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Para darmos início a este capítulo, acredito que seja necessária uma breve
discussão sobre a conceituação do termo folclore. De muito pouco adiantaríamos seguir
ponteando elementos que trazem à tona o vigor e representatividade do folclore do
estado de Santa Catarina se não soubermos, ou ao menos compreendermos o que
qualifica os elementos populares como sendo folclóricos ou não.
O primeiro passo para este entendimento é a etimologia da palavra folclore.
Segundo Roberto Benjamim, pesquisador e membro da Comissão Pernambucana de
Folclore: “A palavra folclore, grafada inicialmente folk-lore fora formada a partir das
velhas raízes saxônicas em que folk significa povo e lore saber. Assim, segundo o seu
criador, a nova palavra significaria sabedoria do povo” 1.
Para além do sentido semântico da palavra, é necessário estabelecer um campo
de abordagens e de temáticas passiveis de serem assim intituladas. Esta discussão é
valida para que assim não nos apeguemos de forma desnecessária aos simbolismos
referentes às questões ligadas ao folclore.
Foi neste sentido que em 1951, durante o I Congresso Brasileiro de Folclore, foi
escrita uma carta que estabelecia o seguinte: “reconhece o estudo do Folclore como
integrante das ciências antropológicas e culturais, condena o preconceito de só
considerar como folclórico o fato espiritual e aconselha o estudo da vida popular em
toda sua plenitude, quer no aspecto material, quer no aspecto espiritual”.
“Constituem o fato folclórico as maneiras de pensar, sentir e agir de um povo,
preservadas pela tradição popular e pela imitação e que não sejam diretamente
influenciadas pelos círculos eruditos e instituições que se dedicam ou à renovação e
conservação do patrimônio científico e artístico humano ou à fixação de uma orientação
religiosa e filosófica”.
“São também reconhecidas como idôneas as observações levadas a efeito sobre a
realidade folclórica, sem o fundamento tradicional, bastando que sejam respeitadas as
características de fato de aceitação coletiva, anônima ou não, e essencialmente popular”.
Contudo, no ano de 1995, durante o VIII Congresso Brasileiro de Folclore,
houve a necessidade de fazer uma redefinição deste conceito, ressaltando que: “Folclore
é o conjunto das criações culturais de uma comunidade, baseado nas suas tradições
1
http://www.unicamp.br/folclore/Material/extra_conceito.pdf acessado em Julho de 2009
expressas individual ou coletivamente, representativo de sua identidade social.
Constituem-se fatores de identificação da manifestação folclórica: aceitação coletiva,
tradicionalidade, dinamicidade, funcionalidade”.
Diante de tal posicionamento, decidimos por eleger alguns elementos folclóricos
do estado de Santa Catarina para serem descritos e discutidos neste livro, sendo eles o
Boitatá; A Lenda das Bruxas; o Lobisomem; a Mula se Cabeça; o Pão-Por-Deus e o Boi
de Mamão.
Esta escolha se deu depois de uma pesquisa realizada no sentido de eleger os
elementos folclóricos que estão mais presentes nas tradições deste estado. É evidente
que existem muitos outros que poderiam perfeitamente incluídos nesta listagem, e
acreditamos que suas contribuições para o enriquecimento da cultura popular são
valorosas. Contudo, uma abordagem mais densa sobre esta temática se apresentaria fora
dos propósitos desta publicação, que visa não só abranger esta temática, mas sim uma
variedade de outros temas que caracterizam e identificam o estado de Santa Catarina de
forma única e tão especial.
Boitatá
O Boitatá é uma das lendas mais tradicionais no estado de Santa Catarina. Assim
como no resto do Brasil, esta figura mitológica permeia o imaginário popular e alimenta
crenças a respeito de sua existência. Dependo da localidade, esta figura folclórica recebe
nomes dos mais variados.
Sobre as explicações etimológicas para esta palavra, algumas versões aparecem
como maior força. Acredita-se que este termo é resultante da junção de duas palavras
naturais da língua Tupi, sendo elas mboi e tatá, que significam respectivamente cobra e
fogo. Ainda pode-se atribuir ao termo mboi o significado de coisa ou agente, como
salienta o escritor, historiador e folclorista Luís Câmara Cascudo, em sua obra
Dicionário do Folclore Brasileiro, escrito em 1954.
O primeiro registro oficial desta lenda é atribuído ao Padre José de Anchieta, o
qual teria escrito em 1560 a seguinte descrição: "Há também outros (fantasmas),
máxime nas praias, que vivem a maior parte do tempo junto do mar e dos rios, e são
chamados baetatá, que quer dizer cousa de fogo, o que é o mesmo como se se dissesse o
que é todo de fogo. Não se vê outra cousa senão um facho cintilante correndo para ali;
acomete rapidamente os índios e mata-os, como os curupiras; o que seja isto, ainda não
se sabe com certeza." 2.
Segundo as descrições de populares e alguns registros encontrados sobre esta
lenda folclórica, esta cobra seria um monstro, de enormes olhos, e que durante o dia
seria praticamente cega, e durante o período da noite, de visão bastante acentuada.
Boitatá ainda seria a ultima cobra de sua espécie a existir, uma vez que todas as outras
teriam sido morta durante um grande dilúvio que cobriu toda a terra. Para manter-se
viva, ela teria se refugiado em um grande buraco, e ela permanecido até o fim do
dilúvio. Devido à escuridão do local de seu refugio, seus olhos teriam aumentado de
tamanho e se adaptado à visão noturna.
Ainda em um trabalho de descrição para as versões que se encontra para esta
figura folclórica, encontramos a visão de João Simões Lopes Neto, tidos para muitos
como o maior escritor regionalista da região Sul do país. Dizia ele: “numa noite muito
escura iniciou-se o grande dilúvio. A água cobriu todas as coxilhas, inundou as sangas e
arroios, encheu todas as tocas dos animais, inclusive a de uma cobra grande chamada de
"boiguaçu" que dormia quieta. Acordando com o frio da água, encheu-se de susto. Saiu
para fora e apertada de fome começou a comer só os olhos dos animais que encontrava a
sua volta. Como os animais sofrem influência do alimento que comem, a Boiguaçu não
escapou a regra, sua pele tornou-se muito fina e ficou luminosa pelos mil olhos que
devorou.
Os homens quando voltaram à vê-la, não a reconheceram e pensaram tratar-se
ser de uma nova cobra, por causa de seu aspecto deram-lhe o nome de Boitatá, ou seja,
cobra de fogo.
Passado um certo tempo, a Boitatá morreu de pura fraqueza, porque só os olhos
que comeu não a alimentaram o suficiente. Ao decompor-se, a luz que estava presa
dentro dela esparramou-se pelos brejos e pode tomar a forma tanto de cobra como de
boi. O povo da campanha adverte, ao vê-la deve-se ficar imóvel, de olhos fechados, sem
respirar, até que ela resolva ir embora”3.
Existem aqueles certos de que Boitatá esteja viva nas matas, protegendo-a das
queimadas provocadas pelos humanos. Existem também pessoas que dizem ser ela
causadora das queimadas. São leituras e crenças que variam de região para região. No
2
Cartas, informações, fragmentos históricos e sermões / Padre Joseph de Anchieta. - Rio de Janeiro :
Civilização Brasileira, 1933. - 567 p.
3
http://www.rosanevolpatto.trd.br/lendaboitata.html acessado em julho de 2009
estado de Santa Catarina, esta lenda assume características bastante variáveis, oscilando
de região para região.
4
http://www.rosanevolpatto.trd.br/lendabruxa.html Acessado em julho de 2009
primeira ou a ultima das filhas serão inevitavelmente uma Bruxa. Para impedir que tal
acontecimento se concretize, é necessário que a filha mais velha seja madrinha da mais
nova, ou, que se de um nome masculino à filha mais nova, para que desta forma se
engane a Bruxa.
Entre os poderes que são conferidos às Bruxas, estão a capacidade de lançarem
enfermidades, moléstias e mal-olhados, habilidades estas adquiridas por meio de um
pacto realizado com o Diabo. Estes feitiços seriam lançados por elas durante as noites
de luar, especialmente nas sextas-feiras. Elas também seriam capazes de se transformar
em pequenos animais voadores, como borboletas, e assim adentram nas casas das
pessoas em que deseja fazer alguma maldade.
Identificam-se as bruxas de algumas formas. Dizem que se uma mulher lhe
estender a mão esquerda ao lhe cumprimentar, certamente ela é Bruxa. Para evitar que
as crianças fossem atacadas por elas, dava-se às crianças remédios a base de alho ou se
colocava tesouras abertas debaixo dos travesseiros das mesmas. Outras medidas
preventivas podem ser feitas por meio da inscrição de símbolos cabalísticas nas portas
das casas, como estrelas de cinco e seis pontas.
Veja agora um conto de Franklin Cascaes, catarinense nascido em São José,
grande folclorista e escritor que dedicou sua vida aos estudos dos elementos culturais do
estado de Santa Catarina.
Lobisomem
Assim como a lenda das Bruxas, acredita-se que a lenda do Lobisomem tenha
chegado ao estado de Santa Catarina via emigrantes europeus. Estas histórias que
envolvem a transformação do homem em lobo não são nada recentes, existem registros
relacionados à mitologia grega que já enfatizavam a possibilidade desta transformação.
Para estes, o Lobisomem seria uma pessoa, do sexo masculino, com a
capacidade de se transformar em uma criatura que fosse a mistura de um homem com
um lobo, sendo que esta transformação ocorre em noites de lua cheia em uma
encruzilhada, ou em noites por onde passa por muita raiva. Ele só é capaz de voltar ao
seu estado natural com o fim da fase lunar, como afirmam os moradores de Nova
Trento6, ou quando se acalma.
Em mais uma semelhança com as Lendas das Bruxas, acredita-se no folclore
brasileiro que o sétimo filho que nascer em uma seqüência de nascimentos do mesmo
sexo seria inevitavelmente um Lobisomem. No caso de Santa Catarina, após esta
seqüência de nascimento de filhos, o último devera se chamar Bento para que a
maldição não o atinja. Existe também uma versão em que seria Lobisomem o filho que
nascesse depois de uma seqüência de sete partos de meninas.
Ainda neste estado, os Lobisomens se apresentam “como um homem de olhos
afogueados, pelo eriçado, ventre aberto e sangrando, unhas aguçadas e expele fogo pela
boca”7.
Ainda segundo a pesquisadora Rosana Volpatto, “Na forma de porco é
assinalado em São Francisco do Sul e em Biguaçu, na orla litorânea catarinense. No
entanto, em Caçador, no oeste catarinense, é um horrendo lobisomem-dragão, com
cerca de três metros de comprimento, tem dorso de dragão e formidável boca provida de
agudíssimos dentes. Pelas ventas dilatadas lança um bafio nauseabundo”8.
Existe também a possibilidade de se tornar um Lobisomem sendo mordido por
um. Caso os ferimentos adquiridos no combate com o mesmo não fossem curados até o
amanhecer do dia seguinte, esta pessoa se tornaria mais um destes.
6
http://www.rosanevolpatto.trd.br/lobisomem.htm acessado em julho de 2009
7
ibidem
8
ibidem
Para que o feitiço
Os Lobisomens atacam durante a noite. Estes ataques se dão a tudo aquilo que
tenha vida e se mova. Eles precisam sempre se alimentar do sangue destes seres.
Afirma-se ainda, segundo a lenda mais tradicional, que só é possível matar um
lobisomem atingindo-o com artefatos feitos a base de prata, ou se for ateado fogo no
corpo do mesmo.
Pão-Por-Deus
Em Florianópolis, recolhemos,
pessoalmente, um desenhado, cuja fachada
estampava um coração, onde se lia:
http://www.jangadabrasil.com.br/outubro38/cn381
Saudar uma senhora 00a.htm Acessado em julho de 2009
Boi de Mamão
10
http://www.ufsc.br/~esilva/BrincaBoiMa.html acessado em julho de 2009
11
http://www.vivonumailha.com/page2/page7/page7.html Acessado em julho de 2009
A ENTRADA DO BOI A RESSURREIÇÃO DO BOI
CANTIGA FINAL