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MANUAL DE ANÁLISE SOCIOLÓGICO DA EDUCAÇÃO/ADMINISTRAÇÃO & GESTÃO ESCOLAR

INTRODUÇÃO
A inclusão da disciplina de Análise Sociológica da Educação e Administração e
Gestão Escolar no currículo dos cursos de Formação de Professores tanto do
Ensino Primário como do Iº Ciclo do Ensino Secundário, visa facultar aos alunos
os elementos referenciais necessários para proceder à análise do Sistema
Educativo da República de Angola, enquanto processo e resultado de uma
construção social que abrange simultânea e diferencialmente:
 Os elementos estruturantes do próprio sistema (políticas de educação,
nível de decisão e administração da instituição escolar compreendendo
as dinâmicas e representações sociais dos diferentes actores envolvidos.)
 O processo de ensino-aprendizagem (modelos pedagógicos, atitudes e
expectativas, avaliação/certificação de conhecimentos …)
Procura, além disso fornecer-lhes alguns instrumentos que lhes permitam uma
reflexão sobre as práticas, tentando levar à rupturas do senso comum, abrindo
espaços de reflexão sobre o fenómeno educativo e desse modo participar de
forma informada nos projectos de mudança educativa que se desenvolvam à sua
volta e em especial nas instituições e comunidades em que venham a exercer a
sua actividade.
Assim, estes apontamentos pretendem adequar a formação do professor do
Ensino Primário e do Iº Ciclo do Ensino Secundário ao respectivo perfil, bem
como aos princípios estabelecidos pela Lei de Bases do Sistema de Educação
Angolano.

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OBJECTIVOS DA DISCIPLINA NO CURSO


A Análise Sociológica da Educação e Administração e Gestão Escolar tem por
objectivo fundamental facultar aos futuros professores quadros teóricos de
referência, conceitos e metodologias – que lhes permitam:
 Perspectivar as funções da educação tendo em conta a análise da
realidade sociológica envolvente;
 Perspectivar as funções da educação tendo em conta os padrões de
administração e gestão adoptados pela escola e ou pelo sistema
educativo;
 Conhecer os métodos da sociologia aplicados à pesquisa sociológica,
com vista a melhorar o processo educativo;
 Implementar decisões respeitantes aos processos de ensino-
aprendizagem, de vivência institucional e de relação com a comunidade;
 Reflectir sobre o papel do professor e da escola na criação de identidades
sociais, culturais e educativas específicas;
 Analisar os fundamentos sociais do desenvolvimento pessoal e suas
repercussões na integração e sucesso escolar dos alunos;
 Analisar os fundamentos administrativos e de gestão da escola e sua
repercussão para o desenvolvimento, integração e sucesso escolar dos
alunos e do processo docente educativo em geral;
 Preparar o jovem para uma atitude reflexiva e uma actuação sócio-
profissional consciente;
 Analisar o actual quadro de organização político-educativo da escola à luz
dos conhecimentos adquiridos;
 Assumir uma posição coerente com os valores ético-profissionais na sua
prática pedagógica.

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UNIDADE I- A ESCOLA COMO INSTITUIÇÃO E ORGANIZAÇÃO SOCIAL


I.1 – A construção social da educação escolar
CONCEITO DE INSTITUIÇÃO
O homem como ser social durante toda à sua vida faz parte de várias instituições
sociais, quer de carácter político, religioso, económico, social, etc.
A instituição pode ser entendida por um conjunto de actos ou ideias já
estabelecidas, que os indivíduos ocupam ante si e que lhes impõem com maior
ou menor rigor.
O principal objectivo de qualquer instituição social prende-se com à satisfação
das necessidades sociais básicas do homem.
As instituições sociais consistem numa estrutura relativamente permanente de
padrões, papéis e relações que os indivíduos realizam segundo determinadas
formas sancionadas e unificadas, com o objectivo de satisfazer as necessidades
sociais básicas.
As principais características das instituições sociais são: finalidade,
permanência, estrutura, unificadas, possuem valores
As instituições podem ainda ser definidas como:
 Conjunto de relações, pessoas e recursos destinados a satisfazer
necessidades sociais específicas (é o caso da escola);
 Um complexo de normas estabelecidas e aceites como obrigatórias pela
sociedade (é o caso do casamento);
Existem vários tipos de instituições sociais, mas as mesmas segundo a sua
origem, podem ser enquadradas em dois grupos principais, nomeadamente,
instituições de origem super-estrutural e instituições de origem infra-estrutural.
As instituições de origem super-estrutural podem ser ideológicas, as
organizações jurídicas, culturais, religiosas, etc. Ao passo que as instituições de
origem infra-estrutural podem ser as associações, os grémios, as organizações
político-administrativas, sócio-económicas e convivências da sociedade.
A CONSTRUÇÃO SOCIO- HISTÓRICA DA ESCOLA
Durante séculos, a escola não existia ou o seu papel era pouco significativo,
sendo à família a responsável em cumprir com a tarefa de transmissão cultural
e da preparação das crianças para uma profissão ou ofício. A educação era feita
de um modo não organizado e algo difuso: educava-se e recebia-se educação
ao mesmo tempo.
Com advento do capitalismo e o aparecimento das cidades, o documento escrito
ganha uma preponderância tal que se começa a impor a necessidade de
alfabetizar a população.
Os avanços técnicos, o movimento de secularização da sociedade iniciado pelo
iluminismo, os ideais da Revolução Francesa de 1789 e posteriormente a
industrialização, foram contribuindo para a ideia de que era necessário criar um
sistema público de educação, servido por uma rede de escolas públicas,
susceptíveis de serem frequentadas pelas grandes massas.
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Entretanto com o avançar dos tempos surgem as primeiras escolas, destinadas


a satisfazer necessidades sociais específicas: formar os clérigos, os juristas e os
funcionários da administração pública. A maioria da população empregue no
trabalho dos campos, permanecia analfabeta e afastada da escola.
Se analisarmos, do ponto de vista histórico, o longo processo de aparecimento
e consolidação da escola como a instituição mais influente na socialização dos
indivíduos e na tarefa de garantir a transmissão cultural, encontramos motivos
de ordem ideológica, politica, social e económica.
Resumindo pode-se concluir que a educação é um fenómeno social por várias
razões ou motivos: efectua-se no meio social, o seu objecto próprio são
conteúdos culturais, persegue fins que são sociais, cumpre determinadas
funções sociais, os factores que estão na sua origem são de índole social, está
sujeita a condicionalismos sociais de todo o tipo (variações demográficas,
transformações económicas e políticas, regulamentações jurídicas e imposições
administrativas.
TAREFA
1- Do ponto de vista histórico, descreva as razões ou motivos do
aparecimento da escola.
2- A educação é um fenómeno social por vários motivos. Quais são os
motivos?
3- Define instituição segundo a matéria estuda.
4- Demonstre, por palavras sus, que a educação não se reduz à instrução.
5- “A educação escolar responde a necessidades e exigências socias, bem
como a necessidades e aspirações dos indivíduos.” Justifique a
afirmação.
UNIDADE I- A ESCOLA COMO INSTITUIÇÃO E ORGANIZAÇÃO SOCIAL
I.2 – Finalidade e funções da escola: Sentido e significado da acção educativa.
FINALIDADES DA ESCOLA
Para falar-se de finalidades e funções da escola primeiramente é necessário
estabelecer as semelhanças e diferenças entre os dois conceitos, pois apesar
que do ponto de vista prático os dois conceitos aproximam-se de tal modo que,
na linguagem corrente, usamos essas expressões como se referissem à mesma
realidade, existem diferenças entre ambas.
O conceito de finalidades refere-se a intenções que presidem (antecipam) à
acção e são, portanto, formuladas num momento anterior à dita acção, por fim
dizer que as finalidades da escola são constituídas pelo conjunto das intenções
que presidem à acção.
Portanto, quando falamos de finalidades, estamos a falar dos fins ou objectivos
em vista, de algo que queremos que aconteça no futuro ou de resultados que
queremos que surjam em consequência da nossa acção.
O.B.S. É necessário ter em conta que nem sempre conseguimos com as nossas
acções alcançar ou atingir as finalidades estabelecidas, surgindo muita das
vezes resultados imprevistos.

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Assim sendo, pode-se dizer que em cada país a política educativa é definida
pelos órgãos de poder que específica as finalidades da educação, clarificando o
tipo de cidadão a formar pela escola.
Em Angola a Constituição da República e a Lei de Bases do Sistema Educativo
são os documentos onde se exprime a “missão” da escola em relação à
sociedade.
Resumindo, pode dizer-se que a missão da escola consiste em desenvolver
global e equilibradamente o aluno nos aspectos intelectual, socioeducativo,
psicomotor e cultural, com vista à sua correcta integração na sociedade.
As principais finalidades da escola são: instrutiva, socializadora,
personalizadora, produtiva e igualizadora.
Finalidade instrutiva, está relacionada com à transmissão de conhecimentos;
Finalidade socializadora, aquisição de valores, atitudes, hábitos e padrões de
comportamento socialmente recomendados;
Finalidade personalizadora, estimular o desenvolvimento das potencialidades
dos indivíduos e promover a sua auto-realização;
Finalidade produtiva, aquisição do saber, do saber fazer e das atitudes
necessárias ao ingresso no mercado de trabalho;
Finalidade igualizadora, contribuir para uma real igualdade de oportunidades
sociais entre os indivíduos;
FUNÇÕES DA ESCOLA
De maneira geral, todas as instituições sociais ajudam de alguma forma na
manutenção e continuidade da sociedade de que fazem parte. Denomina-se
funções de uma dada instituição social as formas através das quais essa
instituição auxilia o funcionamento do resto do sistema social num dado
momento.
A escola está simultaneamente ao serviço do indivíduo e da sociedade (o
indivíduo é sem dúvidas o primeiro beneficiário da educação que recebe).
As funções individuais da escola passam pela promoção do desenvolvimento
integral da personalidade, levando o sujeito ou indivíduo a uma plenitude
humana, adaptá-lo à vida (socializando-o, dando-lhe uma capacitação
profissional), para lhe tornar possível o êxito na vida, enriquece-lo com
conhecimentos, habilidades e bons costumes, elevá-lo de uma condição
puramente natural à esfera da cultura, etc.
As principais funções da escola são: função política, função económica, função
de selecção social, função de transmissão cultural e função de fornecimento de
inovadores.
A função política da educação, prende-se com duas preocupações básicas: a
necessidade de recrutar elites, os chefes políticos que dirigirão a sociedade no
futuro e a necessidade de assegurar a conformidade dos futuros cidadãos com
o sistema político vigente.

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Em relação à preparação dos futuros dirigentes políticos, o processo seria o


seguinte: selecção dos mais aptos com base na inteligência e em certos traços
de carácter. As escolas de ensino superior de elite promovem uma educação
para a chefia (consistindo na transmissão do sentido de dever e da
responsabilidade para com à pátria).
Em relação a conformidade dos futuros cidadãos trata-se de um processo de
socialização política tendente a despertar a lealdade ao sistema político,
transmitindo o desejo e os conhecimentos necessários à participação política
dos cidadãos.
A função política da escola está associada à função de controlo social que
consiste em promover nos indivíduos as ideias e as atitudes que interessam aos
dirigentes da sociedade.
A função económica, prende-se com a necessidade de fornecer ao sistema
económico, para todos os níveis das forças de trabalho, o contingente de
indivíduos com a quantidade e qualidade de educação adequadas às
circunstâncias técnicas do momento.
Sendo a divisão do trabalho, uma característica fundamental das sociedades,
torna-se necessária a formação técnica dos indivíduos, orientada para a sua
especialização laboral.
A educação cumpre esta missão esta missão ao dar aos indivíduos tanto uma
formação básica, que lhes proporciona os instrumentos gerais (leitura, escrita,
cálculo) de toda actividade laboral, como uma formação apropriada às profissões
especializadas.
O sistema educativo presta serviço à economia de quatro formas:
 As relações sociais existentes nas escolas reproduzem as relações
sociais existentes nos locais de trabalho, pelo que, quando chegarem ao
mercado de trabalho já estão preparados para esta situação;
 Ensina as aptidões cognitivas e técnicas necessárias, na medida em que
há um ajustamento do currículo escolar às necessidades da economia;
 Inculca os traços de personalidade adequados;
 Encoraja a aceitação das desigualdades;
A função de selecção social, diz respeito ao papel central do sistema educativo,
seleccionando os mais aptos entre toda a população, distribuindo-os ao longo da
pirâmide de estratificação social.
A distribuição dos alunos por nível ou por diferentes tipos de escola são tidos
como mecanismos ao serviço desta função.
A função de transmissão cultural, funciona como condição necessária para
assegurar a continuidade social e assegurar a adaptação dos indivíduos ao
grupo social.
Para assegurar a conformidade social é necessário que haja coesão social que
está dependente da existência de modos de pensar, sentir e agir (a que
chamamos cultura) que sejam partilhados pelos membros da mesma sociedade.

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Ao transmitir a herança cultural (conhecimentos, técnicas, crenças, valores,


atitudes e hábitos, manifestações artísticas, ideias, usos e costumes, temores e
desejos, etc.) aos novos membros através da escola, a sociedade está a
trabalhar para obter coesão necessária à sua continuidade. “A cultura é o
cimento que nos une uns aos outros e une a sociedade”
O acesso a herança cultural é também condição necessária para adaptação do
indivíduo às exigências da sociedade, fazendo de cada um membro dessa
mesma sociedade.
Por fim dizer que viver é estar integrado na sociedade, e esta integração tem as
suas exigências e o indivíduo tem de aprende-las, e tais aprendizagens são
promovidas pela educação.
A função de fornecimento de inovadores, deriva de uma necessidade oposta à
que está na origem da função de transmissão cultural.
A função de fornecimento de inovadores tem a sua origem na necessidade de
mudanças que a sociedade deve introduzir em si mesma para sobreviver, sejam
elas de natureza técnica, política ou artística.
A educação cumpre esta função ao fomentar a capacidade crítica face às
realidades sociais existentes ao formar uma vontade ao serviço das ideias e ao
estimular a criatividade individual.
Ao aperfeiçoar os indivíduos, a educação aperfeiçoa também o grupo,
melhorando a sua qualidade humana e o seu nível social.
Por fim dizer que para além da coesão social, a mudança também é necessária
para sobrevivência da sociedade.
TAREFA
1. Defina finalidade.
a) Quais as de uma escola?
2. Defina funções.
a) Quais as de uma escola?
3. Qual é a relação existente entre finalidade e funções?
4. Qual é a diferença entre finalidade e funções?
UNIDADE I- A ESCOLA COMO INSTITUIÇÃO E ORGANIZAÇÃO SOCIAL
I.3 – Abordagem analítica das políticas educativas: A construção do sistema
escolar angolano.
ABORDAGEM ANALÍTICA DAS POLÍTICAS EDUCATIVAS
Para o funcionamento de qualquer instituição ou organização social é imperioso
que se estabeleça determinadas normas ou regras que garantam o bom
funcionamento das mesmas.
Em qualquer sociedade, país ou estado-nação é sempre o detentor do poder
político que define a política educativa e que garante a inserção dos cidadãos
nas mais variadas instituições de ensino.

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De forma geral, a política pode ser entendida como a ciência ou arte de governar
e a educação a acção exercida sobre as gerações mais adultas sobre aquelas
que ainda não se encontram preparadas para vida em sociedade.
Pode dizer-se que entre a política e a educação existe um processo de troca, ou
seja, a política fornece o dinheiro para adquirir os recursos materiais (didácticos
e de apoio) e pagar os professores, dando além disso legitimidade às escolas do
sistema e aqueles que as governam e em troca a política recebe em nome da
nação, a fidelidade e efectivos de pessoal com variadas competências, em
especial políticas e económicas.
A abordagem analítica das políticas educativas é um processo permanente de
reflexão e discussão dos problemas da escola, na busca de alternativas viáveis
a efectivação da sua intencionalidade (Trata-se de uma relação recíproca entre
a dimensão política e pedagógica da escola).
Sendo um bem social, a educação não escapa a acção da política que a
condiciona, pois, as possibilidades organizativas das escolas definem mais ou
menos restritivamente o conjunto de objectivos-tendência (política) da vida social
no âmbito educativo.
Neste âmbito, devemos distinguir entre os órgãos legislativos (parlamentos,
assembleias nacionais) e órgãos executivos (governo). Dizer que são os órgãos
legislativos que determinam os direitos educativos dos cidadãos ao passo que
cabe ou é da responsabilidade dos órgãos executivos criar as condições para a
concretização desses direitos, generalizando a oferta do serviço educativo para
toda a colectividade, assim como garantir a igualdade de direitos educativos a
todos os cidadãos (finalidade igualizadora da escola).
Assim pode dizer-se que a política educativa é constituída pelas medidas que a
sociedade adopta, através dos seus representantes nos cargos políticos, para
integrar os seus membros no grupo social.
A política educativa consiste em escolher determinados objectivos e dispor-se a
actuar para os conseguir.
Por fim dizer que a definição de uma política educativa se baseia em estudos e
diagnósticos prévios, isto é, no conhecimento e na apreciação dos seguintes
aspectos:
 População
 Sistema económico
 Sistema político
 Sistema educativo
A CONSTRUÇÃO DO SISTEMA ESCOLAR ANGOLANO
Falar do sistema escolar angolano remete-nos a retroceder ao período antes da
independência para ilustrarmos como estava estruturado o sistema educativo.
O surgimento do decreto de 14 de Agosto de 1845, marcou a presença do ensino
em Angola. Até então o número de alunos que frequentavam as escolas era
bastante reduzido, nunca tendo sido a escolarização uma preocupação do
regime colonial.

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Em 1973, antes da independência, o número de alunos que frequentava a escola


era de 512.942 dos quais um terço pertencia a população portuguesa.
O sistema educativo colonial estava dividido em vários subsistemas: o do Ensino
Primário, o de Ensino Liceal e Técnico Profissional (ou seja, o subsistema do
Ensino Secundário), o do Ensino Superior e o de Formação de Professores.
Nota: O ensino colonial português marcou presença em Angola até 1977.
A proclamação da independência em 1975, a constituição da República Popular
de Angola na altura aprovada, consagrou a gratuitidade e obrigatoriedade do
Ensino de Base, bem como a laicidade da Educação e da Instrução, como bases
da edificação do sistema educativo angolano.
A lei nº 4/75 de 9 de Dezembro do conselho da Revolução aprovou a
nacionalização do ensino.
Em 1976 com base nas recomendações do 3º plenário do Comité Central do
Movimento Popular de Libertação de Angola, realizado de 23 á 29 de Outubro,
foi aprovada a lei nº 72/76 de 23 de Novembro que cria o Ministério da Educação
(art. 2º) com a finalidade de regular o funcionamento do sistema educativo
angolano.
O primeiro congresso do MPLA, realizado em 1977, definiu orientações
fundamentais do desenvolvimento político, económico e social, baseada na
ideologia marxista-leninista.
O mesmo congresso definiu a política educativa como um conjunto de medidas
e resoluções que determinada comunidade social empreende no sentido de
dirigir, elevar e fazer progredir a educação, dependendo esta do sistema político-
social do país.
A aprovação da implementação do primeiro e novo sistema de educação em
Angola após independência deu-se através do decreto nº 26 de 27 de Janeiro
de 1977, sendo que a política educativa apresentava os seguintes objectivos:
 Formar novas gerações e todo o povo trabalhador com base na ideologia
marxista-leninista;
 Desenvolver as capacidades intelectuais, psíquicas e politécnicas de
maneira que o povo possa participar activamente na reconstrução da
nova sociedade;
 Desenvolver a consciência nacional e o respeito pelos valores
tradicionais;
 Desenvolver o amor pelo estudo e pelo trabalho colectivo e o respeito
pelos bens que constituíam a propriedade do povo angolano;
 Desenvolver a unidade nacional;
 Garantir o desenvolvimento económico-social e a elevação do nível de
vida da população.
Os princípios de base para a reformulação do sistema de educação e ensino
passaram a ser implementados em todas as instituições que trabalhavam para
a educação e instrução dos cidadãos em 1978.

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FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM ANGOLA


A política de formação de professores em Angola começou a intensificar-se a
partir dos anos 60, quando, no período do estado novo (como província
ultramarina) até a queda do regime salazarista em abrir de 1974, foi
caracterizada por várias categorias: professores do posto, professores monitores
e professores eventuais.
Em 1975, após a proclamação da independência, a 11 de Novembro, foi
instaurado o sistema politico, económico e social de regime socialista. A nova
Lei Constitucional Angolana aprovada consagrou a educação como um direito
para todos cidadãos, independentemente do sexo, cor, raça, etnia e crença
religiosa. Com base na Lei nº 72/76 de 23 de Novembro, artigo 2, foi criado o
Ministério da Educação, que passo a adoptar a política educativa e a regular o
funcionamento do sistema educativo em Angola.
O ano de 1978 foi o da implementação do novo sistema educativo e do Despacho
nº 14/78 de Abril sobre a criação dos Institutos Normais de Educação; Por
exemplo, terá sido criado o Instituto Garcia Neto, em Luanda.
Após a independência, sob o novo sistema político, foi criado o novo currículo de
formação profissional docente angolano a partir da escola de formação de
professor. Adoptou-se a nova política educacional que foi aplicada a partir de
1978 cuja aplicação iniciou com o surgimento do Instituto Garcia Neto. A luz das
transformações políticas, económicas e sociais que se operaram ao longo dos
anos, os currículos sofreram algumas mudanças com a aprovação da Lei de
Bases do Sistema Educativo (Lei nº 13/01 de 31 de Dezembro), da reforma
educativa em Angola e implementada a coberto do Decreto nº 2/05 de 14 de
Janeiro.
O processo de formação de professores nos primeiros anos após a
independência, passou a ser considerado como emergência de intervenção do
estado angolano no ensino. Esta foi decisiva para a transformação dos
professores em corpo profissional, na medida em que definiu regras uniformes
para a sua seleção e nomeação.
Neste âmbito foram criados vários cursos: curso de formação acelerada de
professores, curso de superação de professores e curso de requalificação de
professores. O contexto ditou a existência de categorias de “professores com
formação Acelerada”, “professores de formação Básica”, “professores de
formação Técnica Média” e de “Formação Superior”.
Assim, a formação de professores em Angola tomou um novo rumo, tendo em
conta as estatísticas registadas após a independência, em 1975 só 213
professores tinham habilitações literárias do Magistério do Ensino Colonial
português.
O ingresso ao curso de formação de professores, nos primeiros anos de abertura
dos Institutos Normais, processava-se por intermedio de um processo de
selecção e encaminhamento, tendo sido, posteriormente, instituído o regime de
exame de aptidão.
Devido à carência de professores em quantidade e qualidade, com habilitação
necessária para leccionar, o estado priorizou a formação de professores. Nesta

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perspectiva, justificou-se o recurso ao recrutamento de professores estrangeiros


para apoio ao ensino e à formação local de professores. O Ministério da
Educação enquadrou nos diferentes níveis do Sistema Educativo
(principalmente no subsistema de formação de professores) um corpo docente
variável entre estrangeiros e nacionais.
O corpo docente, na sua maioria, era integrado por estrangeiros de diversas
nacionalidades: Cubados, Búlgaros, Portugueses, Congoleses, Alemãs,
Checoslovacos, Britânicos, Vietnamitas e Zairense. Neste período por exemplo
no Instituto García Neto existiram 17,30% professores Angolanos. Os de outras
nacionalidades caraterizaram-se assim: Cubanos 38,46%, Búlgaro 21,15%,
Congoleses 9,61%, Português 3,84% e 1,92% para os outros países. Estas
percentagens variavam à medida que a necessidade foi aumentando a carência
de professores angolanos qualificados ou habilitados para lecionar quer no
instituto, quer noutras instituições escolares.
Com as mudanças políticas, económicas e sociais havidas em 1991, em Angola,
o corpo docente cubano pôs fim a sua prestação e o instituto passou a funcionar
com o corpo docente maioritariamente constituído por angolanos. Ao longo dos
anos lectivos subsequentes registou-se o aumento do número de professores
angolanos, de tal modo que no ano lectivo 1999/2000 o corpo docente passou a
integrar apenas angolanos formados na única instituição do ensino superior
então, a Universidade Agostinho Neto, havendo também outros formados na
República de Cuba.
Durante os primeiros anos de funcionamento do Instituto Garcia Neto, nos anos
80, os candidatos admitidos como alunos possuíam como habilitações o 3º e 4º
ano do liceu (conforme a designação conhecida na época colonial) e
trabalhadores-estudantes ligados ao Ministério da Educação, os quais
pretendiam atingir a qualificação de nível médio. A heterogeneidade do corpo
discente inscrito foi marcada pela origem migratória, tendo em conta a situação
política e militar que marcou o momento histórico.
Dos alunos matriculados 12,07% frequentavam aulas no período diurno, tendo
sido o maior crescimento verificado nos anos lectivos de 1988/1989 e 1989/1990.
30,69% corresponderam a dois períodos, isto é, diurno e noturno. A mobilidade
social registada nos anos de 1994/1995 e 1997/1998 mostrou que nesta época
o número de alunos foi altíssimo.
Neste sentido, a formação de professores no instituto passou a ter uma nova
modalidade da profissão docente, ou seja, mais virada para uma aprendizagem
geral. Deste modo, ao concluírem os estudos, os alunos, ao invés de
continuarem a formação nos cursos do Instituto Superior de Ciências de
Educação, ingressavam para outras faculdades, com destaque para, por
exemplo, Faculdade de Medicina ou Direito.
Com o surgimento das novas estruturas físicas, nos períodos entre 2000 à 2009,
o número de alunos continuou de maneira sistemática a progredir sem muitas
alterações, embora em 2000 o número de alunos matriculados tenha atingido o
pico de 3.944. Na altura, a procura foi maior e a oferta menor pelo facto de na
província de Luanda funcionar apenas um único instituto de formação de
professores (nível médio).

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ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA EDUCATIVO ANGOLANO


Após o período de transição, o sistema educativo definido em 1977 e 1978
passou a vigorar (considerado novo Sistema Educativo da República de Angola)
e compreendia o subsistema do ensino de base; subsistema do ensino técnico-
profissional; subsistema do ensino superior.
Foram promulgados dois documentos sucessivos: o primeiro correspondeu ao
Decreto nº 26, de 27 de Janeiro de 1977, e o segundo, que revogou o anterior,
é o Decreto nº 40, de 14 de Maio de 19801. Este último documento estabeleceu
a estrutura vigente do ensino de base regular que prevaleceu até à reforma do
Sistema Educativo, aprovado em Dezembro de 2001, através da lei de bases do
Sistema de Educação (lei nº13/01 de 31 de Dezembro) e implementado por
intermédio do decreto nº2/05 de 14 de Janeiro.
No entanto, a partir de 1978 a estrutura do sistema educativo funcionou com o
subsistema do ensino de base dividido em duas estruturas paralelas: A estrutura
da formação regular e a estrutura da formação de adultos.
Na segunda reforma o sistema educativo passou a ser configurado através de
um sistema unificado, constituído pelos seguintes subsistemas de ensino:
 Subsistema de educação Pré-Escolar (Cresce e Jardins Infantis)
 Subsistema de Ensino Geral (Ensino Primário e Secundário)
 Subsistema do Ensino Técnico – Profissional (Formação profissional
básica e Formação média técnica)
 Subsistema de Formação de Professores (Formação média normal e
ensino superior pedagógico)
 Subsistema de Educação de Adultos (Ensino Primário – alfabetização e
pós- alfabetização bem como ensino secundário onde temos 1º e 2º ciclo)
 Subsistema de Superior (Graduação – Bacharelato e Licenciatura bem
como Pós-Graduação - pós-graduação académica e profissional)
A lei que regula a educação em Angola é a 17/16 de 07 de Outubro, em conjunto
com a lei 32/20 de 12 de Agosto, (Lei que altera a lei 17/16 de 07 de Outubro).
Conhecida como Lei de Bases do Sistema de Educação e Ensino, que
estabelece os princípios e as bases gerais do Sistema de educação e ensino.
Revoga a lei nº 13/01 de 31 de Dezembro e toda a legislação que contrarie o
disposto na presente Lei.

1
Estabeleceu uma nova estrutura do sistema de educação e ensino, em que o Ensino de base
regular passou a ter 9 anos de estudo ao contrário da estrutura anterior que abrangia 8 anos,
com os seguintes níveis: Iniciação 1ano; I nível 4 anos; II nível 2 anos; III nível 2 anos.

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UNIDADE I- A ESCOLA COMO INSTITUIÇÃO E ORGANIZAÇÃO SOCIAL


I.4 – Estruturas social e funcionamento da escola – o caso angolano.
ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO SISTEMA EDUCATIVO EM ANGOLA
A abordagem da estrutura e funcionamento do sistema educativo em Angola
leva-nos a dois períodos distintos, nomeadamente:
 Estrutura e funcionamento do sistema educativo em Angola aprovado em
1977;
 Actual estrutura e funcionamento do sistema educativo em Angola;
ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO SISTEMA DE EDUCAÇÃO EM
ANGOLA APROVADA EM 1977
A estrutura do primeiro e novo sistema de educação aprovada em 1977 estava
constituída da seguinte forma:
 Ensino de Base;
 Ensino Médio;
 Ensino Superior;
O ensino de base era dividido em duas estruturas: formação regular e formação
de adultos.
A formação regular realizava-se na escola de base e era formada por 8 classes,
distribuídas por três níveis de formação:
Iº Nível que correspondia a 1ª, 2ª, 3ª, e 4ª classes;
IIº Nível que correspondia a 5ª e 6ª classes;
IIIº Nível que correspondia a 7ª e 8ª classes;
Nota: No ensino de base na formação regular ingressavam alunos dos 6 aos 14
anos ao passo que na formação de adultos ingressavam alunos com 16 e 17
anos de idade.
A educação pré-escolar, sua organização e responsabilidade, dependiam
directamente da Secretaria de Estado dos Assuntos Sociais, sendo as crianças
integradas em creches, jardins infantis e jardins – escola, visando o seu
divertimento cultural e sadio das mesmas, os jogos e a vida colectiva. O
Ministério da Educação encarregava-se da elaboração dos programas e da
supervisão pedagógica.
Três anos depois, o decreto lei nº 40, de 14 de Maio de 1980 criava uma nova
estrutura do sistema de educação e ensino: o ensino de base regular passou a
compreender 9 anos de estudo com a integração de um ano de iniciação, tendo
o Iº nível 4 anos, o IIº nível 2 anos e o IIIº nível 2 anos.Contudo os objectivos
quer da formação regular como da formação de adultos passavam por:
 Dar ao aluno os conhecimentos e mecanismos de pensamento
necessários para a compreensão dos fenómenos naturais e sociais que o
rodeavam;

ANO LECTIVO – 2022/2023 13


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 Adequada utilização dos instrumentos do conhecimento para que


estivessem aptos a poder exercer uma profissão no final da formação
através de um estágio ou ingresso num instituto médio;
ACTUAL ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO SISTEMA DE EDUCAÇÃO
EM ANGOLA
Para que se possa fazer uma abordagem sobre a actual estrutura e
funcionamento da educação em Angola deve-se necessariamente incorrer sobre
um aspecto fundamental em todo esse processo, designado por “reforma
educativa”.
Uma reforma é geralmente entendida como “uma mudança em larga escala, com
carácter imperativo para o conjunto do território nacional, implicando opções
políticas, a redefinição de finalidades e objectivos educativos, alterações
estruturais no sistema a que se aplica”.
Em Angola esse processo teve início em 1978 com a implementação dos
princípios de base para a reformulação do sistema de educação e ensino que
instituiu o ensino de base de oito anos obrigatório e gratuito.
Passado duas décadas após a realização das reformas realizadas desde o fim
do sistema de educação colonial, houve um novo processo de reforma educativa
que iniciou em 2004, após a aprovação da lei de Bases do Sistema de Educação
nº 13/01 de 31 de Dezembro de 2001 e de acordo com o decreto nº 02/05 de 14
de Janeiro, que regulamenta a implementação do novo sistema de educação em
Angola.
Está última reforma (13/01 de 31/12/2001) teve como objectivo:
 A expansão da rede escolar;
 A melhoria da qualidade de ensino;
 O reforço da eficácia do sistema de educação;
 Qualidade do sistema de educação;
Assim, o sistema de educação é definido como o conjunto de estruturas e
modalidades tendentes à formação harmoniosa e integral do indivíduo, com vista
à construção de uma sociedade livre, democrática, de paz e progresso social.
Assim sendo, pode-se afirmar que a estrutura actual do sistema de educação em
Angola está constituída por três níveis de ensino, nomeadamente:
 Ensino Primário;
 Ensino Secundário;
 Ensino Superior;
OBS. Antecedidos pela Educação Pré-Escolar;
A Educação Pré-Escolar é a base e a sua estrutura engloba dois ciclos: a creche
e o jardim-de-infância, estando organizada por idades e terminando com a classe
de iniciação aos 5 anos de idade.
Nota: A classe de iniciação é obrigatória para as crianças que até aos 5 anos de
idade não tenham beneficiado de qualquer alternativa educativa dirigida á
infância, muito embora a idade se fixe até aos seis anos.

ANO LECTIVO – 2022/2023 14


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O Ensino Primário é composto por seis classes (da 1ª à 6ª classe) de modo à


assegurar a preparação e a continuação dos estudos do ensino secundário.
Constitui a base do ensino geral e está repartido em educação regular e
educação de adultos.
Nota: A educação de adultos inclui a alfabetização, podendo inscrever os alunos
a partir dos 15 anos de idade e pós-alfabetização.
O Ensino Secundário é composto por dois ciclos: Iº ciclo do ensino secundário e
IIº ciclo do ensino secundário.
Iº Ciclo do ensino secundário comporta um ensino geral integrado pela educação
regular e educação de adultos, tendo a duração de 3 anos (7ª, 8ª e 9ª classes)
e garantindo a continuidade dos estudos para o 2º ciclo do ensino secundário.
Permite uma formação profissional básica para preparar jovens e adultos a fim
de ingressarem no mercado de trabalho, dando-lhes formação intermédia com
uma formação de 1 a 2 anos;
IIº Ciclo do ensino secundário permite um ensino geral que integra a educação
regular e a educação de adultos com a duração de 3 anos (10ª, 11ª e 12ª
classes), organizado em áreas de conhecimentos conforme a natureza dos
cursos superiores e visa a preparação dos alunos para o ingresso ao ensino
superior.
Neste ciclo realizam-se duas formações profissionais: formação média normal e
formação média técnica com a duração de 4 anos (10ª, 11ª, 12ª e 13ª classes).
Nota: A formação média normal indicada para a formação de professores para o
ensino primário compreende a educação regular, educação de adultos e
educação especial.
O Ensino Superior divide-se em Graduação e Pós-Graduação.
A Graduação integra o Bacharelato e a Licenciatura:
O Bacharelato tem a duração de 3 anos e proporciona uma preparação científica
em diferentes áreas para exercer uma actividade prática no domínio profissional;
A Licenciatura vai do 1º ao 4º ano ou 5º e 6º de acordo com o curso, dando uma
preparação científica mais aprofundada, associada à iniciação da prática
investigativa científica em diferentes áreas;
A Pós-Graduação pode ser académica ou profissional:
A Pós-Graduação académica integra:
O Mestrado, que tem a duração de 2 a 3 anos, cria competências técnico-
profissionais e confere preparação para a prática da investigação científica;
O Doutoramento que tem a duração de 4 a 5 anos frequentado por aqueles que
têm um mestrado ou uma licenciatura, cria competências técnico-profissionais e
uma preparação aprofundada para a prática da investigação científica e habilita
os estudantes para a promoção da Ciência e Tecnologia e do desenvolvimento
nacional

ANO LECTIVO – 2022/2023 15


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A Pós-Graduação profissional engloba uma especialização com uma duração


mínima de 1 ano.
UNIDADE I - A ESCOLA COMO INSTITUIÇÃO E ORGANIZAÇÃO SOCIAL
I.5 – O papel da escola primária como instituição educativa no contexto
angolano.
ESCOLA PRIMÁRIA COMO INSTITUIÇÃO EDUCATIVA
A escola como instituição em Angola, responde a necessidade de transmitir
cultura, socializar o indivíduo e prepara-lo para desempenhar um papel na
sociedade.
A educação é um fenómeno social por um conjunto de razões:
 Efectua-se no meio social;
 O seu objecto próprio são conteúdos culturais;
 Prossegue fins que são sociais;
 Cumpri determinadas funções que são sociais;
 Os factores que estão na sua origem são de índole social;
 Está sujeita a condicionalismos sociais de todo tipo, variações
demográficas, transformações económicas e políticas regulamentações
jurídicas e imposições administrativas.

O PAPEL DA ESCOLA PRIMÁRIA COMO INSTITUIÇÃO EDUCATIVA NO


CONTEXTO ANGOLANO.

A escola primária constitui a base de conhecimentos indispensáveis para a


operacionalidade e multiplicidade, isto é, na aprendizagem das noções
elementares do conhecimento humano.

O ensino primário é o fundamento do ensino geral, constituindo a sua conclusão


com sucesso, condição indispensável para a frequência do ensino secundário.
(Lei 17/16 de 07 de Outubro, art. 27).
O ensino primário tem a duração de 6 anos e têm acesso, ao mesmo, as crianças
que completem, pelo menos, 6 anos de idade no ano de matrícula.
O ensino é feito nas seguintes condições:
 Da 1ª à 4ª Classe, em regime de mono docência;
 Da 5ª à 6ª Classe, em regime nos termos a regulamentar em diploma
próprio.

Organização do ensino primário (Lei 17/16 de 07 de Outubro, art. 28).

O ensino primário integra 3 ciclos de aprendizagem, compreendendo duas


classes para cada ciclo e organiza-se da seguinte forma:
 1ª e 2ª classes, sendo a avaliação final dos objectivos pedagógicos do
ciclo efectuada na 2ª classe;
 3ª e 4ª Classes, sendo a avaliação final dos objectivos pedagógicos do
ciclo efectuada na 4ª classe;

ANO LECTIVO – 2022/2023 16


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 5ª e 6ª classes, sendo a avaliação final dos objectivos pedagógicos do


ciclo efectuada na 6ª classe.

As crianças com idades compreendidas entre os 12 e 14 anos que não tenham


concluído o Ensino Primário, beneficiam de programa específicos de apoio
pedagógico para permitir a sua conclusão e os que ultrapassam essa idade
devem ser enquadrados no Ensino de Adultos.

Objectivos específicos do Ensino Primário. (Lei 17/16 de 07 de Outubro, art. 29).


Objectivos específicos do Ensino Primário são:
 Desenvolver a capacidade de aprendizagem, tendo como meios básicos
o domínio da leitura, da escrita, do cálculo e das bases das ciências e
tecnologia;
 Desenvolver e aperfeiçoar o domínio da comunicação e da expressão oral
e escrita;
 Aperfeiçoar hábitos, habilidades, capacidades e atitudes tendentes à
socialização;
 Proporcionar conhecimentos oportunidade para o desenvolvimento das
faculdades mentais;
 Educar as crianças, jovens e cidadãos adultos para adquirem
conhecimentos, habilidades, atitudes, valores e ética, necessário ao seu
desenvolvimento;
 Garantir a prática sistemática de expressão motora e de actividades
desportivas para o aperfeiçoamento das habilidades psico-motora.

TAREFA

1. A escola como instituição em Angola, responde a necessidade de


transmitir cultura, socializar o indivíduo e prepara-lo para desempenhar
um papel na sociedade. Comente!
2. A escola primária constitui a base de conhecimentos indispensáveis para
a operacionalidade e multiplicidade, isto é, na aprendizagem das noções
elementares do conhecimento humano. Fundamente!

ANO LECTIVO – 2022/2023 17


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UNIDADE II- IMAGENS ORGANIZACIONAIS DA ESCOLA


II.1- A abordagem científica
As concepções filosóficas-ideológicas constituem-se como importantes
determinações quer no modo de conceber as organizações, quer no modo de
agir dos gestores e não são exclusivos da administração escolar.
Falar das imagens organizacionais da escola remete-nos a análise de três
abordagens ou paradigmas distintos, nomeadamente: abordagem científico-
racional, abordagem interpretativo-simbólica e por fim a abordagem crítica ou
política.
ABORDAGEM CIENTIFICO – RACIONAL
A abordagem científico-racional é fundamentada por uma filosofia realista que
concebe a organização como um instrumento para a consecução (alcance) de
objectivos pré-fixados e uma entidade real, unitária e observável aliando-se à
uma concepção positiva da ciência.
Este paradigma (modelo) crê na possibilidade de estabelecer relações de
causalidade linear e objectiva e leis gerais entendidas como recurso instrumental
para a acção organizacional.
O paradigma científico-racional parte do princípio da existência de um modelo
ideal de organização que pode ser obtido através de organigramas, regras e
regulamentos, manuais de funções e em algumas das suas variantes, da
atenção à liderança e à satisfação dos interesses dos membros da organização.
Os problemas organizacionais ou conflitos são vistos como resultado de
inadequações estruturais, processuais ou disfunções e que podem resolver-se
através da reorganização das estruturas e da substituição dos processos.
Nesta abordagem incluem-se a: imagem da escola como máquina (imagem
tecnocrática), a escola como empresa e a escola como burocracia.
A ESCOLA COMO MÁQUINA
A imagem da escola como máquina (tecnocrática) baseia-se nas ideias de
controlo, previsão e certeza, incluindo, portanto, termos como: input, output,
custos, produtividade, crescimento e eficiência.
As escolas são concebidas como sistemas de produção, os problemas
curriculares e pedagógicos são abordados como problemas meramente técnicos
e a administração surge como algo de científico e desligado de valores.
Esta visão da escola baseia-se na metáfora da máquina, entendida como um
conjunto de peças dispostas de uma única forma que lhes permite assegurar a
função para a qual foi concebida.
O pressuposto básico da imagem tecnocrática parte do princípio que a escola
apresenta um carácter sistémico, como organização na qual as relações entre
os seus elementos são, em grande parte pelo menos, coerentes e ordenadas
(que enfatiza a dimensão técnica do seu funcionamento).
OBS. O termo “imagem tecnocrática da escola” foi importado da linguagem
mecanicista da tecnologia e da economia.
ANO LECTIVO – 2022/2023 18
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A ESCOLA COMO EMPRESA


Segundo Coleman e Husé, a imagem da escola como empresa representa a
perda pela escola da sua especificidade de prolongamento da família, de ligação
ao meio, para se transformar num tipo de administração anónima e numa
indústria de transformação.
Apesar de que à empresa enquanto organização social tem como principal
objectivo a obtenção de lucros e escola à formação integral e intelectual dos
indivíduos para a vida social, pode-se aqui referir e como podemos estudar na
unidade anterior, que a escola enquanto organização social apresenta alguns
elementos, variáveis ou traços característicos semelhantes aos da empresa
enquanto organização social, tais como:
“Grupo de pessoas, finalidades explícitas, divisão do trabalho, regulamentação
das atribuições e competências de cada membro, hierarquização de funções,
ordenação das relações interpessoais, estrutura independente dos indivíduos
concretos”
Logo pode-se concluir que:
 A visão da escola como empresa salienta a necessidade de serem
estabelecidas metas precisas e de serem especificadas de forma
pormenorizada, as funções a desempenhar por cada sector (sendo que o
importante é planear e controlar até ao extremo).
 Gerir uma escola não é diferente de gerir uma empresa e, por isso, a
escola pode e deve adoptar os modelos de gestão empresarial e
preocupar-se sobretudo com a eficácia e garantir a formação técnica dos
gestores.
OBS. Muitos autores recusam-se a associarem a escola à empresa, devido aos
riscos que impõem.
A ESCOLA COMO BUROCRACIA
Na opinião corrente a burocracia é associada sobretudo às disfunções (mau
funcionamento), despersonalização das relações de trabalho, excesso de
procedimentos e formalismos.
De forma genérica, a burocracia pode ser entendida como um procedimento
administrativo, conjunto de etapas a serem seguidas para a consecução
(alcance) de uma determinada situação administrativa.
No entanto e na perspectiva de Cerrillo, a burocracia em determinadas
circunstâncias, foi eficaz exactamente por identificar claramente os níveis de
autoridade e de responsabilidade, reduzir a complexidade das tarefas e
padronizar os procedimentos, o que supõe um tratamento equitativo dos distintos
sujeitos.
Partindo do pressuposto de que uma organização burocrática caracteriza-se
pela existência de uma estrutura hierárquica, divisão do trabalho, funcionamento
baseado em normas e regulamentos, relações impessoais e orientação para
carreira pode-se concluir que:

ANO LECTIVO – 2022/2023 19


MANUAL DE ANÁLISE SOCIOLÓGICO DA EDUCAÇÃO/ADMINISTRAÇÃO & GESTÃO ESCOLAR

A escola enquanto organização social pode ser associada a uma organização


burocrática devido sobretudo as características que a mesma apresenta e que
de algum modo vão de encontro a aquilo que é o funcionamento da escola.
A escola como burocracia é uma imagem que acentua o consenso e a clareza
dos objectivos organizacionais, tendo como preocupação central racionalizar a
vida e o funcionamento da escola, de modo a obter, por um lado uniformidade
no tratamento das pessoas e por outro, previsibilidade (através de um
enquadramento estável e seguro, estabelecido nas normas e regulamentos).
Por fim dizer que a burocracia apresenta algumas debilidades, nomeadamente:
 Sistema fechado em si mesmo (bloqueio de processos de mudança e
fracasso na resposta aos imprevistos);
 Uso excessivo de regulamentos (torna aceitável os níveis mínimos de
desempenho e realização);
 Esquece a necessidade individual dos trabalhadores (não fornecendo
incentivos para o seu desenvolvimento profissional);
 Formalismo e a impessoalidade nos relacionamentos (as tarefas são
consideradas mais importantes que as pessoas);
As características comuns às três visões que integram a abordagem científico-
racional, prendem-se com o conjunto de teorias que partilham, a preocupação
com a definição de metas e objectivos, delimitação de estruturas, de papéis e
funções e a decisão prévia acerca das tecnologias organizacionais adequadas
aos fins perseguidos.
TAREFA
1- Aponte as características comuns das três visões que integram a
abordagem científico-racional das organizações escolares.
2- Faça uma abordagem crítica sobre o modo como o conflito é visto nas
abordagens científico-racionais.
3- Explique o pressuposto básico da imagem tecnocrática da escola.
4- Apresente alguns sinais da influência da visão da escola como empresa
patentes na escola que conheces ou nas ideias que ouves defender
acerca de como as escolas deveriam funcionar.
5- Caracterize o modelo burocrático das organizações sociais.
6- Identifique os elementos de natureza burocrática presentes na escola.
7- Apesar de conter alguns elementos de ordem burocrática, a escola é
essencialmente uma organização burocrática ou não? Justifica a sua
resposta.

ANO LECTIVO – 2022/2023 20


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UNIDADE II- IMAGENS ORGANIZACIONAIS DA ESCOLA


II.2 – A abordagem interpretativa – simbólica
ABORDAGEM INTERPRETATIVO – SIMBÓLICA
A abordagem interpretativo-simbólica é fundamentada por uma filosofia
fenomenológica, acentuando o carácter subjectivo da realidade que se considera
como símbolos e interpretações.
Assim, a organização é vista como uma realidade cultural e plural, formada por
indivíduos e grupos que partilham, opõem e negoceiam percepções, significados
e valorações divergentes.
Contrariamente a abordagem científico-racional (que dá primazia a tarefas,
estruturas hierárquicas, especificação minuciosa de cargos e funções,
regulamentos e operações de controlo), a abordagem interpretativo-simbólica
coloca em primeiro plano, pessoas e grupos, possuidores de valores, ideias,
convicções, projectos e interesses.
Nesta abordagem incluem-se a imagem existencial da escola, a escola como
democracia e a escola como cultura.
A imagem existencial da escola, coloca a ênfase nas pessoas, isto é, considera
as pessoas como o elemento organizacional mais importante. Por esta razão, o
gestor há-de dar atenção preferencial ao estabelecimento de boas relações entre
os membros da organização e esforçar-se por motivá-los.
Esta imagem da escola constrói-se na base de três ideias chaves,
nomeadamente, experiência pessoal, interpretação subjectiva e relações
humanas, contrapondo-se a dimensão desumanizadora da imagem tecnocrática.
Pode-se referir que a imagem existencial da escola é uma imagem psicológica
da escola ou visão do tipo psicologica (oposta aos aspectos mais opressivos da
escola tecnocrática) porque fixa-se nas relações das consciências individuais
como meio externo.
A ESCOLA COMO DEMOCRACIA
A escola como democracia, o que caracteriza está imagem da escola é a
presença de processos participativos de decisão, colegialmente assumida e
baseada em consensos, a valorização dos comportamentos informais, a atenção
e ao estudo e à “correcção” do comportamento humano, a visão harmónica e
consensual e ao desenvolvimento de uma pedagogia personalizada (com
preocupações predominantemente pedagógicas e não do tipo organizacional e
administrativo).
Está visão acentua-se na concepção e aceitação de um projecto educativo
comum, orientador da participação dos quatro co-gestores da escola
(professores, alunos, pais e sociedade).
A ESCOLA COMO CULTURA
A escola como cultura, realça as temáticas da identidade, dos valores, da
autonomia, do projecto e da comunidade. A organização escolar surge como
invenção humana, um conjunto de ideias, valores e crenças contidas na mente

ANO LECTIVO – 2022/2023 21


MANUAL DE ANÁLISE SOCIOLÓGICO DA EDUCAÇÃO/ADMINISTRAÇÃO & GESTÃO ESCOLAR

dos actores que a integram. Neste sentido à organização escolar é uma fantasia
colectiva, construída pelos relacionamentos recíprocos dos actores.
TAREFA
1. Distinga as características gerais da abordagem interpretativo-simbólica
das da abordagem científico-racional.
2. Explique por que se diz que a imagem existencial da escola é uma visão
do tipo psicológico.
3. Destaque os aspectos chaves da escola como democracia.
4. A escola é ou não uma miniatura global? Justifica a tua resposta.
5. Caracterize a visão da escola como cultura.
6. Em que sentido se pode afirmar que a escola é uma invenção humana,
uma fantasia colectiva?
UNIDADE II- IMAGENS ORGANIZACIONAIS DA ESCOLA
II.3- A abordagem crítica ou política
ABORDAGEM CRÍTICA OU POLÍTICA
Tentando superar as visões positivistas (abordagem científico-racional) e
interpretativas (abordagem interpretativo-simbólica), a abordagem crítica ou
política considera as organizações como construções sociais mediatizadas pela
realidade sociocultural e política mais ampla.
A abordagem crítica ou política faz a distinção entre uma realidade superficial
(morfologia organizativa) e uma realidade profunda (constituída por uma rede
complexa de relações, legitimadas pela estrutura social dominante) que a
morfologia organizativa serve para ocultar.
Está perspectiva de encarar a escola considera ainda a existência de uma
componente ideológica da organização que a protege do exame crítico. Trata-se
de elaborar um conhecimento que possa despertar a consciência das
contradições implicítas na vida organizacional e desvendar as formas de falsa
consciência por si geradas
O paradigma crítico caracteriza-se por pôr em destaque a relação entre a escola
e a sociedade.
Incluem-se nesta abordagem, as imagens reprodutora e reconstrutora da escola,
bem como a imagem da escola como arena política.
IMAGEM REPRODUTORA DA ESCOLA
Considera as escolas como parte do aparelho ideológico do estado, cuja
principal função consiste na reprodução da ordem social hierárquica existente
numa sociedade capitalista.
Esta imagem tem como principal objectivo, manter a hegemonia ideológica das
classes dominantes, através das práticas administrativas e pedagógicas, bem
como pelos próprios conteúdos curriculares;
A imagem reprodutora caracteriza-se pelo seguinte:

ANO LECTIVO – 2022/2023 22


MANUAL DE ANÁLISE SOCIOLÓGICO DA EDUCAÇÃO/ADMINISTRAÇÃO & GESTÃO ESCOLAR

 Implica princípios administrativos evolutivos e pragmáticos, quer quanto a


sua filosofia social, quer quanto à relação entre conhecimento política e
acção;
 Afirma o carácter provisório das instituições e tradições sociais, passíveis
de modificação;
 Encerra a crença de que uma escola pode ser um importante instrumento
de mudança social, uma forma de renovação cultural, um agente activo
da mudança;
IMAGEM RECONSTRUTORA DA ESCOLA
Propõe a transformação gradual das instituições escolares, de forma a
converterem-se em comunidades críticas. Tem como objectivo, desenvolver uma
qualidade de vida organizacional que proporcione aos participantes entregarem-
se a uma auto-reflexão e uma deliberação crítica acerca das suas próprias
acções e compromissos.
IMAGEM DA ESCOLA COMO “ARENA POLÍTICA”
Está imagem da um protagonismo acentuado nos grupos de interesse, na
diversidade ideológica e em todas as diferenças entre as pessoas e, por isso,
considera a conflitualidade como elemento central na vida da organização
escolar.
A escassez de recursos, diversidade ideológica, conflitualidade de interesses e
diferenças de personalidade fazem da escola uma arena política.
Por fim dizer que a interacção entre grupos distintos, com interesses próprios,
com objectivo de satisfazer tais interesses, fazem da escola uma organização
política em que verifica-se constantemente a existência de conflitos abertos e
uma luta por mais legitimidade e poder.
TAREFA
1. Faça uma apreciação crítica da imagem reprodutora da escola.
2. Compare a imagem reconstrutora da escola com a imagem reprodutora,
assinalando semelhanças e diferenças.
3. Destaque os traços essenciais da imagem da escola como “arena
política”.
4. Com base em tudo que aprendeu, exponha a sua visão de escola,
justificando cada um dos traços que considerar nessa imagem.

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MANUAL DE ANÁLISE SOCIOLÓGICO DA EDUCAÇÃO/ADMINISTRAÇÃO & GESTÃO ESCOLAR

UNIDADE III – ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO ESCOLAR


III.1- Conceito. Objecto de estudo. Estilos de gestão
CONCEITO DE GESTÃO ESCOLAR
Gerir uma escola é governá-la numa perspectiva da sistemática inventariação
dos seus problemas, accionando todos os recursos humanos, materiais e
financeiros, para a resolução e satisfação dos seus anseios, necessidades e
projectos, com vista ao alcance do sucesso escolar e educativo do aluno.
A gestão escolar como tal pode actuar em várias áreas da escola enquanto
organização social, sem esquecer do principal objectivo da mesma (formação
intelectual e integral do indivíduo para à vida em sociedade).
Pode-se aqui destacar três áreas ou domínios de actuação da gestão escolar:
gestão pedagógico/didáctica, gestão administrativa e financeira e por fim gestão
funcional e dos espaços.
A área de gestão pedagógica/didáctica enquadra todas as actividades, projectos,
recursos, órgãos e serviços directamente relacionados com o ensino e a
educação, como por exemplo:
 Relações interpessoais;
 Métodos de ensino;
 Processo de ensino e aprendizagem;
 Actividades curriculares;
 Actividades de complemento curricular;
 Apoio pedagógico a alunos com dificuldades de aprendizagem;
 Problemas disciplinares;
 Direcção de turma e tutória dos alunos;
 Avaliação escolar (dos alunos, dos processos, dos materiais, da escola)
 Plano de formação contínua dos professores e do pessoal não docente,
etc.
A área administrativa e financeira trata de três aspectos básicos:
 Gestão do orçamento;
 Gestão dos recursos humanos e materiais;
 Angariação e gestão de recursos financeiros;
A área de gestão funcional e dos espaços vela principalmente por:
 Preservar a qualidade dos espaços e dos equipamentos;
 Qualificar os espaços;
 Rentabilizar e adaptar os espaços a sua função;
Dizer que o modo como uma escola é gerida depende muito do modo como os
seus responsáveis concebem a escola, isto é, a visão que têm dela (como
abordamos no capítulo sobre as imagens organizacionais da escola).
Actualmente não existe nenhum acordo sobre como organizar e exercer a
direcção escolar, nem sobre o papel que deve ser acometido aos directores, nem
critérios de selecção e formação dos mesmos, certo mesmo é que os directores
ou gestores escolares são considerados como verdadeiros arquitectos
organizacionais.

ANO LECTIVO – 2022/2023 24


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A ideia de arquitecto organizacional consubstancia-se pelo facto de que durante


o processo de gestão escolar, cruzarem-se várias perspectivas e exigências
provenientes da administração educativa, dos professores e da comunidade
local, isto é, muita das vezes o director tem de lidar com exigências
contraditórias.
Dependendo da missão da escola, o estilo de gestão considerado mais
adequado foi apelidado de liderança educativa, centrada nas pessoas e de tipo
transformacional. Ainda na mesma senda, levanta-se a questão se o gestor
escolar tem de ser um profissional de gestão ou não?
Pode concluir-se que há vantagem em a gestão ser assegurada por professores,
uma vez que estes, sendo educadores, podem melhor fazer prevalecer critérios
educativos sobre critérios meramente administrativos na gestão escolar.
OBS. Claro que o ideal seria, a gestão escolar ser assegurada por professores
com formação em administração escolar.
OBJECTO DE ESTUDO DA ADMINISTRAÇÃO GESTÃO ESCOLAR
Partindo do pressuposto de que, para que todo o ramo do saber ganhe o estatuto
de ciência é necessário que tenha um objecto, um método específico (ou próprio)
e que objecto de estudo de qualquer ciência é determinado aspecto da realidade
(que se deseja estudar) e as respectivas leis que a regem.
Pode concluir-se que a Administração e Gestão Escolar tem como objecto de
estudo á própria escola, não como algo isolado (estrutura física, existência de
alunos e de professores), mas como algo compacto ou integrado, ou seja, todos
os problemas inerentes as áreas de gestão pedagógico/didáctica, gestão
administrativa e financeira e gestão funcional e dos espaços constituem o objecto
da própria Administração e Gestão Escolar.
ESTILOS DE GESTÃO ESCOLAR
De forma genérica quando se aborda sobre os principais estilos de gestão,
subscreve-se o estilo autocrático, democrático, liberal e o estilo misto.
Em relação a gestão escolar podemos destacar quatro estilos principais de
gestão, que de certo modo associam-se aos estilos tradicionais de gestão,
nomeadamente: o estilo interpessoal, administrativo, o político antagonista e o
politico autoritário.
Estilo interpessoal, característico do director activo e visível, de portas sempre
abertas e que prefere o contacto directo com os membros da organização.
Geralmente opta pela individualização das negociações e dos acordos e pela
auscultação pessoa a pessoa.
Neste estilo de liderança, o gestor dá pouca importância a reuniões formais e
aos documentos escritos, passa o dia numa série interminável de encontros.
O processo de tomada de decisões torna-se misterioso e invisível, pois há uma
ausência de estrutura, procedimentos e métodos. Só há pessoa e o poder de
direcção. O líder defende o grupo em público e reserva as críticas e
recriminações para encontros em privado.

ANO LECTIVO – 2022/2023 25


MANUAL DE ANÁLISE SOCIOLÓGICO DA EDUCAÇÃO/ADMINISTRAÇÃO & GESTÃO ESCOLAR

Na relação com os professores, este estimula e apoia-os individualmente. Esse


estilo de liderança exige do director um conjunto de aptidões sociais, tais como:
facilidade de interacção social, loquacidade, afabilidade, etc;
Estilo administrativo, característico do director burocrata, fechado no seu
gabinete, separado dos professores, relacionando-se com o pessoal através da
sua equipa e de uma estrutura formal de reuniões e comissões.
Valoriza os documentos escritos e as descrições exaustivas das tarefas e
respectivas responsabilidades, exclui o pessoal das discussões importantes e do
processo de tomada de decisões;
Estilo politico antagonista, aposta seriamente em persuadir e convencer as
pessoas, baseando-se na conversação em público e em procedimentos formais
de discussão e de tomada de decisões, que reconhecem a existência de
ideologias e interesses diversos na escola.
Tem de fazer frente a desafios à sua autoridade e as incertezas dos debates
públicos, sempre relativamente desorganizados, embora goste de escolher o seu
terreno, o seu momento e lugar;
Estilo político autoritário, tem como principal objectivo impor-se e, por isso, age
no sentido de evitar a discussão e reduzir a conversação, privilegiando a
exposição.
É ele quem define as ideias e os interesses legítimos, revelando uma completa
adesão ao statu quo e não reconhecendo ideias e interesses divergentes ou
rivais;
TAREFA
1) Caracterize cada um dos domínios ou áreas da gestão escolar.
2) Explique porque podemos chamar “arquitecto organizacional” ao gestor
ou director de escola.
3) Diga quais são as três fundamentações epistemológicas a partir da qual
podem ser enumeradas as tarefas da direcção ou gestor escolar.
4) Diga como se chama o tipo de gestão escolar que deve ser exercida pelo
gestor ou director de escola.
a) Apresenta a sua caracterização.
5) Diga quais as vantagens e desvantagens da introdução de gestores
profissionais (não professores) na direcção das escolas.
6) Defina os quatro estilos de gestão estudados.
a) Diga qual dos estilos achas mais adequados ao êxito das escolas.
Justifica a sua afirmação.
UNIDADE III – ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO ESCOLAR
III.2 – As tarefas da gestão
TAREFAS DA GESTÃO ESCOLAR
Tradicionalmente são apontadas como principais tarefas de gestão de qualquer
organização: planear, organizar, motivar, coordenar, comunicar e controlar.
No âmbito educativo, ou na realidade escolar, o gestor tem um estatuto e uma
situação bastante sui generis e isso acarreta algumas diferenças.

ANO LECTIVO – 2022/2023 26


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“A enumeração das tarefas do gestor escolar pode ser feita a partir de três
opções epistemológicas diferenciadas, nomeadamente: com base na análise de
documentos legais, nas tradições e nos modos de conceber a função directiva e
a escola como organização.”
Vários estudos levados a cabo nesta área mostram que o gestor escolar se
divide entre funções de gestão e administração não directamente ligadas a
educação e, por outro lado, a liderança educativa.
Ainda assim pode concluir-se que as principais dimensões da função directiva
são: gestão curricular, gestão administrativa e relações interpessoais.
O gestor escolar é simultaneamente o chefe do pessoal e o líder ou coordenador
pedagógico. As tarefas do gestor/director escolar podem agrupar-se em sete
categorias:
 Aconselhamento pedagógico ou de supervisão do trabalho docente;
 Coordenação;
 Facilitação do clima social (ambiente organizacional);
 Controlo;
 Difusão da informação;
 Gestão (recursos);
 Representação
TAREFA
1 Enumere as tarefas da gestão escolar.
a) Explique pelo menos duas das tarefas.
UNIDADE III – ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO ESCOLAR
III.3 – A gestão dos recursos humanos
A GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS (PROFESSORES E FUNCIONÁRIOS)
Apesar da aposta nas tecnologias, a verdade é que os recursos humanos são o
elemento fundamental para melhorar a qualidade das escolas, claro que os
recursos materiais podem contribuir para essa melhoria, mas só depois de os
recursos humanos terem objectivos claros e se organizarem para os conseguir.
A gestão dos recursos humanos na escola apresenta dois objectivos essenciais:
 Conseguir que cada um dos membros da organização escolar
(professores, funcionários e alunos) tenha ou adquira as competências
necessárias ao cargo que desempenha, tenha ou adquira motivação para
colocar as suas capacidades, ideias e projectos ao serviço da escola e
sinta que as suas metas e ambições pessoais estão em sintonia com as
metas da própria escola;
 Conseguir que o conjunto dos recursos humanos ao serviço na escola se
coordene com vista à concretização de metas comuns;
Dizer que na gestão de recursos humanos na escola existem três aspectos
centrais:
A formação contínua de professores e funcionários, a motivação dos recursos
humanos e a gestão de conflitos na organização escolar.

ANO LECTIVO – 2022/2023 27


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O PLANO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E FUNCIONÁRIOS


A formação é uma componente essencial da gestão de recursos humanos, uma
vez que através de uma estratégia de formação global, participada e interactiva
é possível construir uma visão partilhada do futuro da organização, das suas
finalidades, dos meios de acção, dos valores que lhes estão subjacentes.
No sentido mais tradicional, a formação dizia respeito apenas ao esforço de
capacitação dos indivíduos para o posto de trabalho que ocupam.
Desde os anos 80 que os estudos organizacionais e as ciências da educação
consideram ineficaz este modelo clássico de formação, submetendo-o a um
conjunto de críticas.
Por sua vez, a maior parte dos autores sustenta a necessidade de ser
desenvolvido nos trabalhadores um reflexo de aprendizagem permanente nas e
através de situações profissionais, defendendo uma formação centrada na
escola.
A formação centrada na escola articula-se com o projecto educativo de escola,
que constitui o instrumento essencial de uma gestão estratégica do
estabelecimento de ensino, cuja construção e avaliação, nas suas diferentes
facetas, se configura como eixo fundamental de um processo de formação
contínua de professores.
A MOTIVAÇÃO DOS RECURSOS HUMANOS
A motivação está na base de todo o comportamento humano. As teorias de
motivação ensinam-nos que o comportamento humano pode ser explicado pelo
ciclo motivacional, nomeadamente:
 Necessidades (um estado de desequilíbrio);
 Tensão (mal estar provocado pela necessidade);
 Impulso (libertação de energia orientada para um objectivo);
 Acção (esforços dirigidos com o objectivo de satisfazer a necessidade);
 Satisfação da necessidade (reposição do equilíbrio);
Assim sendo, a motivação das pessoas para o trabalho e para colaboração no
cumprimento dos objectivos da organização escolar depende da capacidade da
organização em satisfazer as necessidades dos seus membros.
Nesta senda pode-se destacar os seguintes tipos de necessidades:
Necessidades primárias, de segurança, de natureza afectiva, sociais, de auto-
realização e necessidade de ideais.
Elas, contribuem para a insatisfação e desmotivação das pessoas, no interior
das organizações os seguintes factores:
Mau ambiente de trabalho, más relações com as chefias, baixas remunerações,
más condições de trabalho, politicas de gestão consideradas inadequadas.
Por sua vez, contribuem para uma maior satisfação e motivação para o trabalho
os seguintes factores:

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O reconhecimento pelos seus superiores, a existência de promoções, o aumento


da responsabilidade, a possibilidade de participar nas tomadas de decisões e o
facto de ter um trabalho aliciante.
Por fim, dizer que o trabalho do gestor escolar será, pois, agir no sentido de
eliminar ou, pelo menos, minimizar os factores de insatisfação/desmotivação, e
tentar desenvolver os factores de satisfação/motivação dos recursos humanos.
A GESTÃO DE CONFLITOS
A gestão de conflitos como um dos aspectos integrantes da gestão de recursos
humanos leva muitos gestores a consumirem muito do seu tempo de trabalho a
lidar com os conflitos gerados na escola. E isto porque, na vida de uma
organização dinâmica como a escola, o conflito está necessariamente presente.
NOÇÃO DE CONFLITO
O conflito pode se entendido como uma situação que se caracteriza por
escassez de recursos e por um sentimento de hostilidade.
Conflito significa a existência de ideias, sentimentos, atitudes ou interesses
antagónicos e colidentes que se podem chocar.
Actualmente considera-se o conflito e a cooperação como dois aspectos da
actividade social, ou melhor ainda, duas faces da mesma moeda, sendo que
ambas estão inseparavelmente ligadas na prática.
No entanto, uma visão mais actual do conflito reconhece a utilidade da existência
de um certo grau de conflito para a vitalidade das organizações e dos grupos e
para as relações interpessoais, uma vez que as ideias inovadoras e as melhores
soluções resultam quase sempre do conflito de perspectivas.
O conflito é uma componente inevitável de qualquer relação social, pois há
sempre momentos em que os nossos sentimentos, pensamentos e/ou acções
criam desacordo e conflito com outro.
Dentro da gestão escolar existem dois grandes domínios em que os conflitos
podem ocorrer:
Os conflitos de funcionamento (que ocorrem entre os vários órgãos e cargos
existentes na escola ou entre as várias áreas funcionais);
Os conflitos laborais (que resultam da divergência de interesses entre
professores, funcionários administrativos e funcionários de apoio);
Em ambos os domínios os conflitos podem ser (tipos de conflitos):
Intergrupais, intragrupais, interinstitucionais e intra-institucionais.
CAUSAS DOS CONFLITOS
De forma genérica pode-se apontar como principais causas dos conflitos as:
 Diferenças individuais (idade, género, crenças, valores, experiencias,
etc.);
 Competição originada por limitações de recursos (financeiros, técnicos,
humanos, de espaço);

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 Diferenciação de papéis que os indivíduos assumem na escola;


Nas organizações sociais (na escola em particular) existem situações
susceptíveis de provocar conflitos, quer entre duas ou mais pessoas
(interpessoais), quer entre dois ou mais grupos (intergrupais), sendo que as mais
importantes são:
 A interdependência de funções;
 A indefinição das regras do jogo;
 A interdependência de recursos;
 Mudanças;
FORMAS DE LIDAR COM OS CONFLITOS
O primeiro passo para a resolução positiva dos conflitos consiste numa boa
análise da situação conflitual, atendendo às seguintes variáveis:
A natureza do conflito, identificação dos motivos que deram origem ao conflito;
Os factores subjacentes, trata-se de averiguar quais as causas que estão na
base do desacordo, qualquer que ele seja;
Momento de evolução em que o conflito se encontra, estará ainda o conflito não
declarado ou declarado?
ESTRATÉGIAS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS
Repressão- consiste em ignorar o conflito ou proibir a sua manifestação;
Diluição- é uma estratégia de desactivação do conflito para que as coisas se
acalmem. Consiste em evitar os problemas de fundo que originam o conflito e
procurar acordos em pontos menores do conflito ou em torno dos grandes
objectivos da organização a que ambas as partes pertencem;
Confrontação- é na maior parte dos casos, a única forma eficaz de lidar com os
conflitos, resolvendo-os de forma útil para a organização escolar;
UNIDADE III – ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO ESCOLAR
III.4 - O acompanhamento dos alunos
O ACOMPANHAMENTO DOS ALUNOS
Na escola os alunos são agrupados em classes e turmas, em função de um
conjunto de factores:
 Os níveis e ciclos de escolaridade estabelecidos na lei;
 O espaço e a dimensão das instalações escolares;
 O projecto educativo de cada escola;
O acompanhamento dos alunos pode assumir a modalidade de acção tutorial,
aconselhável sobre tudo no caso de alunos com dificuldades de integração na
escola ou com dificuldades de aprendizagem.
A tutória defini-se como uma acção sistemática, específica e concreta no tempo
e no espaço, em que o aluno recebe atenção especial, seja individualmente ou
em grupo, considerando-se uma acção personalizadora.

ANO LECTIVO – 2022/2023 30


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Dizer que a tutoria pode considerar-se como uma acção personalizadora porque;
 Contribui para a educação integral dos alunos;
 Ajusta a resposta educativa às necessidades individuais;
 Orienta o processo de tomada de decisões antes dos diferentes rumos de
formação e das diferentes opções profissionais;
 Favorece as relações no seio do grupo, como elemento fundamental de
aprendizagem cooperativa, da socialização;
A figura do professor tutor deve se5r entendida como a de um profissional que
conhecendo bem os currículos e as opções dos alunos e das suas famílias,
promove as acções necessárias para ajustar posições e expectativas.
A ORGANIZAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DOS ALUNOS NA AULA
Sendo que o núcleo básico do trabalho na escola do aluno é a aula, é importante
a existência de mecanismos que facilitem uma participação activa do aluno e lhe
permitam exprimir as suas preocupações, interesses e inquietações.
Em muitas escolas de vários países, a fórmula encontrada para concretizar esse
objectivo chama-se assembleia de turma. Esta assembleia poderá realizar-se
semanal ou quinzenalmente, onde poderão ser passadas diversos aspectos do
funcionamento do grupo de alunos, para além de fornecer aos alunos um tempo
livre de expressão das suas ideias, sentimentos em relação ao funcionamento
da turma.
A ORGANIZAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DOS ALUNOS NA ESCOLA
Ao nível da escola podem co-existir dois tipos de organização:
Um modo de organização dos alunos decalcado do modo como a escola os
organiza (por anos, classes, turmas): os delegados de turma e assembleia de
delegados. Sem que a assembleia dos delegados é uma reunião dos
representantes da totalidade de turmas existentes na escola.
Um modo organização dos alunos que é da sua iniciativa e não se reproduz a
estrutura de organização existente para efeitos do processo de ensino e
aprendizagem: a associação dos estudantes.
UNIDADE III – ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO ESCOLAR
III.5- A avaliação do trabalho da escola
AVALIAÇÃO DO TRABALHO DA ESCOLA
A avaliação das escolas é uma tarefa complexa e difícil. Complexa, porque a
escola já é em si uma organização complexa e porque avaliar é também um
processo complexo.
Para além disso, verifica-se a tendência para os professores assumirem uma
atitude de recusa da avaliação das escolas, ou temerem que seja usada como
instrumento de controlo técnico e/ou ético-político do seu trabalho.
A avaliação das escolas pode ser externa (quando os avaliadores não pertencem
a escola) ou interna (quando se trata de uma auto-avaliação, isto é, é feita pela
própria escola). Em qualquer um dos casos a iniciativa pode ser interno ou
externo.
ANO LECTIVO – 2022/2023 31
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Nesta senda podemos destacar quatro situações concretas de avaliação nas


escolas:
 Avaliação externa de iniciativa externa;
 Avaliação externa de iniciativa interna;
 Avaliação interna de iniciativa externa;
 Avaliação interna de iniciativa interna:
IMPORTÂNCIA E NECESSIDADE DA AVALIAÇÃO DAS ESCOLAS
Num contexto em que se fala tanto de qualidade, a recolha sistemática de
informações acerca do desempenho e do funcionamento das organizações
sociais e a valoração dessas informações em função de determinados critérios
e indicadores, são vistas como condições necessárias para que estas aumentem
a sua eficiência e eficácia.
Pode-se aqui afirmar que a avaliação das escolas é exigida por um conjunto de
razões:
 Razões socioeconómicas;
 Razões político-administrativas;
 Razões científico-pedagógicas;
FINALIDADES DA AVALIAÇÃO
A avaliação das escolas apresenta as seguintes finalidades:
Produzir informação e fazer o diagnóstico da escola;
Contribuir para a melhoria dos processos e dos resultados escolares;
Proporcionar o controlo dos processos e dos resultados escolares;
Contribuir para o avanço da investigação científica sobre as escolas e o seu
funcionamento;
UNIDADE III – ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO ESCOLAR
III.6 – A inspecção escolar
CONCEITO
A inspecção do sistema de educação e ensino, consiste no controlo, na
fiscalização e na verificação da conformidade das condições de organização e
gestão dos dispositivos educativos e do funcionamento das instituições de
ensino e das demais estruturas do sistema de educação e ensino, em função
das orientações e das normas estabelecidas, nos termos da presente Lei e
demais legislações aplicável.
FUNÇÕES
As funções da inspecção escolar são as seguintes:
1. Função de controlo: consiste em verificar se o funcionamento das escolas
segue a eficácia das mesmas acerca da conformidade legal do seu
funcionamento, ao mesmo tempo que recolhe informações sobre o seu
sistema educativo;

ANO LECTIVO – 2022/2023 32


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2. Função de acompanhamento: consiste em observar a acção educativa


das escolas, com intenção de apoiar nas suas dificuldades e induzir novas
práticas (Gestores, Professores, Administrativos e alunos) para que
possam melhorar as aprendizagem e os resultados escolar dos alunos;
3. Função de auditoria: consiste na análise dos actos de gestão praticados
pelas escolas durante um certos períodos de tempo com duplo objectivo:
a) Informar as direcções das escolas dos pontos fortes e fracos dos seus
funcionários; b) Fazer recomendações e sugestões acerca do modo de
como ultrapassar as dificuldades ou anomalia detectada de modo que a
escola obtenha no futuro melhor resultados;
4. Função de avaliação: consiste em levar acabo a avaliação das escolas e
incidindo sobre todos aspectos da sua organização e funcionamento
(Recursos e Resultados).
5. Função de provedoria e acção disciplinar: consiste no atendimento as
queixas dos alunos, professores, famílias e funcionário que podem dar
origem a uma acção disciplinar através de: Averiguação, inquérito e
processo disciplinar. Do qual pode ou não resultar a sanção do elemento
prevaricador.
O estatuto da carreira do inspector da educação em Angola nos termos dos
artigos nº 12º, 13ºe 14º os inspectores da educação exercem as seguintes
funções:
 Assistir as aulas com o objectivo de observar o nível das mesmas, o
cumprimento dos programas;
 Avaliar o rendimento escolar;
 Promover o intercâmbio de experiências e de conhecimentos;
 Exercer a inspecção permanente nos estabelecimentos de educação que
lhe forem atribuídos;
 Emitir por escritas orientações pedagógicas no final de cada visita de
inspecção a qualquer estabelecimento de ensino público, particular,
consular e comunitário;
 Controlar o grau de cumprimento do sistema Nacional de avaliação e
fiscalizar a realização das provas periódicas (trimestrais, semestrais) e
finais;
 Realizar vistorias aos estabelecimentos de ensino particular, quando
solicitado;
 Intervir na realização dos serviços de provas de frequência e exames dos
alunos do ensino geral, nas instituições de ensino público, particular,
consular e comunitário;
 Elaborar relatórios de avaliação dos resultados finais das suas
actividades;
 Fiscalizar o cumprimento das leis e regulamentos relativos à educação e
ensino nos estabelecimentos que visitar e informar os superiores
hierárquicos;
 Acompanhar e controlar as actividades de educação extra – escolar;
 Acompanhar o funcionamento das comissões de pais e encarregados de
educação;
 Cumprir todas as demais funções que lhe forem superiormente atribuídas;

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 Promover reuniões metodológicas com os professores, directores de


escolas e coordenadores de disciplina e de classe;
 Fazer cumprir as orientações para as tarefas prioritárias do subsistema
do ensino geral, do subsistema da educação de adultos, secundário,
técnico – profissional e educação especial;
 Avaliar o nível de qualificação dos Directores no seu trabalho de gestão
dos estabelecimentos de ensino público, particular, consular, comunitário
e dos professores. _ Acompanhar as aulas e apoiar as aulas práticas dos
cursos de formação de professores;
 Intervir na realização dos serviços de frequência e exames;
 Fiscalizar as estruturas físicas dos estabelecimentos de ensino.

ANO LECTIVO – 2022/2023 34


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UNIDADE IV – ÓRGÃOS E ESTRUTURAS DA ESCOLA


IV.1- Princípios de direcção da escola
CONCEITO
Princípio, é um sistema de exigências que orientam a organização e métodos de
trabalho tendo em conta os objectivos da educação e as regras, normas e
procedimentos dos órgãos de direcção.
As funções da direcção realizam-se com base em determinadas regularidades,
os princípios com ajuda de determinados métodos.
Função, é o processo pelo qual se pode tomar medidas que possam dar
resultados reais mais próximos dos resultados previstos.
Direcção da escola, é a principal função da gestão escolar na qual se
impulsionam e se modera a vontade de cada elemento que realiza as acções
conforme o plano aprovado.
Os métodos, são as vias para aplicação dos princípios traduzidos em leis,
regulamentos, normas de convivências, etc.
Organização, é processo de combinação racional de normas, funções,
actividades e recursos de uma entidade ou instituição para atingir os seus
objectivos.
Em suma, princípios de direcção de escola (Liderança, funcionalização,
coordenação, experimentação, elasticidade).
UNIDADE IV – ÓRGÃOS E ESTRUTURAS DA ESCOLA
IV.2- O Conselho Directivo.
CONSELHO DE DIRECÇÃO
O conselho de direcção é órgão reitor e orientador de todas as actividades da
escola e é de onde emanam todas as directrizes para o trabalho geral da mesma.
Este órgão tem por função analisar as questões docentes e administrativas, com
o objectivo de tomar medidas que garantam o cumprimento do processo de
instrução e educação. As suas principais funções são:
 Programar de acordo com o estabelecido superiormente, as tarefas
concernentes à preparação e início do ano lectivo, nomeadamente a
realização de matrículas, organização de turmas e elaboração de
horários;
 Garantir o cumprimento do plano de trabalho e dos conteúdos
programáticos;
 Proceder a distribuição de tarefas específicas por cada um dos órgãos
existentes na escola;
 Regulamentar a organização interna da escola e os mecanismos de
controlo da efectividade docente, discente e do pessoal administrativo.
Este órgão deve reunir-se ordinariamente uma vez em cada dois meses e
extraordinariamente, sempre que necessário. O mesmo é constituído pelos
seguintes elementos:

ANO LECTIVO – 2022/2023 35


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 O director da escola que é o presidente;


 Os subdirectores da escola (pedagógico e administrativo);
 Os coordenadores de turno;
 O chefe de secretaria;
 Os coordenadores de disciplinas;
 Representante dos professores;
 Representante dos encarregados de educação;
 Presidente da associação dos alunos.
Pode ainda participar o coordenador da comissão de pais, como representante
da comunidade.
UNIDADE IV – ÓRGÃOS E ESTRUTURAS DA ESCOLA
IV.3- O Conselho de Professores
COMPOSIÇÃO E FUNÇÕES DO CONSELHO DE PROFESSORES
O conselho de professores, agrupa todo pessoal docente e dirigente para tratar
questões fundamentais do desenvolvimento do processo docente-educativo.
Composição do conselho de professores:
 Director;
 Subdirectores;
 Professores;
 Chefe de secretaria.
Funções do conselho de professores:
 Analisar as disposições e orientações por sua importância e natureza,
requer uma reunião;
 Analisa os resultados da promoção da escola;
 Propõe e sugere medidas julgadas conveniente para melhorar o
desenvolvimento do ensino.
UNIDADE IV – ÓRGÃOS E ESTRUTURAS DA ESCOLA
IV.4- O Conselho de Escola.
CONCEITO E REQUISITOS
O conselho de escola é o órgão máximo da escola. E reúne ordinariamente duas
vezes por ano, no principio e o fim do ano lectivo. E extraordinariamente caso
haja mudança de direcção.
Requisito do conselho de escola:
 Proceder a abertura e o encerramento do ano lectivo;
 Distribuir estímulos materiais aos alunos, professores e demais
trabalhadores no fim do ano lectivo;
 Dar a conhecer o regulamento interno e demais norma da escola.

ANO LECTIVO – 2022/2023 36


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UNIDADE IV – ÓRGÃOS E ESTRUTURAS DA ESCOLA


IV.5- O Sub-Director de Escola.
O SUBDIRECTOR PEDAGÓGICO
O subdirector pedagógico é um professor que coopera com o director de escola.
Na ausência do director ele é o responsável da escola.
O objectivo principal da sua função é:
 Acompanhar o processo de ensino e aprendizagem.
 Coordenar e supervisionar o planeamento, execução e avaliação do
processo de ensino e aprendizagem.
 Promover a actualização dos materiais, equipamentos e recursos para a
execução e avaliação dos programas de formação.
 Acompanhar a elaboração dos conteúdos, manuais e outros materiais de
suporte á formação.
 Promover e coordenar as reuniões com professores e coordenadores de
disciplina.
 Detectar todos os problemas de aprendizagem que se verificam ao longo
do processo e juntamente com os professores, estudar mecanismos para
ultrapassar tais anomalias.
O SUBDIRECTOR ADMINISTRATIVO
Ao subdirector administrativo, cabe entre outras as seguintes tarefas:
 Zelar pelo funcionamento da secretaria;
 Manter o inventário do património da escola, permanentemente
actualizado;
 Orientar a metodologia a empregar pelo coordenador de turno e pelo
chefe de secretaria, quanto ao registo diário da efectividade do corpo
docente, administrativo e outros;
 Executar plano de aquisição do material para a escola;
 Dinamizar e controlar as actividades de apoio social aos alunos
designadamente através das cantinas escolares e outros.

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UNIDADE V – O CONTEXTO LEGISLATIVO E A SUA REPERCURSSÃO NA


ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DA ESCOLA
V.1- Dependência funcional da escola
LEGISLAÇÕES EM VIGOR
A escola para o seu bom funcionamento depende de toda legislações que
regulam o sistema educativo, como:
 Constituição da república;
 Lei de Bases do Sistema de Educação e Ensino - 17/16 de 07 de Outubro,
em conjunto com a lei 32/20 de 12 de Agosto, (Lei que altera a lei 17/16
de 07 de Outubro).
 Regulamento do ensino geral
UNIDADE V – O CONTEXTO LEGISLATIVO E A SUA REPERCURSSÃO NA
ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DA ESCOLA
V.2- Lei de Bases do Sistema Educativo Angolano
LEI DE BASES DO SISTEMA DE EDUCAÇÃO E ENSINO
Angola foi durante 5 séculos, uma colónia portuguesa, tendo conquistado a
independência a 11 de Novembro de 1975. Em 1977 dois anos após a
independência nacional, foi aprovado um novo sistema nacional de educação e
ensino que foi implementado no início de 1978. Naquela altura Angola dispunha
apenas de cerca de 25.000 professores. Neste mesmo ano foi proclamado pela
primeira vez o dia 22 de Novembro como sendo o dia do educador, pelo então
presidente Drº António Agostinho Neto. Este novo sistema de ensino tinha os
seguintes princípios gerais:
 Igualdade de oportunidades no acesso e continuação dos estudos para
todos os cidadãos independentemente do sexo, raça, etnia, e crença
religiosa;
 Gratuitidade do ensino em todos os níveis;
 Aperfeiçoamento constante do pessoal docente.
Em 1986 foi efectuado pelo ministério da educação um diagnóstico ao sistema
de educação que permitiu fazer um levantamento das suas debilidades e
necessidades. Com base neste diagnóstico chegou-se a conclusão que era
necessária uma nova reforma educativa.
Em 1991 a educação em Angola passou a ter um carácter mais universal e liberal
surgindo em consequência as escolas privadas. Em 2001 se iniciam os primeiros
passos para a preparação da 2ª reforma do sistema de educação e foi aprovada
a Lei de bases do sistema de educação a lei 13/01 de 31 de Dezembro, esta lei
vigorou durante 15 anos e foi revogada (anulada) dando origem a lei nº17/16 de
7 de Outubro que também foi alterada recentemente para Lei nº32/20 de 12 de
Agosto de 2020 aprovada pela assembleia nacional da república de Angola,
sendo esta a actual Lei de Bases do sistema de educação.
Esta lei define o novo sistema de ensino cuja estrutura integra os seguintes
subsistemas:
 Subsistema de educação pré-escolar;
ANO LECTIVO – 2022/2023 38
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 Subsistema de ensino geral;


 Subsistema de ensino técnico profissional;
 Subsistema de formação de professores (pedagógico);
 Subsistema de educação de adultos;
 Subsistema de ensino superior.
Esta nova lei foi criada, havendo necessidade de se alterar algumas disposições
da referida lei, tais como: extinguir a monodocência na 5ª e 6ª classe. Alguns
artigos desta referida lei foram alterados para melhor clarificar as instituições de
cada subsistema de ensino e reafirmar o papel nuclear do professor na formação
dos alunos.
Sendo assim vamos considerar alguns dos principais artigos desta Lei:
 Legalidade (artigo nº6) - Todas as instituições de ensino e parceiros do
sistema de educação e ensino, devem pautar a sua actuação em
conformidade com a constituição da república de Angola e com a lei.
 Integridade (artigo nº7) - O sistema de educação e ensino deve assegurar
a correspondência entre os objectivos da formação com os objectivos de
desenvolvimento do país, e esses objectivos devem ser materializados
(aplicados) através dos conteúdos e métodos de formação que são
ministrados nas escolas.
 Laicidade (artigo nº8) - O sistema de educação é laico pela sua
independência de qualquer religião.
 Universalidade (artigo nº9) - O sistema de ensino tem carácter universal,
ou seja todos os indivíduos tem iguais direitos no acesso, na frequência e
sucesso escolar nos diversos níveis de ensino sem qualquer forma de
discriminação.
 Democraticidade (artigo nº10) - todos os indivíduos directamente
envolvidos no processo de ensino e aprendizagem, têm o direito de
participar na organização e gestão das estruturas e instituições afectas a
educação.
 Gratuitidade (artigo nº11) - isenção de qualquer pagamento pela inscrição,
assistência as aulas, material escolar e apoio social para todos os alunos
que frequentem o ensino primário nas instituições públicas de ensino. O
estado deve garantir e manter gratuita a frequência da classe da iniciação
e do I ciclo do ensino secundário, bem como transporte escolar, a saúde
escolar e a merenda nas instituições públicas de ensino. O pagamento da
inscrição, da assistência as aulas, do material escolar e de outros
encargos no II ciclo do ensino secundário e ensino superior, constituem
responsabilidade dos pais, encarregados de educação ou dos próprios
estudantes em caso de ser maior de idade.
 Obrigatoriedade (artigo nº12) - O estado, a sociedade, a família devem
assegurar e promover o acesso e a frequência ao sistema de educação e
ensino a todos os indivíduos em idade escolar.
 Intervenção do estado (artigo nº13) - A iniciativa de desenvolvimento da
educação é uma responsabilidade do estado, complementada pela
iniciativa de entidades privadas ou público-privadas. O estado pode apoiar
iniciativas para o desenvolvimento de instituições privadas ou público-
privadas desde que estas estejam integradas no plano de
desenvolvimento da educação.

ANO LECTIVO – 2022/2023 39


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 Qualidade de serviços (artigo nº14) - No exercício da sua actividade, as


instituições de ensino devem alcançar os melhores resultados no domínio
científico, técnico, tecnológico e cultural e promover a qualidade, o
sucesso escolar, a excelência, o mérito e a inovação.
 Educação e promoção de valores morais e cívicos (artigo nº 15) - O
sistema de educação e ensino promove o respeito pelos símbolos
nacionais, valoriza a história, a cultura nacional, a identidade nacional
bem como os valores morais dos bons costumes e da cidadania.
 Língua de Ensino (artigonº16) - O ensino nas escolas é ministrado em
língua portuguesa. O estado promove as condições humanas, materiais
e financeiras para a expansão e utilização das demais línguas de Angola,
bem como da linguagem gestual para os indivíduos com deficiência
auditiva. Podem também ser utilizadas línguas de Angola nos diferentes
subsistemas de ensino.
UNIDADE V – O CONTEXTO LEGISLATIVO E A SUA REPERCURSSÃO NA
ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DA ESCOLA
V.3- Regulamento Geral das Escolas
CONCEITO
Regulamento, são normas ou leis estabelecidas para dirigir competentemente
uma instituição.
ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA
 Órgão de direcção (Conselho de direcção e pedagógico)
 Órgão de apoio (Conselho de escola, professores, turma, notas,
disciplinar e comissão de pais).
 Órgão Executivo (Coordenação de turno, classe ou disciplina, de turma e
secretaria).
Em toda escola deverá ter um director que constitui a autoridade máxima e será
responsável pela organização, controlo de todas as actividades escolar e sxtra-
escolar. E também dois (2) subdirectores (Pedagógico e Administrativo) que
auxiliam o director.
DEVERES DO ALUNO
 Respeitar os professores e os restantes trabalhadores da escola;
 Manter uma boa conduta social entre outros;
 Participar nas actividades para o cumprimento do plano de estudo bem
como actividades desportivas, culturais e recreativas;
 Não se apresentar armado, drogado ou embriagado.
DIREITOS DO ALUNO
 Eleger e ser eleito para os escalões de base com que ela se relaciona;
 Expor francamente e abertamente os seus problemas;
 Ser avaliado tanto do ponto de vista do aproveitamento escolar como do
seu comportamento e atitude em geral.

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MANUAL DE ANÁLISE SOCIOLÓGICO DA EDUCAÇÃO/ADMINISTRAÇÃO & GESTÃO ESCOLAR

BIBLIOGRAFIA
GASPAR, Paulo e DIOGO, Fernando (2013). Sociologia da Educação e
Administração Escolar. Porto: Plural Editores.
LAKATOS, Eva Maria e MARCONI, Maria de Andrade (2010). Sociologia Geral.
7 ª Edição, São Paulo: Editora Atllas S.A
SILEPO, Celestina (2012), “A formação de Professores do Primeiro Ciclo do
Ensino Secundário em Angola. Caso do Instituto Garcia Neto (1975-2009).”
Revista de Ciências de Educação e Estudos Multidisciplinares – KULONGA, nº
8, pp. 41 – 53.
SILEPO, Celestina (2014), “Reformas no Ensino Primário em Angola (1975-
2010).” Revista de Ciências de Educação e Estudos Multidisciplinares –
KULONGA, nº 9, pp.
Lei 13/01 de 31 de Dezembro ʺLei de Bases do Sistema de Educaçãoʺ, Diário da
República Iª serie n.º 65 de 31 de Dezembro de 2001.
Lei 17/16 de 07 de Outubro ʺLei de Bases do Sistema de Educação e Ensinoʺ,
Diário da República Iª serie n.º 170 de 07 de Outubro de 2016.
Lei 32/20 de 12 de Agosto, que altera a Lei 17/16 de 07 de Outubro ʺLei de Bases
do Sistema de Educação e Ensinoʺ, Diário da República Iª serie n.º 123 de 12 de
Agosto de 2020.
NGULUVE, Alberto Kapitango (2010), Educação Angolana: Políticas de
Reformas do Sistema Educacional. 1ª Edição, São Paulo: Biscalchin Editor Lda.

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