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Nessa série Sacramentos de Umbanda, procuramos trazer ao

leitor uma explanação direta dos dirigentes espirituais sobre as


práticas sacramentais que encontramos dentro da Umbanda.
Essa, por ser uma religião multifocal e multicultural, irá também
refletir a pluralidade em suas práticas. A procura por um
entendimento comum, muitas vezes é infrutífera, pois apesar de
estarem sob a égide de um mesmo tronco – a palavra Umbanda
– as práticas se diferem de tamanha forma, que poderíamos dizer
se tratarem de religiões distintas. Mas não o são porque em seu
cerne eles mantêm uma mesma ideia e um mesmo núcleo, a
Caridade.
Abordamos no artigo anterior, os rituais de Batismo e nesse
contamos com nossos entrevistados para falar um pouco sobre O
Cruzamento e o Amaci.
O Cruzamento e o Amaci.
Dois rituais muito importantes dentro da Umbanda e que se
destinam quase que exclusivamente aos membros que compõe a
corrente mediúnica, sejam eles médiuns, curimbeiros ou
cambones.
Cada casa tem seu jeito de apresentar os cruzamentos, porém
nos registros de casas muito antigas podemos encontrar o ritual
sendo feito pelo dirigente ou guia-chefe da casa, ou ainda por
alguém por ele definido. Usando-se da Pemba Branca ou de
Pemba ralada, marcava-se no corpo do médium cruzes (+) em
determinados pontos, tais como: Fronte, Tórax, Umbigo (alguns
trocam pela nuca), Costas das Mãos e Peito dos Pés.
Dessa forma, cruzando e abençoando esses locais, lavava-se a
cabeça com o Amaci, que é um preparo de ervas bem grosso e
encorpado, preparado também pelas figuras acima citadas.
Há quem inverta o ritual, primeiro fazendo o Amaci e
posteriormente cruzando os médiuns, porém o que devemos
notar aqui é o intuito desses rituais, de preparar e sacramentar
certos pontos de “acoplamento” entre os espíritos comunicantes
(guias-espirituais) e os encarnados.
Não é algo que deva ser feito a qualquer momento, mas em um
ritual específico e geralmente fechado e dedicado só aos
trabalhadores da Casa Espiritual. Agora acompanhe abaixo, as
respostas de nossos entrevistados para as perguntas sobre
Cruzamento e Amaci.
5. O cruzamento dos médiuns tem um propósito específico
além de reconfirmar suas forças e energizá-lo?
José Antônio Rodrigues:  Entendo esta pergunta como o
cruzamento inicial e quando o mesmo se dá solicitado pela
entidade chefe, e é realizado por um médium de frente  da Casa
e tende sim a fortalecê-lo para a Gira a iniciar.
Allyne Freitas: Não trabalhamos com cruzamento na Tenda,
aqui fazemos o trabalho de reconfirmar as forças dos Orixás com
deitadas. Geralmente nas forças dos Pai de Cabeça dos filhos.
Eles fazem uma pequena oferenda e trazem a bebida do Orixá. 
Deitam no terreiro, lavamos a nuca e a coroa com a bebida dos
Orixás e cobrimos com o pano de cabeça, eles deitam na
esteira e durante a deitada passamos pelo corpo deles, o pau de
chuva e o adjá. É o ritual simples, porém com uma energia
maravilhosa. Entre os itens que trazem são 4 velas na cor do
Orixá, a guia nas forças do Orixá e flores.
Fernanda Maldonado e Júlio Rocha:  Em nossa casa o
cruzamento do médium é feita pela entidades dona da casa, o
propósito desse cruzamento é a energização e purificação do
médium.
Renato D’Ogum: Cruzamento efetuado pelas entidades
sagradas e de luz tem um propósito bem maior do que
imaginamos, alguns cruzam com objetivo de não pegar carga
negativa do terreiro, ou de onde aquele determinado médium
também passa. Claro, tudo depende do livre arbítrio do médium,
costumo falar que médium bom é aquele que tem
responsabilidade das suas atitudes e atos.
Felipe Campos: O Cruzamento pode ter diferentes funções
dependendo de qual ritual ou intenção se está aplicando, pode
ser uma iniciação, onde são cruzados pontos chaves de fluxo
energético do corpo do médium para que funcione como portais
da energia que irá ser iniciado, essa iniciação também pode ter
uma função de graduação do médium ao serviço mediúnico
dentro da hierarquia existente no seu Templo. Também pode ser
utilizado não para abrir pontos energéticos, mas para fechar,
dependendo da necessidade energética ao qual o médium ou a
casa passará, como por exemplo, na quaresma que muitos
Templos fazem o cruzamento para proteger o corpo espiritual e
físico do médium, logo o cruzamento é uma ritualística versátil e
fundamental do rol ritualístico de Umbanda.
Pirro d’Oba: Sabemos que o ser humano tem defeitos, busca
evolução e lapidação através da religião. Os cruzamentos, antes
de tudo tem o intuito de fornecer um realinhamento entre o alto, o
embaixo e o terreno. Envolver o médium num processo de
transcendência nos mistérios universais da existência.
Paulo Ludogero: Em nossa doutrina além dos itens citados (ver
primeiro artigo sobre Sacramentos de Umbanda: Batismo),
dependendo da situação serve para fechar o corpo e proteção.
6. O que é o Amassi, Amaci ou Amasse?
José Antônio Rodrigues:  Preparo de ervas aromáticas, ervas
de força, com água, álcool ou perfume misturados as ervas.
Nesta mistura são geralmente amassadas, maceradas com as
mãos dos filhos designados ao preparo.
Allyne Freitas: Amaci é a lavagem da coroa do filho nas forças
do Orixá, aqui temos o ritual de fazer nas 12 forças. Cada amaci
é feito com as ervas passadas e deixada de repouso na
quantidade de dias pedidos também. O filhos ficam de preceito e
no dia do Amaci abrimos a Jurema, saudando o mesmo,
defumando a cada filho e suas guias são deixadas junto ao amaci
para serem limpas e renovada as energias. Aqui saudamos e
usamos o Amaci como intuito de entrega aos Orixás de corpo,
alma e coração.
Fernanda Maldonado e Júlio Rocha:  Sim o preceito e o
mesmo. O que difere apenas e o tempo do preceito. A finalidade
do ritual de casamento na umbanda e a confirmação junto ao
astral do matrimônio. Os itens são a vela, o vinho, a pemba , o
sal e o pão.
Renato D’Ogum: O Amaci é um conjunto de forças energéticas
manuseadas por ervas frescas para uma possível iniciação ou
uma coroação. Hoje em dia é muito comum dar um amaci no
batismo ou em uma breve iniciação de um filho de umbanda
quando se entra em um terreiro para iniciar sua vida Umbandista.
Assim, existindo propósitos maiores para Amacis.
Felipe Campos: O Amaci é um preparado de ervas maceradas
de um determinado Orixá ou Orixás, que possuem um grande
poder da natureza e de suas potências universais que chamamos
de Orixás. São realizados para purificar, iniciar, batizar, enfim, e
entram como uma das principais ferramentas espirituais e
naturais da religião de Umbanda. Religião que desde o seu inicio
recorreu aos Amacis e que possui no seu principio a não
utilização de sangue animal, neste caso, o Amaci é usado com
tanta força quanto qualquer outro ritual que se use algum liquido
ou lavagem de cabeça.
Pirro d’Oba: Amací para nós é um ritual com ervas consagradas.
Serve para que possamos doar as energias dos Orixás aos
médiuns de acordo com os Orixás regentes de seus Orís. Ou
seja, se temos 7 filhos na casa que farão o ritual anual de amací,
detalhamos quais são seus Orixás de cabeça. E é com essas
informações que fazemos o processo, com foco de fornecer ao
médium um desdobramento de suas potencialidades, podendo
assim auxiliar através do impacto energético e espiritual uma
sensação de Epifania em sua experiência dentro do terreiro.
Paulo Ludogero: Em nossa doutrina é um conjunto de ervas
maceradas e consagradas pelos dirigentes, tem como função:
a) reforçar forças espirituais b) desenvolvimento c) coroação d) e
objetivos a mando dos guias chefe da casa.

Feitura de santo, no Candomblé e no Batuque significa


a iniciação de alguém no culto aos orixás.
Iniciação no candomblé.
A iniciação no culto aos orixás representa um renascimento, um
novo começo. A pessoa está nascendo novamente, nascendo
para o orixá, para o mundo espiritual e para uma vida em busca
da realização pessoal (pessoal, não material ou financeira), em
algumas casas inclusive a pessoa recebe até um novo nome pelo
qual será chamada dentro da comunidade do Candomblé. Por
meio da iniciação, nos preparamos e formamos para uma
conectividade firme, sagrada e permanente com o Divino, o
Criador, a natureza e suas funções protetoras e
consequentemente com nós mesmos. É como fazer um acordo
com o orixá, em que se diz que para sempre vamos cultuá-lo e
adorá-lo, e o orixá irá nos ajudar em toda nossa trajetória, em
vida e até depois dela. Através do apoio divino, o ser humano tem
condições para vencer as dificuldades internas e externas e a
construção de um futuro melhor.
A iniciação é um processo extremamente complexo e individual.
Diversos são os motivos que levam uma pessoa a iniciação, os
mais comuns são:
• O orixá dizer que a pessoa necessita de iniciação através
do oráculo de Ifá;
• A pessoa entrar em um transe profundo (como um desmaio)
durante uma cerimônia aos orixás, que significa que o orixá está
pedindo a iniciação. Nesse caso, o sacerdote consulta o jogo de
búzios para saber qual é o caso, qual o orixá e suas condições,
se pode esperar ou se é um caso urgente. Normalmente são
feitos acordos com o orixá até a pessoa ter condições financeiras
e férias de seu trabalho para poder se iniciar;
• A pessoa ter um carinho e apreço pela religião e pelos orixás,
encontrado no culto um local em que sinta que é o seu lugar e se
sentir acolhida, e decidir se iniciar de coração e por amor aos
orixás;
• Alguma doença difícil de ser curada e com grande risco de
morte que necessite da iniciação para resolvê-la;
Lembrando que em nenhum caso a pessoa é obrigada a se
iniciar, ela deve se iniciar de coração e não por alguém dizer
a ela que deve se iniciar.
Há casos em que as pessoas buscam os orixás pelas
dificuldades do próprio caminho; outros ainda, buscam fugir às
religiões tradicionais por concluírem que muitas delas estão tão
voltadas para o dia a dia dos homens e para os seus interesses
imediatos que acabam por fugir à sua real finalidade: promover o
encontro do ser com a Divindade, ampará-lo em suas
dificuldades espirituais e consequentemente, também as
materiais. Alguns ainda são provenientes de outras religiões ou
filosofias espiritualistas.
Após a decisão sobre a iniciação, o primeiro passo é consultar
o oráculo de Ifá, para recebermos as orientações e
procedimentos necessários para que tudo aconteça. Definida a
data e chegado o momento de iniciar-se, começam os rituais, que
variam de pessoa para pessoa. A iniciação tem por início o
recolhimento, que é a reclusão dentro do terreiro, que varia de 16
a 21 dias, longe da vida profana, devendo concentrar-se na
iniciação, no orixá e nos aprendizados. Corpo físico, mente e
alma são ritualisticamente preparados para os componentes da
manifestação divina. São feitos os ebós que foram apurados pelo
jogo de búzios, são tomados banhos com folhas sagradas e o
aprendizado começa, a rezar, dançar, cantar e etc. A pessoa
também faz o seu quelé, seus fios de conta, contreguns e demais
adornos que irá usar. Conhecimentos acerca de seu próprio orixá
são-lhe ministrados: a maneira adequada de cultuá-lo, as suas
proibições (euó), as virtudes que deverão ser cultivadas e os
vícios que deverão ser evitados para atrair influências benéficas
e uma relação harmoniosa com a divindade pessoal. Será feito o
ritual de bori (dar de comer ao Ori), onde é cultuado e ofertado o
primeiro orixá que se deve ser cultuado, o nosso próprio Ori.
Suspenso o bori depois de 3 dias normalmente, começa a
iniciação propriamente dita, que é a catulagem (cortar o cabelo),
dependendo da casa esse processo é feito no rio, durante um
ritual em que se faz alguns ebós e juramentos, e na volta é
ensinado o orixá (que normalmente incorpora nesse ritual, se a
pessoa for médium, mas não sendo obrigatório ele incorporar) o
caminho de volta para o terreiro, e em outras casas é feita com
as águas das quartinhas dos orixás, varia de casa para casa e do
carinho do sacerdote. Após esse processo, de volta ao terreiro, é
feito a raspagem total de cabelos, simbolizando o nascimento e
são feitos as curas, para preparar o corpo e cabeça da pessoa
para receber a energia enorme do orixá (Não significa que a
pessoa vai incorporar o orixá), e a pessoa recebe o seu quelé.
Após isso, é feito o assentamento do orixá, são feitos sacrifícios
de animais, onde através das rezas e cânticos, evolui o espírito
do animal que está sendo sacrificado e o encaminha para
o Orum, devendo toda iniciação ser oferecido pelo menos um
animal de 4 pés (animal caprino), flores, frutas e comidas
apuradas pelo jogo de búzios, devendo a carne dos animais
assim como as frutas e outras comidas, distribuídas e repartidas
com a comunidade. Após a iniciação, você e o orixá se tornam
uma coisa só, você passa a ser o templo vivo do orixá. Mesmo se
não incorporar, você ainda assim terá toda a energia, o axé e o
orixá dentro de você, ele só não vai se manifestar através do
transe.
Saída de Iaô
A festa ritualística que marca o término deste período é
denominada Saída de iaô, neste momento ele será apresentado
à comunidade. Ele será acompanhado por uma autoridade à
frente de todos para que lhe sejam rendidas homenagens. Se for
um ogã ou uma equede, deverá acompanhá-lo o orixá que
determinou que este fosse o ogã/equede dele. Deitado sobre
uma esteira, ele saudará com reverência e paó, que são palmas
compassadas que serão dadas a cada reverência feita pelo iaô e
acompanhadas por todos presentes, como demonstração de que
a partir daquele momento ele nunca mais estará sozinho na sua
caminhada. Primeiramente saudará o mundo, neste momento a
localização da esteira é na porta principal da casa. No seu
interior, ele saudará o axé (normalmente fica no centro
do barracão) onde estão os fundamentos da casa e do sacerdote,
os atabaques, o sacerdote que o iniciou, e no caso de ser um ogã
ou equede, saudará também o orixá que lhe escolheu. Nesse
ritual o corpo do filho de santo é pintado com pó branco (efum),
azul (uáji) e vermelho (ossum), ele usa na cabeça uma pena
vermelha chamada Ecodidé. Essa saída é feita normalmente em
3 dias seguidos. No primeiro dia, o iaô sai com roupas todas
brancas e com o corpo pintado apenas com efum,
homenageando Oxalá. No segundo dia, o Iaô sai pintado com
uáji e efum. No terceiro, com efum, uáji e ossum, representando
o orixá indo para a guerra, pintado para assustar os inimigos.
Após estes, vem a última saída, que é aberta a pessoas de fora
da comunidade, depois das reverências, é a hora do orixá
incorporado gritar seu Oruncó (nome). O sacerdote escolhe
alguém para ser o padrinho de Oruncó, que é a pessoa que vai
ouvir o nome do orixá. No caso de um ogã ou uma equede, o
orixá que te suspendeu dirá o nome do seu orixá e escolherá o
padrinho.
Porém o iaô ainda não terminou as obrigações terá ainda que
cumprir um preceito normalmente de três meses, dependendo do
orixá, e continuar usando o quelé (uma gargantilha de contas)
que foi colocada em seu pescoço no início da feitura de santo.
Durante esses três meses o iaô continuará dormindo
numa esteira, usará roupas brancas e seguir uma série de
restrições denominada de preceito ou resguardo como: não ter
relações sexuais, não se olhar no espelho (Lembrando que nesse
momento, você e o orixá se tornam um só, e até tirar o quelé, é
como se tudo que você fizesse fosse o orixá fazendo) não comer
carne vermelha, não beber bebidas alcoólicas, não fumar, e mais
algumas, dependendo do orixá da pessoa. Aquele que
descumprir o preceito deverá fazer a maioria dos processos
da iniciação novamente, pois não valerá de nada se ele não
cumpriu o preceito, além de não merecer o sagrado, pois prefere
se divertir nos prazeres carnais ao invés de colocar o orixá em
primeiro lugar. É o período mais difícil para o iaô que precisa
voltar a trabalhar, muitos se iniciam no período de férias do
trabalho e quando termina as férias precisam voltar para um
ambiente onde sem dúvida será notado por todos, discriminado
por alguns e terá que se manter calado, terá muitos problemas na
hora das refeições, pois está proibido de comer em bares e
restaurantes, terá que levar uma marmita, comer no chão e
aceitar os olhares de curiosidade. Algumas casas atualmente por
esse motivo têm feito alguns acordos com os orixás para que o
iaô que precisa trabalhar já saia do terreiro sem o quelé, mas terá
que cumprir todos os itens do resguardo nos mínimos detalhes.
Nesse caso não precisará usar somente branco, poderá usar
roupas de cores claras. Existem casos de empresas que o
uniforme é preto, marrom, azul marinho, nesses casos o orixá
permite, não vai querer que seu filho perca o emprego.
Terminado o período de quelé, é feita a retirada do mesmo e
outro ritual é feito para comemorar a comumente chamada "caída
de [quelé".

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