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INTRODUÇÃO
A inclusão da disciplina de Análise Sociológica da Educação e Administração e
Gestão Escolar no currículo dos cursos de Formação de Professores tanto do
Ensino Primário como do Iº Ciclo do Ensino Secundário, visa facultar aos alunos
os elementos referenciais necessários para proceder à análise do Sistema
Educativo da República de Angola, enquanto processo e resultado de uma
construção social que abrange simultânea e diferencialmente:
Os elementos estruturantes do próprio sistema (políticas de educação,
nível de decisão e administração da instituição escolar compreendendo
as dinâmicas e representações sociais dos diferentes actores envolvidos.)
O processo de ensino-aprendizagem (modelos pedagógicos, atitudes e
expectativas, avaliação/certificação de conhecimentos …)
Procura, além disso fornecer-lhes alguns instrumentos que lhes permitam uma
reflexão sobre as práticas, tentando levar à rupturas do senso comum, abrindo
espaços de reflexão sobre o fenómeno educativo e desse modo participar de
forma informada nos projectos de mudança educativa que se desenvolvam à sua
volta e em especial nas instituições e comunidades em que venham a exercer a
sua actividade.
Assim, estes apontamentos pretendem adequar a formação do professor do
Ensino Primário e do Iº Ciclo do Ensino Secundário ao respectivo perfil, bem
como aos princípios estabelecidos pela Lei de Bases do Sistema de Educação
Angolano.
Assim sendo, pode-se dizer que em cada país a política educativa é definida
pelos órgãos de poder que específica as finalidades da educação, clarificando o
tipo de cidadão a formar pela escola.
Em Angola a Constituição da República e a Lei de Bases do Sistema Educativo
são os documentos onde se exprime a “missão” da escola em relação à
sociedade.
Resumindo, pode dizer-se que a missão da escola consiste em desenvolver
global e equilibradamente o aluno nos aspectos intelectual, socioeducativo,
psicomotor e cultural, com vista à sua correcta integração na sociedade.
As principais finalidades da escola são: instrutiva, socializadora,
personalizadora, produtiva e igualizadora.
Finalidade instrutiva, está relacionada com à transmissão de conhecimentos;
Finalidade socializadora, aquisição de valores, atitudes, hábitos e padrões de
comportamento socialmente recomendados;
Finalidade personalizadora, estimular o desenvolvimento das potencialidades
dos indivíduos e promover a sua auto-realização;
Finalidade produtiva, aquisição do saber, do saber fazer e das atitudes
necessárias ao ingresso no mercado de trabalho;
Finalidade igualizadora, contribuir para uma real igualdade de oportunidades
sociais entre os indivíduos;
FUNÇÕES DA ESCOLA
De maneira geral, todas as instituições sociais ajudam de alguma forma na
manutenção e continuidade da sociedade de que fazem parte. Denomina-se
funções de uma dada instituição social as formas através das quais essa
instituição auxilia o funcionamento do resto do sistema social num dado
momento.
A escola está simultaneamente ao serviço do indivíduo e da sociedade (o
indivíduo é sem dúvidas o primeiro beneficiário da educação que recebe).
As funções individuais da escola passam pela promoção do desenvolvimento
integral da personalidade, levando o sujeito ou indivíduo a uma plenitude
humana, adaptá-lo à vida (socializando-o, dando-lhe uma capacitação
profissional), para lhe tornar possível o êxito na vida, enriquece-lo com
conhecimentos, habilidades e bons costumes, elevá-lo de uma condição
puramente natural à esfera da cultura, etc.
As principais funções da escola são: função política, função económica, função
de selecção social, função de transmissão cultural e função de fornecimento de
inovadores.
A função política da educação, prende-se com duas preocupações básicas: a
necessidade de recrutar elites, os chefes políticos que dirigirão a sociedade no
futuro e a necessidade de assegurar a conformidade dos futuros cidadãos com
o sistema político vigente.
De forma geral, a política pode ser entendida como a ciência ou arte de governar
e a educação a acção exercida sobre as gerações mais adultas sobre aquelas
que ainda não se encontram preparadas para vida em sociedade.
Pode dizer-se que entre a política e a educação existe um processo de troca, ou
seja, a política fornece o dinheiro para adquirir os recursos materiais (didácticos
e de apoio) e pagar os professores, dando além disso legitimidade às escolas do
sistema e aqueles que as governam e em troca a política recebe em nome da
nação, a fidelidade e efectivos de pessoal com variadas competências, em
especial políticas e económicas.
A abordagem analítica das políticas educativas é um processo permanente de
reflexão e discussão dos problemas da escola, na busca de alternativas viáveis
a efectivação da sua intencionalidade (Trata-se de uma relação recíproca entre
a dimensão política e pedagógica da escola).
Sendo um bem social, a educação não escapa a acção da política que a
condiciona, pois, as possibilidades organizativas das escolas definem mais ou
menos restritivamente o conjunto de objectivos-tendência (política) da vida social
no âmbito educativo.
Neste âmbito, devemos distinguir entre os órgãos legislativos (parlamentos,
assembleias nacionais) e órgãos executivos (governo). Dizer que são os órgãos
legislativos que determinam os direitos educativos dos cidadãos ao passo que
cabe ou é da responsabilidade dos órgãos executivos criar as condições para a
concretização desses direitos, generalizando a oferta do serviço educativo para
toda a colectividade, assim como garantir a igualdade de direitos educativos a
todos os cidadãos (finalidade igualizadora da escola).
Assim pode dizer-se que a política educativa é constituída pelas medidas que a
sociedade adopta, através dos seus representantes nos cargos políticos, para
integrar os seus membros no grupo social.
A política educativa consiste em escolher determinados objectivos e dispor-se a
actuar para os conseguir.
Por fim dizer que a definição de uma política educativa se baseia em estudos e
diagnósticos prévios, isto é, no conhecimento e na apreciação dos seguintes
aspectos:
População
Sistema económico
Sistema político
Sistema educativo
A CONSTRUÇÃO DO SISTEMA ESCOLAR ANGOLANO
Falar do sistema escolar angolano remete-nos a retroceder ao período antes da
independência para ilustrarmos como estava estruturado o sistema educativo.
O surgimento do decreto de 14 de Agosto de 1845, marcou a presença do ensino
em Angola. Até então o número de alunos que frequentavam as escolas era
bastante reduzido, nunca tendo sido a escolarização uma preocupação do
regime colonial.
1
Estabeleceu uma nova estrutura do sistema de educação e ensino, em que o Ensino de base
regular passou a ter 9 anos de estudo ao contrário da estrutura anterior que abrangia 8 anos,
com os seguintes níveis: Iniciação 1ano; I nível 4 anos; II nível 2 anos; III nível 2 anos.
TAREFA
dos actores que a integram. Neste sentido à organização escolar é uma fantasia
colectiva, construída pelos relacionamentos recíprocos dos actores.
TAREFA
1. Distinga as características gerais da abordagem interpretativo-simbólica
das da abordagem científico-racional.
2. Explique por que se diz que a imagem existencial da escola é uma visão
do tipo psicológico.
3. Destaque os aspectos chaves da escola como democracia.
4. A escola é ou não uma miniatura global? Justifica a tua resposta.
5. Caracterize a visão da escola como cultura.
6. Em que sentido se pode afirmar que a escola é uma invenção humana,
uma fantasia colectiva?
UNIDADE II- IMAGENS ORGANIZACIONAIS DA ESCOLA
II.3- A abordagem crítica ou política
ABORDAGEM CRÍTICA OU POLÍTICA
Tentando superar as visões positivistas (abordagem científico-racional) e
interpretativas (abordagem interpretativo-simbólica), a abordagem crítica ou
política considera as organizações como construções sociais mediatizadas pela
realidade sociocultural e política mais ampla.
A abordagem crítica ou política faz a distinção entre uma realidade superficial
(morfologia organizativa) e uma realidade profunda (constituída por uma rede
complexa de relações, legitimadas pela estrutura social dominante) que a
morfologia organizativa serve para ocultar.
Está perspectiva de encarar a escola considera ainda a existência de uma
componente ideológica da organização que a protege do exame crítico. Trata-se
de elaborar um conhecimento que possa despertar a consciência das
contradições implicítas na vida organizacional e desvendar as formas de falsa
consciência por si geradas
O paradigma crítico caracteriza-se por pôr em destaque a relação entre a escola
e a sociedade.
Incluem-se nesta abordagem, as imagens reprodutora e reconstrutora da escola,
bem como a imagem da escola como arena política.
IMAGEM REPRODUTORA DA ESCOLA
Considera as escolas como parte do aparelho ideológico do estado, cuja
principal função consiste na reprodução da ordem social hierárquica existente
numa sociedade capitalista.
Esta imagem tem como principal objectivo, manter a hegemonia ideológica das
classes dominantes, através das práticas administrativas e pedagógicas, bem
como pelos próprios conteúdos curriculares;
A imagem reprodutora caracteriza-se pelo seguinte:
“A enumeração das tarefas do gestor escolar pode ser feita a partir de três
opções epistemológicas diferenciadas, nomeadamente: com base na análise de
documentos legais, nas tradições e nos modos de conceber a função directiva e
a escola como organização.”
Vários estudos levados a cabo nesta área mostram que o gestor escolar se
divide entre funções de gestão e administração não directamente ligadas a
educação e, por outro lado, a liderança educativa.
Ainda assim pode concluir-se que as principais dimensões da função directiva
são: gestão curricular, gestão administrativa e relações interpessoais.
O gestor escolar é simultaneamente o chefe do pessoal e o líder ou coordenador
pedagógico. As tarefas do gestor/director escolar podem agrupar-se em sete
categorias:
Aconselhamento pedagógico ou de supervisão do trabalho docente;
Coordenação;
Facilitação do clima social (ambiente organizacional);
Controlo;
Difusão da informação;
Gestão (recursos);
Representação
TAREFA
1 Enumere as tarefas da gestão escolar.
a) Explique pelo menos duas das tarefas.
UNIDADE III – ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO ESCOLAR
III.3 – A gestão dos recursos humanos
A GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS (PROFESSORES E FUNCIONÁRIOS)
Apesar da aposta nas tecnologias, a verdade é que os recursos humanos são o
elemento fundamental para melhorar a qualidade das escolas, claro que os
recursos materiais podem contribuir para essa melhoria, mas só depois de os
recursos humanos terem objectivos claros e se organizarem para os conseguir.
A gestão dos recursos humanos na escola apresenta dois objectivos essenciais:
Conseguir que cada um dos membros da organização escolar
(professores, funcionários e alunos) tenha ou adquira as competências
necessárias ao cargo que desempenha, tenha ou adquira motivação para
colocar as suas capacidades, ideias e projectos ao serviço da escola e
sinta que as suas metas e ambições pessoais estão em sintonia com as
metas da própria escola;
Conseguir que o conjunto dos recursos humanos ao serviço na escola se
coordene com vista à concretização de metas comuns;
Dizer que na gestão de recursos humanos na escola existem três aspectos
centrais:
A formação contínua de professores e funcionários, a motivação dos recursos
humanos e a gestão de conflitos na organização escolar.
Dizer que a tutoria pode considerar-se como uma acção personalizadora porque;
Contribui para a educação integral dos alunos;
Ajusta a resposta educativa às necessidades individuais;
Orienta o processo de tomada de decisões antes dos diferentes rumos de
formação e das diferentes opções profissionais;
Favorece as relações no seio do grupo, como elemento fundamental de
aprendizagem cooperativa, da socialização;
A figura do professor tutor deve se5r entendida como a de um profissional que
conhecendo bem os currículos e as opções dos alunos e das suas famílias,
promove as acções necessárias para ajustar posições e expectativas.
A ORGANIZAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DOS ALUNOS NA AULA
Sendo que o núcleo básico do trabalho na escola do aluno é a aula, é importante
a existência de mecanismos que facilitem uma participação activa do aluno e lhe
permitam exprimir as suas preocupações, interesses e inquietações.
Em muitas escolas de vários países, a fórmula encontrada para concretizar esse
objectivo chama-se assembleia de turma. Esta assembleia poderá realizar-se
semanal ou quinzenalmente, onde poderão ser passadas diversos aspectos do
funcionamento do grupo de alunos, para além de fornecer aos alunos um tempo
livre de expressão das suas ideias, sentimentos em relação ao funcionamento
da turma.
A ORGANIZAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DOS ALUNOS NA ESCOLA
Ao nível da escola podem co-existir dois tipos de organização:
Um modo de organização dos alunos decalcado do modo como a escola os
organiza (por anos, classes, turmas): os delegados de turma e assembleia de
delegados. Sem que a assembleia dos delegados é uma reunião dos
representantes da totalidade de turmas existentes na escola.
Um modo organização dos alunos que é da sua iniciativa e não se reproduz a
estrutura de organização existente para efeitos do processo de ensino e
aprendizagem: a associação dos estudantes.
UNIDADE III – ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO ESCOLAR
III.5- A avaliação do trabalho da escola
AVALIAÇÃO DO TRABALHO DA ESCOLA
A avaliação das escolas é uma tarefa complexa e difícil. Complexa, porque a
escola já é em si uma organização complexa e porque avaliar é também um
processo complexo.
Para além disso, verifica-se a tendência para os professores assumirem uma
atitude de recusa da avaliação das escolas, ou temerem que seja usada como
instrumento de controlo técnico e/ou ético-político do seu trabalho.
A avaliação das escolas pode ser externa (quando os avaliadores não pertencem
a escola) ou interna (quando se trata de uma auto-avaliação, isto é, é feita pela
própria escola). Em qualquer um dos casos a iniciativa pode ser interno ou
externo.
ANO LECTIVO – 2022/2023 31
MANUAL DE ANÁLISE SOCIOLÓGICO DA EDUCAÇÃO/ADMINISTRAÇÃO & GESTÃO ESCOLAR
BIBLIOGRAFIA
GASPAR, Paulo e DIOGO, Fernando (2013). Sociologia da Educação e
Administração Escolar. Porto: Plural Editores.
LAKATOS, Eva Maria e MARCONI, Maria de Andrade (2010). Sociologia Geral.
7 ª Edição, São Paulo: Editora Atllas S.A
SILEPO, Celestina (2012), “A formação de Professores do Primeiro Ciclo do
Ensino Secundário em Angola. Caso do Instituto Garcia Neto (1975-2009).”
Revista de Ciências de Educação e Estudos Multidisciplinares – KULONGA, nº
8, pp. 41 – 53.
SILEPO, Celestina (2014), “Reformas no Ensino Primário em Angola (1975-
2010).” Revista de Ciências de Educação e Estudos Multidisciplinares –
KULONGA, nº 9, pp.
Lei 13/01 de 31 de Dezembro ʺLei de Bases do Sistema de Educaçãoʺ, Diário da
República Iª serie n.º 65 de 31 de Dezembro de 2001.
Lei 17/16 de 07 de Outubro ʺLei de Bases do Sistema de Educação e Ensinoʺ,
Diário da República Iª serie n.º 170 de 07 de Outubro de 2016.
Lei 32/20 de 12 de Agosto, que altera a Lei 17/16 de 07 de Outubro ʺLei de Bases
do Sistema de Educação e Ensinoʺ, Diário da República Iª serie n.º 123 de 12 de
Agosto de 2020.
NGULUVE, Alberto Kapitango (2010), Educação Angolana: Políticas de
Reformas do Sistema Educacional. 1ª Edição, São Paulo: Biscalchin Editor Lda.