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Alexia Rezende1*, Hiasmin Valadão1, Karla de Toledo Candido Muller2, Lilliam May Grespan
Estodutto da Silva2.
Grande – MS – Brasil.
*Autor correspondente: email: lecabijos@gmail.com
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RESUMO
O reaproveitamento das partes não convencionais de frutos ou vegetais tem aumentado
gradativamente ao longo dos anos através de estudos e pesquisas, essas partes muitas vezes
desprezadas vêm tomando um novo alicerce e cada vez mais utilizadas nas elaborações de novos
pratos, como alternativa de substituição para uma melhor qualidade nutricional. O presente
trabalho tem como objetivo o reaproveitamento das cascas de frutos de abacaxi (Ananas comosus)
e banana (Musa ssp) na elaboração de farinhas. O estudo foi dividido em seis etapas, das quais
foram, elaboração das farinhas: onde foi feita a higienização das cascas com hipoclorito de sódio,
secagem em estufa e trituração das cascas; análise bromatológica: onde foram determinado a
quantidade cinzas, umidade, proteínas, lipídeos, carboidratos e fibras; elaboração das receitas:
onde foram utilizadas as farinhas elaboradas em frações diferenciadas de bolos, sendo a
formulação 1 (com adição de 15% de farinha); 2 (30%) e 3 (50%); análise sensorial: onde foi feita
a aplicação com 20 voluntários questionários relacionados a partir de degustações dos bolos;
aceitabilidade e as análises estatísticas serão os resultados obtidos pelas médias dos resultados.
Para as formulações estudadas, observa-se que houve bom índice de aceitabilidade, mostrando
que a utilização dessas partes não convencionais são opções de baixo custo para inclusão de fibras
na dieta, podem ser adicionadas em produtos como bolos e semelhantes, também são boas opções
para inclusão em produtos industriais e apresentam boa possibilidade de comercialização, com
potencial para redução de impactos ambientais causados por resíduos agroindustriais.
ABSTRACT
The reuse of unconventional parts of fruits or vegetables has been increasing gradually over the
years through studies and researches, these parts often despised have been taking a new
foundation and commonly used in elaborations of new dishes, as an alternative of substitution to
a better nutritional quality. It has as objective, the reuse of fruit peels such as pineapple (Ananas
comosus) and banana (Musa ssp) in the process of making flours. The study was divided in 6
stages, in which were, elaboration of flours: where fruit peels were sanitized with sodium
hypochlorite, greenhouse drying and crunching of peels; bromatological analysis: where it was
determined the amount of ashes, humidity, proteins, lipids, carbohydrates and fibers; elaboration
of recipes: where elaborated flours were used in different cake fractions, as the formulation being
1 (with 15% of flour addition); 2 (30%) and 3 (50%) ; sensory analysis: where an application was
made with 20 questionnaire volunteers related from the cake tasting; acceptability and statistical
2
analysis will be based on the final results. For the studied formulations, it is observed that there
was a good acceptability index, showing that the use of unconventional parts are low cost options
for the inclusion of fibers on a diet, they can be added in products such as cakes and other similar
recipes, they're also good options for the inclusion in industrial products and present good
possibility of commercialization, with potential to reduce environmental impacts caused by agro-
industrial waste.
Keywords: Fruit peels reuse, elaboration of flours, cakes, sensory analysis, fibers.
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INTRODUÇÃO
2 MATERIAIS E MÉTODOS
Figura 1. Fluxograma de produção das farinhas de cascas de abacaxi (FCA) e banana (FCB)
Fonte: autores
trigo e farinha de casca de banana - FCB (15%); Bolo 2 (B2) utilizando farinha de trigo
e farinha de casca de banana - FCB (30%); Bolo 3 (B3) utilizando farinha de trigo e
farinha de casca de banana - FCB (50%); Bolo 4 (B4) utilizando farinha de trigo e farinha
de casca de abacaxi - FCA (15%); Bolo 5 (B5) utilizando farinha de trigo e farinha de
casca de abacaxi - FCA (30%) e Bolo 6 (B6) utilizando farinha de trigo e farinha de casca
de abacaxi - FCA (50%).
O preparo da amostra ocorreu no laboratório de técnica Dietética da Universidade
Católica Dom Bosco (UCDB) em Campo Grande – MS 24 horas antes do teste de
aceitabilidade. Todos os ingredientes foram pesados em balança Prix Toledo 3 fit.
As formulações foram preparadas individualmente, em liquidificador comum,
foram batidos os ovos, açúcar, leite e a manteiga por 3 minutos, até formar massa
homogênea, logo após foi adicionado a farinha de trigo e a respectiva porcentagem de
FCA e FCB para cada bolo e o fermento químico. Em seguida, a massa foi assada em
forno pré-aquecido por 30 minutos (180°).
Tabela 1 – Quantidades dos ingredientes da receita padrão para a formulação dos bolos
elaborados com diferentes porcentagens de farinha de trigo (FT), farinha de casca de abacaxi
(FCA) e farinha de casca de banana (FCB).
Composição dos bolos
Ingredientes
BP B1 B2 B3 B4 B5 B6
Ovos (Un.) 2 2 2 2 2 2 2
Açúcar (g) 175 175 175 175 175 175 175
Leite (mL) 212,5 212,5 212,5 212,5 212,5 212,5 212,5
Manteiga (g) 37,5 37,5 37,5 37,5 37,5 37,5 37,5
Fermento (g) 12,5 12,5 12,5 12,5 12,5 12,5 12,5
Farinha de trigo (FT) (g) 300 255 210 150 255 210 150
Farinha de casca de abacaxi ___ ___ ___ ___ 45 90 150
(FCA) (g)
Farinha de casca de banana ___ 45 90 150 ___ ___ ___
(FCB) (g)
Considerando: BP (padrão); B1(FT + FCB na concentração de 15%); B2(FT + FCB na concentração de
30%); B3(FT + FCB na concentração de 50%); B4(FT + FCA na concentração de 15%); B5(FT + FCA na
concentração de 30%); B6(FT + FCA na concentração de 50%).
O preparo das amostras de farinhas para análise bromatológica foi feito pelo
método de quarteamento.
As farinhas foram analisadas quanto aos seus teores de umidade, proteína bruta,
extrato etéreo, fibra bruta e cinzas, conforme a metodologia de composição
bromatológica AOAC. 19
-Teor de umidade: foi determinada pelo método de secagem. É um procedimento
gravimétrico em que ocorre perda por dessecação em estufa a 105ºC até peso constante.
19
2.7 Análise sensorial dos bolos elaborados com as farinhas de casca de abacaxi e
casca de banana.
8
Figura 2. Modelo de ficha para análise sensorial das farinhas de cascas de abacaxi (FCA) e banana (FCB)
9
Figura 3. Modelo de teste de ordenação preferência das farinhas de cascas de abacaxi (FCA) e banana (FCB)
Para a intenção de compra foi utilizada uma ficha de cinco pontos de ordem
decrescente (figura 4) com as seguintes opções: certamente compraria, possivelmente
compraria, não sei se compraria, possivelmente não compraria e certamente não
compraria. 22
Figura 4. Modelo de teste de intenção de compra das farinhas de cascas de abacaxi (FCA) e banana (FCB)
10
Este trabalho foi avaliado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos
(CEP) da Universidade Católica Dom Bosco-UCDB. Termo de aceite do CEP, número
3.902.682/2020.
Entretanto, como critérios de exclusão foram considerados os seguintes fatores:
não possuir histórico de intolerância ou alergia alimentar aos ingredientes presentes na
elaboração dos bolos descritos no Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE).
Cada participante recebeu um TCLE, o qual possuía um convite para a
participação como sujeito da pesquisa, esclarecendo que a identidade de cada participante
seria mantida em sigilo e mostrando quais os riscos e os benefícios que o presente estudo
poderia trazer para o sujeito. O participante só pôde participar da análise após ter lido
atentamente o termo e ter assinado, mostrando que o mesmo foi devidamente esclarecido
sobre a pesquisa.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
físico-químicos com cascas de banana verde (casca in natura, polpa e farinha da casca de
banana), onde os valores encontrados foram de 9,97 e 7,10 (g. 100g), respectivamente
para os cultivares de banana maçã e prata. Pode-se perceber que os valores de proteínas
são maiores na farinha da casca do que na casca in natura, os valores do presente estudo
ficaram abaixo do estudo citado, porém apresentaram valores maiores que a casca in
natura e por fim corrobora com os resultados do estudo citado.
Fato também presente no estudo de Erkel et al.,24 onde o valor de proteína
encontrado na FCA foi respectivamente 3,10 (g. 100g⁻¹) ficando próximo do resultado
encontrado no presente estudo. A FCA apresenta outras atividades envolvendo a proteína,
de acordo com o estudo de Abílio et al.,29 a casca do abacaxi apresenta quantidades
significativas de bromelina uma enzima com ação proteolítica sua principal propriedade
é facilitar a digestão de proteínas, é também utilizada em medicamentos digestivos e
amaciamento de carnes.
Os teores de lipídeos das farinhas utilizadas foram respectivamente 9,79% (FCB)
e 1,35% (FCA), valores próximos foram observados no estudo de Ortiz, 2 o mesmo analisa
propriedades nutricionais e tecnológicas de cascas de frutos (abacaxi, banana, lichia e
mamão), onde os resultados de teores lipídicos em 100g assemelha-se com o presente
estudo, respectivamente 9,39% de FCB e 1,69% de FCA.
As duas farinhas contêm valores elevados de fibras, estudos relatam que essas
auxiliam na diminuição de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) na população,
como doenças cardiovasculares, câncer de cólon, doenças inflamatórias do intestino,
síndromes metabólicas, e obesidade. 11 A recomendação da SBC (2007) de ingestão de
fibra alimentar total para adultos é de 20 a 30 g/dia, sendo 5 a 10g fibras solúveis, como
medida adicional para a redução do colesterol. 9 Sendo assim as farinhas oferecem aporte
de fibras favoráveis para atingir as recomendações diárias.
No presente estudo foram encontrados valores para carboidratos cerca de 31,21%
para FCB, sendo 6,16% (Glicose); 14,25% (Sacarose); 10,8% (amido) e 19,62% de
carboidratos para FCA, sendo 7,90% (Glicose); 7,31% (sacarose) e 4,41% (amido).
Comparado com os valores analisados no estudo de Ortiz, 2 houve discrepância com os
resultados, apresentando valores acima (72 g. 100g de FCB e 88,6 de FCA).
13
Tabela 3- Valores calóricos totais (VCT) das FCB (Farinha de Casca de Banana) e FCA (Farinha
de Casca de Abacaxi) em equivalentes de porção de 40g (2colheres de sopa).
Farinha de casca de banana Farinha de casca de abacaxi
Parâmetro
(FCB) (FCA)
Proteína (kcal) 7,70 3,70
Lipídeos (kcal) 35,20 4,86
Carboidratos (kcal) 49,90 31,30
VTC (kcal) 92,80 39,86
Fibras (gramas) 11,10 24,20
Valores expressos com média ± desvio padrão; FCB (Farinha de Casca de Banana) e FCA (Farinha de
Casca de Abacaxi).
Tabela 5 – Análise sensorial das amostras de bolos elaborados com farinha de casca de abacaxi
(FCA) e farinha de casca de banana (FCB).
Formulações
Atributos 15% de 30% de 50% de
Controle
farinha farinha farinha
Farinha de casca de Abacaxi
Através dos resultados obtidos pode-se observar que a formulação A2 com 30%
da FCA foi a mais aceita que a formulação padrão (A0), segundo a observação dos
provadores houve maior aceitabilidade devido ao gosto e aroma sutil do abacaxi, as
demais formulações tiveram uma aceitação intermediária. A formulação A2 com 30% da
FCA obteve um resultado satisfatório em relação a consistência com a média de 8,10 já a
formulação A0 obteve a menor média comparada com as demais formulações comparado
ao autor Erkel et al., 24 observou-se que quanto maior as porcentagens das adições da FCA
promoveram maior rigidez dos biscoitos tipo cookies e consequentemente menor
aceitação pelos provadores.
Avaliando os resultados da análise sensorial para o aspecto global, observou-se
que a formulação A1 obteve uma média inferior comparado com as demais avaliações,
porém a variabilidade dos dados onde o A0 foi maior indicado pelo desvio padrão dos
resultados.
Nota-se que as formulações acrescidas de FCB foram tão bem aceitas quanto à
formulação padrão (sem acréscimo de FCB), é possível observar que a maioria ficou
dentro da média ou acima dela. Apenas a formulação B3 obteve nota abaixo da média em
aspecto geral. A formulação B0 (padrão) foi a mais bem aceita no atributo de sabor,
enquanto as preparações com maiores porcentagem de FCB obtiveram valores menores
de aceitação, sendo a B3 menos aceita no sabor entre as preparações utilizando FCB, mas
sendo melhor aceita na cor.
15
Tabela 6 –Índice de aceitabilidade dos bolos elaborados com farinha de trigo (A0) farinha de
casca de abacaxi (FCA) e farinha de casca de banana (FCB)
Formulações
Atributos 15% de 30% de 50% de
Controle
farinha farinha farinha
Farinha de casca de Abacaxi
No estudo realizado por Carvalho et al. 37 foi feita análise sensorial com cupcakes
acrescidos de FCB (0; 2,5%; 4%; 5,5% e 7%) onde a formulação com 4% obteve
aceitação acima da média assim como a padrão, porém com aceitação abaixo da média
para as formulações com maiores porcentagens, fato que corrobora com o presente estudo
na questão de quanto maior a adição de FCB menor a aceitabilidade.
Já para as formulações acrescidas de FCA obtiveram resultados contrários à
formulação de FCB, onde pode-se perceber que quanto maior a porcentagem da
formulação maior o índice de aceitabilidade, sendo a formulação A2 (30%) a mais aceita
em todos os atributos. Fato que corrobora com o estudo de De Sousa et al. 38 onde foram
elaborados cookies adicionados de FCA sendo 5%, 10% e 15%, os cookies com 10% e
15% de FCA obtiveram resultados maiores que o cookie com apenas 5% de FCA.
Os resultados encontrados para a intenção de compra para farinha de casca de
abacaxi comparados na figura 5.
17
Figura 5 - Distribuição dos provadores pelos valores obtidos na avaliação de intenção de compra
da farinha de casca de abacaxi (FCA), com ficha de ordem decrescendo sendo: (5) certamente
compraria, (4) possivelmente compraria, (3) não sei se compraria, (2) possivelmente não
compraria e (1) certamente não compraria, das formulações de bolos adicionados de 15% (A1),
30% (A2) e 50% (A3) de FCA.
Figura 6 - Distribuição dos provadores pelos valores obtidos na avaliação de intenção de compra
com ficha de ordem decrescendo sendo: (5) certamente compraria, (4) possivelmente compraria,
(3) não sei se compraria, (2) possivelmente não compraria e (1) certamente não compraria, das
formulações de bolos adicionados de 15% (B1), 30% (B2) e 50% (B3) de FCB.
CONCLUSÃO
Sendo assim, a partir dos resultados obtidos pode se dizer que o reaproveitamento
de partes não convencionais dos frutos como as cascas de abacaxi e banana gerados pelas
agroindústrias apresentam alto potencial para serem utilizadas em formulações
alimentícias reduzindo os impactos ambientais.
REFERÊNCIAS
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