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A era dos charlatões: não bata palmas para maluco dançar!

Jackson César BuonocoreJackson César Buonocore Sociólogo e Psicanalista

O charlatanismo é uma palavra que deriva do italiano “ciarlatano.” É similar em português, de “parlapatão”,
que significa ludibriar os outros. Os charlatões da Idade Média e da Renascença realizavam shows, com
músicos, palhaços e animais para seduzir o público.

Nos períodos seguintes os vigaristas foram se aperfeiçoando. Em geral o charlatanismo e o curandeirismo


pode ser caracterizado como prática pseudocientífica. E no ponto de vista criminal é o ato de simular a cura
por meio fraudulento.

A presença dos charlatões é comum no mundo inteiro, sobretudo, no âmbito da saúde, da religião, da política
e da produção de livros, que levam os fiéis e consumidores a comprarem produtos ou serviços “milagrosos”
para curar doenças, entre elas: a AIDS, o câncer e tumores, que geram altos lucros aos clarividentes.

O apóstolo João numa de suas cartas dirigidas às primeiras comunidades cristãs já alertava do perigo dos que
se intitulam homens de Deus: “Não deis crédito a qualquer espírito; antes, porém, avaliai com cuidado se os
espíritos procedem de Deus, porquanto muitos falsos profetas têm saído pelo mundo.”

Os embusteiros usam um palavreado ostentoso, enganoso cientificamente e mentiroso espiritualmente. O


charlatanismo é fartamente denunciado pela mídia e condenado pela justiça. Uma indústria rentável no
Brasil, que ilude os espectadores dos programas místicos da televisão, dos vídeos ilusionistas da internet, das
palestras de curas sobrenaturais e dos discursos messiânicos.

Esses profissionais do engodo utilizam técnicas de comunicação, de marketing e propaganda, hipnotizando a


plateia com emoções primitivas e soluções fáceis, onde combina a física quântica com autoajuda, astronomia
com astrologia, economia com numerologia, espiritualismo com medicina, capazes de suplantar o raciocínio
lógico.

A prática do charlatanismo me faz lembrar a expressão popular: “nunca bata palmas para maluco dançar”, que
está vinculada a lenda de um povo antigo chamado de Os Iracundos. Eram ditos-cujos que cultivavam a raiva
e o ódio, que se autodestruíram e vagavam pelo mundo.

Aliás, eram criaturas fortes, cegas e surdas que usavam com muita habilidade arcos e flechas. Poderia se
mostrar qualquer verdade para Os Iracundos, mas não ouviam e nem viam. Por isso, falavam que eram
loucos. Eles começaram a ir às cidades e só pediam a plateia: bata palmas! As pessoas batiam palmas para
verem os loucos dançarem.

Os Iracundos pegavam os arcos e flechas, miravam para cima e atiravam, até sumir no céu milhares de
flechas. E a multidão dava gargalhada. Depois da apresentação eles agradeciam e se retiravam. Mas logo as
flechas caíam, atingindo crianças e idosos. Em seguida, matava a população inteira.

A fábula dos Iracundos nos ensina que não devemos bater palmas para charlatões/malucos, que irão dançar
para magnetizar as pessoas vulneráveis. Assim, o antídoto para o charlatanismo é a educação de qualidade,
porque pessoas com senso crítico estão menos sujeitas aos abusos, embustes, extorsões e adoecimento mental
e emocional.

***

Nota: Na capa o médium João de Deus, que recentemente foi preso após receber centenas de acusações de
abuso.

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