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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

Departamento Acadêmico de Linguagem e Comunicação


Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens
Área: Linguagem e Tecnologia
Linha de Pesquisa: Estéticas contemporâneas, modernidade e
tecnologia

Disciplina: OP01 – Imagem, Visualidade e Tecnologias


Professora: Drª. Anuschka Lemos
Aluna: Priscila Tobler Murr

Conforme Flusser (2002), “a aparente objetividade das imagens técnicas é


ilusória, pois na realidade são tão simbólicas quanto o são todas as imagens. Devem
ser decifradas por quem deseja captar-lhes o significado” (FLUSSER, 2002, p. 14).
Além disso, tal “caráter aparentemente não-simbólico, objetivo, das imagens técnicas
faz com que seu observador as olhe como se fossem janelas e não imagens”
(FLUSSER, 2002, p. 13). Logo, as assertivas do teórico indicam a possibilidade
analítico-empírica com relação ao objeto de estudo “imagem”.
Imagem, para Flusser (2002), é a “superfície significativa na qual as ideias se
inter-relacionam magicamente” (FLUSSER, 2002, p. 07). Já a imagem técnica é aquela
produzida por aparelhos. E, aparelho, por sua vez, o “brinquedo que simula um tipo de
pensamento” (FLUSSER, 2002, p. 07). Ademais, é possível permanecer nesse jogo de
conceituações por longo tempo, caso escolhamos dar atenção única ao glossário
constante do livro do referido autor, denominado “Filosofia da caixa preta”. Porém, as
três proposições anteriores são suficientes para iniciar a discussão pretendida.
Debruçando-nos sobre a mecânica de construção de sentido no contexto das
elaborações audiovisuais contemporâneas, registradas durante manifestações sociais e
exibidas pelo Jornal Nacional (JN), é possível verificar a aplicação conceitual descrita
acima. Tais produções são consideradas como “filmes domésticos” ou “de amadores”
(COMPARATO, 1995, p. 48), e, normalmente, são elaboradas mediante o uso de
telefone celular para captura de imagens em áudio e vídeo. Assim, de forma externa ao
padrão canônico jornalístico, os produtores desse tipo de conteúdo atuam como “fontes
de informação”, ao passo que são, também, “instância de recepção” e “receptores”
(CHARAUDEAU, 2013, p. 35).
Então, tomando como exemplo dois momentos específicos relativo a um nota
coberta veiculada pelo JN no dia 31 de agosto de 2016 – mesma semana em que
houve a confirmação e divulgação efetiva da notícia a respeito da aprovação do
impeachment de Dilma Rousseff, que no período se encontrava afastada da
presidência da República, e da tomada de posse por parte do então presidente interino,
e, portanto, vice-presidente, Michel Temer –, tem-se o seguinte quadro:

O vídeo, disponível no site do JN, é intitulado como “Manifestantes protestam


contra afastamento de Dilma” e, durante seus 00:38”, mostra as ocorrências de
mobilização social daquelas noite. De forma assertiva, a análise do material demonstra
uma característica jornalística específica: tomadas feitas a partir de planos gerais,
quando a câmera registra imagens de forma ampla, sem detalhamentos ou
especificidades. A nota transmite pouca informação em pouco tempo: com velocidade e
variação de imagens constantes, planos e sequências breves e sem progressão
definida, bem como pouco movimento ou variação fílmica. Essas características,
aliadas ao conteúdo verbal, que é narrado pela jornalista Renata Vasconcellos,
constroem o todo verbovisual referente à nota.
Isto posto, e apoiando-nos nas conceituações de Flusser (2002), é possível ir
além do conceito propriamente dito e delinear uma relação entre teoria e prática. A
questão simbólica das imagens é um dos primeiros pontos a serem considerados no
âmbito desta explanação. Apesar disso, tal análise deve ser esmiuçada aqui, pois a
questão simbólica é abrangente e complexa a ponto de poder ser desmembrada em
longas páginas. Logo, a relação mais básica e “simples” é aquela que aponta para
questões mais técnicas, com atenção especial à questão temporal no que diz respeito
às imagens audiovisuais. Ainda que haja questões de “inter-relação mágica” entre as
ideias na superfície de uma imagem (FLUSSER, 2002, p. 07), a imagem é apresentada
como “janela”, e não necessariamente a representação daquilo que ela própria significa.
Sendo ela técnica ou apenas ela “por si só”, e provinda de um objeto capaz de simular
pensamentos, é, pois, a representação ou da câmera fotográfica em si, ou de uma
questão ideológica relativa ao jornal no qual as imagens em questão foram veiculadas.

REFERÊNCIAS

CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das mídias. São Paulo: Contexto, 2013.

COMPARATO, Doc. Da criação ao roteiro: o mais completo guia da arte e técnica de


escrever para televisão e cinema. Rio de Janeiro: Rocco, 1995.

FLUSSER, Vilém. Filosofia da caixa preta. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.

G1. Jornal Nacional. Manifestantes protestam contra afastamento de Dilma.


Disponível em: <http://g1.globo.com/jornal-nacional/videos/t/edicoes/v/manifestantes-
protestam-contra-afastamento-de-dilma/5274674/>. Acesso em: 10 mai. 2018, 11h51.

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