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Dezembro de 1996
Universidade Federal de Minas Gerais
Faculdade de Ciências Econômicas
Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional
Dezembro de 1996
ANEXO I
MAPA DA PROVINClA DE MINAS GERAIS. . 76
ANEXO 2
RELAÇÃO POR REGIÃO DAS CIDADES. VILAS. ARRAIAIS. POVOADOS. ALDEIAS. FAZENDAS. \1I:'oIAS E LAVRAS DE OeRO DIA\IANTE. POSTOS ADUANEIROS E
ACIDENTES GEOGRAFICOS VISITADOS PELOS VIAJANTES. . 78
ANEXO 3
InNERARJOS DE VIAGEM (ROTEIROS E MAPAS) .. . 83
ANEXO~
REGIDNALIZAÇÃO .. . 99
ANEXO 5
REGIONALIZAÇÃO ADAPTADA .......... 101
FIGURAS
FIGURA 1: LINHA DO TEMPO. . 21
TABELAS
QUADRO 1. VIAJANTES: RESUMO INFORMATIVO SOBRE AS FONTES CONSULTADAS .. ... 20
TABELA 2: DISTRIBUiÇÃO REGIONAL DOS DlS1l\ITOS E POPULAÇÃO DOS MU~ICIPIDS DE 183\/32 . ..... 104
i\IAPAS
MAPA I PROVíNCIA DE MINAS GERAIS ... . 77
MAPA 2: InNERARlO DE VIAGEM. BUNBURY E D'ORBIGNY . ..84
MAPA 3. InNERARIO DE VIAGEM. FREIREYSS E LUCCOCK .. . 86
MAPA 4: InNERARIO DE VIAGEM. GARDNER .... . 88
MAPA 5: ITINERARIO DE VIAGEM. MAWE ... . 90
MAPA 6: iTI:'olERÁRID DE VIAGEM. POHl.. . 92
MAPA 7: ITINERARID DE VIAGEM. SAINT-HILAIRE (RJ/ MG: E DIS1l\ITO DIA\IANnNO) ........................................... ~
MAPA 8: ITINERÁRIO DE VIAGEM. SAINT-HILAIRE IS':'O FRANCISCO: GOlAS: E SEGUNDA VIAGEM) . . 96
MAPA 9: ITINERÁRIO DE VIAGEM. SPIX & MARTIUS.. . . . 98
MAPA 10: REGIONALIZAÇÃO...................... . . . 100
MAPA 11: REGIONALIZAÇÃO ADAPTADA..................... . . . 112
APRESENTAÇÃO
A segunda parte trará avaliação da forma dominante de utilização dos relatos de viagem
pela historiografia do período provincial mineiro. Apresentaremos uma nova proposta de
trabalho com os depoimentos dos viajantes. Contemplaremos ainda c que consideramos uma
série de lacunas no estudo destas fontes históricas.
8
o REDESCOBRIMENTO DO NOVO MUNDO
aproximações e contatos entre as nascentes entidades políticas do novo mundo com número
ampliado de nações européias, configurando ordem política e econômica distante dos tempos
do pacto colonial.
Aliado a estes fatores, destacaríamos um aspecto que nos parece fundamental como
componente explicador desta situação nova das relações internacionais. O século XIX registra
a efetivação da razão científica, do cálculo econômico e da catalogação como instrumentos
privilegiados de conhecimento do mundo. Mais do que instrumentos. instigadores da busca de
novas realidades.
que a civilização européia proporcionava aos seus cidadãos. ao menos, aos bons cidadãos (e
aqui cabe destacar que os viajantes do século XIX são. por razões políticas, sociais e,
sobretudo, econômicas homens da boa sociedade européia), e se embrenhar no, muitas
vezes, absolutamente desconhecido, imprevisível e, certamente, desconfortável palco de suas
viagens?
sobre o novo mundo. O caráter das obras, o estilo acessível e a preocupação declarada dos
autores com questões que fugiam as suas profissões e/ou formações comprovam este
10
quando tratavam de aspectos voltados para aqueles leitores comuns. refletiam uma postura
frente as realidades, os povos e costumes visitados. É possível vislumbrar este
Os viajantes são adeptos de uma noção de civilização que. como afirma Braudel. estava
associada a "um ideal profano de progresso intelectual, técnico. moral e social. A civilização
são as luzes'Q.. Braudel ao trabalhar os conceitos de cultura e civilização esboça histórico dos
dois termos. Quando associa o surgimento do termo civilização com a França do século XVIII o
historiador francês refere-se ao substantivo. Apesar da incerteza quanto ao período do
aparecimento do termo civilização, um ponto aparece resolvido para Braudel: "Em todo o caso,
nasce muito tempo após o verbo e o particípio, civilizar e civilizado, que são discerníveis desde
"Em todo caso, por volta de 1850, após muitas transformações, civilização (e ao
mesmo tempo cultura) passa do singular para o plural. Essa vitória do particular
sobre o geral situa-se bastante bem no movimento do século XIX (...)
11
Civilizações ou cultura no plural, é a renúncia implicita a uma civilização que
seria definida como um ideal ou, antes. o ideal: é em parte negligenciar
qualidades universais, sociais. morais. intelectuais que a palavra implicava em
seu nascimento. Já é tender a ~onsiderar todas as experiências humanas com
igual interesse, as da Europa, iissim como as dos outros continentes. À essa
fragmentação do imenso império da civilização em províncias autônomas.
viajantes, geógrafos. etnógrafos muito contribuíram. desde antes de 1850. A
Europa descobre, redescobre o mundo e deve se acomodar ao fato: um homem
é um homem. uma civilização uma civilização, qualquer que seja o seu nivel".
(BRAUOEL, 1978, págs. 240/241)
o registro do outro, da diferença e de sua riqueza aparecem lado a lado com toda uma
bagagem de concepções e de visões de mundo própria aos viajantes. Seria absurdo pensar
numa isenção total, neutralidade absoluta. Ao mesmo tempo, pensamos ter ocorrido uma
Deparamo-nos com uma gama variada de situações onde nossos viajantes reagiam de
formas distintas. Onde as reflexões e sentimentos antagonizam-se. Os relatos conseguem,
mesmo que atenuados pelo tempo que separa o vivenciamento e observação direta e a
posterior materialização dos registros escritos, reproduzir a riqueza e profundidade das
experiências vividas pelos viajantes. Lado a lado ao esforço da isenção, neutralidade e
fidelidade ao observado, surgem situações e reflexões onde os autores se auto-descobrem; a
12
realidade, como um espelho, reflete o interior turbulento, instável e humano. O distante e frio
juízo de valor, são posturas e sentimentos que tornam os relatos fascinantes ao leitor comum e
observado:
De modo geral, não observamos o rigor e neutralidade. para não dizer frieza, que Saint-
Hilaire se propõe. Juízos de valor e críticas severas ao objeto de suas observações convivem
com esta desejada isenção; ou seja, o cruzamento entre o registro fiel e as referências
inerentes a visão de mundo do observador. Suas convicções e personalidade confrontadas
com o novo, com o instigante e, às vezes. com o agressivo. O ilustre viajante francês em
"A alegria que anima nossos camponeses é estranha aos habitantes das
povoações da Provincia de Minas. Com exceção dos torneios (cavalhada) que
ás vezes celebram pela época de Pentecostes, não conhecem outra espécie de
divertimento além de uma dança que a decência mal permite mencionar, e que,
no entanto, se tornou quase nacional (o batuque). Sua felicidade é não fazer
nada; seus prazeres são os sensuais. Triste fruto da escravidão, mulatas
prostituídas encontram-se em todas as povoações, e devem necessariamente
13
entreter aí essa depravação de costumes à qual já bastante excítam o calor do
clima, o tédio e a ociosidade". (SAINT-HILAIRE. 1975a. pág. 137)
São incontáveis as situações onde o autor revela sua grande sensibilidade e seus
estrangeiros. Vejamos como referiu-se a algumas tribos indigenas, visitadas em sua Viagem a
Província de Goiás:
o autor deste trecho é o mesmo que condena a indolência endêmica dos habitantes de
Minas Gerais, o mesmo que fala da inconsequente imprevidência dos mineiros, enfim, o
mesmo autor que faz a apologia do progresso e da civilização.
"Para ter uma idéia de como é fascinante a paisagem ali, o leitor deve imaginar
estar vendo em conjunto tudo o que a Natureza tem de mais encantador: um
céu de um azul puríssimo, montanhas coroadas de rochas, uma cachoeira
majestosa, águas de uma limpidez sem par, o verde cintilante das folhagens e,
finalmente, as matas virgens, que exibem todos os tipos de vegetação tropical".
(SAINT-HILAIRE, 1975b, pág. 105)
ocupação indígena:
"A Picada ficou tão estreíta, que a custo passava uma mula atrás da outra;
escura como o inferno de Dante fechava-se a mata. e cada vez mais estreita e
mais íngreme, a vereda nos levou por labirínticos meandros, a profundos
abismos, por onde correm águas tumultuosas de riachos, e, ora aqui, ora ali,
jazem blocos de rocha solta. Ao horror, que esta solidão agreste infundia na
alma, acrescentava-se ainda a aflitiva perspectiva de um ataque de animais
14
ferozes ou de índios inimigos que a nossa imaginação figurava em pavorosos
quadros, com os mais lúgubres pressentimentos". (SPIX & MARTlUS, vaI. 1,
1981, pág. 220)
Seria possível acrescentar uma infinidade de outros extratos dos relatos. que remeteria-
nos a pensar na riqueza e alcance dos registros deixados pelos viajantes. Enfim. material
consumada com a quebra do pacto colonial e a elevação do Brasil a Reino Unido criou
condições para a presença crescente de estrangeiros. Além disso. aproximações diplomáticas
inéditas geraram missões oficiais. compostas por cientistas e observadores políticos e
econômicos conceituados. O período imperial, que consolida e amplia as novas relações
que percorreram nosso país no século XIX, muitos pontos os distinguiam. Constata-se a
especificidade de cada relato, os estilos diferentes, bem como a existência de preocupações
distintas. Se a origem européia comum, ao menos dos que pretendemos trabalhar, e as
consequências daí advindas - uma relativa igualdade no conhecimento e desfrute da civilização
Os relatos de viagem e a
História de Minas
no século XIX. Tão extenso e rico material empírico traz consigo potencialidades, um universo
de possibilidades sem conta. Tratando as diversas viagens como um todo, assim como seus
autores, diríamos que as contribuições atingem vários setores do conhecimento. Contribuições
para a história, geografia, geologia, botânica, zoologia, mineralogia. medicina, antropologia.
Mas é com o campo da história e suas afinidades e intercessões com outras áreas que
nos preocuparemos. A obra dos viajantes já foi, continua e muito ainda será utilizada pelos
seja, uma avaliação qualitativa dos registros, mas também, necessitam de uma abordagem
extensiva capaz de abarcar o maior número de relatos, elucidando as consistências e ou
inconsistências inerentes ao conjunto e a cada relato específico. O tratamento exaustivo e
cauteloso dos viajantes conduzirá ao aprofundamento nestas fontes e uma confiabilidade maior
resultante de sua utilização. Detectar, compreender e superar as ambigüidades e contradições
tão características destas fontes históricas exige um combinado esforço de ampliação de seu
forma, nos inscrevemos em área de estudos que tem adquirido progressiva importância. O
crescente interesse por este periodo histórico é resultado de profunda revisão das tradicionais
caracterizações da economia mineira provincial, da proposição de novos e polêmicos modelos
Infelizmente, ainda são incipientes os conhecimentos que em geral se tem da obra dos
viajantes. o que deve colaborar sobremaneira para o predomínio daquelas graves distorções
em sua utilização. A relativamente reduzida produção historiográfica referente a avaliação da
literatura de viagem enquanto fontes históricas, a quase que absoluta ausência de informações
sobre alguns aspectos fundamentais da dinâmica das viagens e da produção dos relatos
4 Os trabalhos de MARTINS (1980/1982) são responsaveis pela revisão supracitada e pela prooosição do primeiro novo modelo
para a economia mineira provincial. SLENES (1985) foi o grande interlocutor deste autor pioneiro e crítico de suas asserções
basicas. propondo. inclusive. modelo alternativo. Em torno das proposições centrais de Martins desenrolou-se exaustivo debate.
que perdurou por toda década de 1980. Diversos pesquisadores. como L1BBY (1988). contnbuíram com novas reflexões e.
sobretudo. evidências empíricas. Consolidou-se uma caracterização da economia mineira prOVincial ainda que varios aspectos
permanecessem obscuros ou discordantes entre os pesquisadores do período. Muitos foram os Investigadores que dedicaram-se
a estudos regionais, como BOTELHO (1994), alcançando resultados fundamentais na comprovação. relativização ou rejeição de
características tidas como validas para toda a Província de Minas. PAIVA (1996) retomou a a:scussão ja bastante arrefecida das
linhas gerais da economia mineira prOVincial, introduzindo importantes evidênCias empíricas e reavaliando alguns aspectos
controversos.
5 Os viajantes estrangeiros mantiveram contato com todos os estratos da sociedade brasiielra. Os relatos revelam a grande
importância que estas relações tinham para o êxito das viagens. Os brasileiros viabilizavam cuase todo aparato material sem o
qual as peregrinações pelo interior do pais jamais teriam acontecido. Da mesma forma. cs recursos humanos necessarios,
sobretudo nos transportes e atendimento das necessidades basicas, foram supridos pelo traoalhador escravo e livre nacional.
Porem, a mais significativa contribuição relaciona-se ao fato de que parte expressiva dos depc:mentos dos viajantes tinha como
base. em muitos casos exclusiva, as informações colhidas incessantemente com os habitantes com que eles travavam contato.
17
provavelmente, nos maiores obstáculos à real e definitiva incorporação da obra dos viajantes
Os diversos trabalhos que buscaram avaliar alguns aspectos relativos a obra dos
viajantes. bem como investigações que tiveram nos relatos de viagem sua base empírica
central6, ainda que tenham contribuído com importantes reflexões em torno destas fontes
históricas, não as retiraram da relativa posição marginal em que se encontram.
sociedades européia e brasileira, dimensionando: quais eram as relações dos viajantes com o
mercado editorial; quais eram as demandas das sociedades européias com relação aos frutos
mundo.
6 Trabalhos clássicos como o grande número de artigos na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro ou o estudo de
LEITÃO (1942). os notáveis levantamentos bibliograficos como o de GRAVATÁ (1971), as valiosas antologias de textos como a de
LEITE (1981), as investigações acadêmicas de grande envergadura como a de LEITE (1986) ou SÜSSEKIND (1990). e as
pesquisas em torno de material iconográfico como os coordenados por BELLUZZO (1994). são inequivocas demonstrações da
fortuna da obra dos viajantes. Estes e muitos outros trabalhos contribuiram de forma decisiva. dentre outros aspectos. para a
divulgação destas fontes históricas.
18
ELABORANDO INSTRUMENTAL DE INVESTIGAÇÃO
Os viajantes compulsados
procedemos a seleção dos relatos que seriam consultados. Dois fatores intervieram na eleição
tradução inviabilizou, na maior parte dos casos, o acesso à obra9; e o formato dos
depoimentos, excluindo os relatos que não eram apresentados na forma de diários de viagem,
7 Sem desconsiderar que Minas ainda era Capitania em boa parte da primeira metade do seculo XIX. sempre que estivermos
tratando do período como um todo utilizaremos a designação Província de Minas Gerais (o mesmo procedimento valerá para as
demais capitanias/províncias)
8 Utilizamos. basicamente. as informações bibliográficas de GRAVATÁ (1970). Este autor relaCiona 45 viajantes que estiveram em
Minas Gerais entre 1808 e 1954, sendo que destes 19 aqui estiveram na primeira metade dO século XIX. O levantamento do
insigne bibliógrafo não contempla todos os viajantes que percorreram a Província de Minas Gerais. A titulo de exemplo.
lembramos a ausência do naturalista francês Alcide D'Orbigny, que esteve em Minas nos anos ae 1833/34. e do engenheiro inglês
James W. Welis, nos anos de 1873/75. A incorporação de D'Orbigny elevou para 20 o número de viajantes. A exclusão de uma
indicação de Hélio Gravatá. por tratar-se de coletânea de passagens de viajantes. reduziu o número de viajantes novamente para
19.
9 Dos 19 viajantes levantados para a primeira metade do século XIX. 5 encontram-se sem traaução para o português. As
referências de Gravatá nos remetem para edições em Inglês. francês e, em três casos. alemâo.
10 Como veremos adiante. a técnica de leitura adotada exigia este formato. os itinerários de viagem foram fundamentais na
marcação espacial das informações coletadas.
11 Excluídos os 5 viajantes cujas obras ainda não foram traduzidas para o português. encontrando-se. na maior parte dos casos
inacessiveis, restam 14 autores. Destes estaremos trabalhando com 9.
Apresentamos a seguir os viajantes utilizados e seus respectivos relatos de viagem,
20
A observação do quadro nos leva a algumas constatações. As nacionalidades são
variadas, revelando o interesse geral do velho mundo em relação ao Brasil. A profissão ou
formação científica sinaliza a predominância dos naturalistas. Interessante notar, a presença
Ainda cabe uma apreciação dos períodos de permanência em Minas Gerais. Traçamos a
• EntradaemMinasGerais-, -
1840 1------. SardadeMinasGerais I
, ,
1830
• , •
1820
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1810
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Praticamente a primeira e a última década deste meio século aparecem sem nenhum de
nossos viajantes. A primeira década corresponde aos últimos anos de funcionamento do
sistema colonial in tatum, com o acesso de estrangeiros vetado. A última corresponde aos
21
Existe nítida concentração de nossos viajantes em dois períodos bem definidos. A
Brasil. Nota-se que a maior parte de nossos relatos concentra-se. justamente, no período que
se abre com esta quebra e estende-se até a efetivação de nova ordem institucional. Nossos
viajantes, na sua maioria, percorrem nosso país num momento de movimentação e discussão
política, de redefinição das relações econômicas externas. Um outro grupo menor visita o
século. O limite inferior dos relatos. nas partes percorridas em Minas Gerais, é agosto de 1809
A referência mais importante dentro de cada relato era o que chamamos de itinerário de
viagem. Tão importante porque definia as partes de nosso interesse primeiro. Ou seja, o
esforço de leitura concentrou-se nas partes dos itinerários situadas na Província de Minas
Gerais. Uma consulta panorâmica foi realizada no restante dos relatos, correspondendo as
12 É importante ressaltar C1~etodas estas observações são referentes ao período de permanéncla em Minas Gerais. Os viajantes
consultados não restrinºI~2m-se a Província de Minas. Percorreram outras regiões do pais. o que dilata sobremaneira seus
períodos de permanéncia :10 Brasil. podendo cobrir as lacunas assinaladas. Além disso, os viajantes não trabalhados poaem
situar-se exatamente nestes períodos aparentemente não cobertos.
13 Esta leitura panorãmica mostrou-se proveitosa na medida que muitas informações importantes estavam diluídas em pontos do
itinerário de viagem situados fora de Minas Gerais. Adotamos a premissa. depoIs verificada como pertinente, de que, por exemplo.
um estrangeiro que estivesse na cidade do Rio de Janeiro não se restringiria a tratar de temas restritos a esta cidade ou Provincia.
Muitos foram os casos de informações referentes a Minas Gerais relatadas em momentos que os autores achavam-se fora de
nossa unidade espacial.
22
Pois bem, uma vez definidas as partes dos relatos que exigiriam leitura mais detida e
cuidadosa, passamos a nos preocupar com a marcação espacial das informações. Utilizamos
versão inglesa de carta geográfica da Província de Minas Gerais como mapa base 14(ANEXO
A leitura dos relatos era pautada pela marcação espacial das informações, através do
registro das localidades visitadas. Simultaneamente verificava-se a localização no mapa base,
possibilitando o acompanhamento do itinerário de viagem (80 a 90% das localidades visitadas
pelos viajantes foram prontamente localizadas; em relação aos centros urbanos este
percentual está bem próximo de 100%). Findada a leitura traçava-se o percurso. Desta forma,
conseguimos não só uma eficiente organização das informações destacadas dos relatos, bem
como, demos o primeiro passo na efetivação de nosso projeto de construirmos a proposta de
regionalização.
Tornou-se possível para qualquer localidade visitada pelos viajantes reunir um conjunto
considerável de informações. Nem sempre a totalidade, na medida que as informações
referentes a determinada região ou localidade não necessariamente estariam exclusivamente
14 A versão inglesa desta carta geográfica acompanha o relato de viagem de HASTINGS (i886). Após exaustiva pesquisa na
Mapoteca do Arquivo Público Mineiro, quando analisamos todo o material cartográfico referente aos séculos XVIII. XIX e inicio do
século XX. venficamos que este mapa era o que melhor serviria aos nossos propósitos. Constatamos que era a carta mais
completa em termos de localidades (com a toponimia da época), aspectos fisicos como topografia e hidrografia. limites políticos. e
que continha um baixo índice de deformação destes elementos comparada com os outros maoas Investigados.
No Atlas do Império do Brazil, datado de 1868. encontramos o que talvez seja a primeira edição brasileira desta carta geográfica.
Impresso em cores. traz informações e registros cartográficos que faltam á versão inglesa. As fontes relacionadas no Atlas e que
forneceram os subsidios para a confecção do mapa da Provincia de Minas Gerais. tem como o dilatado prazo que,
provavelmente. obra de tal envergadura exigia para ser realizada naquele momento histórico. :eva-nos a considerar que esta carta
geográfica retrata o que seria Minas Gerais em meados do século XIX. A versão inglesa atualiza a toponimia e. provavelmente,
outros registros cartográficos, mantendo, contudo, a mesma configuração básica do mapa constante no Atlas do Império. Assim
sendo, a carta anexada ao relato de Hastings poderia substituir a do Atlas, ainda mais que fatores de ordem técnica inviabilizariam
uma reprodução com a mesma qualidade que obtivemos da versão datada de 1882 (Hastings) para a de 1868 (Atlas).
15 Nossos trabalhos cartográficos basearam-se na utilização de uma série de mapas dos séculos XIX e XX e na sistemática
consulta ao Dicionário Histórico e Geográfico de Minas Gerais, BARBOSA (1971).
23
frequentemente não coincidem com os itinerários de viagem). Contudo. conforme atestamos, a
Assim, estava definida uma técnica de leitura extremamente eficaz em relação aos
A construção do espaço
este propósito.
regiã017. Contudo, uma avaliação mais geral de sua relação habitual com estas categorias
16 Na historiografia mineira dos períodos colonial e imperial, voltada para pesquisas regionais e locais ou, principalmente,
dedicada ao estudo do conjunto da Capitanla/Provincia, predomina relação com a espacialidade marcada pelo esvaziamento de
sua historicidade, pela imprecisão na definição dos recortes e pelo recurso a procedimentos excessivamente simplificadores. A
transposição de recortes do século XX, sobretudo zonas fisiograficas. para os séculos XVIII e XIX; a proposição de divisões. )
espaço mineiro sem a indicação dos critérios e fontes utilizadas na definição das unidades regionais: a adoção de circunscriçóes
judiciárias. sobretudo comarcas. ou unidades administrativas. sobretudo municipios. enquanto unidades espaciais homogêneas:
ou a simples inexistência de delimitação do espaço, inclusive com as referências imprecisas a entidades como o "sul de Minas" ou
o "norte de Minas": são procedimentos recorrentes na nossa historiografia. A titulo de exemDIO. podemos citar três importantes
trabalhos, referências obrigatórias de nossa produção historiográfica. onde é possível identificar alguns destes procedimentos:
MARTINS (1980), PAULA (1988)e L1BBY (1988).
17 A série de artigos reunidos na coletãnea República em migalhas - His/ória regional e local. SILVA (1990),constitui-se em
perfeito reflexo destas preocupações.
24
"(...) a nossa produção historiográfica é de tal maneira assente em determinadas
óticas de abordagem do que seja Região e, por extensão. Espaço. que n::o se
questiona sobre o seu conteúdo. De um lado, na relação Região-História. o
recorte regional, seja qual for a configuração que se lhe tem dado, tem sido
exatamente este: um dado, já aceito e acabado, um produto. Não se atenta para
o conceito de Região e de Espaço enquanto construção, processo histórico
concreto. portanto, atravessado pela temporalidade e nesta interferente. Uma
vez que os recortes espaciais já estão definidos a priori, a relação Região-
História não se constitui, pois, num problema em si. " (SIL VEIRA, 1990, págs. 17
e 18)
temporalidade ''18.
25
estrutura a sociedade - produza um espaço específico. expressão da sociedade
que o organiza." (SILVEIRA, 1990, pág. 30/31)
Os itinerários e a Regionalização
26
Urucuia), ou por um único viajante (como foi o caso da Região do Triãngulo), ou ainda sequer
foram atingidas pelos itinerários (Região do Vale do Médio-Baixo Rio das Velhas), todas com
e tiveram quase todo ou expressiva parcela de seu território coberto pelos itinerários, são as
com maior volume de informação; com relação aos dois outros grupos não existe a automática
Não obstante, grandes porções do território mineiro não foram cobertas pelos itinerários
de viagem e, ao mesmo tempo, figuraram com reduzido volume de informações indiretas
(aquelas que eram resultado dos depoimentos colhidos junto aos interlocutores locais e/ou
resultado da cobertura dos viajantes compulsados21, para a maior parte destas áreas o volume
reduzido de informações é decorrência de suas próprias características. Estes territórios
exerciam atração relativamente menor sobre os viajantes em função de alguns fatores isolados
20 Os relatos sugerem que grande é o volume de informações de viagem que foram captadas de maneira indireta. Os viajantes
não limitavam-se a registrar aquilo que viam, tocavam, cheiravam e sentiam, mas também. o que ouviam e liam. Somente desta
forma poderiam incorporar o grande e valioso volume de informações referentes às áreas que não foram visitadas, próximas ou
distantes dos pontos alcançados pelos itineráriOS. A importância destas fontes utilizadas pelos viajantes. escritas e oraiS, também
configura importante aesafio para os pesquisadores que trabalham com seus relatos de viagem. Uma série de questões deveriam
ser consideradas, tais como: Qual a qualidade/confiabilidade da bibliografia consultada? Qual a perspectiva tinham da História
seus autores? Qual era o círculo de conVivência dos viajantes nas áreas visitadas? A que setores sociais pertenciam tais
individuos? Em que medida a posição social. formação profissional. atividades produtivas e valores culturais em geral dos
interlocutores locais interferiam nas informações prestadas aos viajantes?
27
ou combinados. Baixíssima densidade demográfica, presença de populações indígenas hostis,
eram as razões principais a colocá-los fora do foco dos viajantes. Todavia, essas mesmas
21 Talvez o melhor exemplo é o caso da Região do Vale ao Médio-Baixo Rio das Velhas que eSlava totalmente fora dos itinerários
dos viajantes trabalhados, mas que. na segunda metade do século XIX. foi percorrida em toda extensão que é cortada pelo Rio
das Velhas e recebeu considerável atenção do impetuoso explorador inglês Richard Burton (BURTON, 1977).
28
MINAS MULTIFACETADA: UMA PROPOSTA
DE REGIONALIZAÇÃO
As regiões mais a oeste da Província de Minas Gerais foram visitadas por 4 de nossos
Paracatu.
Cruzando as partes dos itinerários situadas nesse enorme território com as 4 regiões que
propomos, observamos a distribuição regionalizada das incursões dos viajantes. Temos para a
porção norte a presença de Gardner e Spix/Martius, para a mediana Saint-Hilaire e Pohl, os
mesmos viajantes para a porção sul e, finalmente, Saint-Hilaire para a Região do Triângulo.
Destes 4 viajantes Saint-Hilaire é o único que dispensa, introdutoriamente, uma visão geral da
mais gerais.
Este território é identificado ora como um deserto, ora como um sertão. Existiam áreas
habitantes da região desértica que se estende desde a Serra da Canastra até Paracatu
naturais aí encontradas.
Concluímos esta pequena introdução mais uma vez recorrendo à capacidade de síntese
de Saint-Hilaire. Após algumas lamentações e conclusões rancorosas, referentes a sua
passagem pela Comarca de Paracatu, assim encerra o capítulo XI:
30
Spix & Martius, Gardner e O'Orbigny24 visitaram esta região em períodos distintos - os
apareceu anteriormente e surgirá associado a muitas das regiões de Minas Gerais: Sertão. Os
viajantes são quase que unânimes em adotar esta designação ao referirem-se a diversas
porções do território mineiro. E o que se entendia por sertão? Os sertões mineiros eram
Voltemos ao sertão do Urucuia. Sertão não só por assim identificarem Spix & Martius,
mas também, pela baixíssima ocupação, quase que total inexistência de centros urbanos,
incipiência da organização econômica e isolamento da região. Gardner, repetidamente, fala da
aridez da região percorrida; Spix & Martius, não com tanta ênfase, descrevem o clima e
vegetação da região como típicos do cerrado. Aproximam-se, novamente, Spix & Martius e
Gardner, quando registram a solidão, beleza e estado primitivo da vegetação encontrada. São
diversas as situações onde Spix & Martius revelam, paralelamente á caracterização do
território percorrido, uma profunda preocupação com a preservação da natureza ante o avanço
da civilização e a irreversível descaracterização das formações naturais:
31
"(...) se iniciem estas investigações na terra fecunda. antes que a mão
destruidora e transformadora do homem tenha obstruido ou desviado o curso da
natureza (...) os subsequentes investigadores não mais obterão os fatos na sua
pureza das mãos da natureza, que já hoje, pela atividade civilizadora deste país
em vigoroso progresso, está sendo transformado em muitos respeitos (...) É
indescritível o encanto desta região (...) o qual é realçado pelo fato de não
parecer profanado pela mão da civilização (...) território deserto, onde não se
notava o menor vestígio de homem". (SPIX & MARTlUS. vai. 2, 1981, págs.
1021103/105/112)
Ainda cabe registrar, numa panorâmica visualização dos mapas dos itinerários de viagem
e quadro de localidades visitadas. que a Região do Sertão do Urucuia não aparece com
nenhum centro urbano assinalado. Não que o mapa não contenha possíveis localidades
visitadas, mas sim, pela realidade da própria ausência de centros urbanos registrados por Spix
& Martius, Gardner e D'Orbigny. Bastaria esta constatação, principalmente se confrontada com
regiões vizinhas, para percebermos o isolamento, solidão como dizem os autores, e incipiência
Região de Paracatu
Esta região era limitada ao norte com o sertão do Urucuia (Rios Preto e Paracatu), a
oeste com a Província de Goiás, ao sul com um conjunto de serras (pilões, Andrequicé e Serra
25 As áreas de fronteira concentravam-se. sobretudo. nos extremos ocidentais e orientais ce Minas Gerais. Caracterizavam-se.
fundamentalmente. por ocupação em processamento. Constituiam-se. portanto. em fronteiras da ocupação. Variadas eram as
formas de colonização destes territórios. determinadas. principalmente. pelas atividades ecor,6micas dominantes. Nas fronteiras
onde preponderava a pecuária a ocupação processava-se. em geral. mais lentamente e a fixação da população era precária.
Quando a agricultura ou mineração era a atividade predominante. as fronteiras tendiam a cassar por um processo relativamente
rápido de ocupação. com grande fixação da população e formação de rede urbana.
32
do Mato da Corda) e a leste com a continuação destas cadeias montanhosas e o Vale do Rio
São Francisco.
Dois viajantes percorreram esta regiã027 Pohl visita sua porção extremo oeste - inclusive
a Vila de Paracatu - e a parte mais ao sul, próxima as serras citadas. Saint-Hilaire cruza toda
porção extremo-oeste, passando pela Vila de Paracatu.
O primeiro deles liga-se a evidência de que uma parte desta região, a Vila de Paracatu e
sua área de influência, caracterizava-se por concentração significativa de atividades
econômicas mais consolidadas. vinculadas inclusive a sua ocupação que remonta ao século
XVIII. O segundo deriva do primeiro, Saint-Hilaire destaca às ligações da Vila de Paracatu com
Sabará e sua dependência em relação a esta. Ora, isto estabelecia comunicação significativa
entre os dois centros urbanos, o que exigiu o estabelecimento de rede de apoio ao longo dos
caminhos que os ligam, atraindo a ocupação ao longo desta linha de contato. O trajeto que
Pohl percorre ao sul da região, bem como as informações referentes as suas características,
confirmam o que foi dito: fazendas, ranchos e centros urbanos ligados ao tráfego de
33
absorvia parcela expressiva da produção de gêneros da agricultura e criação, assim como,
cumpria a função de mercado regional. concentrando e distribuindo a produção agropecuária.
Saint-Hilaire destaca as vinculações da região com o Vale do São Francisco: exportava
gêneros da terra, para o abastecimento do vale, e importava sal para o gado. A criação
principalmente couros para o Rio de Janeiro. Outros produtos surgem como gêneros de
exportação. A Região de Paracatu vinculava-se ainda com a parte sul de Minas. sobretudo
com São João Del Rei que desempenhava funções de entreposto entre a região e o Rio de
das lavras são identificadas por Saint-Hilaire. Porém, o autor diz que a mineração tem ainda
significativa importância, com a existência de grandes mineradoras. Dificuldades com mão-de-
obra escrava, falta de capitais e escassez de água para as lavagens (decorrência de
desmatamentos) são apontadas como os maiores obstáculos enfrentados pela atividade. Toda
Este painel econômico confere relativo dinamismo a região. Sem dúvida que a área da
Vila de Paracatu desempenhava papel central na distribuição geográfica das atividades. Este
centro regional detinha nível mais elevado de atividade econômica e gerava importantes efeitos
em toda sua área de influência. Os demais pontos visitados caracterizavam-se por grande
Paracatu, com Goiás ao norte e oeste, com o Vale do São Francisco a leste, com a Região de
Araxá ao sul e com a porção central e sul de Minas contribuíam para uma maior ocupação da
28 As constantes referências presentes no texto ao comércio de exportação devem ser ccnsideradas em várias possíveis
dimensões. Faremos referência ao comércio de exportação inter-regiões, inter-províncias ou mesmo para fora do pais. Muitas
vezes não será possível precisar e dimensionar o fluxo comercial, quando a origem ou cestino forem omitidos. Também
reportaremos ao comércio de exportação intra-região.
34
Região de Araxá
centros urbanos em maior número e mais significativos. além de organização econômica mais
consolidada. Ademais, a Região de Araxá mantinha vinculações bem mais importantes com o
centro sul de Minas e, por extensão, com o Rio de Janeiro.
Esta região era limitada ao norte por um conjunto de serras - a mesma que limita ao sul a
Região de Paracatu -, a leste por outro conjunto de serras - Canastra e Mato da Corda -, ao sul
pelo Rio Grande e a oeste pela Região do Triângulo. Dois viajantes cruzam esta região, ambos
35
Além da criação. nossos autores registraram a grande disseminação da agricultura de
Dentro das características apontadas para a Região de Araxá uma revela sua condição
de território de ocupação recente e em processamento. ou seja, a predominância de população
branca. Saint-Hilaire confirma esta condição ao situar a ocupação da nova colônia como uma
verdadeira epopéia, bem ao estilo dos pioneiros do oeste americano.
É Saint-Hilaire quem melhor caracteriza os centros urbanos da região que, segundo ele,
não fogem aos padrões de Minas Gerais. A população fixa dos centros urbanos era constituída
majoritariamente por artesãos, comerciantes, "vagabundos" e prostitutas. O serviço religioso
dominical motivava a ocupação das residências urbanas pelos fazendeiros, que as mantinham
Região do Triângulo
36
Saint-Hilaire3o para esta região e somente para sua porção leste. Assim descreve o viajante a
área visitada:
origens, sua composição (existia grande número de indígenas mestiços com negros), suas
Existiam conflitos entre os índios e os fazendeiros que cobiçavam suas terras. Saint-
Hilaire enfatiza as dificuldades enfrentadas pelos indígenas que eram submetidos a constante
"Achei suas maneiras bem mais rudes que a dos fazendeiros das vizinhanças de
Vila Ríca, fazendo lembrar as de nossos burgueses rurais da mesma época. ou
então as dos agricultores de Araxá, Formiga e Oliveira. De resto, essa
semelhança nada tinha de extraordinário. pois era principalmente desses
lugares que tinham vindo os colonos de Farinha Podre". (SAINT-HILAIRE,
1975c, págs. 151/152)
30 SAINT-HILAIRE, 1975c.
Região do Sertão do Indaiá-Abaeté
embrionária. Esta região era limitada a oeste por um conjunto de serras que a separava da
Região de Araxá, ao sul pelo Rio Grande, a leste pelo Vale do Alto São Francisco e a norte
Três viajantes estiveram nesta regiã031. Saint-Hilaire cruza sua porção extremo-sul, no
sentido leste-oeste. Pohl, no mesmo sentido, um pouco acima. também cruza a região: retoma
pelo norte até a Real Mina de Galena do Abaeté, percorre o vale do Rio Abaeté e depois desce
o Rio São Francisco até a confluência com o Rio das Velhas. Freireyss, vindo de Ouro Preto,
cruza a porção mediana da região até a mina visitada por Pohl. retornando pelo mesmo
itinerário.
diferença entre a porção sul do Sertão do Indaiá-Abaeté e sua porção norte. A maior
movimentação comercial e das comunicações em geral tornam a parte sul mais ocupada. com
maior inserção no mercado dos fazendeiros locais. Já a porção norte aparece completamente
isolada, não só pela precariedade das comunicações, mas, principalmente, em função das
interminável, Pohl passa dias de viagem tendo contato com pouquíssimos habitantes,
dificuldades com viveres e sem nenhuma menção a qualquer atividade produtiva significativa.
Apesar das diferenças existentes entre as porções sul e norte, os viajantes coincidem ao
Ao que tudo indica, a cobertura vegetal predominante na região era a de florestas. que
eram derrubadas para o cultivo e a criação. A parte sul da região revela a maior incidência de
38
unidades produtivas e alguma vinculação com o centro-sul de Minas. Ao mesmo tempo, os
região. Pohl e Freireyss visitam a Real Mina de Galena de Abaeté. empreendimento levado a
frente pelo famoso mineralogista alemão Barão de Eschwege, mas que, após inúmeros
problemas, acaba desativada. A parte percorrida por Pohl, ao longo dos Rios Abaeté e São
Limitada ao sul pelo Rio Grande. a oeste pelo Vale do Alto São Francisco, a norte pelo
Vale do Médio Rio das Velhas e a leste pelo contorno da Região Mineradora Central, a Região
39
Intermediária de Pitangui-Tamanduá foi percorrida por 3 viajantes32 Como já dissemos, todos
no sentido leste-oeste.
província, é Saint-Hilaire quem melhor delineou a identidade desta região. Uma estrutura
fundiária concentrada é revelada pelos viajantes, com grandes unidades produtivas e a baixa
Região Sul e a mineração aurífera da Região Mineradora Central. são atividades também
açúcar é produto bastante cultivado e o fumo é artigo de exportação de Tamanduá. Mas são as
relações comerciais que aparecem com maior destaque, principalmente na porção sul da
região.
Minas, em relação a São João Del Rei/Barbacena e a Capital Imperial. As importantes relações
com o Sertão do Indaiá-Abaeté (abastecimento de víveres), regiões e províncias dalém sertão
(intermediação comercial), com o destaque para as figuras dos negociantes, marcam estas
localidades. Estes comerciantes compravam a produção das regiões a oeste e revendiam para
a Cidade do Rio de Janeiro, retendo grandes lucros que eram empregados na compra de
40
Região do Vale do Médio-Baixo Rio das Velhas
Região que como o próprio nome indica compreende a maior parte do Vale do Rio das
Nenhum de nossos viajantes percorreu a região. Apesar de central e vizinha das regiões
de ocupação mais antiga e mais densamente povoadas, a Região do Vale do Médio-Baixo Rio
o silêncio sobre este território só não é total porque temos nos dois pontos extremos da
região - confluência do Rio das Velhas com o São Francisco, e seu ponto mais meridional,
transição com a Região Mineradora Central - informações que apontam para pelo menos uma
característica do Vale do Médio-Baixo Rio das Velhas. Barra do Rio das Velhas na Região do
Vale do Alto-Médio Rio São Francisco, ao norte e Santa Luzia e Sabará, a segunda
mercantil destes centros estivesse reduzida a esta movimentação, já que outras rotas
comerciais confluíam para estes pontos. Porém, segundo informações de Pohl para Barra do
Rio das Velhas, Saint-Hilaire para Santa Luzia e Gardner para Sabará33, existia fluxo comercial
de relativa importância cruzando a região. Possivelmente o próprio Rio das Velhas, navegável
a embarcações de algum porte naqueles tempos. constituía-se em rota comercial que ligava o
norte de Minas ao centro-sul da província, e indiretamente com a Capital Imperial.
Por que nenhum de nossos viajantes utilizou-se desta rota, provavelmente via de
comunicação mais rápida entre o norte e o centro/sul de Minas? O fato de estarmos
trabalhando com parte do universo de viajantes que estiveram em Minas no período, existindo
ainda um número expressivo de relatos que não foram compulsados, deixa em aberto a
possibilidade de que outros possam ter optado por esta via34. No caso dos relatos analisados
constatamos a predileção por outra rota. Todos os viajantes, vindos do norte do país ou
34 Como mencionamos anteriormente. na segundo metade do século, um viajante inglês desce o Rio das Velhas de Sabará à sua
desembocadura no Rio São Francisco. BURTON. 1977.
partindo da Cidade do Rio de Janeiro, que visitaram as regiões do norte de Minas estiveram na
Região do Distrito Diamantino. A inclusão desta região diamantífera em seus itinerários de
viagem esteve sempre acompanhada da opção por outra rota, paralela à do Vale do Río das
Velhas.
Compreende o Vale do Rio São Francisco, da foz do Rio das Velhas até a fronteira de
Minas com a Bahia/Pernambuco. Cinco viajantes35 visitaram o vale: Pohl na sua porção mais
ao sul, confluência com o Rio das Velhas: Gardner na altura de São Romão: Spix/ Martius,
víveres em geral (milho, feijão, mandioca, etc), todas geradoras de excedentes. Spix/Martius
"(...) Para beneficiar esse produto. acham-se, ao longo do Rio São Francisco,
numerosos pequenos engenhos, nos quais entretanto muito pouco açúcar
branco se fabrica, e quase exclusivamente rapadura parda, sendo a maioria
desta despachada rio abaixo para a Provincia da Bahia". (SPIX & MARTIUS, vaI.
2, 1981, pág. 91)
A criação bovina também era importante. A pesca era atividade disseminada por todo o
vale e seu produto constitui a-se em objeto de comercialização. Mas é o Rio São Francisco,
antiga e importante via de comunicação, que eleva a região a condição de privilegiada rota
35 SAINT-HIlP,IRE. 1975a: SPIX & MARTIUS. vol. 2.1981: POHL. 1976: GARONER. 1975 e O'ORBIGNY, 1976.
36 Januaria eleva-se a condição de vila em 1833. Contudo, a sede da vila foi mudada varias vezes ao longo do seculo XIX:
situando-se ora no povoado de Porto do Salgado. nas margens do Rio São Francisco, ora no arraial de Nossa Senhora do Amparo
do Brejo do Salgado, a aproximadamente 6 quilômetros do Rio São Francisco. Quando tra:armos genericamente da Vila de
Januaria, estaremos referindo ao conjunto Brejo mais Porto. Ver BARBOSA, 1971.
42
comercial, com atividades mercantis de grande vulto. O Rio São Francisco constituía-se em
rota preferencial de escoamento dos produtos de várias regiões para as províncias do nordeste
do Brasil.
Vejamos, separadamente, descendo o rio. cada área com seus centros urbanos mais
importantes. Pohl passa no extremo-sul da região, caracterizando o arraial de Barra do Rio das
Velhas como importante pólo comercial. "Este arraial é muito conhecido pelo seu amplo tráfego
comercial, principalmente pelos seus consideráveis depósitos de sal''37. Barra recebia o sal que
subia o rio e desempenhava o papel de distribuidora, principalmente para a regiões do Sertão e
Minas Novas. Da mesma forma comercializava mercadorias vindas de Ouro Preto. Pohl
menciona ainda a grande produção de algodão em Extrema, a criação de bovinos e a pesca e
salga de peixe, geradora de excedentes comercializáveis. Saint-Hilaire não esteve em Barra,
porém. tece algumas considerações sobre o arraial. Fala de seu dinamismo comercial, do
papel de intermediadora do comércio de sal e de suas relações com Diamantina, Vila do
Príncipe e Ouro Preto.
"A maior parte dos habitantes respeitáveis são negociantes que fornecem aos
fazendeiros e aos residentes dos arredores mercadorias européias e outras. Não
se pode dizer que a vila tenha comércio próprio: a principal base do tráfico é
peixe apanhado no rio, que, salgado e seco, se vende aos sertanejos,
especialmente amigos deste alimento". (GARONER. 1975, pág. 188)
A pesca era atividade vultosa. Novamente o sal aparece como mercadoria importante,
que trocada "em parte por dinheiro, em parte por fumo, couros, etc''38, constituía-se em
importante artigo intermediado pelos comerciantes de Januária.
eram trocados por tão valiosa mercadoria: "açúcar e a aguardente são os principais gêneros
que Salgado oferece em troca aos mercadores do S,:. ',9 - e distribui", para o Sertão e (30iás.
auferindo lucros significativos em tais transações. F;;::am da existência de grande núrr.aro de
desempenhada pelo rio como via de comunicação e comercialização. Por fim. mereceria algum
Região do Sertão
Engloba a porção central do grande norte de Minas. Limitava-se a oeste com o Vale do
São Francisco. ao sul com o Distrito Diamantino, a leste com um conjunto de serras e ao norte
com a Província da Bahia. Cinco viajantes estiveram nesta regiã041. Todos não só a
caracterizaram como um deserto. como também a denominaram de sertão. Sertão pela
incipiente exploração econômica e pela aridez do clima/vegetação. Pohl, Gardner e D'Orbigny
41 SAINT-HILAIRE. 1975a; POHL. 1976; SPIX & MARTIUS, vaI. 2.1981; GARDNER. 1975 e D'ORBIGNY, 1976.
44
cruzam a região no sentido oeste-leste. Spix/Martius no sentido oposto e Saint-Hilaire em
ambos os sentidos.
Todos os viajantes, com maior ou menor ênfase, caracterizaram esta convivência entre o
pequeno colono. o sertanejo miserável, e o grande proprietário. Uma agricultura para auto-
consumo lado a lado com grandes unidades produtivas geradoras de significativos excedentes.
Vários seriam os exemplos destas grandes fazendas, ilustremos com uma visitada por Pohl:
Engenho, moinho de azeite, fábrica de açúcar. alambique e refinaria de açúcar, moinho de
farinha de trigo. moinho de farinha de milho. moinho de farinha de mandioca, máquina para
triturar as raízes da mandioca, forno para secar farinha, pocilgas para engorda de porcos,
estábulos para ovelhas, curral para vacas, curral para bezerros, pomares. plantações de café e
trigo, hortas, cultivo de plantas medicinais, vinhas e canaviais, eram algumas das instalações,
cultivos e criações destacadas por Pohl. Saint-Hilaire esteve na mesma fazenda e ainda
45
acrescentou a fiação doméstica. a existência de uma forja e a autonomia da fazenda. que só
importava sal.
do sal pelo criador, são apontadas como as grandes facilidades para o crescimento da
pecuária. Os viajantes apontam a Bahia como o destino principal do gado e cavalos. A
exportação de peles era importante. Da mesma forma exportava-se couros para Minas Novas,
Dos cinco autores que visitaram a Região do Sertão, quatro estiveram em Montes Claros
e relataram a importância deste centro como pólo comercial. Com população variando entre
800 a 1000 habitantes, Montes Claros concentrava o comércio de gado e cavalos, couro e
peles e sobretudo salitre. Gado e cavalos negociados com a Bahia, couros com Minas Novas.
e salitre com o Rio de Janeiro e Ouro Preto. Recebia expressivo fluxo de artigos europeus,
vindos sobretudo da Bahia e Rio de Janeiro. As fazendas das redondezas criavam gado e
42 SAINT-HILAIRE. 1975a; POHL, 1976; SPIX & MARTlUS. vaI. 2.1981 e D'ORBIGNY. 1976.
46
território desta subdivisão da antiga Comarca do Serro Frio revelava que a combinação
conferiam identidade a região coincidiam com a delimitação do Termo de Minas Novas. o que
Esta região abarcava o Vale do Rio Jequitinhonha, com seus principais afluentes. e a
parte mineira do Vale do Rio Pardo. Ao norte e a leste era limitada com a Bahia, a oeste com
um conjunto de serras que separava o Termo de Minas Novas do Sertão - não impedindo,
porém, que existissem fortes semelhanças entre as zonas de transição de uma região para
outra -, e ao sul com outro conjunto de serras que separava o Vale do Jequitinhonha do Vale
do Mucuri e Doce - onde a presença de indigenas e o processo de colonização também
aproximavam o sul do Termo de Minas Novas da região vizinha.
agricultura, nas matas da parte oriental; áreas muito propícias a cultura algodoeira, nas
caatingas da parte ocidental; e os campos e cerrados, da parte ocidental. propícios à criação.
Com baixa densidade demográfica, o Termo de Minas Novas apresentava sua população
concentrada nas áreas ribeirinhas, revelando o papel desempenhado pelos rios como vias de
unidades produtivas.
47
Algodão, criação de gado e cavalos. cultivos para auto-consumo ou abastecimento de
mercados intra-regionais. pedras preciosas e a mineração aurífera em acelerado processo de
retração compunham o quadro econômico da região.
algodão. Favorecido por condições climáticas e de solo, o algodão do Termo de Minas Novas
mineira.
A cata de pedras preciosas era algo vultosa. Presente em vários rios da região. gerava
comércio significativo. Chapada era importante centro de lapidação. O destino das pedras era
o Rio de Janeiro e Bahia. A mineração aurífera, mesmo que reduzida em relação aos níveis
anteriores, ainda era relevante em algumas localidades. Chapada por exemplo. e no Rio
Arassuaí.
48
Diamantino. Cana-de-açúcar e a presença de engenhos são anotados para diversos pontos da
região.
A Vila de Minas Novas era o principal centro urbano da região. Com população em torno
de 2.000 habitantes, desempenhava funções administrativas. era inclusive a cabeça do Termo,
Nossos viajantes deram grande ênfase ao ostensivo controle estatal. relatando de forma
44 SAINT-HILAIRE, 1974a; POHL, 1976; D'ORBIGNY, 1976; GARDNER. 1975; MAWE. 1978 e SPIX & MARTIUS, vaI. 2.1981.
49
os viajantes são unânimes em criticar o gigantismo da burocracia e a ineficiência e corrupção
A esterilidade do solo. o clima árido e as restrições impostas pelo Estado. que impedia o
desenvolvimento de atividades que concorressem com a extração ou favorecessem o
contrabando, determinaram a necessidade de importação de gêneros básicos pela região.
Diamantina (Tijuco). centro administrativo e econômico da região. refletia perfeitamente este
quadro. Com população estimada em 6.000 habitantes - expressiva população, considerados
os padrões do interior do Brasil -, esta vila era abastecida externamente de gêneros de
primeira necessidade. através do constante movimento de tropas. O resultado era a drenagem
da riqueza para as mãos dos negociantes privados, que assumiam a função de atendimento
deste grande e com alto poder aquisitivo mercado. Mawe. ainda na primeira década do século,
criticou a existência de monopólio de negociantes privados que. via abastecimento da
Demarcação. acabavam sugando os recursos da Administração Diamantina. Gardner, no fim
"Mas não são tanto os mineiros e sim os lojistas. quem leva a maior parte dos
lucros desta indústria, negociando todos mais ou menos em diamante e ouro em
pó, que recebem dos mineiros em troca do suprimento necessário a estes e a
seus escravos". (GARDNER, 1975, pág. 209)
Dos relatos de viagem com pulsados a maior parte situa-se no período onde o Estado
ainda exercia rígido controle sobre o Distrito, e em todos grande destaque foi dado ao roubo de
diamantes pelos escravos mineradores, ao garimpo clandestino e ao contrabando que era
especialmente exercido pelos negociantes. O aluguel de escravos foi registrado para toda a
primeira metade do século. A mineração de diamantes concentrava a maior parte dos plantéis.
"A maioria dos habitantes de Diamantina que são senhores de alguns escravos empregam-nos
nas lavagens"4s, A mineração aurífera expandiu-se progressivamente, acompanhando a
50
relatada a prosperidade e dinamismo de várias localidades, decadência46 de outras e uma
abrindo vendas para fornecer alimentos e roupas aos outros, principalmente em troca de
diamantes e ouro em pó't47. Dificuldades técnicas e empecilhos decorrentes de má
Vila do Príncipe foi incorporada nesta região não só por suas ligações administrativas
com o Distrito, mas também, por suas vinculações econômicas. Unânimes em perceberem a
nítida retração da atividade que impulsionou a ocupação e florescimento de Vila do Príncipe, os
viajantes descrevem a mineração aurífera como restrita a uma parte da população:
46 A idéia de decadência. seja na produção historiográfica referente ao século XIX ou seja nos próprios relatos de viagem. é por
demais imprecisa. O fenômeno da decadência manifestava-se não só na perda de dinamismo ou mesmo desestruturação das
atividades econômicas, sobretudo da atividade nuclear (mineração do ouro na esmagadora maiOria dos casos). mas também na
depopulação, na deterioração da vida material. especialmente expressa na ruina das construções. e na expansão da indigência.
51
Região do Sertão do Rio Doce
Esta região era limitada ao norte por um conjunto de serras que a separava do Termo de
Minas Novas, a leste pelas províncias da Bahia e Espírito Santo. ao sul por serras que a
separava da Região da Mata, e a oeste pela linha da ocupação branca consolídada - regiões
do Distrito Diamantino. Intermediária de Conceição e Mineradora Central. O Sertão do Rio
Doce foi visitado apenas por Saint-Hilaire48, que percorre pequena faixa da região.
variando a largura desta faixa de acordo com a região. A porção ocidental da Região do Termo
de Minas Novas, quase todo o Sertão do Rio Doce (incluindo o Vale do Mucuri e do Manhuaçu)
e a maior parte da Região da Mata, ainda na primeira metade do século XIX, constituía-se em
e da fuga do indígena.
48 SAINT-HILAIRE, 1975a.
52
famosos Botocudos, detentores das piores referências, mais numerosos e bastante resistentes
à assimilação, naturalmente que estiveram fora das observações diretas do viajante. É
"É para Vila do Príncipe e Tijuco que se cultiva o trigo (...) Os habitantes dessa
povoação não se contentam em cultivar suas terras. criam também muitos
porcos que se vendem ainda para o consumo de Vila do Príncipe e Tijuco (...)
Apesar da extrema fertilidade da região, seus habitantes são pobres (...) Não é
gente rica a que se dispõe a penetrar no âmago de densas florestas, habitadas
por homens que se consideram antropófagos. Os colonos de Passanha
estabeleceram-se sem cabedais; faltam-lhes escravos. e, se conseguem
manter-se, é sem abastança". (SAINT-HILAIRE. 1975a. pág. 177)
53
o volume aparentemente pequeno de informações diretas sobre a região ganha
dimensão ampliada na medida que as informações indiretas. fornecidas pelo próprio autor ou
por outros viajantes, sempre mostraram-se coincidentes com o que foi exposto. Não nos
parece que o processo de ocupação de outros pontos da região fosse distinto do descrito por
Saint-Hilaire.
Região da Mata
bacias dos rios Grande e Doce da Bacia do Rio Paraíba. A transposição da Serra, pelos
dos fazendeiros de colocarem ranchos e vendas ao longo das estradas, mantendo os núcleos
habitacionais a uma boa distância. O fato é que o intenso movimento das estradas demandava
a existência de infra-estrutura mínima que abastecesse as tropas em contínuo trânsito.
Todavia, são numerosos os registros de pequenas unidades produtivas voltadas para o auto-
consumo. Não foi mencionado nenhum centro urbano que merecesse destaque. Vários foram
os registros relativos a incipiente exploração econômica da região.
54
Já a porção norte da Região da Mata apresentava ocupação recente e a predominância
de indígenas. O perfil era o mesmo da Região do Sertão do Rio Doce: colonização. civilização
dos índios (ou simplesmente extermínio), resistência por parte de algumas nações e
assimilação por outras. presidios e postos militares. matas fechadas e o cultivo da terra como
Sinteticamente o que podemos dizer da Região da Mata é que sua efetiva ocupação
estava ainda por processar-se. O vigor da vegetação e a presença indígena atestavam sua
por parte dos viajantes. Não fosse a presença de importantes estradas. que ligavam Minas ao
Mata perdeu algumas daquelas características que lhes conferiam identidade. substituídas por
novo e singular traço: o café.
55
denominado Os Ferros" [já na vizinha Região do Sertão do Rio Doce. a oriente].
(SAINT-HILAIRE. 1975a. págs. 130/131/134)
depoimento de Saint-Hilaire:
56
o espectro da decadência estava associado a quase totalidade dos centros urbanos da
pouco precisa: o Sertão do Rio Doce a leste, o Distrito Diamantino ao norte, a Região do Vale
do Rio das Velhas a oeste e a Mineradora Central ao sul. Região de transição, foi visitada por
sustentando a miséria dos setores pobres da população, a esterilidade do solo exaurido após
longo período de exploração predatória inviabilizava a agricultura.
penúria e de apatia''52 Gardner confirmou: "De fato, tudo aqui tinha um tal aspecto de
desolação e ruína como ainda eu não vira no Brasil''53 Itambé tinha população em torno de
1.000 habitantes, nada desprezível para o período.
49 SAINT-HILAIRE. 1975a e 1974a; MAWE. 1978: POHL. 1976: D'ORBIGNY. 1976; SPIX & MARTIUS. vaI. 2.1981 e GARDNER.
1975.
57
cultivo do solo exaurido. Tapera possuía fabricação doméstica de tecidos algo dinâmica,
exportando excedentes.
Tijuco.
Região Sul
Abrangia todo o território ao sul do Rio Grande, mais a área compreendida entre este e o
Rio das Mortes, incluindo os centros urbanos de São João Del Rei. São José Del Rei e
Barbacena. A Serra da Mantiqueira separava a Região Sul da Região da Mata. A Província de
São Paulo definia as fronteiras meridionais. Todos os viajantes, com a exceção de Gardner,
estiveram nesta região. Porém, Saint-Hilaire e Spix/Martius são os autores que a percorreram
em maior extensão. Os outros, praticamente, restringiram-se a área de São João Del Rei. São
meridional. A criação. principal atividade da região. era exercida nos campos. As matas,
derrubadas para o cultivo, eram dominadas por agricultura voltada para o abastecimento de
Spix/Martius, vindos de São Paulo. cruzam a Região Sul na sua porção central,
passando inclusive por Campanha. Saint-Hilaire também cruza a região por duas vezes,
Podemos dividir o território percorrido por Spix/Martius em duas porções. Até mais ou
menos a altura de Campanha os autores relatam a grande incidência de matas, a agricultura
voltada para o auto-consumo e, na área de Campanha. a mineração de ouro vigorosa. Já a
58
parte percorrida entre Campanha e São João Del Rei apresentava a criação como atividade
preponderante. Assim referiram-se a Vila de Campanha:
"É idílica a região. porém solitária e deserta. As cercas muito extensas. que
correm pelas encostas dos vales e separam. os pastos de cada fazenda, são
quase que os únicos vestígios de que o pais é habitado: as casas das quintas,
porém, estão em geral escondidas nos valados laterais". (SPIX & MARTlUS, vaI.
1, 1981, pág. 193)
Saint-Hilaire dispensou algumas considerações sobre a Comarca do Rio das Mortes, cujo
território ultrapassava a Região Sul. Vejamos alguns aspectos mais importantes. Exportava
gado e porcos da zona do Rio Grande (Saint-Hilaire define a zona do Rio Grande como "as
terras situadas nas cabeceiras desse rio e que, consequentemente, ficam ao sul da sede da
Comarca do Rio das Mortes"55 - São João Del Rei) e fumo produzido no Termo de Baependi. A
Comarca era a porção mais densamente povoada de Minas Gerais. A população branca
respondia por um terço dos habitantes, a maior proporção de Minas Gerais, decorrência do
predomínio do comércio e da criação de gado. que necessitavam em menor escala do recurso
à mão-de-obra escrava. A maior parte da população concentrava-se na parte oriental da
Comarca (a Região Sul correspondia a mais ou menos dois terços da Comarca do Rio da
Mortes, que compreendia ainda as porções meridionais das Regiões do Sertão do Indaiá-
Abaeté, Intermediária de Pitangui-Tamanduá e da Mata, além do sudoeste da Região
Mineradora Central).
o viajante francês percorreu a porção oriental da Região Sul. Sobre a já definida zona do
Rio Grande, Saint-Hilaire teceu importantes considerações. A mineração atrofiara quase que
totalmente e a agricultura e, principalmente, a criação eram as principais atividades
econômicas.
Este importante fluxo comercial era intermediado por negoCiê.,ltes, que (.ompravam o
gado na região e revendiam para o Rio de Janeiro. Saint-Hilaire caracterizou a criação bovina:
o gado era "afamado por sua robustez e seu grande porte". havia necessidade de dar sal
leiteira coexistia com a criação para corte (fabricava-se grande quantidade de queijo e
exportava-se para o Rio de Janeiro). A criação de porcos também era expressiva, voltada para
a produção do toucinho e exportação para o Rio de Janeiro. Criava-se carneiros, produzindo
tecidos grosseiros para os negros e fabricando chapéus de lã. As fazendas eram lucrativas,
Janeiro.
Quando de sua viagem de São João Del Rei para São Paulo. Saint-Hilaire percorreu
Em Baependi e Pouso Alto predominava a cultura do fumo. que era exportado para o Rio
de Janeiro.
São João Del Rei e Barbacena foram visitadas por grande número de viajantes. Estes
centros urbanos passavam por reestruturação econômica. a mineração tornara-se atividade
pouco expressiva e o comércio figurava como a principal alternativa. São José Del Rei em
função de sua importância relativamente menor recebeu contigente menos expressivo de
visitantes.
São João Del Rei, com população estimada em 6.000 habitantes, foi objeto de maior
atenção por parte de Spix/Martius, Saint-Hilaire, Luccock e Pohl. A profunda retração da
60
extração aurífera e a pujança do comércio foi ressaltada por todos os autores. A mineração
estava praticamente reduzida a faiscação.
Cidade do Rio de Janeiro; comprava artigos europeus na capital e distribuía para o interior.
Todos os viajantes que estiveram em São João Del Rei mencionaram que a produção
dos arredores era voltada para o abastecimento da vila. Luccock descreve a estrutura
ocupacional da população:
"As lojas ocupam. se é que a isso se pode chamar de ocupação, uma certa
parcela da população, enquanto que os outros se empregam em suas fazendas,
viajam com suas tropas. ou preenchem cargos de confiança pública ".
(LUCCOCK, 1975, pág. 305)
Os produtos importados por São João Del Rei restringiam-se ás mercadorias européias.
Já os exportados eram bastante variados: toucinho, queijos, algodão em rama, tecidos
grosseiros de algodão, chapéus de feltro, couro, gado bovino, cavalos, mulas, galinhas,
açúcar, café, ouro e pedras preciosas. Luccock afirma que antes da instalação da corte São
João Del Rei era devedora da capital, mas que depois, tornou-se credora da Cidade do Rio de
Janeiro.
61
desempenhava importante papel por sua localização e comércio. A mineração era atividade
decadente.
"Principalmente por causa do tráfego do interior com o Rio de Janeiro, este lugar
lucra muito, porque em Barbacena reúnem-se as muitas estradas em uma só
que conduz à capital". (FREIREYSS, 1982, pág. 40)
A mineração aurífera conferia identidade a esta região. Com a maior rede urbana de
Minas Gerais, pólo da própria ocupação da capitania e vinculada secularmente à extração do
ouro, a Região Mineradora Central exercia grande fascinação nos viajantes estrangeiros.
Todos nossos viajantes aí estiveram. A Cidade de Ouro Preto (Vila Rica), capital das Minas
Gerais, é o único centro urbano que foi visitado pela totalidade de nossos viajantes.
Os limites desta região foram definidos pela extração de oc::. Não que a mineração
estivesse restrita a esta delimitação, mas sim, pelo fato de haver uma nítida associação da
região com o surgimento, desenvolvimento e retração desta atividade. Nas regiões vizinhas à
Mineradora Central a extração aurífera também era atividade historicamente importante.
62
Contudo, a identidade destas regiões não estava associada a esta atividade. No caso da
Mineradora Central a extração aurífera estava indissociavelmente ligada à identidade da
região.
produtividade, mas também, pela baixa acentuada dos investimentos (fuga de capitais ante as
dificuldades técnicas crescentes), redução do emprego de mão-de-obra escrava, aumento
generalizado da faiscação e inexistência de recursos técnicos que a mineração subterrânea
exigia. O espectro da decadência assolava a maioria dos centros urbanos, outrora prósperos
em função do ouro, e denunciava seu processo de esvaziamento populacional. Contudo,
muitas localidades ainda viviam em direta dependência da extração aurífera, mesmo que em
escala reduzida em relação ao século XVIII. A faiscação, responsável pela manutenção de boa
parte dos homens livres pobres, estava disseminada por quase toda a regiãe- e constituía-se,
em muitas áreas, na única alternativa econômica de parcela expressiva da população, dada a
inexistência de outras oportunidades capazes de reverterem aquele quadro de decadência.
Todavia, os viajantes relataram a existência de experiências econômicas que buscavam
ampliar a base produtiva de algumas áreas. onde a mineração tinha importância apenas
residual.
63
Se por um lado é inquestionável que os viajantes estrangeiros em muito devem suas
seus profundos efeitos sobre a organização econômica e social. Porém. os viajantes não se
limitaram ao relato daqueles sinais que evidenciavam o grande declínio da mineração.
Assinalaram também as potencialidades da região. as possibilidades de reorganização
econômica e social em outras bases. Foi possível anteverem, a partir do contato com alguns
futuro da região.
Outro setor com imensas potencialidades e que deveria, na visão dos viajantes, assumir
papel de relevo na economia da região era o siderúrgico. Algumas experiências de maior porte
bem sucedidas e a disseminação das pequenas forjas eram indícios do crescimento da
posição privílegiada.
primas.
64
abastecimento dos centros mineradores, na maior parte das vezes especializados na extração
regiões, sobretudo o dos transportes que se agravava do centro para a periferia da província.
Os centros urbanos da região que foram visitados pelos viajantes podem ser divididos
urbana do setecentos e a mais exacerbada luta contra o tempo. Este grupo de localidades era
marcado, sobretudo, pela redução da população urbana, pelo barateamento dos aluguéis e o
desgaste adiantado das construções. Este processo de esvaziamento dos centros urbanos, em
65
Ilustremos com alguns centros urbanos. Ouro Preto tinha em torno de 8.000 habitantes -
mais pobres. Ouro Preto era abastecida por áreas relativamente distantes, na medida que o
"Sem contar as pessoas que exercem funções públicas, a maior parte dos
habitantes vive do produto de suas minas de ouro, de suas roças e,
principalmente, do comércio que se faz não somente com o Rio de Janeiro e o
interior, mas também, lucrativamente. com Goiás e Mato Grosso. A parte mais
pobre da população é constituída pelos que exercem ofícios e pelos escravos".
(POHL. 1976, pág. 398)
estrangeiros: melancolia, tristeza e decepção conviviam com o elogio cauteloso aos sinais de
ainda era considerável, tanto a de maior porte como a faiscação. Sabará, com 5.000
retraída e desempenhava funções comerciais destacadas. "Na maior parte os moradores são
negociantes que fazem comércio com os do sertão a oeste''57. As localidades de Cocais, Catas
Altas, Inficionado. Morro Grande e Santa Bárbara foram caracterizadas como populosas.
66
Breve painel da economia provincial
de Minas Gerais. Os depoimentos dos viajantes revelam que a organização econômica mineira
da primeira metade do século XIX era marcada por fortes contrastes regionais. A irregular
distribuição da população e a grande variação do nível de atividade econômica são os
vezes áreas de estrutura fundiária desconcentrada, como nas regiões do leste mineiro.
inexpressiva rede urbana. Este grupo de regiões situava-se no norte de Minas. O último grupo
de regiões tinha como traço comum a ocupação recente, a presença de áreas de fronteiras ou
mesmo a existência de territórios desocupados. Menos homogêneo, este grupo era formado
por regiões com densidades demográficas e redes urbanas variadas. Localizavam-se no oeste
e leste da província.
67
exportação para fora da província fazia parte da dinâmica externa das regiões. Os viajantes
descortinaram cenário onde os fluxos comerciais internos e externos (sobretudo o comércio
com o Rio de Janeiro) eram vigorosos. Minas Gerais possuía setor mercantil que ocupava
parcela considerável da população, transacionava volume impressionante de mercadorias e
O trabalho escravo estava disseminado por todas as regiões. Contudo, acentuadas eram
setores mais pobres da população, impossibilitados de recorrer ao braço escravo. Nas zonas
de colonização, tanto nas fronteiras leste como oeste, a economia baseava-se no recurso à
A mineração ainda era atividade destacada em alguns pontos. Porém, estava associada,
na grande maioria dos casos, ao espectro da decadência. Os sinais mais evidentes de sua
retração eram a ruína dos centros urbanos, os problemas relativos a recursos técnicos e de
68
pequenas forjas, a indústria têxtil doméstica e o variado artesanato urbano constituíam-se nas
69
o LONGO PERCURSO DE UMA IDÉIA
Redimensionar o tratamento do
espaço e o uso dos relatos
projeção de dois problemas de natureza metodológica como objetos centrais. Desta forma, é
fundamental que a apreciação da proposta de regionalização seja precedida da avaliação da
forma como os relatos de viagem foram com pulsados e do tratamento que as categorias
espaço e região receberam. Independente do êxito particular que possamos ter alcançado no
trabalho com o depoimento dos viajantes, as principais contribuições que esperamos trazer
temporalidade deve ser rejeitado. Assim sendo, vislumbramos cenário onde a recuperação da
historicidade das categorias espaço e região propulsionará, em bases mais seguras, grande
conjunto dos relatos de viagem, são condições necessárias para que estas fontes históricas
deixem de ocupar posição secundária e meramente ilustrativa na maior parte dos trabalhos
resultados .
Constituiu-se banco de dados que possibilitou o rápido e completo acesso a qualquer tipo de
informação, classificada segundo sua natureza, o tempo e espaço a que se referem e
acompanhada de qualificação que permite a identificação do seu conteúdo específico. Todos
58 Por determinação da Presidência da Província foi realizado em 1831/32 um levantamento minucíoso da população de Minas
Gerais. Organizado sob a forma de listas nominativas. este censo provincial constitui-se no mais circunstanciado recenseamento
populacional do período imperial mineiro. Confeccionadas por distrito de paz, as listas informavam regularmente o nome dos
habitantes, idade, condição -social, cor/origem. situação conjugal e ocupação. De forma irregular relacionavam-se parentescos.
nacionalidades e outras informações ainda menos incidentes. A cobertura é muito boa. as listas remanescentes atingem em torno
de 60% da população e das unidades administrativas do período. Para uma apresentação detalhada desta documentação, onde
discute-se exaustivamente cada uma das variáveis constantes nas listas e avalia-se com o mesmo rigor o tratamento de seus
dados, ver PArVA (1996). A transcrição das listas nominativas e conformação de imenso banco de dados exigiu mais de uma
década de trabalhos quase que ininterruptos. Sob a coordenação de Clotilde A. Paiva, participamos ativamente de quase todo este
longo processo, estando, portanto, plenamente inteirados da natureza desta documentação. seu imenso potencial bem como seus
limites. Este conjunto documental, já inteiramente organizado, encontra-se no CEDEPLAR.
71
os registros do banco de dados foram enquadrados na regionalização. A espacialização dos
de Minas à luz do depoimento dos viajantes estrangeiros/6o era o objetivo da análise do banco
de dados. O censo de 1831/32 entrou em cena logo a seguir, quando "as características
Logrou-se pela primeira vez analisar uma série de aspectos econômicos e demográficos
concernentes ao século XIX mineiro utilizando-se uma segmentação do espaço elaborada com
dados contemporâneos ao período investigado. Cumpriu-se o compromisso muitos anos antes
59 Esta nova incursão na obra dos viajantes foi presidida por Mário M. Rodarte, assistente de pesquisa do CEDEPLAR e membro
do grupo de pesquisa coordenado por Clotilde A. Paiva. Em dois anos montou-se o banco de dados, avaliou-se os subsídios
coletados, procedeu-se à espacialização supracitada e elaborou-se estudo em torno da organização econômica de Minas Gerais
na primeira metade do século XIX. Ver RODARTE (1996) e PAIVA (1996).
60 PAIVA, 1996, pág. 4.
61 PAIVA, 1996, pág. 4.
72
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74
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1990.
ANEXO 1
adaptada) foi elaborado a partir desta carta geográfica da Província de Minas Gerais. Este
mapa base traz as divisões políticas (limites de províncias). as sedes municipais de 1833/35 e
itinerários de viagem apresentamos as razões que nos levaram a optar por este mapa da
MrJBM"GEBA.~ 8 AND
EsrlBUO S~~JO
15 Compiled from lhe most modem maps , and in acconlan"" with
Official StatiSllCS and boundaries
1882
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ANEXO 2
- LEGENDA-
John LU CCOC K L UC
J o h n MA WE MA W
Auguste de SAINT-HILAIRE:
Johann Baptist von SPIX & Carl Friedrich Phillipp von MARTIUS S&M
obs. 1: relacionamos, em ordem alfabética, todas as localidades visitadas pelos viajantes, com exceção daquelas que
ou não constam em nosso mapa da Província de Minas Gerais (ANEXO 1) e não foram encontradas nas demais
cartas geográficas consultadas, ou, ainda que presentes nestas cartas, tiveram sua localização aproximada no mapa
adotado dificultada por problemas de falta de referências geográficas ou de escala (sobretudo nos casos de
localidades de pequenas proporções situadas em áreas congestionadas de centros urbanos relativamente maiores).
obs. 2: para algumas localidades, que tiveram sua designação mudada na primeira metade do século XIX,
relacionaremos mais de um topônimo.
obs. 3: indicaremos entre parênteses, quando for o caso, o topônimo atual da localidade.
obs. 4: sempre que possível. apresentaremos a categoria da localídade (arraial. vila ou cidade); também indicaremos
eventuais alterações na sua situação. desde que ocorridas na primeira metade do século XIX (até 1850).
obs. 5: para os casos em que um mesmo viajante visitou mais de uma vez a mesma localidade. indicaremos o
número de visitas entre colchetes.
obs. 6: as regiões são apresentadas seguindo a mesma ordenação do texto. da Região do Sertão do Urucuia a Região
Mineradora Central.
Região de Paracatu
* A legres, Arraial (João Pinheiro) POH
* Arrependidos. Registro SH3
* Carapinas. Fazenda SH3
* Florentino. Fazenda POH
* Paracatu, Vila - Cidade em 1840 SH3 POH
* Pilões, Fazenda SH3
* Sapé, Fazenda SH3 PO H [2]
Região de Araxá
Região do Triângulo
* Boa Vista, Aldeia de índios SH4
* Santana do Rio das Velhas. Aldeia de índios (Indianópolis) SH4
* Tejuco. Fazenda SH4
* Uberaba, Arraial- Vila em 1836 SH4
79
Região do Vale do Médio-Baixo Rio das Velhas
Região do Sertão
80
* Mendanha. Arraial GAR MA W SH2
* Milho Verde, Arraial GAR S&M SH2
* Monte ltambé, Acidente geográfico S&M
* Rio Manso. Arraial (Couto de Magalhães de Minas) S&M SH2
* Rio Pardo. Lavra de diamantes MAW SH2
* São Gonçalo. Arraial (São Gonçalo do Rio das Pedras) S&M MA W[2]
* Tijuco. Arraial - Vila de Diamantina em 1831 - Cidade em 1838 00B GAR S&M[2] MA W[3] SH2[2]
* Vila do Príncipe - Cidade do Serro em 1838 OOB GAR POH S&M MAW SHl SH2
Região da Mata
* Chapéu D'Uvas, Arraial (Paula Lima) FRE GAR LUC(2] POH[2] SHl
* Conceição de Ibitipoca. Arraial SH5
* Guidoval. Fazenda - Arraial de Santana do Sapé ainda na primeira metade do século XIX (Guidoval) S&M
* João Gomes. Arraial (Santos Dumont) POH[2]
* Juiz de Fora. Fazenda - Arraial de Santo Antônio do Paraibuna por volta de 1836 - Vila em 1850
(Juiz de Fora) FRE LUC MA W POH SHl
* Matias Barbosa, Arraial e Registro OOB FRE BUN LUC MAW POH[2] SHl
* Mercês do Pomba, Arraial (Mercês) GAR
* Presídio de São João Batista. Arraial - Vila em 1839 (Visconde do Rio Branco) FRE S&M[2]
* Rio Preto, Arraial - Vila em 1844 BUN SH3 SH5
* Santa Rita do Ibitipoca, Arraial SH5
* São José do Barroso, Arraial (Paula Cândido ) S&M
* Simão Pereira, Arraial POH
Região Sul
* Aiuruoca. Arraial- Vila em 1834 SH5
* Baependi. Arraial - Vila em 1814 SH5
* Barbacena. Vila - Cidade em 1840 FRE OOB BUN MA W LUC POH[2] SHl SH2 SH5
* Barroso. Arraial LUC SH2 SH5
* Bom Jardim, Arraial (Bom Jardim de Minas) BUN SH3
* Camanducaia. Arraial- Vila de Jaguari em 1840 (Camanducaia) S&M
* Campanha. Vila- Cidade em 1840 S&M
* Carrancas. Arraial SH5
* Estiva, Fazenda - Arraial ainda na la metade do século XIX S&M
* Madre de Deus, Arraial (Madre de Deus de Minas) SH3
* Mandu, Arraial - Vila de Pouso Alegre em 1831 - Cidade em 1848 S&M
81
* Passa Quatro. Arraial SH5
* Pico do Papagaio. Acidente geográfico SH5
* Pouso Alto. Arraial SH5
* Rio das Mortes. Arraial SH3
* Santana do Sapucai. Arraial (Silvianópolis) S&M
* Santo Antônio da Ponte Nova. Arraial (Itutinga) S&M
* São Gonçalo. Arraial (São Gonçalo do Sapucaí) S&M
* São João Del Rei. Vila - Cidade em 1838 BUN S&M POH[2] LUc[2] SH2 SH3 SH5
* São José Del Rei. Vila (Tiradentes) BUN POH S&M SH2
* Três Corações, Arraial S&1Y1
* Turvo. Arraial (Andrelândia) SH3
82
ANEXO 3
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Roteiro de viagem: Roteiro de viagem:
GEORG WILHELM FREIREYSS JOHN LUCCOCK
Vindo da Cidade do Rio de Janeiro. entra na Vindo da Cidade do Rio de Janeiro. entra na
Capitania de Minas Gerais em junho de 1814 Capitania de Minas Gerais em 1817
* Matias Barbosa * Matias Barbosa
* Juiz de Fora * Juiz de Fora
* Chapéu D'Uvas * Chapéu D'Uvas
* Barbacena * São João Del Rei
* Congonhas do Campo * Lagoa Dourada
* Ouro Preto * Queluz
* Congonhas do Campo * Ouro Branco
* Pompéu * Ouro Preto
* Real Mina de Galena do Abaeté * Mariana
* Ouro Preto * Congonhas do Campo
* Mariana * Suaçuí
* Barra do Bacalhau * Lagoa Dourada
* Santa Rita do Turvo * São João Del Rei
* Presídio de São João Batista * Barroso
* Ouro Preto * Barbacena
* Chapéu D'Uvas
[o autor não informa o itinerário de retomo ao Rio de
Janeiro] Deixa a Capitania de Minas Gerais em 18 I 8,
regressando a Cidade do Rio de Janeiro
Deixa a Capitania de Minas Gerais no começo de
1815, regressando a cidade do Rio de Janeiro
PROVINCIA DE " '-.
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M/NAS GEI?AES
ITINERÁRIOS DE VIAGEM
JUN.1814 A 1815:-------
Jol1n luccocl< .
1B17 - 181 B .
G o y A z
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B A H A
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Roteiro de viagem:
GEORGE GARDNER
Vindo da Província de Goiás. entra em Minas Gerais
em maio de 1840
"São Romão
.• Montes Claros
'" Bontim
.• Mendanha
.• Diamantina
.• Milho Verde
.• Vila do Príncipe
.• Conceição
.• (també
.• Cocais
.• São João do Morro Grande
.• Raposos
.• Mina do Morro Velho
.• Congonhas do Sabará
.• Sabará
.• Mina do Morro Velho
.• Sabará
.• Caeté
.• São João do Morro Grande
.• Brumado
.• Catas Altas
.• Inficionado
.• São Caetano
'" Mariana
w Ouro Preto
.• São Caetano
.• Pinheiro
.• Piranga
.• São Caetano do Chopotó
.• Merces do Pomba
.• Chapéu O'Uvas
Deixa a Província de Minas Gerais em outubro de
1840. com destino a Cidade do Rio de Janeiro
87
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PROVINe I A DE ,l •.::;, .•, .•.•.'•.•.,
ITlNERARIO DE VIAGEM
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Roteiro de viagem:
JOHN MAWE
Vindo da Cidade do Rio de Janeiro. entra na Capitania
de Minas Gerais em agosto de 1809
"' Matias Barbosa
"' Juiz de Fora
"' Barbacena
"' Queluz
"' Ouro Branco
"' Ouro Preto
* Mariana
* São Caetano
* Barra Longa
* Piranga
* Ouro Preto
"' Mariana
"' lnficionado
* Catas Altas
* Cocais
* Itambé
* Pilar/Morro de Gaspar Soares
* Conceição
* Córregos
* Vila do Príncipe
* São Gonçalo
* Diamantina
* Mendanha
"' Diamantina
* Chapada
* Rio Pardo
"' Diamantina
"' São Gonçalo
"' Cocais
"' São João do Morro Grande
* Brumado
'" Santa Bárbara
'" Catas Altas
'" Ouro Preto
[o autor não informa o itinerário de retomo ao Rio de
Janeiro]
Deixa a Capitania de Minas Gerais em fevereiro de
1810. regressando a Cidade do Rio de Janeiro
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Roteiro de viagem: * São Miguel
JOHANN EMANUEL POHL * Sucuriú
* Chapada
I' Parte: Vindo da Cidade do Rio de Janeiro. entra
* Minas Novas
na Capitania de Minas Gerais em setembro de 1818
* São João Batista
* Simão Pereira * N. S. da Penha
* Matias Barbosa * Itambé do Serro
* Chapéu D'Uvas * Vila do Príncipe
* João Gomes * Conceição
* Barbacena * Pilar/Morro de Gaspar Soares
* São João Del Rei * Itambé
* São José Del Rei * Cocais
* São João Del Rei * Santa Bárbara
* Santa Rita do Rio Abaixo * Catas Altas
* São João Batista * Inficionado
* Oliveira * Mariana
* São Francisco de Paula * Ouro Preto
* Formiga * Antànio Pereira
* BambuÍ * Ouro Preto
* São Pedro de Alcântara * Ouro Branco
* Patrocínio * Queluz
* Arruda * Carandaí
* Pouso Alegre * Barbacena
* Sapé * João Gomes
* Paracatu * Chapéu D'Uvas
Deixa Minas Gerais em novembro de 1818. entra na * Juiz de Fora
Capitania de Goiás * Matias Barbosa
2' Parte: Em abril de 1820 retoma a Capitania de Deixa a Capitania de r-.tinas Gerais em fevereiro de
Minas Gerais, vindo de Goiás 1821, regressando a Cidade do Rio de Janeiro
* Sapé
* Florentino
* Alegres
* Real Mina de Galena do Abaeté
[desce o Rio Abaeté e depois o Rio São Francisco]
* Sobrado
* Genipapo
* Barra do Rio das Velhas
* Extrema
* Jequitai
* Retiro
* Bonfim
* S. C. de Jesus das Barreiras
* Piedade
* Minas Novas
* Chapada
* Estreito
* Bom Jardim
* São Miguel
[desce o Rio Jequitinhonha]
* Salto Grande
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Roteiro de viagem: * Santa Ana do Capão
AUGUSTE DE SAINT.HILAIRE (RJI MG) * Pedras dos Angicos
* Coração de Jesus
Vindo da Cidade do Rio de Janeiro, entra na
* Catonio
Capitania de Minas Gerais em dezembro de 1816
* Curimata i (setem bro de 1817)
* Matias Barbosa [continua no relato Distrito Diamantino]
* Juiz de Fora
Roteiro de viagem:
* Chapéu D'Uvas
* Barbacena AUGUSTE DE SAINT-HILAIRE (Distrito
* Queluz Diamantino)
* Ouro Branco [continuação do relato RJ/MG]
* Ouro Preto * Córrego Novo (set. 1817)
* Antônio Pereira
* Rio Pardo
* Mariana
* Chapada
* Inficionado
* Diamantina
* Catas Altas
* Mendanha
* Santa Bárbara
* Rio Manso
* Brumado
* Diamantina
* São Miguel
* Milho Verde
* Itabira
* Vila do Príncipe
* Itambé
* Tapera
* Pilar/Morro de Gaspar Soares
* Congonhas
* Conceição
* Pilar/Morro de Gaspar Soares
* Vila do Príncipe
* Itambé
* Guanhães
* Cocais
* Turvo
* Santa Bárbara
* Peçanha
* São Miguel
* Rio Vermelho
* São João do Morro Grande
* Nossa Senhora da Penha
* Caeté
* São João Batista
* Sabará
* Capelinha
* Congonhas do Sabará
* Minas Novas
* Santo Antônio do Rio Acima
* Chapada
* Rio das Pedras
* Sucuriú
* São Bartolomeu
* Estreito
* Ouro Preto
* Bom Jardim
* Mariana
* São Miguel
* Lago
* São Domingos
* Congonhas do Campo
* Chapada
* Suaçuí
* Minas Novas
* Lagoa Dourada
* Piedade
* Carandaí
* São João Batista
* São João Del Rei
* Araçuaí
* São José Del Rei
* Ribeirão
* Barroso
* Bonfim
* Barbacena
* Montes Claros
* Caiçara Deixa a Capitania de \1inas Gerais em março de
* Contendas 1818, regressando a Cidade do Rio de Janeiro
* Tamanduá
* Santa Ana do Capão
* Pedras de Maria da Cruz
* Januária
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M/NASCERAES
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Roteiro de viagem: Roteiro de viagem:
AUGUSTE DE SAINT-HILAIRE (São AUGUSTE DE SAINT-HILAIRE (segunda
Francisco) viagem)
Vindo da Cidade do Rio de Janeiro, entra na Vindo da Cidade do Rio de Janeiro, entra na
Capitania de Minas Gerais em janeiro de 1819 Capitania de Minas Gerais em janeiro de 1822
* Rio Preto * Rio Preto
* Bom Jardim * Conceição de Ibitipoca
* Turvo * Santa Rita de Ibitipoca
* Madre de Deus * Barbacena
* São João Del Rei * Barroso
* Rio das Mortes * São João Del Reí
* Conceição da Barra * Carrancas
* Oliveira * Aiuruoca
* Tamanduá * Pico do Papagaio
* Formiga * Baependi
* Pium-í * Pouso Alto
[nascentes do Rio São Francisco] * Passa Quatro
Roteiro de viagem:
AUGUSTE DE SAINT-HILAIRE (Goiás)
Vindo da Capitania de Goiás, entra em Minas Gerais
em setembro de 1819
* Boa Vista
* Santana do Rio das Velhas
* Tejuco
* Uberaba
Deixa Minas Gerais em setembro de 1819. entra na
Capitania de São Paulo
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Roteiro de viagem: * Minas Novas
JOHANN B. VON SPIX & CARL F. P. VON * Chapada
MARTIUS * Sucuriú
Vindos da Capitania de São Paulo. entram em Minas [nascentes do Rio Calhau]
Gerais em janeiroifevereiro de 1818 * São Domingos
* Jaguari * Montes Claros
* Estiva * Contendas
* Pouso Alegre * Tamanduá
* Santana do Sapucaí * Santa Ana do Capão
* São Gonçalo * Pedras de Maria da Cruz
* Campanha * Januária
* Três Corações [seguem em direção a Capitania de Goiás]
* Santo Antônio da Ponte Nova Após rápida incursão na Capitania de Goiás.
* São João Del Rei retornam a Minas Gerais
* São José Del Rei
[descem o Rio Carinhanha. divisa de Minas Gerais/
* Lagoa Dourada
Pernambuco]
* Congonhas do Campo
* Ouro Preto * CarinhanhaJPE (divisa PE/MG)
* Mariana * Malhada/BA (divisa MG/BA)
* Barra do Bacalhau Deixam a Capitania de Minas Gerais em setembro de
* Presídio de São João Batista 1818. entram na Bahia
* Guidoval
* Presídio de São João Batista
* São José do Barroso
* Santa Rita do Turvo
* Mariana
* Ouro Preto
* Congonhas do Campo
* Ouro Preto
* Antônio Pereira
* lnficionado
* Ouro Preto
* Rio das Pedras
* Santo Antônio do Rio Acima
* Congonhas do Sabará
* Sabará
* Caeté
* São João do Morro Grande
* Cocais
* Itambé
* Pilar/Morro de Gaspar Soares
* Conceição
* Vila do Príncipe
* Milho Verde
* Diamantina
* Monte Itambé
* São Gonçalo
* Diamantina
* Rio Manso
* Barreiras
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ANEXO 4:
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Regionalização adaptada
Alguns anos após a conclusão da versão original deste trabalho, da definição dos
contornos das 16 unidades que compõem a regionalização (ANEXO 4), realizamos avaliação
A adaptação esteve orientada por três objetivos básicos. Em primeiro lugar, buscou-se
redefinições de fronteiras que resultassem na preservação em uma mesma região da maior
1831/32 como referencial63. O segundo objetivo era alcançar maior precisão na delimitação
das regiões, através da incorporação, sempre que pertinente, dos contornos da mais remota
62 Mesmo considerando que os municípios. bem como as circunscrições judiciárias. eleitorais e eclesiásticas. na maior parte das
vezes, não coincidiam com o território de regiões com identidade claramente definida, ainda assim, constituíam-se em entidades
espaciais com pelo menos uma afinidade claramente definida: tratavam-se de unidades administrativas e, por decorrência,
pertenciam a estruturas hierarquizadas. Apesar de alguns problemas de desarmonia entre as diversas unidades administrativas, a
regra era a concordância entre elas. Um bom exemplo desta harmonia das divisões é a coincidência entre municipios e termos.
Outra forte evidência é o fato de uma paróquia tender a pertencer sempre a um único municipio. Além disso, nas sedes municipais
reuniam-se funcionários públicos e eclesiásticos (peças estratégicas de estruturas administrativas complexas) que possuiam
autoridade que alcançava parte ou o conjunto do território do municipio.
Porquanto, estes aspectos administrativos, já anteriormente apontados como intervenientes na determinação da identidade das
regiões. foram reconsiderados com a incorporação de informações de divisões municipais da década de 1830. Em alguma
medida. a preservação da maior integridade possivel das unidades municipais. desde que avaliadas com cuidado as eventuais
alterações, pode ter reforçado a identidade das regiões.
63 A população estimada para Minas Gerais em 1830/35 é de 718.191 habitantes: em 1831/32 a Província tinha 16
municipios e 410 distritos (PAIVA. 1996). A distribuição era a seguinte:
último propósito, que repercutiu com alterações mais substantivas na proposta original. foi o de
isolar as duas grandes áreas desocupadas, ao menos de populacão não-indígena, e propor
novas configurações espaciais para estas porções da Província. ealizadas as adaptações,
cotejamos a regionalização com as atuais zonas fisiográficasô5 Algumas regiões tiveram seus
nomes modificados.
Com a realização das adaptações logramos atender aqueles pesquisadores que, por
sempre balizados nas unidades espaciais definidas pela estrutura administrativa do período
correspondência de cada região com a atual divisão por zonas fisiográficas. Descreveremos os
64 DepoIs de exaustivo levantamento na Mapoteca do Arquivo Público Mineiro, da avaliação de todo material cartográfico dos
séculos XVIII e XIX, constatou-se que as comarcas de 1868 constituem-se, provavelmente, na mais antiga espaclalização de uma
divisão de Minas Gerais em unidades administrativas, passível de ser utilizada.
O Mapa aa Provincia de Minas Geraes. constante no Atlas do Imperio do Brazil. apresenta-se segmentado em vinte e duas
comarcas e traz a indicação dos municipios pertencentes a cada uma das circunscrições judiciárias. As segmentações do espaço
mineiro anteriores a esta carta geográfica trazem três ordens de problemas: alguns mapas contemplam apenas parte do território
mineiro; outros apresentam os recortes sem referências geográficas suficientes à determinação. ao menos aproximada, dos limites
entre as unidades espaciais (linhas traçadas em mapas que praticamente limitam-se aos contornos do território provincial e
algumas localidades ou acidentes geográficos isolados); ou ainda, cartas geográficas com grandes deformações cartográficas
(sobretudo de escala).
65 A superposição das atuais zonas fisiográficas (amplamente utilizadas pelos pesquisadores em geral. inclusive por muitos
historiadores que trabalham com o século XIX) à regionalização adaptada possibilita comparar duas propostas diversas de
segmentação do espaço e válidas para periodos históricos distintos. De um lado o recorte segundo a geografia fisica do final do
século XX. de outro o recorte definido segundo a identidade regional da primeira metade dO século XIX. Um dos principais
resultados da confrontação é a confirmação do equivoco que é a transposição de segmentação do espaço entre períodos
históricos diferentes, sobretudo quando os recortes são definidos a partir de aspecto isolado (geografia física).
102
Assim, fornecemos as informações fundamentais referentes a esta versão adaptada da
regionalização. As injunções específicas a cada investigação é que deverão determinar qual
das duas versões melhor coaduna-se aos objetivos perseguidos por cada pesquisador66. A
regionalização é uma só, a versão adaptada traz modificações que não subvertem a identidade
das regiões.
O quadro seguinte traz a distribuição dos municípios e distritos pelas regiões; avaliando o
Municiolos Pooulacão
Região
Numero Parcela ao Numero ~3rt1ODacao Pzrtlopacão Parcela da
i\1unlciolo ca 000. no da OOP. CIO DOP. do
Sertão do Alto São Tamandua 0.73 37,50 23.08 10.168 1,42 56.21 30,11
Francisco Pitangul 0.98 50,00 23.53 6232 087 34.45 19,90
Saoará 024 12,50 2,56 1689 0.24 934 2,48
Intennediaria de São José oel Rei 22 5.37 47.83 '00.00 33.363 465 39.74 100,00
PitangUl-Tamandua Pltangul 13 3 17 28.26 76.47 25092 349 29.89 80,10
Tamanaua 10 2.44 21,74 76.92 23.598 329 28.11 69.89
Sabara 1 024 2,17 2.56 1896 026 2.26 2,78
Vale do Médio.Baixo SaOará 14 3.41 93.33 35.90 33.925 4.72 95.00 49.76
Rio das Velhas Vila do Pnnclpe 1 0,24 6,67 2.56 1786 0.25 5.00 2,35
Vale do Alto-Médio Paracatu 1,71 58.33 23,33 7676 107 53,98 15,31
São Francisco Vila do PrinclPe 1,22 41,67 12,82 6.544 0.91 46,02 8.62
Sertão Vila do Príncipe 4 0,98 100,00 10,26 8.726 1,21 100,00 11,49
Minas Novas Minas Novas 23 5.61 95,83 100.00 52,161 7,26 92,74 100,00
Vila do Pnncipe 1 0.24 4.17 2.56 4081 0,57 7,26 5,37
Sertão do Rio Doce Mariana 0.24 100,00 1,75 267 0.04 100,00 0,36
104
A seguir apresentaremos, separadamente, as regiões propostas na versão adaptada da
regionalização.
REGIÃO DO TRIÂNGULO
A fronteira leste da região, a única que não é limite de província, foi redefinida. Utilizou-se fronteira
de comarca, que coincide com o Rio das Velhas, até a altura das nascentes do Ribeirão Ponte Alta. Este
trecho da fronteira leste acompanhou o Ribeirão Ponte Alta até sua foz no Rio Grande, preservando na
região vizinha a área do antigo Município de Sacramento, que pertencia ao Município de Araxá.
Estabelecer demarcação mais precisa dos limites leste foi a principal razão da alteração de
fronteiras da Região do Triângulo. A mudança da fronteira leste resultou na transferência de parcela
expressiva dos territórios indígenas do Triângulo para a Região de Araxá. A nova fronteira leste permitiu
praticamente separar os municípios de Araxá e Uberaba (1838/40).
REGIÃO DE ARAXÁ
A fronteira sul é definida pelo Rio Grande e pela Serra da Canastra. A fronteira leste é definida pela
Serra do Mato da Corda. A fronteira norte e definida por demarcação de comarca, coincidindo com um
conjunto de serras. Esta região tem por limites leste e norte uma série de serras que separam a Bacia do
Paranaíba da Bacia do São Francisco. A fronteira oeste, com a região vizinha do Triângulo, foi redefinida
(VER REGIÃO DO TRIÂNGULO).
REGIÃO DE PARACATU
Corresponde a porção sul da zona fisiográfica Paracatu e a pequenas áreas das zonas
fisiográficas Alto Médio São Francisco e Alto São Francisco.
A fronteira oeste é limite de províncias. A fronteira leste é o Vale do São Francisco (área ribeirinha)
e um conjunto de serras que separam os vales do Rio Paracatu e do São Francisco. A fronteira norte foi
redefinida, incorporando o Rio Urucuia e afluentes, bem como alguns tributários da margem esquerda do
Rio Paracatu. A nova fronteira norte é definida por demarcação de comarca e pelo Chapadão do Urucuia.
Isolar a porção quase que totalmente desocupada da Região do Sertão do Urucuia foi o objetivo
principal desta alteração de fronteira. A incorporação dos territórios do Vale do Rio Urucuia também
atendeu ao objetivo de manter todo o Município de Paracatu (1838/40) na Região de Paracatu. A divisão
anterior deixava parte expressiva dos distritos de Paracatu (1838/40) na Região do Sertão do Urucuia. As
distinções entre a Região de Paracatu original e os territórios incorporados ao norte, distinções
relacionadas, sobretudo, à antiguidade da ocupação, densidade populacional e nível de vinculação com
outras regiões economicamente mais dinâmicas, sugerem a pertinência de futura avaliação da
105
proposição de nova região, que compreenderia exatamente estes territórios intermediários entre a Região
de Paracatu original e a nova Região do Extremo Noroeste.
REGIÃO DO SERTÃO
106
Município de Minas Novas: a área do distrito de Tremedal. pertencente a Montes Claros no início da
década de 1830, no princípio da década de 1840 passa a subordinar-se ao Município de Grão Mogol e
mais tarde ao de Rio Pardo, ambos criados a partir do desmembramento do Municipio de Minas Novas.
As fronteiras norte e leste são definidas por limites de províncias. A fronteira sul é definida pelas
serras que separam a bacia do Jequitinhonha das bacias do 'Mucuri e Doce. A fronteira oeste foi
redefinida (VER REGIÃO DO SERTÃO) com o objetivo de manter integralmente na região a área do
Município de Minas Novas (1831/32). No caso da fronteira oeste mais ao sul. divisa com a Região do
Distrito Diamantino, parte do território da Região do Termo de Minas Novas foi incorporada a Região de
Diamantina, com o objetivo de separar os municípios de Minas Novas e Vila do Príncipe (1831/32). Parte
dos novos limites a oeste foram definidos por demarcação de comarcas e parte pelos limites dos
municípios de Minas Novas e Vila do Príncipe (1831/32). Na medida que as mudanças de fronteiras
resultaram na perda da coincidência com a circunscrição judiciária Termo de Minas Novas, alteramos o
nome da região para Minas Novas.
Com a presença de um único distrito, Cuieté (Mariana - 1831/32), lugar de degredo, perdido em
meio a densa mata atlântica ocupada por índios pouco afeitos ao contato com a "civilização", esta região
pode ter pertencido, do ponto de vista administrativo, a um ou mais dos municípios que lhes eram
fronteiriços (Município de Minas Novas -1831/32 ao norte e oeste, Vila do Príncipe -1831/32 a oeste e
Mariana -1831/32 a oeste e sul).
Engloba praticamente toda o território das zonas fisiográficas Mucuri e Rio Doce e pequenas
porções das zonas fisíográfícas Mata e Metalúrgica.
107
Toda extensa fronteira leste é definida por limites de províncias. A fronteira norte é definida por
conjunto de serras que separam os vales dos rios Doce e Mucuri do Vale do Rio Jequitinhonha. A
fronteira sul é definida por conjunto de serras que separam os vales dos rios Doce e Paraiba. A fronteira
oeste foi redefinida. Os novos limites são: o ponto mais ao norte é o curso de pequeno afluente do Rio
Suaçuí Grande, segue o curso do próprio Suaçui até sua barra no Rio Doce. sobe este até a altura da
Barra do Rio Santo Antônio, acompanhando depois conjunto de serras onde nascem alguns tributários do
Rio Doce (Rios Cuieté e Manhuaçu). Do pequeno afluente do Rio Suaçui Grande até a Barra do Rio
Santo Antônio a fronteira coincidiu com limites de comarcas.
O objetivo da alteração da fronteira oeste foi isolar a parte da Região do Sertão do Rio Doce
original que estava desocupada de população não-indigena. A nova fronteira coincide com a linha de
ocupação não-indígena. com os distritos mais orientais dos municípios de Vila do Principe, Caeté e
Mariana (exceto o distrito de Cuieté). A mudança da fronteira resultou na retirada da região de todos os
territórios em processo de colonização. A Região do Sertão do Rio Doce passou a compreender
territórios quase que completamente à margem do "processo civilizatório". Expurgada das zonas de
colonização. a região perdeu um dos elementos que lhe conferiam identidade. A Região do Sertão do Rio
Doce. ainda que a mais próxima do litoral. passa a figurar como a área provavelmente mais intocada da
Província e, consequentemente. com a identidade mais ligada a precariedade ou ausência de ocupação
não-indigena.
Corresponde a grande parcela da zona fisiográfíca Alto São Francisco, mais pequenas porções
das zonas físiográficas Alto Paranaíba e Alto Médio São Francisco.
O Rio Grande delimita a fronteira sul. As fronteiras oeste e norte são conjuntos de serras que
separam a Bacia do São Francisco das bacias do Paraiba e Paracatu. A fronteira leste sofreu pequenas
mudanças na sua parte ao sul do Rio Espírito Santo, pequeno afluente da margem direita do São
Francisco. A nova fronteira inicia-se com conjunto de serras que separam a Bacia do São Francisco da
Bacia do Rio das Velhas. coincide com o próprio Rio São Francisco no trecho compreendido entre as
barras dos rios Paraopeba e Bambui. acompanhando depois limites de comarcas até o Rio Grande.
Ainda que a área da região tenha sofrido apenas pequenas alterações. com as mudanças da fronteira
leste, foi proposto o novo nome de Sertão do Alto São Francisco.
108
José Del Rei e Queluz. A nova fronteira leste coincidiu com limites de comarcas na parte que separa os
municípios de São José Del Reí e Queluz.
Os limites desta região praticamente permaneceram inalterados. Compreende o Vale do Rio das
Velhas da sua barra até a altura da localidade de Santa Luzia. As fronteiras do trecho do baixo Rio das
Velhas são definidas pela área ribeirinha. Já as fronteiras do médio Río das Velhas incorporam a maior
parte dos afluentes de ambas as margens.
REGIÃO DE DIAMANTINA
(Região do Distrito Diamantino)
Corresponde a parcela da zona fisiográfica Alto Jequitinhonha, e pequenas porções das zonas
fisiográficas Alto São Francisco e Rio Doce.
A nova configuração da região acabou por ultrapassar por demais a Demarcação Diamantina,
justificando a mudança de seu nome para Região de Diamantina. Contudo, avaliamos que tais
incorporações de territórios não alteraram a identidade da região. As características da região
permaneceram válidas, ainda que as áreas incorporadas tenham contribuído para a redução relativa da
importância de algumas delas.
109
REGIÃO DA MATA
REGIÃO SUL
As fronteiras sul e oeste são definidas por limites de províncias. A fronteira norte é definida pelo
Rio Grande, Rio das Mortes e limites de municípios. A fronteira leste e definida pela Serra da Mantiqueira.
Insignificantes foram as alterações de fronteira.
A Região Sul foi dividida em três novas regiões: Sudeste, Sul Central e Sudoeste. A segmentação
do Sul, a partir da percepção de contrastes internos a região, possibilitara a investigação de aspectos que
o tratamento conjunto da região originalmente proposta inviabilizam. A divisão da Região Sul representa a
primeira iniciativa na direção do estabelecimento de unidades espaciais que muito provavelmente
consolidarão o conhecimento de especificidades intra-regionais. Aos investigadores do período
fornecemos duas opções de tratamento do espaço sul mineiro. Àqueles que optarem pelas três novas
regiões delineadas sempre haverá a possibilidade de somar os resultados encontrados para que possam
contemplar em conjunto a grande Região Sul, ponderando as especificidades de cada uma das três
regiões; aos demais, envolvidos com questões que dispensam a segmentação do Sul, basta desprezar
as duas divisões internas que definem as três novas regiões.
REGIÃO SUDESTE: Compreende o Município de Baependi -1831/32. parcela do Município de
São João Del Rei -1831/32 (corresponde ao Municipio de São João Del Rei -1833/35) e parcela do
Municipio de Barbacena -1831/32.
REGIÃO SUL CENTRAL: Compreende o Município de Campanha -1831/32 e parcela do
Município de São João Del Rei -1831/32 (corresponde ao Município de Lavras 1833/35).
Corresponde a maior parte da area da zona físiográfica Metalúrgica e parcelas das zonas
fisiográficas Mata, Campos das Vertentes e Rio Doce.
Esta região foi profundamente redefinida. Quase todas as suas fronteiras foram alteradas. A
fronteira sul continuou sendo definida pela Serra da Mantiqueira e outras serras que separam as bacias
dos rios Grande e Doce da Bacia do Rio Paraíba. A fronteira oeste foi bastante alterada, com a
incorporação de grande área anteriormente pertencente a região vizinha (VER REGIÃO
INTERMEDIÁRIA DE PITANGUI-TAMANDUÀ). A fronteira leste foi completamente redefinida, com a
anexação de expressiva parcela da região vizinha (VER REGIÃO DO SERTÃO DO RIO DOCE), A
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fronteira norte em parte foi preservada. limites com a Região do Vale do Médio-Baixo Rio das Velhas, e
em parte foi totalmente modificada. com a incorporação da Região Intermediária de Conceição. A nova
Região Mineradora Central foi dividida em duas regiões.
A Região Mineradora Central original foram incorporadas. basicamente. três grandes áreas. A
anexação de territórios a oeste visava separar os municipios de Sabará e Pitangui (1831/32) e Queluz e
São José Del Rei (1831/32); o impacto desta transferência de territórios já discutimos anteriormente (VER
REGIÃO INTERMEDIÁRIA DE PITANGUI-TAMANDUÁ). A incorporação de territórios a leste atendia ao
propósito de isolar a porção desocupada de população não-indígena da Região do Sertão do Rio Doce
original (VER REGIÃO DO SERTÃO DO RIO DOCE); os possíveis efeitos da anexação desta zona de
colonização foram isoladas com a proposição da Região Mineradora Central Leste, que compreende
basicamente estes territórios. A anexação da Região Intermediária de Conceição. cujos territórios
passaram a pertencer a Região Mineradora Central Oeste, foi impOSição decorrente das mudanças
ocorridas com a incorporação de parte da Região do Sertão do Rio Doce original. A Região Intermediária
de Conceição apresentava características semelhantes a Região Mineradora Central original. era região
de transição, e, com a nova configuração, perderia esta condição básica; os territórios anexados a leste
retiraram da região sua condição de transição na medida que os limites norte da Região Mineradora
Central passavam a ser diretos com as regiões do norte da Provincia. Estava inviabilizada a existência
desta região de transição. A Região Mineradora Central Oeste conservou a identidade da Região
Mineradora Central original. Os territórios que lhe foram incorporados pertenciam a duas regiões de
transição; transição das características que conferiam identidade a Mineradora Central para regiões com
identidades distintas. A Mineradora Central Leste conservou o nome da região original não só pela
presença de expressiva atividade de extração mineral, principalmente nas áreas imediatamente vizinhas
da Mineradora Central Oeste. mas também. por apresentar características que a aproximam da
ídentidade da Região Mineradora Central original. Novas evidências empíricas deverão aprofundar o
conhecimento da Região Mineradora Central Leste, ponderando. sobretudo. as semelhanças com a
região vizinha a oeste.
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PROVINCIA DE
M/NAS GENAES
REGIONALIZAÇÃO ADAPTADA
EXTREMO NOROESTE
J,
G o y A z
5 A o P A u L o SUDE