emocionalismo Barroco
era substituída pela frieza do intelectualismo do neoclássico” (BARBOSA apud
CAVALCANTI,1978.p.19). Outro fato que impulsionou o preconceito neste período
foi a ideia da Arte como acessório da cultura. Poucos eram escolhidos para estudar na
Academia, era a “burguesia a serviço dos ideais da aristocracia, a serviço do sistema
monárquico.”(Ibidem, p.20). A monarquia utilizava a Arte como ferramenta
“civilizatória”, na qual poucos eleitos tinham “aptidões” para compreender e usufruir.
Nossos artistas, todos de origem popular, mestiços em sua maioria, eram vistos
pelas camadas superiores como simples artesões, mas não só quebraram a
uniformidade do barroco de importação, jesuítico, apresentado contribuição
renovadora, como realizaram uma arte que já poderíamos considerar como
brasileira (BARBOSA, 1978, p19).
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Em 1855, o literato Araujo Porto Alegre, enquanto ocupou a diretoria da
Academia Imperial de Belas-Artes, procurou estabelecer a ligação entre a cultura de
elite e a cultura de massa, com os artigos 78 e 79 do título VIII do Regulamento, quando
tentou “[...] conjugar no mesmo estabelecimento escolar duas classes de alunos, o
artesão e o artista, frequentando as mesmas disciplinas básicas [...]” (Ibidem. p.28).
Porém, as dificuldades enfrentadas por Araujo Porto Alegre, foram muitas e a sua
permanência à frente desta Instituição foi de apenas três anos, impossibilitando a
implantação total da reforma:
A permanência dos velhos métodos e de uma linguagem sofisticada continuou
mantendo o povo afastado, tornando a inclusão da reforma do artífice junto ao
artista uma espécie de concessão da elite à classe obreira. Somente com a
abolição da escravatura iniciou-se o processo de respeitabilidade do trabalho
manual. Isto coincide com a primeira etapa da nossa revolução industrial, que
consistiu na substituição do trabalho físico pelo mecânico, invertendo os polos
preconceituais (BARBOSA, 1978.p.29-30).
III - O terceiro período histórico corresponde ao final do século XIX. Nesta fase
acontece a inversões dos pólos preconceituais. As Belas-Artes que até aquele momento
estavam no ápice social e cultural, como prenda ou um luxo de poucos, dá lugar à “Arte
aplicado à industria, e a técnica começam a ser valorizada como meio de redenção
econômica do país e da classe obreira, que engrossara suas fileiras com os recém-
libertos ” (Ibidem,p.30). O ensino do desenho – assim era denominado a Educação
Artística, posteriormente, Artes – na educação popular foi inserido no currículo das
escolas primárias e secundárias sob influência de Walter Smith, educador inglês de
Massachusetts. Para este educador, o ensino do desenho era uma condição prévia para a
escrita, já que esta, não passava de um desenho, feito de cor, de sinais associados aos
pensamentos que se tinham na mente.
O método, porém, criado pelo educador inglês, em 1870, não dava espaço para a
atuação, para a imaginação, para a experiência ou para a conquista de novos saberes em
Arte. Sem levar em consideração a cultura brasileira, copiavam-se os modelos
americanos, belgas ou ingleses. Na época houve inúmeras discussões na Escola de
Belas-Artes no Rio de Janeiro, entre as correntes positivistas e as liberais, que
culminaram na vitória do liberalismo em 1890.
O desenho nesse período adquiriu uma importância muito grande, tornando-se
essencial e obrigatório nas escolas públicas e contou, para isto, com a influência do
educador Rui Barbosa, que defendia a ideia de que a redenção econômica no Brasil
estaria ligada à capacitação profissional dos seus indivíduos. Suas ideias e seus
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pareceres tiveram suma importância para o ensino da arte, pois se dedicavam
minuciosamente a este.
A repercussão cultural de Rui Barbosa foi enorme no Brasil [...] seu nome
era símbolo de sabedoria para o povo e a burguesia, e as ideias de Walter
Smith sobre educação Artística, que ele subscrevera no Parecer sobre o
ensino Secundário, passaram a ser defendidas como sustentáculo do
progresso, durante quase trinta anos depois de terem sido escritas
(BARBOSA, 1978. p.252).
Rui Barbosa, segundo Barbosa (1984), concebia a educação artística como uma
das bases mais sólidas para a educação popular, e acreditava que como tinha dado certo
nas escolas públicas americanas, poderia dar certo aqui, por esse motivo buscou
implantá-lo na escola secundária. Deste modo a reforma do ensino proposta por Rui
Barbosa, expressas nos Pareceres sobre o Ensino Secundário e Superior, de 13 de abril
de 1882 e a reforma do Ensino Primário, em 1883 de Leôncio de Carvalho, ambas
procuravam preparar para a vida. Esta preparação requeria o estabelecimento de um
ensino diferente do ministrado até então, ensino este marcado pela retórica e
memorização.
Era preciso privilegiar novos conteúdos, como ginástica, desenho, música, canto
e, principalmente, o ensino de ciências. Para Barbosa (1978) a intenção de Rui Barbosa
em seguir o exemplo dos EUA em relação ao ensino do desenho, se fazia pelo progresso
econômico alcançado por este país e de outros países que mantinham uma política
educacional bem planejada para o Desenho; e este fato se comprova no artigo 79, do
Capitulo I, que tratava do regulamento do Imperial Liceu Pedro II, modelo que segundo
o pensamento da época, no dizer de Barbosa, deveria ser seguido por todo ensino
secundário do Brasil:
Art.79 – As cadeiras de Desenho, Ginástica e Música serão providas mediante
contrato por quatro anos, no máximo renovável no fim deles, se convier.
Para as duas primeiras, o governo, mediante os nossos agentes no estrangeiro,
fará contratar homens de merecimento superior nessas especialidades e capazes
de organizar no país este ensino; preferindo quanto ao Desenho, os Estados
Unidos , a Inglaterra e a Áustria; quanto a Ginástica, a Suécia, a Saxônia e a
Suíça (BARBOSA, 1978.p.51).
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Alguns de seus princípios metodológicos influenciaram o ensino da arte até as
primeiras décadas do século XX, e destes princípios destacamos:
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Os alunos continuavam sem liberdade para mostrar suas interpretações
individuais nas produções do desenho, que continuava fundamentado na cópia de
modelos, tendo como objetivo uma representação quase real dos mesmos.
No período de 1914 a 1927, aconteceram as primeiras análises sobre as
características da expressão infantil através do desenho. Em São Paulo, por intermédio
do professor Ugo Pizzoli, catedrático da Universidade de Modena, na Itália, e diretor da
Escola Normal daquela cidade, aconteceram vários cursos com o objetivo de
capacitação dos professores para compreenderem o desenho infantil como instrumento
de investigação de seus processos mentais (inteligência e tipologia psicológica).
Conforme Barbosa (1978, p.102), estes estudos trouxeram aos brasileiros a
conscientização da necessidade dos questionamentos científicos sobre a natureza da
criança, e a percepção de que ela não era um adulto em pequenas dimensões, mas um
ser com particularidades próprias. Porém, com a reforma educacional Carlos
Maximiliano5, de 1915, que vigorou até 1925, as aulas de desenho começaram a entrar
no processo de desvalorização por “nunca reprovar” os alunos. E os professores destas
aulas também ficaram desprestigiados a ponto de serem excluídos da Congregação.
Barbosa (1982), esclarece que o reconhecimento da estética da Arte infantil veio
com a Semana de Arte Moderna de 1922, que incorporou as correntes Expressionistas,
Dadaístas e Futuristas na cultura brasileira. Mario de Andrade (1823-1945)
representante do Modernismo, enquanto esteve à frente do Departamento de Cultura de
São Paulo, investigou o processo espontâneo presente na Arte Infantil.
Mário de Andrade6, ainda segundo a autora (1982, p.17), foi influenciado pelas
leituras de Georges-Henri Luquet7,que perpetrava comparações entre a Arte infantil e a
primitiva, seguindo a concepção evolucionista. Influenciado por estas obras, Mario de
Andrade fundou o estudo da arte da criança na Universidade do Distrito Federal,
incluindo modelos no curso de história da Arte que ministrou na instituição entre os
anos 1935 a 1948.
Anita Malfatti8 (1878–1935) introduziu novos métodos no ensino de Arte
quando dirigiu cursos na Escola Americana e em seu ateliê; transmitiu a forte influência
5
FILHO, João Cardoso Palma.p.5 .- Disponível:
www.acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/106/3/01d06t04.pdf - acesso em 8/02/2013
6
Mário de Andrade - Sobre a relação de Mário de Andrade com a arte/educação ver o texto de Rejane
Galvão Coutinho, Mário de Andrade e os desenhos infantis, no livro organizado por Ana Mae Barbosa,
Ensino da arte: memória e história, 2009, p. 157-196.
7
www.luquet-archives.univ-paris1.fr/plandusite.php?lg=pt – acesso em 08/02/2013
8
www.institutoanitamalfatti.com.br/crbst_13.html - acesso em 08/02/2013
29
de Homer Boss, com quem havia estudado. Ainda nessa época, o ensino de Arte sofreu
também a influência de John Dewey, educador norte-americano.
Por influência do trabalho de Herbert Read e Viktor Lowenfeld, após uma
considerável perda de importância da Arte educação em fins dos anos 40, a década de
50 é marcada por uma reviravolta. Uma supervalorização da Arte como processo de
espontaneidade e criatividade, e ainda sua inserção na educação. E neste momento
histórico são criadas as escolinhas de Arte. Enquanto isso, nas escolas secundárias,
através do programa de desenho de Lúcio Costa9, tem-se as primeiras influências da
Bauhaus10.
Barbosa (1982) apresenta a importância de compreendermos a dinâmica dos
fatos ocorridos entre final dos anos 1950 e início dos 1960, pois as tendências mais
vivas de hoje tiveram sua origem neste curto período. De acordo com a arte educadora,
a educação deu um passo importante, e isto aconteceu por causa da abertura política,
social e econômica, pela qual a sociedade brasileira estava passando. Enquanto
aconteciam mudanças na política e na economia do país, o Instituto Superior de Estudos
Brasileiros – ISEB versava novidades sociais e filosóficas para o desenvolvimento do
país. Vários movimentos de valorização da cultura popular nas áreas da literatura, do
cinema, do teatro e da arquitetura, se espalhavam por toda nação. Em 1961 era
decretada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que havia sido exigida
desde o início da República.
A Universidade de Brasília foi criada neste período e constituiu na primeira
universidade moderna do Brasil por seu modelo humanista do ensino superior. A Arte
ocupou um espaço importante na Universidade de Brasília, onde foi criada uma escola
de Arte para crianças e adolescentes, que envolveu em seu trabalho pedagógico, vários
especialistas de diferentes áreas, como Arte educadores, psicólogos, artistas, arquitetos,
químicos dentre outros.
Nesta direção, destaca-se o trabalho de Alcides da Rocha Miranda, que, na época
era arquiteto no Instituto Central de Artes – ICA.11 Este Instituto fazia parte da
Universidade de Brasília. Nessa época o diretor Alcides Miranda convidou a professora
Ana Mae Barbosa para pôr em prática a arte-educação no ICA. O que se pretendia
naquele momento era pesquisar e estudar a educação através da Arte, por meio de uma
9
//puc-riodigital.com.puc-rio.br/media/10%20%20lucio%20costa%20um%20genio%20inovador.pdf
10
Ver p.19-25: http://www.acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/40427/3/2ed_art_m1d2.pdf
11
Sobre a história acessar o sítio www.ida.unb.br
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reflexão da ideia “educação através da arte”. Só que este, assim como outros projetos
dentro da universidade, não tiveram continuidade por causa dos conflitos sociopolíticos
que sucederam com o golpe militar de 1965, quando 230 professores se auto demitiram
de seus cargos em um ato de protesto. Daí a ruptura no processo de emancipação da
educação brasileira, pois, a partir de então, o governo militar assumiu, afastando-se da
ideologia dos projetos anteriores, e instalando um modelo tecnocrático na educação.
31
associação retrospectiva e prospectiva entre aquilo que ele fazia às coisas e aquilo que
em consequência essas coisas faziam a ele, gozar ou sofrer12. A partir desta teoria, John
Dewey apresentou então a Arte como experiência, afirmando que a relação entre o
fazer e o apreciar capacitaria o educando a compreender a relação da arte enquanto
produção e percepção, com a apreciação enquanto prazer.
Dewey destacou em seus estudos o princípio da função educativa da experiência,
centrando-se mais no aluno que se encontra em crescimento ativo e progressivo, do que
em conteúdos e no professor. Demonstrou que, para uma educação ser mais
democrática, precisa-se enfatizar uma pedagogia mais objetiva, direta, eficiente e,
sobretudo, experimental.
A segunda influência que o ensino da Arte no Brasil recebeu foi de Victor
Lowenfeld (1903-1960), austríaco, filósofo e educador que imigrou da Europa para os
Estados Unidos em 1939, depois de ter trabalhado na Áustria em Viena, com crianças
cegas, juntamente com W. Lambert Brittain. Foi influenciado pelas teorias freudianas, e
escreveu, em 1947, o livro Creative and mental growth (1947), que foi traduzido para a
língua portuguesa. Em 1977, quando recebeu o título de Desenvolvimento da
capacidade criadora, Lowenfeld afirmou que, para o conhecimento ser adquirido de
forma abrangente, a criança precisaria passar por várias experiências. Exemplificando,
no processo de aprendizagem, a criança antes de aprender a ler e escrever a palavra
coelho, precisaria sentir o animal, conhecer seus hábitos, seu habitat, ver como se
comportava em diversas situações.
Para ele, a Educação em Arte não deveria ser ministrada dentro de padrões pré-
determinados e convencionais, era preciso proporcionar ao estudante o conhecimento de
tudo à sua volta, com o objetivo de despertar-lhe a curiosidade de analisar situações,
“descobrir novos aspectos, fazer perguntas, arrancar respostas, estabelecer novas
relações, reestruturar fatos, apoderar-se, ao influxo do capricho da realidade e
manipulá-la”(LOWENFELD, 1977. p. 9).
A Arte, segundo Lowenfeld, tem um significado muito importante para a
educação; a partir do momento que se tem valores significativos dentro de um programa
de Arte, esses valores atuam como base para o desenvolvimento de uma nova estrutura
no sistema educacional. Durante o processo de aprendizagem são envolvidos, além da
capacidade intelectual, fatores sociais, emocionais, perceptuais, físicos e psicológicos.
12
DEWEY, 1959, p 153
32
Desta forma, o processo é bastante complexo, não havendo especificamente um método
que se possa considerar o melhor.
Para Lowenfeld (1977) a maneira de desenvolver a capacidade criadora de uma
criança seria adequando oportunidades de criar com os conhecimentos que ela possui. É
de suma importância a interação do homem, através dos sentidos, com o meio para que
haja um desenvolvimento completo do ser.
A educação artística, como parte essencial do processo educativo, pode
significar muito a diferença entre um individuo criador e flexível e outro que
não tenha capacidade para aplicar o que aprendeu carente de recursos íntimos e
com o estabelecimento de relações com seu meio(LOWENFELD, 1977. P.18).
De acordo com o autor, o significado da Arte para uma criança não é o mesmo
que para um adulto, afirmando que a Arte deveria ser um verdadeiro meio de auto
expressão. Entretanto, a auto-expressão não poderia ser medida conforme os padrões
estabelecidos pelo mundo adulto, de beleza e estética. O que deveria ser considerado é o
processo da criança – o seu pensamento, os seus sentimentos e suas percepções. O
método empregado por Lowenfeld, juntamente com Brittain, é o da auto expressão e o
da criatividade, com a utilização dos cinco sentidos, que para eles, são as nossas únicas
vias de aprendizagem, sendo a disciplina de Arte é a única que se concentra no
desenvolvimento de experiências sensoriais.
O processo da auto expressão proporcionaria o desenvolvimento do eu como
importante ingrediente da experiência, e da confiança em si mesmo, o que forneceria a
base para níveis mais avançados da Arte. Segundo os estudos e pesquisas de Lowenfeld
(1977, p. 30), os alunos que fossem levados a imitarem a expressão de outros, se
tornariam dependentes no raciocínio, subordinariam suas ideias e expressões às dos
outros, e se apoiariam nos pais, nos professores ou nos colegas para receberem
orientação.
Assim, o mesmo estudioso tratou a Arte como caminho para o progresso da
consciência estética e criadora dos indivíduos, e ainda desenvolveu pesquisas sobre
criatividade na Pennsylvania State University nos Estados Unidos.
Por último, temos a influência de Herbert Read (1893-1968), filósofo inglês,
admirador e estudioso de Carl Gustav Jung. Dedicou-se à análise de expressões
artísticas de crianças e adolescentes, procurando mostrar a presença dos arquétipos e
símbolos nessas expressões infantis analisados por Jung.
Read acreditava que havia dois princípios que deveriam determinar os objetivos
da educação, o primeiro, educar com referência às coisas, e o segundo, educar para unir
33
e não para dividir. Educação com referência às coisas, seria uma educação na qual as
crianças teriam o controle e a manipulação dos fatos através dos sentidos, dos membros
e dos músculos, e não somente através da faculdade de abstração. E sobre o educar para
unir e não para dividir, o autor afirmava que o ensino muitas vezes promove a
separação, principalmente quando oferecemos as disciplinas todas divididas, e nas aulas
de arte, quando o professor é indiferente ante ao trabalho feito pela criança,
sustentando:“separamos a inteligência da sensibilidade de nossos alunos, criamos
pessoas divididas em muitos pedaços, e então descobrimos que não temos unidade
social”(READ,1986, p.47).
O estudioso inglês acreditava que a Arte é um instrumento de educação e não
apenas mais uma disciplina a ensinar, defendendo que as crianças possuem uma Arte
que é exclusivamente delas, ou seja, são detentoras de uma forma de se expressar
através das imagens visuais e plásticas, que estão de acordo com o seu desenvolvimento
mental, e esta linguagem pictórica é algo que existe por seus próprios méritos e não
deve ser julgada pelos padrões adultos, mas incentivada e amadurecida. A Arte para o
autor é o passaporte que todo indivíduo tem, desde sua infância, para a liberdade, para a
fruição plena de todos os seus talentos, para a sua felicidade verdadeira e estável na vida
adulta.
Em seu livro, A educação pela Arte (2001), ressalta a importância da livre
expressão, da espontaneidade, e da inspiração como mecanismos que a criança se
apropria para se expressar. O professor de Arte, por sua vez, deverá ter uma postura
séria diante das criações artísticas de seus alunos, convencendo-os que sua Arte é
válida.
Dessa forma, Herbert Read acreditava que a expressão espontânea é inerente à
própria vida.
34
desenhos de muitos dos nossos alunos terem sido retocados pelos professores. Isto
impediu a participação do Brasil no evento.
Este acontecimento levou Augusto Rodrigues, juntamente com um grupo de
artistas e educadores, a idealizarem uma escola diferente, na qual as crianças teriam a
liberdade legítima de vivenciarem seu potencial criativo.
Este movimento recebeu o nome de “Escolinha de Arte”. Sua data de fundação
não é algo definido, pois não foi um projeto riscado no papel, nasceu como uma prática
viva, resultado da inquietação de Augusto Rodrigues e de seu grupo. Para efeitos de
comemoração do nascimento da Escolinha, foi fixada a data de 8 de julho de 1948. E o
local escolhido para seu início foi o corredor da Biblioteca Castro Alves, no Rio de
Janeiro.
Segundo Barbosa,13 na Escolinha as crianças podiam libertar seus impulsos
criadores, quando eram oferecidas situações novas, como a escolha do próprio material,
cabendo assim ao professor, não a obrigação de ensinar o que o educando deveria fazer,
obrigando-os a concluírem trabalhos e seguirem técnicas, mas proporcionar-lhes um
espaço propício ao seu crescimento. A Escolinha de Arte foi originária do
expressionismo que dominava o pós-guerra, e tinha como objetivos a valorização da
criança, a preservação da espontaneidade infantil, e a estimulação da auto expressão
baseadas nas concepções de Herbert Read. Procurava-se trabalhar de forma diferente da
que era ministrada na escola comum.
Em 1950, a Escolinha de Arte já havia realizado inúmeras exposições tanto no
Brasil como no exterior. Suas atividades incluíam: desenho, teatro de fantoches e de
máscaras, pintura, pequenas plásticas, jornal escolar, recortes, gravuras em linóleo e em
chapas de cobre, tecelagem, iniciação musical e bandinha rítmica, além de excursões.
Em 1953, a professora Noêmia Varela convidou Augusto Rodrigues para dar
um curso em Recife. Deste evento nasceu a Escolinha de Arte do Recife, que se tornou
um dos centros mais importantes na difusão da filosofia da escolinha e do movimento
arte-educação no Brasil(INEP, 1980: 61). Posteriormente surgiram as Escolinhas de
Arte de Bagé, de Santa Maria, de Alagoas, de João Pessoa, de Cachoeiro do Itapemirim,
e outras que se espalharam pelo Brasil. Algumas sofreram transformações, outras
sucumbiram às crises, enquanto outras sobreviveram.
13
Arte-Educação no Brasil Realidade hoje e expectativas futuras* Ana Mae Barbosa
Tradução: Sofia Fan - Disponível: http://www.scielo.br/pdf/ea/v3n7/v3n7a10.pdf acesso 09/01/2013
35
As Escolinhas de Arte tinham por objetivo a formação de Arte educadores. O
curso intensivo de Arte e Educação, oferecido por estas instituições entre os anos de
1961 a 1971, era o único existente no Brasil para especializar os professores de Arte.
Depois da Lei 5692/71, esta especialização passou a ser ministrada oficialmente em
outras escolas com a criação dos cursos de Educação Artística. A Escolinha de Arte foi
considerada por Barbosa como sendo a mais importante e capacitada instituição de Arte
Educação no Brasil (INEP, 1980. p.117)
Como afirmam Fusari & Ferraz (1993, p.16), o ensino de arte no currículo
transitou de forma prejudicial de um contexto cultural humanístico e cientifico
predominante nos períodos anteriores, para um contexto onde se valorizou a tecnicidade
e a profissionalização.
Com a obrigatoriedade da inclusão da disciplina, surgiu a problemática histórica
da falta de formação dos professores, que se viram sem condições adequadas para
cumprir os dispositivos propostos pela lei. O que ocorreu, consequentemente, foi uma
corrida em busca de formação e de orientação. Muitos recorreram às Escolinhas de Arte
que até então, eram os únicos estabelecimentos onde eram ministrados cursos em arte
educação.
Somente dois anos após a implantação da Lei que o governo federal criou cursos
universitários para a formação docente – licenciatura em Educação Artística. Estes
cursos,na visão de Barbosa (1984, p.17),tiveram muitas falhas, “e uma delas foi à falta
de preocupação com uma teoria da Arte educação no currículo. Havia apenas uma
disciplina que se relacionava com o tema, intitulada “Prática de Ensino de Educação
Artística””. Nas aulas dessa disciplina, os professores se limitavam a levar os alunos à
observação de classes de arte em escolas de 1º grau.
36
Os cursos de licenciatura em Educação Artística visavam à formação em dois
anos de professores, que seriam “capazes” de ministrar aulas de música, Artes visuais e
Artes cênicas no ensino de 1º grau. Uma visão deturpada do princípio de
interdisciplinaridade que recebeu o nome entre os Arte educadores de “polivalente”.
Neste processo, os alunos foram desestimulados ao processo de reflexão em torno das
diferenças e similaridades entre linguagens e conteúdos, sendo ainda impedidos de
fazerem conexões e relacionamentos diversificados e pessoais.
Barbosa (1984, p.23), no livro intitulado Arte-Educação: conflitos e acertos,
afirma que nesta época surgiram ainda cursos de pós-graduação, em suas maiorias
particulares, que se mostraram ineficazes para a melhoria do ensino de Arte porque não
incentivavam a pesquisa de campo nem a investigação teórica.
Nos anos 1980, uma década após a obrigatoriedade do ensino de Arte no
currículo escolar, muitos erros apareceram apontados, em sua maioria, por pesquisas
realizadas por Arte educadoras como Barbosa, Ferraz, Siqueira, entre outros. Os
professores compreendendo a ineficiência de suas formações se negaram a permanecer
como “polivalente”, e alguns tentavam um trabalho aprofundado na prática de uma das
Artes, sem compartimentar, buscando integrar os conhecimentos das outras linguagens
numa organização integradora. Os professores tinham como objetivo principal o
desenvolvimento da criatividade, definida como autoliberação e organização. As fontes
utilizadas por estes professores eram os livros didáticos.
O cenário vivenciado apresentava uma contradição: se a intenção era
desenvolver a criatividade de educandos, como esta poderia ser construída sem um
suporte teórico adequado? Os livros didáticos na área apresentavam um modelo que era
utilizado no ensino do desenho geométrico no ano de 1882.
Barbosa (1978.p.53) ainda esclarece que “o primeiro manual de Desenho
geométrico para as escolas primárias, escrito por Abílio César Pereira Borges,
intitulado Geometria Popular (1882),”era uma espécie de reedição simplificada e
reformulada de uma obra que o autor escrevera quatro anos antes, para o estudo da
Geometria em geral, e que despertara numerosas críticas.
A pesquisadora Gláucia Trinchão, nesta direção destaca que:
37
obra já que, para seus colegas, "só poderia ser regularmente utilizadas a
primeira metade dela", nas escolas primárias. Segundo informa o próprio autor
no prólogo de sua obra, a segunda edição foi destinada apenas às escolas
"primárias de todos os grãos" e "nas escolas das mais longínquas e menos
favorecidas aldeias" do Império (TRINCHÇÃO apud BORGES, Prólogo,1882,
s.n)14.
Apesar do impasse vivido pela disciplina Arte neste período, Barbosa (2002, p.
13), afirma que a década de 1980 foi identificada como a da crítica da educação imposta
pela ditadura militar e da pesquisa por soluções, que não foram implementadas porque a
preocupação primeira era a campanha por uma nova Constituição. Mas, apesar de todas
essas dificuldades expostas, os professores de Arte perceberam a urgência de discussões
e análises mais extensas sobre essas questões e a necessidade de resolvê-las, surgindo
14
Gláucia Trinchão- História da Educação, ASPHE/FaE/UFPel, Pelotas, n. 23, p. 125-147, Set/Dez 2007
Disponível em: http//fae.ufpel.edu.br/asphe
15
Expressão e língua francesa: deixar fazer
38
então, as associações de Arte educadores que se formaram em vários estados do país.
Nesta direção, Fusari & Ferraz (1993, p.39) analisam que a Associação de Arte
Educadores do Estado de São Paulo – AESP, fundada em 1982, foi a primeira
Associação, seguida por organizações em outros estados, culminando com a Federação
Nacional dos Arte Educadores do Brasil – FAEB, em 1987.
A década de 1990 foi marcada com novas discussões sobre a nova Lei de
Diretrizes e Bases – LDB, estabelecida sob o nº 9394/96, e os novos Parâmetros
Curriculares Nacionais – PCN, que foram discutidos por comissões de especialistas de
todas as áreas do conhecimento, nomeados pelas Secretarias Estaduais de Educação, do
Ministério da Educação e do Desporto – MEC. A LDB atual reforça a necessidade de
proporcionar a todos a formação básica comum, o que presume a articulação de uma
associação de diretrizes capaz de direcionar os currículos e seus conteúdos mínimos.
Para a realização de tal objetivo, a nova LDB assegura a organização curricular,
concedendo flexibilidade no trato dos componentes curriculares, reafirmando desta
forma, o princípio da base nacional comum (Parâmetros Curriculares Nacionais), que
deverá ser completada na prática, pela diversidade de cada sistema de ensino e de cada
escola.
Consta na parte introdutória dos PCNs (2001, p.16), do volume 1, que o
currículo para o ensino fundamental e médio, deve, obrigatoriamente, oferecer
oportunidades para o estudo da língua portuguesa, da matemática, do mundo físico e
natural, e da realidade social e política. Também são áreas curriculares obrigatórias o
ensino da Arte e da educação física, necessariamente integrada à proposta pedagógica.
Já no volume 6 dos PCNs (2001, p.30), art. 26, parágrafo 2º, referente à Arte,
encontramos a seguinte afirmação:
Além disso, o texto do mesmo volume mostra que dentre as várias propostas
difundidas no Brasil na transição para o século XXI, destacam-se aquelas que trabalham
a Arte dentro da Proposta Triangular sistematizada por Barbosa (1995), integrando o
fazer artístico à apreciação da obra de arte e sua contextualização histórica.
39
3.3.1 - Proposta Triangular para o ensino em Arte-educação
Ana Mae Tavares Bastos Barbosa é uma educadora brasileira, pioneira em arte-
educação e profunda conhecedora e estudiosa do ensino de arte no Brasil. Criou o termo
“Metodologia Triangular” apresentado no livro A imagem no ensino da Arte, que foi
substituído por “Proposta Triangular”. Conforme a própria autora, a “Proposta
Triangular” constituiu uma abordagem reconstrutora pós-moderna, que foi
sistematizada no interior das atividades de reflexão do Museu de Arte Contemporânea
da USP/ MAC, entre 1987 e 1993; acrescenta que o nome Metodologia Triangular foi
uma designação infeliz, pois metodologia cada professor tem a sua.
A Proposta Triangular deriva de uma dupla triangulação: a primeira, de natureza
epistemológica por indicar os componentes do ensino-aprendizagem em três ações –
criação (fazer artístico), leitura da obra de Arte, e contextualização. A segunda está na
própria formação da sistematização da proposta, que se originou a partir de três
influências, de três abordagens epistemológicas que são: as Escuelas al Aire Libre,
Mexicanas; o Critical Studies, inglês, e o Movimento de Apreciação Estética aliado ao
DBAE – Disciplined Based Art Education, americano.
16
José Maria Albino Vasconcelos Calderón - foi um advogado, político, escritor, educador, funcionário
público e filósofo mexicano, antigo reitor da Universidade Nacional do México e mais tarde criador do
lema e do escudo da UNAM. (VASCONCELOS. 2011)
40
Para a configuração do terceiro componente da Proposta Triangular – leitura da
obra de Arte Barbosa (2002. p. 8-10) relata que foi influenciada pelo movimento de
crítica literária e pelo ensino da literatura americana Reader Response. Este movimento
não despreza nem prioriza os elementos formais, valoriza o objeto sem cultuá-lo, exalta
a cognição levando em conta a importância do emocional na compreensão da obra de
Arte.
A Proposta Triangular foi testada entre os anos de 1987 e 1993, no Museu de
Arte Contemporânea da USP, e entre os anos 1989 a 1992 nas escolas da rede municipal
de ensino de São Paulo, no primeiro, leitura de obras originais e no segundo, leitura de
reproduções de obras de arte e visitas ao museu.
A Proposta Triangular foi experimentada em1989, com a utilização de vídeo
para a leitura da obra de Arte pela Fundação IOCHPE17, sendo este trabalho coordenado
por Analice Dutra Pillar e Denise Vieira. Diante dos resultados do trabalho acima citado
as Arte educadoras Analice Dutra Pillar e Denise Vieira (2002.p. 8-34) relatam que a
Proposta Triangular propõe:
Fazer artístico: a produção de arte vista como interpretação e representação
pessoal de vivências numa linguagem plástica. Para Barbosa (2002) esta produção faz a
criança pensar inteligentemente sobre a criação de imagens visuais, pois desenvolve o
pensamento / linguagem e a imaginação.
Leitura de imagens: desenvolve a habilidade de ver, julgar e interpretar as
qualidades das obras, compreendendo os elementos e as relações estabelecidas no todo
do trabalho. Esta leitura é essencial, pois através dela estamos preparando os alunos
para a decodificação da gramática visual, da imagem fixa e, ainda das imagens em
movimento, presente tanto no cinema quanto na televisão.
Contextualização: não de maneira linear, mas contextualizar a obra de arte no
tempo e explorar suas circunstâncias. Barbosa (2002) defende a importância de se
conhecer o estilo, a forma de expressão, as características sociais e psicológicas da
época, mas isto não pode ser o alvo principal do professor, já que cada geração tem o
direito de olhar e interpretar a história de maneira própria. Esta contextualização pode
ser histórica, social, psicológica, antropológica, geográfica, ecológica, biológica,
associando-se o pensamento não somente a uma disciplina, mas a uma imensidão de
saberes disciplinares.
17
Fundação IOCHPE- www.fiochpe.org.br/acesso 09/02/2013
41
Assim, compreendemos que a Proposta Triangular é um enfoque de ensino, que
visa a aprendizagem voltada para a reflexão critica da cognição concebida pelo aluno,
com a orientação do professor. De acordo com Barbosa (2002), cada professor deve
construir seu próprio método, com o objetivo de atingir as três vertentes apresentadas na
Proposta. O importante é que se cultive o “ver, depois de olhar”, que se desperte a
visão feita na interrogação.
Para a autora não importa por onde o professor inicie seu trabalho, partindo do
“ler, fazer e contextualizar” o essencial é que se saiba qual o seu papel na formação de
cidadãos conhecedores do mundo, da vida, e de todo contexto social e cultural que o
circunda, pois a arte é um instrumento eficaz para o progresso da sensibilidade e do ser
humano como um todo.
Para se formar o apreciador de arte é necessário a contribuição da história e da
teoria da Arte, que esclareça a leitura finalizando com uma prática problematizadora e
reflexiva.
42
4 - TRAJETÓRIA DO CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES.
18
A Convenção Termidoriana (1794-1795) In HOBSBAWM, Eric J. A revolução Francesa. Rio de
Janeiro: Paz e Terras. 1996.
43
partir desse momento se introduziu a distinção entre Escola Normal Superior para
formar professores de nível secundário e Escola Normal simplesmente, também
chamada Escola Normal Primária, para preparar os professores do ensino primário.
Saviani19 vai além e relata que antes disso havia escolas, tipificadas pelas universidades
instituídas desde o século XI e pelos colégios de humanidades que se expandiram a
partir do século XVII. Segundo ele, nestas instituições havia professores e estes deviam,
por certo, receber algum tipo de formação. Ocorre que, até então, prevalecia o princípio
do “aprender fazendo”, próprio das corporações de ofício (SANTONI RUGIU, 1998).
Além de França e Itália, países como Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos
também foram instalando, ao longo do século XIX, suas Escolas Normais.
No Brasil, o debate em torno da formação de professores emerge de forma
explícita após a Independência, quando se cogita da organização da instrução popular.
Nesta direção Carvalho (1981, p. 64) afirma que, na época da Independência (1822),
éramos uma ilha de letrados em um mar de analfabetos. Marques (2006) relata que a
necessidade da criação de um sistema nacional de instrução pública ocupou largos
espaços na Assembléia Constituinte e Legislativa de 1823, que discutia a importância
do método e do salário para o professor de primeiras letras. Este ultimo não tão
importante haja visto que “este mestre não precisou ter consumido grandes cabedais
para adquirir esses conhecimentos de que necessita; por isso não deve ser pago tão
liberalmente” (Marques, 2006. p.18 apud Xavier).
Em 1824 o Ato Adicional determina que o ensino deveria ser desenvolvido pelo
método Mútuo20, e que para isso os professores deveriam ser treinados nesse método.
Porém apesar da lei, a primeira escola Normal brasileira foi criada em Niterói, Rio de
Janeiro, no ano de 1835.
19
Artigo -
http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe4/coordenadas/eixo01/Coordenada%20por%20Dermeval%
20Saviani/Dermeval%20Saviani%20-%20Texto.pdf acesso em 20/06/2012
20
Escolas que tinham a preocupação não somente de ensinar as primeiras letras, mas de preparar
docentes, instruindo-os no domínio do método. (TANURI, 2000, p.63)
44
4-1 – Do professor “Artesanal” aos cursos de Pedagogia.
I. Ordeno: que os exames dos mestres que forem feitos em Lisboa; quando não
assistir o presidente se façam na presença de um deputado, com dois
examinadores nomeados pelo dito presidente, dando os seus votos por escrito
que o mesmo deputado assistente entregará com a informação do tribunal. Em
Coimbra, Porto e Évora (onde só poderá haver exames) serão feitos na mesma
conformidade por um comissário e dois examinadores, também nomeados pelo
presidente da mesa; os quais remeterão a ela os seus pareceres, na sobredita
forma; nas Capitanias do Ultramar se farão exames na mesma conformidade.
Sempre de tudo será livre aos opositores virem examinar-se em Lisboa, quando
declararem que assim lhes convém. II. Ordeno: que o sobredito provimento de
mestres se mandem afixar editais nos reinos e seus domínios para a
convocação dos opositores aos magistérios. E que assim se fique praticando no
futuro em todos os casos de cadeiras (MOACYR, 1936, p. 24 . grifos nossos).
21
http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n14/n14a05.pdf - acesso em 25/08/2012
45
garantiriam o controle e a ordem social. Assim, como já citado, o Estado buscou
controlar rigorosamente a seleção e o recrutamento do professorado bem como sua
formação.
No Brasil, a formação de professores foi regulamentada somente com a
Independência, especialmente com a promulgação do decreto das Escolas de Primeiras
Letras, de 15de outubro de 1827, primeira lei sobre a instrução pública nacional do
Império do Brasil , que propunha a criação de escolas primárias com a adoção
do método Lancasteriano e dizia:
O governo cria uma escola de ensino Mútuo que deveria ser instalada no Rio
de Janeiro e, para propagar este sistema de instrução, uma ordem ministerial
de29 de abril seguinte exigiu de cada província do Império o envio de um
soldado que seguiria as lições desta escola a fim de aprender aí o método para,
em seguida, propagá-lo na província de origem.
Villela (2008) relata que este grupo político conhecido como os “Saquaremas”
permaneceu no poder ate 1860, e que sua supremacia política se deu no período
regencial. O partido Liberal, responsável pela abdicação de D. Pedro I, perde o terreno
para o partido conservador devido a conflitos internos,
47
identificasse os seus objetivos de classe dirigente como seus [...] civilizar para melhor
conhecer e controlar o povo”. Esta tese fica evidente ao examinarmos o texto da criação
da Escola Normal de Niterói:
Art. 4º. Para ser admitido à matricula na Escola Normal requer-se: ser cidadão
brasileiro, maior de dezoito anos, com boa morigeração, e saber ler e
escrever.
Art. 6º. Os que pretendem matricular-se dirigirão seus requerimentos ao
presidente da Província, instruídos com certidão de idade e atestado de boa
conduta, passada pelo juiz de paz do seu domicilio [...]. (Villela, 2008.p.32.
grifos nossos)
Pelo conteúdo da lei, pode-se observar que a importância dos predicados morais
se destacava diante dos saberes pedagógicos, pois ter boa morigeração era condição
tão importante que o candidato deveria obter um atestado de boa conduta emitido por
um juiz de seus domicilio, enquanto que saber ler e escrever era avaliado pelo próprio
diretor da escola e não exigia atestado de frequência escolar.
A escola seria regida pelo Tenente Coronel José da Costa Azevedo, que além de
diretor exerceria também a função de professor, e contemplaria o seguinte currículo: ler
e escrever pelo método lancasteriano; as quatro operações e proporções; a língua
nacional; elementos de geografia; princípios de moral cristã. Villela (2008) acrescenta
que a primeira escola Normal do Brasil em sua fase inicial, não recebeu uma só aluna,
porem na época já funcionavam oito escolas femininas públicas na província, o que
segundo Villela ( 2008.p.33), demonstra que para as escolas de meninas exigia-se da
professora pouco mais que o domínio das “prendas domésticas” e dos ensinamentos
religiosos.
48
Saviani (2007) relata que outras províncias seguem o exemplo do Rio de Janeiro
e formam suas Escolas Normais: Bahia, 1936; Mato Grosso, 1842; São Paulo, 1846;
Piauí, 1864; Rio Grande do Sul, 1869; Paraná e Sergipe, 1870; Espírito Santo e Rio
Grande do Norte, 1873; Paraíba, 1879; Rio de Janeiro (DF) e Santa Catarina, 1880;
Goiás, 1884; Ceará, 1885; Maranhão, 1890. Essas escolas, entretanto, tiveram fraca
existência, sendo fechadas e reabertas periodicamente.
O currículo dessas escolas era constituído pelas mesmas matérias que
integravam o currículo das escolas de primeiras letras. Portanto, o que se pressupunha
era que os professores deveriam ter o domínio daqueles conteúdos que lhes caberia
transmitir às crianças. Villela (2008) acrescenta que não havia a intenção de oferecer ao
futuro professor da escola primária, formação aprofundada em termos de conteúdos.
Entretanto a formação moral e religiosa era enfatizada.
Apesar desta frágil formação, a morosidade no processo de formação dos
alunos-mestres suscitava criticas por parte dos governantes, que prefeririam uma
formação mais aligeirada, alegando a necessidade do preenchimento imediato de
professores nas escolas de instrução primaria. Couto Ferraz presidente da província do
Rio de Janeiro, considerava as escolas normais muito onerosas, ineficientes
qualitativamente e insignificantes quantitativamente, pois muito pequeno era o número
de alunos formados.
Como o curso não era seriado e o diretor era o único professor, não avia um
período letivo fixo. Em geral, ao fim de dois a três anos, quando o diretor achava que o
normalista estava pronto, fazia a indicação para que este fosse examinado perante uma
banca. Só então recebia o diploma e poderia se candidatar a uma cadeira de instrução
primária. Segundo Moacyr (1939b, p.199), em 1840, após quatro anos de
funcionamento, ela havia formado apenas 14 alunos, dos quais 11 se dedicaram ao
magistério.
Por isso, Couto Ferraz fechou a Escola Normal de Niterói em 1949,
substituindo-a pelos professores adjuntos, ou método austríaco-holandês, segundo
Veiga (2007)este método consistia em aproveitar alunos pobres ou filhos de professores
49
como adjuntos de outros mestres. Os adjuntos atuariam nas escolas como ajudantes do
regente de classe, aperfeiçoando-se nas matérias e práticas do ensino. Por esse meio
seriam preparados os novos professores, dispensando-se a instalação de escolas
normais. Paralelo a este sistema de formação prática, descuidado da parte teórica,
ocorreu o fortalecimento do sistema de inspeção, que segundo Marques (2007)
caracterizava que os professores poderiam ate ser mal formados contanto que fossem
bem vigiados.
O autor salienta que em contraste com a pompa que cercou o evento, a estrutura
do edifício da Escola Normal tangenciava o limite da pobreza, e o local onde a antiga
casa fora alugada situava-se no limite do município, tendo como fundo um manguezal.
50
Os moveis e os materiais didáticos eram de uma simplicidade franciscana. Neste
período esteve à frente na diretoria da Escola Normal Felipe José Alberto Jr. Indicado
por D. Pedro II, este jovem professor, negro, formado pela Escola Normal da Bahia
esteve à frente desta instituição por seis anos, porem não conseguiu êxito em seus
projetos, sendo demitido em 1868. Segundo Villela (2002) no período em que Felipe
José Alberto Jr. esteve como Diretor da Escola Normal ampliaram-se os números de
professores e alunos, sendo admitidas no ano de 1862 as primeiras mulheres como
alunas da instituição.
De acordo com Saviani (2006), apesar de muitas escolas Normais serem abertas
no Brasil neste período, suas existências foram intermitentes sendo fechadas e reabertas
periodicamente.
Veiga (2007, p.166- 168) relata que somente no final do Império ocorreram
alterações significativas na legislação das escolas Normais. Neste período
transformações de ordem ideológica, política e cultural seriam responsáveis por
intensas modificações de ideias. Tanuri (2000) relata que:
A crença de que “um país é o que a sua educação o faz ser” generalizava-se
entre os homens de diferentes partidos e posições ideológicas e a difusão do
ensino ou das “luzes”, como se dizia frequentemente neste período, era
encarada como indispensável ao desenvolvimento social e econômico da
nação. É no contexto desse ideário de popularização do ensino que as escolas
normais passam a ser reclamadas com maior constância e coroadas de algum
êxito. Em 1883 o relatório do ministro do Império registra a existência de 22
escolas normais. Também a organização e o nível dessas escolas, embora não
chegassem a atingir a complexidade dos estudos secundários, apresentavam
modestos, mas evidentes sinais de progresso (p. 66).
22
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-7247-19-abril-1879-547933-
publicacaooriginal-62862-pe.html
51
cousas. Principios de lavoura e horticultura. Calligraphia e desenho
linear. Musica vocal. Gymnastica.Pratica manual de officios (para os
alumnos). Trabalhos de agulha (para as alumnas). Instrucção religiosa (não
obrigatoria para os acatholicos).
§ 2º Latim. Inglez. Allemão. Italiano. Rhetorica. [...].
(Cópia fiel do documento extraído do arquivo da Câmera Legislativa 23)
52
de cultura geral e de cultura profissional, falhavam lamentavelmente nos dois
objetivos”. Nesta direção, Lopes25 argumenta que Anísio Teixeira buscou viabilizar seu
projeto educacional que compreendia desde a escola primária até a universidade,
preparando professores para às novas tendências pedagógicas e que, ao mesmo tempo,
estivesse sintonizado com as transformações que ocorriam na sociedade brasileira, para
ela Anísio desejava formar um sistema autônomo, público e integral de ensino.
Deste modo, o Instituto de Educação seria composto por uma Escola Secundária
nos moldes do Decreto 19.890/1931, uma Escola de Professores em nível superior e
estabeleceria campos de aplicação e práticas docentes: uma escola primária e uma pré-
escola. Deste modo a Escola de Professores do Instituto de Educação constituiu-se na
primeira tentativa de formar professores “primários” em curso superior no Brasil.
Anísio Teixeira, ao falar sob as modificações propostas, afirmou:
25
http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe3/Documentos/Individ/Eixo5/359.pdf
26
Texto original conforme a grafia da época extraído da Biblioteca Virtual Anísio Teixeira
http://www.bvanisioteixeira.ufba.br/artigos/reorganizacao.html
27
http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/artigos_pdf/Liete_Oliveira_Accacio_artigo.pdf - acesso
em 31/03/2013.
53
A Escola de Professores foi incorporada à então criada Universidade do Distrito
Federal em l935, com o nome de Faculdade de Educação, passando a conferir a “licença
magistral” àqueles que conseguissem da universidade a “licença cultural”. Em 1939,
com o fim da UDF28e a anexação de seus cursos à Universidade do Brasil, a Escola
voltava a ser integrada ao Instituto de Educação. Fato semelhante ocorreu com o
Decreto 5.884, de 21/4/1933 em São Paulo.A reforma realizada por Fernando de
Azevedo que modificou o Curso Normal que era de quatro anos, precedido pelo
complementar de três, passa a ser constituído por um curso de formação profissional de
duas séries e a exigir para acesso o curso secundário fundamental, organizado de
conformidade com a legislação federal. No ano seguinte o Instituto de Educação de São
Paulo, a exemplo do Instituto do Rio de Janeiro, foi incorporado à Universidade de São
Paulo, passando a responsabilizar-se pela formação pedagógica nas diversas áreas da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras que desejassem licença para o magistério.
28
Universidade do Distrito Federal
54
4.1.2 - A história do curso de Pedagogia e a profissão docente nos dias atuais.
Neste cenário a educação é concebida como a mola mestra para reformar o país,
em outras palavras, a reforma da sociedade dependeria da reforma da educação. O
espírito redentor acerca da mesma coabitava com as condições oferecidas por Getulio
Vargas no seu primeiro governo. Também, não podemos esquecer que este quadro foi
criado pela força de movimentos como já mencionado anteriormente, o Manifesto dos
Pioneiros da Escola Nova, que lutavam pela educação e pela implantação de
universidades no Brasil e o movimento da Escola Novista, que rompeu com o período
anterior, impulsionando a profissionalização dos professores.
Com a criação da Faculdade de Filosofia e Letras, que constituiu um dos pilares
da Universidade brasileira, é criado o curso de Pedagogia pelo o Decreto Lei nº 1.190
de 1939. Segundo Brzezinski (1996) seu primeiro objetivo era formar professores para o
ensino secundário. Sendo que aos que terminassem o bacharelado, seria conferido o
diploma de bacharel em Pedagogia, ou Técnico em Educação, e quando finalizado o
curso de Didática, o de licenciado, para atuar como professor da Escola Normal e
Institutos de Educação.
55
Segundo Silva (1999) a configuração era a seguinte: com o bacharelado, o
pedagogo tinha o direito de ocupar no Ministério de Educação cargo de técnico, campo
profissional que segundo a mesma autora era muito impreciso quanto as suas funções.
Com a licenciatura, o curso normal se constituía como seu principal local de trabalho,
embora não exclusivo deste profissional, pois o diploma de ensino superior bastava para
lecionar no curso normal, critério estabelecido pela Lei Orgânica do Ensino Normal.
Ainda Silva (1999) argumenta que o curso de Pedagogia desde sua origem
enfrentava a suspeita, ora da dúvida, ora da discussão, se realmente tinha ou viria a ter
um conteúdo próprio que justificasse a sua criação e permanência, e nesta direção ela
descreve quatro períodos cronológicos em seu livro para tentar compreender questões
e embates relacionados a identidade do pedagogo, nos aprofundaremos um pouco neste
ponto.
A regulamentação do curso aconteceu de 1939 a 1972, e de acordo com Silva
(1999) este seria o primeiro período a se considerar, pois é a partir daí que o
Conselheiro Valnir Chagas, no intuito de fixar a identidade do curso, empreende
decretos para dar uma definição ao curso e para definir a destinação profissional de seus
egressos. Tais decretos, no entanto, deixam claro apenas que o licenciado era para atuar
em sala de aula e ao bacharel competiam as funções técnicas no Ministério da
Educação, funções como inspeção (existente desde o século XIX), coordenação
pedagógica, organização burocrática do sistema de ensino, entre outras funções.
29
CEF - Conselho Federal de Educação
56
superior, e a dos técnicos da educação (bacharel) em nível de pós-graduação. Com este
parecer Chagas pretendia remodelar o curso de Pedagogia. Silva (1999), entretanto,
argumenta que o parecer dá andamento às intenções do conselheiro de extingui o curso,
para uma redefinição, principalmente no que se referia ao cargo de técnico em
educação, ou o bacharel, já que este profissional era adaptável a todas as tarefas não
docentes dentro do campo educacional.
57
Art. 30. Exigir-se-á como formação mínima para o exercício do
magistério:
Nesta direção Silva (2003) relata que a habilitação profissional docente, por sua
vez, foi objeto do Parecer n. 45/72 (BRASIL-MEC-CFE, 1972a), aprovado em 13 de
janeiro de 1972, que embasou a Resolução n. 2, de 27 de janeiro de 1972 (BRASIL-
MEC-CFE, 1972b). Sendo que o disposto na letra a), referente à Habilitação Específica
para o Magistério em nível de 2º grau, foi objeto do Parecer n. 349/72 (BRASIL-MEC-
CFE, 1972c), do Conselho Federal de Educação, aprovado em 6 de abril de 1972. Esse
parecer previu duas modalidades básicas de curso, uma com a duração de três anos
(2.200 horas), que habilitaria a lecionar até à 4ª série; e outra com a duração de quatro
anos (2.900 horas), habilitando ao magistério até a 6ª série do 1º grau. O currículo
mínimo compreendia o núcleo comum, obrigatório em todo o território nacional e para
58
todo o ensino de 1º e 2º graus, destinado a garantir a formação geral; e uma parte
diversificada, visando à formação especial.
59
ideário neoliberal, mas porque, detonou um processo de reforma que atingiu todos os
níveis de ensino. Entre as reformas, a da formação docente foi central nesta década.
31
http://www.perspectiva.ufsc.br/perspectiva_2008_02/Dermeval.pdf - acesso em 04/01/2013
32
http://www.perspectiva.ufsc.br/perspectiva_2008_02/Dermeval.pdf - acesso em 04/01/2013
60
digitação e o que a legislação queria era instituir que após os dez anos de transição da
lei, somente seriam admitidos professores habilitados em nível superior.
61
Pedagogia – DCNP. Tais diretrizes foram precedidas de inúmeros debates entre
educadores, pesquisadores da área e governo. Segundo Evangelista (2006), Libâneo
(2006), Triches (2006) e Vieira (2007), as DCNP expressam uma correlação de forças
entre projetos distintos e contrários para a reformulação do curso de Pedagogia. Nesta
direção Vieira (2007), cita os projetos: do CNE (BRASIL, 2005a); a do grupo que
assinou o Manifesto dos Educadores Brasileiros33(2005); a do Fórum de Diretores de
Centros de Educação – FORUMDIR (2005); a do grupo dos especialistas reunidos na
Federação Nacional de Supervisores Escolares – FENERSE (2005); e a da Associação
Nacional pela Formação de Educadores – ANFOPE34 e adeptos (2005a, 2005b, 2005c).
Vale ressaltar que as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores
foram promulgadas em 2002, e nos anos subsequentes as Diretrizes Curriculares para
cada curso de licenciatura passam a ser aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação,
só ficando de fora as Diretrizes Curriculares para o Curso de Pedagogia, que só
conseguiu ser aprovada quatro anos mais tarde.
33
Esse Manifesto foi liderado por José Carlos Libâneo, Selma Garrido Pimenta, Maria Amélia Santoro
Franco, entre outros. Obteve mais de 150 assinaturas e foi divulgado na Internet no final de 2005.
34
A ANFOPE juntou em torno de si o FORUMDIR, ANPEd, CEDES e os estudantes, que depois
mudaram de posição.
.
62
docência nos diversos níveis e modalidades de ensino, em espaços escolares e não
escolares, bem como a gestão educacional e a produção e difusão do conhecimento
educacional.
De acordo com a Resolução nº 1/2006 (BRASIL, 2006b), as Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia, se organiza em três eixos: docência,
gestão e produção do conhecimento.
Para esta pesquisa buscaremos destacar a docência. Neste eixo segundo o
documento final das DCNP, a docência compreende a Educação Infantil, o Ensino
Fundamental, o Ensino Médio, além da Educação de Jovens e Adultos. Segundo
Evangelista (2006); Triches (2006) as DCNP se caracteriza por uma grande imprecisão,
em especial de conceitos, como por exemplo: “pedagogia” e “docência”. Considerada
esta como base da formação, ora parece ser a base, ora a identidade profissional, ora a
própria ação docente.
Por outro lado, Marin e Saviani (2007, p. 14) apontam que “O exame, embora
sucinto, das diretrizes curriculares nacionais revela uma situação paradoxal: o
documento é, ao mesmo tempo, extremamente restrito e demasiadamente extensivo; é
restrito no essencial e excessivo no acessório”.
Nesta direção, Libâneo alerta para o fato que:
Essa imprecisão conceitual quanto ao objeto de estudos da pedagogia leva a um
entendimento genérico de atividade docente, tal como consta no parágrafo
único do artigo 4º, em que toda e qualquer atividade profissional no campo da
educação é enquadrada como atividade docente. [...] É de se notar a confusão
que o texto provoca ao não diferenciar campos científicos, setores
profissionais, área de atuação, ou seja, uma mínima divisão técnica do trabalho
(LIBANEO, 2006, p. 846).
63
A docência neste caso assume o contorno de “ação”, com obliquidade
pragmática, reforçado pela pesquisa cientifica voltada para a solução de problemas,
apresentados pela prática pedagógica que visa à busca de resultados para as provas e
avaliações do governo para alunos, professores e instituições de ensino. A formação
toma o contorno de “docência alargada”. Para Libâneo (2006), formar esse profissional
num único curso significa “implantar um currículo inchado, fragmentado, aligeirado,
levando ao empobrecimento da formação profissional” (p. 861).
A análise, embora sucinta, dos documentos legais para a formação docente, nos
demonstra um caminho confuso, onde a quantidade de formando ou de atribuições
docentes se sobrepõe à qualidade na formação, e sinaliza que o “professor polivalente”
ainda é figura presente nas entrelinhas dos textos legais, dificultando a formação
integral e ideal.
Diante dos dados teóricos apresentados nos debruçaremos, na próxima parte, na
pesquisa de campo. Buscaremos compreender como acontece a articulação teórica e
prática na disciplina Arte, no Ensino Fundamental e no Curso de Formação de
professores.
64
5 – A disciplina Arte no currículo dos cursos do Ensino Fundamental e
nos de formação de professores.
O Ensino Fundamental tem como proposta uma educação que contemple o
desenvolvimento cognitivo, físico, afetivo, social, ético e estético, tendo em vista uma
formação ampla.
Segundo o Artigo 22 da LDB 9394/96 “A educação básica tem por finalidades
desenvolver o educando, assegurando-lhe a formação comum indispensável para o
exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos
posteriores”. Assim, percebemos que este segmento da Educação Básica deve propiciar
uma base sólida, valorizando o aprender contínuo. A mesma lei, segundo França In
Frade (2010, p.193- grifos nossos) lembra que “[...] os anos iniciais do Ensino
Fundamental estão a cargo de unidocentes, indivíduos que, durante toda a infância e
adolescência, percorreram sistematicamente os caminhos da matemática, das ciências,
da geografia, da literatura [...]”.
Estes unidocentes, além das disciplinas que fizeram parte de sua formação
devem agregar em sua prática as alterações curriculares, impostas por força da lei,
como se, através de uma legislação, fosse possível resolver os problemas de formação
inicial e continuada. Este anacronismo de nossa política Educacional, já era denunciado
por Anísio Teixeira (1994. p.99): “Toda a nossa educação, hoje, é uma educação por
decreto, uma educação que, para valer, somente precisa ser "legal", isto é, "oficial" ou
"oficializada“[...]”. Oficialmente, de acordo com a Lei 9394, de 20 de dezembro de
1996:
Art. 26. Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base
nacional comum, [...], § 2º O ensino da arte constituirá componente curricular
obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o
desenvolvimento cultural dos alunos. [...]. § 6o A música deverá ser conteúdo
obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular de que trata o § 2o
deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.769, de 2008), [...],Art. 26-A. Nos
estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e
privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e
indígena. (Redação dada pela Lei nº 11.645, de 2008). [...]; § 2o Os conteúdos
referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros
serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas
de educação artística e de literatura e história brasileira (Redação dada pela
Lei nº 11.645, de 2008).
65
dança), como já denunciava Penna, nos confirmam a abrangência da disciplina Arte no
Ensino Fundamental, remetendo-nos à idéia de professor polivalente, impregnado na
LDB 5692/71, sugerindo que o professor “[...] dominasse as linguagens artísticas a
ponto de ensiná-las (FRANÇA In FRADE. 2010.p.192).
Entretanto, tal perspectiva de Arte, nos parece longe da real acuidade da
disciplina enquanto ferramenta pedagógica e cognitiva, capaz de envolver o aluno em
um processo metacognitivo, no qual aprendizagens, vivências, reflexões e sentimentos,
possam fazer parte de um mesmo processo e, que o ato criativo não consista apenas no
fazer artístico, mas na reflexão visual.
A educação em arte propicia o desenvolvimento do pensamento artístico e da
percepção estética, que caracterizam um modo próprio de ordenar e dar
sentido à experiência humana: o aluno desenvolve sua sensibilidade,
percepção e imaginação, tanto ao realizar formas artísticas quanto na ação de
apreciar e conhecer as formas produzidas por ele e pelos colegas, pela
natureza e nas diferentes culturas. Esta área também favorece ao aluno
relacionar-se criadoramente com as outras disciplinas do currículo (BRASIL.
PCNs - Arte, 1997, p.19).
6 – Problema e Hipóteses.
6.1 - Problema:
Oficialmente, de acordo com a LDB 9394, de 20 de dezembro de 1996:
Art. 26. Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base
nacional comum, [...], § 2º O ensino da arte constituirá componente curricular
35
A Metodologia Triangular é baseada em três instâncias, a saber: conhecimentos históricos, estéticos e
contextuais em arte; fruição e fazer artístico (BARBOSA, 1995).
66
obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o
desenvolvimento cultural dos alunos.[...].
Diante da legislação em vigor e do quadro historiográfico analisado,
ficam alguns questionamento:
Como uma disciplina que se apresenta obrigatória na prática, tem sido oferecida
na formação inicial de professores?
A atual política educacional considera as diferentes linguagens da Arte: visual,
teatral, corporal e musical, na formação docente?
Quais os fundamentos teóricos e metodológicos para o ensino de Arte presentes
na sala de aula?
6.2 - Hipóteses:
67
7 - Metodologia
A sétima parte deste trabalho se caracteriza pela análise teórica dos dados
empíricos coletados no contexto desta pesquisa. Dados que, como a epígrafe nos
sinaliza, necessitaram de escolhas metodológicas e tomada de decisões que muitas
vezes, nos fizeram rever todo o trabalho, não somente com a preocupação de cumprir
regras, mas utilizando a criatividade para não perder o foco.
A pesquisa que ora apresentamos e que teve como suporte teórico as reflexões
realizadas no contexto deste trabalho dissertativo é fruto do esforço na compreensão do
papel da Arte na educação escolar brasileira.
Esta parte está subdividida em três sessões, começando pela caracterização da
pesquisa de campo delimitando o local e sujeitos do estudo, recursos de observação
utilizados e procedimentos utilizados na coleta de dados e observações decorrentes.
Terminamos o estudo teórico/prático com nossas considerações acerca dos resultados
desta pesquisa.
7.1 – Natureza do estudo:
O projeto apresentado trata-se de um estudo quanti-qualitativo. No primeiro
momento fizemos um mapeamento do ensino de Arte no ensino fundamental de oito
escolas municipais. A seguir, frente aos resultados apresentados nesta fase, nos
debruçamos na análise dos cursos de formação de professores para confrontar os dados
coletados na primeira fase da pesquisa e a forma com que este docente é formado para
atuar no primeiro segmento do Ensino Fundamental.
Freitas (2000) afirma que a escolha de uma ou outra abordagem de pesquisa,
deve estar associada ao objetivo da pesquisa e que ambos (quantitativa/qualitativa)
apresentam características específicas, vantagens e desvantagens. Por outro lado, muitas
vezes, pode-se fazer uso de diferentes métodos de forma combinada, recorrendo-se a
mais de uma fonte para coleta de dados, aliando-se o qualitativo ao quantitativo
(FREITAS et al., 2000).
68
Nesta direção, relembrando a epígrafe inicial, quando Medeiros (2010) alerta
que devemos reinventar com criatividade e imaginação o percurso a cada etapa que o
trabalho se apresenta.
Assim, ao escolher nosso caminho, temos como horizonte o foco de nossa
pesquisa, que juntamente com a iluminação teórica, nos possibilitará analisar e
categorizar os resultados. Olabuenaga e Ispizúa (1989) relatam que a análise de
conteúdo é uma técnica para ler e interpretar o conteúdo de toda classe de documentos,
que analisados adequadamente, nos abrem as portas ao conhecimento de aspectos e
fenômenos da vida social de outro modo inacessível. Deste modo, a escolha em
combinar duas abordagens de pesquisa, nos possibilitará ampliar as possibilidades de
análise e consequentemente aumentara nossa obtenção de respostas para o problema
proposto na pesquisa.
7.2 – Local e sujeito do estudo:
Delimitadas para pesquisa de campo oito escolas da rede Municipal de São João
da Barra, e cinco instituições superiores de formação docente para o Ensino
Fundamental.
Nossa escolha pelo município de São João da Barra, se caracterizou pelo
baixo índice daquele município no IDEB36, que ficou com nota 3,3 correspondendo ao
penúltimo lugar do estado do Rio de Janeiro. Nesta direção dividimos as escolas em
duas categorias: A= Os melhores índices do município e B= os piores índices do
município no IDEB37. A amostra constou de 30% do número de professores de 1ª ao 5ª
ano do ensino fundamental de cada instituição, perfazendo um total de quarenta e dois
professores participantes da pesquisa.
Grupo A Grupo B
38
Escolas IDEB Escolas IDEB
A1 2,4 B1 3,5
A2 2,9 B2 3,5
A3 3,0 B3 3,8
A4 3,1 B4 4,2
69
Para fazer este mapeamento buscamos ferramentas metodológicas, tais como a
aplicação de quarenta e dois questionários, com vinte e três perguntas, sendo onze
perguntas abertas e doze fechadas, observação sistemática da prática em sala de aula e
estudo da legislação em vigor, assim como da publicação científica acerca deste tema.
Diante dos resultados apresentados na primeira fase da pesquisa observamos a
necessidade de aprofundamento dos caminhos da pesquisa, e por isto incluímos cinco
Universidades da região Norte Fluminense. Nosso objetivo foi compreender como
ocorre a formação deste professor polivalente que trabalha com Arte, entre outras
disciplinas do Ensino Fundamental. Delimitamos neste caso as três principais
Universidades de Campos dos Goytacazes e dois Institutos de Educação, sendo uma
instituição pública e quatro privadas.
A partir dessa fase mapeamos a formação docente das oito escolas pesquisadas,
da rede municipal de ensino de São João da Barra. Os dados coletados nos questionários,
demonstraram que dos quarenta e dois professores participantes da pesquisa, que atuam
no primeiro segmento do Ensino Fundamental, 52% possuem Bacharelado/licenciatura,
21% Normal Superior, 5% Bacharelado e pós- graduação e que 22% Normal médio. Isto
aponta que 78% dos professores da amostra possuem curso de nível superior (figura um).
Superior
70
A figura dois sinaliza que o maior percentual de formação docente aconteceu em
instituições de Campos dos Goytacazes, tendo como referência em sua formação docente
o ISEPAM (Instituto de Educação Professor Aldo Muylaert), com 31% e a FAFIC
(Faculdade de Filosofia de Campos) com 28%. Estes dados justificaram com que a
segunda parte da pesquisa tivesse estas instituições do Norte Fluminense, como foco de
nosso interesse de investigação.
9
6-‐10
anos
8
6
6
11-‐15
anos
21%
5%
2% 72%
Figura 4-Situação profissional – Concursado, Estatutário, Permutado ou GLP(Contrato por tempo determinado)
Fonte: dados da pesquisa
71
A análise da figura quatro evidencia que apesar do concurso público ter ocorrido
há menos de três anos, o número de professores contratados é alto 21%, e a razão deste
fato é constatada nas palavras da professora Tânia39
39
Por ética os nomes em nosso trabalho serão fictício. Questionário 38.
40
Dobradinha= Termo utilizado para designar dupla contratação.
72
formação de professores no Brasil, passando do professor artesanal ao pedagogo nos
dias atuais, as implicações da legislação em vigor. Todo este resgate historiográfico foi
importante para nos situar na história e no tempo, como nas palavras de Marc Bloch,
uma das tarefas mais difíceis é reunir os documentos de que pensa ter necessidade,“ser-
lhe-ia difícil consegui-lo sem o socorro de diversos guias: inventários de arquivos ou de
bibliotecas, catálogos de museus, repertórios bibliográficos de todas as espécies”
(BLOCH, 1976, p.64).
A abordagem quantitativa foi utilizada na primeira etapa da pesquisa quando
utilizamos dois questionários, um para fazer o mapeamento de como acontece o
trabalho de Arte nas escolas Municipais de São João da Barra no primeiro segmento do
Ensino Fundamental e outro para os professores que lecionam Arte nos cursos de
formação docente em Campos dos Goytacazes41. Os questionários foram aplicados por
Santos42 sob a orientação de Peixoto43. Segundo Demo (2000), a pesquisa dedicada ao
tratamento da "face empírica e fatual da realidade produz e analisa os dados [...], pela
via do controle empírico e fatual" (p. 21). Com os dados coletados e catalogados
retornaremos para a pesquisa teórica, que segundo o mesmo autor “[...] o significado
dos dados empíricos depende do referencial teórico, mas estes dados agregam impacto
pertinente, sobretudo no sentido de facilitarem a aproximação prática" (DEMO, 1994,
p. 37).
41
A Escolha da cidade de Campos dos Goytacazes se caracteriza por ser um polo de formação acadêmica
na região Norte Fluminense do Estado do Rio de Janeiro
42
Santos. Deise.
43
Professora Doutora Maria Cristina S. Peixoto.
44
Apêndice 1
45
Apêndice 2
46
Apêndice3
73
ensino da Arte, examinando as interferências das ideias filosóficas, econômicas,
sociais, artísticas e educacionais na época compreendida entre a chegada da Missão
Francesa e os dias atuais no Brasil, pautados no pensamento de Saviani (2002), na
tentativa de construir uma investigação da história do pensamento pedagógico
brasileiro, e assim tentar compreender os embates/desafios desta disciplina no currículo
escolar. Em seguida analisamos as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino
Fundamental, resolução CEB nº 2, de 7 de abril de 1998, Artigo 3º, na LDB 9.394/96 e
os PCNs, na tentativa de compreender a legislação em vigor, e por fim buscamos
respostas científicas que nos aponte caminhos dialogando com Vygotsky (1987-1998-
2001-2003), Peixoto (2003; 2008), Pimenta(2000), Duarte Junior(1991), Barbosa
(1989-1991-1995-2008) entre outros.
No primeiro momento, nos apresentamos nas escolas e relatamos todas as
perspectivas do projeto. Nesta ocasião, já percebemos algumas dificuldades para que o
professor respondesse aos questionários:
ü Falta de tempo após as aulas, pois a maioria tem dupla jornada (dois
empregos);
ü Falta de tempo no horário de planejamento coletivo, pois os
professores estavam voltados para trabalhar conteúdos da Prova
Brasil (Matemática e Português) e o município estava vivendo o
período de avaliação;
ü Tentamos fazer com que os professores respondessem aos
questionários no dia do conselho de classe, mas, foi impossível, pois
a problemática tratada neste dia foi tanta que a reunião terminou
além do horário previsto, o que nos fez deixar que o professor
respondesse ao questionário em casa e nos entregasse alguns dias
depois.
Por fim, conseguimos êxito na aplicação dos questionários, mesmo tendo que
retornar, a algumas escolas, nove vezes para recolher os questionários.
A segunda etapa de coleta de dados se constituiu, nos encontros pedagógicos,
oficinas de Arte e estudos compartilhados dos PCNs Artes, promovidos pela SEMEC
(Secretaria Municipal de Educação e Cultura). Nestas ocasiões buscamos desvelar o
“como” e “por que” pensam na busca de novas compreensões, de um novo “olhar” para
74
a disciplina Arte enquanto disciplina curricular e campo de conhecimento. Nosso
objetivo foi encontrar caminhos para reflexão do papel da Arte na atualidade no Ensino
Fundamental, através de metodologia qualitativa.
47
Apêndice
48
Apêndice
75
8 – Tratamento e análise dos dados
Sim
33%
Sim
33%
67%
Não
67%
Não
49
Questionário 12
76
(1990) resalta a importância de se cultivar a imaginação e a atividade criadora na escola,
através de um ensino orientado para a solução de problemas e para a preparação do aluno
para a produção do conhecimento, e esclarece que:
O autor ainda relata que nos Estados Unidos existem cerca de 1200 centros de
estudos de pesquisa preocupados com o desenvolvimentos criativo na escola. No Brasil o
que percebemos, é que o nosso sistema educacional tem trabalhado o potencial criador de
forma muito limitada. Schiff (1982) em seu livro: A inteligência desperdiçada.
Desigualdade social e injustiça escolar, chama a atenção para o desperdicio de
possibilidades humanas em função de uma organização social e escolar que visa
desencorajar aqueles que refletem, que se questionam e que questionam os outros
(ALENCAR apud SCHIFF. 1990.p.15).
Para os 40% dos professores que acreditam na Arte apenas como expressão de
sentimentos devemos lembrar, como afirma Barbosa(2003), que aprendemos pouco sobre
nossas emoções se não formos capazes de refletir sobre elas.
77
Figura 5 - Utiliza atividades em Arte nas aulas?
Fonte: dados da pesquisa
Como constatamos, mesmo garantida por lei, a disciplina Arte não é incluída em
todas as séries, o que Barbosa (2003) esclarece, “a aprendizagem de Arte é obrigatória
pela LDB no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, contudo, algumas escolas estão
incluindo a Arte apenas em uma das séries” (p.13). Isto acontece devido à ambiguidade
da lei que não explica que esse ensino é obrigatório em todas as séries, porém as
Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental resolução CEB nº 2, de 7
de abril de 1998, Artigo 3º, deixam claro a importância da Arte como disciplina
curricular em todas as séries:
78
Figura 6- Frequência semanal do trabalho com a disciplina Arte
Fonte: dados da pesquisa
Quanto ao trabalho com a disciplina Arte, 79% admite trabalhar pelo menos uma
vez por semana. Dado este, que nos aguçou a tentar compreender como é feito este
trabalho, quais os objetivos e se tais atividades vão ao encontro dos pré-dispositivos
legais.
A figura sete, nos remete a uma questão epistemológica com relação ao ensino
de arte e seus fundamentos. Dos quarenta e dois professores participantes da pesquisa,
trinta e dois, ou seja, 76% dos professores de nossa amostra ainda utilizam desenhos
prontos para colorir. Diante deste resultado problematizamos nas entrevistas, como se
configurava este trabalho: Qual é a importância pedagógica de colorir desenhos prontos
no ensino/aprendizagem da arte? Os desenhos fazem parte de projetos contextualizados
79
ou apenas distribui os desenhos para as crianças colorirem? Assim, 88% das respostas
convergiram quanto à sua importância e seus objetivos.
As docentes entrevistadas admitem que as atividades de desenhos sejam
realizadas, geralmente, para enfeitar as capas das provas, para que as crianças se
acalmem ou quando falta pouco tempo para o término da aula e não tem outra atividade
para fazer. Uma professora esclarece:
“Geralmente eu procuro desenhos fofinhos na internet, imprimo e deixo na
minha pasta, quando eu vejo que eles estão muito bagunceiros eu falo – se
terminar tudinho a tia vai deixar pintar. Ai eles acalmam, e eu deixo, no
finalzinho da aula eles pintarem” (Professora do 3ª ano – questionário 33).
80
Moreira (1984) adverte para a importância que o professor deve dar ao desenho
infantil, salientando que ao observarmos seus desenhos, podemos aprender muito sobre
o seu modo de pensar e as habilidades que possuem.
Toda criança desenha. Tendo um instrumento que deixa uma marca: a varinha
na área, a pedra na terra, o casco de tijolo no cimento, o carvão nos muros e
calçadas, o lápis, o pincel com tinta no papel, a criança brincando vai deixando
sua marca, criando jogos, contando histórias. Desenhando, Cria em torno de si
um espaço de jogo, silencioso e concentrado ou ruidoso seguido de
comentários e canções, mas sempre um espaço de criação. A criança desenha
para brincar. (MOREIRA, 1984, p. 15)
Expor uma aprendizagem artística que inclua tais tipos de atividades é pior de
que não dar aprendizagem alguma. São atividades pré-solucionadas que
obrigam as crianças a um comportamento imitativo e inibem sua própria
81
expressão criadora; esses trabalhos não estimulam o desenvolvimento
emocional, visto que qualquer variação produzida pela criança só pode ser um
equívoco; não incentivam as aptidões,porquanto estas se desenvolvem a partir
da expressão pessoal. Pelo contrário, apenas servem para condicionar a
criança, levando-a a aceitar, como arte, os conceitos adultos, uma arte que é
incapaz de produzir sozinha e que, portanto, frustra seus próprios impulsos
criadores (p.59).
0
Figura 9- Dificuldade que o professor tem para articular Arte com as outras disciplinas curriculares
Fonte: dados da pesquisa
82
atingir metas em determinadas disciplinas curriculares. Outra professora completa
nossa argumentação ao relatar:
“A minha O.P falou mesmo, esqueça as outras matérias, a prioridade é a
prova Brasil. Ai eu recebi um bolo de Xerox de atividades de matemática e
português. O meu medo da nota dos meus alunos serem baixa foi tão grande
que eu só dei isso, por mais de cinco meses antes da prova”.(Entrevista –
professor questionário n° 18)
33%
Sim
Não
67%
50
Disponível: http://www.scielo.br/pdf/es/v28n100/a2628100.pdf - acesso 26/12/2012
83
contribui para que não sejam efetivamente utilizados nas salas de aula.
51
(FONSECA,2001.p.27)
Deste modo, a leitura da Arte possibilita a reflexão dos dias atuais, trazendo
fragmentos reflexivos, capaz de nos levar a ver em nossa realidade perspectivas de
mudanças. Nunca como “uma descrição clinica do real” (FISCHER,1976. p.19), mas
como uma realidade sempre em mutação, demonstrando ao homem uma capacidade
constante de incorporar a si, aquilo que ele não é, mas tem possibilidade de ser.
14%
Sim Não
86%
Figura 11 - Habilitação do professor para trabalhar com Arte
Fonte: dados da pesquisa
51
Disponível: http://www.cchla.ufpb.br/pesquisarte/Masters/e_este_o_ensino.pdf. Acesso em 28 de
outubro de 2012.
84
Os resultados do gráfico onze nos remetem a uma pesquisa realizada por Silva
(2010), na qual, 73% dos professores se declararam despreparados e menos ainda
qualificados para o trabalho com Arte nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental na
cidade de Campos dos Goytacazes. Observamos neste resultado, que apesar do local da
pesquisa ser diferente, os sujeitos de ambas as pesquisa realizaram sua formação na
cidade de Campos dos Goytacazes. Diante deste resultado percebemos que o percentual
em três anos subiu para 86%, fato que evidencia o empobrecimento cultural da região e
a necessidade de se buscar junto às instituições de formação docentes respostas para tal
situação de despreparo e desvalorização da formação de professores.
85
Com esta perspectiva, nosso trabalho pretendeu contribuir com as questões
relativas ao ensino e aprendizagem da Arte, trazendo instrumentos do que ocorre na
prática em sala de aula do primeiro segmento do Ensino Fundamental, a compreensão
de como se dá a formação docente para a disciplina Arte.
Nesta segunda parte da pesquisa, utilizamos como base teórica Peixoto (2003;
2008), Hernández (2000), entre outros. A base de nosso questionamento foi: Como
ocorre a formação docente em Arte para o professor do primeiro segmento do Ensino
Fundamental?
Sob este aspecto, Hernández (2000), em seus estudos traz uma análise das
formas de racionalidade presentes na história do ensino de Arte na educação.
Nesta direção, Hernández (2000, p. 44-46) menciona os seguintes tipos de
racionalidade: a racionalidade histórica, que considera ter a arte uma posição de
permanente reconhecimento na humanidade; a racionalidade industrial, centrada nas
habilidades e destrezas; a racionalidade expressiva, que se fundamenta na ideia da arte
como projeção dos sentimentos dos estudantes; a racionalidade forasteira, por ele
entendida como a influência exercida pela arte em outros países; a racionalidade
cognitiva, que considera a arte vinculada a um tipo de conhecimento que favorece o
desenvolvimento intelectual dos estudantes; a racionalidade criativa, que considera o
papel da arte fundamental para o desenvolvimento criativo dos estudantes; a
racionalidade perceptiva, que considera a arte um meio para o desenvolvimento da
percepção visual, a racionalidade comunicativa, relevante para o desenvolvimento das
habilidades de leitura e de compreensão das imagens; a racionalidade cultural, que
considera a arte como manifestação cultural e a racionalidade interdisciplinar, segundo a
qual os conteúdos da disciplina devem envolver também a estética, a história, a crítica e
a produção artística.
Começamos nossa reflexão tentando compreender como se configura, e em
quais racionalidades se pautam a formação na disciplina Arte, nos cinco cursos de
formação Superior na cidade de Campos dos Goytacazes52. Nosso objetivo inicial era
compreender a formação docente para a disciplina Arte no 1º Segmento do Ensino
Fundamental. Com esta perspectiva, fomos conversar com os coordenadores de cada
curso, apresentando carta de solicitação para autorização da pesquisa53 e, convidando os
52
Cidade onde 83% dos professores de nossa mostra inicial obtiveram suas formações.
53
Apêndice.
86
professores que lecionam a disciplina Arte nos cursos de pedagogia, para um encontro
na Universidade Estadual do Norte Fluminense.
Este encontro foi realizado no dia 22 de novembro de 2011, na sala 114-A, do
Centro de Ciências do Homem. Para este encontro convidamos alunos do grupo de
pesquisa de Arte e Educação, da Universidade Estadual do Norte Fluminense,
orientados, duas professoras desta universidade, além de oito professores representantes
das cinco instituições participantes da pesquisa, e de dois alunos de apoio para os
trabalhos de gravação e de fotografias.
87
processos emocionais, pelo próprio contexto de interação criado, permitindo a
captação de significados que, com outros meios, poderiam ser difíceis de manifestar”.
Porém, apesar de todo empenho do grupo, para criar as condições para a realização do
trabalho, não foi possível realizar nosso primeiro encontro Focal, pois umas das
premissas para a realização deste trabalho é que o grupo seja composto de no mínimo
oito participantes e no máximo vinte, e no nosso caso, apenas duas professoras
compareceram ao encontro.
Diante desta situação resolvemos aproveitar o encontro para fazer uma seção de
entrevista coletiva e troca, na qual, os alunos apresentaram suas pesquisas em Arte
Educação e as professoras relataram suas experiências na formação docente do
pedagogo. Diante desta situação, também, compreendemos que seria inviável para a
pesquisa organizar outros encontros dentro da metodologia do Grupo Focal, tendo em
vista que o nosso número de professores era o mínimo exigido, e sempre que faltasse
algum professor nossa tarefa fracassaria. Deste modo, reorganizamos,
metodologicamente, a pesquisa e elegemos como meio de coleta de dados para esta fase
um questionário, entrevistas individuais e análise das ementas.
Nosso entendimento foi que esta mudança de caminho não comprometeria que
os objetivos iniciais propostos fossem atingidos.
O curso de Pedagogia, conforme a Resolução CNE/CP nº 1/200654 se organiza
em três grandes eixos, nesta ordem de importância: docência, gestão e produção de
conhecimento. Estes entraves em nossa pesquisa sinalizam, não só para as dificuldades
encontradas ao se realizar pesquisa no município de Campos dos Goytacazes, mas para
a pouca valorização a produção do conhecimento nos espaços acadêmicos da região.
54
Brasil, CNE. Conselho Pleno. Resolução CNE/CP nº 1 de 15 de maio de 2006. Institui
Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de graduação em Pedagogia. Brasília: CNE, 2006b
88
Curso Presença da disciplina Arte nos cursos de formação de professores:
A Uma disciplina de Arte educação com carga horária de 60h
B Uma disciplina de Arte educação + Música com carga horária de 60h cada
C Uma disciplina de Arte educação + optativa com carga horária de 60h cada
A análise da formação dos professores que leciona Arte nos cursos de Pedagogia
nos demostra que dos oito professores participantes da pesquisa, apenas um possui
graduação em Arte. Apenas dois possuem Mestrado, ou seja, seis professores são
graduados lecionando para graduandos.
Transformando estes dados em gráfico estatístico a analise é a seguinte:
89
Formação dos professores que lecionam Arte
no Ensino Superior
13%
pedagogia
13%
Arte
Ed. Física
12%
62%
Música
Figura 13- Formação dos professores que lecionam Arte no Ensino Superior
Fonte dados da pesquisa
A observação do gráfico nos demonstra que 75% dos professores que lecionam
Arte nos cursos de pedagogia não têm em suas formações ênfase em Arte. Vale então
uma questão: Seria a disciplina Arte uma matéria sem exigência de formação
específica?
Frente à analise inicial, investigamos se os professores da mostra possuem
cursos de curta duração em Arte, e apenas um professor participou de uma oficina de
teatro, com carga horária de 16 horas. Buscamos compreender qual o entendimento do
professor pelo ensino de Arte:
17%
sim não
83%
90
disso, não devemos esquecer que o conhecimento em Arte é conhecimento da cultura
historicamente acumulada pela humanidade.
Estes resultados da Arte na educação superior nos leva a refletir sob o que é o
universo do conhecimento, seus significados e seus sentidos. A universidade é o local
institucionalizado que tem como uma das funções a criação do conhecimento.
Caracteriza-se por ser um “espaço de transmissão sistemática do saber histórico
acumulado pela sociedade, com o objetivo de formar os indivíduos, capacitando-os a
participar como agentes na construção dessa sociedade” (RIOS, 1999, p.34).
Porém, o que percebemos é que o professor não possui formação e amparo para
trabalhar Arte seguindo o pré-estabelecido pela legislação vigente. As palavras de uma
professora (Questionário nº6), corroboram esta afirmação e ainda atenuam a pequena
carga horária dedicada a esta formação: “na universidade este espaço é pequeno, visto
que trabalhamos mais com a análise, a reflexão com a construção do conhecimento
teórico do que com a prática".
A arte é um ramo do conhecimento complexo e inacabado, e, como tal, é
fundamental, como nas palavras de Paulo Freire:
Saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades
para a construção do conhecimento, nas suas razões ontológicas, políticas,
éticas, epistemológicas, pedagógicas, considerando que a observação e
experiência são fatores fundamentais para esse construto (FREIRE, 1994, p.
52).
Um fazer impresso nos PCNs Arte que tem como premissa: conhecer, refletir e
contextualizar.
Quanto ao conhecimento e trabalho com o PCNs Arte, indagamos aos
professores se utilizam este parâmetro em suas aulas.O gráfico seguinte ilustra as
respostas obtidas.
25%
75%
Não
25%
Sim
75%
91
Estes dados são confirmados pela análise das ementas dos cursos, nas quais os
PCNs Arte aparecem em poucos programas e 67% dos professores declararam não
terem conhecimento do mesmo em suas formações.
Verificamos, através da questão relacionada, se os professores de Arte no Ensino
Superior fizeram algum curso especifico em Arte para Educação:
não 88%
Figura 16 - fez Cursos especifico de Arte para educação? - Fonte dados da pesquisa
Este resultado nos fez refletir sobre a importância do ensino de Arte nos cursos
de formação docente, e nos questionamos se as Instituições de Ensino superior
conseguem perceber qual é o papel da disciplina Arte na educação.
Admitir que 88% dos professores que lecionam Arte no Ensino Superior não
possuem cursos nesta área é não perceber a disciplina Arte como um importante
instrumento de ensino-aprendizagem, em projetos transdisciplinares, que possam não
apenas servir como ferramenta de desenvolvimento das habilidades cognitivas
necessárias às outras disciplinas, mas ir além do caráter expressivo da Arte em si.
De acordo com o educador português António Nóvoa (1995, p. 28) que tem
problematizado sobre a relação intrínseca entre a mudança e a formação:
[...] a formação de professores deve ser concebida como uma das componentes
da mudança, em conexão estreita com outros setores e áreas de intervenção, e
não como uma espécie de condição prévia da mudança. A formação não se faz
antes da mudança, faz-se durante, produz-se nesse esforço de inovação e de
procura dos melhores percursos para a transformação da escola. É esta
perspectiva de mudança interativa dos profissionais e dos contextos que dá um
novo sentido às práticas de formação de professores centradas nas escolas
(NÓVOA. 1995, p. 28).
92
Como nas palavras de Nóvoa (1995) a formação deve ser concebida com
perspectivas de mudanças constantes, mudanças que devem ter como meta contemplar
as necessidades apontadas na escola, e como aponta os resultados da pesquisa, a
formação em Arte não atende às necessidades atuais de uma sociedade marcada pela
interconexão e mudança constantes. Nesta nova sociedade onde a produção de bens
simbólicos, imagens e representações, produzem, transformam e desintegram
identidades, o ensino e a aprendizagem de Arte tornam-se imprescindível para o
desenvolvimento social e humano.
A resolução CNE/CP55 Nº 1, de 15 de maio de 2006, que institui as Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura, prevê
para o curso de pedagogia:
Art. 4º O curso de Licenciatura em Pedagogia destina-se à formação
de professores para exercer funções de magistério na Educação
Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de
Ensino Médio, na modalidade Normal, de Educação Profissional na
área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam
previstos conhecimentos pedagógicos.
55
Resolução CNE/CP 1/2006. Diário Oficial da União, Brasília, 16 de maio de 2006, Seção 1, p. 11
93
Esta reflexão nos leva a questionar, se este “vicio” permanece, pois a pesquisa
demonstra que a formação de professor permanece fragilizada, tendo em vista as
múltiplas atribuições impressas nesta formação.
94
9. Considerações finais
Entretanto, a pesquisa de campo vem sinalizar que após dezessete anos de LDB
e quinze anos dos PCNs, estamos longe de efetivar na prática os pressupostos legais.
Este anacronismo de nossa política educacional, já era denunciado, e nos faz relembrar
Anísio Teixeira (1994. p.99): Toda a nossa educação hoje é uma educação por decreto,
uma educação que, para valer, somente precisa ser "legal", isto é, "oficial" ou
"oficializada“.
Assim, indo nessa direção os resultados da pesquisa apontaram que 76% dos
professores que trabalham com a disciplina Arte no Ensino Fundamental, nunca
estudaram Arte em sua formação e 69% nem sequer leram livros sobre o assunto, mas
que por força da lei vêm sendo obrigados a cumprir a atual grade curricular, fazendo,
desse modo, do improviso, a ferramenta para o trabalho com Arte na Educação Basica
95
ou, muitas vezes, utilizando práticas tradicionais e inadequadas às exigências de
formação de educandos críticos e criativos.
Esta pesquisa procurou, desde o início, refletir sob o espaço da disciplina Arte
no Ensino Fundamental, tendo como primeira hipótese a premissa que “a herança, em
nossa educação de um ensino enciclopédico, ainda traz em seu bojo o não
aproveitamento da Arte enquanto disciplina curricular e ferramenta cognitiva”, hipótese
comprovada ao observarmos os resultados da pesquisa, realizada em cinco Instituições
de formação docente, onde: 75% dos professores que lecionam a disciplina Arte nos
cursos de formação docente não possuem formação em Arte e 88% sequer possuem
cursos de curta duração na área; 17% dos professores de nossa amostra não acreditam
que a Arte se ensina, atribuindo o fazer artístico a “dom” de poucos.
Neste sentido, os resultados desta pesquisa apontam que é patente a necessidade
de uma reformulação curricular nos cursos de formação docente, devido às grandes
dificuldades de transpor a teoria para a prática, situação esta que não foi modificada
com o acesso aos PCNs/Arte, tendo em vista que a pesquisa demostra que 75% dos
professores de nossa amostra não utilizam os PCNs em suas aulas. Esta dificuldade é
evidenciada na analise das ementas da disciplina Arte, onde as poucas atividades em
Arte são delegadas a teorias vazias de vivencias. As palavras de uma professora, quando
questionada se Arte se ensina, nos demostra a fragilidade epistemologica do trabalho
com Arte no Ensino Superior:
“Arte não se ensina. Na universidade o espaço é pequeno, visto que
trabalhamos mais com a análise, a reflexão com a construção do
conhecimento teórico do que com a prática" (Questionário 2 do curso C).
96
criativa, através do fazer artístico, da construção do conhecimento, da apreciação de
uma obra de Arte, e da contextualização histórica.
Estas constatações nos comprovam nossa segunda hipótese, de que no cenário
atual de formação inicial e continuada de professores para o Ensino Fundamental,
permanece a desvalorização, para este segmento da Educação. Tais resultados são
confirmados ao confrontarmos estes dados históricos com a pesquisa de campo. Tal
reflexão evidencia que, diante da formação insuficiente e da obrigatoriedade em cumprir
o currículo formal, o professor torna-se um mero executor, utilizando em sua prática
modelos vivido em seu processo de escolarização, modelo ultrapassado e impregnado
por ideologia obsoleta, e o aluno neste processo, é delegado a mera reprodução do
conhecimento. Infelizmente, como corrobora Alencar (1990), tal fato vem demonstrar
que o sistema educacional está voltado basicamente para a reprodução do
conhecimento, para o “não pensar”, produzindo uma dramática realidade, na qual pouco
ou nada se cria e muito se copia.
As palavras de uma professora56, docente há vinte anos, reflete a angústia a
respeito de sua desatualização profissional: “Nossa formação era diferente de agora. As
oportunidades são poucas para que possamos buscar novos conhecimentos”. Mas essa
situação não está restrita aos docentes mais experientes. Outra57 docente há menos de
cinco anos, relata não saber trabalhar Arte e articular esta disciplina com as demais.
Segundo a proposta triangular de Barbosa (2003), a contextualização é a porta para a
interdisciplinaridade. Segundo esta autora a proposta de educação pela Arte deve ser
reflexiva, estimulando o aluno a ver, fazer e contextualizar. Ainda Saviani (2002)
acrescenta que a importância política da educação reside na sua função de socialização,
e, deste modo, ao contextualizar, o professor abre possibilidades que levam o aluno a
refletir criticamente, tornando um ser histórico de seu tempo (FREIRE,1996). Ainda
nesta pespectiva, Rosa Iavelberg (2003) acrescenta que a Arte na Educação escolar:
56
Questionário 14
57
Questionário 23
97
Nesta direção, Pimentel (1999.p.21), relata que apesar dos avanços que vêm
sendo conquistados nesta área, “cada tempo produz sua Arte e o currículo de ensino de
Arte deve ser mudado a cada tempo”. Porém, segundo o mesmo autor, o professor não
está preparado para tomar decisões ideológicas consistentes frente a um currículo
flexível, ou, decidir que linha conceitual seguir em sua prática. Esta afirmação é
confirmada no resultado desta pesquisa, na qual os professores se auto declaram
despreparados para trabalhar a disciplina Arte no Ensino Fundamental.
O que aqui se encontra é resultado, mas, também ponto de partida para outras
buscas e investigações. Essa é a nossa tentativa de contribuir para que novos
rumos/saberes/fazeres se comprometam na formação de educandos sensíveis e
criativos, comprometidos com a devida articulação entre teorias e práticas pedagógica.
98
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Apêndices
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Anexos
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