Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO ABSTRACT
A banana (Musa spp.) é originária da Ásia Green banana and its therapeutic potential on
meridional, sendo considerada a fruta mais glyced metabolism: literature review
consumida e produzida em todo mundo,
incluindo o Brasil. No Brasil, durante a colheita The banana (Musa spp.) is originally from
e comercialização, há grande perda devido ao southern Asia, being considered the most
manejo deficiente. Com isso, a consumed and produced fruit worldwide,
comercialização da banana verde tornou-se including in Brazil. In Brazil, during harvesting
uma estratégia para reduzir o desperdício, and marketing, there is a great loss due to
além de ser considerada uma boa alternativa poor handling. Because of this, the
para controle do metabolismo glicídico, devido commercialization of green bananas has
apresentar elevado conteúdo de amido become a strategy to reduce waste, in addition
resistente em sua composição. Sendo assim, to being considered a good alternative for
o presente trabalho tem o objetivo de estudar controlling glycidic metabolism, due to its high
por meio de revisão bibliográfica os benefícios content of resistant starch in its composition.
da banana verde e observar a sua relação Therefore, the present work aims to study,
com a glicemia e o metabolismo glicídico. A through a bibliographic review, the benefits of
pesquisa foi realizada nas bases de dados green bananas and observe their relationship
(Periódicos CAPES, Scielo, PubMed, Google with blood glucose and glucose metabolism.
Acadêmico) e foram selecionados artigos em The research was carried out in the databases
português, inglês e espanhol, entre os anos de (CAPES journals, Scielo, PubMed, Google
2006 a 2019. Os estudos mostraram o Scholar) and articles were selected in
potencial terapêutico da banana verde, rica em Portuguese, English and Spanish, between the
amido resistente, sobre o metabolismo years 2006 to 2019. The studies showed the
glicídico, com melhoria da resistência à therapeutic potential of green bananas, rich in
insulina e da homeostase da glicose. Contudo, resistant starch, on glucose metabolism, with
novos estudos devem ser realizados para improvement in insulin resistance and glucose
determinar a quantidade necessária em homeostasis. However, further studies must be
gramatura para indivíduos saudáveis e com carried out to determine the necessary amount
patologias. of grammage for healthy individuals with
pathologies.
Palavras-chave: Obesidade. Metabolismo
glicídico. Alimentos funcionais. Banana verde. Key words: Obesity. Glucose metabolism.
Amido resistente. Functional foods. Green banana. Resistant
starch.
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo. v. 15. n. 95. p.729-742. Jul./Ago. 2021. ISSN 1981-
9919
730
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento
ISSN 1981-9919 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o de P e s q u i s a e E n s i n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r - w w w . r b o n e . c o m . b r
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo. v. 15. n. 95. p.729-742. Jul./Ago. 2021. ISSN 1981-
9919
731
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento
ISSN 1981-9919 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o de P e s q u i s a e E n s i n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r - w w w . r b o n e . c o m . b r
de toneladas. Nesse mesmo ano, os maiores A banana verde pode ser transportada
produtores foram a Índia, China, Indonésia e e armazenada de forma mais fácil do que a
Brasil, respondendo por cerca de 48,9% do banana madura.
total produzido no mundo. O Brasil, no ano de Por esse motivo, a banana verde vem
2018, exportou cerca de 65,5 mil toneladas de crescendo no cenário atual, por ser
banana, sendo responsável por considerado um produto ideal para ser
aproximadamente 1% das exportações industrializado, além de apresentar um
mundiais do produto. Isso ocorre, pois, a elevado teor de amido, variando de 60 a 80%,
produção de banana é praticamente toda ser fonte de AR (17 a 18%) e ter uma reduzida
dirigida ao mercado interno, devido à grande concentração de açúcares em sua
população e ao elevado consumo per capita composição (Rayo e colaboradores, 2015;
nacional (Rosa Neto e colaboradores, 2019). Szeremeta e colaboradores, 2019).
A respeito da produção brasileira, Em razão disso, a banana verde é
Souza e colaboradores (2019) citaram dados uma boa alternativa para reduzir essas perdas
do IBGE que mostra que no ano de 2017 que ocorrem no período de colheita e pós-
foram produzidas no Brasil mais de 6,6 colheita, podendo ser comercializadas sob a
milhões de toneladas da fruta, com rendimento forma de fruta in natura, polpa e/ou farinha
médio de 14,34 t/hab./ano. (Zandonadi, 2009).
A banana tem grande importância
tanto econômica quanto social, por ser Classificação botânica, evolução,
considerada uma boa fonte de energia rica em composição química e propriedades
vitaminas e minerais, acessível a maioria da nutricionais
população e com disponibilidade de cultivo o
ano todo (Leonel e colaboradores, 2011; Silva, As bananeiras de frutos comestíveis
Barbosa Junior e Barbosa, 2015; Rosado, são classificadas de acordo com o sistema
2015). descrito por Simmonds e Shepherd (1955),
Existem em torno de 180 variedades que utilizaram um método de notas para
de bananas no mundo, sendo que no Brasil indicar as contribuições relativas de duas
frutificam cerca de 35 variedades, distribuídas espécies selvagens diploides representadas
em bananeiras ornamentais, industriais e pelas letras A (M. acuminata) e B (M.
comestíveis (Rosado, 2015). balbisiana) na constituição genética de uma
Os cultivares mais difundidos são os determinada cultivar, cujas combinações
do grupo da Prata (Prata, Pacovan e Prata- resultaram em grupos diploides (AA,BB e AB),
Anã), do grupo Nanica (Nanica ou Caturra, triploides (AAA, AB e ABB) e tetraploides
Nanicão e Grande Naine) e Maçã, sendo as (AAAA, AAAB, AABB e ABBB) (Ormenese,
variedades Prata e Pacovan que ocupam a 2010; Rosado, 2015).
maior área cultivada, totalizando por volta de Atualmente, a classificação se dá de
60% dessa área (Zandonadi, 2009). através dos grupos cromossômicos, visto que
Nos últimos anos ocorreu uma grande a nomenclatura do genoma estabelece os
evolução da bananicultura brasileira, devido à Grupos Varietais, que agrupam cultivares de
geração e adaptação da tecnologia, à melhoria características semelhantes (CEAGESP, 2006;
na organização dos bananicultores, à abertura Rosado, 2015).
de polos de bananicultura irrigada e à maior Conforme demonstrado na Figura 1, a
exigência do marcado nacional (Lichtemberg e organização dos cultivares se dá dividida em
Lichtemberg, 2011). quatro grupos, onde todas as bananeiras que
Contudo, durante a colheita e a apresentam o grupo genômico AAA estão
comercialização das bananas, há uma grande inseridas no grupo Cavendish, o grupo
perda das frutas devido o manejo pós-colheita genômico AA inseridas no grupo Ouro, o
deficiente e as frutas rejeitadas são eliminadas grupo genômico AAB inseridas no grupo Maçã
de forma inadequada. e o grupo AAB inseridas no grupo Prata.
Em decorrência desse panorama,
novas estratégias têm sido adotadas como
forma de reduzir o desperdício (Szeremeta e
colaboradores, 2019), como por exemplo o
transporte da banana verde e produção de
farinha e polpa da banana verde
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo. v. 15. n. 95. p.729-742. Jul./Ago. 2021. ISSN 1981-
9919
732
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento
ISSN 1981-9919 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o de P e s q u i s a e E n s i n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r - w w w . r b o n e . c o m . b r
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo. v. 15. n. 95. p.729-742. Jul./Ago. 2021. ISSN 1981-
9919
733
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento
ISSN 1981-9919 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o de P e s q u i s a e E n s i n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r - w w w . r b o n e . c o m . b r
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo. v. 15. n. 95. p.729-742. Jul./Ago. 2021. ISSN 1981-
9919
734
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento
ISSN 1981-9919 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o de P e s q u i s a e E n s i n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r - w w w . r b o n e . c o m . b r
Polpa de banana verde e farinha de banana colocadas numa panela de pressão, por cerca
verde de 20 minutos, adicionando água até cobrir
toda a fruta. Após o cozimento, as cascas são
Para a fabricação de produtos de retiradas e a polpa processada por meio de
qualidade, algumas características devem ser moagem ainda quente, até obtenção de uma
observadas na banana, como o estádio de pasta homogenia (Dinon e Devitte, 2011).
desenvolvimento, a maturação e nas A banana verde cozida é um alimento
condições de sanidade e uniformidade dos de grande valor nutricional, devido conter em
lotes (Szeremeta e colaboradores, 2019). sua composição fibras solúveis e insolúveis,
De acordo com a Agência Nacional de além de apresentar fruto-oligossacarídeos e o
Energia Elétrica, a biomassa é todo recurso AR. Em consequência disso, a PBV exibe
renovável oriundo de matéria orgânica, seja de importantes ações fisiológicas, auxiliando em
origem animal ou vegetal, que pode ser diversos estados patológicos, como a diarreia
utilizada na produção de energia (Brasil, e constipação, devido a sua capacidade de
2008). normalizar as funções do colón do intestino.
A polpa de banana verde (PBV) Decorrente das suas propriedades
consiste em uma pasta da banana verde que nutricionais, o consumo da PBV contribui para
apresenta característica de espessante e a melhorada função intestinal, do retardo do
destituída de sabor, podendo ser empregada esvaziamento gástrico e da diminuição do
em pratos variados não alterando o gosto dos índice de colesterol no sanguíneo (Mastro,
alimentos. A PBV contribui para o aumento do Taipina e Cohen, 2007).
volume do alimento e pode incorporar Rosado (2015) analisaram três
vitaminas, minerais e fibras. O processamento cultivares de banana verde: Nanica (Musa
da biomassa pode ocorrer através de 3 cavendishii, grupo AAA), Nanicão (Musa
formas, sendo elas: a biomassa da polpa cavendishii, grupo AAA) e Prata (Musa
(biomassa P), biomassa da casca verde sapientum, grupo AAB) e observaram que os
(biomassa F) e a biomassa da casca e a polpa teores de amido resistente nas massas de
(biomassa integral) (Ranieri e Delani, 2014). polpa de banana verde cozida dos cultivares,
Pode-se obter a biomassa proveniente em base seca, foram de 66,2±11,5%,
da polpa da seguinte maneira: primeiramente, 65,9±5,7% e 51,6±5,8%, respectivamente.
as bananas com a casca devem ser lavadas Outra forma de uso da banana verde é
com água e uso de esponjas, em seguida sob a forma de farinha, proveniente da
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo. v. 15. n. 95. p.729-742. Jul./Ago. 2021. ISSN 1981-
9919
735
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento
ISSN 1981-9919 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o de P e s q u i s a e E n s i n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r - w w w . r b o n e . c o m . b r
desidratação da polpa de banana verde (PBV) aña e Prata-zulu podem ser utilizadas como
(Zandonadi, 2009) e do processamento das uma excelente fonte de amido resistente, pois
cascas através do branqueamento seguida por apresentaram os maiores teores de AR.
secagem e moagem (Franco, 2016). Recentemente, um estudo realizado
A farinha de banana verde (FBV), por Szeremeta e colaboradores (2019),
proveniente das polpas e da casca, encontra avaliaram os aspectos físico-químicos e
grande aplicação na indústria de alimentos, funcionais de quatro farinhas (farinha de
principalmente na elaboração de produtos banana verde, farinha de banana verde
oriundos da panificação, produtos dietéticos e branqueada, farinha de banana madura e
alimentos infantis por se tratar de um alimento farinha de banana madura comercializada). Os
rico em minerais e amido resistente (Silva, autores observaram que a farinha de banana
Barbosa Junior e Barbosa, 2015). verde branqueada apresentou coloração mais
A casca representa cerca de 40 a 50% clara e verde em comparação as outras
do peso bruto da fruta, sendo rica em fibras e farinhas, além disso, também apresentou o
nutrientes. Além disso, a casca pode ser maior teor de pectina e de fibra insolúvel. Com
considerada uma alternativa ao acúmulo de isso, concluíram que tanto a farinha de banana
perdas em toda cadeia produtiva (Franco, verde branqueada quanto a farinha de banana
2016). Então, a FBV contribui para a redução verde não branqueada são alternativas
da perda pós-colheita, aumento do tempo de interessantes como produtos, sob a ótica
vida de prateleira e na agregação de valor a econômica, ambiental e funcional.
fruta (Bezerra e colaboradores, 2013). Tendo em vista o crescente número de
A obtenção da FBV pode ser por pesquisas envolvendo produtos utilizando a
secagem natural ou artificial, através de banana verde (Macedo Aragão e
bananas verdes ou semi-verdes dos cultivares colaboradores., 2018; Oliveira, Souza e
Prata, Terra, Cavendish, Nanina e/ou Nanicão Borges, 2019; Carvalho e colaboradores,
(Borges, Pereira e Lucena, 2009). 2019), torna-se imprescindível estudar os
Onde fatores como o tipo de cultivar efeitos do AR, presente na banana verde,
e/ou a variedade da fruta, presença ou sobre a saúde humana.
ausência de casca, técnica de desidratação e
condições de operação no equipamento Propriedades do Amido Resistente (AR)
podem influenciar em suas características
físico-químicas, tecnológicas e funcionais O amido é um homopolissacarídeo
(Silva, Barbosa Junior e Barbosa, 2015). neutro formado por duas frações: a amilose e
Para se obter a FBV, deve-se primeiro a amilopectina (Rosado, 2015). De acordo
observar o grau de maturação e alterações com seus comportamentos de digestibilidade,
visíveis, depois despencar e lavar em água os amidos podem ser separados em amido de
corrente, imersão em água clorada (20 ppm) digestão rápida (ADR), amido de digestão
por 10 minutos, em seguida a banana deve lenta (ADL) e o AR.
sofrer 2 tipos de tratamento térmico a 45ºC e a O ADR pode ser digerido dentro de 20
75ºC por 5 minutos cada. minutos, aumentando rapidamente o nível de
Após isso, ocorre o descascamento glicose pós-prandial no sangue. O ADL pode
manual e corte em rodelas, tratamento com também ser digerido completamente, mas a
antioxidante por imersão em solução de ácido taxa de digestão é lenta, ficando em torno de 2
cítrico a 1% por 5 minutos, secagem em horas. O AR não afeta o nível de glicemia pós-
secador de bandeja a 40ºC por prandial ou índice glicêmico devido à sua
aproximadamente 24 horas e, por fim, a indigestibilidade (Xia e colaboradores, 2018).
trituração em moinho de martelos (Santos e O AR apresenta um maior teor de
colaboradores, 2010). amilose que consequentemente possui uma
Ramos, Leonel e Leonel (2009) maior tendência a formação de estruturas
observaram o teor de AR de 13 diferentes cristalinas.
genótipos (Nanicão, Nam, Thap maeo, Caipira, Devido a isso, explica-se a resistência
Maçã, Fhia 18, Prata anã, Prata zulu, Grande a hidrólise enzimática do AR, o qual se
naine, Maçã tropical, Fhia 01, Figo cinza e comporta fisiologicamente como uma fibra
Ouro), onde obteve como resultado um teor alimentar, ocorrendo a produção de ácido
considerável de AR, variando de 10 a 40%, lático, gases e ácidos de cadeia curta (AGCC)
dependendo do genótipo. E concluíram que as (Rosado, 2015).
FBV obtidas dos cultivares Nam, Maçã, Prata-
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo. v. 15. n. 95. p.729-742. Jul./Ago. 2021. ISSN 1981-
9919
736
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento
ISSN 1981-9919 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o de P e s q u i s a e E n s i n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r - w w w . r b o n e . c o m . b r
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo. v. 15. n. 95. p.729-742. Jul./Ago. 2021. ISSN 1981-
9919
737
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento
ISSN 1981-9919 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o de P e s q u i s a e E n s i n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r - w w w . r b o n e . c o m . b r
glicídico, lipídico e intestinal, além de ajudar insolúveis, notamos que o AR apresenta uma
na prevenção de sobrepeso e obesidade melhor ou igual performance que as fibras
(Rosado, 2015). alimentares (Pereira, 2007) (Tabela 4).
Ao compararmos as propriedades
funcionais do AR com as fibras solúveis e
Tabela 4 - Propriedades funcionais do amido resistente (AR) e das fibras solúvel e insolúvel.
Propriedades funcionais Amido Resistente Fibra Solúvel Fibra insolúvel
Fermentabilidade +++ +++ -
Produção de AGCC +++ +++ -
Aumento da produção de butirato +++ ++ -
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo. v. 15. n. 95. p.729-742. Jul./Ago. 2021. ISSN 1981-
9919
738
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento
ISSN 1981-9919 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o de P e s q u i s a e E n s i n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r - w w w . r b o n e . c o m . b r
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo. v. 15. n. 95. p.729-742. Jul./Ago. 2021. ISSN 1981-
9919
739
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento
ISSN 1981-9919 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o de P e s q u i s a e E n s i n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r - w w w . r b o n e . c o m . b r
hormonal (Bernaud e Rodrigues, 2013; microbiota intestinal foi proposta como uma
Keenan e colaboradores,2015). componente chave na mediação dos
Um desses fatores é explicado pelo benefícios metabólicos provenientes do AR.
AR demonstrar impacto na excreção de ácidos A produção de AGCC pode
biliares. Sabe-se que os ácidos biliares desencadear a produção de peptídeos
controlam a homeostase da glicose e a intestinais que estão envolvidos na regulação
resistência à insulina através da ligação do do apetite e da homeostase da glicose, como
receptor X do farnesóide nuclear (FXR) e da o peptídeo YY (PYY) e o peptídeo 1 do tipo
sinalização do receptor de membrana nuclear glucagon (GLP-1).
TGR5 (Keenan e colaboradores, 2015). Com isso, embora não esteja
Existem dois cenários para explicar tal consolidado na literatura essa relação do
impacto, o AR poderia influenciar o grupo biliar impacto do AR no GLP-1, supõe-se que o
modulando táxons microbianos específicos GLP-1 pode ser um mecanismo para melhorar
que transformam quimicamente ácidos biliares o controle de glicose (Bindels, Walter e
e/ou o AR pode afetar a concentração e a Ramer-Tait, 2015). Recentemente, o
reabsorção de ácidos biliares devido as suas mecanismo “efeito segunda refeição/dieta”
propriedades funcionais, através da ligação vem mostrando a influência do AR no
direta, volume e aumento da viscosidade metabolismo em geral que está relacionado a
(Bindels, Walter e Ramer-Tait, 2015). produção de AGCC, produzidos durante a
Keenan e colaboradores (2015), fermentação do AR, que podem aumentar a
demonstrou em seu estudo que o AR tolerância a glicose na refeição posterior.
restaurou os perfis de ácidos biliares cecal de Isso se deve ao fato que na
ratos C3H sem germe (GF) e convencional fermentação do AR, ocorrer a produção de
(CVZ) alimentados com dietas experimentais propionato, que tem sido relacionado como um
durante 8 semanas. Observou-se que a dieta moderador da produção de glicose hepática e
de WD aumentou significativamente a do metabolismo lipídico (Cardenette, 2006).
concentração de diversos ácidos biliares, Resultante a isso, Cardenette (2006)
principalmente o ácido taurochólico (TCA) e o também avaliou em seu estudo, o “efeito
ácido taurochenetoxicólico (TCDCA), tanto nos segunda refeição/dieta” em humanos e ratos,
ratos GF quanto nos ratos CVZ, enquanto na que se refere à capacidade de uma primeira
dieta WD com AR foi capaz de corrigir essas refeição influenciar a resposta glicêmica de
alterações de maneira independente da uma refeição posterior, contudo tal efeito não
microbiota. pode ser observado em humanos.
Curiosamente, os autores observaram Para isso, justificou-se que não houve
fortes correlações entre as concentrações de tempo suficiente para que houvesse
TCA e TCDCA e os níveis plasmáticos de fermentação do AR para que os produtos
insulina, o índice de resistência à insulina e os exercessem efeito sobre a resposta glicêmica
marcadores de macrófagos de tecido adiposo à segunda refeição. Já nos ratos, em ensaio
(ATM). de curta e média duração, o “efeito segunda
Diversos trabalhos das últimas três refeição/dieta” estatisticamente não teve
décadas, tem mostrado o efeito das refeições resultado significativo, no entanto, foi notado
de baixo IG sobre refeições subsequentes uma tendência significativa na diminuição do
(Elder e colaboradores, 2006). pico glicêmico em ambos os grupos de ratos
Anteriormente, pensava-se apenas em após a ingestão da dieta de amido de banana
IG e barreiras físicas da fibra impedindo a verde laboratorial (ABV-L) e dieta de MBV.
liberação de glicose da matriz do alimento
(Cardenette, 2006), onde o AR funcionava CONCLUSÃO
como essencialmente como uma fibra
fermentável, bem como agentes de volume Através dessa revisão bibliográfica,
(Bindels, Walter e Ramer-Tait, 2015). constatamos que a banana é um fruto que
A microbiota do intestino fornece vem sendo bastante produzido e consumido
controle crítico sobre o metabolismo do popularmente em praticamente todo o mundo,
hospedeiro, a sensibilidade a insulina e o apresentando um grande destaque no Brasil
desenvolvimento imune e a regulação. por possuir uma importância economia e
Devido ao fato de o AR ser cultural.
metabolizado apenas no intestino pelas A banana é rica em diversos minerais,
bactérias que habitam o trato intestinal, a como o potássio, manganês, vitaminas e
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo. v. 15. n. 95. p.729-742. Jul./Ago. 2021. ISSN 1981-
9919
740
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento
ISSN 1981-9919 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o de P e s q u i s a e E n s i n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r - w w w . r b o n e . c o m . b r
apresenta também um elevado teor de 5-Bindels, L.B.; Walter, J.; Ramer-Tait, A.E.
carboidratos em sua composição. Resistant starches for the management of
No entanto, suas propriedades metabolic diseases. Curr Opin Clin Nutr Metab
apresentam maior valor nutricional na banana Care. Vol.18. Núm. 6. 2015. p.559-565.
verde, especialmente devido à presença do
amido resistente. 6-Braga, E.D. Efeito da suplementação do
A relação do consumo de amido amido resistente na obesidade e diabetes tipo
resistente, oriundo da banana verde, com o 2. Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e
metabolismo glicídico, através da melhoria da Emagrecimento. São Paulo. Vol. 5. Núm. 28.
resistência à insulina e da homeostase da 2011. p.277-283.
glicose estão bastante consolidados em
indivíduos saudáveis e indivíduos que 7-Brasil. Ministério do Planejamento,
apresentam síndrome metabólica, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de
aumentando a importância do consumo deste Geografia e Estatística. Pesquisa de
fruto, que é bastante comercializado em nosso Orçamentos Familiares: 2008 - 2009. Rio de
país e possui baixo custo, podendo ser usado Janeiro. 2010.
por todas as camadas da população brasileira.
Entretanto, o uso da banana verde 8-Brasil. Agência Nacional de Energia Elétrica.
ainda é pouco valorizado pela cultura e Biomassa. Atlas de energia elétrica do Brasil.
culinária nacional. 3ª edição. Brasília. 2008.
Outro ponto a ser destacado é que a
quantidade em gramaturas necessária que um 9-Brasil. Agência Nacional de Vigilância
indivíduo, saudável ou com alguma patologia, Sanitária. Resolução RDC nº 40. de 21 de
deva ingerir diariamente para se obter os março de 2001.
efeitos fisiológicos desejáveis do amido
resistente sobre o metabolismo glicídico ainda 10-Borges, A.M.; Pereira, J.; Lucena, E.M.P.
não está totalmente estabelecida. Desta Caracterização da farinha de banana verde.
forma, novos estudos devem ser realizados Ciência e Tecnologia de Alimentos. Vol. 29.
para determinação dessas recomendações. Núm. 2. 2009. p. 333-339.
3-Bernaud, F.S.R.; Rodrigues, T.C. Fibra 13-Carvalho, F.L.O.; Uyeda, M.; Del Buonom,
alimentar: ingestão adequada e efeitos sobre a H.C.; Gonzaga, M.F.N. Probióticos e
saúde do metabolismo. Arq Bras Endocrinol prebióticos: Benefícios acerca da literatura.
Metab. Vol. 57. Núm.6. 2013. Revista de Saúde ReAGES. Vol. 1. Núm. 1.
2016. p. 33-57.
4-Bezerra, C.V.; Amante, E.R.; de Oliveira,
D.C.; Rodrigues, A.M.; da Silva, L.H.M. Green 14-Dan, M.C.T. Avaliação da potencialidade
banana (Musa cavendishii) flourobtained in da farinha de banana verde como ingrediente
spoutedbed: Effect of drying on physico- funcional: estudo in vivo e in vitro. Faculdade
chemical, functional and morphological de Ciências Farmacêuticas. Universidade de
characteristics of the starch. Industrial Crops São Paulo. Tese de Doutorado. São Paulo.
and Products. Vol. 41. 2013. p. 241-249. 2011.
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo. v. 15. n. 95. p.729-742. Jul./Ago. 2021. ISSN 1981-
9919
741
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento
ISSN 1981-9919 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o de P e s q u i s a e E n s i n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r - w w w . r b o n e . c o m . b r
15-Dias, V.M.; Pandini, J.A.; Nunes, R.R.; 24-Lin, C.H.; Chang, D.M.; Wu, D.J.; Peng,
Sperandei, S.L.M.; Portella, E.S.; Cobas, R.A.; H.Y.; Chuang, L. Assessment of blood glucose
Gomes, M.D.B. Influência do índice glicêmico regulation and safety resistant starch formula-
da dieta sobre parâmetros antropométricos e based diet in healthy normal subjects with type
bioquímicos em pacientes com diabetes tipo 1. 2 diabetes. Medicine. Vol. 94. Núm. 33. 2015.
Arq Bras Endocrinol Metab Vol. 54. Núm. 9.
2010. p. 801-806. 25-Macedo Aragão, D.; Araújo, Y.F.V.; Silva
Carvalho, E.A.; Gusmão, R.P.; Gusmão,
16-Dinon, S.; Devitte, S.L. Mortadela T.A.S. Sorvetes sabor maracujá elaborados
adicionada de fibras e com substituição parcial com biomassa da banana verde e sucralose.
de gordura por carragena e pectina. Curso Revista Verde de Agroecologia e
Superior de Tecnologia em Alimentos. Desenvolvimento Sustentável. Vol. 13. Núm. 4.
Universidade Tecnológica Federal do Paraná. 2018.
TCC. Medianeira. 2011.
26-Mastro, N.L.; Taipina, M.S.; Cohen, V.H.
17-Elder, D.A.; Prigeon, R.L.; Wadwa, R.P.; Avaliação crítica da polpa de banana (Musa
Dolan, L.M.; D’ Alessio, D.A. Beta-cell function, spp.) verde. Higiene Alimentar. Vol. 21. Num.
insulin sensitivity, and glucose tolerance in 151. 2007. p. 39-45.
obese diabetic and nondiabetic adolescents
and Young adults. J clin Endocrinol Metab. 27-Oliveira, D.A.L.B.; Müller, P.S.; Franco,
Vol. 91. Núm. 1. 2006. p.185-191. T.S.; Kotovicz, V.; Waszczynskyj, N. Avaliação
da qualidade de pão com adição de farinha e
18-Fasolin, L.H.; Almeira, G.C.; Castanho, purê da banana verde. Rev. Bras. Frutic. Vol.
P.S.; Netto-Oliveira, E.R. Chemical, 37. Núm.3. 2015. p.699-707.
physicaland sensorial evaluationof banana
meal cookies. Ciênc. Tecnol. Aliment. Vol. 7. 28-Oliveira, E.M.; Souza, V.R.S.; Borges, G.R.
Núm. 3. 2007. p.787-792. Análise sensorial de mousse de amora com
biomassa de banana verde. Revista
19-Franco, S.H. Aspectos tecnológicos e Interdisciplinar Pensamento Científico. Vol. 5.
concentração de amido resistente de banana Núm. 5. 2019.
verde (Musa sp.) em pão congelado.
Universidade Federal de Fronteira do Sul. 29-Ormenese, R.C.S.C. Obtenção da farinha
TCC. Laranjeiras do Sul. 2016. de banana verde por diferentes processos de
secagem e aplicação em produtos
20-Keenan, M.J.; Zhou, J.; Hegsted, M.; alimentícios. Faculdade de Engenharia de
Pelkman, C.; Durham, H.A.; Coulon, D.B.; Alimentos. Universidade Estadual de
Martin, R.J. Role of resistant starch in Campinas. Tese de Doutorado. São Paulo.
improving gut health, adiposity, and insulin 2010.
resistance. American Society for Nutrition. Adv.
Nutr. Vol. 6. 2015. p.198-205. 30-Pereira, K.D. Amido resistente, a última
geração no controle de energia e digestão
21-Lejk, A.; Myśliwiec, M.; Myśliwiec, A. Effect saudável. Ciênc. Tecnol. Aliment. Vol. 27.
of eating resistant starch on the development 2007. p.88-92.
of overweight, obesity, and disorders of
carbohydrate metabolism in children. Pediatric 31-Ramos, D.P.; Leonel, M.; Leonel, S. Amido
Endocrinology, Diabetes & Metabolism. Vol. resistente em farinhas de banana verde.
25. Núm. 2. 2019. Alimentos e Nutrição Araraquara. Vol. 20.
Núm.3. 2009. p. 479-483.
22-Leonel, M.; Carmo, E.L.D.; Leonel, S.;
Franco, C.M.L.; Campanha, R.B. Extração e 32-Ranieri, L.M.; Delani, T.C.O. Banana verde
caracterização do amido de diferentes (Musa spp): Obtenção da biomassa e ações
genótipos de bananeira. Rev. Bras. Frutic. fisiológicas do amido resistente. Revista
2011. Uningá Review. Vol.20. Num.3. 2014. p.43-
49.
23-Lichtemberg, L.A.; Lichtemberg, P.D.S.F.
Avanços na bananicultura brasileira. Revista 33-Rayo, L.M.; Carvalho, L.C.; Sarda, F.A.H.;
Bras. Frutic. 2011. Dacanal, G.C.; Menezes, E.W.; Adini, C.C.
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo. v. 15. n. 95. p.729-742. Jul./Ago. 2021. ISSN 1981-
9919
742
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento
ISSN 1981-9919 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o de P e s q u i s a e E n s i n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r - w w w . r b o n e . c o m . b r
Production of instant green banana flour (Musa 42-Uehara, V.B. Efeito da radiação gama em
cavendischii, var. Nanicão) by a pulsed - propriedades da farinha de banana verde.
fluidized bed agglomeration. LWT-Food Instituto de Pesquisas Energéticas e
Science and Technology. Vol. 63. Núm. 1. Nucleares. Universidade de São Paulo.
2015. Dissertação de Mestrado. São Paulo. 2011.
34-Rech, C.; Freygang, J.; Azevedo, L.C. 43-Xia, J.; Zhu, D.; Wang, R.; Cui, Y.; Yan, Y.
Efeito da farinha de banana verde sobre o Crop resistant starch and genetic
perfil lipídico e glicídico de ratos Wistar. improvement: a review of recent advances.
Brazilian Journal of Food & Nutrition/Alimentos Theoretical and Applied Genetics. Vol. 131.
e Nutrição. Vol. 25. Núm.1. 2014. p. 7-11. Núm. 12. 2018.
Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo. v. 15. n. 95. p.729-742. Jul./Ago. 2021. ISSN 1981-
9919