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DINÂMICA DOS SISTEMAS AGROPECUÁRIOS DE


PRODUÇÃO
I. Introdução

Nos sistemas agropecuários de produção, o manejo físico e químico


dos solos tem papel preponderante. A retirada da cobertura vegetal original
e a implantação de culturas, aliadas às práticas de manejo inadequadas,
promovem o rompimento do equilíbrio entre o solo e o meio, modificando
suas propriedades químicas, físicas e biológicas, limitando sua utilização
agrícola e tornando-o mais suscetível à erosão.
Cada camada de solo levou milhares de anos para ser formada e é
um dos principais componentes do ciclo de carbono, sendo o maior emissor
desse elemento da biosfera.
Quando abordamos os sistemas de produção agropecuários, nos vêm
à mente os avanços tecnológicos e suas implicações. A tecnologia tem
basicamente dois papéis, o primeiro o de liberar mão de obra para outras
atividades e o segundo de aumentar a produtividade, agregando-se aqui a
diminuição do desperdício, o que acabou gerando oferta maior que demanda
resultando no decréscimo dos preços dos produtos gerados no campo em
relação aos insumos.
Produzir com tecnologia apropriada, que permita a recuperação dos
solos degradados por anos de manejo inadequado, restaurando o equilíbrio
biológico entre o solo e o meio, preservando a renda do produtor, evitando a
corrente migratória para os centros urbanos incapazes de absorver
dignamente essa mão de obra, e assim a marginalidade, que alimenta a
violência e a conseqüente insegurança do cidadão, é o desafio que se nos
apresenta.
O objetivo deste trabalho é discutir os problemas decorrentes do
manejo físico dos solos, apresentar um panorama da evolução das maquinas,
implementos e ferramentas utilizadas, assim como alguns resultados de
pesquisas efetuadas na área.

II. Histórico
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1. O inicio da mecanização agrícola.

Quando o homem deixou de ser nômade, iniciou a fase da previsão


da subsistência e de um ciclo da civilização. O desejo do homem de
substituir o esforço pessoal por outra fonte de força nas tarefas agrícolas, fez
com que inicialmente ele riscasse o solo para colocar sementes, utilizando
galhos de madeira bifurcados (em Y), com um dos braços mais cumpridos
que o outro que servia de punho para ser seguro e puxado. Posteriormente a
ponta do arado primitivo foi substituída ou reforçada com pedra, depois
bronze e mais tarde o ferro. O meio de tração era o humano e após, ocorreu
a substituição, pela força produzida pelos animais. (CORRÊA, 1996)
O emprego da tração animal trouxe aumento da capacidade de
trabalho do homem e o agricultor pode produzir para seus familiares e
especialmente para a população ocupada em outras atividades no meio
urbano.
O surgimento da maquina a vapor, propiciou o uso das maquinas na
agricultura e a fabricação dos primeiros tratores, que inicialmente eram mais
utilizados como maquinas estacionarias, como as citações encontradas na
literatura técnica em que dois tratores permaneciam estacionados nas
extremidades do terreno em com o deslocamento do arado feito por cabo de
aço. (CORRÊA, 1996).
Segundo Santos Filho e dos Santos (2001), a evolução dos tratores
ocorreu da seguinte maneira:
 1858: Trator a vapor para arar a terra;
 1889: Trator com combustão interna (Henry Ford – Fergusson);
 1911: Ocorreu a primeira mostra de tratores de Nebraska –
E.U.A.;
 1920: Surgiram dois tratores agrícolas: Massey Harris – Henri
Ford e Fergusson;
 1940: Surgiram tratores equipados com Tomada de Potencia
(TDP), Barra de Tração (BT) e sistema de 3 Pontos.

2. A mecanização no Brasil.
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No Brasil, Altir Corrêa (1996), comenta que o arado foi introduzido


no país por volta de 1870, com a vinda de agricultores norte-americanos
para São Paulo embora afirme que alguns autores citam o emprego de
arados rústicos trazidos pelos europeus.
Comenta também que o primeiro ciclo da moto mecanização
agrícola no país ocorreu antes da I Guerra Mundial, devido à falta de braços
para a lavoura com a importação de tratores de rodas de ferro. Depois da
Guerra, levas de imigrantes propiciaram mão de obra barata e fácil, mas a
mecanização persistiu nas culturas de arroz do Rio Grande do Sul e em
vários Estados com a exploração da cana-de-açúcar.
Após 1930, houve intensificação da mecanização agrícola motivada
pela instalação da indústria o que incentivou a migração do homem do
campo para a cidade e pela depressão do mercado do café. A partir desse
ano são empregados pneumáticos no rodado dos tratores.
De acordo com Silva e Nobrega (1954), em 1951 foram importados
5.835 tratores, estimando a frota do País em 36.000 tratores em 1953.
Com a instalação da industria de automóveis, foram criadas
condições para a implantação das montadoras de tratores, e como
preparatórios para escolha dos modelos a fabricar ocorreram dois eventos:
1º “Simpósio de Professores de Mecânica, Motores e Máquinas
Agrícolas das Escolas de Agronomia do Brasil”, realizada na ESALQ/USP,
Piracicaba, SP, de 26 a 31 de outubro de 1959; e:
2º “Simpósio sobre fabricação do trator e implemento agrícola no
Brasil”, ocorrido em São Paulo, SP, sob o patrocínio da Secretaria de
Agricultura, de 16 a 20 de novembro de 1959.

2.1. Instalação da industria

A industria nacional de tratores agrícolas foi instituída pelo Dec. Nº


47.743, de 22 de dezembro de 1959. Estabeleceram a classificação dos
tratores de rodas em três categorias:
Tratores leves, com 25 a 35 CV na barra de tração;
Tratores médios, com 36 a 45 CV na BT;
Tratores pesados, com mais de 45 CV.
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Foram selecionadas seis fábricas, duas para cada categoria:


Tratores leves: Massey-Ferguson do Brasil S.A. e Fendt do Brasil
S.A.;
Tratores médios: Ford Motor do Brasil S.A. e Valmet do Brasil S.A.;
Tratores Pesados: Companhia Brasileira de Tratores (CBT) e
Demisa, Deutz de Minas S.A.
Também foram autorizadas a funcionar duas fábricas de
motocultores: a Kubota-Tekko do Brasil que fabricou o cultivador
motorizado Tobatta; e Izeki-Mitsui-Máquinas Agrícolas, que posteriormente
passou a denominar-se Cia. Yanmar.
De 1960 a 1964, a produção de tratores subiu, a cada ano, porém
diminuiu em 1965. A maior produção , 1964 foi de 11.537 unidades não
atingindo a estimativa de demanda de mercado, que seria de 12.000 tratores
anuais, de 4 rodas.
Vários períodos de crise e euforia se sucederam influenciando o
mercado das máquinas agrícolas sendo que os dados históricos de produção
e empresas atualmente instaladas no País segundo a ANFAVEA (2007), as
que estão representados nas paginas seguintes.

2.2. Panorama atual da industria nacional de tratores


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III. Conceitos e termos utilizados em mecânica agrícola.

1. Maquinas, Implementos e Ferramentas.

Segundo Mialhe (1974), os termos máquina, implemento e


ferramentas, embora sejam utilizados como sinônimos, do ponto de vista da
Mecânica Agrícola tem significados diferentes e aplicação especial a saber:
Maquina – Conjunto de órgãos, constrangidos em seus movimentos
por obstáculos fixos e de resistencia suficiente para transmitir o efeito das
forças e transformar energia. Assim, do ponto de vista da Mecânica
Agrícola, tanto o motor do trator como um arado de discos são considerados
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máquinas; no primeiro há transformação de energia e, no segundo, apenas


transmissão do efeito das forças.
Implemento – Conjunto constrangido de órgãos que não apresentam
movimentos relativos nem tem capacidade para transformar energia; seu
único movimento é o de deslocamento, normalmente imprimido por uma
máquina tratora. Cultivadores, arados de aivecas, subsoladores são alguns
exemplos.
Ferramentas – Implemento em sua forma mais simples, constituindo
a parte ativa de outro implemento ou máquina (ferramenta ativa ou órgão
ativo) e, como é geralmente designada na prática, apetrechos manuais como
a enxada, foice e outros.
Também Mialhe (1996), afirma que “maquinas para semeadura são
aquelas destinadas a dosar sementes e lança-las ao solo, de acordo com um
determinado padrão de distribuição. O termo plantadora é utilizado para
máquinas que fazem uso de órgãos de reprodução vegetativos (cana,
mandioca, capim, etc) e transplantadoras as plantadoras de mudas”.

2. Considerações sobre o manejo correto do solo.

Do manejo correto do solo vai depender uma colheita realmente


satisfatória, e da seleção do melhor método para preparar este solo e da
escolha do melhor sistema de plantio, vai depender a produtividade da
lavoura, e isto depende de vários fatores.
Não existe um sistema melhor, e sim, um mais adequado às
variações que ocorrem em uma área agrícola, principalmente o tipo de solo,
o sistema de cultivo adotado, o implemento, a profundidade da operação, a
umidade do solo adequada e as condições de fertilidade.
De forma simplista podemos classificar os sistemas de manejo de
solo em:
 Intensivo, “convencional”, aplicando arados e grades;
 Mínimo, ou “reduzido”, aquele em que se utiliza basicamente
equipamento de hastes (escarificadores, cinzéis, subsoladores), também
denominado preparo vertical;
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 Plantio direto, envolvendo normalmente apenas a semeadora e


estando ou não apoiado no auxilio de segadoras, rolos-faca ou aplicadores
de agroquímicos.
Estes dois últimos sistemas são enquadrados como
conservacionistas.
No Brasil, as principais classes de solos com aptidão agrícola são os
latossolos, os argissolos, os cambissolos , os neossolos litólicos e
quartzarênicos que são solos com características de manejo diferentes das
que existem no hemisfério norte onde precisam ser revolvidos para que o
calor do sol possa aquecê-los depois do inverno, diferentemente dos solos
tropicais que na realidade não foram feitos para serem revolvidos.
Os pesquisadores, Volpato,C.E., Salvador, N. & Barbosa, J.B.
(2004), alertam para o fato de que uma área para ser considerada de plantio
direto deve ter mais de 85% de sua superfície coberta com palha e que é
preferível fazer o plantio convencional do que plantar direto em local sem a
quantidade e distribuição adequada de palha.
Sugerem também que:
 Os solos do tipo latossolicos devem ser manejados de forma a
manter o máximo possível de restos de cultura em sua superfície para evitar
o desaparecimento acelerado da matéria orgânica incorporada ao solo.
 Solos do tipo argissolos devem ser preparados de forma a
romper possíveis camadas compactadas superficiais. O cultivo mínimo
através da intervenção de escarificadores é o mais recomendado nesses
casos.
 Já para os solos do tipo Neossolos Quartzarenicos, o manejo
adequado é o plantio direto ou, na pior das hipóteses, o preparo mínimo,
onde ocorre um menor trafego de máquinas e manutenção da matéria
orgânica do solo.
 Cambissolos e neossolos litolicos devem ser manejados de
forma que as operações sejam as mais conservacionistas possíveis, sendo o
plantio direto o mais recomendado ou aconselhável.

3. Fatores a considerar sobre a operação de plantio.


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A finalidade da operação de plantio e a de que possamos obter uma


boa germinação, desenvolvimento satisfatório da cultura instalada e que a
produção seja compensadora.
A semeadora deve abrir um sulco na profundidade recomendada,
depositar a semente, enterrá-la e comprimir o solo ao redor da mesma. Ao
mesmo tempo deve colocar o adubo na quantidade correta e ao lado e
abaixo da semente.
Basicamente, a semeadura pode ser realizada em sulcos, no plano ou
em camalhões.(BALASTREIRE, L.A, 1987)
A semeadura em sulcos coloca a semente bastante profunda em solo
úmido e as plantas novas são protegidas pelos sulcos durante condições de
clima adverso, principalmente ventos.
No caso de culturas em fileiras, as ervas daninhas nas linhas podem
ser cobertas e efetivamente controladas movendo-se o solo para o sulco à
medida que a planta cresce. Esta pratica e comumente utilizada na cultura
do milho.
A semeadura no plano é utilizada quando as condições de umidade
natural são favoráveis.
A semeadura em camalhões é comumente utilizada em áreas
irrigadas ou em regiões de alta pluviosidade, para melhorar a drenagem
superficial.
O terreno deve ser mantido limpo, para evitar a concorrência de
ervas daninhas.

IV. Discussão sobre sistemas de manejo físico dos solos.

1. Introdução.

No inicio da agricultura brasileira, e ainda hoje, retirada a mata para


a produção, o solo fica exposto à ação do sol, ventos e chuvas intensas,
fatores que trazem como conseqüência a degradação em diversos níveis,
dependendo da intensidade dos fatores e das características do solo.
Com a chegada de agricultores, em sua maioria vindos do hemisfério
norte, acostumados a um solo que durante o inverno se cobre de gelo, e
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necessita posteriormente de revolvimento para facilitar a penetração dos


raios solares para secá-lo e ativar a sua biota. Esses imigrantes adotaram
aqui o mesmo sistema de manejo utilizado por eles em seus paises de
origem. Em muitos casos, inclusive, faziam a operação “morro abaixo”, o
que facilitava o trabalho dos animais de tração, e quando passaram a
mecanizar as operações, continuaram a empregar o mesmo sistema.
Este sistema tradicional, (ou intensivo), que faz uso de aração, uma,
duas ou mais gradagens, antecedendo o plantio e que era conhecido como
preparo da “cama das sementes”, trouxe entre outros prejuízos às estruturas
físicas, químicas e biológicas do solo, a erosão, efeito mais visível e
impressionante da degradação provocada.
Na Região Sul, principalmente, os temporais de primavera e começo
de verão encontravam grandes extensões de áreas lavradas e gradeadas
exaustivamente para incorporação de herbicidas residuais e, nesses termos,
não haviam terraços que resistissem ao volume das águas e onde
predominavam os solos argilosos, as águas dos rios e grandes lagos foram se
tornando avermelhadas pelo acumulo de sedimentos provenientes das
lavouras preparadas.
No Brasil, o grande avanço sobre matas e campos nativos ocorreu a
partir do inicio da década de 70, com desenvolvimento da cultura da soja.
A política agrícola oficial, que subdisiava juros dos empréstimos e
bancava a compra de alguns itens produzidos, como trigo, mascarava os
prejuízos causados pelas perdas de solo, fertilizantes, pesticidas e sementes.

2. Considerações sobre os sistemas.

Há tempos se vem procurando formas de controle de erosão,


escolhendo técnicas que diminuam a velocidade das enxurradas e aumente a
infiltração de água no solo. A decisão quanto à escolha do método, ou
combinação de tecnologias, depende do tipo de solo, do manejo da cultura,
das condições ambientais e da situação do produtor. Os métodos que podem
vir a ajudar a minimizar esse problema seriam o cultivo mínimo, e o
plantio direto.
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Quando se relacionam os sistemas de cultivo e observa-se com mais


atenção as propriedades físicas do solo, pode-se dizer que o plantio direto
em contraste com os sistemas tradicionais, tem como objetivo controlar a
erosão, evitando o desgaste ou a degradação do solo. No plantio direto a
semeadura é feita sobre a palha deixada pelas culturas anteriores e pelas
ervas daninhas, define-se então como sendo a semeadura com revolvimento
do solo apenas no sulco ou cova onde se deposita a semente e o fertilizante,
permanecendo o restante da superfície sem mobilização, contrastando-se
com outros sistemas em que a mobilização é feita em toda a área.
As principais diferenças entre o sistema de plantio direto e os
preparos convencionais, estão na mobilização física do solo por ocasião do
preparo e manejo do material orgânico dos restos culturais e das ervas
daninhas. O sistema de plantio direto, elimina as operações de aração,
gradagens e outros métodos convencionais de preparo do solo, e as ervas
daninhas são controladas com herbicidas aplicados antes e/ou após a
semeadura. O sistema convencional, utilizado na grande maioria dos solos
agrícolas brasileiros destinados às culturas anuais, utiliza-se de arados de
discos ou de aivecas, seguidos de gradagens ou uso de grades aradoras
pesadas em substituição ao arado, mas não dispensando as gradagens para
destorroamento e nivelamento do solo.
Dessa maneira, o plantio direto devido a pouca mobilização do solo
e a grande quantidade de resíduos deixados na superfície do solo,
proporciona uma diminuição significativa das perdas de terra por erosão. E
quanto ao preparo convencional, o material orgânico da superfície é
praticamente todo incorporado e a terra na superfície fica desagregada e
solta.
Estudos para verificar a eficiência do plantio direto no controle de
erosão, foram feitos por vários autores, Lombardi Neto (1990) encontrou
uma eficiência de 85% na redução das perdas de solo em plantio direto
comparado com o convencional, em latossolo roxo (quadro 1).
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Quadro 1 - Perdas de solo e água por erosão em cultura de milho sob diferentes sistemas de
preparo em podzólico vermelho-amarelo textura arenosa/média (PV) e latossolo roxo (LR),
com declive de 10,8% e 6,5%, respectivamente.
LR PV
Tratamentos
Solo t/ha Água (mm) Solo t/ha Água (mm)
Plantio Direto 1,0 15,2 - -
Arado escarificador 3,3 30,4 22,5 121,1
Grade pesada 4,4 42,2 56,2 222,6
Arado de discos 6,5 58,1 49,8 211,6
Fonte: LOMBARDI NETO (1990)

Benatti et al. (1977), mostraram uma eficiência de 67% no controle


das perdas de solo e apenas 34% nas perdas de água, comparando com o
convencional (quadro 2).

Quadro 2. Perdas por erosão de solo e água sob plantio direto e arado de discos na cultura de
milho em podzólico vemelho-amarelo textura arenosa/média.
Solo Água
Tratamentos
t/ha % Mm %
Plantio Direto 13,4 33 98,5 66
Arado de discos 40,9 100 143,7 100
Fonte: Adaptado de BENATTI et al. (1977)

Quando se pensa em compactação e densidade do solo, pode-se


observar que em áreas sob preparo convencional, camadas subsuperficiais
compactadas podem ser formadas gradativamente pelas operações de
preparo feitas sempre na mesma profundidade, pois regulando o implemento
sempre para a mesma profundidade, esta camada aos poucos, vai ficando
densa e assim a infiltração de água no solo e a penetração das raízes vão
sendo dificultadas, reduzindo assim, o desenvolvimento da planta, seja por
falta ou excesso de água e/ou por deficiência da nutrição.
No plantio direto, como não se tem mobilização da superfície, os
valores de densidade do solo são mais altos, embora sejam mais
homogêneos ao longo do perfil. Essa maior densidade do solo, nas camadas
superficiais descritas no plantio direto, não implica em menor crescimento
radicular. Já o sistema convencional apresenta valores baixo na
profundidade de preparo, mas logo abaixo desta os valores são elevados.
Segundo Bacchi (1976), o perfil mais homogêneo parece se menos
prejudicial do que a descontinuidade observada no convencional. No quadro
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3, pode-se observar um melhor crescimento pela maior resistência ao


penetrômetro e densidade do solo. No plantio convencional, observa-se que
abaixo dos 20 cm houve um impedimento no desenvolvimento radicular do
milho.
Quadro 4. Densidade de raiz de milho, densidade do solo e
resistência ao penetrômetro em latossolo roxo sob plantio direto (PD),
preparo com escarificador (ES) e preparo convencional (PC).
Profundidade Raiz Densidade Resistencia
Cm PD ES PC PD ES PC PD ES PC
0 – 10 2,56 2,37 1,51 1,26 1,17 1,18 2,05 1,22 1,26
10 – 20 1,27 1,25 1,46 1,31 1,23 1,33 3,68 1,60 3,65
20 – 30 0,38 0,40 0,20 1,31 1,28 1,32 3,13 3,49 4,25
30 – 40 0,31 0,27 0,10 1,29 1,30 1,33 2,68 2,81 3,73
40 – 50 0,24 0,15 0,15 1,20 1,21 1,21 2,04 2,24 2,49
50 – 60 0,13 0,12 0,15 1,19 1,06 1,01 1,40 1,68 1,71
Fonte: CASTRO (1991)

Outro fator que auxilia no desenvolvimento radicular no plantio


direto é a maior umidade do solo sob estes sistemas e que reduz a resistência
à penetração radicular. Valores de densidade do solo maior e
macroporosidade menor em solos sob plantio direto, levam a pensar que a
infiltração neste sistema de preparo deva ser menor que no preparo
convencional, onde a superfície normalmente é menos compacta. Mas num
processo de precipitação pluviométrica, variáveis como resistência do solo à
desagregação pelo impacto das gotas e a cobertura com restos vegetais,
passam a desempenhar papel importante sobre a quantidade de água que
penetra no solo por unidade de tempo. Na figura 1, observa-se as curvas de
infiltração obtidas com chuva simulada, em que a infiltração básica no
plantio direto foi 52 mm/h (100%), no preparo com arado escarificador foi
35 mm/h (67%) e somente 29 mm/h (56%) no preparo convencional.
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Figura 1: Curvas de infiltração com chuva simulada em latossolo roxo sob preparo
convencional, preparo com escarificador e plantio direto. (Fonte: ARZENO, 1990).

Observando a figura, fica evidente que a taxa de infiltração decresce


em proporção ao grau de mobilização e cobertura do solo, e que a cobertura
morta, por proteger o solo contra a desagregação e selamento superficial,
atua diretamente na capacidade de infiltração.
Em relação a disponibilidade da água, sabe-se que o sistema de
preparo do solo é uma das formas pela qual podemos aumentar ou diminuir
tanto a erosão como o armazenamento de água na zona radicular. A figura 2,
mostra que a capacidade de retenção de água no plantio direto é sempre
superior. A capacidade de campo está em torno de 0,15 atm pra este tipo de
solo, com isso observa-se que o plantio direto apresenta 35% de umidade,
enquanto os sistemas com escarificdor e convencional apresentam 33% e
32%, respectivamente.
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Figura 2: Curva de retenção de água em latossolo roxo a 20 cm de profundidade, após cinco


anos de uso.(fonte: ARZENO, 1990).

A maior capacidade de retenção de água, aliada a menor perda


de água por erosão e evaporação, fazem com que os sistemas de plantio
direto e preparo reduzido do solo apresentem mais água disponível às
plantas que o sistema convencional. No inverno é que as diferenças entre
sistemas de preparo se acentuam, devido às baixas precipitações neste
período. A figura 3, mostra diferenças entre plantio direto e convencional de
até 10% na umidade volumétrica em períodos de baixa precipitação.

Figura 3: Curvas de umidade (%) volume) em latossolo roxo durante o ciclo da aveia preta
sob três sistemas de preparo do solo na profundidade 0 – 20cm. (Fonte: (ARZENO, 1990).
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Segundo Muzilli, (1981,1991), o manejo do solo no SPD (Sistema de


Plantio Direto), implica na interação de práticas biológicas-culturais com
práticas mecânico-químicas, pressupondo os seguintes requisitos básicos:
 Condicionamento e adequação prévia do terreno, quando
necessário, para superar possíveis problemas de natureza física
(compactação do solo, escorrimento de enxurradas, etc.) ou químicas
(correção de acidez, adequação da fertilidade, etc.), antecedendo a
implantação dosistema.
 Revolvimento mínimo do solo, apenas nos sulcos ou covas de
smeadura.
 Uso diversificado da terra pela rotação de culturas comerciais
com plantas de cobertura (adubos verdes) ou pela integração lavoura-
pecuária, para formar e manter a cobertura vegetal (viva ou morta) sobre a
superfície, isto é, sem a sua destruição pela queima ou pela incorporação ao
solo, além de promover a reciclagem de nutrientes ao longo do perfil
cultural do solo.
 Adoção de métodos integrados para controle de plantas
invasoras, pragas e doenças, onde o efeito supressivo provocado pelos restos
vegetais mantidos em superfície e pela diversificação de culturas irá
complementar ou, até mesmo, substituir processos de controle químico.

Falleiros et al (2003), comparou os diferentes sistemas de preparo e


concluiu que provocam alterações nas propriedades químicas, físicas e
biológicas do solo, podendo requerer modificações no manejo e nas
recomendações de adubação e calagem. Este trabalho avaliou os efeitos dos
sistemas de preparo sobre as propriedades químicas e físicas do solo, em um
experimento instalado em 1985. A área experimental vem sendo cultivada
com culturas anuais em seis sistemas de preparo: semeadura direta (SD),
arado de discos (AD), arado de aivecas (AA), grade pesada (GP), grade
pesada + arado de discos (GP + AD) e grade pesada + arado de aivecas
(GP + AA). O delineamento utilizado foi de blocos completos casualizados,
com quatro repetições. As amostragens foram realizadas após a cultura do
milho (safra 2001/02), nas profundidades de 0-5, 5-10 e 10-20 cm. As
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amostras de solo foram submetidas às análises químicas e físicas e as


médias comparadas pelo teste de Tukey. Os sistemas de preparo influíram
nas propriedades químicas e físicas do solo, com a maior parte das
diferenças ocorrendo entre a SD e os demais sistemas. A densidade do solo
foi superior na SD, em relação à dos demais tratamentos. Houve incremento
nos valores de MO, pH, CTC efetiva, Ca2+, Mg2+, K e P, na camada
superficial da SD, em relação às demais profundidades. A semeadura direta
apresentou valores de Al3+ inferiores aos dos demais tratamentos, na
camada de 0-5 cm de profundidade, e superiores aos dos tratamentos AD,
GP e GP + AA, na camada de 10-20 cm. Os tratamentos AD, GP, GP + AD
e GP + AA apresentaram valores de K superiores aos dos tratamentos SD e
AA, na camada de 0-5 cm de profundidade. O tratamento SD apresentou
teores de P disponível superiores aos dos demais tratamentos, na camada de
0-5 cm de profundidade e na média das três profundidades.

Araujo et al (2004), estudou as alterações na qualidade física de um


Latossolo Vermelho distroférrico provocadas pela escarificação, após 13
anos de semeadura direta. O experimento constituiu-se de dois tratamentos:
escarificação do solo a 0,30 m de profundidade (SDE) e testemunha
mantendo a semeadura direta (SD). Amostras de solo, com estrutura não
deformada, foram coletadas nas profundidades de 0-0,15 m e 0,15-0,30 m, a
partir das quais foram determinados a curva de retenção de água, a curva de
resistência do solo à penetração, a densidade do solo e o "Intervalo Ótimo
de Tensão da Água no Solo" (IOP). Os resultados mostraram que, na
profundidade de 0-0,15 m, a escarificação promoveu modificações na
porosidade do solo, mantendo condições adequadas de aeração em tensões
matriciais menores do que 0,01 MPa. Por outro lado, no solo escarificado,
constatou-se a maior ocorrência de limitações pela resistência do solo à
penetração em tensões menores do que 1,5 MPa. Para a camada de 0,15-
0,30 m, no tratamento SDE, a resistência do solo à penetração foi o limite
superior do IOP. Os resultados deste estudo sugerem que, neste solo e sob
esta condição de manejo, não é necessária a escarificação.
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Já Costa et al (2006) avaliou a qualidade de um Latossolo Vermelho


submetido a sistemas de cultivo com preparo convencional e plantio direto.
Foram estudadas duas áreas experimentais, localizadas na Embrapa
Cerrados, em Planaltina, DF, com oito e dez anos de cultivo. Foram
coletadas amostras de solo, em diversas profundidades, nas parcelas
experimentais e em área de cerrado nativo. Os seguintes atributos foram
avaliados: densidade do solo, porosidade total, capacidade de água
disponível, grau de floculação, resistência do solo à penetração, teor de
matéria orgânica, capacidade de troca catiônica, fósforo remanescente,
carbono da biomassa microbiana e respiração basal. Os dados obtidos foram
comparados a valores referenciais quanto à qualidade do solo, mediante
modelagem gráfica. Observou-se que a qualidade do solo, em ambos os
sistemas de cultivo, é similar quanto aos atributos físicos; os teores de
matéria orgânica e fósforo remanescente também são semelhantes, mas a
capacidade de troca catiônica é mais alta no solo sob plantio direto.
Em relação aos atributos biológicos, o solo sob plantio direto apresenta
atividade biológica mais elevada. A qualidade do solo em ambos os
sistemas é similar, em relação aos atributos avaliados.

Cardoso (2007), afirma que “Cumpre ter a coragem de mudar os


conceitos, de renovar o inconsciente, de reformular as apostilas, de ousar
eliminar a imagem da aração anual da terra”. Estamos em uma nova fase da
agricultura tropical, em um país privilegiado onde não há preocupação com
o aquecimento rápido de um solo ainda gelado pelo inverno.
Estamos ainda aprendendo essa nova agricultura em ambiente de
solo imperturbado recoberto de resíduos. Há muito que pesquisar ainda para
gerar tecnologias adequadas e para conhecer os fenômenos que regulam
essas tecnologias. Vamos definir regras para renovar satisfatoriamente a
manta em contínua decomposição.Vamos investigar as condições ótimas
para as bactérias e fungos fixadores de N ainda que não simbióticos. Vamos
determinar as plantas de cobertura que melhor reestruturam o solo. Vamos
pesquisar espécies, como as Brachiarias, que deprimem fungos e nematóides
prejudiciais às lavouras. Vamos inventar nova amostragem de terra que
identifique os sítios de alto P”.
20

V. Maquinas no sistema de plantio direto.

A importância da cobertura morta sobre o solo é incontestável na


melhoria da qualidade do SPD. A cobertura vegetal não necessita,
obrigatoriamente, ser manejada, mecânica ou quimicamente. Ela não deve
prejudicar as culturas a serem implantadas e proteger a superfície do terreno.
Porém, na maioria dos casos é necessário que as plantas de cobertura, a
resteva das culturas comerciais e as ervas daninhas sejam manejadas
mecânica ou quimicamente (SIQUEIRA E CASÃO JUNIOR, 2004)
Cada produtor deve considerar as suas necessidades sobre o manejo
escolhendo o método, o momento e a intensidade do manejo de acordo com
as características das plantas de cobertura. A decisão entre acamar ou cortar
a palha, associar ou não com herbicidas, o clima da região, entre outros
fatores devem ser analisados.

3. Principais maquinas utilizadas.

Neste capitulo, trataremos somente das maquinas utilizadas no


sistema até a fase de implantação da cultura.

3.1. Roçadoras

Para as regiões quentes, onde não se deseja que a palha seja muito
triturada, as roçadoras são boa opção, pois os resíduos das plantas são
fragmentadas em pedaços de comprimentos variáveis e superiores a 20 cm
(ARAUJO et al, 2001). Recomenda-se trabalhar em velocidades que variam
de 2 a 4 km*h-1.
21

Roçadora da marca Jumil

O problema que se observa é o enleiramento que provocam,


acumulando material fragmentado na lateral esquerda da máquina ou no seu
centro, podendo acarretar embuchamento durante a semeadura.
Como alternativa é possível trabalhar com a roçadora a uma altura de
15 cm do solo para conseguir melhor uniformidade de distribuição de palha
na superfície do terreno.

3.2. Rolo-faca

O rolo-faca é constituído por um cilindro e lâminas com afiação em


bisel, posicionadas verticalmente na superfície deste, de forma a impactar
sobre a vegetação durante seu movimento rotativo. Neste impacto, a energia
cinética das facas pode cortar ou esmagar a vegetação, segundo Casão
Junior et al (1989).
22

Fonte: Internet

Quanto maior o diametro do rolo, a altura das laminas e a distância


entre elas, maior será a energia cinética. São na maioria das vezes,
preenchidos com água. Pode-se aumentar ou diminuir sua densidade e
proporcionalmente a energia cinética, mas deve-se tomar cuidado pois
aumentando a densidade é possível que as facas se aprofundem muito no
solo prejudicando a eficiência pois o cilindro pode encostar no terreno.
Para rolo-faca tracionado por trator recomenda-se 60 a 70 cm de
diâmetro do cilindro, com 10 cm de altura. Casão Junior et al (1989), sugere
que o tambor seja sub dividido em três câmaras, permitindo variar o volume
de água a ser adicionada. A velocidade de trabalho de ser entre 3 a 6 km*h-1.
A vantagem do seu emprego é o perfeito acamamento que provoca
na vegetação, pedaços grandes e não triturados, prestando-se, portanto a
trabalhos em regiões quentes onde a decomposição da palha é rápida.

3.3. Triturador de palhas vegetais.

É uma máquina montada no engate de três pontos do trator, com boa


mobilidade e versatilidade. Há um grande número de lâminas articuladas em
23

forma de “L”, no eixo devendo-se quando for necessária a troca das facas
faze-lo de forma simétrica para evitar desbalancear o conjunto.
Geralmente o trabalho é de boa qualidade com a vegetação picada
em pedaços pequenos e relativamente uniformes o que promove uma rápida
decomposição nicrobiana no material. Assim, salvo exceções, não é
recomendado para regiões de clima quente e úmido. Existe também a
possibilidade do material triturado ser transportado com certa facilidade
pelo vento e pela água.
A velocidade recomendada de trabalho deve variar de 2 a 4 km*h-1,
dependendo do volume de massa vegetal a ser triturada.

Fonte: Galucho (internet)

3.4. Grade niveladora de discos

As grades niveladoras podem ser utilizadas com restrições no


manejo de vegetações. O que se recomenda é que trabalhem com baixo
travamento, ou seja, que o ângulo de corte de cada de disco em relação à
direção de deslocamento não ultrapasse 1000, desta forma possibilitando o
corte da vegetação em pedaços maiores que 20 cm de comprimento e
minimizando a mobilização do solo.
24

Fonte: galucho (internet)

Sua grande vantagem é o rendimento operacional, podendo trabalhar


a velocidades que variam de 4 a 8 km*h-1. Velocidades superiores podem
tornar o efeito de corte não efetivo.
As grades niveladoras não são tão eficazes como o rolo-faca, mas em
algumas situações podem ser úteis, dependendo do material, de seu estado,
da quantidade e das regulagens da grade.

3.5. Semeadoras

Na pratica existem dois tipos de semeadoras para o PD quanto ao


tipo de distribuição de sementes: as de precisão e as de fluxo continuo.
(CASÃO JUNIOR et al., 2006). As semeadoras de precisão, chamadas
popularmente de “plantadeiras”, caracterizam-se por distribuir sementes
espaçadas a distancias supostamente homogêneas. Trabalham com culturas
de sementes graúdas como milho, soja, feijão, mucuna, algodão, mas
também semeiam sementes miúdas como as de sorgo, desde que espaçadas
em média a mais de 4 cm entre elas no sulco.
25

As de fluxo continuo, popularmente chamadas “semeadeiras”,


distribuem grandes quantidades de sementes no sulco de semeadura, com
distancia inferior a 4 cm entre elas. Caracterizam-se por distribuir sementes
miúdas, como trigo, aveia centeio, nabo milheto, etc., mas tambem podem
distribuir sementes maiores como as de soja, ervilha, tremoço, entre outras,
sem precisão.
Existem no mercado as multissemeadoras, que semeiam em fluxo
continuo ou em precisão, mediante a transformação de seus dosadores e
componentes em contato com o solo.
26

Alguns fatores que afetam a semeadura:

a) Dosagem de sementes:

As recomendações agronômicas, estão entre 3 a 25 sementes por


metro, como é o caso do milho semeado em espaçamentos estreitos (45 cm),
a soja em densidades elevadas, e as sementes distribuídas em precisão
variam em formato, uniformidade, rugosidade e dimensão.
Em uma mesma espécie e cultivar ocorrem desuniformidade das
sementes, alem de que elas podem sofrer tratamentos como, inoculantes,
inseticidas e fungicidas, que alteram seu coeficiente de atrito e dificultam o
seu alojamento nos alvéolos dos dosadores. O uso de grafite como
lubrificante seco atenua o problema.

Abaixo alguns exemplos de discos alveolados utilizados em


semeadoras de precisão com sistema de pressão negativa (vácuo):
27

b) Profundidade das sementes e fertilizantes:

A profundidade em que as sementes e os fertilizantes são


depositados no solo deve ser adequada, uniforme e na dosagem correta. Em
PD, salvo exceção, o fertilizante e as sementes são depositados no mesmo
sulco, preferencialmente espaçados em 5 cm um do outro. Isso se deve ao
fato da semente funcionar como uma bomba de água, absorvendo-a do solo,
através de uma diferença de potencial. Elementos químicos como o
nitrogênio e o potássio são higroscópicos e podem prejudicar e ate impedir a
absorção da água pelas sementes.
28

Sementes de dicotiledôneas como o feijão e a soja, ao emergirem


levam seus cotilédones para fora do solo, sendo sensíveis a semeaduras
profundas, principalmente se houver impedimentos sobre elas como torrões,
pedras e crostas superficiais.
As gramíneas são monocotiledôneas, deixando as sementes no solo,
elevando somente o mesocótilo, quando no interior do solo e o coleóptilo
para fora da superfície.
As sementes miúdas como o sorgo, por terem poucas reservas
também são sensíveis.
Recomendações agronômicas para a semeadura por maquinas de
precisão indicam profundidades entre 3 a 6 cm com ideais, levando-se em
conta os parâmetros de temperatura e umidade, que afetam sensivelmente a
velocidade de germinação.
A norma 04:015.06-004 da ABNT ( Associação Brasileira de
Normas Técnicas 1994), considerando o espaçamento de sementes na linha
de 10 cm, determina como aceitável ou normal que as sementes distanciem-
se de 5 a 15 cm. Inferiores a 5 cm são consideradas duplas e acima de 15
cm, ocorreu uma falha.

c) Dosagem de fertilizantes.

No Brasil o fertilizante usado é sólido e na maioria das vezes


granulado. Apresentam varias dificuldades como: grande higroscopicidade,
absorvendo facilmente água do ar e empelotando com o tempo, podendo
obstruir os dosadores e ate danifica-los; e também seu efeito corrosivo.
Existem vários tipos de dosadores de fertilizantes no mercado e tem
como função, capturar o adubo, desestrutura-lo, conduzi-lo em doses
desejadas e libera-lo na tubulação de descarga.
Dosadores mais utilizados:

 De aletas rotativas e rotores dentados, conduzem o adubo a uma


comporta com abertura variável, liberando-o. Nesse sistema de dosagem, a
vazão é regulada pela mudança de relação de transmissão e abertura ou
fechamento de comporta basculante.
29

 Rosca sem fim, conhecidos por quebrarem com facilidade as


“pelotas” de adubo. Liberam o fertilizante em pulsos, havendo certa
desuniformidade ao longo da linha. É encontrado com roscas espaçadas em
1” , e em 2” chamadas de passo 1 e passo 2 respectivamente.
 Dosador Fertisystem, apresentado abaixo, caracteriza-se por
apresentar uma comporta semelhante a um vertedouro minimizando o efeito
dos pulsos da rosca sem fim.

O fertilizante é acionado pelo impulsionador (sem-fim) autolimpante


e flutuante, conduzido até uma câmara de represamento, até que o mesmo
transborde em quantidades volumétricas uniformes e homogêneas pelo
regulador para o bocal de descarga e deste até o solo.

Saindo do dosador o fertilizante cai nas mangueiras sendo os


sistemas mais utilizados o tubo telescópico e as mangueiras sanfonadas de
borracha. São conectadas ao tubo final de descarga, vinculado a hastes
sulcadoras ou discos abridores do sulco.

d) Rompedores de solo.

Esses componentes são os que realizam o primeiro contato com o


solo, cortando a palha e abrindo um sulco, sobre o qual os outros
equipamentos trabalharão. Os discos de corte mais utilizados são os lisos,
com diâmetros entre 15” e 20”.
As primeiras máquinas de plantio direto em nosso meio utilizaram a
opção enxada rotativa (strip rotary tiller), tanto para o corte (ou
afastamento) do resíduo e como órgão sulcador (“rotacaster”). Hoje as
30

opções mais empregadas são as segas circulares ou discos de corte liso


(smooth coulter), recortado (notched coulter) e o corrugado (offset fluted
coulter), bem como o disco liso com bandas laterais limitadoras de
profundidade (coulter with depth bands). (GAMERO et al 1999).
Ainda existem os discos estriados e trabalhos de pesquisa com
discos dentados. (CASÃO JUNIOR 2006).
Recomenda-se semear com solo na consistência friável, mas para o
corte da palha, a condição de solo seco é mais favorável, porém, devido ao
curto período disponível para semeadura o produtor é obrigado a semear
com o solo com certa plasticidade, o que, em solos argilosos e com palha há
aderência nos disco, podendo ocorrer embuchamento.
Os discos de corte são projetados para cortar a palha, não
ultrapassando a profundidade de 6 cm no terreno, quanto mais fundo maior
a mobilização indesejável do solo. O desalinhamento dos discos de corte em
zigzag ajuda a evitar embuchamentos.
Existem alternativas conjugadas de corte de palha e abertura de
sulco, como são os discos simples com roda de controle de profundidade,
discos duplos desencontrados e conjunto rompedor composto de disco de
corte e haste semeadora.

Exemplos de discos são apresentados abaixo:

Disco Liso Disco Estriado

Disco ondulado Disco Corrugado


31

Detalhe de um sistema de disco de corte em desenvolvimento por


Almeida, R. A. & J. G. Silva. – Regulagem do disco de corte para o plantio
direto.

Detalhe do encaixe do disco de corte na roda limitadora de profundidade.

No exato momento do corte, a palha se encontraria presa pelos dois


lados da roda dupla limitadora de profundidade, o que facilitaria seu corte,
evitando que fosse dobrada e enterrada no sulco. O disco penetraria mais no
solo propiciando melhor desempenho dos elementos sulcadores.

e) Sulcadores.

O uso dos discos como abridores de sulco mobilizam menos o solo,


matem a palhada sobre o terreno, exige menos potencia do trator e provoca
menos embuchamento. CASÃO JUNIOR 2006.
32
33

No entanto, os discos não se aprofundam adequadamente em solos


argilosos e com adensamento superficial, podenedo depositar sementes
junto aos adubos, prejudicando a germinação.
Existem alternativas como o uso de disco de corte com facão
guilhotina e também a possibilidade de trocar os discos duplos pela haste
sulcadora.
Casão Junior (2001) mostrou em estudos realizados em municipios
lindeiros a represa de Itaipu, que a semeadura da soja em solos argilosos
com utilização de hastes sulcadoras teve emergência media de 64% e com
disocs duplos 48%, após um período sem chuvas na região.
Recomenda-se o uso de limitadores de profundidade quando se fizer
uso de haste sulcadoras.

f) Aterradoras e compactadoras.
34

Após o trabalho dos rompedores do solo, a semente depositada no


interior dos sulcos, devem ser recobertas com solo e palha, em intimo
contato com as partículas do solo para que absorvam água com facilidade,
sem ocorrência de bolsões de ar e crostas na superfície do solo.
As melhores alternativas, segundo Casão Junior (2006) tem sido os
discos aterradores e as rodas aterradoras de formato cônico e inclinadas a
200 e 250 em relação à direção de deslocamento da máquina.
Após o aterramento a necessidade de compactação do solo sobre as
sementes para que estas absorvam água com mais facilidade. As rodas
compactadoras são as responsáveis por esta tarefa, existindo vários modelos
no mercado.
As rodas em “V”, em curvas podem deslocar-se da linha de
semeadura, compactando na posição incorreta. Rodas cônicas revestidas
com borracha lisa podem, em solos úmidos e sem cobertura com palha,
provocar um selamento superficial.
Uma boa alternativa são as rodas cônicas revestidas de borracha com
um sulco interno para não compactar as sementes.

VI. Aplicações especiais do SPD

 PD ORGANICO

Fazer plantio direto sem o uso de herbicidas é um dos grandes


desafios da atualidade
para a pesquisa, assistência técnica e agricultores. Uma das
principais críticas de quem defende o plantio direto é a de que os
agricultores orgânicos costumam revolver demasiadamente o solo. Nesse
trabalho de pesquisa com produtores orgânicos, Darolt, (2000) verificou que
ainda é grande o uso de implementos como a rotativa que movimentam
excessivamente o solo, o que não está totalmente de acordo com os
princípios orgânicos.
De outro lado, os agricultores orgânicos criticam os usuários do
sistema plantio direto pelo uso exagerado de herbicidas, a grande
35

dependência de empresas químicas, a possibilidade de contaminação das


fontes de água com agroquímicos e o possível uso de sementes transgênicas.
Em verdade, segundo o autor, a melhor saída para atender os
preceitos da sustentabilidade seria a prática do plantio direto seguindo os
princípios orgânicos. Muitos agricultores, que têm trabalhado com plantio
direto no sentido de reduzir a utilização de agroquímicos, já se aproximam -
em certa medida - do ideário da agricultura orgânica. Para se tornarem
efetivamente orgânicos será necessário que a unidade de produção passe por
um período de conversão.
O processo de mudança do manejo convencional para o orgânico é
conhecido como conversão. Segundo as normas brasileiras, para que um
produto receba a denominação de orgânico, deverá ser proveniente de um
sistema onde tenham sido aplicados os princípios estabelecidos pelas
normas orgânicas por um período variável de acordo com a utilização
anterior da unidade de produção e a situação ecológica atual, mediante as
análises e avaliações das respectivas instituições certificadoras.
Entretanto, para evitar arbitrariedades e distorções, as normas
brasileiras estipulam um período mínimo para a produção vegetal de
culturas anuais, como olerícolas e cereais por exemplo, de 12 meses sob
manejo orgânico. No caso de culturas perenes, a propriedade deverá cumprir
um período de conversão de 18 meses em manejo orgânico. Para atender a
legislação do mercado internacional o prazo é mais dilatado, sendo 24 meses
para culturas anuais e um período de conversão de 36 meses para culturas
perenes. Vale lembrar que os períodos de conversão acima mencionados
poderão ser ampliados pela certificadora em função do uso anterior e da
situação ecológica da propriedade.

No manejo das infestantes em sistema orgânico o princípio da


prevenção deve ser privilegiado. Portanto, recomenda-se o uso de práticas
que evitem a ressemeadura de invasoras; recomenda-se também a
manutenção de uma boa quantidade de palha, o uso de plantas com efeito
alelopático, o plantio em época adequada (antecipado para ganhar a
concorrência com as invasoras), o uso de máquinas que permitam um bom
corte da palha (com pouco revolvimento de solo na linha e deposição da
36

semente em contato com o solo) e evitar períodos de pousio entre as culturas


(Skora Neto, 1998). O método químico é substituído, na maior parte das
vezes, por métodos manuais combinados com mecânicos, como é o caso do
uso de roçadeiras. Existem dois aspectos a se considerar no plantio direto
orgânico: a substituição dos herbicidas dessecantes e dos herbicidas durante
o ciclo da cultura. Para substituição dos herbicidas dessecantes, no sistema
orgânico são utilizadas plantas de grande capacidade de abafamento das
infestantes para a formação da cobertura morta e que são roladas na fase de
formação de grãos (aveia-preta, centeio, aveia-preta + ervilhaca-comum) ou
são deixadas completar o ciclo (azevém, ervilhaca-peluda).
Para substituição dos herbicidas na cultura tem-se utilizado a capina
manual (catação) ou a roçada, aliado a outras práticas culturais de manejo.

Comparando Custos de Produção

A próxima tabela, Darolt, (2000),apresenta um resumo de custos


variáveis de produção da cultura da soja orgânica sob plantio direto. Se nos
aspectos técnicos ainda existem desafios relacionados ao manejo das
infestantes, os resultados econômicos não deixam dúvida que a produção
orgânica é um negócio promissor. O que torna o mercado orgânico
37

competitivo são os preços, que têm um prêmio de 50 a 100% em relação à


similar convencional.

Como parâmetro de comparação a Tabela seguinte apresenta as


principais diferenças entre custos da produção em plantio direto da soja
orgânica e convencional. Nota-se que no caso do manejo de infestantes, as
diferenças de custos do uso de herbicidas para o uso de roçadeiras são
pequenas. As maiores diferenças estão no rendimento líquido final,
resultado de bons preços pagos pelo produto orgânico que atinge um
mercado diferenciado.

COMPARAÇÃO DOS PRINCIPAIS CUSTOS POR HECTARE


ENTRE A PRODUÇÃO DESOJA ORGÂNICA E CONVENCIONAL SOB
PLANTIO DIRETO.
38

Diante dos resultados do estudo os autores concluem existe


viabilidade técnica e econômica para estabelecimento da produção orgânica
usando o plantio direto. No entanto, alertam que em termos técnicos o
grande desafio ainda está no manejo das infestantes sem o uso de herbicidas.
O uso de roçadoras, como as utilizadas em beira de estrada, tem mostrado
resultado satisfatório.
Todavia, o que viabiliza estes sistemas é o preço em mercados
diferenciados, podendo chegar a prêmios de mais de 50%, como é o caso da
soja orgânica no mercado internacional.

 INTEGRAÇÃO LAVOURA PECUARIA

Muller et al 2001, avaliaram: (i) a relação entre a degradação de


pastagens de colonião manejadas com queima, e as modificações nas
propriedades físicas e morfológicas de um Argissolo Vermelho-Amarelo da
Amazônia; (ii) o crescimento radicular de pastagens com diferentes níveis
de degradação; (iii) o potencial de recuperação de pastagens degradadas de
colonião com a introdução de andropógon. Numa propriedade rural da
Região de Marabá, PA, foram estudados quatro tipos de pastagem:
pastagem produtiva de colonião (Panicum maximum Jacq.); pastagem de
colonião em declínio produtivo; pastagem de colonião degradada (capoeira);
pastagem de colonião degradada e recuperada com andropógon
(Andropogon gayanus Kunth). Como referência das propriedades do solo
antes do desmatamento, estudou-se, também, uma reserva de mata nativa.
39

A queima das pastagens foi prática usual, e apesar disso, estas não foram
adubadas. A degradação da pastagem diminuiu a cobertura do solo e o
deixou exposto à chuva e ao pisoteio do gado, o que resultou em aumento da
densidade do solo na camada superficial e diminuição do grau de floculação
da argila e da porosidade total. A diminuição da produção da parte aérea na
pastagem degradada foi acompanhada de diminuição do número de raízes
no perfil do solo, e da concentração do sistema radicular próximo à
superfície. O andropógon demonstrou bom potencial para recuperação das
áreas de pastagens degradadas, na Região Amazônica.
Iniciamos com o resumo desse trabalho por que ele evidencia bem o
que vem ocorrendo na maioria das pastagens manejadas sem os devidos
cuidados.
A retirada da cobertura vegetal original e a implantação de culturas,
aliadas a práticas de manejo inadequadas, promovem o rompimento do
equilíbrio entre o solo e o meio, modificando suas propriedades químicas,
físicas e biológicas, limitando sua utilização agrícola e tornando-o mais
suscetível à erosão.
A alternativa para o controle da emissão de gases poluentes pela
agricultura, como o dióxido de carbono, que vem contribuindo para o
aquecimento global, é o sistema integrado lavoura-pecuária. Esta é a
conclusão de um estudo do pesquisador Luiz Fernando Leite, da Embrapa
Meio-Norte, feito durante um ano, em curso de pós-doutorado, no
Agricultural Research Service, nos Estados Unidos.
Durante o estudo, foram avaliados vários sistemas de produção agrícola
usados nos cerrados do Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste do Brasil. Do
Nordeste, foram avaliados os sistemas praticados nos municípios de Baixa
Grande do Ribeiro, no Piauí, e São Raimundo das Mangabeiras, no
Maranhão.
O sistema integrado lavoura-pecuária consiste na diversificação da
produção, buscando o aumento e a eficiência na utilização dos recursos
naturais e a preservação do meio-ambiente. O resultado é o incremento da
produtividade e a conseqüente melhoria da renda do agricultor, além da
estabilidade dele no campo.
40

Segundo o estudo, o consórcio de culturas ou cultivos múltiplos


nesse sistema, permite, durante o ano e numa mesma área, a produção de
grãos no período das chuvas, e de forrageira para o gado bovino na
entressafra, além de palhada para a viabilidade do plantio direto.
Luiz Fernando Leite explica que os sistemas de plantio direto, não associado
à integração lavoura-pecuária, embora considerado conservador, e o
convencional, onde é forte o uso de máquinas com arados e grades,
utilizados em todo o País, têm aumentado a emissão de gases poluentes na
atmosfera. “Os modelos utilizados estimaram que essa emissão continuará
pelo menos nos próximos 40 anos, caso não haja mudanças nos sistemas”,
revela o pesquisador.

Conforme o pesquisador, o problema pode ser amenizado com a


partir do aporte de pelo menos 8 toneladas anuais de biomassa no solo, por
hectare. O Brasil ocupa hoje a quinta posição no time dos países com
maiores taxas de emissão de gases poluentes. Os estados do Amazonas,
Mato Grosso, Tocantins e Maranhão, são os maiores poluidores através da
agricultura convencional e do uso das queimadas como método de preparo
da terra.

No Protocolo de Kioto, do qual o Brasil é signatário, e que foi


ratificado por 141 países, em janeiro de 2005, ficou estabelecido o
compromisso da redução da emissão de gases poluentes em até 5,2 por
cento até 2012. A meta é considerada acanhada pela maioria dos cientistas
em todo o mundo. Eles acreditam que seriam necessárias reduções de pelo
menos 60 por cento para que os efeitos sobre o clima fossem realmente
expressivos. As informações são da assessoria de imprensa da Embrapa.
A ILP,(Integração Lavoura Pecuária) aliada a práticas
conservacionistas como o Plantio Direto, é uma alternativa econômica e
sustentável para recuperar áreas degradadas, a exemplo de pastagens com
baixa produção de forragens e lavouras com problemas de produtividade e
sustentabilidade, abrindo perspectivas para o ciclo de prosperidade no meio
rural, com produção de alimentos seguros e saudáveis, com impactos
positivos ao meio ambiente e à qualidade de vida.
41

O Governo Federal disponibilizou, para todo o Brasil, linha de


crédito específica com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) para apoiar a implementação da ILP. Os
recursos são destinados a investimentos em infra-estrutura, formação de
pastagens, recuperação do solo, aquisição de animais e equipamentos e
outros itens necessários à ILP. As taxas de juros são de 8.75% ao ano, com
5 anos de prazo para pagamento, e com até 2 anos de carência.
Os recursos financeiros estão disponíveis nas agências bancárias
para os produtores que apresentarem projeto técnico contemplando a adoção
da ILP em suas propriedades.
Os produtores da Região Centro-Oeste têm também à sua disposição
um Programa específico com recursos do Fundo Constitucional de
Financiamento do Centro-Oeste (FCO), disponível nas agências do Banco
do Brasil.
O sistema é semelhante ao de rotação de culturas. No verão, planta-
se milho ou soja. Pelo sistema de integração lavoura-pecuária, o produtor
concilia a pecuária bovina e a produção de grãos na mesma área de terra. No
inverno, boi e vacas alimentam-se de forrageiras e pastagens. A rotação de
culturas é feita por técnicas de plantio direto, que reduzem o risco dos
sistemas tradicionais de produção nas propriedades. (www.wwf.org.br-
20/05/07)
A área de pastagem, com espécies cultivadas no Brasil está em torno
de 115 milhões de hectares (ha), enquanto a área com pastagem nativa é de
42

144 milhões. Estas áreas abrigam cerca 195 milhões de cabeças de bovinos
o que proporciona uma taxa de lotação de 0,75 cabeças por hectare e uma
produção de cerca de oito milhões de toneladas de equivalente carcaça.
(www.agronomia.com.br-20/05/07)
Contudo, os solos que estão sob estas pastagens são, em sua maioria,
pobres, com um horizonte com argilas de baixa atividade, que consiste de
uma mistura de caolinita, óxidos de ferro e quartzo e  com um baixo
conteúdo de minerais. Conseqüentemente, as forrageiras nativas existentes
sobre estes solos apresentam uma baixa produtividade e as forrageiras
estabelecidas, mediante correção do solo, para a formação destas pastagens,
têm apresentado, em curto período de tempo, um acentuado declínio em sua
produtividade. Este curto período de utilização da pastagem cultivada está
intimamente relacionado ao insuficiente fornecimento de nutrientes do solo
para a espécie forrageira introduzida o que leva a sua degradação.

IMPACTOS DA INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA NA


PRODUÇÃO DE BOVINOS

A integração lavoura-pecuária apresenta como uma das vantagens o


aumento da capacidade de suporte das pastagens e consequentemente uma
maior produtividade animal quando comparado aos sistemas de pastagens
degradadas. Tabela

Tabela - Capacidade de suporte e desempenho de bovinos recriados, em pastagens renovadas


com  diferentes estratégias e submetidas a uma pressão de pastejo de 7% em Brasilândia –
MS.

Estratégia de Peso dos animais Taxa de Lotação (UA5/ha) Produtividade


renovação Inicial (kg) Final (kg) Chuvas Seca (@/ha/ ano)

Milho1 181 374 3,04 0,83 22,3

Arroz2 176 371 2,79 0,83 19,8

Renovação Direta3 177 388 2,55 0,80 19,9

Pastagem velha 176 374 1,51 0,77 11,9

Pastegem velha (MF)4 176 278 1,20 0,60 3,4


43

1- Calagem e adubação : 3,0 ton /ha de calcário, 454 kg /ha da fórmula 04-30-16, 39 kg de FTE BR 12/ha, 32 kg de sulfato de Zinco/ha e 250 kg de
sulfato de Amônia em cobertura.
2- Calagem e adubação: 2,0 ton de calcário, 300 kg da fórmula 04-30-16, 30 kg de FTE BR 12/ha 20 kg de Sulfato de Zinco,  100 kg de Sulfato de
Amônia e 50 kg de Cloreto de Potássio em cobertura.
3- Calagem e adubação: 1,4 ton de calcário /ha, 165 kg/ha de superfosfato simples.
4- MF = Manejo da fazenda em pastegem degradada.
5- UA/ha = 450 kg de peso vivo.
Fonte: Barcellos et al. (1997).

Outro aspecto importante relacionado a integração é que devido à


utilização da cultura de arroz consorciada com as braquiárias, além de
aumentar a produtividade (variação de 7,45 a 10,50 @/ha/ano) os ganhos na
época da seca estão acima da média esperada em situações de pastagens
degradadas sem suplementação protéica-mineral. Fato comum observado
nas três diferentes espécies é que já no terceiro ano os ganhos de peso  vem
caindo, mostrando a justificativa de uma adubação de reposição de minerais
no solo.

Tabela -  Relação de ganho de peso vivo (GPV) no período seco e das águas e a
produtividade em um sistema de integração lavoura-pecuária.
GPV diário GPV Total/ha/ano
Sistema
Ano Seca Águas Kg @

I 0,276 0,725 2.199 10,50


M1
Decumbens II 0,314 0,682 2.054 9,81

III 0,263 0,544 1.560 7,45

I 0,267 0,715 2.162 10,33


M2
II 0,321 0,685 2.072 9,90
Brizantha
III 0,266 0,563 1.608 7,68

I 0,280 0,650 2.190 10,46


M3
II 0,250 0,596 1.760 8,42
brizantha + stilosantes
III 0,172 0,595 1.717 8,2

M1= consorciação arroz + B. decumbens


M2= consorciação arroz + B. Brizantha
M3= consorciação arroz + B. brizantha + Stylozanthes.
Fonte: Adaptado de Cézer e Yokoyama, 2003.

O sistema Santa Fé foi implantado no período de 2001/2002 e, após


a colheita do milho, a pastagem de B. brizantha (consorciada) foi vedada
por 70 dias e no mês de junho foi pastejada. Os resultados mostraram uma
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boa lotação em ambos períodos (águas e secas) com elevados ganhos de


pesos, o que pode proporcionar o abate destes animais com idades inferiores
a 30 meses. Cabe salientar que o ganho na época da seca foi elevado, acima
de 1 kg/dia, pela quantidade ingerida da suplementação ( 0,5% do peso vivo
médio diário) (Tabela ).

Tabela - Desempenho de animais durante o período da seca e das águas em pastagens formadas pelo Sistema Santa
Fé no ano 2001/02.

Período Águas* Secas**

P inicial (kg) 243 349,9

P final (kg) 381 473,2

GMD (kg) 0,730 1,03

Lotação (UA/ha) 3,0- 4,3 2,1- 3,0

*Suplementação com mineral


** Suplementação de 2,0 kg/ animal/dia (84% gérmen de milho , 12% de farelo de girassol, 2,2% uréia,
1,8% de calcário + suplemento mineral).
Fonte: Adaptado de Magnabosco et al., 2003.

Uma outra opção para aumento da produtividade é o uso do pastejo


direto com o sorgo o que proporciona ao animal um alimento de bom valor
nutricional (proteína e digestibilidade) e consequentemente elevado ganho
de peso no período das águas. Entretanto este sistema deverá ser avaliado de
acordo com a necessidade do planejamento forrageiro e nutricional, pois,
normalmente, terá um custo por ganho mais elevado do que uma pastagem
perene.

Tabela - Avaliação do desempenho de bovinos de corte, alimentados em pasto, com sorgo de


corte e pastejo, cultivar AG 2501-C.
Período de Avaliação  
Item 01 a 31- 01 a 28- 01 a 26- 27-03 a 23-
Média
01 02 03 04

Proteína Bruta 12,5 11,1 8,3 8,0 10

Digestibilidade “in vitro” da MS 68,8 55,9 54,9 50,7 57,5

Ganho médio diário (kg/


1,295 1,330 1,112 0,375 1,121
animal/dia)
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Capacidade Suporte (UA/ha)* 3,18 3,54 3,74 3,38 3,46

Ganho de peso /ha (kg PV


190,2 199,4 158,9 21,8 570,3
período)

* 400 kg de peso vivo


Fonte: Aita (1995).

Conclusões: O sistema de integração lavoura-pecuária é uma


alternativa viável de ser implantada em fazendas com o propósito de
recuperar áreas de pastagens degradadas, com um custo relativamente baixo
e com aumento da produtividade da pecuária bovina.

PD CANA-DE-AÇUCAR

O plantio direto na cultura da cana de açúcar vem sendo utilizado


com sucesso e trazendo muitos benefícios. A cobertura morta para a cana-
de-açúcar, age contra as altas temperaturas e os ventos, que ressecam os
terrenos, e além disso, protege o solo contra a erosão.
Outro sistema que vem sendo utilizado na cultura da cana-de-açúcar,
e que em muitas vezes é chamado também de Plantio direto, é o Cultivo
Mínimo. A diferença básica entre o cultivo mínimo e o plantio direto é que
neste (plantio direto) não se faz a sulcação da terra para o plantio. A idéia do
cultivo mínimo foi tomando força e sendo aplicado, logo após o
desenvolvimento da indústria química, especialmente de herbicidas, apesar
de já existir a muito tempo. O método tornou-se mais viável na cana-de-
açúcar com a descoberta de um herbicida sistêmico, não seletivo, de
absorção foliar e não residual, que permite eliminar a soqueira antiga para a
implantação do cultivo mínimo nas áreas de reforma de canaviais. Como o
herbicida é caro no Brasil, há produtores que fazem uma aplicação em
quantidades menores, completando a destruição da soqueira com o
arrancador de soqueira trabalhando a pequena profundidade.
O cultivo mínimo apresenta diversas vantagens em relação ao
tradicional para esta cultura, como: a possibilidade de plantio em épocas
chuvosas (o que pode significar a antecipação do plantio em até alguns
meses); a utilização mais intensa da área de plantio, já que o intervalo entre
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a colheita e o replantio é menor; a redução da erosão; a redução do uso de


máquinas, implementos e combustível; a eliminação mais eficiente da
soqueira antiga e o controle de invasoras problemáticas, como a tiririca e a
grama-seda. (http://fcr.org.br/estudousinas/docs/a-cana-de-acucar.doc)

Scarpellini & Bolonhesi (2007), citam que com a expansão da


cultura da cana-de-açúcar e o aumento de usinas pelos atrativos que
apresentam no momento, tem-se tido a ocupação de áreas com café,  citros e
outros cultivos, bem como se transformado numa monocultura intensa, mas
esta cultura tem tido uma colaboração importante na contenção do
aquecimento global, pela redução do uso de derivados de petróleo, o que
vem despontando o etanol como grande solução para o transporte. Da área
de mais de 5 milhões de hectares de cana atualmente plantados no Brasil, 1
milhão desta tem sido renovada anualmente utilizando-se para renovação
dos canaviais culturas de sucessão como soja, amendoim, girassol, entre
outras culturas alimentícias, podendo todas serem plantadas sobre a palhada
da cana-de-açúcar (em média 15 t.ha-1 de matéria seca são deixados após a
colheita da cana sem fogo), o que  significa um ganho enorme em retenção
de água e redução do aquecimento do solo. Mas quando se faz a renovação
do canavial com os sistemas de preparo do solo convencional, através da
incorporação da palhada da cana, este benefício pode ser perdido. As
pesquisas demonstram que em um período de 27 dias, o sistema
convencional de preparo emite cerca de 9 t.ha-1 de CO2 a mais que o
sistema plantio direto.
Esse rotação da cana com culturas de sucessão, que em geral são
leguminosas, traz uma enorme vantagem para o setor, pois essas plantas
fixam gratuitamente, grande quantidade de nitrogênio no solo. E, além
disso, é uma excelente oportunidade da junção de canaviais com
alimentação humana e animal; também a maximização de colheita mecânica
(cana crua) ajudará em muito neste processo de redução do aquecimento
rápido, em que todos devem estar empenhados.
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Colheita mecanizada de cana crua. (internet)

Rebrota da cana em um sistema sem fogo


(foto: Laerte Machado)

Conclusões

A diminuição da renda familiar leva o agricultor a abandonar o


campo com a família como demonstram os dados do Censo Agropecuário
1985/1996 onde encontramos o desaparecimento de um milhão de
estabelecimentos no período, ou seja, 17% dos existentes em 1995.
Somos, hoje, um país urbanizado: 80% da nossa população vivem
nas cidades, sendo que o Sudeste já está no nível de 92% de urbanização; o
Centro-Oeste, 87%; o Sul, 80%. Entre as regiões menos urbanizadas, estão a
Norte, 65%; e a Nordeste, 67,6% (Alves, Lopes e Contini, 1999).
Produzir com tecnologia apropriada, que permita a recuperação dos
solos degradados por anos de manejo inadequado, restaurando o equilibrio
biológico entre o solo e o meio, preservando a renda do produtor, evitando a
corrente migratória para os centros urbanos incapazes de absorver
48

dignamente essa mão de obra, e assim a marginalidade, que alimenta a


violencia e a consequente insegurança do cidadão, é o desafio que se nos
apresenta.

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