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TEXTO PARA DISCUSSÃO N° 109

INTRÉPIDOS VIAJANTES E A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO


UMA PROPOSTA DE REGIONALIZAÇÃO PARA AS
MINAS GERAIS DO SÉCULO XIX

Marcelo Magalhães Godoy

Dezembro de 1996
Universidade Federal de Minas Gerais
Faculdade de Ciências Econômicas
Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional

Intrépidos Viajantes e a Construção do Espaço


Uma Proposta de Regionalização para as Minas Gerais do Século XIX

MARCELO MAGALHÃES GODOY


Pesquisador do Cedeplar

Dezembro de 1996

Endereço para correspondência:


Rua Curitiba, 832. sala 1205 - Belo Horizonte/MG - CEP 30170-120
Tel. (031) 271.6511 Ramal 252
G589i GODOY. Marcelo Magalhães.
Intrépidos viajantes e a construção do espaço:
uma proposta de regionalização para as Minas
Gerais do século XIX.
Belo Horizonte: Cedeplar/ UFMG. 1996.
112p. (Texto para discussão: 109)
I. Minas Gerais - História - séc. XIX. 2. Minas
Gerais - Descrições e Viagens. 3. Minas Gerais -
Condições Econômicas séc. XIX. 4.
Regionalizacão.
SUMÁRIO
A PRES ENTACAo ...................................................................................................................................................................................................•............................. 7

O REDESCOBRIMENTO DO NOVO MUNDO


o SECULO XIX E A EXPANSÃO DAS VIAGDiS .. . 9
VIAJANTES EUROPEUS. AGENTES DO REDESCOBRIMENTO DO NOVO MUNDO .. ....... .10
RECONHECENDO O OUTRO. A CIENClA CO\lO MEDIADOR.' ... . 11
RECONHECENDO-SE NO OUTRO. A VISÃO DE MUNDO DOS VIAJANTES ... . 12

A OBRA DOS VIAJANTES ENQUANTO FO:"TES IIISTORICAS


OS RELATOS DE VIAGEM E A HISTORIA DE MINAS. 16
ALGUMAS LACUNAS HISTORlOGRAFICAS .. .17
ELABORANDO INSTRUMENTAL DE INVESTIGAÇ,i.O

Os VIAJANTES COM PULSADOS . . 19


TECNICA DE LEmJRA ADOTADA: OS InNERARIOS DE VIAGEM ... ...22
A CONSnWçÃO DO ESPAÇO .. . 2~
Os rTTNERARlOS E A REGIONALIZAÇÃO .. . 26
'UNAS MUL T1FACETADA: U'IA PROPOSTA DE REGIO:>OALIZACÃO
REGJÁo DO SERTÃO DO URUCUIA ... . 30
REGIÃO DE PARACATU .... . 32
REGIÃO DE ARAXA ... . 35
REGIÃO DO TRIÃNGULO . . 36
REGIÃO DO SERTÃO DO INDAIA-ABAETE . . 38
REGIÃO INTERMEDIARIA DE PITANGUI- TA\IANDUA . . 3')
REGIÃO DO VALE DO MEDIO-BAIXO RIO DAS VFLlIAS. . ~I
REGIÃO DO V ALE DO ALTO-MEDlO SÃO FRANCISCO. . ~2
REGIÃO DO SERTÃO. . H
REGIÃO DO TERMO DE MINAS NOVAS. . .46
REGIÃO DO DISTRITO DIAMANTI:'oIO ... ...........~
REGIÃO DO SERTÃO DO RIO DOCE .. .... 52
REGJÁo DA MATA . ..5~
REGIÃO INTERMEDIARIA DE CONCEiÇÃO. . 55
REGJÁo SUL . . 58
REGJÁO MINERADORA CENTRAL .. ...62
BREVE PAINEL DA ECONOMIA PROVINCiAL .. ..... 67

O LO:>OGO PERCURSO DE UMA IDÉIA


REDIMENSIONAR O 1l\ATAMENTO DO ESPAÇO E O liSO DOS RELATOS. ... 70
HISTORICO DE UM COMPROMISSO (1990-1996).. . 71
HI HLI OG RA FIA E RELATOS DE VIAG E' I .....................................................•.............................................................•............................................................... 73

ANEXO I
MAPA DA PROVINClA DE MINAS GERAIS. . 76
ANEXO 2
RELAÇÃO POR REGIÃO DAS CIDADES. VILAS. ARRAIAIS. POVOADOS. ALDEIAS. FAZENDAS. \1I:'oIAS E LAVRAS DE OeRO DIA\IANTE. POSTOS ADUANEIROS E
ACIDENTES GEOGRAFICOS VISITADOS PELOS VIAJANTES. . 78

ANEXO 3
InNERARJOS DE VIAGEM (ROTEIROS E MAPAS) .. . 83

ANEXO~
REGIDNALIZAÇÃO .. . 99

ANEXO 5
REGIONALIZAÇÃO ADAPTADA .......... 101

FIGURAS
FIGURA 1: LINHA DO TEMPO. . 21

TABELAS
QUADRO 1. VIAJANTES: RESUMO INFORMATIVO SOBRE AS FONTES CONSULTADAS .. ... 20
TABELA 2: DISTRIBUiÇÃO REGIONAL DOS DlS1l\ITOS E POPULAÇÃO DOS MU~ICIPIDS DE 183\/32 . ..... 104

i\IAPAS
MAPA I PROVíNCIA DE MINAS GERAIS ... . 77
MAPA 2: InNERARlO DE VIAGEM. BUNBURY E D'ORBIGNY . ..84
MAPA 3. InNERARIO DE VIAGEM. FREIREYSS E LUCCOCK .. . 86
MAPA 4: InNERARIO DE VIAGEM. GARDNER .... . 88
MAPA 5: ITINERARIO DE VIAGEM. MAWE ... . 90
MAPA 6: iTI:'olERÁRID DE VIAGEM. POHl.. . 92
MAPA 7: ITINERARID DE VIAGEM. SAINT-HILAIRE (RJ/ MG: E DIS1l\ITO DIA\IANnNO) ........................................... ~
MAPA 8: ITINERÁRIO DE VIAGEM. SAINT-HILAIRE IS':'O FRANCISCO: GOlAS: E SEGUNDA VIAGEM) . . 96
MAPA 9: ITINERÁRIO DE VIAGEM. SPIX & MARTIUS.. . . . 98
MAPA 10: REGIONALIZAÇÃO...................... . . . 100
MAPA 11: REGIONALIZAÇÃO ADAPTADA..................... . . . 112
APRESENTAÇÃO

o presente texto é versão adaptada da monografia de bacharelado Vida econômica


mineira na perspectiva de viajantes estrangeiros, apresentada ao Departamento de História
da UFMG em janeiro de 1990, sob a orientação da Professora Clotilde Andrade Paiva
(CEDEPLAR/FACE/UFMG).

As retificações e acréscimos que esta versão incorporou atenderam a necessidade de


atualização de diversas informações, de aprimoramento da editoração gráfica em geral

(inclusive da parte cartográfica) e de aditamento de alguns recursos que deverão contribuir


para uma maior inteligibilidade do texto. Além disso, no presente texto procedeu-se a
reorientação de parte dos objetivos originais. Decorridos seis anos desde a conclusão da
monografia, constata-se hoje a importância central de aspectos de natureza metodológica que
anteriormente foram tratados apenas genericamente e sem o destaque que agora
consideramos essencial. Os resultados permaneceram os mesmos, o que mudou foi a

avaliação da importância das definições de caráter metodológico a eles subjacentes.

Na primeira parte estaremos introduzindo nosso universo documental, a obra dos


viajantes estrangeiros, relacionando-a com o significado do século XIX. Trataremos de uma
série de fatores que intervieram na realização das viagens e na produção dos relatos.
Discutiremos a visão de mundo destes viajantes, o imaginário que compartilhavam e o
instrumental de que se utilizaram na apreensão das realidades visitadas.

A segunda parte trará avaliação da forma dominante de utilização dos relatos de viagem
pela historiografia do período provincial mineiro. Apresentaremos uma nova proposta de

trabalho com os depoimentos dos viajantes. Contemplaremos ainda c que consideramos uma
série de lacunas no estudo destas fontes históricas.

Na sequência relacionaremos os viajantes com pulsados, apreciando sua cobertura


temporal e representatividade. Discutiremos a técnica de leitura e a forma de organização das
informações retiradas dos relatos de viagem. Ainda na terceira parte introduziremos a proposta

de regionalização, precedida de discussão em torno de duas categorias: espaço e região.

A quarta parte trará o cerne do trabalho. Apresentaremos a regionalização: as 16 regiões


propostas. Baseados exclusivamente nos viajantes estrangeiros, analisaremos a combinação
específica de elementos de diversas naturezas, principalmente os econômicos, que conferiam
identidade a cada região. Terminaremos esta parte com breve síntese das principais

caracteristicas da organização econômica da Província de Minas Gerais.

Encerraremos. na quinta parte. destacando dois aspectos anteriormente tratados e que

consideramos fundamentais. Enfatizaremos a importância do redimensionamento da forma

predominante em nossa historiografia de utilização dos relatos de viagem, bem como da


também preponderante perspectiva de tratamento das categorias espaço e região.

Delinearemos, ainda. a trajetória de compromisso assumido no momento da elaboração da


versão original deste trabalho (1990), até seu efetivo cumprimento muito tempo depois (1996).

8
o REDESCOBRIMENTO DO NOVO MUNDO

o século XIX e a expansão das viagens

o século XIX conheceu movimento revolucionário, em sua dimensão e intensidade, nas

relações internacionais. Viagens, expedições, missões oficiais e intercâmbios constituíram


parcela importante desta movimentação. Uma conjunção de elementos impulsionou e

sustentou o dinamismo das relações internacionais do oitocentos.

O redimensionamento das relações político -diplomáticas, marcado, sobretudo, pela


quebra da rígida e monopolizadora vinculação das metrópoles européias com suas colônias na

América. conformou uma situação inteiramente nova. Estas rupturas propiciaram

aproximações e contatos entre as nascentes entidades políticas do novo mundo com número
ampliado de nações européias, configurando ordem política e econômica distante dos tempos

do pacto colonial.

A crescente internacionalização da economia, com a abertura de novos mercados para a


revolução industrial em andamento, foi acompanhada da necessidade de conhecimento e

apropriação de novas potencialidades econômicas.

Uma situação inteiramente revolucionária no domínio das técnicas criou condições

inovadoras relativas aos transportes e comunicações em geral.

Aliado a estes fatores, destacaríamos um aspecto que nos parece fundamental como

componente explicador desta situação nova das relações internacionais. O século XIX registra
a efetivação da razão científica, do cálculo econômico e da catalogação como instrumentos
privilegiados de conhecimento do mundo. Mais do que instrumentos. instigadores da busca de

novas realidades.

A consolidação da razão científíca enquanto parâmetro definitivo na mediação da relação


do homem com o mundo contribuiu para a conformação de nova mentalidade. Para o
redescobrímento do mundo. "A ciência, esse refúgio e essa nova razão de viver do século
XIX". Braudel ressalta a central idade do conhecimento científico. a superioridade dos cânones

da ciência no processo de desvendamento de novas e antigas realidades.

Viajantes europeus, agentes do redescobrimento do novo mundo

Restringindo a amplitude desta movimentação até aqui discutida, passemos a pensar

especificamente em nossos viajantes estrangeiros. Em missões oficiais ou não, portanto,


comprometidos diretamente ou não com os centros de poder europeus, os viajantes

representam um grupo com certa homogeneidade.

Como entender a disposição destes viajantes em deixar as tranquilidades e confortos

que a civilização européia proporcionava aos seus cidadãos. ao menos, aos bons cidadãos (e
aqui cabe destacar que os viajantes do século XIX são. por razões políticas, sociais e,
sobretudo, econômicas homens da boa sociedade européia), e se embrenhar no, muitas
vezes, absolutamente desconhecido, imprevisível e, certamente, desconfortável palco de suas

viagens?

A resposta a esta questão remete-nos a pensar na psicologia de um tempo, o século XIX,


em uma intensa curiosidade em conhecer outras realidades, outros povos e costumes. Os

viajantes consultados revelam não só esta ansiosa curiosidade. como apresentam-se,


claramente. enquanto portadores de um compromisso com público leitor ávido de informações

sobre o novo mundo. O caráter das obras, o estilo acessível e a preocupação declarada dos
autores com questões que fugiam as suas profissões e/ou formações comprovam este

compromisso. Contudo, é impossível negligenciar a percepção da cristalina devoção que os

viajantes manifestavam para com a ciêncía, com um ideal de apreensão do mundo.

Ao materializarem suas experiências de viagem. seus relatos e diários, os viajantes


respondiam, como vimos, a ampla demanda da sociedade européia em geral. Contudo.
também atendiam às exigências mais restritas dos setores científicos, que ao contrário do
homem comum, interessava-se somente por aquelas informações colhidas debaixo de rigorosa
e isenta observação. Os depoimentos registrados nos diários e relatos de viagem, sobretudo

1 BRAUDEL. 1978. pago 19.

10
quando tratavam de aspectos voltados para aqueles leitores comuns. refletiam uma postura
frente as realidades, os povos e costumes visitados. É possível vislumbrar este

posicionamento em duas dimensões: no depoimento escrito e nas repercussões causadas

direta ou indiretamente nas sociedades visitadas. Em ambos os casos. observa-se mudança


profunda em relação às viagens dos séculos anteriores: estes viajantes do século XIX não
eram portadores das idealizadas e agressivas propostas anteriores de civilizar.

Reconhecendo o outro, a ciência como mediadora

Os viajantes são adeptos de uma noção de civilização que. como afirma Braudel. estava

associada a "um ideal profano de progresso intelectual, técnico. moral e social. A civilização

são as luzes'Q.. Braudel ao trabalhar os conceitos de cultura e civilização esboça histórico dos

dois termos. Quando associa o surgimento do termo civilização com a França do século XVIII o
historiador francês refere-se ao substantivo. Apesar da incerteza quanto ao período do
aparecimento do termo civilização, um ponto aparece resolvido para Braudel: "Em todo o caso,
nasce muito tempo após o verbo e o particípio, civilizar e civilizado, que são discerníveis desde

os séculos XVI e XVI/''3.

Os relatos de viagem consultados confirmam a profunda adesão dos viajantes a


percepção do mundo que passava pela apologia da civilização, a dedicação de corpo e alma

ao serviço da ciência e por esforço considerável de aceitação da unidade do ideal de

civilização na diversidade de suas expressões.

Esta unidade na diversidade expressava-se, principalmente, pela tentativa de conciliar


esta defesa da civilização diante do diferente, do extraordinário, do assustador, do agressivo e
do repugnante. Respeitar a diferença, ou ao menos lutar por isso. possibilitou a quebra da

monolítica e inflexível idéia de civilização. Deixemos a síntese a Braudel:

"Em todo caso, por volta de 1850, após muitas transformações, civilização (e ao
mesmo tempo cultura) passa do singular para o plural. Essa vitória do particular
sobre o geral situa-se bastante bem no movimento do século XIX (...)

2 BRAUDEL. 1978. pago 239.

3 BRAUDEL, 1978, pago 239.

11
Civilizações ou cultura no plural, é a renúncia implicita a uma civilização que
seria definida como um ideal ou, antes. o ideal: é em parte negligenciar
qualidades universais, sociais. morais. intelectuais que a palavra implicava em
seu nascimento. Já é tender a ~onsiderar todas as experiências humanas com
igual interesse, as da Europa, iissim como as dos outros continentes. À essa
fragmentação do imenso império da civilização em províncias autônomas.
viajantes, geógrafos. etnógrafos muito contribuíram. desde antes de 1850. A
Europa descobre, redescobre o mundo e deve se acomodar ao fato: um homem
é um homem. uma civilização uma civilização, qualquer que seja o seu nivel".
(BRAUOEL, 1978, págs. 240/241)

o registro do outro, da diferença e de sua riqueza aparecem lado a lado com toda uma
bagagem de concepções e de visões de mundo própria aos viajantes. Seria absurdo pensar

numa isenção total, neutralidade absoluta. Ao mesmo tempo, pensamos ter ocorrido uma

transformação inegável na mentalidade européia relativa ao mundo bárbaro das sociedades


não européias.

Reconhecendo-se no outro, a visão de mundo dos viajantes

Envolvidos em suas ambigüidades, profundamente reveladoras dos seus conflitos


internos, os viajantes experimentaram sensações e sentimentos que são extremamente

importantes na reconstituição do imaginário europeu frente o novo mundo. Na nossa


perspectiva, uma leitura voltada para a percepção das ambigüidades. conflitos e incertezas dos

viajantes, conduz, inevitavelmente, a recusa de simplificações desqualificadoras de seus


depoimentos. Ao contrário, perquirir sem preconceitos as contradições internas a cada
depoimento e entre autores distintos potencializa os relatos de viagem. alçando-os a condição
de fontes históricas inestimáveis.

Deparamo-nos com uma gama variada de situações onde nossos viajantes reagiam de
formas distintas. Onde as reflexões e sentimentos antagonizam-se. Os relatos conseguem,
mesmo que atenuados pelo tempo que separa o vivenciamento e observação direta e a
posterior materialização dos registros escritos, reproduzir a riqueza e profundidade das
experiências vividas pelos viajantes. Lado a lado ao esforço da isenção, neutralidade e
fidelidade ao observado, surgem situações e reflexões onde os autores se auto-descobrem; a

12
realidade, como um espelho, reflete o interior turbulento, instável e humano. O distante e frio

observador não resiste a vertigem que as novas impressões lhes causam.

Se os viajantes acumularam um número extenso de páginas voltadas para a lamentação,

arrependimento e reprodução das inimagináveis dificuldades vividas nas viagens, também,


com a mesma ou maior ênfase. registraram as gratificações. os momentos da mais autêntica

satisfação em presenciar o diferente. O êxtase, delírio, alucinação. o esforço da tolerância, a


tentativa do respeito, a luta contra o preconceito, a repulsa. o mal-estar. a condenação e o

juízo de valor, são posturas e sentimentos que tornam os relatos fascinantes ao leitor comum e

desafiadores ao historiador. Ilustremos parte destas reflexões com os próprios relatos. O


prefácio de Saint-Hilaire à sua Viagem pelas provincias do Rio de Janeiro e Minas Gerais
traz o esforço do autor em passar a imagem da postura de isenção, de fidelidade ao

observado:

"Permitir-me-ei poucas reflexões; direi o que tiver visto. procurando apresentar


os fatos sob o seu aspecto real, deixando, na maioria das vezes, ao leitor, tirar
por si as consequências. Levei o escrúpulo da exatidão ao máximo; e devo
confessá-lo, preocupei-me mais em pintar corretamente o que observei do que
em burilar o estilo". (SAINT-HILAIRE, 1975a, pág. 4)

De modo geral, não observamos o rigor e neutralidade. para não dizer frieza, que Saint-

Hilaire se propõe. Juízos de valor e críticas severas ao objeto de suas observações convivem
com esta desejada isenção; ou seja, o cruzamento entre o registro fiel e as referências
inerentes a visão de mundo do observador. Suas convicções e personalidade confrontadas
com o novo, com o instigante e, às vezes. com o agressivo. O ilustre viajante francês em

muitos momentos colocou a isenção e distanciamento de lado e mostrou-se severo em sua


síntese. A censura, a condenação e uma incomum capacidade de generalização levaram o

autor a depoimentos como este:

"A alegria que anima nossos camponeses é estranha aos habitantes das
povoações da Provincia de Minas. Com exceção dos torneios (cavalhada) que
ás vezes celebram pela época de Pentecostes, não conhecem outra espécie de
divertimento além de uma dança que a decência mal permite mencionar, e que,
no entanto, se tornou quase nacional (o batuque). Sua felicidade é não fazer
nada; seus prazeres são os sensuais. Triste fruto da escravidão, mulatas
prostituídas encontram-se em todas as povoações, e devem necessariamente

13
entreter aí essa depravação de costumes à qual já bastante excítam o calor do
clima, o tédio e a ociosidade". (SAINT-HILAIRE. 1975a. pág. 137)

São incontáveis as situações onde o autor revela sua grande sensibilidade e seus

conflitos íntimos, chegando, às vezes, a verdadeiras reavaliações de suas convicções. Saint-


Hilaire é emblemático daquelas ambigüidades e contradições que caracterizam os viajantes

estrangeiros. Vejamos como referiu-se a algumas tribos indigenas, visitadas em sua Viagem a

Província de Goiás:

"Viviam na mais perfeita paz e uma o, como é comum entre os índíos.


Aproveitavam-se das genuínas vantagens da civilização e ignoravam suas
desvantagens. Desconheciam o luxo, a cupidez, a ambição. e essa mania de
previdência que persegue os homens de nossa raça e lhes envenena o presente
em nome de um futuro incerto". (SAINT-HILAIRE, 1975c. pág. 136)

o autor deste trecho é o mesmo que condena a indolência endêmica dos habitantes de
Minas Gerais, o mesmo que fala da inconsequente imprevidência dos mineiros, enfim, o
mesmo autor que faz a apologia do progresso e da civilização.

Os sentimentos de maravilhamento, de êxtase e de comunhão com a beleza selvagem

alternavam-se com a repulsa, desconforto e apreensão causadas pela opulenta e, muitas


vezes, inóspita e agreste formação natural. Saint-Hilaire assim referiu-se a cachoeira da Casca

-D'Anta, nascente do Rio São Francisco:

"Para ter uma idéia de como é fascinante a paisagem ali, o leitor deve imaginar
estar vendo em conjunto tudo o que a Natureza tem de mais encantador: um
céu de um azul puríssimo, montanhas coroadas de rochas, uma cachoeira
majestosa, águas de uma limpidez sem par, o verde cintilante das folhagens e,
finalmente, as matas virgens, que exibem todos os tipos de vegetação tropical".
(SAINT-HILAIRE, 1975b, pág. 105)

Já Spix/Martius fornecem-nos o contraponto, quando de sua viagem a uma área de

ocupação indígena:

"A Picada ficou tão estreíta, que a custo passava uma mula atrás da outra;
escura como o inferno de Dante fechava-se a mata. e cada vez mais estreita e
mais íngreme, a vereda nos levou por labirínticos meandros, a profundos
abismos, por onde correm águas tumultuosas de riachos, e, ora aqui, ora ali,
jazem blocos de rocha solta. Ao horror, que esta solidão agreste infundia na
alma, acrescentava-se ainda a aflitiva perspectiva de um ataque de animais

14
ferozes ou de índios inimigos que a nossa imaginação figurava em pavorosos
quadros, com os mais lúgubres pressentimentos". (SPIX & MARTlUS, vaI. 1,
1981, pág. 220)

Seria possível acrescentar uma infinidade de outros extratos dos relatos. que remeteria-

nos a pensar na riqueza e alcance dos registros deixados pelos viajantes. Enfim. material

inestimável a trabalho que pretendesse reconstituir a visão de mundo desses intrépidos

viajantes, suas ansiedades, conflitos íntimos e o imaginário que compartilhavam.

As terras brasileiras receberam grande contingente destes viajantes europeus. Ainda no


período colonial vários viajantes desembarcaram no Brasil. A importante ruptura política

consumada com a quebra do pacto colonial e a elevação do Brasil a Reino Unido criou
condições para a presença crescente de estrangeiros. Além disso. aproximações diplomáticas
inéditas geraram missões oficiais. compostas por cientistas e observadores políticos e
econômicos conceituados. O período imperial, que consolida e amplia as novas relações

internacionais brasileiras, vê a intensificação e diversificação das viagens.

Se podemos perceber muitas semelhanças e aproximações entre os viajantes europeus

que percorreram nosso país no século XIX, muitos pontos os distinguiam. Constata-se a
especificidade de cada relato, os estilos diferentes, bem como a existência de preocupações
distintas. Se a origem européia comum, ao menos dos que pretendemos trabalhar, e as
consequências daí advindas - uma relativa igualdade no conhecimento e desfrute da civilização

européia, suas afinidades culturais. políticas, sociais. econômicas. tecnológicas, religiosas. em


síntese, históricas - os aproximavam; a formação, atividades profissionais. vinculações oficiais
e diplomáticas, nacionalidade, além das importantes distinções de personalidade, os

distanciavam. Os distanciavam e condicionavam o que observar. como observar. como

interagir com o objeto da observação e como materializar registros do observado.


A OBRA DOS VIAJANTES ENQUANTO FONTES HISTÓRICAS

Os relatos de viagem e a
História de Minas

Dimensionemos agora a importância de tais relatos de viagem para a História de Minas

no século XIX. Tão extenso e rico material empírico traz consigo potencialidades, um universo

de possibilidades sem conta. Tratando as diversas viagens como um todo, assim como seus
autores, diríamos que as contribuições atingem vários setores do conhecimento. Contribuições
para a história, geografia, geologia, botânica, zoologia, mineralogia. medicina, antropologia.

sociologia, economia, enfim, para uma diversidade de áreas do conhecimento que

entrelaçadas fatalmente nos fogem na sua integridade e riqueza.

Mas é com o campo da história e suas afinidades e intercessões com outras áreas que

nos preocuparemos. A obra dos viajantes já foi, continua e muito ainda será utilizada pelos

historiadores do período provincial mineiro. Contudo, infelizmente. predomina o recurso


discricionário aos relatos. A utilização de citações ou passagens descontextualizadas e sem a
necessária avaliação de sua consistência com o conjunto do(s) relato(s) de onde foram
retiradas já é procedimento rotineiro. Um dos resultados mais preocuDantes deste quadro é o
paradoxo dos depoimentos dos viajantes chegarem, em muitos casos, a respaldarem teses
contraditórias. O recurso eventual. arbitrário, acrítico e restrito aos relatos resulta na total

impossibilidade de avaliar as ambigüidades e diferenças inerentes a cada relato e existentes

entre os múltiplos viajantes.

Os depoimentos dos viajantes devem ser tratados não só de forma singularizadora, ou

seja, uma avaliação qualitativa dos registros, mas também, necessitam de uma abordagem
extensiva capaz de abarcar o maior número de relatos, elucidando as consistências e ou
inconsistências inerentes ao conjunto e a cada relato específico. O tratamento exaustivo e
cauteloso dos viajantes conduzirá ao aprofundamento nestas fontes e uma confiabilidade maior
resultante de sua utilização. Detectar, compreender e superar as ambigüidades e contradições
tão características destas fontes históricas exige um combinado esforço de ampliação de seu

conhecimento e criteriosa utilização de suas contribuições.


Assim, propomos uma total reavaliação da obra dos viajantes. Salientamos a

necessidade de revisão das formas tradicionais de utilização dos relatos e consideramos


inevitável a imposição de novo padrão de uso. Dentro desta perspectiva, através de uma

proposta de regionalização, reconstituímos, baseados exclusivamente no depoimento dos


viajantes. a organização econômica de Minas Gerais na primeira metade do século XIX. Dessa

forma, nos inscrevemos em área de estudos que tem adquirido progressiva importância. O
crescente interesse por este periodo histórico é resultado de profunda revisão das tradicionais
caracterizações da economia mineira provincial, da proposição de novos e polêmicos modelos

explicativos e, como decorrência, do surgimento de inúmeros objetos de investigaçã04.

Algumas lacunas historiográficas

Infelizmente, ainda são incipientes os conhecimentos que em geral se tem da obra dos

viajantes. o que deve colaborar sobremaneira para o predomínio daquelas graves distorções
em sua utilização. A relativamente reduzida produção historiográfica referente a avaliação da
literatura de viagem enquanto fontes históricas, a quase que absoluta ausência de informações
sobre alguns aspectos fundamentais da dinâmica das viagens e da produção dos relatos

(sobretudo aqueles concernentes às relações e mediações existentes entre os viajantes


estrangeiros e a sociedade brasileira - dos escravos e homens livres pobres aos altos

funcionários públicos e membros das instituições científicas nacionais5) e a inexistência de

traduções para o português da maior parte dos registros de viagem, constituem,

4 Os trabalhos de MARTINS (1980/1982) são responsaveis pela revisão supracitada e pela prooosição do primeiro novo modelo
para a economia mineira provincial. SLENES (1985) foi o grande interlocutor deste autor pioneiro e crítico de suas asserções
basicas. propondo. inclusive. modelo alternativo. Em torno das proposições centrais de Martins desenrolou-se exaustivo debate.
que perdurou por toda década de 1980. Diversos pesquisadores. como L1BBY (1988). contnbuíram com novas reflexões e.
sobretudo. evidências empíricas. Consolidou-se uma caracterização da economia mineira prOVincial ainda que varios aspectos
permanecessem obscuros ou discordantes entre os pesquisadores do período. Muitos foram os Investigadores que dedicaram-se
a estudos regionais, como BOTELHO (1994), alcançando resultados fundamentais na comprovação. relativização ou rejeição de
características tidas como validas para toda a Província de Minas. PAIVA (1996) retomou a a:scussão ja bastante arrefecida das
linhas gerais da economia mineira prOVincial, introduzindo importantes evidênCias empíricas e reavaliando alguns aspectos
controversos.

5 Os viajantes estrangeiros mantiveram contato com todos os estratos da sociedade brasiielra. Os relatos revelam a grande
importância que estas relações tinham para o êxito das viagens. Os brasileiros viabilizavam cuase todo aparato material sem o
qual as peregrinações pelo interior do pais jamais teriam acontecido. Da mesma forma. cs recursos humanos necessarios,
sobretudo nos transportes e atendimento das necessidades basicas, foram supridos pelo traoalhador escravo e livre nacional.
Porem, a mais significativa contribuição relaciona-se ao fato de que parte expressiva dos depc:mentos dos viajantes tinha como
base. em muitos casos exclusiva, as informações colhidas incessantemente com os habitantes com que eles travavam contato.

17
provavelmente, nos maiores obstáculos à real e definitiva incorporação da obra dos viajantes

como privilegiadas fontes para o conhecimento do século XIX.

Os diversos trabalhos que buscaram avaliar alguns aspectos relativos a obra dos

viajantes. bem como investigações que tiveram nos relatos de viagem sua base empírica

central6, ainda que tenham contribuído com importantes reflexões em torno destas fontes
históricas, não as retiraram da relativa posição marginal em que se encontram.

É necessário aprofundar os levantamentos biográficos dos viajantes. contemplando,

principalmente, alguns aspectos básicos: seus principais traços psicológicos. reveladores de


ingredientes pessoais que estão sempre a conferir subjetividade aos depoimentos; suas
convicções fundamentais, decodificadoras de suas visões de mundo; suas formações
profissionais, que determinaram preferências por temas especificos; suas vinculações

políticas, sociais e econômicas de toda ordem. fundamentais na determinação das condições

materiais e das coberturas institucionais das viagens.

Ao mesmo tempo, precisamos melhor entender o impacto da literatura de viagem nas

sociedades européia e brasileira, dimensionando: quais eram as relações dos viajantes com o
mercado editorial; quais eram as demandas das sociedades européias com relação aos frutos

das viagens (os relatos de aventuras? O exótico. pitoresco? O dado científico do


especialista?); qual era o nível de circulação destas obras no Brasil; como a sociedade
brasileira avaliava aqueles depoimentos que representavam o redescobrimento do novo

mundo.

6 Trabalhos clássicos como o grande número de artigos na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro ou o estudo de
LEITÃO (1942). os notáveis levantamentos bibliograficos como o de GRAVATÁ (1971), as valiosas antologias de textos como a de
LEITE (1981), as investigações acadêmicas de grande envergadura como a de LEITE (1986) ou SÜSSEKIND (1990). e as
pesquisas em torno de material iconográfico como os coordenados por BELLUZZO (1994). são inequivocas demonstrações da
fortuna da obra dos viajantes. Estes e muitos outros trabalhos contribuiram de forma decisiva. dentre outros aspectos. para a
divulgação destas fontes históricas.

18
ELABORANDO INSTRUMENTAL DE INVESTIGAÇÃO

Os viajantes compulsados

Inicialmente procedemos ao levantamento dos viajantes estrangeiros que percorreram a

Província de Minas Gerais7 na primeira metade do século XIXa. No segundo momento

procedemos a seleção dos relatos que seriam consultados. Dois fatores intervieram na eleição

dos viajantes que trabalharíamos: existência de tradução para o português. a ausência de

tradução inviabilizou, na maior parte dos casos, o acesso à obra9; e o formato dos
depoimentos, excluindo os relatos que não eram apresentados na forma de diários de viagem,

com itinerários minimamente reconstituíveis1o Outros fatores combinados nos levaram a

exclusão de outros relatos.

Se por um lado não tivemos acesso a importantes depoimentos, como o diário de


Eschwege encontrado somente em edição alemã, ou em função de avaliação imperfeita
possamos ter excluído relatos que contenham relevantes subsídios para o período investigado,
por outro, acreditamos que com pulsamos a maior parte do material do gênero disponível,
contemplando quase todos os principais viajantes que visitaram Minas Gerais na primeira

metade do século XIX11.

7 Sem desconsiderar que Minas ainda era Capitania em boa parte da primeira metade do seculo XIX. sempre que estivermos
tratando do período como um todo utilizaremos a designação Província de Minas Gerais (o mesmo procedimento valerá para as
demais capitanias/províncias)

8 Utilizamos. basicamente. as informações bibliográficas de GRAVATÁ (1970). Este autor relaCiona 45 viajantes que estiveram em
Minas Gerais entre 1808 e 1954, sendo que destes 19 aqui estiveram na primeira metade dO século XIX. O levantamento do
insigne bibliógrafo não contempla todos os viajantes que percorreram a Província de Minas Gerais. A titulo de exemplo.
lembramos a ausência do naturalista francês Alcide D'Orbigny, que esteve em Minas nos anos ae 1833/34. e do engenheiro inglês
James W. Welis, nos anos de 1873/75. A incorporação de D'Orbigny elevou para 20 o número de viajantes. A exclusão de uma
indicação de Hélio Gravatá. por tratar-se de coletânea de passagens de viajantes. reduziu o número de viajantes novamente para
19.
9 Dos 19 viajantes levantados para a primeira metade do século XIX. 5 encontram-se sem traaução para o português. As
referências de Gravatá nos remetem para edições em Inglês. francês e, em três casos. alemâo.

10 Como veremos adiante. a técnica de leitura adotada exigia este formato. os itinerários de viagem foram fundamentais na
marcação espacial das informações coletadas.

11 Excluídos os 5 viajantes cujas obras ainda não foram traduzidas para o português. encontrando-se. na maior parte dos casos
inacessiveis, restam 14 autores. Destes estaremos trabalhando com 9.
Apresentamos a seguir os viajantes utilizados e seus respectivos relatos de viagem,

acompanhados de algumas informações básicas: nacionalidade dos viajantes. profissão -

formação e período de permanência em Minas Gerais:

Quadro 1: Viajantes: resumo informativo sobre as fontes consultadas

Autor/ viajante Nacionalidade Profissão! formação Título da obra! Período de


relato permanência em
Minas Gerais
1. BUNBURY Inglês Naturaiista "Viagem de um Mai. de 1834/ Fev.
naturalista inglês ao de 1835
RJ e MG
2. D'ORBIGNY Francês 0J aturai ista • "Viagem pitoresca 1833 , 1834
: através do Brasil
3. FREIREYSS Russo Naturai ista "Viagem ao Interior Juno de 1814/ começo
do Brasil" de 1815
4. GARDNER Inglês Natural ista "Viagem ao Interior :--"lai.de 1840/ Out.
do Brasil" de 1840
5. LUCCOCK Inglês Comerciante "Notas sobre o Rio 1817! 1818
de Janeiro e partes
meridionais do
Brasil"
6. MAWE Inglês Comerciante "Viagens ao Interior Ago. de 1809/ Fev.
do Brasil" de 1810
7. POHL Austríaco Médico. "Viagem no Interior Set. de 1818/ Nov. de
Mineralogista e do Brasil" 1818:eAbr.de
Botânico 1820/ Fev. de 1821
8. SAINT-HILAIRE Francês Naturalista "Viagens pelas Dez. de 1816/ Set. de
Províncias do RJ e 1817
MG"
9. Idem "Viagem pelo Ser. de 1817/ Mar. de
Distrito dos 1818
diamantes e litoral do
Brasil"
10. Idem "Viagem às nascentes Jan. de 1819/ Mai. de
do Rio São 1819
Francisco"
11. Idem "Viagem à Província Set. de 1819
de Goiás"
12. Idem "Segunda viagem do Jan. de 1822/ Mai. de
Rio de Janeiro a 1822
Minas Gerais e a São
Paulo"
13. SPIX & Alemães SPIX - Zoólogo "Viagem pelo Brasil" Jan./Fev. de 1818/
MARTIUS MARTIUS - (3 vais.) Set. de 1818
Botânico

20
A observação do quadro nos leva a algumas constatações. As nacionalidades são
variadas, revelando o interesse geral do velho mundo em relação ao Brasil. A profissão ou
formação científica sinaliza a predominância dos naturalistas. Interessante notar, a presença

de comerciantes, previsivelmente ingleses, que conseguiam conciliar interesses puramente

mercantis com curiosidade por uma miríade de outros assuntos.

Ainda cabe uma apreciação dos períodos de permanência em Minas Gerais. Traçamos a

seguir uma linha do tempo, situando os viajantes em seus respectivos períodos:

Figura 1: Linha do Tempo

Permanência de viajantes estrangeiros


em Minas Gerais
1850

• EntradaemMinasGerais-, -
1840 1------. SardadeMinasGerais I
, ,
1830

• , •
1820
, T •
1810

1800 ~ ~ ~ >- >- ~
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e;

Uma imediata visualização da linha do tempo aponta para 3 constatações básicas.

Praticamente a primeira e a última década deste meio século aparecem sem nenhum de
nossos viajantes. A primeira década corresponde aos últimos anos de funcionamento do

sistema colonial in tatum, com o acesso de estrangeiros vetado. A última corresponde aos

primeiros anos do segundo reinado.

A segunda constatação ainda refere-se a uma grande lacuna. O primeiro reinado,


primeiro período político do Brasil independente, também não registra a presença de nossos
viajantes. Talvez a nova ordem institucional não inspirasse a confiabilidade necessária.

21
Existe nítida concentração de nossos viajantes em dois períodos bem definidos. A

quebra do monolítico pacto colonial resulta em evidente afluxo de estrangeiros em direção ao

Brasil. Nota-se que a maior parte de nossos relatos concentra-se. justamente, no período que
se abre com esta quebra e estende-se até a efetivação de nova ordem institucional. Nossos
viajantes, na sua maioria, percorrem nosso país num momento de movimentação e discussão
política, de redefinição das relações econômicas externas. Um outro grupo menor visita o

Brasil já no período regencial.

Em síntese, os viajantes/relatos utilizados concentram-se, majoritariamente, na segunda


e quarta décadas do século XIX. Cobrindo os 3 decênios centrais desta primeira metade do

século. O limite inferior dos relatos. nas partes percorridas em Minas Gerais, é agosto de 1809

(Mawe) e o superior é outubro de 1840 (Gardner)12.

Técnica de leitura adotada:


os itinerários de viagem

O grande número de relatos de viagem com pulsados, o volume e complexidade das

informações analisadas e a própria natureza dos depoimentos dos viajantes exigiu a

elaboração de técnica de leitura.

A referência mais importante dentro de cada relato era o que chamamos de itinerário de

viagem. Tão importante porque definia as partes de nosso interesse primeiro. Ou seja, o
esforço de leitura concentrou-se nas partes dos itinerários situadas na Província de Minas
Gerais. Uma consulta panorâmica foi realizada no restante dos relatos, correspondendo as

partes dos itinerários situadas fora de Minas13.

12 É importante ressaltar C1~etodas estas observações são referentes ao período de permanéncla em Minas Gerais. Os viajantes
consultados não restrinºI~2m-se a Província de Minas. Percorreram outras regiões do pais. o que dilata sobremaneira seus
períodos de permanéncia :10 Brasil. podendo cobrir as lacunas assinaladas. Além disso, os viajantes não trabalhados poaem
situar-se exatamente nestes períodos aparentemente não cobertos.

13 Esta leitura panorãmica mostrou-se proveitosa na medida que muitas informações importantes estavam diluídas em pontos do
itinerário de viagem situados fora de Minas Gerais. Adotamos a premissa. depoIs verificada como pertinente, de que, por exemplo.
um estrangeiro que estivesse na cidade do Rio de Janeiro não se restringiria a tratar de temas restritos a esta cidade ou Provincia.
Muitos foram os casos de informações referentes a Minas Gerais relatadas em momentos que os autores achavam-se fora de
nossa unidade espacial.

22
Pois bem, uma vez definidas as partes dos relatos que exigiriam leitura mais detida e

cuidadosa, passamos a nos preocupar com a marcação espacial das informações. Utilizamos

versão inglesa de carta geográfica da Província de Minas Gerais como mapa base 14(ANEXO

1). Procedemos a circunstanciado registro das localidades (cidades. vilas, arraiais/povoados.

aldeias, fazendas, minas e lavras de ouro/diamante, postos aduaneiros e acidentes


geográficos) visitados pelos viajantes (ANEXO 2) e traçamos os itinerários de viagem (ANEXO
3)15.

A leitura dos relatos era pautada pela marcação espacial das informações, através do
registro das localidades visitadas. Simultaneamente verificava-se a localização no mapa base,
possibilitando o acompanhamento do itinerário de viagem (80 a 90% das localidades visitadas

pelos viajantes foram prontamente localizadas; em relação aos centros urbanos este
percentual está bem próximo de 100%). Findada a leitura traçava-se o percurso. Desta forma,
conseguimos não só uma eficiente organização das informações destacadas dos relatos, bem
como, demos o primeiro passo na efetivação de nosso projeto de construirmos a proposta de

regionalização.

Somente o espaço mostrou-se capaz de nortear nossa manipulação das informações.

Tornou-se possível para qualquer localidade visitada pelos viajantes reunir um conjunto
considerável de informações. Nem sempre a totalidade, na medida que as informações
referentes a determinada região ou localidade não necessariamente estariam exclusivamente

relacionadas na parte do relato correspondente a permanência do autor naquele espaço


(informações relativas a fluxos comerciais e movimentos migratórios são as que mais

14 A versão inglesa desta carta geográfica acompanha o relato de viagem de HASTINGS (i886). Após exaustiva pesquisa na
Mapoteca do Arquivo Público Mineiro, quando analisamos todo o material cartográfico referente aos séculos XVIII. XIX e inicio do
século XX. venficamos que este mapa era o que melhor serviria aos nossos propósitos. Constatamos que era a carta mais
completa em termos de localidades (com a toponimia da época), aspectos fisicos como topografia e hidrografia. limites políticos. e
que continha um baixo índice de deformação destes elementos comparada com os outros maoas Investigados.
No Atlas do Império do Brazil, datado de 1868. encontramos o que talvez seja a primeira edição brasileira desta carta geográfica.
Impresso em cores. traz informações e registros cartográficos que faltam á versão inglesa. As fontes relacionadas no Atlas e que
forneceram os subsidios para a confecção do mapa da Provincia de Minas Gerais. tem como o dilatado prazo que,
provavelmente. obra de tal envergadura exigia para ser realizada naquele momento histórico. :eva-nos a considerar que esta carta
geográfica retrata o que seria Minas Gerais em meados do século XIX. A versão inglesa atualiza a toponimia e. provavelmente,
outros registros cartográficos, mantendo, contudo, a mesma configuração básica do mapa constante no Atlas do Império. Assim
sendo, a carta anexada ao relato de Hastings poderia substituir a do Atlas, ainda mais que fatores de ordem técnica inviabilizariam
uma reprodução com a mesma qualidade que obtivemos da versão datada de 1882 (Hastings) para a de 1868 (Atlas).

15 Nossos trabalhos cartográficos basearam-se na utilização de uma série de mapas dos séculos XIX e XX e na sistemática
consulta ao Dicionário Histórico e Geográfico de Minas Gerais, BARBOSA (1971).

23
frequentemente não coincidem com os itinerários de viagem). Contudo. conforme atestamos, a

maior parte ou mesmo a totalidade quase sempre estava.

Assim, estava definida uma técnica de leitura extremamente eficaz em relação aos

objetivos que perseguíamos. Como veremos, a longevidade do uso destes procedimentos e os

resultados obtidos confirmaram a eficácia deste princípio de organização dos subsídios

extraídos dos relatos de viagem.

A construção do espaço

A categoria espaço, central em nossa perspectiva de tratamento dos relatos de viagem,


nos conduziu ao envolvimento com problema teórico bastante complexo e nos impôs um
itinerário inédito de investigação. Era imperioso rejeitar o tratamento dispensado pela
historiografia que trata dos períodos colonial e, sobretudo, imperial mineiro á categoria

espaç016. Decorrência desta rejeição, colocou-se como inevitável a proposição de alternativa


capaz de recuperar, sobretudo, a historicidade desta categoria. A construção da
regionalização, baseada na percepção que os viajantes nos deixaram do espaço, atendeu a

este propósito.

Os historiadores cada vez mais se preocupam com os problemas teóricos e as


implicações práticas concernentes a conceituação e a utilização das categorias espaço e

regiã017. Contudo, uma avaliação mais geral de sua relação habitual com estas categorias

parece remeter-nos para cenário pouco alentador:

16 Na historiografia mineira dos períodos colonial e imperial, voltada para pesquisas regionais e locais ou, principalmente,
dedicada ao estudo do conjunto da Capitanla/Provincia, predomina relação com a espacialidade marcada pelo esvaziamento de
sua historicidade, pela imprecisão na definição dos recortes e pelo recurso a procedimentos excessivamente simplificadores. A
transposição de recortes do século XX, sobretudo zonas fisiograficas. para os séculos XVIII e XIX; a proposição de divisões. )
espaço mineiro sem a indicação dos critérios e fontes utilizadas na definição das unidades regionais: a adoção de circunscriçóes
judiciárias. sobretudo comarcas. ou unidades administrativas. sobretudo municipios. enquanto unidades espaciais homogêneas:
ou a simples inexistência de delimitação do espaço, inclusive com as referências imprecisas a entidades como o "sul de Minas" ou
o "norte de Minas": são procedimentos recorrentes na nossa historiografia. A titulo de exemDIO. podemos citar três importantes
trabalhos, referências obrigatórias de nossa produção historiográfica. onde é possível identificar alguns destes procedimentos:
MARTINS (1980), PAULA (1988)e L1BBY (1988).

17 A série de artigos reunidos na coletãnea República em migalhas - His/ória regional e local. SILVA (1990),constitui-se em
perfeito reflexo destas preocupações.

24
"(...) a nossa produção historiográfica é de tal maneira assente em determinadas
óticas de abordagem do que seja Região e, por extensão. Espaço. que n::o se
questiona sobre o seu conteúdo. De um lado, na relação Região-História. o
recorte regional, seja qual for a configuração que se lhe tem dado, tem sido
exatamente este: um dado, já aceito e acabado, um produto. Não se atenta para
o conceito de Região e de Espaço enquanto construção, processo histórico
concreto. portanto, atravessado pela temporalidade e nesta interferente. Uma
vez que os recortes espaciais já estão definidos a priori, a relação Região-
História não se constitui, pois, num problema em si. " (SIL VEIRA, 1990, págs. 17
e 18)

Ao traçar esboço crítico das transformações ocorridas na ciência da geografia, da

geografia tradicional à geografia crítica, Silveira ressalta sempre as repercussões do


pensamento geográfico em relação a História. A autora ao tratar da geografia tradicional
analisa uma série de problemas decorrentes de percepções deformadas do espaço e de
noções distorcidas de região. Por outro lado. ao abordar a geografia crítica, ressalta o

desenvolvimento de nova compreensão do espaço e do conceito de região. Dos inúmeros


aspectos focalizados pela autora destacaremos dois pontos que nos parecem mais

diretamente relacionados com nosso estudo:

10 Silveira critica com propriedade os recortes espaciais baseados em critérios parciais

da espacialidade (recortes definidos por fronteiras político-administrativas, ou fenômenos

climáticos, ou características da morfologia vegetativa ou geológica, ou critérios da vida


econômica, ou distribuição demográfica. ou critérios culturais, étnicos e religiosos), típicos da
geografia tradicional. "A unilateralidade parcelária dos critérios utilizados para a delimitação

dos recortes espaciais" contribui para "o mascaramento da relação espacialidade-

temporalidade ''18.

20 A geografia crítica ao incorporar os conceitos do materialismo histórico redimensiona a

relação entre os elementos que participam da construção do espaço:

"Na medida que a espacialidade tem sua configuração determinada socialmente


pelo modo com que os homens se relacionam com a natureza, infere-se que
cada modo de produzir da sociedade produz simultaneamente uma organização
peculiar de espaço, que atenda ao sentido daquele Modo de Produção. A
relação espaço-tempo (processo histórico) resulta, pois, em que cada período
da História - periodicidade configurada a partir do Modo de Produção que

18 SilVEIRA. 1990, pág. 20/22.

25
estrutura a sociedade - produza um espaço específico. expressão da sociedade
que o organiza." (SILVEIRA, 1990, pág. 30/31)

As duas principais e imediatas consequências da incorporação destes postulados são


suficientes para a reversão daquele desalentador balanço historiográfico. A atualmente
dominante percepção e tratamento das categorias espaço/região, caracterizada pela marcante

atemporalidade e excessiva simplificação dos recortes. seria substituída pela consideração da


historicidade e complexidades destas categorias. Em primeiro lugar passaríamos a pensar as

unidades espaciais como resultado de combinações de múltiplos aspectos completamente


permeados por sua historicidade. Em segundo lugar rejeitaríamos os recortes espaciais
baseados em critérios parciais da espacialidade. que resultam em unidades sem identidade e,

portanto. incapazes de refletir especificidades de quaisquer natureza.

A construção de uma regionalização para Minas Gerais na primeira metade do século

XIX objetiva fornecer, aos pesquisadores do período, instrumental de investigação formulado


segundo aqueles postulados. As regiões resultam da combinação de elementos físicos,
humanos, econômicos e histórico-administrativos. Cada região foi definida pela peculiar

configuração destes elementos e, sobretudo, pela específica interpenetração entre eles.

Os itinerários e a Regionalização

Desta forma, utilizando exclusivamente o depoimento dos viajantes estrangeiros,


propomos a divisão da Província de Minas Gerais em 16 regiões distintas (ANEXO 4).

A superposição dos mapas que trazem a reconstituição dos itinerários de viagem

(ANEXO 3) ao mapa que apresenta os contornos das regiões (ANEXO 4) evidencia a


distribuição desigual da presença dos viajantes trabalhados. Algumas regiões foram
intensamente percorridas e tiveram quase todo o seu território coberto pelos itinerários, como
foi o caso da Região Mineradora Central: outras regiões foram razoavelmente visitadas e parte
expressiva de seu territórío foi coberto pelos itinerários, como foi o caso da Região do Sertão;
um terceiro grupo teve presença menor dos viajantes e substantiva parcela de seu território
não foi coberta pelos itinerários, como foi o caso da Região Sul; e um último grupo de regiões
ou foi visitada por número reduzido de viajantes (como foi o caso da Região do Sertão do

26
Urucuia), ou por um único viajante (como foi o caso da Região do Triãngulo), ou ainda sequer
foram atingidas pelos itinerários (Região do Vale do Médio-Baixo Rio das Velhas), todas com

grandes extensões de seu território não cobertas pelos itinerários.

A desigual distribuição dos itinerários de viagem não deve ser interpretada

mecanicamente como indício de maior ou menor volume de informação dos viajantes. Se é


verdade que aqueles primeiros grupos de regiões. que foram muito ou razoavelmente visitadas

e tiveram quase todo ou expressiva parcela de seu território coberto pelos itinerários, são as
com maior volume de informação; com relação aos dois outros grupos não existe a automática

queda do volume de informação na medida que decresce a presença do número de viajantes e


diminui a cobertura dos itinerários. Em outras palavras, uma série de fatores, das mais
variadas ordens, determinam a inexistência de regular proporção entre a presença maior ou
menor dos viajantes. bem como da cobertura dos itinerários de viagem. e o volume e qualidade

das informações correspondentes 19

Não obstante, grandes porções do território mineiro não foram cobertas pelos itinerários
de viagem e, ao mesmo tempo, figuraram com reduzido volume de informações indiretas
(aquelas que eram resultado dos depoimentos colhidos junto aos interlocutores locais e/ou

retiradas de bibliografia consultada20). Mesmo considerando que para parcela expressiva

destes territórios a precariedade ou total ausência de informações é em grande medida

resultado da cobertura dos viajantes compulsados21, para a maior parte destas áreas o volume
reduzido de informações é decorrência de suas próprias características. Estes territórios
exerciam atração relativamente menor sobre os viajantes em função de alguns fatores isolados

19 A sensibilidade. capacidade de concentração e perspicácia: a estabilidade da disposição de espírito: o ecletismo temático (a


variedade de áreas de interesse): a desenvoltura no relacionamento com os habitantes locais: a escolha certa da época de viagem
(a boa sorte com os elementos naturais); o acerto na definição dos Itinerários de viagem; e habilidade na produção de bons diários
de campo e registros de viagem são alguns dos principais fatores que conduzem a relatos de viagem ricos em informações. Estes
e outros tantos fatores, independente do tema focalizado pelos pesquisadores da obra dos viajantes. interferem decisivamente no
volume e qualidade das informações constantes nos relatos de viagem.

20 Os relatos sugerem que grande é o volume de informações de viagem que foram captadas de maneira indireta. Os viajantes
não limitavam-se a registrar aquilo que viam, tocavam, cheiravam e sentiam, mas também. o que ouviam e liam. Somente desta
forma poderiam incorporar o grande e valioso volume de informações referentes às áreas que não foram visitadas, próximas ou
distantes dos pontos alcançados pelos itineráriOS. A importância destas fontes utilizadas pelos viajantes. escritas e oraiS, também
configura importante aesafio para os pesquisadores que trabalham com seus relatos de viagem. Uma série de questões deveriam
ser consideradas, tais como: Qual a qualidade/confiabilidade da bibliografia consultada? Qual a perspectiva tinham da História
seus autores? Qual era o círculo de conVivência dos viajantes nas áreas visitadas? A que setores sociais pertenciam tais
individuos? Em que medida a posição social. formação profissional. atividades produtivas e valores culturais em geral dos
interlocutores locais interferiam nas informações prestadas aos viajantes?

27
ou combinados. Baixíssima densidade demográfica, presença de populações indígenas hostis,

agrestidade da formação natural e isolamento em relação às principais vias de comunicação

eram as razões principais a colocá-los fora do foco dos viajantes. Todavia, essas mesmas

razões acaüaram por se constituir em características essenciais na conformação da identidade

das regiões a que pertenciam estes territórios.

21 Talvez o melhor exemplo é o caso da Região do Vale ao Médio-Baixo Rio das Velhas que eSlava totalmente fora dos itinerários
dos viajantes trabalhados, mas que. na segunda metade do século XIX. foi percorrida em toda extensão que é cortada pelo Rio
das Velhas e recebeu considerável atenção do impetuoso explorador inglês Richard Burton (BURTON, 1977).

28
MINAS MULTIFACETADA: UMA PROPOSTA
DE REGIONALIZAÇÃO

As regiões mais a oeste da Província de Minas Gerais foram visitadas por 4 de nossos

viajantes. Este imenso território correspondia a uma circunscrição judiciária, a Comarca de

Paracatu.

Cruzando as partes dos itinerários situadas nesse enorme território com as 4 regiões que
propomos, observamos a distribuição regionalizada das incursões dos viajantes. Temos para a
porção norte a presença de Gardner e Spix/Martius, para a mediana Saint-Hilaire e Pohl, os

mesmos viajantes para a porção sul e, finalmente, Saint-Hilaire para a Região do Triângulo.
Destes 4 viajantes Saint-Hilaire é o único que dispensa, introdutoriamente, uma visão geral da

Comarca de Paracatu. Antes de passarmos às regiões vejamos algumas das características

mais gerais.

Saint-Hilaire fala da baixíssima densidade populacíonal e do pequeno número de centros


urbanos existentes na Comarca. "A Comarca de Paracatu não passa, pois, de um imenso
deserto ''22.

Este território é identificado ora como um deserto, ora como um sertão. Existiam áreas

desocupadas, com ocupação em processamento (colonização) ou ocupadas recentemente. O


arguto viajante francês associa o caráter dos habitantes desta porção de Minas Gerais com a
própria condição de isolamento e agrestidade da Comarca. Saint-Hilaire assinala que os rudes

habitantes da região desértica que se estende desde a Serra da Canastra até Paracatu

constituía a escória da Província de Minas23.

Quanto as atividades econômicas, constata-se a predominância do binômio agricultura e


pecuária. O autor destaca as imensas potencialidades da região decorrentes das facilidades

naturais aí encontradas.

Concluímos esta pequena introdução mais uma vez recorrendo à capacidade de síntese
de Saint-Hilaire. Após algumas lamentações e conclusões rancorosas, referentes a sua
passagem pela Comarca de Paracatu, assim encerra o capítulo XI:

22 SAINT-HILAIRE. 1975b, pág. 118.

23 SAINT-HILAIRE, 1975b, págs. 118 e 119.


"Entretanto, apesar das desanimadoras informações que acabo de dar sobre
minha viagem pela Comarca de Paracatu, não é menos verdade que essa
Comarca dispõe de todos os elementos propicias à riqueza e à prosperidade.
Não somente se encontram aí jazidas 3 ouro e diamantes. como também de
ferro e estanho. Diversas plantas fornecum ao homem salutares remédios, como
por exemplo a Quina-da-Campo, que já citei. As terras são férteis, e as imensas
pastagens poderiam alimentar numerosos rebanhos. Em vários pontos da
Comarca as águas minerais dispensam o criador de dar sal ao gado, gênero
esse tão caro no interior. Além do mais, essas águas poderiam ser utilmente
empregadas na cura de várias doenças que afligem a nossa espécie.
Finalmente, os campos são banhados por uma infinidade de rios e riachos, entre
eles o Paranaíba, que é uma das origens do Rio da Prata, e o São Francisco,
um dos maiores rios da América, os quais. em consequência, terão grande
importância para a exportação dos produtos do solo. Quando uma população
mais numerosa se disseminar por esta região hoje tão deserta, e quando, com a
ajuda de comunicações mais fáceis, o progresso chegar até ali, suas terras
poderão tornar-se florescentes". (SAINT-HILAIRE 1975b, págs. 123/124)

Aprofundemos agora a caracterização econômica desta porção de Minas Gerais.


Trataremos separadamente de cada região proposta, sem desconsiderar os pontos de
continuidade/aproximação entre elas. Acreditamos que a escassez, ou mesmo ausência, de
informações para vários pontos destas regiões. reflete, sobretudo, uma característica básica da
Comarca de Paracatu. Unânimes quanto a rarefeita, ou mesmo inexistente, ocupação de boa

parte do território da Comarca, os viajantes apontam para organização econômica embrionária.


Organização diferenciada revelando uma descontinuidade da ocupação e estágios distintos de
desenvolvimento das atividades econômicas. Passemos, portanto, a imediata apresentação
das 4 regiões propostas para a Comarca de Paracatu. E em seguida. das outras doze regiões.

Região do Sertão do Urucuia

Compreende o noroeste de Minas. Limitada ao norte pela Província de Pernambuco


(depois Bahia), a oeste pela Província de Goiás, a leste pelo Vale do Rio São Francisco e ao
sul pelos Rios Preto e Paracatu, esta imensa região é constituída por importantes afluentes do
Rio São Francisco. O maior deles, o Urucuia, emprestou o nome a região.

30
Spix & Martius, Gardner e O'Orbigny24 visitaram esta região em períodos distintos - os

primeiros ainda no periodo colonial/1818, O'Orbigny em 1833/34 e Gardner no fim do período


regencial/1840 - e em sentidos opostos. Gardner, vindo do norte. percorre parte do território
fronteiriço entre Minas e Goiás, acompanhando depois o Vale do Rio Urucuia até o Rio São
Francisco. Spix & Martius partem de Januária, caminham no sentido noroeste até Goiás,
depois de ligeira penetração em Goiás seguem o curso do Rio Carinhanha, divisor das
capitanias de Minas e Pernambuco, até o Vale do Rio São Francisco. O'Orbigny praticamente
repete o itinerário de Spix & Martius. porém em sentido contrário.

Antes de prosseguirmos são necessárias algumas palavras sobre um termo que já

apareceu anteriormente e surgirá associado a muitas das regiões de Minas Gerais: Sertão. Os
viajantes são quase que unânimes em adotar esta designação ao referirem-se a diversas

porções do território mineiro. E o que se entendia por sertão? Os sertões mineiros eram

regiões que apresentavam características múltiplas, adversidades múltiplas: a baixa densidade

populacional, a própria ocupação em processamento, a presença de populações indígenas


resistentes a assimilação da cultura branca - hostis ao contato com os brancos -, e a
agrestidade da formação natural são as mais indicadas nos relatos de viagem. Estes fatores,
combinados de forma diferenciada e apresentando especificidades inerentes a cada área,
conformavam a multiplicidade dos sertões mineiros. São os próprios viajantes que fornecem
estas características para cada sertão mineiro e traçam as espeficidades inerentes a cada um
deles.

Voltemos ao sertão do Urucuia. Sertão não só por assim identificarem Spix & Martius,
mas também, pela baixíssima ocupação, quase que total inexistência de centros urbanos,
incipiência da organização econômica e isolamento da região. Gardner, repetidamente, fala da
aridez da região percorrida; Spix & Martius, não com tanta ênfase, descrevem o clima e
vegetação da região como típicos do cerrado. Aproximam-se, novamente, Spix & Martius e

Gardner, quando registram a solidão, beleza e estado primitivo da vegetação encontrada. São
diversas as situações onde Spix & Martius revelam, paralelamente á caracterização do

território percorrido, uma profunda preocupação com a preservação da natureza ante o avanço
da civilização e a irreversível descaracterização das formações naturais:

24 SPIX & MARTIUS, vaI. 2,1981; GARONER, 1975 e O'ORBIGNY, 1976.

31
"(...) se iniciem estas investigações na terra fecunda. antes que a mão
destruidora e transformadora do homem tenha obstruido ou desviado o curso da
natureza (...) os subsequentes investigadores não mais obterão os fatos na sua
pureza das mãos da natureza, que já hoje, pela atividade civilizadora deste país
em vigoroso progresso, está sendo transformado em muitos respeitos (...) É
indescritível o encanto desta região (...) o qual é realçado pelo fato de não
parecer profanado pela mão da civilização (...) território deserto, onde não se
notava o menor vestígio de homem". (SPIX & MARTlUS. vai. 2, 1981, págs.
1021103/105/112)

As narrativas de viagem apontam para realidade onde a precariedade da ocupação


humana e quase ausência de atividades econômicas de maior vulto são indicadores de uma

área de fronteira25 Coincidem nossos viajantes ao assinalarem a existência de pequenas


unidades econômicas, isoladas e voltadas para auto-consumo. Ao mesmo tempo, Spix &
Martius acabam fornecendo uma indicação da atividade econômica que deveria ser o suporte
de uma ocupação mais consolidada: "pois os poucos colonos quase exclusivamente se

ocupam aqui de criação de gado''26.

Ainda cabe registrar, numa panorâmica visualização dos mapas dos itinerários de viagem

e quadro de localidades visitadas. que a Região do Sertão do Urucuia não aparece com

nenhum centro urbano assinalado. Não que o mapa não contenha possíveis localidades
visitadas, mas sim, pela realidade da própria ausência de centros urbanos registrados por Spix
& Martius, Gardner e D'Orbigny. Bastaria esta constatação, principalmente se confrontada com
regiões vizinhas, para percebermos o isolamento, solidão como dizem os autores, e incipiência

das atividades econômicas desenvolvidas neste imenso território.

Região de Paracatu

Esta região era limitada ao norte com o sertão do Urucuia (Rios Preto e Paracatu), a
oeste com a Província de Goiás, ao sul com um conjunto de serras (pilões, Andrequicé e Serra

25 As áreas de fronteira concentravam-se. sobretudo. nos extremos ocidentais e orientais ce Minas Gerais. Caracterizavam-se.
fundamentalmente. por ocupação em processamento. Constituiam-se. portanto. em fronteiras da ocupação. Variadas eram as
formas de colonização destes territórios. determinadas. principalmente. pelas atividades ecor,6micas dominantes. Nas fronteiras
onde preponderava a pecuária a ocupação processava-se. em geral. mais lentamente e a fixação da população era precária.
Quando a agricultura ou mineração era a atividade predominante. as fronteiras tendiam a cassar por um processo relativamente
rápido de ocupação. com grande fixação da população e formação de rede urbana.

26 SPIX & MARTIUS. vaI. 2. 1981, pág. 105.

32
do Mato da Corda) e a leste com a continuação destas cadeias montanhosas e o Vale do Rio

São Francisco.

Dois viajantes percorreram esta regiã027 Pohl visita sua porção extremo oeste - inclusive
a Vila de Paracatu - e a parte mais ao sul, próxima as serras citadas. Saint-Hilaire cruza toda
porção extremo-oeste, passando pela Vila de Paracatu.

A Região de Paracatu, principalmente sua porção norte, apresenta configuração algo

semelhante a do sertão do Urucuia. A contiguidade geográfica determina a aproximação das


duas regiões. Contudo, uma série de fatores confere identidade distinta a Região de Paracatu.

O primeiro deles liga-se a evidência de que uma parte desta região, a Vila de Paracatu e
sua área de influência, caracterizava-se por concentração significativa de atividades
econômicas mais consolidadas. vinculadas inclusive a sua ocupação que remonta ao século
XVIII. O segundo deriva do primeiro, Saint-Hilaire destaca às ligações da Vila de Paracatu com

Sabará e sua dependência em relação a esta. Ora, isto estabelecia comunicação significativa
entre os dois centros urbanos, o que exigiu o estabelecimento de rede de apoio ao longo dos
caminhos que os ligam, atraindo a ocupação ao longo desta linha de contato. O trajeto que

Pohl percorre ao sul da região, bem como as informações referentes as suas características,
confirmam o que foi dito: fazendas, ranchos e centros urbanos ligados ao tráfego de

mercadorias e as comunicações em geral são registradas pelo viajante austríaco. O terceiro


fator, que distanciava a Região de Paracatu do perfil do sertão ao norte, é sua vinculação
econômica com o vale do São Francisco, via Rio Paracatu. gerando rede de apoio ao longo do
percurso e estímulo a produção de gêneros para a comercialização com o vale. O último fator
é a presença de um número significativo de localidades visitadas pelos viajantes. de centro
importante que era a Vila de Paracatu, além da existência de atividades econômicas de maior
projeção, que revelavam consolidação da ocupação pelo menos em parte da região.

Percebemos no relato de Pohl, mas principalmente, nas informações de Saint-Hilaire,


uma agricultura bem desenvolvida e, em grande parte, voltada para o abastecimento de
mercados intra e inter-regionais, assim como para exportação para a Bahia. A criação de gado
também destaca-se em ambos os autores. A agricultura de subsistência convivia com
unidades produtivas maiores e geradoras de excedentes regulares. A Vila de Paracatu

27 SAINT-HILAIRE, 1975b e POHL, 1976.

33
absorvia parcela expressiva da produção de gêneros da agricultura e criação, assim como,
cumpria a função de mercado regional. concentrando e distribuindo a produção agropecuária.
Saint-Hilaire destaca as vinculações da região com o Vale do São Francisco: exportava

gêneros da terra, para o abastecimento do vale, e importava sal para o gado. A criação

também aparece caracterizada como atividade de porte e voltada para a exportaçã028,

principalmente couros para o Rio de Janeiro. Outros produtos surgem como gêneros de
exportação. A Região de Paracatu vinculava-se ainda com a parte sul de Minas. sobretudo
com São João Del Rei que desempenhava funções de entreposto entre a região e o Rio de

Janeiro, realizando trocas comerciais importantes.

Pohl fala do declínio da mineração de ouro na região. concentrada na área da Vila de

Paracatu e redondezas. Saint-Hilaire confirma a diminuição da extração sem contudo chegar


às afirmações de Pohl. A diminuição da população nas áreas de mineração e o esvaziamento

das lavras são identificadas por Saint-Hilaire. Porém, o autor diz que a mineração tem ainda
significativa importância, com a existência de grandes mineradoras. Dificuldades com mão-de-
obra escrava, falta de capitais e escassez de água para as lavagens (decorrência de
desmatamentos) são apontadas como os maiores obstáculos enfrentados pela atividade. Toda

produção aurífera era escoada para a Fundição Real de Sabará.

Este painel econômico confere relativo dinamismo a região. Sem dúvida que a área da
Vila de Paracatu desempenhava papel central na distribuição geográfica das atividades. Este
centro regional detinha nível mais elevado de atividade econômica e gerava importantes efeitos
em toda sua área de influência. Os demais pontos visitados caracterizavam-se por grande

dispersão das unidades produtivas, e, na medida que os viajantes distanciavam-se da Vila de

Paracatu e aproximavam-se das zonas de transição com o sertão do Urucuia e do

Indaiá/Abaeté, relatavam a rarefação da ocupação. As múltiplas ligações da Região de

Paracatu, com Goiás ao norte e oeste, com o Vale do São Francisco a leste, com a Região de
Araxá ao sul e com a porção central e sul de Minas contribuíam para uma maior ocupação da

região em relação ao sertão do Urucuia.

28 As constantes referências presentes no texto ao comércio de exportação devem ser ccnsideradas em várias possíveis
dimensões. Faremos referência ao comércio de exportação inter-regiões, inter-províncias ou mesmo para fora do pais. Muitas
vezes não será possível precisar e dimensionar o fluxo comercial, quando a origem ou cestino forem omitidos. Também
reportaremos ao comércio de exportação intra-região.

34
Região de Araxá

Novamente a contiguidade geográfica determina semelhanças entre regiões distintas.

Em alguns aspectos a Região de Araxá assemelha-se à Região do Triângulo. Porém, uma


série de fatores as distinguiam: a Região de Araxá tinha ocupação mais efetiva. a presença de

centros urbanos em maior número e mais significativos. além de organização econômica mais

consolidada. Ademais, a Região de Araxá mantinha vinculações bem mais importantes com o
centro sul de Minas e, por extensão, com o Rio de Janeiro.

Esta região era limitada ao norte por um conjunto de serras - a mesma que limita ao sul a

Região de Paracatu -, a leste por outro conjunto de serras - Canastra e Mato da Corda -, ao sul

pelo Rio Grande e a oeste pela Região do Triângulo. Dois viajantes cruzam esta região, ambos

no sentido sul-norte: Saint-Hilaire e Pohl29. Saint-Hilaire esteve em Araxá e informa-nos sobre


a ocupação da área do principal centro urbano da região.

Uma atividade econômica preponderava na região, chegando inclusive a caracterizá-Ia: a


criação de gado era disseminada e gerava excedentes significativos.

"Por outro lado, vendem evidentemente um bom número de animais, já que, a


fora a região do Rio Grande, essa parte de Minas Gerais é a que fornece o
maior número de bois à capital do Brasil". (SAINT-HILAIRE 1975b, pág. 126)

É destacada a existência de intermediários. negociantes da Comarca São João Del Rei -


algumas localidades das regiões Intermediária de Pitangui-Tamanduá e Sul funcionavam como
entrepostos comerciais da Região de Araxá com o Rio de Janeiro -, que controlavam o
comércio de gado com a Capital Imperial. A região apresentava facilidades para a criação
devido a existência de boas pastagens, águas minerais que dispensavam o sal e terras

disponíveis. Saint-Hilaire fala de grandes propriedades. plantéis escravistas pequenos e


rebanhos médios. Criavam-se também rebanhos de carneiros e porcos, voltados para a
exportação. Saint-Hilaire encontra-se com grande carregamento de toucinho vindo da Região
de Araxá. A presença de grandes trechos carroçáveis na estrada que ligava a Região de Araxá
ao centro e sul de Minas e ao Rio de Janeiro, facilitava o escoamento da produção.

29 SAINT-HILAIRE. 1975b e POHL, 1976.

35
Além da criação. nossos autores registraram a grande disseminação da agricultura de

subsistência. Saint-Hilaire destaca. também. a importância do comércio de víveres com a Vila


de Paracatu, principalmente da pc:ão norte da Região de Araxá .. ~ algodão aparece come

gênero de exportação. destinado a Capital Imperial. Existem vária,; referências à produção

doméstica de tecidos grosseiros de lã e algodão.

Dentro das características apontadas para a Região de Araxá uma revela sua condição
de território de ocupação recente e em processamento. ou seja, a predominância de população
branca. Saint-Hilaire confirma esta condição ao situar a ocupação da nova colônia como uma
verdadeira epopéia, bem ao estilo dos pioneiros do oeste americano.

"Criminosos perseguidos pela justiça, devedores insolventes. agricultores cujas


terras já não produziam com a mesma abundância e outros que nem terras
possuíam acorreram para alí em massa. As famílías se reuniam em grupos. para
que pudessem atravessar com mais segurança regiões despovoadas até chegar
ali". (SAINT-HILAIRE. 1975b, pág. 128)

É Saint-Hilaire quem melhor caracteriza os centros urbanos da região que, segundo ele,

não fogem aos padrões de Minas Gerais. A população fixa dos centros urbanos era constituída
majoritariamente por artesãos, comerciantes, "vagabundos" e prostitutas. O serviço religioso
dominical motivava a ocupação das residências urbanas pelos fazendeiros, que as mantinham

fechadas durante a semana.

Região do Triângulo

Se o território da região anteriormente tratada correspondia mais ou menos ao que era o


Julgado de Araxá, a que agora trataremos coincidia mais ou menos com o antigo Julgado do
Desemboque. O território compreendido entre os rios Paranaíba e Grande era uma
continuação natural da Região de Araxá. Mantinha suas caracteristicas básicas, diferenciando-
se, contudo, por sua ocupação mais rarefeita, por rede urbana bem menor, maior isolamento e
vinculações mais tênues com o centro-sul de Minas Gerais. Extremo oeste de Minas, o
Triângulo constituía-se, certamente, em região de fronteira. Temos apenas as referências de

36
Saint-Hilaire3o para esta região e somente para sua porção leste. Assim descreve o viajante a

área visitada:

"A reg/ao que eu ia percorrer antes de entrar na Província de São Paulo,


constituída pelo trecho entre o Paranaíba e o Rio Grande, tem cerca de 30
léguas de extensão. Forma um distríto privilegiado de 3 léguas de largura. o
qual, como veremos mais adiante, foi concedido aos descendentes de várias
tribos indígenas e é composto de terras de excelente qualidade". (SA IN T-
HILAIRE, 1975c, pág. 128)

Saint-Hilaire dedica muitas considerações a estes indígenas. Discorre sobre suas

origens, sua composição (existia grande número de indígenas mestiços com negros), suas

atividades de subsistência, geradoras de algum excedente comercializável, alguns aspectos de


suas culturas. e dificuldades no convívio com os brancos.

Existiam conflitos entre os índios e os fazendeiros que cobiçavam suas terras. Saint-

Hilaire enfatiza as dificuldades enfrentadas pelos indígenas que eram submetidos a constante

pressão dos brancos.

Saint-Hilaire ao descrever a porção mais ao sul, próxima a Uberaba, suas atividades

econômicas e vinculações comerciais, caracteriza também os habitantes e suas origens:

"Achei suas maneiras bem mais rudes que a dos fazendeiros das vizinhanças de
Vila Ríca, fazendo lembrar as de nossos burgueses rurais da mesma época. ou
então as dos agricultores de Araxá, Formiga e Oliveira. De resto, essa
semelhança nada tinha de extraordinário. pois era principalmente desses
lugares que tinham vindo os colonos de Farinha Podre". (SAINT-HILAIRE,
1975c, págs. 151/152)

A presença dos índios, legalmente estabelecidos. convivia com crescente ocupação


branca que pressionava-os. A criação de gado, ovelhas e porcos constituíam-se nas atividades
centrais da área de Uberaba. Negociava-se com a capital através de intermediários vindos de
Formiga. Gêneros da terra também tinham alguma expressão. sendo o algodão o único
exportado, devido as dificuldades decorrentes do isolamento da região.

30 SAINT-HILAIRE, 1975c.
Região do Sertão do Indaiá-Abaeté

A extensa região que estamos chamando de Sertão do Indaiá-Abaeté, dois importantes


rios diamantíferos, caracterizava-se pela baixíssima densidade populacional, agrestidade da
formação natural de boa parte de seu território (matas fechadas). e organização econômica

embrionária. Esta região era limitada a oeste por um conjunto de serras que a separava da

Região de Araxá, ao sul pelo Rio Grande, a leste pelo Vale do Alto São Francisco e a norte

pelo prolongamento da mesma cadeia situada a oeste.

Três viajantes estiveram nesta regiã031. Saint-Hilaire cruza sua porção extremo-sul, no

sentido leste-oeste. Pohl, no mesmo sentido, um pouco acima. também cruza a região: retoma
pelo norte até a Real Mina de Galena do Abaeté, percorre o vale do Rio Abaeté e depois desce
o Rio São Francisco até a confluência com o Rio das Velhas. Freireyss, vindo de Ouro Preto,
cruza a porção mediana da região até a mina visitada por Pohl. retornando pelo mesmo

itinerário.

Os três autores referem-se a região como um sertão. Todavia. depreende-se alguma

diferença entre a porção sul do Sertão do Indaiá-Abaeté e sua porção norte. A maior
movimentação comercial e das comunicações em geral tornam a parte sul mais ocupada. com
maior inserção no mercado dos fazendeiros locais. Já a porção norte aparece completamente
isolada, não só pela precariedade das comunicações, mas, principalmente, em função das

dificuldades decorrentes das condições naturais.

Saint-Hilaire fala em região deserta, Freireyss refere-se a lugares desabitados e deserto

interminável, Pohl passa dias de viagem tendo contato com pouquíssimos habitantes,
dificuldades com viveres e sem nenhuma menção a qualquer atividade produtiva significativa.

Apesar das diferenças existentes entre as porções sul e norte, os viajantes coincidem ao

caracterizar a região como um sertão.

Ao que tudo indica, a cobertura vegetal predominante na região era a de florestas. que
eram derrubadas para o cultivo e a criação. A parte sul da região revela a maior incidência de

31 SAINT-HILAIRE, 1975b: POHL, 1976 e FREIREYSS, 1982.

38
unidades produtivas e alguma vinculação com o centro-sul de Minas. Ao mesmo tempo, os

autores são coincidentes em afirmarem a pequena utilização das potencialidades da região.


Saint-Hilaire fala em grandes propriedades, auto suficientes e geradoras de excedentes

comercializáveis. Criação de gado e agricultura de subsistência destacavam-se. A criação


bovina respondia pelas exportações, via intermediários que compravam o gado na região. A
caça também tem sua importância, na alimentação e peles para exportação.

Já a porção norte da região apresentava a cobertura vegetal mais intacta, baixíssima

vinculação com outras regiões da província e densidade populacional menor. Área


diamantífera, teve sua primeira e rarefeita ocupação ligada a mineração, passando
posteriormente ao controle/monopólio real quando interditou-se a procura de diamantes na

região. Pohl e Freireyss visitam a Real Mina de Galena de Abaeté. empreendimento levado a

frente pelo famoso mineralogista alemão Barão de Eschwege, mas que, após inúmeros

problemas, acaba desativada. A parte percorrida por Pohl, ao longo dos Rios Abaeté e São

Francisco, caracterizava-se por ocupação precária, poucos estabelecimentos produtivos e


vegetação vigorosa e intacta.

Região Intermediária de Pitangui-Tamanduá

Introduzimos aqui uma nova categoria: Região Intermediária. Os viajantes que


percorreram esta região a caracterizam como sendo de transição. de regiões mais densamente
povoadas e de maior dinamismo econômico (Mineradora Central e Sul), para uma região de
vazio demográfico e baixíssima exploração econômica (Sertão do Indaiá-Abaeté). Configura-se
assim, gradativa substituição dos elementos que conferem identidade as regiões Mineradora
Central e Sul, e a simultânea e progressiva manifestação das características próprias ao

Sertão do Indaiá-Abaeté. Os viajantes e suas rotas de viagem apontam para ocupação no

sentido leste-oeste, reforçando a transição gradual que a regionalização evidencia.

Limitada ao sul pelo Rio Grande. a oeste pelo Vale do Alto São Francisco, a norte pelo
Vale do Médio Rio das Velhas e a leste pelo contorno da Região Mineradora Central, a Região

39
Intermediária de Pitangui-Tamanduá foi percorrida por 3 viajantes32 Como já dissemos, todos

no sentido leste-oeste.

Saint-Hilaire supera Pohl e Freireyss na caracterização desta região. Apesar c:


coincidirem na percepção da progressiva diminuição da população. das propriedades e
atividades econômicas na medida que se distanciavam das regiões mais importantes da

província, é Saint-Hilaire quem melhor delineou a identidade desta região. Uma estrutura
fundiária concentrada é revelada pelos viajantes, com grandes unidades produtivas e a baixa

utilização dos recursos econômicos existentes na região. A criação, característica marcante da

Região Sul e a mineração aurífera da Região Mineradora Central. são atividades também

incidentes na Região Intermediária de Pitangui-Tamanduá. porém, com importância


relativamente menor. A criação de gado é algo importante, a criação de suínos destaca-se na
porção sudoeste da região e na área de Pitangui, o algodão tem alguma expressão, a cana-de-

açúcar é produto bastante cultivado e o fumo é artigo de exportação de Tamanduá. Mas são as
relações comerciais que aparecem com maior destaque, principalmente na porção sul da

região.

Saint-Hilaire enfatiza a grande confluência das comunicações e relações comerciais para


a área de Formiga, Tamanduá e Oliveira. Centros importantes como intermediários entre a
Região do Sertão do Indaiá-Abaeté, regiões dalém sertão e mesmo províncias a oeste de

Minas, em relação a São João Del Rei/Barbacena e a Capital Imperial. As importantes relações
com o Sertão do Indaiá-Abaeté (abastecimento de víveres), regiões e províncias dalém sertão
(intermediação comercial), com o destaque para as figuras dos negociantes, marcam estas
localidades. Estes comerciantes compravam a produção das regiões a oeste e revendiam para
a Cidade do Rio de Janeiro, retendo grandes lucros que eram empregados na compra de

artigos importados e gêneros escassos no sertão e regiões dalém sertão.

32 SAINT-HILAIRE. 1975b; POHL. 1976 e FREIREYSS. 1982.

40
Região do Vale do Médio-Baixo Rio das Velhas

Região que como o próprio nome indica compreende a maior parte do Vale do Rio das

Velhas. incluindo uma série de tributários.

Nenhum de nossos viajantes percorreu a região. Apesar de central e vizinha das regiões

de ocupação mais antiga e mais densamente povoadas, a Região do Vale do Médio-Baixo Rio

das Velhas pouca atenção recebeu dos viajantes consultados.

o silêncio sobre este território só não é total porque temos nos dois pontos extremos da

região - confluência do Rio das Velhas com o São Francisco, e seu ponto mais meridional,
transição com a Região Mineradora Central - informações que apontam para pelo menos uma
característica do Vale do Médio-Baixo Rio das Velhas. Barra do Rio das Velhas na Região do

Vale do Alto-Médio Rio São Francisco, ao norte e Santa Luzia e Sabará, a segunda

pertencente a Região Mineradora Central, ao sul apresentavam atividade comercial que


apontava para expressiva movimentação ao longo do Rio das Velhas. Não que toda atividade

mercantil destes centros estivesse reduzida a esta movimentação, já que outras rotas
comerciais confluíam para estes pontos. Porém, segundo informações de Pohl para Barra do

Rio das Velhas, Saint-Hilaire para Santa Luzia e Gardner para Sabará33, existia fluxo comercial
de relativa importância cruzando a região. Possivelmente o próprio Rio das Velhas, navegável
a embarcações de algum porte naqueles tempos. constituía-se em rota comercial que ligava o
norte de Minas ao centro-sul da província, e indiretamente com a Capital Imperial.

Por que nenhum de nossos viajantes utilizou-se desta rota, provavelmente via de
comunicação mais rápida entre o norte e o centro/sul de Minas? O fato de estarmos
trabalhando com parte do universo de viajantes que estiveram em Minas no período, existindo
ainda um número expressivo de relatos que não foram compulsados, deixa em aberto a

possibilidade de que outros possam ter optado por esta via34. No caso dos relatos analisados
constatamos a predileção por outra rota. Todos os viajantes, vindos do norte do país ou

33 SAINT-HILAIRE, 1974a; POHL, 1976 e GARDNER. 1975.

34 Como mencionamos anteriormente. na segundo metade do século, um viajante inglês desce o Rio das Velhas de Sabará à sua
desembocadura no Rio São Francisco. BURTON. 1977.
partindo da Cidade do Rio de Janeiro, que visitaram as regiões do norte de Minas estiveram na
Região do Distrito Diamantino. A inclusão desta região diamantífera em seus itinerários de

viagem esteve sempre acompanhada da opção por outra rota, paralela à do Vale do Río das

Velhas.

Região do Vale do Alto-Médio São Francisco

Compreende o Vale do Rio São Francisco, da foz do Rio das Velhas até a fronteira de

Minas com a Bahia/Pernambuco. Cinco viajantes35 visitaram o vale: Pohl na sua porção mais
ao sul, confluência com o Rio das Velhas: Gardner na altura de São Romão: Spix/ Martius,

Saint-Hilaire e D'Orbigny estiveram na área de Januária36; e Spix/Martius e D'Orbigny visitaram

a parte extremo norte da região. divisa de Minas com a Bahia/Pernambuco.

As características mais importantes desta região relacionam-se à sua localização


estratégica e recursos naturais. A fertilidade do vale, anualmente renovada com as enchentes,

favorecia a agricultura. Os viajantes destacam a produção de algodão, cana-de-açúcar e

víveres em geral (milho, feijão, mandioca, etc), todas geradoras de excedentes. Spix/Martius

informam da importância do cultivo da cana no vale, as facílidades advindas da fertilidade do

solo e da transformação que se processava na própria região:

"(...) Para beneficiar esse produto. acham-se, ao longo do Rio São Francisco,
numerosos pequenos engenhos, nos quais entretanto muito pouco açúcar
branco se fabrica, e quase exclusivamente rapadura parda, sendo a maioria
desta despachada rio abaixo para a Provincia da Bahia". (SPIX & MARTIUS, vaI.
2, 1981, pág. 91)

A criação bovina também era importante. A pesca era atividade disseminada por todo o
vale e seu produto constitui a-se em objeto de comercialização. Mas é o Rio São Francisco,
antiga e importante via de comunicação, que eleva a região a condição de privilegiada rota

35 SAINT-HIlP,IRE. 1975a: SPIX & MARTIUS. vol. 2.1981: POHL. 1976: GARONER. 1975 e O'ORBIGNY, 1976.

36 Januaria eleva-se a condição de vila em 1833. Contudo, a sede da vila foi mudada varias vezes ao longo do seculo XIX:
situando-se ora no povoado de Porto do Salgado. nas margens do Rio São Francisco, ora no arraial de Nossa Senhora do Amparo
do Brejo do Salgado, a aproximadamente 6 quilômetros do Rio São Francisco. Quando tra:armos genericamente da Vila de
Januaria, estaremos referindo ao conjunto Brejo mais Porto. Ver BARBOSA, 1971.

42
comercial, com atividades mercantis de grande vulto. O Rio São Francisco constituía-se em

rota preferencial de escoamento dos produtos de várias regiões para as províncias do nordeste

do Brasil.

Vejamos, separadamente, descendo o rio. cada área com seus centros urbanos mais
importantes. Pohl passa no extremo-sul da região, caracterizando o arraial de Barra do Rio das
Velhas como importante pólo comercial. "Este arraial é muito conhecido pelo seu amplo tráfego

comercial, principalmente pelos seus consideráveis depósitos de sal''37. Barra recebia o sal que
subia o rio e desempenhava o papel de distribuidora, principalmente para a regiões do Sertão e

Minas Novas. Da mesma forma comercializava mercadorias vindas de Ouro Preto. Pohl
menciona ainda a grande produção de algodão em Extrema, a criação de bovinos e a pesca e
salga de peixe, geradora de excedentes comercializáveis. Saint-Hilaire não esteve em Barra,

porém. tece algumas considerações sobre o arraial. Fala de seu dinamismo comercial, do
papel de intermediadora do comércio de sal e de suas relações com Diamantina, Vila do
Príncipe e Ouro Preto.

Gardner visita São Romão, assim referindo-se a ocupação de seus habitantes:

"A maior parte dos habitantes respeitáveis são negociantes que fornecem aos
fazendeiros e aos residentes dos arredores mercadorias européias e outras. Não
se pode dizer que a vila tenha comércio próprio: a principal base do tráfico é
peixe apanhado no rio, que, salgado e seco, se vende aos sertanejos,
especialmente amigos deste alimento". (GARONER. 1975, pág. 188)

A pesca era atividade vultosa. Novamente o sal aparece como mercadoria importante,

que trocada "em parte por dinheiro, em parte por fumo, couros, etc''38, constituía-se em
importante artigo intermediado pelos comerciantes de Januária.

Saint-Hilaire, Spix/Martius e D'Orbigny estavam de acordo ao caracterizarem Januária


como próspera e em acelerado crescimento. A fertilidade de suas terras, especialmente do
Brejo do Salgado, que situava-se a uma légua do porto, e sua intensa atividade comercial
conferiam a Januária destacada importância na Região do Vale do São Francisco. Todos os
três autores comentam o papel de intermediação comercial desempenhado por Januária:

37 POHL, 1976. pago 321.

38 GARDNER. 1975. pago 190.


recebia o sal que subia o rio - Saint-Hilaire detalha um pouco mais. citando os gêneros que

eram trocados por tão valiosa mercadoria: "açúcar e a aguardente são os principais gêneros
que Salgado oferece em troca aos mercadores do S,:. ',9 - e distribui", para o Sertão e (30iás.
auferindo lucros significativos em tais transações. F;;::am da existência de grande núrr.aro de

engenhos nas redondezas, da valorização da terra e de plantéis escravistas numerosos. Tudo


refletindo prosperidade, unanimemente percebida. Spix/Martius falam de Januária como "porto

central para a navegação do Rio São Francisco''40, reforçando novamente a importância

desempenhada pelo rio como via de comunicação e comercialização. Por fim. mereceria algum

destaque o peixe salgado para exportação.

No extremo-norte da Região do Vale do São Francisco situavam-se duas dinâmicas


localidades: Carinhanha e o Registro de Malhada. Carinhanha. já na Província de Pernambuco
(depois Bahia), também reflete a vitalidade do rio enquanto via de comunicação e
comercialização. O comércio de sal aparece com destaque, assim como a criação de gado.
Malhada, Registro de fronteira. além do comércio de sal, controlava as importações e
exportações mineiras que realizavam-se pelo rio. Spix/Martius informam, para alguns meses
do ano de 1816/1817, os gêneros importados e exportados. "Objetos de fabricação européia,
principalmente tecidos" e o sal constituíam-se nos principais produtos importados. Gado
vacum, cavalos, rapaduras, farinha de mandioca e algodão. os principais produtos exportados,

destinados a Bahia e Pernambuco.

Região do Sertão

Engloba a porção central do grande norte de Minas. Limitava-se a oeste com o Vale do
São Francisco. ao sul com o Distrito Diamantino, a leste com um conjunto de serras e ao norte

com a Província da Bahia. Cinco viajantes estiveram nesta regiã041. Todos não só a
caracterizaram como um deserto. como também a denominaram de sertão. Sertão pela
incipiente exploração econômica e pela aridez do clima/vegetação. Pohl, Gardner e D'Orbigny

39 SAINT-HILAIRE, 1975a. pág. 347.

40 SPIX & MARTIUS, vaI. 2. 1981. pág. 91.

41 SAINT-HILAIRE. 1975a; POHL. 1976; SPIX & MARTIUS, vaI. 2.1981; GARDNER. 1975 e D'ORBIGNY, 1976.

44
cruzam a região no sentido oeste-leste. Spix/Martius no sentido oposto e Saint-Hilaire em

ambos os sentidos.

Os autores coincidem ao descreverem a Região do Sertão como um deserto devido a


baixa densidade populacional observada. Saint-Hilaire e Spix/Martius se confirmam ao
informarem sobre a composição racial dos habitantes do Sertão. Vejamos o que dizem
Spix/Martius:

"Ademais, só a mínima parte dos sertanejos é de origem puramente européía: a


maioria consta de mulatos. na quarta ou quinta geração: outros são mestiços de
índios com negros ou de europeus com índios. Escravos negros são raros,
devido à miséria geral dos colonos: os trabalhos da lavoura e da criação de gado
são feitos pelos próprios membros da família". (SPIX & MARTlUS. vai. 2, 1981,
pág. 76)

A predominância do trabalho livre e a estrutura da posse de escravos concentrada são

características do Sertão. A miséria, indigência do sertanejo, convive com poderosos

proprietários, donos de grandes extensões de terras e impressionantes atividades econõmicas.


Saint-Hilaire ao criticar a estrutura fundiária do Sertão focaliza esta marcante contradição:

"Sente-se que a imensa extensão das fazendas deve constituir o maior


obstáculo ao crescimento da população, e ser considerada um grande mal.
Colonos estrangeiros não se podem estabelecer no sertão oriental, porque, se
não me engano, as vastas solidões desta região já tem todas proprietários".
(SA INT-HILA IRE, 1975a. pág. 363)

Todos os viajantes, com maior ou menor ênfase, caracterizaram esta convivência entre o
pequeno colono. o sertanejo miserável, e o grande proprietário. Uma agricultura para auto-
consumo lado a lado com grandes unidades produtivas geradoras de significativos excedentes.
Vários seriam os exemplos destas grandes fazendas, ilustremos com uma visitada por Pohl:
Engenho, moinho de azeite, fábrica de açúcar. alambique e refinaria de açúcar, moinho de
farinha de trigo. moinho de farinha de milho. moinho de farinha de mandioca, máquina para
triturar as raízes da mandioca, forno para secar farinha, pocilgas para engorda de porcos,
estábulos para ovelhas, curral para vacas, curral para bezerros, pomares. plantações de café e

trigo, hortas, cultivo de plantas medicinais, vinhas e canaviais, eram algumas das instalações,
cultivos e criações destacadas por Pohl. Saint-Hilaire esteve na mesma fazenda e ainda

45
acrescentou a fiação doméstica. a existência de uma forja e a autonomia da fazenda. que só

importava sal.

O cultivo de cana-de-açúcar e a existência disseminada a~ engenhos é relatada por


todos os viajantes. Saint-Hilaire fala inclusive da boa adaptabilidade da cana no Sertão. O
algodão era cultivado na área de Contendas e exportado para a Bahia.

Mas é a criação a grande atividade econômica do Sertão. Todos os autores falam da


criação de gado vacum e cavalar como atividade bastante difundida e geradora de comércio

importante. A existência de boas pastagens e terras salitrosas, que dispensavam a aquisição

do sal pelo criador, são apontadas como as grandes facilidades para o crescimento da
pecuária. Os viajantes apontam a Bahia como o destino principal do gado e cavalos. A

exportação de peles era importante. Da mesma forma exportava-se couros para Minas Novas,

onde eram utilizados na embalagem do algodão.

O salitre era outro produto de destaque. Proporcionava grandes lucros, era


beneficiado/preparado na própria região, e tinha como destino as fábricas de pólvora de Ouro

Preto e da Cidade do Rio de Janeiro.

Dos cinco autores que visitaram a Região do Sertão, quatro estiveram em Montes Claros

e relataram a importância deste centro como pólo comercial. Com população variando entre
800 a 1000 habitantes, Montes Claros concentrava o comércio de gado e cavalos, couro e
peles e sobretudo salitre. Gado e cavalos negociados com a Bahia, couros com Minas Novas.
e salitre com o Rio de Janeiro e Ouro Preto. Recebia expressivo fluxo de artigos europeus,
vindos sobretudo da Bahia e Rio de Janeiro. As fazendas das redondezas criavam gado e

cavalos, possuíam engenhos e culturas de subsistência.

Região do Termo de Minas Novas

Compreendendo a porção nordeste de Minas, esta região trazia a marca de uma


circunscrição judiciária. Pohl, Spix/Martius, D'Orbigny e Saint-Hilaire42 os quatro viajantes que
a percorreram, denominaram-na de Região do Termo de Minas Novas. A concordância com o

42 SAINT-HILAIRE. 1975a; POHL, 1976; SPIX & MARTlUS. vaI. 2.1981 e D'ORBIGNY. 1976.

46
território desta subdivisão da antiga Comarca do Serro Frio revelava que a combinação

específica dos aspectos físicos. humanos. econômicos e histórico administrativos que

conferiam identidade a região coincidiam com a delimitação do Termo de Minas Novas. o que

na maior parte das vezes não acontecia.

Esta região abarcava o Vale do Rio Jequitinhonha, com seus principais afluentes. e a

parte mineira do Vale do Rio Pardo. Ao norte e a leste era limitada com a Bahia, a oeste com

um conjunto de serras que separava o Termo de Minas Novas do Sertão - não impedindo,
porém, que existissem fortes semelhanças entre as zonas de transição de uma região para
outra -, e ao sul com outro conjunto de serras que separava o Vale do Jequitinhonha do Vale
do Mucuri e Doce - onde a presença de indigenas e o processo de colonização também
aproximavam o sul do Termo de Minas Novas da região vizinha.

Saint-Hilaire e Spix/Martius descrevem com clareza a diversidade da composição vegetal


do Termo de Minas Novas e as decorréncias econômicas desta variação. Matas, cerrados,
caatingas e campos formam o eclético quadro da vegetação da região: áreas favoráveis a

agricultura, nas matas da parte oriental; áreas muito propícias a cultura algodoeira, nas
caatingas da parte ocidental; e os campos e cerrados, da parte ocidental. propícios à criação.

Com baixa densidade demográfica, o Termo de Minas Novas apresentava sua população
concentrada nas áreas ribeirinhas, revelando o papel desempenhado pelos rios como vias de

comunicação e comércio, além da fertilização da terra. O Rio Jequitinhonha não só era


importante corredor comercial. mas também constituía-se em principal via de ocupação da
porção oriental da região, habitada por índios em processo de civilização. Os viajantes que
visitaram a região mencionaram o papel do Estado português no estímulo a colonização,
principalmente através da isenção de impostos para os colonos. Afinal, como deixam claro
nossos viajantes, os verdadeiros ocupantes de boa parte do território do Termo de Minas
Novas eram índios, e muitas vezes pouco afeitos ao convivio com os civilizados. Botocudos,
Maxacalis, Malalis e Macunis são as nações citadas. Sendo que a primeira recebeu muito mais
atenção dos viajantes, não só por seu exotismo e grande número, assim como por sua suposta
agressividade e antropofagia. Já a população não-indígena era predominantemente mestiça.

Saint-Hilaire fala de estrutura fundiária concentrada, destacando novamente as grandes

unidades produtivas.

47
Algodão, criação de gado e cavalos. cultivos para auto-consumo ou abastecimento de
mercados intra-regionais. pedras preciosas e a mineração aurífera em acelerado processo de
retração compunham o quadro econômico da região.

o cultivo do algodão aparecia como a atividade mais florescente. disseminada e que

imprimia uma característica singular a região. Saint-Hilaire aponta as paróquias de Minas


Novas, Água Suja, São Domingos. Chapada e São Miguel como as mais ligadas ao cultivo do

algodão. Favorecido por condições climáticas e de solo, o algodão do Termo de Minas Novas

era bastante produtivo. O beneficiamento (descaroçamento) era. em parte, iniciado na região.


Destinava-se à Bahia e. sobretudo. ao Rio de Janeiro. entrepostos da exportação para outros

países. Spix/Martius mencionam os grandes lucros que auferiam os comerciantes estrangeiros.


que participavam ativamente deste comércio. Segundo Spix & Martius. Saint-Hilaire e
D'Orbigny o arraial de São Domingos era o "entreposto principal do comércio de algodão. com
a Bahia''43

A Vila de Minas Novas, Sucuriú, São Domingos e Chapada apresentavam expressiva


indústria têxtil doméstica, com a fabricação de tecidos e cobertores. Parte para auto-consumo
e parte exportada para outras regiões mineiras. Também o algodão em rama ou apenas
descaroçado era remetido para outros pontos da província. onde era beneficiado e
transformado. Estes fluxos de algodão bruto atestam o vigor da indústria têxtil doméstica

mineira.

A criação de gado e cavalos era atividade econômica de destaque na porção ocidental da


Região do Termo de Minas Novas, constituindo-se em natural extensão da criação do Sertão.

A cata de pedras preciosas era algo vultosa. Presente em vários rios da região. gerava

comércio significativo. Chapada era importante centro de lapidação. O destino das pedras era
o Rio de Janeiro e Bahia. A mineração aurífera, mesmo que reduzida em relação aos níveis
anteriores, ainda era relevante em algumas localidades. Chapada por exemplo. e no Rio

Arassuaí.

Algu:nas localidades, situadas na porção sudoeste da região. caracterizavam-se por


agricultura voltada para a produção de víveres, destinados a Vila de Minas Novas e ao Distrito

43 SPIX & MARTIUS, 1981. vaI. 2. pág. 70.

48
Diamantino. Cana-de-açúcar e a presença de engenhos são anotados para diversos pontos da

região.

Saint-Hilaire visitou as famosas forjas do Bom Fim, na parte extremo-sul da região.


Tratou da técnica de fundição, da composição da mão-de-obra (escrava e livre assalariada),
produtos fabricados (voltados para a agricultura, transportes e mineração) e o destino da

produção (Diamantina e, principalmente, Termo de Minas Novas).

A Vila de Minas Novas era o principal centro urbano da região. Com população em torno
de 2.000 habitantes, desempenhava funções administrativas. era inclusive a cabeça do Termo,

e constituía-se em importante centro comercial.

Região do Distrito Diamantino

Pohl, D'Orbigny, Gardner, Mawe, Spix/Martius e Saint-Hilaire estiveram nesta regiã044.

Compreendendo mais ou menos o território da Demarcação Diamantina. com a incorporação


da Vila do Príncipe e arredores, esta região traz a peculiaridade da extração de diamantes e de
presença marcante do Estado. Mesmo tendo em conta a existência de outras áreas
diamantíferas em Minas Gerais, e são os próprios viajantes que disto nos informam, é a
Região do Distrito Diamantino que, durante os séculos XVIII e XIX. trará a especificidade da

mineração de diamantes como principal atividade econômica. O monopólio da extração, que


perdurava desde o terceiro quartel do século XVIII, é quebrado alguns anos após a
independência, abrindo a possibilidade de atuação da iniciativa privada. Contudo, os viajantes
que mais atenção dedicaram a região a percorreram ainda no período colonial, com a

Administração Diamantina em pleno funcionamento.

Nossos viajantes deram grande ênfase ao ostensivo controle estatal. relatando de forma

circunstanciada o funcionamento da Administração Diamantina. O complexo aparato montado


pela Metrópole visava não só a maior eficiência possível na extração das gemas, mas,
sobretudo, a manutenção do estrito monopólio real e o combate rigoroso ao extravio. Porém,

44 SAINT-HILAIRE, 1974a; POHL, 1976; D'ORBIGNY, 1976; GARDNER. 1975; MAWE. 1978 e SPIX & MARTIUS, vaI. 2.1981.

49
os viajantes são unânimes em criticar o gigantismo da burocracia e a ineficiência e corrupção

que assolava a Administração como um todo.

A esterilidade do solo. o clima árido e as restrições impostas pelo Estado. que impedia o
desenvolvimento de atividades que concorressem com a extração ou favorecessem o
contrabando, determinaram a necessidade de importação de gêneros básicos pela região.
Diamantina (Tijuco). centro administrativo e econômico da região. refletia perfeitamente este
quadro. Com população estimada em 6.000 habitantes - expressiva população, considerados
os padrões do interior do Brasil -, esta vila era abastecida externamente de gêneros de
primeira necessidade. através do constante movimento de tropas. O resultado era a drenagem

da riqueza para as mãos dos negociantes privados, que assumiam a função de atendimento
deste grande e com alto poder aquisitivo mercado. Mawe. ainda na primeira década do século,
criticou a existência de monopólio de negociantes privados que. via abastecimento da
Demarcação. acabavam sugando os recursos da Administração Diamantina. Gardner, no fim

da quarta década do século, momento onde a iniciativa privada já participava ativamente na

exploração das riquezas minerais da região, assim referiu-se a questão:

"Mas não são tanto os mineiros e sim os lojistas. quem leva a maior parte dos
lucros desta indústria, negociando todos mais ou menos em diamante e ouro em
pó, que recebem dos mineiros em troca do suprimento necessário a estes e a
seus escravos". (GARDNER, 1975, pág. 209)

Dos relatos de viagem com pulsados a maior parte situa-se no período onde o Estado

ainda exercia rígido controle sobre o Distrito, e em todos grande destaque foi dado ao roubo de
diamantes pelos escravos mineradores, ao garimpo clandestino e ao contrabando que era
especialmente exercido pelos negociantes. O aluguel de escravos foi registrado para toda a
primeira metade do século. A mineração de diamantes concentrava a maior parte dos plantéis.
"A maioria dos habitantes de Diamantina que são senhores de alguns escravos empregam-nos
nas lavagens"4s, A mineração aurífera expandiu-se progressivamente, acompanhando a

retração da extração diamantífera e enfraquecimento da presença do Estado.

No entanto, qual era o estado real da extração de diamantes? As informações são


contraditórias, o que dificulta uma avaliação segura da situação da extração. Porém, foi

45 GARDNER. 1975. pág. 209.

50
relatada a prosperidade e dinamismo de várias localidades, decadência46 de outras e uma

certa estabilidade de um terceiro grupo. Destacamos a própria Diamantina, percebida


florescente por todos os viajantes. com população estável e detentora de dinâmico mercado.
Uma localidade que aparece em destaque é Mendanha, considerada a maior exploração de
diamantes, com grande contingente de escravos envolvidos na cata da pedra preciosa, sendo
que "a maioria da população ganha a vida empregando escravos na mineração do diamante ou

abrindo vendas para fornecer alimentos e roupas aos outros, principalmente em troca de
diamantes e ouro em pó't47. Dificuldades técnicas e empecilhos decorrentes de má

administração são apontadas como as causas da retração da extração de diamantes em

muitos pontos da Demarcação.

Vila do Príncipe foi incorporada nesta região não só por suas ligações administrativas
com o Distrito, mas também, por suas vinculações econômicas. Unânimes em perceberem a
nítida retração da atividade que impulsionou a ocupação e florescimento de Vila do Príncipe, os
viajantes descrevem a mineração aurífera como restrita a uma parte da população:

"Como os habitantes de Vila do Príncipe não tem, em geral, escravos suficientes


para estabelecer lavagens de certo vulto, só os mais ricos se entregam à
extração do ouro, os demais dedicam-se à agricultura. e tem fazendas pelos
arredores da Vila". (SAINT-HILAIRE, 1975a, pág. 145)

A importante demanda do Distrito Diamantino, que dependia de abastecimento externo,

favoreceu o desenvolvimento das atividades agrícolas em Vila do Príncipe, tornando-a

importante fornecedora de gêneros básicos de alimentação. A porção sudoeste da Região do


Termo de Minas Novas e as áreas mais ao norte da zona de colonização da Região do Sertão
do Rio Doce também estavam envolvidas com a produção de gêneros agrícolas para o
abastecimento do Distrito.

46 A idéia de decadência. seja na produção historiográfica referente ao século XIX ou seja nos próprios relatos de viagem. é por
demais imprecisa. O fenômeno da decadência manifestava-se não só na perda de dinamismo ou mesmo desestruturação das
atividades econômicas, sobretudo da atividade nuclear (mineração do ouro na esmagadora maiOria dos casos). mas também na
depopulação, na deterioração da vida material. especialmente expressa na ruina das construções. e na expansão da indigência.

47 GARDNER, 1975, pág. 206.

51
Região do Sertão do Rio Doce

o extenso território da Região do Sertão do Rio Doce caracterizava-se pela

predominância da ocupação indígena, vegetação vigorosa de matas, pequena presença de


população não-indígena e por constituir-se em região de fronteira.

Esta região era limitada ao norte por um conjunto de serras que a separava do Termo de
Minas Novas, a leste pelas províncias da Bahia e Espírito Santo. ao sul por serras que a
separava da Região da Mata, e a oeste pela linha da ocupação branca consolídada - regiões
do Distrito Diamantino. Intermediária de Conceição e Mineradora Central. O Sertão do Rio
Doce foi visitado apenas por Saint-Hilaire48, que percorre pequena faixa da região.

Nossos viajantes, direta ou indiretamente, apontaram para realidade espantosa. Toda a


faixa extremo-leste de Minas Gerais era habitada quase que exclusivamente por índios,

variando a largura desta faixa de acordo com a região. A porção ocidental da Região do Termo
de Minas Novas, quase todo o Sertão do Rio Doce (incluindo o Vale do Mucuri e do Manhuaçu)

e a maior parte da Região da Mata, ainda na primeira metade do século XIX, constituía-se em

imensa fronteira da ocupação branca. Os viajantes registram algumas informações sobre as

iniciativas do Estado português e depois brasileiro no sentido de promover a colonização desta


área e civilizar os indígenas ou simplesmente exterminá-los. A resistência do elemento
indígena frente a progressiva pressão ou expulsão foi variada: algumas nações seriam
inteiramente aculturadas, outras em função de sua renitente resistência à assimilação
caminhariam progressivamente para a extinção.

A gradativa rarefação da ocupação branca. a presença de postos militares e presídios e


o também progressivo adensamento das matas confirmam o sentido oeste-leste da ocupação

e da fuga do indígena.

Saint-Hilaire adentra consideravelmente ["'3 região. chegando inclusive a fronteira em os


territórios indígenas. Esta incursão limita-se a porção do território em processo de colonização,
restringindo a convivência do autor aos índios mansos e em processo de civilização. Os

48 SAINT-HILAIRE, 1975a.

52
famosos Botocudos, detentores das piores referências, mais numerosos e bastante resistentes
à assimilação, naturalmente que estiveram fora das observações diretas do viajante. É

impressionante a atenção que estes autênticos antropólogos do século passado dispensavam


a essas culturas indígenas. Poucos são os temas que mereceram maior destaque por parte
dos viajantes estrangeiros que visitaram o Brasil e tiveram oportunidade de entrar em contato

com estes povos.

o ponto máximo de penetração de Saint-Hilaire foi o arraial de Peçanha. Todo território


percorrido dentro da região constituía-se em zona de colonização. Agricultura e alguma criação

eram as atividades predominantes. A produção agropecuária era voltada para auto-consumo

ou para abastecimento de mercados fora da região. O ilustre viajante francês acentua as


vinculações da região com centros importantes, como Vila do Príncipe. e o Distrito Diamantino.

A exportação destes gêneros impulsionava a expansão da fronteira agrícola da região. O trigo


era produto de destaque, assim como o algodão e a cana-de-açúcar. Vejamos algumas
considerações de Saint-Hilaire sobre o arraial de Peçanha:

"É para Vila do Príncipe e Tijuco que se cultiva o trigo (...) Os habitantes dessa
povoação não se contentam em cultivar suas terras. criam também muitos
porcos que se vendem ainda para o consumo de Vila do Príncipe e Tijuco (...)
Apesar da extrema fertilidade da região, seus habitantes são pobres (...) Não é
gente rica a que se dispõe a penetrar no âmago de densas florestas, habitadas
por homens que se consideram antropófagos. Os colonos de Passanha
estabeleceram-se sem cabedais; faltam-lhes escravos. e, se conseguem
manter-se, é sem abastança". (SAINT-HILAIRE. 1975a. pág. 177)

Fica caracterizado o colono e a estrutura fundiária, desconcentrada em função da forma


de ocupação e exploração econômica dominante. Outro ponto que Saint-Hilaire enfatiza é a

condição de fronteira da região. No arraial de Rio Vermelho, confirma-se a ocupação em

processamento, a predominância da agricultura e a importância do comércio de víveres para

abastecimento de outras regiões.

"Rio Vermelho não conta mais de quarenta a cinquenta anos de fundação, e


parece que seus habitantes foram atraídos, não pelo intuito de procurar ouro,
porém, pela fertilidade do terreno e pela vizinhança do Tijuco, onde os víveres
se vendem por preços mais altos que em outros lugares". (SAINT-HILAIRE,
1975a, pág. 189)

53
o volume aparentemente pequeno de informações diretas sobre a região ganha
dimensão ampliada na medida que as informações indiretas. fornecidas pelo próprio autor ou
por outros viajantes, sempre mostraram-se coincidentes com o que foi exposto. Não nos

parece que o processo de ocupação de outros pontos da região fosse distinto do descrito por

Saint-Hilaire.

Região da Mata

Contígua à Região do Sertão do Rio Doce. a Região da Mata também caracterizava-se


pela presença de matas fechadas e expressiva população indígena. Sua delimitação territorial
era definida pela Serra da Mantiqueira e outras cadeias de montannas, que separavam as

bacias dos rios Grande e Doce da Bacia do Rio Paraíba. A transposição da Serra, pelos

viajantes, sempre esteve acompanhada do registro da transposição da exuberante e extasiante


vegetação de florestas, para os campos da Região Sul e porção meridional da Região

Mineradora Central. Esta transposição vinha acompanhada da percepção de mudanças na


exploração econômica. Os campos e a criação de gado e extração aurífera, as matas e a baixa

utilização das potencialidades naturais e dispersão de agricultura voltada para auto-consumo

ou abastecimento de mercados intra-regionais.

A Serra da Mantiqueira e outras cadeias de montanhas e as fronteiras com o Rio de


Janeiro e Espírito Santo definiam os limites da Região da Mata. Todos os viajantes estiveram
nesta região, cruzando-a pelos caminhos que se situavam na suas porções centro e sul ou, no

caso de Spix/Martius e Freireyss. percorrendo sua porção norte.

Os depoimentos referentes àquelas porções centro e sul destacaram muito mais a

cobertura vegetal do que a organização econômica. Aparecem informações isoladas da prática

dos fazendeiros de colocarem ranchos e vendas ao longo das estradas, mantendo os núcleos
habitacionais a uma boa distância. O fato é que o intenso movimento das estradas demandava
a existência de infra-estrutura mínima que abastecesse as tropas em contínuo trânsito.
Todavia, são numerosos os registros de pequenas unidades produtivas voltadas para o auto-
consumo. Não foi mencionado nenhum centro urbano que merecesse destaque. Vários foram
os registros relativos a incipiente exploração econômica da região.

54
Já a porção norte da Região da Mata apresentava ocupação recente e a predominância

de indígenas. O perfil era o mesmo da Região do Sertão do Rio Doce: colonização. civilização
dos índios (ou simplesmente extermínio), resistência por parte de algumas nações e

assimilação por outras. presidios e postos militares. matas fechadas e o cultivo da terra como

atividade econômica principal.

Sinteticamente o que podemos dizer da Região da Mata é que sua efetiva ocupação
estava ainda por processar-se. O vigor da vegetação e a presença indígena atestavam sua

condição de fronteira. A embrionária organização econômica não mereceu nenhum destaque

por parte dos viajantes. Não fosse a presença de importantes estradas. que ligavam Minas ao

Rio de Janeiro, a Região da Mata apresentaria configuração idêntica á Região do Sertão do


Rio Doce.

O café, poucos anos depois da passagem destes viajantes da primeira metade do

século, transformaria completamente a paisagem da região; as florestas seriam consumidas na

avassaladora expansão da fronteira agrícola, os índios seriam exterminados ou


progressivamente empurrados para o último refúgio que era a Região do Sertão do Rio Doce,
o êxito na cultura da rubiácea elevaria a região a condição de principal pólo econômico da
província. Nenhuma região passou por processo semelhante de transformação. A Região da

Mata perdeu algumas daquelas características que lhes conferiam identidade. substituídas por
novo e singular traço: o café.

Região Intermediária de Conceição

"Situada a oeste da Grande Cadeia, e a pequena distância dela, toda a região


que se estende [de Itambé do Mato Dentro] até Vila do Príncipe é ainda
montanhosa, e as florestas, que a cobriam outrora. deram lugar, em muitos
pontos, a imensas pastagens de capim gordura. Não se vislumbra, por assim
dizer, o menor sinal de cultura; por toda a parte tem-se sob os olhos, o aspecto
do deserto, e muitas vezes, o do abandono (...) Seria fácil tirar proveito das
vastas pastagens de que acabo de falar para aí criar numerosas cabeças de
gado; porém, mal se avista uma vaca de longe em longe (...) A região que se
estende além de Gaspar Soares tem boas terras. Foi cultivada noutro tempo;
não obstante porém, os recursos que ainda podia oferecer, os habitantes
abandonaram-na para retirar-se para as proximidades dos Botocudos, no local

55
denominado Os Ferros" [já na vizinha Região do Sertão do Rio Doce. a oriente].
(SAINT-HILAIRE. 1975a. págs. 130/131/134)

"Toda a região percorrida. cerca de 1 O léguas. entre Itambé e Cocais. é coberta


de montanhas. Outrora esta zona apresentava florestas imensas. que foram
queimadas para fazer lavouras. e em seu lugar vêem-se hoje somente grandes
samambaias. o capim gordura e capoeiras. no meio das quais há muito escassa
área de terras de cultura". (SAINT-HILAIRE, 1974a, pág. 55)

Estas passagens de Saint-Hilaire apresentam algumas das principais características da

Região Intermediária de Conceição. O arrasamento das florestas. implantação de agricultura


predatória e abandono da terra exaurida, criaram cenário de devastação e decadência. que,

juntamente com a acentuada retração da mineração na região. compunha quadro econômico


de desolação. Vejamos algumas passagens de Spix/Martius e de Gardner que confirmam o

depoimento de Saint-Hilaire:

"Daí em diante [algumas léguas depois de Cocais, em direção ao Distrito


Diamantino], o caminho se foi tornando sempre mais solitário e despovoado,
passava por terreno montanhoso, entre matas. alternadas aqui e ali com roças
de milho e canaviais, e onde grandes trechos de terras cansadas e
abandonadas foram invadidas por samambaias (...) Há quarenta anos passados,
toda a região montanhosa de Gaspar Soares até Vila do Príncipe era revestida
de densa mata virgem sem interrupção, continuando as matas do Rio Doce;
atualmente, já grandes trechos dela foram abatidos". (SPIX & MARTIUS, vol. 2,
1981, págs. 23/24)

"Não havia sinal de plantações. embora, ao que me informaram, todos estes


campos nus tivessem sido cultivados até que o capim gordura os invadiu.
Derrubando florestas virgens, fizeram-se a alguma distância novas plantações,
que por sua vez terão de ser em tempo abandonados pela mesma causa. Pouco
gado se vê aqui pastando, não obstante a riqueza das pastagens". (GARDNER,
1975, pág. 217)

A Região Intermediária de Conceição representava a transição do Centro-sul minerador,


densamente povoado em relação ao restante da província, para as regiões do norte de Minas.
Representava também a linha de ocupação do sul em direção ao norte. A mineração definia
esta linha, confirmado pelo histórico dos centros urbanos da região. todos ligados à extração
aurífera. O aproveitamento das potencialidades naturais do solo e subsolo produziu a
destruição da cobertura vegetal nativa, através da agricultura e da mineração.

56
o espectro da decadência estava associado a quase totalidade dos centros urbanos da

região. Decadência advinda da profunda retração da mineração e do esgotamento/abandono

do solo agricultável. Situada ao longo da Serra do Espinhaço, a região apresentava delimitação

pouco precisa: o Sertão do Rio Doce a leste, o Distrito Diamantino ao norte, a Região do Vale

do Rio das Velhas a oeste e a Mineradora Central ao sul. Região de transição, foi visitada por

quase todos os viajantes49

Vejamos os centros urbanos. Com exceção de Itabira. próspera segundo Saint-Hilaire,


todas as localidades de alguma importância caracterizavam-se por mineração decadente e

sinais contundentes de abandono. A faiscação substituía a mineração de maior porte,

sustentando a miséria dos setores pobres da população, a esterilidade do solo exaurido após
longo período de exploração predatória inviabilizava a agricultura.

Conceição. com população em torno de 2.000 habitantes, populosa em relação aos


padrões do interior: "este arraial, que está entre as maiores povoações da Capitania''50,

apresentava a mineração em progressiva retração e a busca da agricultura, comércio e


manufatura de algodão como alternativas à decadência. Assim Gardner referiu-se a

Conceição: "é um dos lugares de mais miserando aspecto que já vi''51.

Itambé estava reduzida a faiscação e com pronunciados sinais de decadência. Mawe

afirmou que os habitantes de Itambé encontravam-se "todos reduzidos ao último grau de

penúria e de apatia''52 Gardner confirmou: "De fato, tudo aqui tinha um tal aspecto de

desolação e ruína como ainda eu não vira no Brasil''53 Itambé tinha população em torno de
1.000 habitantes, nada desprezível para o período.

Tapanhuacanga mostrava-se extremamente decadente; Saint-Hilaire fala em mais ou


menos 100 casas em 1817, Gardner fala em 20 a 30 casas em 1840. Córregos e Tapera
apresentavam quadro parecido; fuga da população, faiscação disseminada e dificuldades no

49 SAINT-HILAIRE. 1975a e 1974a; MAWE. 1978: POHL. 1976: D'ORBIGNY. 1976; SPIX & MARTIUS. vaI. 2.1981 e GARDNER.
1975.

50 POHL. 1976. pago 372.

51 GARDNER. 1975. pago 216.

52 MAWE. 1978, pago 146.

53 GARDNER. 1975, pago 217/218.

57
cultivo do solo exaurido. Tapera possuía fabricação doméstica de tecidos algo dinâmica,

exportando excedentes.

Itabira constituía-se em caso a parte. A mineração ainda era vigorosa, possuía

agricultura e criação voltada para o abastecimento do centro urbano e destacada atividade


siderúrgica. Congonhas da Serra vivia do trânsito existente entre Sabará/Santa Luzia e o

Tijuco.

Região Sul

Abrangia todo o território ao sul do Rio Grande, mais a área compreendida entre este e o

Rio das Mortes, incluindo os centros urbanos de São João Del Rei. São José Del Rei e
Barbacena. A Serra da Mantiqueira separava a Região Sul da Região da Mata. A Província de
São Paulo definia as fronteiras meridionais. Todos os viajantes, com a exceção de Gardner,
estiveram nesta região. Porém, Saint-Hilaire e Spix/Martius são os autores que a percorreram
em maior extensão. Os outros, praticamente, restringiram-se a área de São João Del Rei. São

José Del Rei e Barbacena.

Contrastando com a Região da Mata, a Região Sul apresentava a vegetação de campos


como cobertura dominante, sendo que as florestas predominavam. sobretudo, na sua porção

meridional. A criação. principal atividade da região. era exercida nos campos. As matas,
derrubadas para o cultivo, eram dominadas por agricultura voltada para o abastecimento de

mercados intra e inter-regionais ou auto-consumo. Alguns gêneros respondiam por importantes

fluxos comerciais, sendo exportados para fora da região.

Spix/Martius, vindos de São Paulo. cruzam a Região Sul na sua porção central,

passando inclusive por Campanha. Saint-Hilaire também cruza a região por duas vezes,

porém, na sua porção oriental54.

Podemos dividir o território percorrido por Spix/Martius em duas porções. Até mais ou
menos a altura de Campanha os autores relatam a grande incidência de matas, a agricultura
voltada para o auto-consumo e, na área de Campanha. a mineração de ouro vigorosa. Já a

54 SAINT-HILAIRE, 1975b e 1974b; SPIX & MARTIUS, vaI. 1. 1981.

58
parte percorrida entre Campanha e São João Del Rei apresentava a criação como atividade
preponderante. Assim referiram-se a Vila de Campanha:

"Depois da Vila de São João D'el-Rei, a mais importante e populosa da Comarca


do Rio das Mortes (...) As minas de ouro, que, em parte só há poucos anos,
foram abertas na vizinhança, incluem-se entre as mais ricas das atualmente
exploradas, e deram grande opulência aos habitantes". (SPIX & MARTlUS, vai.
1, 1981, pág. 185)

Para a região percorrida dalém Campanha temos o seguinte depoimento:

"É idílica a região. porém solitária e deserta. As cercas muito extensas. que
correm pelas encostas dos vales e separam. os pastos de cada fazenda, são
quase que os únicos vestígios de que o pais é habitado: as casas das quintas,
porém, estão em geral escondidas nos valados laterais". (SPIX & MARTlUS, vaI.
1, 1981, pág. 193)

Saint-Hilaire dispensou algumas considerações sobre a Comarca do Rio das Mortes, cujo
território ultrapassava a Região Sul. Vejamos alguns aspectos mais importantes. Exportava
gado e porcos da zona do Rio Grande (Saint-Hilaire define a zona do Rio Grande como "as
terras situadas nas cabeceiras desse rio e que, consequentemente, ficam ao sul da sede da
Comarca do Rio das Mortes"55 - São João Del Rei) e fumo produzido no Termo de Baependi. A

Comarca era a porção mais densamente povoada de Minas Gerais. A população branca
respondia por um terço dos habitantes, a maior proporção de Minas Gerais, decorrência do
predomínio do comércio e da criação de gado. que necessitavam em menor escala do recurso
à mão-de-obra escrava. A maior parte da população concentrava-se na parte oriental da
Comarca (a Região Sul correspondia a mais ou menos dois terços da Comarca do Rio da
Mortes, que compreendia ainda as porções meridionais das Regiões do Sertão do Indaiá-
Abaeté, Intermediária de Pitangui-Tamanduá e da Mata, além do sudoeste da Região
Mineradora Central).

o viajante francês percorreu a porção oriental da Região Sul. Sobre a já definida zona do

Rio Grande, Saint-Hilaire teceu importantes considerações. A mineração atrofiara quase que
totalmente e a agricultura e, principalmente, a criação eram as principais atividades

econômicas.

55 SAINT-HILAIRE, 1975b. pago 56.


"As excelentes pastagens da região do Rio Grande fornecem hoje a maior parte
dos animais vendidos na capital do Brasil. e alguns criadores locais chegam a
possuir até cinco mil cabeças de gado". (SAINT-HILAIRE 1975b, pág. 50)

Este importante fluxo comercial era intermediado por negoCiê.,ltes, que (.ompravam o
gado na região e revendiam para o Rio de Janeiro. Saint-Hilaire caracterizou a criação bovina:
o gado era "afamado por sua robustez e seu grande porte". havia necessidade de dar sal

periodicamente aos animais. os escravos eram utilizados na criação. procedia-se ao


confinamento parcial dos animais. os pastos eram queimados anualmente, e a produção

leiteira coexistia com a criação para corte (fabricava-se grande quantidade de queijo e
exportava-se para o Rio de Janeiro). A criação de porcos também era expressiva, voltada para
a produção do toucinho e exportação para o Rio de Janeiro. Criava-se carneiros, produzindo

tecidos grosseiros para os negros e fabricando chapéus de lã. As fazendas eram lucrativas,

sendo de fundamental importância a privilegiada localização da região. tão próxima do Rio de

Janeiro.

Quando de sua viagem de São João Del Rei para São Paulo. Saint-Hilaire percorreu

novamente a porção oriental da Região Sul. Ressaltou a estrutura fundiária concentrada, a

criação e cultivos principais.

"Entre São João e Aiuruoca colhem-se principalmente milho e feijão; mas os


gêneros não saem da região. A criação de gado e porcos forma a principal
ocupação dos agricultores e quase que sua única fonte de renda. Cada qual
possui sua tropa de burros e envia ao Rio de Janeiro toucinho e queijos".
(SAINT-HILAIRE, 1974b, pág. 54)

Em Baependi e Pouso Alto predominava a cultura do fumo. que era exportado para o Rio

de Janeiro.

São João Del Rei e Barbacena foram visitadas por grande número de viajantes. Estes
centros urbanos passavam por reestruturação econômica. a mineração tornara-se atividade
pouco expressiva e o comércio figurava como a principal alternativa. São José Del Rei em
função de sua importância relativamente menor recebeu contigente menos expressivo de
visitantes.

São João Del Rei, com população estimada em 6.000 habitantes, foi objeto de maior
atenção por parte de Spix/Martius, Saint-Hilaire, Luccock e Pohl. A profunda retração da

60
extração aurífera e a pujança do comércio foi ressaltada por todos os autores. A mineração
estava praticamente reduzida a faiscação.

"Se os pobres continuam a ir faiscar nos rios e regatos. os homens mais


abastados preferem geralmente às possibilidades aventureiras da mineração, os
lucros mais positivos dos negócios". (SAINT-HILAIRE. 1974a, pàg. 111)

o comércio assumia posição de grande destaque, pelo papel de intermediação


desempenhado pela vila. Recebia produtos de várias regiões de Minas e enviava-os para a

Cidade do Rio de Janeiro; comprava artigos europeus na capital e distribuía para o interior.

"Hoje, os habitantes da cidade vivem em geral do comércio (pois quase cada


casa, aqui, tem um armazém, ou uma venda) e da lavoura - cujos produtos são
o açúcar. o café. o algodão. o milho, a mandioca e um pouco de trigo - e
principalmente da criação de porcos". (POHL, 1976, pág. 87)

Todos os viajantes que estiveram em São João Del Rei mencionaram que a produção
dos arredores era voltada para o abastecimento da vila. Luccock descreve a estrutura
ocupacional da população:

"As lojas ocupam. se é que a isso se pode chamar de ocupação, uma certa
parcela da população, enquanto que os outros se empregam em suas fazendas,
viajam com suas tropas. ou preenchem cargos de confiança pública ".
(LUCCOCK, 1975, pág. 305)

Os relatos de viagem registram a existênCia de fábrica de chapéus de lã e destacam a


fabricação de tecidos grosseiros de algodão.

Os produtos importados por São João Del Rei restringiam-se ás mercadorias européias.
Já os exportados eram bastante variados: toucinho, queijos, algodão em rama, tecidos
grosseiros de algodão, chapéus de feltro, couro, gado bovino, cavalos, mulas, galinhas,
açúcar, café, ouro e pedras preciosas. Luccock afirma que antes da instalação da corte São
João Del Rei era devedora da capital, mas que depois, tornou-se credora da Cidade do Rio de
Janeiro.

Saint-Hilaire, Luccock. Pohl, Freireyss e Mawe foram os viajantes que melhor


caracterizaram Barbacena. Com mais ou menos 300 casas e 2.000 habitantes, Barbacena

61
desempenhava importante papel por sua localização e comércio. A mineração era atividade

decadente.

"Principalmente por causa do tráfego do interior com o Rio de Janeiro, este lugar
lucra muito, porque em Barbacena reúnem-se as muitas estradas em uma só
que conduz à capital". (FREIREYSS, 1982, pág. 40)

"Sendo uma espécie de ponto de descanso. a meio caminho da capital. e último


lugar aberto situado sobre a estrada, é muito frequentado pelos habitantes do
interior. fazendo comércio considerável de diferemes mercadorias". (MAWE,
1978, pág. 117)

"Os arredores de Barbacena são. geralmente, bastante áridos: encerram


atualmente muito pouco ouro, e é, por assim dizer. unicamente devido à
passagem das caravanas que esta vila deve sua existência". (SAINT-HILAIRE,
1975a, pág. 62.)

É Pohl quem melhor caracterizou a Vila de São José Del Rei.

"Por falta de braços e de água, as lavras de ouro da vizinhança estão


paralisadas. As atividades dos habitantes reduzem-se à criação de gado (bovino
e suíno) e à cultura dos gêneros comuns dos campos e hortas, o que,
logicamente, não produz comércio ativo". (POHL, 1976. pág. 88)

Região Mineradora Central

A mineração aurífera conferia identidade a esta região. Com a maior rede urbana de
Minas Gerais, pólo da própria ocupação da capitania e vinculada secularmente à extração do
ouro, a Região Mineradora Central exercia grande fascinação nos viajantes estrangeiros.
Todos nossos viajantes aí estiveram. A Cidade de Ouro Preto (Vila Rica), capital das Minas

Gerais, é o único centro urbano que foi visitado pela totalidade de nossos viajantes.

Os limites desta região foram definidos pela extração de oc::. Não que a mineração
estivesse restrita a esta delimitação, mas sim, pelo fato de haver uma nítida associação da
região com o surgimento, desenvolvimento e retração desta atividade. Nas regiões vizinhas à
Mineradora Central a extração aurífera também era atividade historicamente importante.

62
Contudo, a identidade destas regiões não estava associada a esta atividade. No caso da
Mineradora Central a extração aurífera estava indissociavelmente ligada à identidade da
região.

Uma consulta panorâmica a relação das localidades visitadas (ANEXO 2) e aos


itinerários de viagem (ANEXO 3) revela a nítida concentração dos viajantes nesta região. O
número de centros urbanos ultrapassa com larga margem qualquer outra região. O grande
congestionamento de itinerários reflete a atração exercida pela região.

Os viajantes coincidiram na caracterização geral da principal atividade econõmica da


região. A retração da mineração aurifera manifestava-se não só pela queda da produção e

produtividade, mas também, pela baixa acentuada dos investimentos (fuga de capitais ante as
dificuldades técnicas crescentes), redução do emprego de mão-de-obra escrava, aumento
generalizado da faiscação e inexistência de recursos técnicos que a mineração subterrânea
exigia. O espectro da decadência assolava a maioria dos centros urbanos, outrora prósperos
em função do ouro, e denunciava seu processo de esvaziamento populacional. Contudo,
muitas localidades ainda viviam em direta dependência da extração aurífera, mesmo que em
escala reduzida em relação ao século XVIII. A faiscação, responsável pela manutenção de boa

parte dos homens livres pobres, estava disseminada por quase toda a regiãe- e constituía-se,
em muitas áreas, na única alternativa econômica de parcela expressiva da população, dada a
inexistência de outras oportunidades capazes de reverterem aquele quadro de decadência.
Todavia, os viajantes relataram a existência de experiências econômicas que buscavam
ampliar a base produtiva de algumas áreas. onde a mineração tinha importância apenas

residual.

O apego à atividade mineradora foi observado por todos os viajantes. A imagem do


mineiro ávido de enriquecimento rápido, imprevidente, indolente e pouco inteligente,
combinava com a mineração primitiva, defasada em suas soluções técnicas, geradora de
devastação/destruição do meio ambiente e que sustentava a miséria de amplos setores da
população. Os viajantes perceberam a mineração do ouro e as quase que sempre frustradas
expectativas que gerava como os grandes responsáveis pela relativa estagnação econômica
da região.

63
Se por um lado é inquestionável que os viajantes estrangeiros em muito devem suas

impressões de decadência ás suas expectativas não confirmadas. esperavam. em geral.


encontrar opulência e uma civilização adiantada. por outro, também não podemos olvidar que
fazia pelo menos meio século desde o início da irreversível queda da produção aurífera e dos

seus profundos efeitos sobre a organização econômica e social. Porém. os viajantes não se
limitaram ao relato daqueles sinais que evidenciavam o grande declínio da mineração.
Assinalaram também as potencialidades da região. as possibilidades de reorganização

econômica e social em outras bases. Foi possível anteverem, a partir do contato com alguns

ensaios desta reorganização, alguns elementos que desempenhariam importante papel no

futuro da região.

Capitais avultados. recursos técnicos avançados e racionalidade administrativa eram

exigências da mineração subterrânea, praticamente o último setor lucrativo da extração

aurífera de Minas Gerais. Os viajantes apontavam as companhias de mineração estrangeiras,


sobretudo inglesas, como as empresas que melhor reuniam aqueles elementos. Acreditavam

que o subsolo da região guardava grande quantidade de ouro e que os empreendimentos

melhor estruturados seriam altamente recompensados.

Outro setor com imensas potencialidades e que deveria, na visão dos viajantes, assumir

papel de relevo na economia da região era o siderúrgico. Algumas experiências de maior porte
bem sucedidas e a disseminação das pequenas forjas eram indícios do crescimento da

siderurgia mineira. Os viajantes destacaram as imensas reservas de minério-de-ferro. a quase


que ilimitada disponibilidade de carvão vegetal. os grandes recursos hídricos e a presença de
expressiva demanda (da agricultura, da mineração, dos transportes e dos setores de
transformação em geral) como fatores que colocavam a Região Mineradora Central em

posição privílegiada.

As atividades artesanais e manufatureiras urbanas eram bastante desenvolvidas e foram

consideradas como muito promissoras. Os viajantes destacaram a aptidão do mineiro para as


atividades manuais, sua incomparável destreza e habilidade com as mais diversas matérias-

primas.

De todas as atividades econômicas o cultivo das terras e a criação de animais foram


apontadas pelos viajantes como as mais imediatas alternativas à retração da mineração. O

64
abastecimento dos centros mineradores, na maior parte das vezes especializados na extração

aurífera, representava considerável estímulo para as áreas vizinhas. Os viajantes dedicaram


muitas linhas de seus relatos para condenarem as técnicas agrícolas que predominavam na
região (e que em nada diferiam das vigentes nas outras regiões de Minas Gerais), que
deveriam ser substituídas por procedimentos que tornariam as atividades mais produtivas e

que resultariam no estancamento do avassalador processo de destruição dos recursos


naturais.

Os viajantes consideravam as condições em geral dos transportes como um dos


principais problemas enfrentados pelos produtores, sobretudo para aqueles que atendiam
mercados distantes. As enormes dificuldades de assalariamento da população livre também
constituía-se em grave obstáculo ao pleno desenvolvimento de várias atividades que, por
inúmeras razões, dependiam da mão-de-obra livre. Ambos os problemas afetavam as demais

regiões, sobretudo o dos transportes que se agravava do centro para a periferia da província.

Os centros urbanos da região que foram visitados pelos viajantes podem ser divididos

em três grupos se considerarmos a conjuntura da atividade mineradora. Algumas localidades


encontravam-se em estado mais avançado de retração da mineração, sem apresentarem

alternativas econômicas; em outras a decadência da extração aurífera também estava


bastante adiantada, contudo, desenvolveram atividades alternativas que sustaram a total
decomposição dos centros urbanos e, às vezes, até impulsionaram a retomada da importância
anterior: o último grupo caracterizava-se pela permanência da mineração do ouro como centro
dinâmico da economia local. Se no primeiro grupo a fuga da população das localidades era um
fato, no segundo processava-se redimensionamento dos centros urbanos. Já o terceiro grupo
era o que melhor refletia o secular movimento de perda de vigor daquela outrora próspera vida

urbana do setecentos e a mais exacerbada luta contra o tempo. Este grupo de localidades era
marcado, sobretudo, pela redução da população urbana, pelo barateamento dos aluguéis e o
desgaste adiantado das construções. Este processo de esvaziamento dos centros urbanos, em

níveis diferentes, não era acompanhado de crescimento da população rural da região. Os


viajantes encontraram uma boa parte da área rural vazia e abandonada. Provavelmente esta
população que deixava estas antigas áreas mineradoras deslocava-se para outras regiões.
Como vimos, as zonas de colonização em Minas eram muitas, talvez drenassem esta
movimentação, lenta e progressivamente.

65
Ilustremos com alguns centros urbanos. Ouro Preto tinha em torno de 8.000 habitantes -

os viajantes falam de grande redução populacional -, desempenhava importantes funções

administrativas, possuía grande setor comercial e a mi~eração aurífera encontrava-se bastante


diminuída. A faiscação ocupava expressiva parcela da população, principalmente os setores

mais pobres. Ouro Preto era abastecida por áreas relativamente distantes, na medida que o

solo das redondezas era pouco favorável à agricultura.

"Sem contar as pessoas que exercem funções públicas, a maior parte dos
habitantes vive do produto de suas minas de ouro, de suas roças e,
principalmente, do comércio que se faz não somente com o Rio de Janeiro e o
interior, mas também, lucrativamente. com Goiás e Mato Grosso. A parte mais
pobre da população é constituída pelos que exercem ofícios e pelos escravos".
(POHL. 1976, pág. 398)

A capital mineira despertou uma gama de variados sentimentos nos viajantes

estrangeiros: melancolia, tristeza e decepção conviviam com o elogio cauteloso aos sinais de

civilização presentes em Ouro Preto.

Mariana foi caracterizada como a "Capital Eclesiástica de Minas Gerais''56. A mineração

ainda era considerável, tanto a de maior porte como a faiscação. Sabará, com 5.000

habitantes. cumpria funções administrativas de alguma importância. apresentava a mineração

retraída e desempenhava funções comerciais destacadas. "Na maior parte os moradores são

negociantes que fazem comércio com os do sertão a oeste''57. As localidades de Cocais, Catas
Altas, Inficionado. Morro Grande e Santa Bárbara foram caracterizadas como populosas.

intimamente ligadas a extração aurífera e vivendo o processo de luta contra a decadência. A


faíscação era vigorosa nestas localidades e convivia com o estabelecimento de

empreendimentos mineradores estrangeiros.

As porções extremo-leste. extremo-oeste e sul da Região Mineradora Central


apresentavam a mineração associada com o desenvolvimento da agricultura e pecuária. Estas
áreas respondiam pelo abastecimento do centro da região e representavam a transição para

as regiões vizinhas, onde o cultivo e a criação eram as atividades centrais.

56 BUNBURY. 1981. pág. 68.

57 GARDNER. 1975, pág. 224.

66
Breve painel da economia provincial

É possível depreender das 16 regiões algumas características mais gerais da Província

de Minas Gerais. Os depoimentos dos viajantes revelam que a organização econômica mineira
da primeira metade do século XIX era marcada por fortes contrastes regionais. A irregular
distribuição da população e a grande variação do nível de atividade econômica são os

principais indicadores das desigualdades regionais.

Minas apresentava estrutura fundiária complexa, apesar de acentuada concentração


observada em muitas regiões. As formas de ocupação e exploração econômica estavam quase
que sempre a definir a distribuição da terra. Algumas atividades econômicas estavam quase
sempre associadas aos grandes latifúndios, como a pecuária extensiva das regiões do norte.
As áreas de fronteira, onde a colonização baseava-se na agricultura, eram na maior parte das

vezes áreas de estrutura fundiária desconcentrada, como nas regiões do leste mineiro.

Quanto a antiguidade da ocupação e densidade demográfica Minas dividia-se em três

grupos de regiões. As ocupadas originalmente com a mineração do ouro e diamantes eram as


mais densamente povoadas. Com ocupação que remontava ao século XVIII, as áreas
mineradoras concentravam a maior parte da população mineira, tornando suas regiões as mais
populosas. Localizadas no centro e sul, estas regiões detinham a mais desenvolvida rede
urbana de Minas Gerais. O segundo grupo era formado pelas regiões que apesar de ocupação
antiga, ligada a pecuária extensiva, caracterizavam-se por pequena densidade populacional e

inexpressiva rede urbana. Este grupo de regiões situava-se no norte de Minas. O último grupo
de regiões tinha como traço comum a ocupação recente, a presença de áreas de fronteiras ou
mesmo a existência de territórios desocupados. Menos homogêneo, este grupo era formado
por regiões com densidades demográficas e redes urbanas variadas. Localizavam-se no oeste

e leste da província.

Grande era a diversificação econômica de Minas Gerais. Entre as regiões existiam


vínculos que as tornavam complementares e interdependentes, configurando divisão regional
do trabalho. Da mesma forma, percebeu-se a existência de interações internas às regiões,

reveladoras de especializações intra-regionais. A identidade econômica das regiões era


resultado das combinações específicas de suas dinâmicas interna e externa. O comércio de

67
exportação para fora da província fazia parte da dinâmica externa das regiões. Os viajantes
descortinaram cenário onde os fluxos comerciais internos e externos (sobretudo o comércio
com o Rio de Janeiro) eram vigorosos. Minas Gerais possuía setor mercantil que ocupava
parcela considerável da população, transacionava volume impressionante de mercadorias e

movimentava uma miríade de caminhos e estradas.

O trabalho escravo estava disseminado por todas as regiões. Contudo, acentuadas eram

as distinções regionais referentes ao seu emprego. A natureza das atividades econômicas


dominantes em cada região determinava sua dependência de mão-de-obra cativa, bem como a
sua capacidade de aquisição e reposição do plantei; o resultado era que a instituição servil

mostrava-se mais vigorosa em determinadas regiões e a estrutura da posse de escravos era


muito diferenciada. A prática de aluguel de escravos era generalizada, principalmente

associada à mineração de ouro e diamantes. O mercado de trabalho livre aparece


caracterizado pelas dificuldades de assalariamento. O trabalho familiar predominava nos

setores mais pobres da população, impossibilitados de recorrer ao braço escravo. Nas zonas
de colonização, tanto nas fronteiras leste como oeste, a economia baseava-se no recurso à

mão-de-obra livre, principalmente familiar.

Agricultura e pecuária eram as principais atividades econômicas de Minas Gerais.


Presentes em todas as regiões e ocupando a maior parcela da população, a agropecuária
constituía-se na principal alternativa à mineração em retração. Todavia, a distribuição
geográfica da produção apontava para aquelas especializações regionais. A posição em

relação aos potenciais mercados consumidores e abastecedores de mão-de-obra escrava


(sobretudo a Cidade do Rio de Janeiro) e as condições naturais em geral eram os principais

fatores a determinar o tipo e escala da produção. O comércio interno de gêneros da agricultura

e da pecuária, intra e inter-regiões, era extremamente ativo.

A mineração ainda era atividade destacada em alguns pontos. Porém, estava associada,
na grande maioria dos casos, ao espectro da decadência. Os sinais mais evidentes de sua
retração eram a ruína dos centros urbanos, os problemas relativos a recursos técnicos e de

capital enfrentados pelos mineradores e a proliferação da faiscação.

As atividades de transformação em geral vicejavam por todo território mineiro. Os oficiais


e artífices dos mais variados misteres eram parcela significativa da população. A siderurgia das

68
pequenas forjas, a indústria têxtil doméstica e o variado artesanato urbano constituíam-se nas

principais expressões. Algumas regiões, em função de maior disponibilidade de matéria-prima


e maior demanda, apresentavam seus setores de transformação mais desenvolvidos.

69
o LONGO PERCURSO DE UMA IDÉIA

Redimensionar o tratamento do
espaço e o uso dos relatos

Ao iniciarmos estas investigações, ainda que envoltos em incontáveis dúvidas e


apreensões, acreditávamos que encontraríamos satisfatórias respostas para grande número
de indagações. O transcurso dos trabalhos e as injunções que foram surgindo subverteram os
propósitos iniciais e definiram novos objetivos. O principal resultado deste processo foi a

projeção de dois problemas de natureza metodológica como objetos centrais. Desta forma, é
fundamental que a apreciação da proposta de regionalização seja precedida da avaliação da

forma como os relatos de viagem foram com pulsados e do tratamento que as categorias

espaço e região receberam. Independente do êxito particular que possamos ter alcançado no

trabalho com o depoimento dos viajantes, as principais contribuições que esperamos trazer

para a historiografia provincial referem-se a aspectos universais.

Definitivamente é preciso que os pesquisadores da Minas colonial e provincial alinhem-se


em nova perspectiva de abordagem das categorias espaço e região. A historicidade destas
categorias jamais deve ser desconsiderada, o recurso a recortes espaciais esvaziados de sua

temporalidade deve ser rejeitado. Assim sendo, vislumbramos cenário onde a recuperação da
historicidade das categorias espaço e região propulsionará, em bases mais seguras, grande

desenvolvimento da história regional mineira.

O redimensionamento da forma predominante de utilização dos relatos de viagem


representará a sua efetiva incorporação como fontes privilegiadas para a reconstituição da
história econômica e social do oitocentos mineiro. O aprofundamento no conhecimento dos
viajantes, da biografia dos autores ao impacto de suas obras, e o amadurecimento de novo
padrão de uso, baseado em verdadeira exegese dos depoimentos e no cotejamento do

conjunto dos relatos de viagem, são condições necessárias para que estas fontes históricas
deixem de ocupar posição secundária e meramente ilustrativa na maior parte dos trabalhos

que a elas recorrem.


Histórico de um compromisso (1990-1996)

Na versão original deste trabalho foi assumido o compromisso de cotejar a regionalização

com um censo provincial da década de 183058. Vislumbrava-se cenário onde os dados


demográficos e econômicos das listas nominativas e a caracterização econômica regionalizada
construída com informações dos relatos de viagem checariam-se mutuamente. Acreditava-se

na complementaridade das fontes sobrepostas e a consolidação da regionalização como a


primeira proposta de se pensar o espaço provincial mineiro utilizando-se informações coevas.

Os pesquisadores do dezenove teriam a disposição uma regionalização contemporânea ao


período testada e, segundo acreditávamos, aprovada; passariam a utilizar um instrumental de
investigação com reduzidos riscos de distorção ou mesmo de comprometimento de seus

resultados .

. Decorridos seis anos e meio desde a conclusão da monografia finalmente alcançou-se a


realização da confrontação prometida. Muitos fatores determinaram o longo adiamento de uma
tarefa que parecia de imediata consecução. A conclusão do levantamento das listas

nominativas exigiu tempo bastante superior ao que estimávamos, consistindo-se no principal


óbice àquela rápida sobreposição. Contudo, o transcurso destes anos permitiu que aquele
compromisso fosse cumprido em condições favoravelmente inesperadas.

No terceiro trimestre de 1994 iniciou-se novo trabalho com os relatos de viagem.


Estruturou-se complexo sistema de codificação para as informações econômicas que deveriam
ser coletadas, utilizando o mesmo princípio de organização já definido na monografia.

Constituiu-se banco de dados que possibilitou o rápido e completo acesso a qualquer tipo de
informação, classificada segundo sua natureza, o tempo e espaço a que se referem e
acompanhada de qualificação que permite a identificação do seu conteúdo específico. Todos

58 Por determinação da Presidência da Província foi realizado em 1831/32 um levantamento minucíoso da população de Minas
Gerais. Organizado sob a forma de listas nominativas. este censo provincial constitui-se no mais circunstanciado recenseamento
populacional do período imperial mineiro. Confeccionadas por distrito de paz, as listas informavam regularmente o nome dos
habitantes, idade, condição -social, cor/origem. situação conjugal e ocupação. De forma irregular relacionavam-se parentescos.
nacionalidades e outras informações ainda menos incidentes. A cobertura é muito boa. as listas remanescentes atingem em torno
de 60% da população e das unidades administrativas do período. Para uma apresentação detalhada desta documentação, onde
discute-se exaustivamente cada uma das variáveis constantes nas listas e avalia-se com o mesmo rigor o tratamento de seus
dados, ver PArVA (1996). A transcrição das listas nominativas e conformação de imenso banco de dados exigiu mais de uma
década de trabalhos quase que ininterruptos. Sob a coordenação de Clotilde A. Paiva, participamos ativamente de quase todo este
longo processo, estando, portanto, plenamente inteirados da natureza desta documentação. seu imenso potencial bem como seus
limites. Este conjunto documental, já inteiramente organizado, encontra-se no CEDEPLAR.

71
os registros do banco de dados foram enquadrados na regionalização. A espacialização dos

principais fenômenos econômicos pelas respectivas regiões mostrou-se quase que

absolutamente concordante com os nossos resultados. Os elementos econômicos, centrais na


construção da regionalização, foram avaliados e aprovados. Obtivemos assim, um primeiro e

alentador êxito no teste da regionalizaçã059.

O objetivo precípuo da formação do banco de dados com informações retiradas dos


relatos de viagem não era o teste da regionalização, ainda que tenha servido também a este
propósito. Reconstituir as "principais relações econômicas que estariam ocorrendo nas regiões

de Minas à luz do depoimento dos viajantes estrangeiros/6o era o objetivo da análise do banco

de dados. O censo de 1831/32 entrou em cena logo a seguir, quando "as características

demográficas são analisadas à luz do quadro econômico/61. Estas relações econômicas


resultantes da análise dos relatos de viagem e as características demográficas e econômicas
reveladas pelas listas nominativas de 1831/32 foram justapostas, articuladas e confrontadas,

com a regionalização definindo as unidades espaciais de análise.

Logrou-se pela primeira vez analisar uma série de aspectos econômicos e demográficos

concernentes ao século XIX mineiro utilizando-se uma segmentação do espaço elaborada com
dados contemporâneos ao período investigado. Cumpriu-se o compromisso muitos anos antes

assumido; a proposta de regionalização foi checada e confirmada a imprescindibilidade de

instrumental de investigação de tal natureza.

59 Esta nova incursão na obra dos viajantes foi presidida por Mário M. Rodarte, assistente de pesquisa do CEDEPLAR e membro
do grupo de pesquisa coordenado por Clotilde A. Paiva. Em dois anos montou-se o banco de dados, avaliou-se os subsídios
coletados, procedeu-se à espacialização supracitada e elaborou-se estudo em torno da organização econômica de Minas Gerais
na primeira metade do século XIX. Ver RODARTE (1996) e PAIVA (1996).
60 PAIVA, 1996, pág. 4.
61 PAIVA, 1996, pág. 4.

72
BIBLIOGRAFIA E RELATOS DE VIAGEM

ALMEIDA. Cândido Mendes de (org.). Atlas do Império do Brazil. Rio de Janeiro, Lithographia do Instituto

Philomatico, 1868.

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74
SÜSSEKIND, Flora. O Brasil não é longe daqui - o narrador, a viagem. São Paulo. Companhia das Letras,
1990.
ANEXO 1

Mapa da Província de Minas Gerais

o mapa base dos anexos 3 (itinerários de viagem). 4 (regionalização) e 5 (regionalização

adaptada) foi elaborado a partir desta carta geográfica da Província de Minas Gerais. Este
mapa base traz as divisões políticas (limites de províncias). as sedes municipais de 1833/35 e

os principais acidentes geográficos (rios e serras). No item Técnica de leitura adotada: os

itinerários de viagem apresentamos as razões que nos levaram a optar por este mapa da

Província de Minas Gerais, HASTINGS (1886)


PROVINCES OY

MrJBM"GEBA.~ 8 AND
EsrlBUO S~~JO
15 Compiled from lhe most modem maps , and in acconlan"" with
Official StatiSllCS and boundaries
1882

Natural ScaJe, 1 : 2,577000


:~OCRAPHlC"'''' MILtS

$Tl~ 'tO 60 80
[NClISH MILtS

o 5 10 60 80 lOO

"CAPITAL u. Calony rc1TlLt1 -Bridge


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t~ Ind.:anReserve Morro.Monte .H£U __::::'':'''.. til ]7N':.I,. •••f8
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ANEXO 2

Relação por região das cidades, vilas, arraiais/povoados,


aldeias, fazendas, minas e lavras de ouro/diamante,
postos aduaneiros e acidentes geográficos
visitados pelos viajantes

- LEGENDA-

Charles James Fox BUNBURY BUN

Alcide D'ORBI G NY DOR

Georg Wilhelm FREI REYSS FRE

George GARDNER GAR

John LU CCOC K L UC

J o h n MA WE MA W

Johann Emanuel POHL POH

Auguste de SAINT-HILAIRE:

"Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais" SH1


"Viagem pelo Distrito dos Diamantes e litoral do Brasil" SH2
"Viagem às nascentes do Rio São Francisco" SH3
"Viagem à Proví ncia de Goiás" SH4

"Segunda viag. do Rio de Janeiro a Minas Gerais e a São Paulo" SH5

Johann Baptist von SPIX & Carl Friedrich Phillipp von MARTIUS S&M

obs. 1: relacionamos, em ordem alfabética, todas as localidades visitadas pelos viajantes, com exceção daquelas que
ou não constam em nosso mapa da Província de Minas Gerais (ANEXO 1) e não foram encontradas nas demais
cartas geográficas consultadas, ou, ainda que presentes nestas cartas, tiveram sua localização aproximada no mapa
adotado dificultada por problemas de falta de referências geográficas ou de escala (sobretudo nos casos de
localidades de pequenas proporções situadas em áreas congestionadas de centros urbanos relativamente maiores).
obs. 2: para algumas localidades, que tiveram sua designação mudada na primeira metade do século XIX,
relacionaremos mais de um topônimo.
obs. 3: indicaremos entre parênteses, quando for o caso, o topônimo atual da localidade.
obs. 4: sempre que possível. apresentaremos a categoria da localídade (arraial. vila ou cidade); também indicaremos
eventuais alterações na sua situação. desde que ocorridas na primeira metade do século XIX (até 1850).

obs. 5: para os casos em que um mesmo viajante visitou mais de uma vez a mesma localidade. indicaremos o
número de visitas entre colchetes.

obs. 6: as regiões são apresentadas seguindo a mesma ordenação do texto. da Região do Sertão do Urucuia a Região
Mineradora Central.

* para as observações 2. 3 e 4 foi imprescindível a utilização sistemática do Dicionário Histórico-Geográfico de


Minas Gerais (Barbosa. 1971) e de canas geográficas atuais e antigas

Região do Sertão do Urucuia


[nenhuma localidade visitada]

Região de Paracatu
* A legres, Arraial (João Pinheiro) POH
* Arrependidos. Registro SH3
* Carapinas. Fazenda SH3
* Florentino. Fazenda POH
* Paracatu, Vila - Cidade em 1840 SH3 POH
* Pilões, Fazenda SH3
* Sapé, Fazenda SH3 PO H [2]

Região de Araxá

* Araxá, Arraial- Vila em 1831 SH3


* Arruda. Fazenda SH3 POH
* Patrocínio, Arraial- Vila em 1842 SH3 POH
* Pouso Alegre, Arraial SH3 POH
* São Pedro de Alcântara. Arraial (Ibiá) POH

Região do Triângulo
* Boa Vista, Aldeia de índios SH4
* Santana do Rio das Velhas. Aldeia de índios (Indianópolis) SH4
* Tejuco. Fazenda SH4
* Uberaba, Arraial- Vila em 1836 SH4

Região do Sertão do Indaiá-Abaeté


* BambuÍ, Arraial POH
* Genipapo, Fazenda POH
* Pium-Í, Arraial - Vila em 1841 SH3
* Real Mina de Galena do Abaeté FRE POH
* Sobrado, Fazenda PO H

Região Intermediária de Pitangui-Tamanduá


* Conceição da Barra. Arraial (Cassiterita) SH3
* Formiga, Arraial- Vila em 1839 POH SH3
* Oliveira. Arraial- Vila em 1839 POH SH3
* Pompéu, Arraial FRE
* Santa Rita do Rio Abaixo. Arraial (Ritápolis) POH
* São Francisco de Paula, Arraial POH
* São João Batista, Arraial (Morro do Ferro) POH
* Tamanduá, Vila (Itapecerica) SH3

79
Região do Vale do Médio-Baixo Rio das Velhas

[nenhuma localidade visitada]


Região do Vale do Alto-Médio São Francisco
;, Barra do Rio das Velhas. Arraial (Guaicui) POH
;, CarinhanhaiPE. Arraial OaB S&M
;, Extrema. Arraial (Ibiaí) POH
;, Jequitai. Arraia!.. PO H
;, MalhadalBA. Arraial e Registro OaB S&M
;, Nossa Senhora do Amparo do Brejo do Salgado. Arraial (Brejo do Amparo)/Sede da Vila de
Januária em 1836-45 OaB S&M SHI
* Pedras de Maria da Cruz. Arraial... S&M SHI
* Pedras dos Angicos. Arraial (São Francisco) SHI
* Porto do Salgado. Arraial - Sede da Vila de Januária em 1833-36 e 1845-50 OaB S&M SHI
* Santa Ana do Capão. Fazenda/Faz. Capão do Cleto segundo Saint- HilaireiFazenda Capão segundo
Spix & Martius S&M SH 1[2]
* São Romão. Arraial - Vila em 1831 GAR

Região do Sertão

* Bonfim. Arraial (Bocaiúva) POH GAR SHI


* Caiçara, Fazenda SH 1
* Caton io. Fazenda SH 1
* Contendas, Arraia (Brasília de Minas) OaB S&M SHI
* Coração de Jesus. ArraiaL SH 1
* Curimataí. Arraial SH 1
* Formigas, Arraial - Vila de Montes Claros das Formigas em 1831(Montes Claros). OaB GAR S&M SHI
* Retiro. Fazenda PO H
* Ribeirão. Fazenda SHI
* Tamanduá. Fazenda S&M SH 1

Região do Termo de Minas Novas


* Araçuai. Arraial (Senador Modestino Gonçalves) SHI
* Barreiras. Arraial (Carbonita) S&M POH
* Bom Jardim. Fazenda POH SHI
* Cape Iinha, Arraial SH 1
* Chapada. Arraial (Chapada do Norte) OaB S&M POH[2] SHI[2]
* Estreito. Fazenda POH SHI
* Nascentes do Rio Calhau. Acidente geográfico S&M
* Nossa Senhora da Penha. Arraial (Penha de França) POH SHI
* N. S3 do Bom Sucesso das Minas Novas. Vila ou Vila do Fanado de Minas Novas - Cidade de
Minas Novas em 1840 OaB S&M POH[2] SHI [2]
* Piedade. Arraial (Turmalina) S&M POH SHI
* Salto Grande, Arraial (Salto da Divisa) POH
* São Domingos, Arraial (Virgem da Lapa) OaB S&M SHI
* São João Batista, Arraial (ltamarandiba) POH SHI [2]
* São Miguel, Arraial (Jequitinhonha) OaB POH[2] SHI
* Sucuriú. Arraial (Francisco Badaró OaB S&M POH SHI

Região do Distrito Diamantino


* Chapada, Arraial (São João da Chapada) MA W SH2
* Córrego Novo, Lavra de diamantes SH2
* Itambé do Serro, Arraial (Santo Antônio do Itambé) POH

80
* Mendanha. Arraial GAR MA W SH2
* Milho Verde, Arraial GAR S&M SH2
* Monte ltambé, Acidente geográfico S&M
* Rio Manso. Arraial (Couto de Magalhães de Minas) S&M SH2
* Rio Pardo. Lavra de diamantes MAW SH2
* São Gonçalo. Arraial (São Gonçalo do Rio das Pedras) S&M MA W[2]
* Tijuco. Arraial - Vila de Diamantina em 1831 - Cidade em 1838 00B GAR S&M[2] MA W[3] SH2[2]
* Vila do Príncipe - Cidade do Serro em 1838 OOB GAR POH S&M MAW SHl SH2

Região do Sertão do Rio Doce


* Peçanha. Arraial SH 1
* Guanhães, Fazenda - Porto do Guanhães. Arraial (Senhora do Porto) SHl
* Rio Vermelho. Arraial SHl
* Turvo. Fazenda - Nossa Senhora Mãe dos Homens do Turvo, Arraial (Materlândia) SHl

Região da Mata
* Chapéu D'Uvas, Arraial (Paula Lima) FRE GAR LUC(2] POH[2] SHl
* Conceição de Ibitipoca. Arraial SH5
* Guidoval. Fazenda - Arraial de Santana do Sapé ainda na primeira metade do século XIX (Guidoval) S&M
* João Gomes. Arraial (Santos Dumont) POH[2]
* Juiz de Fora. Fazenda - Arraial de Santo Antônio do Paraibuna por volta de 1836 - Vila em 1850
(Juiz de Fora) FRE LUC MA W POH SHl
* Matias Barbosa, Arraial e Registro OOB FRE BUN LUC MAW POH[2] SHl
* Mercês do Pomba, Arraial (Mercês) GAR
* Presídio de São João Batista. Arraial - Vila em 1839 (Visconde do Rio Branco) FRE S&M[2]
* Rio Preto, Arraial - Vila em 1844 BUN SH3 SH5
* Santa Rita do Ibitipoca, Arraial SH5
* São José do Barroso, Arraial (Paula Cândido ) S&M
* Simão Pereira, Arraial POH

Região Intermediária de Conceição


* Conceiçào, Arraial- Vila em 1840 (Conceiçào do Mato Dentro)OOB GAR MAW S&M POH SHl
* Congonhas. Arraial (Congonhas do Norte) SH2
* Córregos. Arraial MA W
* ltabira. Arraial - Vila em 1833 - Cidade de ltabira do Mato Dentro em 1848 (ltabira) SHl
* Itambé, Arraial (Itambé do Mato Dentro) GAR MAW S&M POH SHl SH2
* Morro de Gaspar Soares, Arraial ou Arraial do Morro de Nossa Senhora do Pilar (Morro do Pilar) OOB
MA W S&M POH SHl SH2
* Tapera. Arraial (Santo Antônio do Norte) SH2

Região Sul
* Aiuruoca. Arraial- Vila em 1834 SH5
* Baependi. Arraial - Vila em 1814 SH5
* Barbacena. Vila - Cidade em 1840 FRE OOB BUN MA W LUC POH[2] SHl SH2 SH5
* Barroso. Arraial LUC SH2 SH5
* Bom Jardim, Arraial (Bom Jardim de Minas) BUN SH3
* Camanducaia. Arraial- Vila de Jaguari em 1840 (Camanducaia) S&M
* Campanha. Vila- Cidade em 1840 S&M
* Carrancas. Arraial SH5
* Estiva, Fazenda - Arraial ainda na la metade do século XIX S&M
* Madre de Deus, Arraial (Madre de Deus de Minas) SH3
* Mandu, Arraial - Vila de Pouso Alegre em 1831 - Cidade em 1848 S&M

81
* Passa Quatro. Arraial SH5
* Pico do Papagaio. Acidente geográfico SH5
* Pouso Alto. Arraial SH5
* Rio das Mortes. Arraial SH3
* Santana do Sapucai. Arraial (Silvianópolis) S&M
* Santo Antônio da Ponte Nova. Arraial (Itutinga) S&M
* São Gonçalo. Arraial (São Gonçalo do Sapucaí) S&M
* São João Del Rei. Vila - Cidade em 1838 BUN S&M POH[2] LUc[2] SH2 SH3 SH5
* São José Del Rei. Vila (Tiradentes) BUN POH S&M SH2
* Três Corações, Arraial S&1Y1
* Turvo. Arraial (Andrelândia) SH3

Região Mineradora Central

* Antônio Pereira. Arraial... BUN POH S&M SHl


* Barra do Bacalhau. Arraial (Guaraciabal.. FRE S&M
* Barra Longa, Arraial l\lA \V
* Brumado. Arraial (Bruma!) BUN GAR MA W SHI
* Caeté. Vila BUN GAR S&M SH2
* Carandaí. Arraial... BUN POH SH2
* Catas Altas. Arraial. POH GAR MA W[2] BUN[2] SHl
* Cocais. Arraial BUN GAR S&M POH MAW[2] SH2
* Congonhas do Campo. Arraial (Congonhas) BUN LUC FRE[2] S&M[2] SH2
* Congonhas do Sabará. Arraial (Nova Lima) GAR S&M SH2
* Inficionado, Arraial (Santa Rita Durão) POH GAR MAW S&M BUN[2] SHl
* Lagoa Dourada, Arraial BUN LUc[2] SH2
* Lagoa. Fazenda SH2
* Mariana, Cidade FRE POH GAR LUC BUN[2] MA W[2] S&M[2] SHI SH2
* Morro Grande, Arraial (Barão de Cocais) MA W S&M BUN[2] GAR[2] SH2
* Morro Velho, Mina de ouro GAR[2]
* Ouro Branco. Arraial DOB POH BUN LUC MAW SHI
* Paraopeba. Fazenda (Cristiano Otoni) BUN
* Pinheiro. Arraial (Pinheiros Altos) GAR
* Piranga. Arraial- Vila em 1841 MAW GAR
* Queluz. Vila (Conselheiro Lafaiete) DOB BUN MAW LUC POH SHl
* Raposos. Arraial GAR
* Rio das Pedras. Arraial (Acuruí) S&M SH2
* Sabará. Vila - Cidade em 1838 DOB S&:\1 GAR[2] SH2
* Santa Bárbara. Arraial- Vila em 1839 BUN POH l\IAW SHI SH2
* Santa Rita do Turvo. Arraial (Viçosa) FRE S&M
* Santo Antônio do Rio Acima. Arraial (Rio Acima) S&M SH2
* São Bartolomeu, Arraial SH2
* São Caetano. Arraial (Monsenhor Horta) :vIAW GAR[2]
* São Caetano do Chopotó. Arraial (Cipotânea) GAR
* São Miguel de Piracicaba. Arraial (Rio Piracicaba) SHI SH2
* Suaçuí, Arraial (São Brás do Suaçuí) BUN LUC SH2
* Vila Rica - Cidade de Ouro Preto em 1823 DOB LUC GAR BUN[2] POH[2]
FRE[3] MAW[3] S&M[4] SHI SH2

82
ANEXO 3

Itinerários de viagem (roteiros e mapas)

Roteiro de viagem: Roteiro de viagem:


CHARLES JAMES FOX BUNBURY ALCIDE D'ORBIGNY
Vindo da Cidade do Rio de Janeiro. entra na Vindo do interior da Província da Bahia. chega ao
Províncía de Minas Gerais em maio de 1834 Rio São Francisco em 1833
* Matias Barbosa * Malhada/BA (divisa MG/BA)
* Barbacena * Carinhanha/PE (divisa PElMG)
* Carandaí [sobe o Rio Carinhanha. divisa de Minas
* Paraopeba Gerais/Pernambuco]
* Queluz
Após rápida incursão na Província de Goiás. entra
* Ouro Branco
definitivamente em Minas Gerais
* Ouro Preto
* Mariana [segue em direção ao Rio São Francisco]
* lnficionado * Januária
* Catas Altas * Contendas
* Santa Bárbara * Montes Claros
* Cocais * São Domingos
* São João do Morro Grande * São Miguel
* Mina do Gongo Soco * Sucuriú
* Caeté * Chapada
* São João do Morro Grande * Minas Novas
* Brumado * Diamantina
* Catas Altas * Vila do Príncipe
* Inficionado * Conceição
* Antônio Pereira * Pilar/Morro de Gaspar Soares
* Mariana * Sabará
* Ouro Preto * Ouro Preto
* Congonhas do Campo * Ouro Branco
* Suaçuí * Queluz
* Lagoa Dourada * Barbacena
* São José Del Rei * Matias Barbosa
* São João Del Rei Deixa a Província de Minas Gerais em 1834. com
* Bom Jardim destino a Cidade do Rio de Janeiro
* Rio Preto
Deixa a Província de Minas Gerais em fevereiro de
1835. regressando a Cidade do Rio de Janeiro
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PROVI NC I A DE ,
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MINAS GEHAES
ITINERARIOS DE VIAGEM
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C/1arles James F()X BunlJury ,/
MAl 1834 A FEV.1835 ...................•.............• ;
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Roteiro de viagem: Roteiro de viagem:
GEORG WILHELM FREIREYSS JOHN LUCCOCK
Vindo da Cidade do Rio de Janeiro. entra na Vindo da Cidade do Rio de Janeiro. entra na
Capitania de Minas Gerais em junho de 1814 Capitania de Minas Gerais em 1817
* Matias Barbosa * Matias Barbosa
* Juiz de Fora * Juiz de Fora
* Chapéu D'Uvas * Chapéu D'Uvas
* Barbacena * São João Del Rei
* Congonhas do Campo * Lagoa Dourada
* Ouro Preto * Queluz
* Congonhas do Campo * Ouro Branco
* Pompéu * Ouro Preto
* Real Mina de Galena do Abaeté * Mariana
* Ouro Preto * Congonhas do Campo
* Mariana * Suaçuí
* Barra do Bacalhau * Lagoa Dourada
* Santa Rita do Turvo * São João Del Rei
* Presídio de São João Batista * Barroso
* Ouro Preto * Barbacena
* Chapéu D'Uvas
[o autor não informa o itinerário de retomo ao Rio de
Janeiro] Deixa a Capitania de Minas Gerais em 18 I 8,
regressando a Cidade do Rio de Janeiro
Deixa a Capitania de Minas Gerais no começo de
1815, regressando a cidade do Rio de Janeiro
PROVINCIA DE " '-.
,/

M/NAS GEI?AES
ITINERÁRIOS DE VIAGEM

Georg Wi/l1e/m Freirey~~ . ,,

JUN.1814 A 1815:-------
Jol1n luccocl< .
1B17 - 181 B .

G o y A z

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lAMANDUA
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A P A u L o
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C ANlPANHA
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Roteiro de viagem:
GEORGE GARDNER
Vindo da Província de Goiás. entra em Minas Gerais
em maio de 1840

"São Romão
.• Montes Claros
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.• Mendanha
.• Diamantina
.• Milho Verde
.• Vila do Príncipe
.• Conceição
.• (també
.• Cocais
.• São João do Morro Grande
.• Raposos
.• Mina do Morro Velho
.• Congonhas do Sabará
.• Sabará
.• Mina do Morro Velho
.• Sabará
.• Caeté
.• São João do Morro Grande
.• Brumado
.• Catas Altas
.• Inficionado
.• São Caetano
'" Mariana
w Ouro Preto

.• São Caetano
.• Pinheiro
.• Piranga
.• São Caetano do Chopotó
.• Merces do Pomba
.• Chapéu O'Uvas
Deixa a Província de Minas Gerais em outubro de
1840. com destino a Cidade do Rio de Janeiro

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Roteiro de viagem:
JOHN MAWE
Vindo da Cidade do Rio de Janeiro. entra na Capitania
de Minas Gerais em agosto de 1809
"' Matias Barbosa
"' Juiz de Fora
"' Barbacena
"' Queluz
"' Ouro Branco
"' Ouro Preto
* Mariana
* São Caetano
* Barra Longa
* Piranga
* Ouro Preto
"' Mariana
"' lnficionado
* Catas Altas
* Cocais
* Itambé
* Pilar/Morro de Gaspar Soares
* Conceição
* Córregos
* Vila do Príncipe
* São Gonçalo
* Diamantina
* Mendanha
"' Diamantina
* Chapada
* Rio Pardo
"' Diamantina
"' São Gonçalo
"' Cocais
"' São João do Morro Grande
* Brumado
'" Santa Bárbara
'" Catas Altas
'" Ouro Preto
[o autor não informa o itinerário de retomo ao Rio de
Janeiro]
Deixa a Capitania de Minas Gerais em fevereiro de
1810. regressando a Cidade do Rio de Janeiro
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Roteiro de viagem: * São Miguel
JOHANN EMANUEL POHL * Sucuriú
* Chapada
I' Parte: Vindo da Cidade do Rio de Janeiro. entra
* Minas Novas
na Capitania de Minas Gerais em setembro de 1818
* São João Batista
* Simão Pereira * N. S. da Penha
* Matias Barbosa * Itambé do Serro
* Chapéu D'Uvas * Vila do Príncipe
* João Gomes * Conceição
* Barbacena * Pilar/Morro de Gaspar Soares
* São João Del Rei * Itambé
* São José Del Rei * Cocais
* São João Del Rei * Santa Bárbara
* Santa Rita do Rio Abaixo * Catas Altas
* São João Batista * Inficionado
* Oliveira * Mariana
* São Francisco de Paula * Ouro Preto
* Formiga * Antànio Pereira
* BambuÍ * Ouro Preto
* São Pedro de Alcântara * Ouro Branco
* Patrocínio * Queluz
* Arruda * Carandaí
* Pouso Alegre * Barbacena
* Sapé * João Gomes
* Paracatu * Chapéu D'Uvas
Deixa Minas Gerais em novembro de 1818. entra na * Juiz de Fora
Capitania de Goiás * Matias Barbosa
2' Parte: Em abril de 1820 retoma a Capitania de Deixa a Capitania de r-.tinas Gerais em fevereiro de
Minas Gerais, vindo de Goiás 1821, regressando a Cidade do Rio de Janeiro

* Sapé
* Florentino
* Alegres
* Real Mina de Galena do Abaeté
[desce o Rio Abaeté e depois o Rio São Francisco]
* Sobrado
* Genipapo
* Barra do Rio das Velhas
* Extrema
* Jequitai
* Retiro
* Bonfim
* S. C. de Jesus das Barreiras
* Piedade
* Minas Novas
* Chapada
* Estreito
* Bom Jardim
* São Miguel
[desce o Rio Jequitinhonha]
* Salto Grande
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Roteiro de viagem: * Santa Ana do Capão
AUGUSTE DE SAINT.HILAIRE (RJI MG) * Pedras dos Angicos
* Coração de Jesus
Vindo da Cidade do Rio de Janeiro, entra na
* Catonio
Capitania de Minas Gerais em dezembro de 1816
* Curimata i (setem bro de 1817)
* Matias Barbosa [continua no relato Distrito Diamantino]
* Juiz de Fora
Roteiro de viagem:
* Chapéu D'Uvas
* Barbacena AUGUSTE DE SAINT-HILAIRE (Distrito
* Queluz Diamantino)
* Ouro Branco [continuação do relato RJ/MG]
* Ouro Preto * Córrego Novo (set. 1817)
* Antônio Pereira
* Rio Pardo
* Mariana
* Chapada
* Inficionado
* Diamantina
* Catas Altas
* Mendanha
* Santa Bárbara
* Rio Manso
* Brumado
* Diamantina
* São Miguel
* Milho Verde
* Itabira
* Vila do Príncipe
* Itambé
* Tapera
* Pilar/Morro de Gaspar Soares
* Congonhas
* Conceição
* Pilar/Morro de Gaspar Soares
* Vila do Príncipe
* Itambé
* Guanhães
* Cocais
* Turvo
* Santa Bárbara
* Peçanha
* São Miguel
* Rio Vermelho
* São João do Morro Grande
* Nossa Senhora da Penha
* Caeté
* São João Batista
* Sabará
* Capelinha
* Congonhas do Sabará
* Minas Novas
* Santo Antônio do Rio Acima
* Chapada
* Rio das Pedras
* Sucuriú
* São Bartolomeu
* Estreito
* Ouro Preto
* Bom Jardim
* Mariana
* São Miguel
* Lago
* São Domingos
* Congonhas do Campo
* Chapada
* Suaçuí
* Minas Novas
* Lagoa Dourada
* Piedade
* Carandaí
* São João Batista
* São João Del Rei
* Araçuaí
* São José Del Rei
* Ribeirão
* Barroso
* Bonfim
* Barbacena
* Montes Claros
* Caiçara Deixa a Capitania de \1inas Gerais em março de
* Contendas 1818, regressando a Cidade do Rio de Janeiro
* Tamanduá
* Santa Ana do Capão
* Pedras de Maria da Cruz
* Januária
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Roteiro de viagem: Roteiro de viagem:
AUGUSTE DE SAINT-HILAIRE (São AUGUSTE DE SAINT-HILAIRE (segunda
Francisco) viagem)
Vindo da Cidade do Rio de Janeiro, entra na Vindo da Cidade do Rio de Janeiro, entra na
Capitania de Minas Gerais em janeiro de 1819 Capitania de Minas Gerais em janeiro de 1822
* Rio Preto * Rio Preto
* Bom Jardim * Conceição de Ibitipoca
* Turvo * Santa Rita de Ibitipoca
* Madre de Deus * Barbacena
* São João Del Rei * Barroso
* Rio das Mortes * São João Del Reí
* Conceição da Barra * Carrancas
* Oliveira * Aiuruoca
* Tamanduá * Pico do Papagaio
* Formiga * Baependi
* Pium-í * Pouso Alto
[nascentes do Rio São Francisco] * Passa Quatro

* Araxá Deixa Minas Gerais em Maio de 1822, entra na


* Patrocínio Capitania de São Paulo
* Arruda
* Pouso Alegre
* Pilões
* Sapé
* Paracatu
* Carapinas
* Arrependidos
Deixa Minas Gerais em maio de 1819, entra na
Capitania de Goiás

Roteiro de viagem:
AUGUSTE DE SAINT-HILAIRE (Goiás)
Vindo da Capitania de Goiás, entra em Minas Gerais
em setembro de 1819
* Boa Vista
* Santana do Rio das Velhas
* Tejuco
* Uberaba
Deixa Minas Gerais em setembro de 1819. entra na
Capitania de São Paulo
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ITINERÁRIO DE VIAGEM

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Roteiro de viagem: * Minas Novas
JOHANN B. VON SPIX & CARL F. P. VON * Chapada
MARTIUS * Sucuriú
Vindos da Capitania de São Paulo. entram em Minas [nascentes do Rio Calhau]
Gerais em janeiroifevereiro de 1818 * São Domingos
* Jaguari * Montes Claros
* Estiva * Contendas
* Pouso Alegre * Tamanduá
* Santana do Sapucaí * Santa Ana do Capão
* São Gonçalo * Pedras de Maria da Cruz
* Campanha * Januária
* Três Corações [seguem em direção a Capitania de Goiás]
* Santo Antônio da Ponte Nova Após rápida incursão na Capitania de Goiás.
* São João Del Rei retornam a Minas Gerais
* São José Del Rei
[descem o Rio Carinhanha. divisa de Minas Gerais/
* Lagoa Dourada
Pernambuco]
* Congonhas do Campo
* Ouro Preto * CarinhanhaJPE (divisa PE/MG)
* Mariana * Malhada/BA (divisa MG/BA)
* Barra do Bacalhau Deixam a Capitania de Minas Gerais em setembro de
* Presídio de São João Batista 1818. entram na Bahia
* Guidoval
* Presídio de São João Batista
* São José do Barroso
* Santa Rita do Turvo
* Mariana
* Ouro Preto
* Congonhas do Campo
* Ouro Preto
* Antônio Pereira
* lnficionado
* Ouro Preto
* Rio das Pedras
* Santo Antônio do Rio Acima
* Congonhas do Sabará
* Sabará
* Caeté
* São João do Morro Grande
* Cocais
* Itambé
* Pilar/Morro de Gaspar Soares
* Conceição
* Vila do Príncipe
* Milho Verde
* Diamantina
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* São Gonçalo
* Diamantina
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* Piedade

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ANEXO 4:

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ANEXO 5

Regionalização adaptada

Alguns anos após a conclusão da versão original deste trabalho, da definição dos
contornos das 16 unidades que compõem a regionalização (ANEXO 4), realizamos avaliação

circunstanciada dos resultados alcançados naquele primeiro momento e elaboramos, dentro da


mais rigorosa observância dos critérios que presidiram aquela construção, versão adaptada da
regionalização.

A adaptação esteve orientada por três objetivos básicos. Em primeiro lugar, buscou-se
redefinições de fronteiras que resultassem na preservação em uma mesma região da maior

integridade possível de unidades municipais da década de 183062. Adotamos a divisão de

1831/32 como referencial63. O segundo objetivo era alcançar maior precisão na delimitação
das regiões, através da incorporação, sempre que pertinente, dos contornos da mais remota

62 Mesmo considerando que os municípios. bem como as circunscrições judiciárias. eleitorais e eclesiásticas. na maior parte das
vezes, não coincidiam com o território de regiões com identidade claramente definida, ainda assim, constituíam-se em entidades
espaciais com pelo menos uma afinidade claramente definida: tratavam-se de unidades administrativas e, por decorrência,
pertenciam a estruturas hierarquizadas. Apesar de alguns problemas de desarmonia entre as diversas unidades administrativas, a
regra era a concordância entre elas. Um bom exemplo desta harmonia das divisões é a coincidência entre municipios e termos.
Outra forte evidência é o fato de uma paróquia tender a pertencer sempre a um único municipio. Além disso, nas sedes municipais
reuniam-se funcionários públicos e eclesiásticos (peças estratégicas de estruturas administrativas complexas) que possuiam
autoridade que alcançava parte ou o conjunto do território do municipio.
Porquanto, estes aspectos administrativos, já anteriormente apontados como intervenientes na determinação da identidade das
regiões. foram reconsiderados com a incorporação de informações de divisões municipais da década de 1830. Em alguma
medida. a preservação da maior integridade possivel das unidades municipais. desde que avaliadas com cuidado as eventuais
alterações, pode ter reforçado a identidade das regiões.

63 A população estimada para Minas Gerais em 1830/35 é de 718.191 habitantes: em 1831/32 a Província tinha 16
municipios e 410 distritos (PAIVA. 1996). A distribuição era a seguinte:

Município Distritos População


Numero Percentagem Número Percentagem

Baependi 17 4.1% 36.244 5.1%


Barbacena 24 5.9% 32.042 4,5%
Caelé 25 6,1% 45352 6,3%
Campanha 25 6,1% 65126 9,1%
Jacui 12 2,9% 27.716 3.9%
Mariana 57 13,9% 74297 10.3%
Minas Novas 23 5.6% 52.161 7,3%
Ouro Preto 18 4,4% 20.501 2.9%
Paracatu 30 7.3% 50121 7,0%
Pilangui 17 4.1% 31.324 4,4%
Oueluz 19 4.6% 27254 3.8%
Sabara 39 9,5% 68.176 9,4%
sao João Del Rei 30 7,3% 44803 6,2%
sao José Del Rei 22 54% 33.363 4,6%
Tamanduá 13 3.2% 33.766 4,7%
Vila do Principe 39 9.5% 75945 10.6%

Total 410 100% 718.191 100%


divisão do espaço mineiro em unidades administrativas disponível (as comarcas de 1868)64. O

último propósito, que repercutiu com alterações mais substantivas na proposta original. foi o de
isolar as duas grandes áreas desocupadas, ao menos de populacão não-indígena, e propor
novas configurações espaciais para estas porções da Província. ealizadas as adaptações,

cotejamos a regionalização com as atuais zonas fisiográficasô5 Algumas regiões tiveram seus

nomes modificados.

Com a realização das adaptações logramos atender aqueles pesquisadores que, por

contingências determinadas pela documentação trabalhada ou por opção metodológica, estão

sempre balizados nas unidades espaciais definidas pela estrutura administrativa do período

(municípios/distritos). Utilizou-se as linhas demarcadoras das comarcas. sobretudo, para


conferir maior precisão a estas fronteiras redefinidas em função da estrutura administrativa. As
mudanças que objetivaram isolar os dois grandes vazios demográficos da Provincia deverão

atender, principalmente, àqueles investigadores especialmente interessados no estudo

daquelas fronteiras da ocupação.

O impacto das adaptações em cada região será analisado na sequência.

Apresentaremos a correspondência de cada região com as divisões municipais da década de


30, sobretudo a válida para os anos de 1831/32. Da mesma forma, apresentaremos a

correspondência de cada região com a atual divisão por zonas fisiográficas. Descreveremos os

limites de cada região, ressaltando eventuais alterações incorporadas. Analisaremos


isoladamente as alterações, destacando as principais consequências decorrentes, sobretudo
aquelas que eventualmente possam repercutir na identidade das regiões; faremos, portanto.

constantes referências às características específicas das regiões originalmente propostas.

64 DepoIs de exaustivo levantamento na Mapoteca do Arquivo Público Mineiro, da avaliação de todo material cartográfico dos
séculos XVIII e XIX, constatou-se que as comarcas de 1868 constituem-se, provavelmente, na mais antiga espaclalização de uma
divisão de Minas Gerais em unidades administrativas, passível de ser utilizada.
O Mapa aa Provincia de Minas Geraes. constante no Atlas do Imperio do Brazil. apresenta-se segmentado em vinte e duas
comarcas e traz a indicação dos municipios pertencentes a cada uma das circunscrições judiciárias. As segmentações do espaço
mineiro anteriores a esta carta geográfica trazem três ordens de problemas: alguns mapas contemplam apenas parte do território
mineiro; outros apresentam os recortes sem referências geográficas suficientes à determinação. ao menos aproximada, dos limites
entre as unidades espaciais (linhas traçadas em mapas que praticamente limitam-se aos contornos do território provincial e
algumas localidades ou acidentes geográficos isolados); ou ainda, cartas geográficas com grandes deformações cartográficas
(sobretudo de escala).
65 A superposição das atuais zonas fisiográficas (amplamente utilizadas pelos pesquisadores em geral. inclusive por muitos
historiadores que trabalham com o século XIX) à regionalização adaptada possibilita comparar duas propostas diversas de
segmentação do espaço e válidas para periodos históricos distintos. De um lado o recorte segundo a geografia fisica do final do
século XX. de outro o recorte definido segundo a identidade regional da primeira metade dO século XIX. Um dos principais
resultados da confrontação é a confirmação do equivoco que é a transposição de segmentação do espaço entre períodos
históricos diferentes, sobretudo quando os recortes são definidos a partir de aspecto isolado (geografia física).

102
Assim, fornecemos as informações fundamentais referentes a esta versão adaptada da
regionalização. As injunções específicas a cada investigação é que deverão determinar qual

das duas versões melhor coaduna-se aos objetivos perseguidos por cada pesquisador66. A

regionalização é uma só, a versão adaptada traz modificações que não subvertem a identidade
das regiões.

O quadro seguinte traz a distribuição dos municípios e distritos pelas regiões; avaliando o

percentual da composição municipal de cada região e da distribuição dos municípios pelas


regiões. Apresenta também a posição relativa das regiões quanto ao número de distritos e
população em relação ao conjunto da Província.

66 A primeira utilização da proposta de regionalização na sua versão adaptada é de PAIVA, 1996.


Tabela 2: Distribuição regional dos distritos e população dos municipios de 1831/32

Municiolos Pooulacão
Região
Numero Parcela ao Numero ~3rt1ODacao Pzrtlopacão Parcela da
i\1unlciolo ca 000. no da OOP. CIO DOP. do

::;.ontlda na total Cla ~.1UnlClPIO na MUnlcíplO

regIão (l%) Provinoa Região (%) cor.t1da na


(%) regIão (0/0)

Paracatu ?aracatu 1.71 100.00 23.33 10.152 1,41 100,00 20.25


Total 1,71 100,00 10.152 1,41 100,00

Araxá Paracatu 13 3.17 100.00 43,33 22.006 306 100,00 43,91

Total 13 3,17 100,00 22.006 3,06 100,00

Triãngulo Paracatu 0,73 100.00 10.00 lO 287 1,43 100.00 20.52

Tolal 0,73 100,00 10.287 1,43 100,00

Sertão do Alto São Tamandua 0.73 37,50 23.08 10.168 1,42 56.21 30,11
Francisco Pitangul 0.98 50,00 23.53 6232 087 34.45 19,90
Saoará 024 12,50 2,56 1689 0.24 934 2,48

Total 1,95 100.00 18.089 2.52 100.00

Intennediaria de São José oel Rei 22 5.37 47.83 '00.00 33.363 465 39.74 100,00
PitangUl-Tamandua Pltangul 13 3 17 28.26 76.47 25092 349 29.89 80,10
Tamanaua 10 2.44 21,74 76.92 23.598 329 28.11 69.89
Sabara 1 024 2,17 2.56 1896 026 2.26 2,78

Total 46 11,22 100,00 83.949 11,69 100,00

Vale do Médio.Baixo SaOará 14 3.41 93.33 35.90 33.925 4.72 95.00 49.76
Rio das Velhas Vila do Pnnclpe 1 0,24 6,67 2.56 1786 0.25 5.00 2,35

Tolal 15 3,66 100,00 35.711 4,97 100,00

Vale do Alto-Médio Paracatu 1,71 58.33 23,33 7676 107 53,98 15,31
São Francisco Vila do PrinclPe 1,22 41,67 12,82 6.544 0.91 46,02 8.62

Tolal 12 2,93 100,00 14.220 1,98 100,00

Sertão Vila do Príncipe 4 0,98 100,00 10,26 8.726 1,21 100,00 11,49

Total 4 0,98 100,00 8.726 1,21 100,00

Minas Novas Minas Novas 23 5.61 95,83 100.00 52,161 7,26 92,74 100,00
Vila do Pnncipe 1 0.24 4.17 2.56 4081 0,57 7,26 5,37

Total 24 5,85 100,00 56.242 7,83 100,00

Vila do P(ncipe 12 2,93 100.00 30,77 28.393 3.95 100.00 37,39


Diamantina
Total 12 2,93 100,00 28.393 3,95 100,00

Sertão do Rio Doce Mariana 0.24 100,00 1,75 267 0.04 100,00 0,36

Tolal 0,24 100,00 267 0,04 100,00

Mariana 14 341 50.00 24,56 21.525 3,00 50.81 28,97


Mata
Barbacena 14 3.41 50.00 58,33 20.839 2,90 49,19 65,04

Tolal 28 6,83 100,00 42,364 5,90 100,00

Baependl 17 4,15 36.96 100.00 36244 5,05 52.45 100,00


Sudeste
São João dei Rei 19 4,63 41,30 63.33 21.651 3,01 31.33 48,32
Barbacena 10 2,44 21.74 41.67 11.203 1,56 16,21 34,96

Tolal 46 11,22 100,00 69.098 9,62 100,00

Campanha 25 6,10 69,44 100,00 65126 9,07 73,77 100,00


Sul-Central
São João dei Rei 11 2,68 30.56 36,67 23.152 3.22 26,23 51,68

Total 36 8,78 100,00 .278 12,29 100,00

Jacuí 12 2,93 100,00 100,00 27.716 3,86 100,00 100,00


Sudoeste
Total 12 2,93 100,00 27,716 3,86 100,00

Caeté 7 1,71 41,18 28,00 12.385 1,72 36,84 27,31


Mineradora
Vila do Príncipe 6 1,46 35,29 15,38 11 581 1,61 34.45 15,25
CentraJ.Leste
Mariana 4 0,98 23,53 7,02 9653 134 28,71 12,99

Total 17 4,15 100,00 33.619 4,68 100,00

Mariana 38 9.27 30.16 66.67 42852 5.97 25.35 57,68


Mineradora
Caetá 18 4,39 14.29 72.00 32.967 4,59 19,50 72,69
Central.Oeste
Sabará 23 5,61 18,25 58,97 30666 4,27 18.14 44,98
Queluz 19 463 15,08 100,00 27254 3.79 16,12 100,00
Ouro Preto 18 4,39 14,29 100.00 20,501 2,85 12,13 100.00
Vila do Principe lO 2,44 7,94 25.64 14834 207 8,77 19,53

Total 126 30,73 100,00 169,074 23,54 100,00

Província Tolal 410 100,00 718.191 100.00


Fonte: PAIVA(1996)

104
A seguir apresentaremos, separadamente, as regiões propostas na versão adaptada da
regionalização.

REGIÃO DO TRIÂNGULO

Corresponde a parcela do Município de Paracatu -1831/32. Praticamente coincide com o


Município de Uberaba -1838/40.

Praticamente coincide com a zona fisiográfica Triângulo.

A fronteira leste da região, a única que não é limite de província, foi redefinida. Utilizou-se fronteira
de comarca, que coincide com o Rio das Velhas, até a altura das nascentes do Ribeirão Ponte Alta. Este
trecho da fronteira leste acompanhou o Ribeirão Ponte Alta até sua foz no Rio Grande, preservando na
região vizinha a área do antigo Município de Sacramento, que pertencia ao Município de Araxá.

Estabelecer demarcação mais precisa dos limites leste foi a principal razão da alteração de
fronteiras da Região do Triângulo. A mudança da fronteira leste resultou na transferência de parcela
expressiva dos territórios indígenas do Triângulo para a Região de Araxá. A nova fronteira leste permitiu
praticamente separar os municípios de Araxá e Uberaba (1838/40).

REGIÃO DE ARAXÁ

Corresponde a parcela do Municipio de Paracatu -1831/32. Praticamente coincide com o


Município de Araxá -1838/40.

Praticamente coincide com a zona fisiográfica Alto Paranaíba.

A fronteira sul é definida pelo Rio Grande e pela Serra da Canastra. A fronteira leste é definida pela
Serra do Mato da Corda. A fronteira norte e definida por demarcação de comarca, coincidindo com um
conjunto de serras. Esta região tem por limites leste e norte uma série de serras que separam a Bacia do
Paranaíba da Bacia do São Francisco. A fronteira oeste, com a região vizinha do Triângulo, foi redefinida
(VER REGIÃO DO TRIÂNGULO).

REGIÃO DE PARACATU

Corresponde a parcela do Município de Paracatu -1831/32. Corresponde ao Município de


Paracatu -1838/40 e a parcela do Município de São Romão -1838/40 (a área não ribeirinha do
município).

Corresponde a porção sul da zona fisiográfica Paracatu e a pequenas áreas das zonas
fisiográficas Alto Médio São Francisco e Alto São Francisco.

A fronteira oeste é limite de províncias. A fronteira leste é o Vale do São Francisco (área ribeirinha)
e um conjunto de serras que separam os vales do Rio Paracatu e do São Francisco. A fronteira norte foi
redefinida, incorporando o Rio Urucuia e afluentes, bem como alguns tributários da margem esquerda do
Rio Paracatu. A nova fronteira norte é definida por demarcação de comarca e pelo Chapadão do Urucuia.

Isolar a porção quase que totalmente desocupada da Região do Sertão do Urucuia foi o objetivo
principal desta alteração de fronteira. A incorporação dos territórios do Vale do Rio Urucuia também
atendeu ao objetivo de manter todo o Município de Paracatu (1838/40) na Região de Paracatu. A divisão
anterior deixava parte expressiva dos distritos de Paracatu (1838/40) na Região do Sertão do Urucuia. As
distinções entre a Região de Paracatu original e os territórios incorporados ao norte, distinções
relacionadas, sobretudo, à antiguidade da ocupação, densidade populacional e nível de vinculação com
outras regiões economicamente mais dinâmicas, sugerem a pertinência de futura avaliação da

105
proposição de nova região, que compreenderia exatamente estes territórios intermediários entre a Região
de Paracatu original e a nova Região do Extremo Noroeste.

REGIÃO EXTREMO NOROESTE


(Região do Sertão do Urucuia)

Corresponde a parcela do Município de Paracatu -1831/32. Corresponde a parcela não ribeirinha


do Município de Januária -1838/40.
Corresponde as porções norte das zonas fisiográficas Paracatu e Alto Médio São Francisco
(excluindo as áreas ribeirinhas).
As fronteiras oeste e norte são definidas por limites de províncias. A fronteira leste é o vale do São
Francisco (área ribeirinha). Com a alteração dos limites sul da Região do Sertão do Urucuia (VER
REGIÃO DE PARACATU), passando todo o vale do Rio Urucuia para a região vizinha. alterou-se o nome
da região para Extremo Noroeste.
A identidade da Região do Sertão Urucuia. agora Região Extremo Noroeste. foi mais do que
preservada. A identidade regional ficou potencializada com' o isolamento daquela porção mais
homogênea do território da Região do Sertão do Urucuia. Portanto. a Região do Extremo Noroeste
continua sendo um dos mais tipicos sertões mineiros.

REGIÃO DO VALE DO ALTO-MÉDIO SÃO FRANCISCO

Corresponde a parcela do Município de Paracatu -1831/32 (margem esquerda do rio) e parcela


do Municipio de Vila do Príncipe -1831/32 (margem direita do rio). Corresponde as áreas ribeirinhas
dos municípios de São Romão -1833/35, Januária -1833/35 e Montes Claros -1833/35.
Corresponde as áreas ribeirinhas das zonas fisiográficas Montes Claros e Alto Médio São
Francisco.
Esta região compreende a área ribeirinha do São Francisco, da Barra do Rio das Velhas à fronteira
com a Bahia/Pernambuco. Define-se. mais ou menos, pela área compreendida entre vinte quilômetros
das margens esquerda e direita. A Região do Vale do Alto-Médio São Francisco não sofreu nenhuma
alteração em seus limites.

REGIÃO DO SERTÃO

Corresponde a parcela do Município de Vila do Príncipe -1831/32. Corresponde a maior parcela


do território do Municipio de Montes Claros -1833/35 (excluídas as áreas ribeirinhas do São Francisco e
que estão além da Serra do Espinhaço).
Praticamente coincide com a zona fisiográfica Montes Claros. acrescida de pequenas porções
das zonas fisiográficas Alto Médio São Francisco, Itacambira e Alto São Francisco.
A fronteira oeste é definida pelos vales dos rios São Francisco e das Velhas (áreas ribeirinhas). A
fronteira norte é limite de províncias. As fronteiras sul e leste foram redefinidas. No caso da fronteira leste
o objetivo da alteração foi preservar todo o Município de Minas Novas (1831/32) na região vizinha que
leva o mesmo nome; no caso da fronteira sul o objetivo da alteração foi separar o Município de Montes
Claros (1833/35) do Município de Diamantina (1833/35). Estas redefinições de fronteiras foram
favorecidas pela presença de demarcações de comarca que coincidiram quase que perfeitamente com a
nova distribuição dos distritos dos municipios envolvidos. Toda fronteira sul foi definida por demarcação
de comarca; já a fronteira leste foi definida em parte por demarcação de comarca (os limites que
coincidem com o Rio Verde) e em parte pelos limites entre os municípios de Minas Novas (1831/32) e
Vila do Príncipe (1831/32). As localidades situadas entre a nova fronteira leste da Região do Sertão e a
Serra do Espinhaço (fronteira anterior), apresentam histórico de antiga subordinação administrativa ao

106
Município de Minas Novas: a área do distrito de Tremedal. pertencente a Montes Claros no início da
década de 1830, no princípio da década de 1840 passa a subordinar-se ao Município de Grão Mogol e
mais tarde ao de Rio Pardo, ambos criados a partir do desmembramento do Municipio de Minas Novas.

A identidade da Região do Sertão permanece inalterada, apesar de parcela significativa de seu


território passar para a região vizinha ao sul e, principalmente, para a região situada a leste.

REGIÃO DE MINAS NOVAS


(Região do Termo de Minas Novas)

Corresponde ao Município de Minas Novas .1831/32, acrescido de pequena porção do


Município de Vila do Príncipe -1831/32. Corresponde aos municípios de Minas Novas -1833/35, Río
Pardo -1833/35 e pequena porção do de Montes Claros -1833/35.

Engloba toda a zona fisiográfica Médio Jequitinhonha, a maior parte da de Itacambira e a


porção norte da do Alto Médio Jequitinhonha.

As fronteiras norte e leste são definidas por limites de províncias. A fronteira sul é definida pelas
serras que separam a bacia do Jequitinhonha das bacias do 'Mucuri e Doce. A fronteira oeste foi
redefinida (VER REGIÃO DO SERTÃO) com o objetivo de manter integralmente na região a área do
Município de Minas Novas (1831/32). No caso da fronteira oeste mais ao sul. divisa com a Região do
Distrito Diamantino, parte do território da Região do Termo de Minas Novas foi incorporada a Região de
Diamantina, com o objetivo de separar os municípios de Minas Novas e Vila do Príncipe (1831/32). Parte
dos novos limites a oeste foram definidos por demarcação de comarcas e parte pelos limites dos
municípios de Minas Novas e Vila do Príncipe (1831/32). Na medida que as mudanças de fronteiras
resultaram na perda da coincidência com a circunscrição judiciária Termo de Minas Novas, alteramos o
nome da região para Minas Novas.

A incorporação dos territórios a oeste da Serra do Espinhaço, fronteira da Região do Termo de


Minas Novas, não alterou a identidade da região. Esta área apresentava características bastante
próximas dos territórios do Vale do Rio Pardo mineiro, porção norte da Região do Termo de Minas Novas.
Os contrastes internos da Região do Termo de Minas Novas permaneceram inalterados, aumentando,
contudo, o tamanho de uma das áreas que apresentava características especificas. No futuro, novas
avaliações devem ser empreendidas, principalmente no sentido de considerar a pertinência da
redefinição dos contornos regionais desta imensa extensão territorial que são as regiões do Sertão e de
Minas Novas. Uma possibilidade, a ser cuidadosamente analisada a partir da incorporação de novas
evidências empíricas, é da separação das três áreas com características específicas que compõem a
Região do Termo de Minas Novas. A porção leste, a partir da localidade de São Miguel, poderia ser
incorporada a Região do Sertão do Rio Doce por apresentar fortes semelhanças com esta região vizinha
ao sul: a porção norte, Vale do Rio Pardo mineiro, e a margem esquerda do Rio Jequitinhonha, do ponto
em que o rio penetra na região (próximo a localidade de Barreiras) até a altura do tributário Rio Vacaria,
poderia ser incorporada a Região do Sertão em função da existência de importantes caracteristicas
comuns com esta região vizinha a oeste; restariam os territórios do centro e sul da região. que não
guardam semelhanças relevantes com nenhuma das regiões vizinhas ao sul e oeste.

REGIÃO DO SERTÃO DO RIO DOCE

Com a presença de um único distrito, Cuieté (Mariana - 1831/32), lugar de degredo, perdido em
meio a densa mata atlântica ocupada por índios pouco afeitos ao contato com a "civilização", esta região
pode ter pertencido, do ponto de vista administrativo, a um ou mais dos municípios que lhes eram
fronteiriços (Município de Minas Novas -1831/32 ao norte e oeste, Vila do Príncipe -1831/32 a oeste e
Mariana -1831/32 a oeste e sul).

Engloba praticamente toda o território das zonas fisiográficas Mucuri e Rio Doce e pequenas
porções das zonas fisíográfícas Mata e Metalúrgica.

107
Toda extensa fronteira leste é definida por limites de províncias. A fronteira norte é definida por
conjunto de serras que separam os vales dos rios Doce e Mucuri do Vale do Rio Jequitinhonha. A
fronteira sul é definida por conjunto de serras que separam os vales dos rios Doce e Paraiba. A fronteira
oeste foi redefinida. Os novos limites são: o ponto mais ao norte é o curso de pequeno afluente do Rio
Suaçuí Grande, segue o curso do próprio Suaçui até sua barra no Rio Doce. sobe este até a altura da
Barra do Rio Santo Antônio, acompanhando depois conjunto de serras onde nascem alguns tributários do
Rio Doce (Rios Cuieté e Manhuaçu). Do pequeno afluente do Rio Suaçui Grande até a Barra do Rio
Santo Antônio a fronteira coincidiu com limites de comarcas.
O objetivo da alteração da fronteira oeste foi isolar a parte da Região do Sertão do Rio Doce
original que estava desocupada de população não-indigena. A nova fronteira coincide com a linha de
ocupação não-indígena. com os distritos mais orientais dos municípios de Vila do Principe, Caeté e
Mariana (exceto o distrito de Cuieté). A mudança da fronteira resultou na retirada da região de todos os
territórios em processo de colonização. A Região do Sertão do Rio Doce passou a compreender
territórios quase que completamente à margem do "processo civilizatório". Expurgada das zonas de
colonização. a região perdeu um dos elementos que lhe conferiam identidade. A Região do Sertão do Rio
Doce. ainda que a mais próxima do litoral. passa a figurar como a área provavelmente mais intocada da
Província e, consequentemente. com a identidade mais ligada a precariedade ou ausência de ocupação
não-indigena.

REGIÃO DO SERTÃO DO ALTO SÃO FRANCISCO


(Região do Sertão do Indaiá-Abaeté)

Corresponde as porções ocidentais dos municípios de Pitangui -1831/32 e Tamanduá -1831/32,


mais a área extremo-norte do Município de Sabará -1831/32, situada no vale do São Francisco.

Corresponde a grande parcela da zona fisiográfíca Alto São Francisco, mais pequenas porções
das zonas físiográficas Alto Paranaíba e Alto Médio São Francisco.
O Rio Grande delimita a fronteira sul. As fronteiras oeste e norte são conjuntos de serras que
separam a Bacia do São Francisco das bacias do Paraiba e Paracatu. A fronteira leste sofreu pequenas
mudanças na sua parte ao sul do Rio Espírito Santo, pequeno afluente da margem direita do São
Francisco. A nova fronteira inicia-se com conjunto de serras que separam a Bacia do São Francisco da
Bacia do Rio das Velhas. coincide com o próprio Rio São Francisco no trecho compreendido entre as
barras dos rios Paraopeba e Bambui. acompanhando depois limites de comarcas até o Rio Grande.
Ainda que a área da região tenha sofrido apenas pequenas alterações. com as mudanças da fronteira
leste, foi proposto o novo nome de Sertão do Alto São Francisco.

REGIÃO INTERMEDIÁRIA DE PITANGUI-TAMANDUÁ

Corresponde as porções orientais dos municípios de Pitangui -1831/32 e Tamanduá -1831/32. o


Município de São José Del Rei -1831/32 e a área dos distritos de Pompéu e Piedade do Bagre do
Município de Sabará -1831/32.
Corresponde a parcelas das zonas fisiográficas Alto São Francisco. Metalúrgica e Campos
das Vertentes.
Todas as fronteiras foram alteradas. com pequenas mudanças nos limites oeste e sul e alterações
mais substantivas a leste. A fronteira sul sofreu ligeiras mudanças. permanecendo o Rio Gra,'; como
demarcação importante e os limites entre os municípios de São José Del Rei e São 30 Del
Rei/Barbacena (1831/32), que praticamente coincidiam com o curso do Rio das Mortes. demarcando a
outra parte da fronteira sul. Pequenas foram as mudanças na fronteira oeste (VER REGIÃO DO SERTÃO
DO ALTO SÃO FRANCISCO). A fronteira leste foi redefinida com o objetivo de separar os municípios de
Pitangui e Sabará (salvo a área das localidades de Piedade do Bagre e Pompéu), e os municípios de São

108
José Del Rei e Queluz. A nova fronteira leste coincidiu com limites de comarcas na parte que separa os
municípios de São José Del Reí e Queluz.

As alterações resultaram na incorporação de territórios em todas as fronteiras da região. Estes


territórios, dado a sua pequena extensão total e descontinuidade, não resultaram em impacto significativo
na área e, muito menos, identidade da região. Por outro lado, extensa foi a área transferida para a região
vizinha a leste. Esta área. que compreendia número significativo de distritos de Queluz e, principalmente,
Sabará, precisa passar por avaliação criteriosa a partir da incorporação de novas evidências empíricas,
para que o impacto de seu deslocamento para a região vizinha possa ser melhor dimensionado. A Região
Intermediária de Pitangui-Tamanduá, por se tratar de região de transição e estar situada na porção do
território provincial com maior densidade de localidades e população, deverá ser foco privilegiado de
futuras investigações que podem vir a reavaliar sua abrangência geográfica.

REGIÃO DO MÉDIO-BAIXO RIO DAS VELHAS

Corresponde a parcela do Município de Sabará -1831/32, mais o distrito de Pissarão do


Município de Vila do Principe -1831/32. Corresponde a quase totalidade do Municipio de Curvelo _
1833/35, mais parcela do Municipio de Sabará -1833/35 e do Municipio de Diamantina -1833/35.

Corresponde a parcelas das zonas fisiográficas Alto São Francisco e Metalúrgica.

Os limites desta região praticamente permaneceram inalterados. Compreende o Vale do Rio das
Velhas da sua barra até a altura da localidade de Santa Luzia. As fronteiras do trecho do baixo Rio das
Velhas são definidas pela área ribeirinha. Já as fronteiras do médio Río das Velhas incorporam a maior
parte dos afluentes de ambas as margens.

REGIÃO DE DIAMANTINA
(Região do Distrito Diamantino)

Corresponde a parcela do Municipio de Vila do Príncipe -1831/32. Praticamente corresponde ao


Municipio de Diamantina -1833/35. mais parcela do Município de Vila do Príncipe -1833/35.

Corresponde a parcela da zona fisiográfica Alto Jequitinhonha, e pequenas porções das zonas
fisiográficas Alto São Francisco e Rio Doce.

Foram incorporados a área da Demarcação Diamantina, que praticamente definia os limites da


Região do Distrito Diamantino. territórios de quase todas as regiões vizinhas. As incorporações mais
importantes foram na fronteira norte. Parte da Região do Sertão foi anexada com o objetivo de separar os
municípios de Montes Claros e Diamantina (1833/35); parcela do território da Região do Termo de Minas
Novas foi incorporada com o objetivo de separar os municípios de Vila do Príncipe e Minas Novas
(1831/32). Quase toda a nova fronteira norte foi traçada utilizando limites de comarcas.

A nova configuração da região acabou por ultrapassar por demais a Demarcação Diamantina,
justificando a mudança de seu nome para Região de Diamantina. Contudo, avaliamos que tais
incorporações de territórios não alteraram a identidade da região. As características da região
permaneceram válidas, ainda que as áreas incorporadas tenham contribuído para a redução relativa da
importância de algumas delas.

109
REGIÃO DA MATA

Corresponde a parcela dos municípios de Mariana -1831/32 e Barbacena -1831/32.


Praticamente coincide com o Município de Rio Pomba -1833/35, mais parcela do Município de
Barbacena -1838/40.
Corresponde a parcela da zona fisiográfica Mata.
A Região da Mata não teve nenhuma das suas fronteiras originais alteradas. Suas fronteiras são
definidas pela Serra da Mantiqueira e outras serras que separam o Vale do Paraíba mineiro dos vales
dos rios Grande e Doce, as demais fronteiras são limites de províncias.

REGIÃO SUL

Compreende os municípios de Jacuí -1831/32, Campanha -1831/32. Baependi -1831/32, São


João Del Rei -1831/32 e a parcela do Município de Barbacena -1831/32.
Corresponde a zona fisiográfica Sul e a porção da zona fisiográfica Campos das Vertentes.

As fronteiras sul e oeste são definidas por limites de províncias. A fronteira norte é definida pelo
Rio Grande, Rio das Mortes e limites de municípios. A fronteira leste e definida pela Serra da Mantiqueira.
Insignificantes foram as alterações de fronteira.
A Região Sul foi dividida em três novas regiões: Sudeste, Sul Central e Sudoeste. A segmentação
do Sul, a partir da percepção de contrastes internos a região, possibilitara a investigação de aspectos que
o tratamento conjunto da região originalmente proposta inviabilizam. A divisão da Região Sul representa a
primeira iniciativa na direção do estabelecimento de unidades espaciais que muito provavelmente
consolidarão o conhecimento de especificidades intra-regionais. Aos investigadores do período
fornecemos duas opções de tratamento do espaço sul mineiro. Àqueles que optarem pelas três novas
regiões delineadas sempre haverá a possibilidade de somar os resultados encontrados para que possam
contemplar em conjunto a grande Região Sul, ponderando as especificidades de cada uma das três
regiões; aos demais, envolvidos com questões que dispensam a segmentação do Sul, basta desprezar
as duas divisões internas que definem as três novas regiões.
REGIÃO SUDESTE: Compreende o Município de Baependi -1831/32. parcela do Município de
São João Del Rei -1831/32 (corresponde ao Municipio de São João Del Rei -1833/35) e parcela do
Municipio de Barbacena -1831/32.
REGIÃO SUL CENTRAL: Compreende o Município de Campanha -1831/32 e parcela do
Município de São João Del Rei -1831/32 (corresponde ao Município de Lavras 1833/35).

REGIÃO SUDOESTE: Compreende o Municipio de Jacuí -1831/32.

REGIÃO MINERADORA CENTRAL

Compreende os municípios de Ouro Preto -1831/32, Queluz -1831/32, Caeté -1831/32 e


parcelas de Mariana -1831/32, Sabará -1831/32 e Vila do Príncipe -1831/32.

Corresponde a maior parte da area da zona físiográfica Metalúrgica e parcelas das zonas
fisiográficas Mata, Campos das Vertentes e Rio Doce.
Esta região foi profundamente redefinida. Quase todas as suas fronteiras foram alteradas. A
fronteira sul continuou sendo definida pela Serra da Mantiqueira e outras serras que separam as bacias
dos rios Grande e Doce da Bacia do Rio Paraíba. A fronteira oeste foi bastante alterada, com a
incorporação de grande área anteriormente pertencente a região vizinha (VER REGIÃO
INTERMEDIÁRIA DE PITANGUI-TAMANDUÀ). A fronteira leste foi completamente redefinida, com a
anexação de expressiva parcela da região vizinha (VER REGIÃO DO SERTÃO DO RIO DOCE), A

110
fronteira norte em parte foi preservada. limites com a Região do Vale do Médio-Baixo Rio das Velhas, e
em parte foi totalmente modificada. com a incorporação da Região Intermediária de Conceição. A nova
Região Mineradora Central foi dividida em duas regiões.

A REGIÃO MINERADORA CENTRAL LESTE praticamente coincide com os territórios


incorporados a leste. anteriormente pertencentes a Região do Sertão do Rio Doce. Compreende parcelas
dos municípios de Vila do Príncipe. Caeté e Mariana (1831/32). Os limites a oeste não coincidem com
demarcações de comarcas. assim como não foram determinados por acidentes geográficos. A fronteira
ocidental. com algumas alterações. coincide com a fronteira oeste da Região do Sertão do Rio Doce
original.
A REGIÃO MINERADORA CENTRAL OESTE praticamente corresponde a Região Mineradora
Central original. mais os territórios anexados a oeste. anteriormente pertencentes a Região Intermediária
de Pitangui-Tamanduá. e a Região Intermediária de Conceição. também anexada. Compreende os
municípios de Ouro Preto e Queluz (1831/32) e parcelas do municípios de Sabará. Vila do Príncipe,
Caeté e Mariana (1831/32).

A Região Mineradora Central original foram incorporadas. basicamente. três grandes áreas. A
anexação de territórios a oeste visava separar os municipios de Sabará e Pitangui (1831/32) e Queluz e
São José Del Rei (1831/32); o impacto desta transferência de territórios já discutimos anteriormente (VER
REGIÃO INTERMEDIÁRIA DE PITANGUI-TAMANDUÁ). A incorporação de territórios a leste atendia ao
propósito de isolar a porção desocupada de população não-indígena da Região do Sertão do Rio Doce
original (VER REGIÃO DO SERTÃO DO RIO DOCE); os possíveis efeitos da anexação desta zona de
colonização foram isoladas com a proposição da Região Mineradora Central Leste, que compreende
basicamente estes territórios. A anexação da Região Intermediária de Conceição. cujos territórios
passaram a pertencer a Região Mineradora Central Oeste, foi impOSição decorrente das mudanças
ocorridas com a incorporação de parte da Região do Sertão do Rio Doce original. A Região Intermediária
de Conceição apresentava características semelhantes a Região Mineradora Central original. era região
de transição, e, com a nova configuração, perderia esta condição básica; os territórios anexados a leste
retiraram da região sua condição de transição na medida que os limites norte da Região Mineradora
Central passavam a ser diretos com as regiões do norte da Provincia. Estava inviabilizada a existência
desta região de transição. A Região Mineradora Central Oeste conservou a identidade da Região
Mineradora Central original. Os territórios que lhe foram incorporados pertenciam a duas regiões de
transição; transição das características que conferiam identidade a Mineradora Central para regiões com
identidades distintas. A Mineradora Central Leste conservou o nome da região original não só pela
presença de expressiva atividade de extração mineral, principalmente nas áreas imediatamente vizinhas
da Mineradora Central Oeste. mas também. por apresentar características que a aproximam da
ídentidade da Região Mineradora Central original. Novas evidências empíricas deverão aprofundar o
conhecimento da Região Mineradora Central Leste, ponderando. sobretudo. as semelhanças com a
região vizinha a oeste.

111
PROVINCIA DE

M/NAS GENAES
REGIONALIZAÇÃO ADAPTADA
EXTREMO NOROESTE

J,

G o y A z

5 A o P A u L o SUDE

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