Este documento discute como as imagens capturadas por cidadãos comuns durante protestos sociais e exibidas no Jornal Nacional podem ser analisadas à luz dos conceitos de Vilém Flusser sobre imagem e tecnologia. O autor analisa dois vídeos do JN sobre protestos contra o impeachment de Dilma Rousseff e argumenta que, embora simbólicas, essas imagens são apresentadas como "janelas" e não necessariamente representam o que significam.
Este documento discute como as imagens capturadas por cidadãos comuns durante protestos sociais e exibidas no Jornal Nacional podem ser analisadas à luz dos conceitos de Vilém Flusser sobre imagem e tecnologia. O autor analisa dois vídeos do JN sobre protestos contra o impeachment de Dilma Rousseff e argumenta que, embora simbólicas, essas imagens são apresentadas como "janelas" e não necessariamente representam o que significam.
Este documento discute como as imagens capturadas por cidadãos comuns durante protestos sociais e exibidas no Jornal Nacional podem ser analisadas à luz dos conceitos de Vilém Flusser sobre imagem e tecnologia. O autor analisa dois vídeos do JN sobre protestos contra o impeachment de Dilma Rousseff e argumenta que, embora simbólicas, essas imagens são apresentadas como "janelas" e não necessariamente representam o que significam.
Conforme Flusser (2002), “a aparente objetividade das imagens técnicas é
ilusória, pois na realidade são tão simbólicas quanto o são todas as imagens. Devem ser decifradas por quem deseja captar-lhes o significado” (FLUSSER, 2002, p. 14). Além disso, tal “caráter aparentemente não-simbólico, objetivo, das imagens técnicas faz com que seu observador as olhe como se fossem janelas e não imagens” (FLUSSER, 2002, p. 13). Logo, as assertivas do teórico indicam a possibilidade analítico-empírica com relação ao objeto de estudo “imagem”. Imagem, para Flusser (2002), é a “superfície significativa na qual as ideias se inter-relacionam magicamente” (FLUSSER, 2002, p. 07). Já a imagem técnica é aquela produzida por aparelhos. E, aparelho, por sua vez, o “brinquedo que simula um tipo de pensamento” (FLUSSER, 2002, p. 07). Ademais, é possível permanecer nesse jogo de conceituações por longo tempo, caso escolhamos dar atenção única ao glossário constante do livro do referido autor, denominado “Filosofia da caixa preta”. Porém, as três proposições anteriores são suficientes para iniciar a discussão pretendida. Debruçando-nos sobre a mecânica de construção de sentido no contexto das elaborações audiovisuais contemporâneas, registradas durante manifestações sociais e exibidas pelo Jornal Nacional (JN), é possível verificar a aplicação conceitual descrita acima. Tais produções são consideradas como “filmes domésticos” ou “de amadores” (COMPARATO, 1995, p. 48), e, normalmente, são elaboradas mediante o uso de telefone celular para captura de imagens em áudio e vídeo. Assim, de forma externa ao padrão canônico jornalístico, os produtores desse tipo de conteúdo atuam como “fontes de informação”, ao passo que são, também, “instância de recepção” e “receptores” (CHARAUDEAU, 2013, p. 35). Então, tomando como exemplo dois momentos específicos relativo a um nota coberta veiculada pelo JN no dia 31 de agosto de 2016 – mesma semana em que houve a confirmação e divulgação efetiva da notícia a respeito da aprovação do impeachment de Dilma Rousseff, que no período se encontrava afastada da presidência da República, e da tomada de posse por parte do então presidente interino, e, portanto, vice-presidente, Michel Temer –, tem-se o seguinte quadro:
O vídeo, disponível no site do JN, é intitulado como “Manifestantes protestam
contra afastamento de Dilma” e, durante seus 00:38”, mostra as ocorrências de mobilização social daquelas noite. De forma assertiva, a análise do material demonstra uma característica jornalística específica: tomadas feitas a partir de planos gerais, quando a câmera registra imagens de forma ampla, sem detalhamentos ou especificidades. A nota transmite pouca informação em pouco tempo: com velocidade e variação de imagens constantes, planos e sequências breves e sem progressão definida, bem como pouco movimento ou variação fílmica. Essas características, aliadas ao conteúdo verbal, que é narrado pela jornalista Renata Vasconcellos, constroem o todo verbovisual referente à nota. Isto posto, e apoiando-nos nas conceituações de Flusser (2002), é possível ir além do conceito propriamente dito e delinear uma relação entre teoria e prática. A questão simbólica das imagens é um dos primeiros pontos a serem considerados no âmbito desta explanação. Apesar disso, tal análise deve ser esmiuçada aqui, pois a questão simbólica é abrangente e complexa a ponto de poder ser desmembrada em longas páginas. Logo, a relação mais básica e “simples” é aquela que aponta para questões mais técnicas, com atenção especial à questão temporal no que diz respeito às imagens audiovisuais. Ainda que haja questões de “inter-relação mágica” entre as ideias na superfície de uma imagem (FLUSSER, 2002, p. 07), a imagem é apresentada como “janela”, e não necessariamente a representação daquilo que ela própria significa. Sendo ela técnica ou apenas ela “por si só”, e provinda de um objeto capaz de simular pensamentos, é, pois, a representação ou da câmera fotográfica em si, ou de uma questão ideológica relativa ao jornal no qual as imagens em questão foram veiculadas.
REFERÊNCIAS
CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das mídias. São Paulo: Contexto, 2013.
COMPARATO, Doc. Da criação ao roteiro: o mais completo guia da arte e técnica de
escrever para televisão e cinema. Rio de Janeiro: Rocco, 1995.
FLUSSER, Vilém. Filosofia da caixa preta. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.
G1. Jornal Nacional. Manifestantes protestam contra afastamento de Dilma.
Guia prático para análise de imagens: propostas para análise de imagens em livros e manuais, revistas, cartazes, sites e noutros suportes de textos visuais, com recurso a metodologias e grelhas de análise