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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

ESCOLA POLITÉCNICA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA NAVAL E OCEÂNICA

IMPACTOS DA MINERAÇÃO NO OCEANO

Alexandre de Jesus Pitta - DRE 120137713


Fernando Nascimento de Almeida - DRE 120183976
Iago Pereira Sarruf Eccard - DRE 121145997

Rio de Janeiro
2022
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 3

2. COMO FUNCIONA A MINERAÇÃO EM ÁGUAS PROFUNDAS? 3

3. IMPACTOS 4
3.1. DESTRUIÇÃO DE HABITATS E EXTINÇÃO DE ESPÉCIES 4
3.2. POLUIÇÃO SONORA E LUMINOSA 4
3.3. SEDIMENTOS 5
3.4. GERAÇÃO DE RIQUEZAS 5
3.5. AMPLIAÇÃO DAS FONTES DE ENERGIA RENOVÁVEIS 6
3.6. PROBLEMAS NO SEQUESTRO DE CARBONO 6
3.7. ALTERAÇÃO NA QUALIDADE E NA QUANTIDADE DA ATIVIDADE PESQUEIRA 6

4. PERGUNTAS E RESPOSTAS CURTAS 6


➢ O QUE É MINERADO? 6
➢ QUEM REGULA ESSA OPERAÇÃO? 8
➢ COMO O BRASIL ESTÁ SE POSICIONANDO? 8
➢ COMO OS RECURSOS ESTÃO DISTRIBUÍDOS AO REDOR DO PLANETA? 9

5. CONCLUSÃO 9

6. REFERÊNCIAS 10
1. INTRODUÇÃO

O objetivo de atingir a neutralidade de carbono e mitigar os efeitos das


mudanças climáticas vem causando o aumento da demanda de metais como lítio,
cobalto, cobre e níquel. Esses recursos minerais são usados na produção de carros
elétricos, fontes de energia renováveis, baterias e outros produtos de alta
tecnologia. A exploração desses metais nos continentes muitas vezes é predatória,
extremamente poluidora e associada a diversos problemas sociais como é o caso
do cobalto na República Democrática do Congo. O país possui as maiores reservas
do metal e sua produção corresponde a cerca de 60% da produção mundial [1]
entretanto sua população vive na miséria ocasionada pela exploração massiva por
parte de companhias estrangeiras que impõe extensas jornadas de trabalho em
péssimas condições e salários baixos. Além disso, as reservas desses metais não
suprirão a crescente demanda e estão concentradas em regiões específicas.
As companhias mineradoras argumentam que a saída para esse problema é
o mar. Nos oceanos há grandes reservas desses minérios em forma de nódulos e
sulfetos polimetálicos que aumentariam a oferta. Entretanto, pouco se sabe
efetivamente sobre os impactos dessa ação sobre o ambiente marinho. Esse
trabalho visa elucidar os impactos que se sabem até então, bem como responder
possíveis perguntas acerca da exploração mineral no fundo do mar.

2. COMO FUNCIONA A MINERAÇÃO EM ÁGUAS PROFUNDAS?

A extração dos minérios nos oceanos começa logo após a confirmação de


que a área é economicamente viável. Em seguida uma plataforma é instalada ou
uma embarcação se desloca para o local. Com ajuda de um guindaste, um veículo
coletor é baixado até o leito marinho onde começa a operação de coletar os
minérios. A partir do veículo coletor, os minérios são bombeados até a plataforma ou
embarcação através de um tubo. Na plataforma ou no navio, é realizada a
separação dos minérios e dos rejeitos. Através de outro tubo, os rejeitos da
operação são despejados novamente no mar.
Para melhor visualização do processo de mineração, o MIT produziu um
vídeo no qual explica e ilustra todas as etapas aqui citadas. O link para acesso se
encontra nas referências [7].

Figura 1. Exemplo de veículo coletor usado na mineração submarina


Fonte: retirado do MIT News
3. IMPACTOS

Apesar de cobrirem cerca de 71% da superfície do planeta, existe um


consenso de que 80% dos oceanos permanecem inexplorados. Dessa forma, os
impactos gerados pela mineração em águas profundas não são totalmente
conhecidos. Apesar de tudo, pode-se citar alguns desses impactos:

3.1. DESTRUIÇÃO DE HABITATS E EXTINÇÃO DE ESPÉCIES

A mineração dos nódulos polimetálicos no leito marinho envolve a sucção de


toda a camada, incluindo possíveis seres vivos que ali habitam. Calcula-se que uma
empresa que recebesse uma licença de 30 anos para minerar no fundo do oceano,
removeria entre 8 e 9 mil quilômetros quadrados de superfície. Para o caso da
mineração das crostas de ferro manganês que são retiradas das montanhas
submarinos, haveria a remoção de espécies como esponjas e corais que por sua
vez formam um ecossistema que abriga outros seres vivos. Por fim, para obtenção
dos sulfetos, a mineração é feita próxima de fontes hidrotermais que são regiões
extremamente frágeis.

Figura 2. Monte submarino com crostas de ferro manganês com corais ao fundo
Fonte: retirado das publicações da ISA

3.2. POLUIÇÃO SONORA E LUMINOSA

A atividade de mineração no fundo do mar gera ruídos. Em condições


naturais, o leito marinho é um ambiente silencioso. O uso de máquinas necessárias
para a atividade aumenta a poluição sonora. Como já comprovado, o aumento da
poluição sonora nesses ambientes afeta a comunicação de animais como as baleias
ou golfinhos. Dessa forma, impedindo que os mesmos se reproduzam ou se
alimentem. Além disso, a poluição afeta outros comportamentos.
Na profundidade que são encontrados os minérios, a luz natural dos astros
ou antropofágica não alcança essas regiões. A atividade mineradora emite luz
fazendo com que seres que não estão acostumados adquirem problemas de visão.
Outros impactos na vida da biota são a migração para outras regiões, alteração na
cadeia alimentar e dificuldade de comunicação.
3.3. SEDIMENTOS

A operação de mineração em águas profundas gera dois tipos de plumas de


sedimentos: as geradas pela atividade do veículo coletor no leito marinho e as que
são formadas a partir dos rejeitos do processo. O principal impacto gerado pelo
levantamento desses sedimentos é tornar a água turva, atrapalhando a visão dos
seres vivos e consequentemente dificultando a busca por alimentos e parceiros. As
partículas levantadas também oferecem sérios danos ao sistema respiratório das
espécies podendo levar à asfixia.
As espécies que se alimentam através de filtração são uma das mais
afetadas pelo levantamento dos sedimentos. Esses seres se alimentam de
partículas de comida suspensas no oceano e através de uma estrutura filtradora
retira a água e retêm apenas o alimento. Com as plumas geradas através da
mineração, as partículas de poeira levantadas serão filtradas juntamente dos
alimentos podendo levar essas espécies à morte.
Devido a turbidez das águas pelas nuvens de sedimentos, a luz terá
dificuldade em se infiltrar no fundo dos oceanos e impedindo que os fitoplânctons
façam fotossíntese. Esses seres minúsculos formam a base da cadeia alimentar e
qualquer alteração deles resulta em mudanças significativas da teia alimentar.
Esses impactos não estão restritos a apenas as regiões onde as atividades
de mineração ocorrerão, já que as plumas podem se espalhar por centenas de
quilômetros.

Figura 3. Plumas de sedimentos gerados no leito marinho pela utilização de um veículo coletor
Fonte: retirado do MIT News

3.4. GERAÇÃO DE RIQUEZAS

O potencial presente nas reservas em águas profundas é inestimável. Sua


exploração gerará riquezas que também são incalculáveis. Atualmente,
investimentos em pesquisas e desenvolvimentos de novas tecnologias estão sendo
feitos, mas a perspectiva é que os mesmos se tornem cada vez mais abundantes
conforme a mineração se tornar uma realidade. O aumento do emprego associado à
cadeia logística de produção não só diretamente ligadas ao setor como a indústria
naval e robótica mas também aqueles indiretamente ligados como é o caso do setor
de energia.

3.5. AMPLIAÇÃO DAS FONTES DE ENERGIA RENOVÁVEIS

O principal argumento para a mineração em águas profundas é a crescente


demanda de minérios como o lítio e o níquel para uso em tecnologias associadas a
energias renováveis. O aumento da oferta desses materiais no mercado resultaria
na redução de preços dos mesmos. Como consequência, as fontes de energia
renováveis como solar e eólica se tornariam ainda mais atrativas devido ao
constante barateamento resultando na ampliação dessas fontes.

3.6. PROBLEMAS NO SEQUESTRO DE CARBONO

Um terço do carbono emitido por atividades humanas são absorvidos pelos


oceanos. O desequilíbrio desses ecossistemas resultaria em uma mudança na
quantidade de carbono absorvido, podendo agravar mais ainda os efeitos do
aquecimento global.

3.7. ALTERAÇÃO NA QUALIDADE E NA QUANTIDADE DA ATIVIDADE


PESQUEIRA

O levantamento dos sedimentos já discorridos também resulta na elevação


de metais. Esses metais que são tóxicos para a vida como um todo são ingeridos
por seres que se encontram na base da pirâmide alimentar. Dessa forma, ocorre um
fenômeno denominado bioacumulação que consiste no acúmulo dessas substâncias
em níveis tróficos altos. Ou seja, o predador final terá altos índices desses metais
em seu organismo.
Esse fenômeno resultaria em duas outras consequências: a diminuição da
quantidade da pesca devido a morte dos seres por causa da bioacumulação e a
alteração na qualidade dos alimentos provindos do mar.
Como consumidores finais, os humanos são os mais afetados podendo sofrer
de diversas doenças associadas à presença excessiva de metais como danos ao
sistema nervoso e câncer.

4. PERGUNTAS E RESPOSTAS CURTAS

➢ O QUE É MINERADO?

Chumbo, cobalto, cobre, manganês, níquel e zinco são os principais


elementos encontrados no fundo do mar através de três tipos de mineração:
● Crostas de ferro manganês: são encontradas em montes submarinos.
Contém principalmente níquel, cobalto e manganês mas podendo conter
ainda outros elementos como o molibdênio, o titânio e o tungstênio.

Figura 4. Exemplo de crosta encontrada no fundo do mar


Fonte: retirado das publicações da ISA

● Nódulos polimetálicos: acredita-se que a formação dos nódulos se dá a partir


da precipitação dos elementos metálicos presentes na água. São mais
comuns que os outros dois citados aqui, podendo ser encontrados até
mesmo em lagos. São formados principalmente por manganês e ferro,
contendo também níquel, cobre, silício, alumínio e outros metais.

Figura 5. Exemplo de nódulos polimetálicos dispostos no leito marinho


Fonte: retirado das publicações da ISA

● Sulfetos polimetálicos: são encontrados nas extremidades das placas


tectônicas e em regiões vulcânicas. São formados quando os fluidos das
hidrotermais encontram a água fria do fundo do oceano. O resfriamento do
fluido provoca a precipitação dos sulfetos formando grandes reversas. A
partir deles é obtido chumbo, zinco, bário e até mesmo prata.
Figura 6. Exemplo de reserva de sulfetos a partir de uma hidrotermal
Fonte: retirado das publicações da ISA

Informações mais detalhadas podem ser encontradas no site da International


Seabed Authority (ISA) disponível nas referências [8].

➢ QUEM REGULA ESSA OPERAÇÃO?

Em 1982, a Organização das Nações Unidas (ONU) definiu através da


Convenção das Nações Unidades sobre o Direito do Mar (UNCLOS, sigla em inglês
para United Nations Convention on the Law of the Sea) a Zona Econômica
Exclusiva que define que um país pode explorar livremente os recursos disponíveis
a 200 milhas de seu território continental. Para além disso foi criada a ISA
(International Seabed Authority) que regula, entre outras coisas, a exploração dos
recursos marinhos além da zona econômica exclusiva. Estabelecida na capital da
Jamaica, a organização é quem regula e dá permissão para a exploração dos
minerais encontrados em águas profundas. Atualmente conta com 168
Estados-membros.

➢ COMO O BRASIL ESTÁ SE POSICIONANDO?

Criado em 1997, o Programa de Avaliação da Potencialidade Mineral da


Plataforma Continental Jurídica Brasileira (REMPLAC) busca mapear e quantificar o
potencial dos recursos da chamada Amazônia Azul. Através do programa, a
Marinha do Brasil junto do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) com a colaboração
de outras empresas e instituições trabalham em conjunto para extrair informações
sobre os recursos minerais marinhos. Essas informações serão posteriormente
aproveitadas não só pelo governo para estabelecer políticas e estratégias para a
utilização de tais recursos, como também por empresas privadas durante a
exploração desses bens.
Em 2009, o país fundou o Programa de Prospecção e Exploração de
Recursos Minerais da Área Internacional do Atlântico Sul e Equatorial (PROAREA).
O programa possui objetivos parecidos aos do REMPLAC. Foi no PROAREA que o
Brasil submeteu a permissão para exploração dos recursos minerais junto ao ISA.
Desde 2013, o Brasil realiza pesquisas através do projeto "Crostas Cobaltíferas da
Elevação do Rio Grande" (PROERG) sendo o único país da América Latina a ter um
projeto deste tipo.

➢ COMO OS RECURSOS ESTÃO DISTRIBUÍDOS AO REDOR DO


PLANETA?

A maior concentração desses recursos se encontra no Oceano Pacífico.


Além dos sulfetos que se localizam próximos das extremidades das placas
tectônicas e em regiões vulcânicas. Em outra publicação da ISA [8], foram
mapeados as reservas desses recursos até então descobertas:

Figura 7. Distribuição dos recursos ao redor do mundo


Fonte: retirado das publicações da ISA

5. CONCLUSÃO

Como já mencionado, a profundeza dos vastos oceanos do planeta


permanece um mistério e os impactos associados a qualquer atividade
antropológica neste meio também carece de conhecimento. Apesar de tudo, através
de muita pesquisa, é possível mensurar com alguma precisão os possíveis
impactos. A problemática da necessidade dos metais para a transição energética é
um assunto que deve ser tratado com urgência e optar por explorar o fundo do
oceano tendo em vista os impactos gerados não é uma solução sobretudo quando
pautadas por interesses financeiros.
Dessa forma, deve-se buscar aprimorar as tecnologias de mineração, estudar
com mais profundidade os impactos gerados no meio e buscar sempre mitigar os
mesmos. Assim, faz-se necessário a colaboração internacional por meio da ISA
buscando sempre a melhor opção para o meio ambiente como um todo.

6. REFERÊNCIAS

[1] Agência Nacional de Mineração. Sumário Mineral Brasileiro, 2018


[2] Miller, K. A. et al. Challenging the Need for Deep Seabed Mining From the
Perspective of Metal Demand, Biodiversity, Ecosystems Services, and Benefit
Sharing, 2021
[3] Gomes, A. S. et al. Causas e consequências do impacto ambiental da
exploração dos recursos marinhos, 2001
[4] Palma, J. J. C. e Pessanha, I. B. M.. Depósitos ferromanganesíferos de
oceano profundo, 2001
[5] Souza, K. G.. Recursos minerais marinhos além das jurisdições nacionais,
2001
[6] Mello, S. L. M. e Quental, S. H. A. J.. Depósitos de sulfetos metálicos no
fundo dos oceanos, 2001
[7] MIT Mechanical Engineering. Visualizing Deep-sea Mining.Disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=Lwq1j3nOODA. Acessado em 04/12/2022 às
12:34
[8] International Seabed Authority. ISA’s Publications. Disponível em:
https://www.isa.org.jm/publications. Acessado em 04/12/2022 às 13:56

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