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Universidade do Porto
Centro de Investigação,
Formação, Inovação e
Intervenção em Desporto
(CIFI2D)
Porto, 2021
Faculdade de Desporto
Universidade do Porto
Centro de Investigação,
Formação, Inovação e
Intervenção em Desporto
(CIFI2D)
Porto, 2021
III
Ficha de catalogação:
IV
Cântico Negro E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os
“Vem por aqui" — dizem-me alguns desertos...
com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros Ide! Tendes estradas,
De que seria bom que eu os ouvisse Tendes jardins, tendes canteiros,
Quando me dizem: "vem por aqui!" Tendes pátria, tendes tetos,
Eu olho-os com olhos lassos, E tendes regras, e tratados, e
(Há, nos olhos meus, ironias e filósofos, e sábios...
cansaços) Eu tenho a minha Loucura!
E cruzo os braços, Levanto-a, como um facho, a arder na
E nunca vou por ali... noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos
A minha glória é esta: nos lábios...
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém. Deus e o Diabo é que me guiam, mais
— Que eu vivo com o mesmo sem- ninguém!
vontade Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Com que rasguei o ventre à minha Mas eu, que nunca principio nem
mãe acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o
Não, não vou por aí! Só vou por onde Diabo.
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de Ah, que ninguém me dê piedosas
vós responde intenções,
Por que me repetis: "vem por aqui!"? Ninguém me peça definições!
Prefiro escorregar nos becos Ninguém me diga: "vem por aqui"!
lamacentos, A minha vida é um vendaval que se
Redemoinhar aos ventos, soltou,
Como farrapos, arrastar os pés É uma onda que se alevantou,
sangrentos, É um átomo a mais que se animou...
A ir por aí... Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Se vim ao mundo, foi Sei que não vou por aí!
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na
areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Gostaria de dedicar este trabalho aos meus pais, por toda a generosidade
e apoio, o que tornou possível desenhar os meus próprios pés na areia
inexplorada, permitindo-me manter a minha loucura!
VII
VIII
Agradecimentos
Ao professor Jorge Olímpio Bento, por ser uma referência, pela amizade
e por todos ensinamentos durante a Unidade Curricular Formação de Mestre
e Doutores, que perdurarão para sempre na minha memória. Dos quais
IX
destaco o seguinte: ser doutor é também querer parecer e ser um fugitivo,
alguém que foge de crendices, suposições e adesões antigas, ocas,
avelhentadas e coçadas e procura ir na direção contrária a alguns juízos e
preconceitos ainda assaz comuns e em moda.
À professora Ana Paula Martins, pela amabilidade com que, sempre que
necessário, me ajudou a refletir e a questionar acerca de alguns aspetos
relacionados com a metodologia de investigação. Por ter alertado para os
perigos e por ter sugerido algumas soluções.
X
Ao treinador Francisco Neto, pela amabilidade com que colaborou neste
trabalho, expondo, através das diversas conversas, o trabalho que tem vindo
a desenvolver na Federação Portuguesa de Futebol no departamento de
Futebol Feminino, na sua qualidade de treinador principal da seleção A.
XI
Porto. Tal veio a revelar-se um excelente complemento ao conhecimento já
adquirido enquanto aluno do professor V. Frade, na faculdade.
XII
organização dos meus pensamentos, ou à articulação das minhas ideias; e
de certo modo, também, à escrita de algumas das frases que figuram neste
trabalho.
XIII
XIV
Índice Geral
Dedicatória................................................................................................... VII
Agradecimentos ........................................................................................... IX
Índice de Apêndices.................................................................................XXIII
Abstract................................................................................................... XXVII
Capítulo I – Enquadramento....................................................................... 15
1. Introdução............................................................................................. 17
XV
3.2. O contributo da intervenção pedagógica do treinador ...................... 60
3.3. A especificidade do esforço no contexto do jogo de futebol ............. 63
3.4. A periodização sistémica a partir da especificidade e da
representatividade ......................................................................................... 67
1. Introdução........................................................................................... 147
1. Introdução........................................................................................... 195
XVI
2.2. Entrevista 2 – A perspetiva de Carlos Pinto ................................... 213
2.3. Entrevista 3 – A perspetiva de Carlos Carvalhal ............................ 227
2.4. Entrevista 4 – A perspetiva de Ilídio Vale ....................................... 245
2.5. Entrevista 5 – A perspetiva de Francisco Neto ............................... 258
2.6. Entrevista 6 – A perspetiva de José Peseiro .................................. 269
2.7. Entrevista 7 – A perspetiva de Paulo Bento ................................... 284
2.8. Entrevista 8 – A perspetiva de Pedro Caixinha .............................. 299
2.9. Entrevista 9 – A perspetiva de Vítor Pereira ................................... 316
2.10. Entrevista 10 – A perspetiva de Vítor Oliveira ................................ 332
REFERÊNCIAS........................................................................................... 409
XVII
XVIII
Índice de Figuras
XIX
XX
Índice de Tabelas
XXI
XXII
Índice de Apêndices
XXIII
XXIV
Resumo
XXV
XXVI
Abstract
The football game has a complex and chaotic nature. In this scenario, the
effective teams seem to be the ones that through specific tactical dynamics are
better able to solve the problems that emerge during the matches, showing a high
coherence between the ideas to play and the game played. In view of the training
potential, such tactical effectiveness seems to depend on the way in which players
develop specific and representative decision-making before and during the
competitive period. However, scientific research in this field remains scarce. Thus,
the present investigation aims to map the conceptions of football training
periodization. For this purpose, we searched for reference publications and, starting
from a naturalistic approach using a qualitative methodology, partly structured
interviews were conducted with ten soccer coaches of recognized merit because it is
understood that the experiences of those who walk on the ground they can contribute
to the enrichment of the theoretical and scientific debate in the domain of
periodization. With the aid of the NVivo12 software and using content analysis, the
individual perspectives of each participant were compiled and later crossed and
discussed. From the interpretation of the interviews, there is some convergence in
relation to the way the training periodization is performed. During the preparatory and
competitive periods during the training sessions available to train between matches,
through practical tasks that establish points of contact with non-linear pedagogy, the
coaches sequence in an articulated, simultaneous and inseparable way (i.e., in
systemic interaction), the complexity of the practice contexts underlying the portion of
the game model that is experienced, the dominance of a bioenergetic system, the
pattern of muscle contraction and the relationship between the specific effort and the
total practice time to which the players are exposed. All of this in order to allow
players to train and recover with a view to acquiring high performances. With this
investigation, it is expected to have contributed to the scientific debate around the
periodization of soccer training, as well as to profile and synthesize a body of
knowledge related to the particularities and nexuses that training periodization
requires to induce excellent performances in the field of football.
XXVII
XXVIII
Índice de Abreviaturas
AC – Análise de Conteúdo
BL – Bruno Lage
BT – Bloque de Temporada
CC – Carlos Carvalhal
CP – Carlos Pinto
CP – Creatina Fosfato
XXIX
FCP – Futebol Clube do Porto
FN – Francisco Neto
IV – Ilídio Vale
JO – Jogos Olímpicos
JP – José Peseiro
MC – Microciclo Competitivo
ME – Microciclo Estruturado
MM – Microciclo de Mantimento
MP – Microciclo Preparatório
OD – Organização Defensiva
OO – Organização Ofensiva
XXX
PB – Paulo Bento
PC – Pedro Caixinha
PC – Progressão Complexa
PT – Periodização Tática
TC – Teoria da Complexidade
TC – Treino Coadjuvante
TD – Tomada de Decisão
TE – Treino Estruturado
TO – Treino Otimizador
XXXI
UCL – UEFA Champions League
VO – Vítor Oliveira
VP – Vítor Pereira
XXXII
PONTO PRÉVIO
Das intenções que motivaram a presente investigação
Pratiquei futebol federado durante alguns anos. Passei por dois clubes
da minha terra: Futebol Clube da Mãe d’ Água (FCMA) e o Grupo Desportivo
de Bragança (GDB). Capitaneei as seleções jovens do Distrito de Bragança
no torneio Lopes da Silva e joguei, joguei, joguei. Por essa altura, entre os
XXXV
doze ou treze anos de idade ocorreu aquele que considero ser o primeiro
episódio e momento que estará na origem da investigação que agora
apresentamos.
A minha corrida, que não tinha mais do que duas voltas acumuladas em
torno do campo, começava a incomodar-me. Eu queria estar dentro do
campo a jogar, não queria estar a correr do lado de fora; eu não gostava de
correr por correr. Nesse exato momento, despertado por este desconforto,
reparo que um número considerável dos jogadores que estava a jogar, corria
mais ou menos à mesma velocidade que eu, com e sem bola, o que me fez
refletir durante o tempo despendido em, pelo menos, mais duas voltas ao
campo. Então perguntava-me: mas qual será a diferença, em termos de
resistência física, de correr em função de uma bola, do espaço e dos colegas,
ou correr à volta do campo?
XXXVI
sobre se haveria diferenças entre correr com e sem bola. Assim, o esforço de
concentração era outro e o cansaço triplicou, o que me fez automaticamente
ficar baralhado. Entretanto, depois de uma dezena de voltas, o treinador
apitou, seguiram-se os alongamentos e por fim começamos a jogar um
qualquer jogo que hoje não consigo recordar. A minha cabeça, naquele dia,
já tinha escolhido o que guardar para sempre.
Fui para casa a pensar: qual seria a lógica de correr uns trinta minutos à
volta do campo, quando a intenção do jogo era correr para me entender com
os restantes colegas, dentro do campo? Fiquei com muitas dúvidas, mas
lembro-me bem que esse episódio ficou num estado latente. Nunca gostei de
reclamar sobre o que não sei e sobre o que desconheço. Continuei, como
sempre, a fazer o que me pediam, umas vezes mais feliz que outras.
Todavia, fui caminhando convicto que um dia iria dissipar as minhas dúvidas
e que aquela era altura para acumular experiência e reflexão, na certeza,
porém, de que haveria múltiplas formas de se poder treinar.
1
Hoje acredito que a realidade da minha infância e adolescência poderá ter tido um
contributo fundamental para o desenvolvimento dessa habilidade a que me refiro.
Normalmente em minha casa existiam bolas que duravam até rebentar. Tal facto propiciava,
pelo menos, duas coisas: a primeira era o apego ao objeto que passava a ser quase como
um elemento da família. O outro, era o contacto com as diferentes texturas que se iam
apoderando dele. Apesar de não haver dinheiro para todos os brinquedos que queria, tive a
sorte de viver numa casa em que no andar de cima viviam dois tios que na altura deveriam
ter idades compreendidas entre os 15 e os 25 anos. A presença deles foi importante porque,
não raras vezes, apareciam lá pelas garagens, bolas de todas as maneiras e feitios: lembro-
me da bola oficial do “Itália 90” que fui rebentando nas paredes e no chão de cimento do
quintal e que me custou umas cinco lavagens aos carros dos meus tios. Lembro-me das
bolas de ténis, das de voleibol da Molten e de uma de basquetebol já muito gasta que tinha a
câmara de ar preta a aparecer e que provoca alterações nas trajetórias quando batia ou
rolava no chão. Foi uma infância feliz e penso que propiciadora de desenvolvimento de
habilidade com a bola.
XXXVII
jovens como se treinavam os seniores. Supostamente havia cargas físicas
violentas e, por isso, nesses clubes havia miúdos com grandes volumes de
massas musculares fruto de períodos preparatórios absurdamente
exagerados no que à exigência física diz respeito. Confesso que quando fui
para o FCP, ia meio desanimado, eu queria era jogar futebol, adorava imitar o
Domingos, o Kostadinov, o Rui Costa, o Semedo, o Paulo Sousa, o Deco ou
o Pedro Barbosa, sem esquecer o Paul Schools, o Fernando Redondo, o
Rivaldo, o Romário, o Ronaldo (“o fenómeno”) ou o Asprilla.
XXXVIII
completamente dissipadas quando em julho desse ano nos tornámos
campeões nacionais, contabilizando um ou dois empates e apenas uma
derrota. Tal desempenho fez-me acreditar, na altura, que haveria alguma
lógica em treinar segundo aqueles pressupostos.
2
Significa, do meu ponto de vista, uma espécie de morte da democracia intelectual.
XXXIX
céus e desertos distantes – nos oceanos, na ciência, na literatura, no
desporto ou na arte – é a forma de o fazermos que nos carateriza, e ao
mesmo tempo, nos possibilita a fusão com a utopia e a imensidão, assim foi a
experiência de seis meses, tida no Brasil, ao abrigo do programa Sócrates.
Reconheço que o meu processo académico na FADEUP propiciou os
contributos mais importantes para a minha reflexão acerca do desporto, do
treino e do jogo de futebol e me permitiu sonhar mais alto.
3
No caso específico da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP),
com a criação do Centro de Estudos dos Jogos Desportivos (CEJD) e a publicação do livro
“O ensino dos jogos desportivos”, em 1994, colocou na linha da frente a reconceptualização
e a investigação do ensino dos jogos e influenciou as práticas nos clubes desportivos.
Também a publicação do livro “Pedagogia do Desporto”, editado por Go Tani, J. Bento e R.
Peterson, em 2006, veio reforçar e atualizar as propostas para o ensino do jogo,
complementada por uma outra mais recente intitulada “Pedagogia do Desporto” editado
pelos professores António Rosado e Isabel Mesquita em 2009. Já a última publicação –
“Jogos Desportivos Coletivos, Ensinar a Jogar”, editada por F. Tavares em 2013, vem não só
sustentar a ideia de que o estudo desta temática do desporto continua viva, como contribuir
para o aprofundamento do conhecimento sobre o processo de treino do jogo, reforçando e
XL
práticas de ensino e treino dos Jogos Desportivos Coletivos (JDC) que foi
ganhando corpo, fruto do contributo de alguns professores espalhados por
diferentes faculdades, no âmbito das didáticas e das metodologias
específicas de modalidades desportivas, como o basquetebol, o futebol, o
voleibol e o andebol.
XLI
Isto porque continuo a ser professor e investigador no Instituto
Politécnico de Bragança, e porque sigo adotando uma atitude cívica ao
serviço do desporto, que em parte pode ser ilustrada pela participação na
construção de um campo de futevólei em Bragança, ao abrigo do Orçamento
Participativo de 2017.
XLII
INTRODUÇÃO GERAL
Introdução geral
3
(Afonso & Pinheiro, 2011; Castelo, 1994, 1996, 2002, 2019; Castelo & Matos,
2013; Frade, 2011, 2013b; Garganta, 1991, 1993, 2004; Santos et al., 2011;
Seirul-lo, 2017c).
5
O homem que realizou o sonho cartesiano e completou a Revolução Científica foi
Isaac Newton (Capra & Luisi, 2014).
6
De acordo Guilherme (2004), no âmbito da periodização do treino do futebol a
eleição do fator físico terá sido propiciada pela falsa perceção de que a dinâmica de jogo
exteriorizada pela equipa em termos coletivos e pelos jogadores em termos individuais, era o
fator do rendimento mais determinante para o êxito dos desempenhos. Mas, também porque
a maioria dos estudos associados à periodização do treino foram sendo produzidos por
fisiologistas, sugerindo que o sucesso desportivo estaria intrinsecamente ligado ao
potenciamento das capacidades físicas (Castelo, 1994; Guilherme, 2004; Santos et al.,
2011).
4
desempenhos individuais leva a um apuro qualitativo do coletivo (Castelo,
1996).
5
caóticas 7 , em resultado da multiplicidade, diversidade, aleatoriedade e
imprevisibilidade de comportamentos interativos de colaboração e oposição
(Castelo, 1994; Connolly & White, 2017; Garganta, 1997, 2005; Garganta &
Cunha e Silva, 2000; Garganta & Pinto, 1998; Santos, 2006; Teodorescu,
2003).
7
Admite-se que apesar da irregularidade do comportamento a curto prazo, um sistema
caótico apresenta regularidade no padrão global de comportamento. O caos esconde ordens
bem determinadas, perceptíveis através dos “diagramas de bifurcação” e das “árvores” que
ordenam o caos (Cunha e Silva, 1999; Sousa Ramos, 2009; Stewart, 1991).
8
Partindo de uma visão da realidade umbilicalmente ligada ao Pensamento Sistémico
(Capra, 1988, 1996; Capra & Luisi, 2014), os “Princípios Táticos” ou “Princípios do Modelo de
Jogo” são um conceito complexo que resulta da interação sistémica da multiplicidade de
variáveis que o compõem, tais como a representatividade do jogo de futebol, o plano de jogo
que o treinador cria para cada nova partida, a especificidade identitária da equipa, a
interação dos fatores de rendimento (tática, técnica, física e psicológica), a estratégia
(adaptações circunstanciais em função das caraterísticas dos adversários) que dão sentido
tático à interação dos jogadores em campo (Connolly & White, 2017; Frade, 2013a, 2013b;
Teoldo et al., 2015).
6
frequência e complexidade (Garganta, 1997, 2000, 2002, 2005, 2008;
Garganta & Cunha e Silva, 2000; Garganta & Gréhaigne, 1999; Gréhaigne,
1992). Deste modo, a dimensão psicológica, a técnica ou os atributos físicos
são mobilizados em coordenação com outros recursos, num contexto em que
o jogador, fazendo face a situações de oposição, procura também coordenar
as ações com os demais colegas de equipa (Garganta, 2002; Gréhaigne,
1992).
7
Portanto, faz sentido que a periodização do treino nas frações de tempo
disponível no intervalo entre jogos, promovam oportunidades de ação e
enfatizem a necessidade de os jogadores explorarem o ambiente de
desempenho tático, tal como fazem na competição (Araújo et al., 2009;
Araújo et al., 2006; Araújo et al., 2005; Davids et al., 2004; Garganta, 1997).
8
parecem estabelecer pontos de contacto com a abordagem pedagógica não-
linear e, por sua vez, com a perspetiva ecossistémica do comportamento que
se baseia na manipulação dos constrangimentos que parecem dar resposta
às necessidades e especificidades do futebol.
9
dão corpo a um modelo de jogo específico; c) perceber que importância os
treinadores conferem ao modelo de jogo e ao fator tático-estratégico,
enquanto dimensões estruturantes do treino; d) identificar os principais
critérios que os treinadores têm em conta na elaboração dos contextos
práticos de treino; e) reconhecer as principais caraterísticas dos processos de
periodização colocados em prática pelos treinadores; f) cotejar as perspetivas
dos treinadores, quanto às suas práticas de periodização, com conceções e
argumentos expressos na literatura da especialidade.
10
treino do futebol, cujas particularidades e nexos possam induzir o
desenvolvimento de desempenhos de excelência. Admite-se que o cotejo
entre a literatura da especialidade e as perspetivas dos treinadores
entrevistados, possa subsidiar a reflexão sobre o processo e o apuro de
práticas de treino do futebol, nomeadamente em contextos de alto
rendimento.
11
12
PARTE TEÓRICA
Capítulo I – Enquadramento
1. Introdução
9
Esta é uma tendência de pensamento científico que surge como oposição ao
pensamento mecanicista. Este paradigma emergiu do contributo da teoria do sistema solar
proposta por Kant (1724-1804) e Laplace (1749-1827), das filosofias políticas de Hegel
(1770-1831) e Engels (1820-1895) e, sobretudo, das descobertas sobre a evolução biológica
de Lamarck (1744-1829) e Darwin (1809-1882). Esta revolução no pensamento não ficaria
completa sem o contributo da segunda lei da termodinâmica (Capra & Luisi, 2014). Os
pioneiros em abordar o pensamento sistémico foram os biólogos, que enfatizaram a visão
dos organismos vivos como totalidades integradas (Capra & Luisi, 2014). Posteriormente, ele
foi enriquecido pela psicologia da Gestalt, pela nova ciência da Ecologia e pela nova Física
que produziu a teoria da relatividade e a física quântica (Capra & Luisi, 2014). Mais tarde
surgiram as primeiras teorias sistémicas entre as quais a teoria geral dos sistemas, a teoria
do caos e das tempestades, que vieram a dar origem à Teoria dos Sistemas Dinâmicos
(TSD) (Capra & Luisi, 2014). De acordo com Capra e Luisi (2014), o pensamento sistémico
apresenta as seguintes caraterísticas: a) o todo é mais do que a soma das partes; b)
multidisciplinaridade inerente; c) de objetos para relações; d) de medição para mapeamento;
e) de quantidades para qualidades; f) de estruturas para processos; g) de ciência objetiva
para a ciência epistémica; h) da certeza cartesiana ao conhecimento aproximado.
17
Por fim, no quinto ponto, apresenta-se uma síntese dos argumentos
expostos anteriormente.
10
Em 1687, Newton (1642-1727), apresentou uma obra designada por “Os Principia”.
Com esta obra, a imagem do mundo como uma máquina perfeita, que fora introduzida por
René Descartes (1596-1650) era agora um facto comprovado e Newton um símbolo. De
acordo com Capra e Luisi (2014), a realidade do mundo foi durante séculos influenciada pelo
pensamento filosófico e cientifico mecanicista. Talvez por isso também o jogo e o treino do
futebol tenham sido objeto de uma obsessão pela separação do todo, em partes.
11
René Descartes com a publicação do livro “O Discurso sobre o Método” propôs
quatro princípios de raciocínio que fundamentam o denominado paradigma cartesiano
(Capra & Luisi, 2014): jamais aceitar algo como verdadeiro sem saber com evidência que tal
o seja efetivamente; dividir cada dificuldade examinada em tantas partes quantas se puder e
for necessário para melhor resolvê-las; conduzir pela ordem os pensamentos, começando
pelos objetos mais simples e mais fáceis de se conhecer, para subir aos poucos, como por
degraus, até ao conhecimento dos mais compostos e supondo até haver certa ordem entre
os que precedem naturalmente uns aos outros; fazer em toda parte, enumerações tão
completas e revisões tão gerais, que se assegure que nada seja omitido (Capra & Luisi,
2014).
18
entendimento mais congruente do comportamento dos jogadores e das
equipas.
12
De acordo com Ludwig von Bertalanffy a Teoria Geral dos Sistemas (TGS) é
especialmente filosófica e define um sistema como um complexo de elementos que
interagem independentemente da sua natureza. Segundo Cilliers (1998) os sistemas
complexos compreendem múltiplos componentes; as interações entre componentes são
múltiplas, ricas e não-lineares; as interações são de natureza de curto alcance; existem loops
recorrentes nas interações; são sistemas abertos; os sistemas complexos são dinâmicos e
não operam em estado de equilíbrio; os sistemas complexos têm uma história.
13
Propriedades emergentes são decorrentes de interações entre componentes (Capra
& Luisi, 2014). Tal significa que a ação do todo é mais do que a soma de suas partes. Por
exemplo a humidade não é algo que possa ser atribuído a moléculas de água individuais,
mas sim a uma propriedade emergente resultante da interação das moléculas de água
(Capra & Luisi, 2014). No âmbito do futebol, um golo marcado é uma propriedade emergente
da interação entre jogadores, bola, campo e balizas, entre outros.
14
Pequenos eventos tais como um passe errado, uma substituição ou uma lesão
podem produzir grandes efeitos.
19
Gréhaigne, 1999; Ribeiro et al., 2019).
20
Por isso, seguidamente, aprofundar-se-á este fenómeno que ocorre no
comportamento das equipas, se olhadas como organismo ecossistémico
complexo.
15
O conceito de superorganismo proposto por William Morton Wheeler para descrever
o grau em que membros da colónia de formigas parecem operar como uma única unidade
funcional tem sido amplamente utilizado em sociobiologia (Wheeler, 1911). Um exemplo de
comportamentos bem-sucedidos do sistema coletivo foi demonstrado por formigas de
incêndio que constroem jangadas à prova de água como uma estratégia adaptativa e
evolutiva para sobreviver a inundações (Mlot & Tovey, 2011). As interações sociais dentro de
um grupo originam assim a emergência de um coletivo, que pode ser entendido como um
novo organismo dentro do sistema animal-ambiente (Marsh et al., 2006; Marsh et al., 2009).
Portanto, a partir da visão dos organismos vivos como totalidades integradas, conectadas e
relacionadas pode-se gerar uma nova forma de olhar para as equipas de futebol durante
uma partida.
21
A coordenação e reorganização dessas ações em movimento parecem
ocorrer devido aos mecanismos de feedback controlados e sustentados
externamente pela troca contínua de informações entre os indivíduos do
grupo durante a competição (Duarte et al., 2012). Quer isto dizer que os
movimentos do jogador podem influenciar funcionalmente as caraterísticas
espácio-temporais de movimentos padronizados em companheiros de equipa
e oponentes, criando uma agregação intencional durante um desempenho
específico (Correia et al., 2011; Krause et al., 2010; Passos et al., 2011).
16
Importa aqui convocar a noção de formalismo e gestaltismo. O filósofo Christian von
Ehrenfels (1859-1932) foi o primeiro a usar o termo Gestalt no sentido de uma perceção de
um padrão irredutível, o que pressupõe que cada elemento não tem significado, senão na
sua relação com o conjunto, e que os diferentes elementos de uma estrutura se articulam
uns com os outros para construir uma forma. Neste contexto, uma forma é algo mais que a
soma das suas partes, ela tem propriedades que não resultam da simples adição dos seus
elementos, sendo estes interdependentes e organizados num campo total segundo certas
leis (Capra & Luisi, 2014). A psicologia da forma oferece assim a possibilidade de abordar a
problemática dos jogos desportivos coletivos sobre um novo ângulo.
17
A partir do conceito de estrutura dissipativas, criado por Ilya Prigogine, pode dizer-se
que os sistemas que se constituem longe do equilíbrio, na medida em que requisitam um
aporte contínuo de energia e de matéria para se preservarem, são designados de estruturas
dissipativas (Capra & Luisi, 2014). Nestas estruturas, não se verifica o antagonismo natural
entre acaso, irregularidade e determinismo. A irregularidade é resultado de um jogo
22
caóticos, enfrentam uma tensão entre a interação funcional dos jogadores,
relacionada com os princípios do modelo de jogo, e entre a respetiva
18
especialização funcional , referenciada à variação interindividual do
respetivo desempenho (Duarte et al., 2012; Gardner & Grafen, 2009; Reeve
& Holldobler, 2007).
determinista, não-linear, com diversas variáveis. Deste modo, já não se constitui como um
sistema aleatório clássico, encontrando-se a realidade entre irregularidades e determinismo
(Capra & Luisi, 2014).
18
Por exemplo, no momento de organização defensiva os jogadores com atributos
diferentes, habilidades únicas e papéis variados (i.e., especialização funcional), trabalham
juntos para recuperar coletivamente a posse de bola restringindo espaço no campo e
aumentando o nível de oposição (i.e., integração funcional) (Holldobler & Wilson, 2009).
19
Importa ter a noção que o contexto pode exercer influência sobre a criação dos
princípios do modelo de jogo. Ou seja, a cultura própria de um país, a história particular de
um clube, as caraterísticas dos jogadores devem ser levadas em conta, de modo a que haja
convergência e harmonia de ideias (Frade, 2013a; Reis, 2018; Tamarit, 2013).
23
Davids et al., 2003; Garganta & Cunha e Silva, 2000; Kelso & Schoner, 1988;
Morin, 1992; Schmidt et al., 1999).
20
O conceito de especificidade tem sofrido significativas alterações no que diz respeito
à sua aplicação no âmbito do futebol (Guilherme, 1991). Primeiramente reportava-se a um
dos princípios básicos do treino desportivo que preconizava que apenas as estruturas e
funções suficientemente ativadas por estímulos de treino são suscetíveis de sofrer
adaptações particulares. Contudo, foi evoluindo para a referenciação ao tipo de atividade e
às tarefas que os jogadores realizavam durante o treino e a competição, estando
intimamente ligada ao tipo de modalidade desportiva praticada (Guilherme, 1991). A noção
de especificidade que serve como referência no presente estudo reporta-se ao conceito
cunhado por Gibson (1979), que pode ser definido como conceito qualificador de uma
relação entre variáveis que comportam a informação caraterística de determinado contexto.
21
Importa, também, que os treinadores atribuam grande importância ao cumprimento
dos princípios transversais, ou seja, os fundamentais (procurar criar superioridade numérica;
evitar a igualdade numérica; recusar a inferioridade numérica) e os específicos (ataque:
penetração, cobertura ofensiva, mobilidade e espaço; de defesa: contenção, cobertura
defensiva, equilíbrio e concentração), não esquecendo que estes apenas asseguram os
pressupostos básicos da organização coletiva e individual (Garganta et al., 2013).
22
Fase (etapa, estádio) – período com caraterísticas bem definidas. Cada uma das
modificações sucessivas que as sequências de jogo apresentam (Garganta et al., 2013).
24
situações de finalização e proteger a baliza) e momentos 23 (como se
processa a transição ofensiva e a transição defensiva), de acordo com a
cascata de objetivos que vai sucedendo à medida que o jogo24 acontece
(Garganta et al., 2013).
23
Momento (ápice, instante) – espaço de tempo muito breve que ocorre entre as fases
(Garganta et al., 2013).
24
Não obstante se falar em divisão, afigura-se pertinente que se tenha a noção que o
jogo apresenta uma natureza inquebrantável (Frade, 2011, 2013a, 2013b). Por isso, sugere-
se que durante as fases e os momentos, por exemplo na fase ofensiva, também se
pressuponham comportamentos e preocupações defensivas e vice-versa. O mesmo se
verificando em relação aos momentos de transição. Ou seja, parece fazer sentido que a
equipa ataque, defenda e transite contemplando na forma adotada preocupações com todas
as fases e momentos de jogo.
25
Dada a sua importância quanto ao entendimento do processo,
seguidamente, aprofundar-se-á o conceito de tática.
Ao longo dos últimos anos tem vindo a verificar-se que as equipas que
conseguem atingir melhores resultados em competição são as que
apresentam maior coerência entre os princípios do modelo de jogo
preconizado e o jogo praticado (Castelo, 2019). Ainda que, durante o jogo, os
jogadores disponham de liberdade que poderia tender facilmente para a
anarquia ou para a entropia do sistema, constata-se que as equipas mais
eficazes conseguem fazer emergir padrões de comportamentos, num
contexto de caos determinístico (Garganta, 2000; Reilly, 1993).
26
no sentido de reunir constantemente condições favoráveis à concretização
dos objetivos ambicionados.
25
Importa referir que o conceito de estratégia pode adquirir diferentes significados de
acordo com a interpretação que os diversos estudiosos do futebol e do treino lhe conferirem.
Verdadeiramente a palavra estratégica deriva do latim “stratègós” que, no âmbito militar está
intimamente ligada à arte de planear expedições de guerra. Neste sentido, alguns autores,
percursores do estudo do treino do futebol, tais como Castelo (1994), Queiroz (1986) e
Teodorescu (2003) entendem que no contexto do futebol este conceito refere-se aos
propósitos e aos objetivos gerais da equipa, como corpo coletivo numa dada competição,
pressupondo um conjunto de operações lógicas integradas que proporcionam à organização
dinâmica da equipa as condições para tentar atingir os objetivos. Do nosso ponto de vista
esta definição, no domínio do futebol, adequa-se melhor ao conceito de “Plano de Jogo”.
27
Connolly & White, 2017; Frade, 2013a, 2013b; Garganta, 1997; Teodorescu,
2003). Deste modo, todos os fatores do rendimento se diluem na tática,
fazendo com que esta se manifeste como forma de expressão global do
comportamento (Frade, 2013a; Teoldo et al., 2015).
Tal facto, leva a que o critério mais importante para perspetivar e avaliar
as questões técnicas, físicas ou cognitivas decorra da sua efetividade26 no
jogo, o que realça a necessidade da procurar a respetiva conformidade com
as especificidades táticas, destacando-se, assim, a importância das
capacidades cognitivas de perceção, decisão e ação na regulação da
competição e na modelação do treino (Garganta, 1997).
26
A psicologia da gestalt pode dar um enorme contributo quanto ao modo como se
olha para os desempenos coletivos da equipa. Neste sentido, na avaliação da qualidade
individual de um jogador importa que seja tido em conta o modo como ele se articula, quer a
nível estrutural, quer a nível funcional, com os demais jogadores que dão corpo a uma forma
coletiva.
28
condicionar em favor da sua equipa (Mourinho, 1999, 2006; Oliveira et al.,
2006).
27
Na memória perduram o Sistema Clássico, ou Pirâmide, criado em 1884, o Sistema
WM introduzido por Herbert Chapman, em 1932, que se representava por 1x3x4x3, e o
1x1x4x3x2 criado por Alfredo Foni, na década de cinquenta (Daniel, 2016; Guilherme, 2004;
Lobo, 2008). Na atualidade, as estruturas mais referidas, e que evoluíram a partir das
anteriormente citadas, são o 1x4x4x2, pelo 1x4x3x3, pelo 1x3x5x2 e o 1x3x4x3 (Castelo,
1994, 1996, 2019; Castelo & Matos, 2013).
29
solicitar-se aos jogadores que transformassem a noção estática de “posição”
numa rede abrangente, dinâmica e complexa de funções28 (Castelo, 1996;
Gréhaigne, 1992). Assim, quando os treinadores da atualidade elegem uma
base estrutural para as suas equipas, a mesma funciona como uma estrutura
tática de dinâmica não-linear alicerçada na geometria topológica.
28
Passaram não só a atacar ou a defender para atacar e defender (Castelo, 1996;
Gréhaigne, 1992). Deste modo as suas zonas de intervenção tornaram-se mais abrangentes
e, consequentemente, a organização do jogo adquiriu um papel importante (Castelo, 1996;
Guilherme, 2004). Tal facto originou que por exemplo, em 1962, no Mundial do Chile, um
jogador corresse em média cinco quilómetros, mais tarde, vinte anos depois, já corria nove e
hoje a média já vai em onze (Carling et al., 2015; Hoyo et al., 2016; Lobo, 2008; Silva et al.,
2018; Wollin et al., 2018).
29
A noção de estratégia prende-se com as preocupações com a forma de jogar da
própria equipa tenham em atenção as particularidades da equipa adversária do jogo
seguinte, com o fim de aproveitar as debilidades do rival - os seus pontos fracos - e para
encontrar soluções para inutilizar as qualidades das equipas adversárias - pontos fortes -
subdeterminando-os aos pontos fortes da própria equipa. O objetivo é particularizar
determinados aspetos ao nível dos contornos da forma de jogar sem por em causa a matriz
identitária (Frade, 2013a).
30
estruturais dinâmicos específicos de uma determinada identidade (Cunha e
Silva, 1999; Garganta & Cunha e Silva, 2000).
30
Estas estruturas devem ser entendidas à luz do estruturalismo. O estruturalismo
rejeita a ideia que o conhecimento do conjunto possa ser deduzido a partir do conhecimento
das partes, ou que estas possam ser conhecidas na sua totalidade sem referência ao
conjunto, estabelecendo dois aspetos complementares e fundamentais que caracterizam a
noção de estrutura: o conjunto e a interação, evidenciando assim, a importância das relações
observáveis e das significações vividas. Neste contexto, o estruturalismo é um método de
análise que estuda os fenómenos da realidade, examinando-os à luz da sua articulação
interna e das inter-relações entre os diferentes componentes que se mantem funcionalmente
interdependentes (Castelo, 1994).
31
31
determinista, com permanente alteração informacional, gerada pela
interação dos diferentes jogadores (Araújo et al., 2009; Araújo et al., 2005;
Passos et al., 2008). Neste contexto, os jogadores, constrangidos espacial e
temporalmente 32 , necessitam de reconhecer e de filtrar informações do
contexto, de modo a processar as informações mais relevantes, que lhes
permitam aumentar a eficácia das suas ações, nas diferentes fases e
momentos do jogo, tendo em conta a identidade da equipa (Castelo & Matos,
2013; Garganta, 2005; Garganta et al., 2013).
Importa ter presente que aos jogadores de uma equipa lhes-é pedido
que realizem várias trocas de posição, em várias zonas do campo. Tal facto,
obriga a que a cada posicionamento e deslocamento ou movimentação dos
jogadores, dependa de um processo complexo que envolve múltiplos
constrangimentos (Anson et al., 2005; Garganta, 2005). Portanto, uma ação
realizada por um jogador durante a competição é, simultaneamente, causa e
consequência de uma decisão específica que emerge da interação de
múltiplas capacidades e competências (Davids et al., 2003; Newell, 1986;
Roca et al., 2018).
31
Os jogadores tomam decisões seguidas por interações, que por sua vez são
seguidas de novas decisões e novas interações (i.e., um processo contínuo). Esta
particularidade está bem presente no discurso de Valdano (2019) que a propósito do golo do
século, na final de 1986, na Argentina, em que a seleção anfitriã se sagrou campeã mundial
de futebol. Valdano dizia que Diego Maradona lhe tinha confidenciado que durante os cerca
de dez segundos em que correu mais de metade de campo driblando todos os jogadores que
se foram perfilando até finalizar com êxito, tentou a todos os instantes efetuar um passe para
Valdano que corria sozinho do lado esquerdo. Este é um exemplo claro de como a decisão é
altamente complexa, dinâmica, imprevisível e sem pausas.
32
As dinâmicas encontram-se emolduradas por dois fatores fundamentais - o tempo e
o espaço (Lobo, 2008). Alguns dados podem-nos fazer pensar como as dinâmicas que
procuram controlar estas duas variáveis têm influenciado a forma como os jogadores têm
que se adaptar ao jogo. Em 1958, Garrincha dispunha de quatro segundos para segurar a
bola, antes que um adversário o tentasse desarmar (Lobo, 2008). Posteriormente, em 1982
Zico dispunha de dois segundos, Maradona em 1986 de um segundo e meio e a partir de
1994, até 2010, Baggio, Zidane, Ronaldinho, só já tinham um segundo para poder executar
sem a pressão de um adversário (Lobo, 2008). Atualmente Messi ou Ronaldo, precisam ser
ainda mais rápidos (Lobo, 2008). Estes dados, parecem refletir os ritmos cada vez mais
elevados a que os jogos são disputados o que obriga a que quem tem de decidir em
situações naturais como o jogo de futebol, experimenta dificuldades acrescidas, como sendo
o facto de ter de lidar com a pressão do tempo regulamentar e do tempo de ação do
adversário e dos colegas para jogar (Castelo, 1996; Connolly & White, 2017; Garganta &
Cunha e Silva, 2000).
32
decorrem da harmonização de constrangimentos de natureza cognitiva 33 ,
percetiva34, decisional e motora35 (Bate, 1988; Roca et al., 2018; Tavares et
al., 2006; Williams, 2000).
33
A capacidade cognitiva está associada à competência que os jogadores evidenciam
relativamente ao entendimento da informação relevante que advém do jogo (Williams, 2000;
Williams et al., 1999).
34
A capacidade percetiva está relacionada com a competência para captar
informação, antecipar os acontecimentos e, consequentemente, saber o que fazer, tendo em
consideração a interpretação dos diferentes sinais e estímulos, informação contextual, do
meio envolvente (Tavares et al., 2006; Williams, 2000; Williams et al., 1999).
35
A capacidade motora está associada à execução das habilidades tático - técnicas
específicas, bem como às capacidades fisiológicas que as condicionam e por elas são
condicionadas (Tavares et al., 2006).
33
De acordo com diferentes estudos, entre os quais Chi e Glaser (1992),
Eysenck e Keane (1994), French e colaboradores (1996), McPherson e
Thomas (1989) e Thomas (1994), os jogadores que melhor decidem
manifestam caraterísticas particulares, nomeadamente (1) uma perceção
mais rápida e eficaz de padrões complexos de jogo; (2) usam mais
eficientemente as capacidades cognitivas, geralmente como resultado da
automatização das habilidades fundamentais; (3) revelam superior
capacidade de diferenciar as informações significativas das menos relevantes
e não se distraem com as últimas; (4) mostram-se mais capazes no
reconhecimento das suas insuficiências e limitações, e também na avaliação
dos seus desempenhos; (5) estabelecem mais e melhores relações entre o
que está a acontecer e as situações que poderão daí decorrer, concebendo
diferentes alternativas, consoante a ocorrência; (6) recorrem a estratégias
visuais mais elaboradas, que induzem melhor capacidade de antecipação
das ações dos adversários; (7) são mais rápidos e precisos a detetar e a
localizar os aspetos determinantes e relevantes que acontecem no seu
campo visual; (8) adotam decisões táticas mais ajustadas à situação; (9)
possuem um conhecimento mais estruturado e aprofundado dos conteúdos
específicos e melhores competências de execução.
34
Tais atributos emergem das aquisições operadas através da exercitação
sustentada e estruturada, o que enfatiza a relevância fulcral da prática e do
treino sistemático (Garganta et al., 2013).
35
(Brunswik, 1956) acumulada, induz um aumento da quantidade de mielina37
ao longo das ramificações dos axónios, o que possibilita maior velocidade na
transmissão nervosa, favorecendo assim as aprendizagens e
consequentemente os desempenhos eficazes (Coyle, 2009; Kandel et al.,
2014).
36
os comportamentos), relevantes, em quantidade e sobretudo em qualidade,
e, por isso, o jogador só desponta verdadeiramente depois de exposto ao
processo de treino e competição (Garganta, 2009).
37
cognitivista38, que é suportada pela Teoria do Processamento da Informação
(TPI) (i.e., pela analogia do cérebro com o computador); outra designada de
ecológica, que tem sido alimentada pelo recurso a conceitos oriundos da
teoria dos sistemas complexos, e, por isso, tem adotado a nomenclatura de
perspetiva ecodinâmica ou ecossistémica (Araújo, 2005).
38
A psicologia cognitiva teve a sua formalização oficial no dia 11 de setembro de
1956, por ocasião do Segundo Simpósio sobre Teoria da Informação ocorrida em
Massachussetts Institute of Technology (MIT) (Pozo, 1998). Ali reuniram-se figuras
relevantes para a psicologia cognitiva contemporânea, tais como Chomsky, Newell, Simon e
Miller (Bruner, 1983; Gardner, 1985; Kessel & Bevan, 1985).
39
Durante muito tempo falar de psicologia cognitiva equivalia a falar de
processamento de informação (Pozo, 1998). Todavia, de acordo com Cruz e Fonseca (2002)
e Pozo (1998), embora a Psicologia Cognitiva e a Teoria do Processamento de Informação
estejam intimamente ligadas, elas não são sinónimo. A Psicologia Cognitiva tem como
objetivo principal perceber como funciona a mente e diz respeito a uma posição teórica
global, a qual assume o comportamento como compreensível a partir de caraterísticas
internas cognitivas, como são as perceções, as atitudes, as crenças e os planos (Cruz &
Fonseca, 2002; Pozo, 1998). Por seu turno, enquadrando-se na Psicologia Cognitiva, a
Teoria do Processamento de Informação é a que os investigadores e práticos atuais das
ciências humanas mais frequentemente adotam, assumindo-se assim, como o paradigma
dominante da Psicologia Cognitiva (Araújo, 2005).
38
modo: os computadores recebem e processam muita informação (input);
possuem memórias prodigiosas (armazenamento); transportam a informação
de modos complexos (operações); realizam atividades complexas
(respostas); de acordo com um plano (planeamento) de ação (Cruz &
Fonseca, 2002; Pozo, 1998).
39
em recolher primeiro a informação, de seguida, é programado o movimento e,
finalmente, passa-se à execução (Oliveira & Oudejans, 2005).
40
emergir sem que estejam previamente estipulas, decoradas e memorizadas
para serem postas em prática nos momentos de competição (Araújo et al.,
2006; Ashford et al., 2021; Davids et al., 2006).
41
comportamentos às exigências do contexto, o que promove decisões
emergentes.
40
A título de exemplo foquemo-nos no jogo Liverpool vs Barcelona, na segunda mão
da meia-final da UEFA Champions League (UCL), de 2019. A determinado momento do jogo,
quando o resultado se traduza por uma igualdade a três golos, o defesa lateral direito do
Liverpool, pressionado pelo tempo e pela necessidade de marcar um golo rapidamente
decidiu prontamente colocar a bola junto à bandeirola de canto para que o colega que iria
executar o pontapé de canto não perdesse tempo. Mas, nesse instante acontece algo
inesperado; no exato momento que Arnold se afastava do local, decide dar dois passos atrás
e executa o pontapé de canto para Origi, que apanhando toda a gente de surpresa fez o
quarto golo e qualificou o Liverpool para a final da competição que viria a vencer. O que terá
levado Arnold a decidir pela marcação imediata do canto? À primeira vista, eventualmente, a
emergência do reconhecimento de informação contextual através da perceção de uma
interação que poderia ser eficaz. Esta constatação abre espaço para situações em que os
jogadores são obrigados a agir alicerçando as suas ações em decisões que parecem ser
intuitivas, i.e., que parecem ter origem no subconsciente. Principalmente em organização
ofensiva, na última fase de construção, em que os espaços e tempo disponível para agir são
diminutos, os jogadores parecem ser impelidos a reconhecer informações do contexto que
lhes permitam agir em função das oportunidades que as circunstâncias permitem.
42
3. O treino perspetivado a partir da visão ecossistémica da tomada
de decisão
41
A perspetiva ecológica é distinta de outras como a naturalista e as ambientalistas já
que as naturalistas pretendem estudar o contexto da ação, isto é, como é que o individuo
funciona e não encontrar princípios que permitam generalizar como se estabelece a
interação entre individuo e contexto (Araújo, 2005). Já os ambientalistas, querem afastar-se
do cognitivismo, ignoram o individuo, defendendo que o ambiente é responsável por tudo
(Araújo, 2005).
42
Segundo Araújo (2005), a perspetiva ecológica da psicologia tem a sua origem nas
propostas de Barker (1968), Brofenbrenner (1977), Brunswik (1943) e Gibson (1979). As
“escolas” formadas por estes autores partilham um ponto de vista global comum, contudo
diferem nas tónicas e nas propriedades. No âmbito das ciências do desporto a abordagem
ecológica tem seguido os pontos de vista de Brunswik (1943) e de Gibson (1979). Estas
duas perspetivas ecológicas podem ser vistas como versões específicas de um programa de
investigação mais geral que distingue entre a estrutura distal, o objeto, e a estrutura
proximal, o meio. Estas abordagens permitem que se integre o acoplamento perceção-ação,
com o julgamento e tomada de decisão estáticos para se explicar os processos cognitivos
implicados em situações dinâmicas tal como acontece no desporto (Araújo, 2005). De entre
estas a que tem reunido mais entusiasmo é a proposta de Gibson (1979).
43
De acordo com Davids e colaboradores (2006), esta perspetiva
pretende mostrar que a interação do sujeito com o ambiente tem um impacto
importante nos comportamentos e nas atitudes. O comportamento adaptativo
é especificado pela informação do ambiente, que não tem necessariamente
de ser representada internamente, influenciando o funcionamento dos
jogadores em ambientes imprevisíveis (Ashford et al., 2021; Fajen et al.,
2003).
44
olhos, que estão na cabeça, que está num corpo, que está no chão, e o
cérebro não será mais do que o órgão central de todo o sistema visual.
Seguindo esta lógica, Gibson (1979), propôs um novo método para
compreender a perceção, na qual devem ser descritos os meios, a possível
informação a receber e o próprio processo da perceção. A investigação deste
autor é amplamente baseada na teoria da perceção direta43 (i.e., as decisões
em ambientes complexos e não-lineares parecem apelar a um acoplamento
perceção-ação quase direto e não consciente).
43
Esta teoria explica a especificação direta entre a estrutura distal e proximal, o que
permite um acoplamento estrito entre individuo e envolvimento. Quer isto dizer que as
pessoas podem percecionar diretamente as propriedades significativas do envolvimento (i.e.,
as informações que indicam o que fazer), sem ter de utilizar processos mediadores (i.e.,
interpretação das informações) (Araújo, 2005). Para descrever a estimulação disponível ao
indivíduo, de modo a que ele conheça o estado do envolvimento (i.e., a estrutura proximal),
Gibson (1979) desenvolveu o conceito de invariantes. As invariantes descrevem a estrutura
do cenário visual. Portanto a perceção pode ser direta se houver uma relação de um para
um, entre uma invariante e um proporcionador (Araújo, 2005). Todavia, a perceção direta só
ocorre quando as pessoas estão ativamente afinadas a uma invariante do envolvimento
(Gibson, 1979). Por exemplo, uma informação é a trajetória de uma bola em voo. Se o
praticante seguir visualmente a bola, correndo de modo a que anule a aceleração da bola na
sua retina, ele poderá agarrá-la. Isto acontece porque o praticante estava afinado à
aceleração do objeto na retina, sendo uma invariante (Araújo, 2005).
44
Affordance vem do termo aufforderungscharakter proposto por Kurt Lewin, que foi
traduzido como convite, caráter, valência.
45
permitem atingir o êxito45 (Araújo et al., 2006; Araújo et al., 2005). Estas
perceções diretas foram criadas pela relação que se teve com os objetos
(Gibson, 1979). No entanto, em situações mais complexas não é considerada
somente a perceção da situação, entra também a perceção que se tem da
própria capacidade de realização dessa ação (Gibson, 1979).
Este processo é específico para cada sujeito, uma vez que varia em
função dos constrangimentos inerentes ao organismo (Davids et al., 2003;
Lenzen et al., 2009). Neste contexto, as affordances adotam uma dupla
natureza, tanto objetiva, porque existem na natureza, como subjetiva,
45
Simplificando, pode-se dizer que os objetos têm a informação que promovem e/ou
orientam determinado comportamento em função das nossas experiências e conhecimentos
relativos a esses objetos. Por exemplo, quando vemos uma maçã sabemos que é de comer,
e se vemos uma bola de ténis, sabemos que é para jogar.
46
Um exemplo muito concreto é o de uma bola em voo que não é percebida em
termos das suas dimensões, cores, densidade, distância ao alvo, nem qualquer outro atributo
físico (Williams et al., 1999). Em vez disso, é percebida de acordo com as suas
oportunidades para ação, i.e., que ações deve ou pode o atleta realizar numa dada situação.
Considerando, de acordo com Vickers (2007), que as situações táticas, típicas dos jogos
desportivos, implicam movimento, e que este impõe mudanças contínuas no campo visual,
as affordances assumem um caráter dinâmico (Gibson, 1979).
47
Talvez por isso se constate que alguns jogadores que atingem níveis de
desempenho de excelência num determinado contexto, quando colocados em outros
ambientes parecem não conseguirem atingir os mesmos desempenhos. Um exemplo
concreto é o desempenho de jogadores nos clubes e nas seleções, em que por vezes nem
parecem ser os mesmos jogadores. Tal facto deriva que diferentes contextos/especificidades
solicitam diferentes competências que podem ser ou não as adequadas para que os
jogadores se expressem na sua plenitude.
46
porquanto apenas existem em relação a algo ou a alguém (Afonso, 2012;
Araújo et al., 2007; Gibson, 1979, 2003).
47
indução percetiva e porque as unidades motoras implicadas no movimento
atuam por sinergia (Araújo et al., 2005; Newell, 1986; Passos et al., 2008;
Romero Clavijo et al., 2016; Travassos, Araújo, Davids, et al., 2012; Williams
et al., 2004). Neste sentido, as estruturas coordenativas condicionam o
individuo a realizar as ações que estão relacionadas com essas estruturas e
não por um plano previamente estipulado ao nível cognitivo (Gibson, 1979;
Travassos, Araújo, Davids, et al., 2012; Travassos, Araújo, Duarte, et al.,
2012; Vilar et al., 2013).
48
nova solução48 (i.e., um novo estado de coordenação) (Araújo, 2005; Araújo
et al., 2015; Araújo & Volossovitch, 2005).
Importa ainda ter presente que no desporto, a maioria das decisões são
tomadas no decurso da ação, e no caso dos jogos desportivos, entre os quais
o futebol, estando o jogador e o objeto de jogo em movimento (Ashford et al.,
2021). Segundo a perspetiva ecossistémica, o movimento gera informações e
potencialidades de ação, de tal modo que a perceção gera movimento,
estabelecendo a base para as teorias do acoplamento perceção-ação (Fajen
& Warren, 2003; Fajen et al., 2003; Vilar et al., 2012). Esta ligação
bidirecional entre perceção e ação foi demonstrada nos estudos de
Slobounov e colaboradores (2006) e Stofffregen e colaboradores (2006).
48
Por exemplo, numa situação de 1x1, em desportos coletivos, o atacante procura
ultrapassar o defesa e este procura contrabalançar as ações do atacante, numa ação de
oposição coordenação. A decisão de “quando ultrapassar a defesa” é um processo
emergente, que surge pela quebra de simetria entre os jogadores.
49
Acresce que os sistemas biológicos podem, até certo grau, regular a
forma como interagem com os constrangimentos e os manipulam,
amplificando, por essa via, as possibilidades de ação (Araújo et al., 2006).
Todavia, a interação dos constrangimentos estreita o número de graus de
liberdade, mas geralmente não compele a uma opção única (Afonso, 2012).
Isto confere espaço para alguma deliberação consciente relativa às escolhas
possíveis entre diversos cursos de ação (Afonso, 2012).
49
De acordo com Newell (1986) os constrangimentos do individuo referem-se às
caraterísticas dos jogadores individualmente, tais como os genes, a altura, o peso, a
composição corporal, as suas conexões sinápticas no cérebro, e as caraterísticas
psicológicas tais como as cognições, as motivações e as emoções. Incluem ainda padrões
habituais de pensamento, níveis de perícia ou anomalias no sistema visual. Os
constrangimentos da tarefa incluem os objetivos, as regras de um desporto específico, os
utensílios e engenhos usados durante uma atividade, os campos e as respetivas marcas. Os
constrangimentos do ambiente podem ser físicos, tal como a luz ambiente, a altitude ou a
temperatura, podem afetar o funcionamento do movimento humano em diferentes níveis.
50
desempenho desportivo, surgem novas ideias para acrescentar a este
modelo (Araújo & Volossovitch, 2005; Garganta, 2005). Por exemplo, os
jogos desportivos coletivos com bola, como o futebol, ocorrem num contexto
onde tanto a coordenação do jogador como da equipa são relevantes (Araújo
& Volossovitch, 2005; Garganta, 2005). Neste sentido, nestas modalidades
desportivas parece ser útil conceber o coletivo como uma categoria especial
de constrangimentos.
Quer isto dizer que, apesar da tomada de decisão ser aberta, e por
vezes imprevisível, atendendo à possibilidade de inúmeros comportamentos
criativos, estas estão também condicionadas pelos princípios de jogo que
visam a interação entre os jogadores da equipa (Silva et al., 2013). Ao
conhecer as funções de um companheiro de equipa, a sua técnica,
habilidade, crenças, preferências e estilo, a tomada de decisão parece ter
como referência, também, a cooperação com o outro e os outros jogadores
que por sua vez o influenciam igualmente (Castelo, 1996, 2002; Garganta et
al., 2013; Guilherme, 2004; Seirul-lo, 2017c).
51
referência um conhecimento coletivo relevante, para os seus membros o
utilizem na concretização de uma tarefa (Cooke et al., 2000).
52
aprendizagem que promovem interações auto-organizadas (e
autorreguladas) entre o ator e o ambiente (Woods, Rudd, et al., 2020), uma
vez que as perceções, cognições e ações são fenómenos interativos e auto-
organizados que emergem da interação dinâmica e contínua das
capacidades de ação de um jogador (definidas como as suas efetividades) e
as possibilidades definidas como oportunidades de ação (i.e., affordances)
(Gibson, 1979) oferecidas em um ambiente de competição específico
(denominado nicho ecológico) (Araújo et al., 2006).
50
Note-se que as decisões que um jogador toma durante o jogo são também
referenciadas às probabilidades de êxito na respetiva ação, isto é, estão relacionadas com a
sua disponibilidade para percecionar, decidir e agir num contexto determinado (Gladwell,
2005; Serpa, 2017; Silvério & Srebo, 2012; Vilar et al., 2012).
53
Essas práticas necessitam adotar uma conceção pedagógica que, ao
mesmo tempo que induzem modos eficazes de organizar o jogo, levem a
afinar a perceção e a decisão tático-estratégica dos jogadores em função do
sentido (i.e., da especificidade), que se confere aos cenários de jogo. Mas
também que promovam a adaptação fisiológica e o refinamento das
habilidades técnicas para gerar eficácia nesses contextos (Castelo, 2002;
Castelo & Matos, 2013; Garganta et al., 2013).
54
al., 1996; Lex et al., 2015; McPherson, 1993; Pinder et al., 2011; Woods,
Rudd, et al., 2020).
51
A variabilidade dos contextos de treino potencia a capacidade para criar em
ambientes caóticos uma vez que ao estar a treinar em ambientes representativos e
específicos do jogo está-se a propiciar o desenvolvimento da plasticidade cerebral (Guyton,
2001). A plasticidade cerebral é a denominação das capacidades adaptativas do sistema
nervoso central, ou seja, a sua habilidade para modificar a sua organização estrutural própria
e o seu funcionamento (Guyton, 2001). É a propriedade do sistema nervoso que permite o
desenvolvimento de alterações estruturais em resposta à experiência, e a adaptação a
condições mutantes e a estímulos repetidos (Guyton, 2001). Este fato é melhor
compreendido através do conhecimento do neurônio, da natureza das suas conexões
sinápticas e da organização das áreas cerebrais (Guyton, 2001). A cada nova experiência do
indivíduo, portanto, redes de neurônios são rearranjadas, outras tantas sinapses são
reforçadas e múltiplas possibilidades de respostas ao ambiente tornam-se possíveis (Guyton,
2001).
55
Este é um tipo de enfoque que, ao privilegiar a oposição e a gestão da
imprevisibilidade como fonte de evolução, reabilita o jogo como elemento
fundamental de aprendizagem e possibilita perspetivar o treino enquanto
espaço de criatividade e autonomia52 (Chow, 2013; Duarte et al., 2013; Frank
et al., 2008; Garganta, 2005; kelso et al., 1981; Schöllhorn et al., 2012).
52
Cabe aqui uma referência especial à relação entre o comportamento criativo e os
denominados automatismos. Sabe-se que estes consistem em hábitos construídos a partir
da repetição de determinadas respostas e que esta forma de funcionamento, cujo objetivo
principal é economizar tempo e energia, só funciona quando o organismo já experimentou
uma exposição a contextos idênticos e os registou na memória. Neste âmbito, a abordagem
dinâmica da ação tática, pode fornecer referências importantes para o esclarecimento do
modo como se conjugam o vínculo às regras e princípios, e a possibilidade de se criar novas
ações e interações, isto é, de se criar e inventar novos cenários no seio do jogo (Garganta,
2005).
53
Para um melhor entendimento de fragmento importa recorrer à geometria fractal de
Mandelbrot (1991). O conceito de fractal foi criado por Mandelbrot (1991) que, ao estudar a
flutuação dos preços do algodão no mercado internacional, verificou que, por detrás do
comportamento aberrante da distribuição habitual desses valores, se encontra uma simetria
do ponto de vista da escala. Assim, apesar das variações momentâneas serem
imprevisíveis, elas apresentavam o mesmo padrão quando comparadas com variações para
grandes lapsos de tempo (Cunha e Silva, 1999). A este fenómeno, Mandelbrot chamou
“invariância de escala”. E ela decorre de dois princípios organizadores: a cascata e a
56
Os fragmentos táticos preferenciais são versões específicas e
representativas do jogo com complexidade reduzida, que visam propiciar ao
jogador a deteção de informação e o respetivo acoplamento das perceções
aos padrões de auto-organização táticos, que o treinador entende em
determinada altura serem preferenciais para o melhoramento da equipa
(Araújo & Volossovitch, 2005; Davids & Araújo, 2005; Duarte et al., 2013).
Que isto dizer que, a complexidade que o jogo induz em função da interação
das dimensões tática, técnica, psicológica e fisiológica é fragmentada em
unidades funcionais que contenham essas interações, mas com níveis de
complexidade inferiores (Garganta, 1994).
57
que permite definir cinco níveis ou escalas de complexidade para os
diferentes momentos e fases do jogo de futebol.
Portanto, de acordo com esta ideia, parece fazer sentido que o treinador
desloque o olhar para as interações dos atores com o envolvimento e que
selecione com diferentes níveis de complexidade os fragmentos táticos
preferenciais específicos que quer aperfeiçoar, através do desenvolvimento
das capacidades cognitivas, percetivas, decisionais, físicas e motoras que
satisfaçam os constrangimentos impostos (Caldeira, 2013; Garganta, 2000,
2003, 2005; Gréhaigne et al., 1997; Guilherme, 1991, 2004; Teoldo et al.,
2015; Vilar et al., 2012; Woods, McKeown, et al., 2020; Woods, Rudd, et al.,
2020).
54
Por exemplo, no processo ofensivo importa definir como se criam desequilíbrios,
numa procura de superioridade numérica, no tempo e no espaço; quando se define o
comportamento defensivo em cada momento e qual o risco que se corre em função da
posição da bola e da cobertura que está garantida ou não, na necessidade de definir o
espaço que se concede ao adversário para jogar e em que zonas do campo, se a pressão,
alta, média ou baixa, está a ser adequadamente realizada. No entanto importa ter presente
58
Para que tal aconteça, é importante que o treinador perceba, identifique
e manipule (por vezes com exagero) os constrangimentos, como por exemplo
as variáveis estruturais da tarefa (i.e., número de jogadores, dimensões do
espaço e regras de ação), mais relevantes que influenciam a auto-
organização do sistema de ação, e direcione a atenção dos jogadores para
fontes de informações táticas, específicas e representativas mais relevantes
(Araújo et al., 2009; Frade, 2013a, 2013b; Kelso & Schoner, 1988; Mesquita,
2005b; Seirul-lo, 2017c). Deste modo, as sessões práticas funcionam como
orientadores, potenciadores e propiciadores da emergência de soluções
favoráveis que permitirão ao jogador agir com sucesso, em consonância com
os objetivos (Araújo et al., 2009; Araújo et al., 2005; Passos et al., 2008).
que os princípios do modelo de jogo devem ser entendidos como pontos de partida que
auxiliam na interpretação da uma realidade que é sempre circunstancial.
59
3.2. O contributo da intervenção pedagógica do treinador
Importa ter a noção que, o que vulgarmente se designa por erro se situa
nesse hiato entre o objetivo que se pretende atingir através da orientação
para determinada ação e o resultado realmente conseguido aquando da sua
efetivação (Garganta et al., 2013). Contudo, em vez do erro ser tido em conta
enquanto indicador da adequação do processo, usado para se chegar a um
determinado resultado, ele é recorrentemente perspetivado no seu conceito
restrito de resultado da ação e, portanto, somente enquanto oposto do que é
60
certo (Garganta et al., 2013). Desse modo, a sua ocorrência tem uma
conotação negativa, sendo identificada com algo que impede a
aprendizagem, em vez de algo que a pode viabilizar (Garganta et al., 2013).
55
Os feedbacks podem ser caraterizados quanto ao seu objetivo: avaliativo
(positivo/negativo), prescritivos, descritivos e interrogativo.
61
perceber e agir, concorrendo para isso a forma como o treinador emite a
informação.
62
comunica com eles. De facto, importa ter em conta que os jogadores são
submetidos a um grande desgaste durante o jogo e o treino, o que provoca
fadiga, devendo esta ser gerida de modo a não comprometer a
operacionalização dos objetivos táticos (Dupont et al., 2010; Nédélec et al.,
2012).
56
A fadiga é um processo multifatorial que envolve questões relacionadas com a
depleção dos sistemas energéticos, a acumulação de produtos do catabolismo, o
atingimento do sistema nervoso e a falência do mecanismo contráctil de fibra esquelética.
Em termos simples, pode definir-se fadiga como a incapacidade funcional de manter uma
determinada intensidade de exercício (Bangsbo, 1993; Brooks et al., 2000; Ganong, 1999).
57
Esta complexidade pode ser definida como o conjunto de interações que uma
equipa sistémica pode promover entre os seus elementos e entre estes com o meio
envolvente, o que promove uma imensidão de relações que se podem estabelecer entre eles
e uma diversidade de opções que cada um pode tomar originando alguma incerteza,
divergência e convergência comportamental dinâmica (Araújo & Volossovitch, 2005; Balagué
et al., 2013; Bar-Yam, 2003; Cunha e Silva, 1999; Garganta & Cunha e Silva, 2000). A
complexidade aumenta para níveis mais elevados quando se junta à equação do jogo a
especificidade que os fatores de rendimento representam ao interligarem-se reciprocamente
com o intuito de promoverem a performance tática de um elevado número de jogadores.
58
Refere-se ao estado de equilíbrio no organismo com respeito a diversas funções e
composições químicas dos líquidos e tecidos. É o conjunto de processos através dos quais
se mantém o equilíbrio corporal.
63
Neste âmbito, alguns autores, tais como Carling e colaboradores (2015),
Dupont e colaboradores (2010), Hoyo e colaboradores (2016), Nédélec e
colaboradores (2012) e Wollin e colaboradores (2018), têm vindo a sugerir
que, durante os processos de treino, se afigura de extrema importância
respeitar os períodos de recuperação fisiológica, após desempenhos
exigentes.
64
envolvidos em ações tão decisivas para a recuperação ou manutenção da
posse de bola. Nesse momento, os futebolistas acabam por estar em
processo de recuperação dos estímulos fortes, intensos, dinâmicos e
especialmente ultracurtos que compõe o momento em que estão envolvidos
no centro de jogo (Stolen et al., 2005).
59
A bioenergética procura compreender o funcionamento integrado de três sistemas
energéticos nos vários tipos de desempenho físico (Astrand & Rodahl, 1980; Guyton, 2001).
A ação destes sistemas ocorre sempre simultaneamente, embora exista a preponderância de
um determinado sistema relativamente aos outros, dependendo de fatores como a
intensidade e a duração do esforço, a quantidade das reservas disponíveis em cada sistema,
as proporções entre os vários tipos de fibras e a presença de enzimas específicas (Astrand &
Rodahl, 1980; Guyton, 2001).
60
A variabilidade do desempenho físico é alta e está ligada a muitos fatores que
envolvem alguma imprevisibilidade, tais como marcar um ou dois golos durante os primeiros
15 minutos de jogo, o que poderá, por exemplo, provocar uma redução da distância
percorrida pelos jogadores durante os 90 minutos, ou leva-los a diminuir a intensidade do
esforço (Oliva-Lozano et al., 2020).
65
acordo com os acontecimentos ocorridos durante a competição e de jogador
para jogador (Nédélec et al., 2012).
Importa ainda referir que a tarefa se torna mais complexa, uma vez que
o esforço representativo do jogo de futebol é caraterizado por ter vários
esforços específicos, consoante o modelo de jogo criado pelo treinador.
Logo, a especificidade das caraterísticas de jogo de cada equipa induz
diferentes tipos de esforços e solicitações das capacidades fisiológicas
(Carling et al., 2015; Faude et al., 2012; Mohr et al., 2005).
Quer isto dizer, que o modelo de jogo, viabilizado pela execução dos
princípios que o compõem, coloca determinadas exigências específicas em
termos fisiológicos que dependem da singularidade que uma determinada
forma de jogar requisita. Admite-se, portanto, que a faceta física própria do
jogo de futebol existe na relação direta com o modo como se pretende
resolver os problemas do jogo (Carling et al., 2015; Faude et al., 2012; Mohr
et al., 2005).
61
Inflamação/lesão muscular.
66
Importa ainda reconhecer que para além da competição, o treino de
futebol também promove um desgaste significativo no organismo (Carling et
al., 2015; Nédélec et al., 2012). Tal facto torna o desafio da preparação da
equipa mais complexo, na medida que para se treinar os diferentes princípios
de jogo, todos os dias, é necessário manipular os conteúdos e as
condicionantes estruturais dos contextos de prática (como sendo os tempos
de exercitação e de repouso), sem provocar um desgaste limitador à
evolução da qualidade de jogo e à disponibilidade de frescura da equipa para
competir ao mais alto nível (Carling et al., 2015; Nédélec et al., 2012).
67
jogos desportivos coletivos, seja entendido, tal como sugerido na primeira
secção deste ponto do enquadramento, à luz do pensamento sistémico.
62
O conceito de programação foi inicialmente proposto por Verjoshanski na década de
setenta (Castelo, 2019; Garganta, 1993; Verjoshanski, 1990).
68
cargas, de acordo com os períodos da época que se atravessa, vinculando a
periodização com a dimensão física.
Todavia, face ao que tem vindo a ser exposto, e tal como alguns
autores sugerem, entre os quais Araújo e colaboradores (2006), Araújo e
colaboradores (2009), Garganta (2004), Guilherme (2004) e Seirul-lo (2017c),
parece ser conveniente que a periodização das sessões de treino do futebol
se direcione para o desenvolvimento das decisões e interações táticas
específicas, através da planificação, criação e aplicação de situações práticas
que promovam um elevado efeito de transferência para a competição e
fomentem consideráveis níveis de autonomia e criatividade nos jogadores.
69
2011, 2013a, 2013b; Garganta, 1997; Guilherme, 1991, 2004; Teoldo et al.,
2015). Será através desta identidade que emergirá a elevação dos níveis de
organização nos diferentes domínios e nas várias escalas do rendimento,
mantendo-se o respeito pelas interações específicas dos componentes do
sistema (Frade, 2011, 2013a, 2013b; Garganta et al., 2013; Guilherme, 1991,
2004; Teoldo et al., 2015).
63
Importa referir que ao longo dos anos as terminologias ensino-aprendizagem e
treino moveram-se em âmbitos diferentes, o primeiro mais relacionado com o desporto
escolar e com o desporto de formação e consequentemente com o ensino e a aprendizagem
dos alunos/jogadores; o segundo mais conotado com o desporto de rendimento (Guilherme,
2004).
64
Porque existe um processo de ensino-aprendizagem de como o jogador deve
resolver os problemas do jogo, segundo princípios referentes aos diferentes modos de jogar
futebol, não parece fazer grande sentido utilizar neste documento o termo atleta quando se
está a referir o futebolista (Sousa, 2018). De facto, partindo do princípio de que o termo
“atleta” está muito vinculado ao desempenho físico, não parece lógico invocar os atributos
físicos típicos dos desportos individuais como o atletismo, de onde deriva a palavra atleta,
quando nos referimos a uma modalidade que na maioria do tempo faz apelo a processos
mentais táticos e estratégicos complexos que permitam ao futebolista ser um jogador com
pés ligados à cabeça. Assim, ser futebolista é ser antes de mais, um jogador (Sousa, 2018).
70
oportunidades de ação congruentes com os princípios delineados (Castelo,
1994; Garganta, 1997, 2005, 2008; Guilherme, 2004; Santos et al., 2011;
Schöllhorn et al., 2012; Vilar et al., 2012).
71
Guilherme, 2004; Santos et al., 2011; Schöllhorn et al., 2012; Vilar et al.,
2012).
72
Assim, sugere-se um tipo de compreensão sinergética, simbiótica e
sistémica entre os diferentes fatores considerados, uma vez que desintegrá-
los poderá significar não só descontextualizá-los, mas também esvaziá-los de
sentido retirando-lhes a eficácia que levem à assimilação de uma cultura
específica para jogar e que potenciem as tomadas de decisão e as
possibilidades de ação em contextos aleatórios, imprevisíveis, específicos e
representativos (Castelo & Matos, 2013; Frade, 2013a; Garganta, 1991,
1993; Mujika et al., 2018; Santos et al., 2011).
Portanto, não parece fazer grande sentido que o treino dedique tempo à
prática direcionada apenas para a dimensão física ou técnica do futebol, cuja
eficácia se relaciona apenas com preceitos biomecânicos e físico-
condicionais, isto é, centrados no gesto e desempenho físico em abstrato,
mas sim pela organização funcional de atividades práticas que promovam a
aquisição de qualidades táticas (i.e., importa atender-se, sobretudo, às
imposições da respetiva adaptação inteligente às situações de jogo) (Araújo
et al., 2009; Araújo et al., 2006; Araújo et al., 2005; Castelo, 1996; Davids et
al., 2004; Garganta et al., 2013).
73
esquecendo que as próprias sessões de treino também podem contribuir
para a acumulação de fadiga (Carling et al., 2015; Faude et al., 2012; Mohr et
al., 2005).
Isto significa que, para que o treino seja o ensino de uma forma de jogar
concreta e a resolução dos problemas de jogo, é necessário que as
intensidades65 dos contextos de prática sejam específicas e representativas
(i.e., idênticas às da competição). Tal facto, implica manipular ajustadamente:
a) o intervalo de tempo entre as sessões de treino; b) os tempos totais e
parciais das tarefas práticas; c) os tempos de repouso entre situações
práticas e a duração total da sessão. Tudo tem de ser pensado e controlado
simultaneamente e percebendo as interações que evidenciam.
65
Refere-se à expressão tática (interação de todos os fatores de rendimento)
específica. Face à existência de uma especificidade comportamental (i.e., modelo de jogo),
que se expressa através do fator tático, o significado de intensidade relaciona-se com a
especificidade tática que se quer ver expressa. Especificidade esta que é fruto do contributo
sistémico de todos os fatores de rendimento e não apenas da vertente físico-condicional que
significava, apenas, um alto grau de velocidade de execução.
74
4. Principais conceções de periodização do treino aplicadas ao
futebol
75
1960, sugeriram também as suas propostas (Bompa, 1999; Castelo, 1996;
Granell & Cervera, 2001; Raposo, 2017).
68
De acordo com a SGA a adaptação do corpo dos desportistas passa por três fases
quando o organismo é confrontado com uma exigência. A primeira fase é conhecida como
choque e acontece quando o corpo enfrenta um novo estímulo de treino. A segunda fase é a
adaptação ao estímulo (i.e., o corpo adapta-se ao novo estímulo de treino e o desempenho
aumenta). A terceira fase é caracterizada pelo cansaço que acontece quando o corpo já se
adaptou ao novo estímulo, não acontecendo mais adaptações. Nessa fase, é possível que o
desempenho não mude ou, no caso de muitos atletas altamente motivados, o desempenho
pode diminuir pelo excesso de treino.
76
Contudo, de acordo com Gomes (2002), Raposo (2017) e Silva (1998),
entre o início da década de sessenta e os finais da década de setenta, a
periodização do treino desportivo começa a apresentar uma base mais
científica, o que motivou o aparecimento de novas propostas que vieram
repensar o modelo de L. P. Matvéiev.
Alguns anos mais tarde na mesma linha das anteriores citadas viriam a
surgir as propostas de Tudor Bompa e de Bangsbo, em 1994. Estas
conceções de treino foram evoluindo em direção à individualização das
cargas, à concentração das cargas em curtos espaços de tempo e ao
aumento do trabalho específico69 dos conteúdos do treino, em detrimento do
excesso de cargas gerais propostas inicialmente. Apresentam, ainda, uma
ligação direta com o calendário das competições e com algumas
caraterísticas das modalidades desportivas para as quais foram criadas
(Afonso & Pinheiro, 2011). Estas conceções, tal como as anteriormente
formuladas para os desportos individuais, parecem ser fundamentalmente
70
influenciadas pelo pensamento mecanicista de Newton. Por isso,
69
Refere-se à noção de representatividade.
70
O homem que realizou o sonho cartesiano e completou a Revolução Científica foi
Isaac Newton.
77
decompõem todas as atividades em elementos simples, apresentando
propostas de treino com exercícios dedicados exclusivamente ao
desenvolvimento físico, técnico, tático e psicológico.
71
Importa referir que José Mourinho, treinador português com maior currículo
desportivo, concluiu a licenciatura nesta instituição de ensino superior.
72
Veio substituir o então Instituto Nacional de Educação Física (1940-1975).
73
Veio substituir a Escola de Instrutores de Educação Física (1969-1975).
78
significativo para que os novos pensamentos fossem devidamente
considerados. De facto, deste grupo de treinadores, realça-se o trajeto de
Carlos Queiroz enquanto treinador e de Nelo Vingada enquanto seu treinador
adjunto.
Tal como Sarmento e Araújo (2021), entendemos que pela forma como
Carlos Queiroz expõe a organização e a estrutura dos exercícios, este já
promovia a “repetição sem repetição” tal como defendem alguns autores,
entre os quais Bernstein (1967), Chow (2013) e Duarte e colaboradores
(2013) e tal como fomos sugerindo ao longo deste enquadramento teórico.
79
Ou seja, não fomentava uma simples repetição de soluções com o objetivo
de que os jogadores as pudessem “decorar” para aplicar em situação de
jogo, mas pelo contrário, propiciava a repetição do processo para solucionar
os problemas (Sarmento & Araújo, 2021). Portanto, eram os problemas que
se repetiam e não as soluções, estas eram descobertas pelos jogadores a
cada nova repetição do mesmo problema (Sarmento & Araújo, 2021).
80
trabalhos académicos sobre o treino dos jogos desportivos em geral e o
futebol em particular (Neto, 2015).
81
“Shared Knowledge or shared affordances? Insights from an ecological
dynamics approach to team coordination in sports” dos autores Pedro Silva e
colaboradores de 2013.
82
jornalísticas, entre as quais a do New York Times, em 2017 e a da UEFA em
2021.
83
Esta conceção tem vindo a ser ensinada no Instituto Nacional de
Educação Física da Catalunha (INEFC), onde o seu criador tem sido docente
ao longo dos últimos quarenta anos, contando com algumas publicações nos
diferentes formatos que ajudam a melhor a entender, entre as quais se
salientam mais recentemente, o livro escrito por Seirul-lo Vargas e Gerard
Moras intitulado “El Entrenamiento em los Deportes de Equipo”, editado em
2017 e os artigos “La preparación em deportes de equipo. Entrenamiento
Estruturado” elaborado por Seirul-lo Vargas e publicado em 2002, e
“Entrenamiento em deportes de equipo: el entrenamiento estruturado en el
FCB”, de Joan Ramon Tarragó e colaboradores, publicado em 2019.
Convém ainda referir que esta abordagem tem vindo a ser aplicada no
Futebol Clube Barcelona (FCB), onde Seirul-lo Vargas74 tem coordenado a
área de alto rendimento do clube e exercido uma ação preponderante na
organização das seções de treino. Durante este período já colaborou, entre
outros, com Pep Guardiola e Tito Villanova e por isso estes treinadores são
também associados ao Treino Estruturado (Arjol, 2012; Mallo, 2015; Seirul-lo,
2017c).
De acordo com Arjol (2012), Dóniga (2013) e Mallo (2015), nas últimas
duas décadas estas duas conceções que tinham tido a sua origem na
décadas de setenta e que têm vindo a ter a sua consolidação desde a
década de noventa, ressurgiram, com algum fulgor, em virtude de, como
referido anteriormente, alguns treinadores que as dizem colocar em prática,
terem alcançado significativos resultados 75 alicerçados em exibições de
74
Começou a trabalhar no Futebol Clube Barcelona (FCB) na seção de atletismo,
entre 1976 e 1984. Em 1982 tornou-se o preparador físico da primeira equipa de andebol,
mantendo essa posição até 1996. Alguns anos mais tarde, juntou-se à equipa nacional de
Andebol da Espanha, conquistando o Campeonato Mundial em 2013. Entretanto, a partir de
1994, começou também a desempenhar funções como preparador físico no departamento de
futebol sendo, ainda hoje, considerado como a principal referência em relação à metodologia
de treinamento do F. C. Barcelona. Durante os últimos anos, partilhou as equipas técnicas
com Johan Cruyff, Sir Bobby Robson, Cárie Rexach, Louis van Gaal, Lorenzo Serra Ferrer,
Radomir Antic, Frank Rijkaard, Pep Guardiola, Tito Vilanova e Gerardo Martino. Venceu 9
Campeonatos de Espanha, 4 Taças do Rei e 8 Supertaças nacionais; 3 Ligas dos
Campeões, 1 Taça dos Vencedores das Taças, 3 Super Taças da UEFA e 2 Campeonatos
do Mundo de Clubes.
75
Destacando-se no âmbito do Treino Estruturado, entre 2008 e 2012, com Pep
Guardiola na qualidade de treinador, o Futebol Clube Barcelona que ganhou 3 campeonatos
espanhóis e uma Liga dos Campeões e no domínio da Periodização Tática, as vitórias do
Futebol Clube do Porto na Liga Europa e na Liga dos Campeões em 2003 e 2004, com José
84
qualidade, durante as competições de futebol. Face a esta realidade, as
propostas de Vítor Frade e Seirul-lo Vargas passaram a figurar, a par da
conceção de Matvéiev, entre as conceções que os treinadores, de um modo
geral, mais utilizam para periodizar o treino do futebol.
Mourinho como treinador e a conquista da Liga Europa, em 2011, com André Villas-Boas,
como treinador.
85
e destrezas motoras, compreendendo os elementos técnicos e táticos do
desporto escolhido (Castelo, 1994; Garganta, 1993; Matvéiev, 1990, 1991).
86
que é incluído devido à necessidade de conceder ao atleta um descanso
ativo.
87
escolhido (Matvéiev, 1990, 1991). Segundo a conceção de Matvéiev (1990),
uma vez que nesta etapa é necessário aumentar as capacidades funcionais
do organismo, o conjunto de tarefas propostas é muito mais amplo e variado,
com maior proporção de tarefas para desenvolver a resistência física geral e
o aperfeiçoamento geral da força.
88
Portanto, em traços gerais, ao longo de todo o período preparatório
existe uma grande preocupação pela divisão dos fatores de rendimento, com
especial enfoque no desenvolvimento geral dos aspetos físico-condicionais,
treina-se o modo de fazer, ou seja a técnica, aumenta-se a capacidade para
fazer (i.e., o físico), mas, separado das razões táticas (Castelo, 1996;
Garganta, 1991, 1993, 1994, 2000; Garganta et al., 2013; Garganta & Pinto,
1998).
89
Por outras palavras, parte-se dos elementos ou conjunto de elementos
até se chegar ao exercício total (Matvéiev, 1990, 1991). Por exemplo, a
passagem da corrida repetida dos percursos da distância fixada, à corrida
completa (Matvéiev, 1990, 1991). No âmbito do futebol, será a passagem de
tarefas direcionadas para os vários setores que compõem a equipa, para
tarefas em que todos os jogadores estejam juntos.
90
e táticas visam o aperfeiçoamento das habilidades motoras, aproveitando ao
máximo a coordenação dos movimentos, desenvolvimento tático e ampliação
dos conhecimentos especializados (Matvéiev, 1990, 1991).
76
Refere-se à especificidade da modalidade desportiva. Por exemplo, futebol,
basquetebol, voleibol ou andebol (Tarragó et al., 2019).
91
Segundo Seirul-lo (2017c), a unicidade estrutural complexa dos
indivíduos é resultado da convergência dos sistemas bioenergético,
condicional, cognitivo, coordenativo, sócioafetivo, emotivo-volitivo,
expressivo-criativo e metal. Neste sentido, a conceção de treino é baseada
na relação sistémica das estruturas do ser humano que pratica desporto e na
sua expressão na ação motora (Tarragó et al., 2019).
92
ao jogador manter estável a sua estrutura longe do equilíbrio, possibilitando
trocas na sua funcionalidade em busca de uma otimização (Seirul-lo, 2017c;
Seirul-lo & Solé, 2017).
93
nos vários cenários do ambiente específico que se proponham para as
distintas sessões de treino e de competição, onde o jogador irá participar
para conseguir a sua otimização (Seirul-lo, 2017c).
94
Desta forma, o treino otimizador reflete a carga coletiva a que uma
equipa está submetida e o treino coadjuvante serve para identificar e
equilibrar a carga individual que o jogador precisa para atingir, entre ambos,
uma ótima adaptação às altas exigências condicionais do desporto em
questão e a sua competição (Gómez et al., 2019; Tarragó et al., 2019).
95
específica (Arjol, 2012; Seirul-lo, 2017c; Serrés, 2017). Depreende-se, então,
que no âmbito das situações simuladoras preferenciais tal como foi sugerido
no ponto três deste capítulo, que os fatores responsáveis pelo rendimento
(i.e., a tática, a técnica, o físico e o psicológico) são contemplados de forma
interligada, tal como foi sendo sugerindo.
78
A fim de alcançar essa auto-organização, o autor enfatiza que é necessário respeitar
as seguintes caraterísticas: a) nunca se tem a certeza científica do nível inicial do jogador,
assim as variáveis e capacidades não devem ser maximizadas, mas sim otimizadas.
96
2009; Arjol, 2012; Cuadrado, 2009; Fernández, 2009; Mallo, 2015; Ribera,
2009; Seirul-lo, 1993, 2009, 2017c). A definição de contexto desportivo
específico vai de encontro ao conceito de representatividade que foi exposto
anteriormente (i.e., o sugerido por Brunswik (1956)).
97
(2017) e Serrés (2017) sugerem que o treinador utilize as variações que
correspondam a uma “filosofia de jogo” concreta de uma equipa e às
necessidades do jogador em situações concretas de interação dessa filosofia
(Arjol, 2012; Serrés, 2017).
79
Quando se fala em filosofia de jogo, o autor refere-se a um conceito amplo que pode
ser representado em última instância pelos princípios e valores (trabalho, solidariedade,
respeito, humildade) que definem o modelo de jogo e que constituem o suporte das crenças,
opiniões, atitudes que irão dar lugar a comportamentos observáveis no jogador. Daí a
necessidade de estabelecer valores partilhados por todos (i.e., filosofia que dá suporte aos
diferentes modelos de jogos que se estabelecem) (Arjol, 2012).
80
Na primeira fase – mostrar – significa que devem ser propostas tarefas com pouca
representatividade e complexidade e deve-se manipular as estruturas condicionantes do
exercício (Serrés, 2017). Na segunda fase – praticar – significa que o objetivo é desenhar
tarefas que integrem os conteúdos de interação em condições reais de jogo (Serrés, 2017).
Na terceira fase – providenciar – significa que se deve aperfeiçoar a totalidade de elementos
adquiridos mediante a variação da complexidade das tarefas (Serrés, 2017).
98
nível dos elementos que interessa estimular (Serrés, 2017). Ou seja, a
complexidade é treinada, tal como foi sendo sugerido, através de diferentes
níveis de complexidade da equipa e do jogo.
99
Segundo Gómez e colaboradores (2019) e Seirul-lo (2017c) o TCP é
um tipo de treino geral e/ou dirigido dedicado à correção, ajuste, antecipação,
controle e proteção daqueles fatores internos e externos que podem constituir
um risco de sobrecarga ou lesão no atleta. Tem como principais objetivos: a)
alcançar o equilíbrio e a predisposição necessária predisposição necessária
do conjunto musculotendinoso de grupos e cadeias musculares envolvidas
nas várias execuções de cada uma das ações específicas do desporto
(agonistas/antagonistas, tónicos/fásicos, etc.); b) priorizar as adaptações dos
músculos estabilizadores como elemento indispensável e facilitador da ação
sensoriomotora eficiente em qualquer ação; c) adaptar os músculos e
tendões às exigências produzidos por ações de alta intensidade,
especialmente as manifestações excêntricas e imprevistas tais como
desequilíbrios, quedas, desacelerações, etc.; d) aumentar a eficiência das
capacidades coordenativas que estão na base de técnicas específicas para
ajustá-las às condições inesperadas típicas dos desportos de interação.
100
médicos, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos (Gómez et al., 2019;
Seirul-lo, 2017c).
101
Pretende-se com este treino evitar possíveis descompensações
estruturais geradas pela prática específica repetida e ambiciona-se alcançar
uma compreensão mecânica eficiente de técnicas específicas, gerando
possibilidades de ações técnicas impecáveis do ponto de vista biomecânico,
cinesiológico e de desempenho (Gómez et al., 2019).
102
De acordo com Gómez e colaboradores (2019), entende-se por “áreas
de trabalho” as quatro manifestações específicas da força exigida no futebol
e, em geral, em todos os desportos coletivos: a força para os deslocamentos,
a força para os saltos, a força para os duelos e a força para as ações com a
bola. Por “conteúdo” entende-se a habilidade técnica específica, com todas
as suas variações, por exemplo, saída aberta, saída cruzada, aceleração,
desaceleração, etc. Cada uma delas estará relacionada a com uma ou mais
áreas de prática (Gómez et al., 2019).
103
• Nível 2 – O exercício deve imitar um gesto técnico, mas com pouca
sobrecarga.
• Nível 3 – Exercícios técnicos onde existe cooperação-oposição sem
tomada de decisão ou com tomada de decisão muito simples, que
não condicionam a execução.
104
Finalmente, os exercícios de aplicação são aqueles que facilitam ações
musculares semelhantes ou idênticas ao gesto técnico, reproduzindo tanto a
velocidade de deslocamentos como a velocidade de execução (Seirul-lo,
1993). Dependendo dos níveis de aproximação dos diferentes exercícios,
podem-se incluir ações que requerem tomadas de decisão (Gómez et al.,
2019).
105
produz uma fase aérea do próprio corpo com maior incidência no
deslocamento vertical (Gómez et al., 2019).
Acresce que, no que ao treino da força diz respeito, alguns autores, tais
como Abade (2014), têm sugerido que o treino complementar específico da
força, no âmbito dos jogos desportivos, poderá incrementar ganhos ao nível
do esforço no desempenho das ações tático-técnicas em contextos de jogos
reduzidos. Tal facto, afigura-se pertinente ser objeto de reflexão numa futura
investigação.
106
4.2.2. O Microciclo Estruturado
Face ao que tem vindo a ser exposto ao longo no ponto dois e três do
presente capítulo parece revelar-se mais adequado neste período da época
criar e desenvolver o modelo de jogo que se pretende que a equipa pratique,
e não tanto dedicar este tempo ao desenvolvimento isolado das capacidades
107
físicas gerais. Neste sentido, sugere-se tanto quanto possível se utilizem
tarefas táticas específicas e representativas do jogo de futebol que
interliguem os diferentes fatores de rendimento tal como se manifestam nos
momentos de competição. Propiciando que a preparação física esteja
interligada com as capacidades técnicas e com as perceções e decisões
específicas do modelo de jogo.
108
Microciclo Preparatório (MP), Microciclo de Transformação Dirigida (MTD),
Microciclo de Transformação Especial (MTE), Microciclo de Manutenção
(MM) e Microciclo de Competição (MC) (Acero et al., 2013; Mallo, 2015;
Seirul-lo & Solé, 2017). Os três primeiros de aplicação durante o período
preparatório, e os dois últimos a consumar durante o período competitivo.
Importa dizer que o Microciclo de Transformação Especial também se aplica
no período competitivo (Arjol, 2012; Mallo, 2015; Seirul-lo & Solé, 2017).
109
depois dos preparatórios. Também pode ser utilizado em fases em que há
interrupção nas competições nacionais em virtude dos compromissos das
seleções nacionais (Seirul-lo & Solé, 2017).
110
O aspeto quantitativo da carga predomina durante o início da semana e
os aspetos qualitativos, durante o resto. Umas das principais peculiaridades é
que predominam as cargas de carácter competitivo e de descanso e
regeneração. Não obstante, tenta-se que haja um equilíbrio que deve existir
entre a forma geral e a específica para poder ter um elevado nível de
rendimento durante o longo calendário competitivo (Seirul-lo & Solé, 2017).
Importa ainda referir que, no que ao volume diz respeito Seirul-lo e Solé
(2017), sugerem que este seja dividido em Volume Concentrado de Carga
Específica (VCCE), Volume Tático-Técnico (VTT) e Volume de Carga
Genérica (VCG). Em relação ao conceito de intensidade, é similar ao da
111
Teoria Geral do Treino (TGT) parece ser referenciado o grau de esforço do
jogador, em cada situação de treino (Arjol, 2012; Seirul-lo & Solé, 2017).
112
No bloque de temporada do microciclo não se devem utilizar duas
consequências conformadoras iguais, para que não se corra o risco de
otimizar apenas os mesmos sistemas (Arjol, 2012; Mallo, 2015). Os valores
de bloque de temporada e volume tático-técnico devem variar entre
microciclos sucessivos. Em relação à evolução da carga nos microciclos ao
longo da temporada, esta será descendente à medida que aumente o número
de jogos realizados, tendo como referência o microciclo de maior carga na
temporada (Arjol, 2012; Mallo, 2015; Seirul-lo & Solé, 2017).
113
planificação81 mais geral, determinando em primeiro lugar os componentes82
estruturais que permanecerão fixos durante todo o período (Arjol, 2012). O
passo seguinte da planificação é definir a filosofia de jogo, dentro da qual se
podem construir diferentes modelos de jogo (Arjol, 2012). As propriedades de
uma planificação são: Única, Específica, Personalizada, Temporizada (Arjol,
2012; Seirul-lo, 2017c).
81
A planificação deverá tomar como ponto de partida o projeto do clube, o projeto que
se apoia no conhecimento da trajetória histórica, assim como os contornos culturais e
sociais, a sua filosofia e as suas idiossincrasias (Seirul-lo, 2017a, 2017c; Seirul-lo & Solé,
2017). O citado projeto inclui os objetivos a curto, médio e longo prazo nas diferentes
competições em que a equipa participa (Mallo, 2015). Assim, devem considerar-se os
aspetos relacionados com as relações contratuais e económicas dos integrantes do grupo
desportivo. Finalmente deve-se considerar a própria organização funcional do clube,
representada pelos seus departamentos, as funções, as responsabilidades e as vias de
comunicação, todas elas representadas por pessoas concretas (Seirul-lo, 2017c).
82
O primeiro aspeto fundamental é definir os objetivos da equipa, dentro do projeto do
clube. Estes objetivos devem não só estar relacionados com o rendimento da equipa, mas
também com outros aspetos subjacentes aos valores (Arjol, 2012). Os citados objetivos
ordenam-se segundo a importância e o tempo previsto para alcançá-los (Seirul-lo, 2017c).
De acordo com esses objetivos, procede-se à configuração do grupo desportivo, constituído
pelo corpo técnico, plantel e restantes membros auxiliares (equipa médica, material,
instalações). Esta seleção em muitos casos é à partida determinada pelo próprio clube, de
acordo com o seu projeto, objetivos e recursos, seja qual for o nível ou categoria (Arjol,
2012). De seguida estabelecem-se os grandes períodos da temporada, como são o período
preparatório, período competitivo e período de transição, cada um deles dividido em
unidades temporais designadas por microciclos estruturados (Seirul-lo, 2017c).
114
integração no jogo. Importa referir que de acordo com o treino estruturado, o
jogador é constituído por uma série de estruturas como por exemplo, a
estrutura condicional, a estrutura coordenativa, a estrutura cognitiva, a
estrutura socioafetiva, a estrutura emotiva-evolutiva, a estrutura creativo-
expressiva e a estrutura mental. Todas elas presentes no comportamento do
jogador (Arjol, 2012; Seirul-lo, 2017c).
83
Desde logo porque o futebol apresenta um calendário competitivo em que os pontos
por jogo valem todos o mesmo independentemente do adversário que se defronta, portanto,
parece fazer sentido que o objetivo seja estar preparado para atingir a vitória em todos os
jogos. Por isso, as periodizações criadas para os desportos individuais não se justificam,
uma vez que a maioria dos campeonatos são de pontos corridos, isto é, o primeiro jogo tem
exatamente o mesmo valor do último jogo do ano: três pontos.
84
Macroprincípios: referem-se aos contornos gerais da identidade de uma equipa em
concreto. É o balizador da modelação; são os referenciais coletivos que implicam a equipa
115
pois, tal como o que fomos expondo ao longo do documento, também o
criador da PT entende que estas relações e ligações de pensamentos
parecem dar mais garantias de organização e interação eficientes ao longo
dos vários momentos de jogo (Frade, 2013a, 2013b; Reis, 2018).
116
vários momentos e nas diversas escalas do jogo, bem como na resolução
dos problemas que o jogo coloca (Frade, 2013a, 2013b; Reis, 2018).
Assim, de acordo com Vítor Frade, uma vez que o que é fundamental
são as interações dinâmicas dos jogadores, então é a dimensão tática que
deve ser modelada e servir como modeladora de todo o processo de treino,
manifestando-se de forma sistémica em interligação com as demais
dimensões do rendimento. Para tal o autor propõe princípios metodológicos
próprios (Frade, 2011, 2013a, 2013b; Tamarit, 2013).
117
modelo de jogo específico que possibilitem, com elevada frequência, o
aparecimento dos princípios de jogo87 que se querem treinar.
87
Por exemplo, se um treinador quer treinar a organização defensiva, concretamente a
interação dos jogadores da primeira linha defensiva em bloco baixo, a sua coordenação, o
seu posicionamento e os tempos de pressão, deverá promover um contexto que esteja
configurado para que este tipo de acontecimentos ocorra muitas e muitas vezes, consoante a
configuração da unidade de treino em função do dia da semana (Carvalhal, 2014; Frade,
2011, 2013a, 2013b; Mourinho, 2006; Oliveira et al., 2006).
88
Por exemplo, se o princípio na primeira fase de construção é sair a jogar curto,
afigura-se pertinente que os jogadores o aprendam a fazer tanto pelo corredor central como
pelos laterais não descurando a hipótese de inovar em função da interpretação do momento,
circunstancialmente, mas sem perder de vista a especificidade dos princípios da equipa
(Tobar, 2018).
118
propriedades do envolvimento percetivelmente acessíveis e pertinentes para
a realização da tarefa, através de uma relação de interação concomitante e
permanente entre o sujeito e o contexto.
119
relevantes em cada situação específica (Chow, 2013; Chow et al., 2011;
Cláudio et al., 2019).
Importa que se diga que ainda que o foco principal do princípio das
propensões se prenda com o propiciar da aquisição de princípios e
comportamentos táticos nas suas diferentes escalas, esse não é propósito
único (Carvalhal, 2014; Frade, 2011, 2013a, 2013b; Mourinho, 2006; Oliveira
et al., 2006). Segundo Frade (2011, 2013a, 2013b), pretende-se, também,
que em função do dia de cada sessão de treino, com elevada frequência
apareça um determinado tipo de contração muscular – tensão, duração e
velocidade – em predominância; a manifestação do mecanismo metabólico
predominante implicado; e determinadas dinâmicas de desempenho e
recuperação de intensidade máxima relativa. Importa referir que a
nomenclatura utilizada para caraterizar os padrões de contração muscular,
120
também já tinha sido referida por Monge da Silva (1985), num artigo sobre os
parâmetros de contração muscular, todavia com significados e interpretações
diferentes.
Mas, segundo Frade (2011, 2013a, 2013b), para que seja possível
atingir níveis de rendimento elevados, é necessário reconhecer que tão
importante como o esforçar, na aquisição dos princípios táticos pretendidos, é
o recuperar fisiologicamente, sem esquecer que para além da competição, o
treino de futebol também promove um desgaste significativo no organismo.
121
necessidade de levar em conta que o jogo e o treino provocam um desgaste
intenso e que é necessário estabelecer alguns pressupostos, durante as
sessões práticas de modo a possibilitar aos jogadores recuperar da fadiga
causada pelo esforço na competição e no treino.
Esta parece ser uma solução viável na medida em que vai de encontro
aos estudos de Hoyo e colaboradores (2016) e Nédélec e colaboradores
(2012) que salientam a necessidade de se perceber que depois de um jogo
de futebol, os jogadores necessitam de pelo menos três dias para
recuperarem do esforço, ao ponto de estarem em condições para voltarem a
expressar uma atividade semelhante.
122
dias nas dinâmicas táticas das partes que o constituem (Frade, 2011, 2013a,
2013b; Reis, 2018).
Assim, Frade (2011, 2013a, 2013b) sugere que nas restantes sessões
de treino o foco seja nas partes táticas que constituem o modelo de jogo, sem
hipotecar a possibilidade de recuperação fisiológica. Trata-se de gerar
contextos que permitam reduzir o jogo a escalas mais pequenas do todo,
sem empobrecer (i.e., há uma invariância de preocupação que é o modelo de
jogo que é designada de Especificidade maior, mas as escalas em que isso
acontece vão sendo diversas), formando especificidades que fazem parte de
um todo maior (Campos, 2008; Gomes, 2008; Oliveira et al., 2006; Pivetti,
2012; Reis, 2018; Tamarit, 2007, 2013).
123
anaeróbica lática, no jogo, surgir frequentemente por acumulação de esforços
aláticos (Frade, 2011, 2013a, 2013b; Reis, 2018).
124
estruturais da tarefa, o padrão de solicitações no que se refere: 1) ao grau de
complexidade tática dos contextos de exercitação subjacente à porção do
modelo de jogo que é vivenciada; 2) à dominância bioenergética e por
consequência ao padrão de contração muscular dominante; e 3) aos tempos
totais e parciais de exercitação e aos intervalos de repouso entre as tarefas
práticas (Carvalhal, 2014; Frade, 2011, 2013a, 2013b; Maciel, 2011;
Mourinho, 2006; Oliveira et al., 2006).
Para que tal seja operacionalizado com sucesso, o autor propõe que se
obedeça aproximadamente à seguinte lógica que está expressa na Tabela 1.
125
Tabela 1
126
4.3.3. O princípio da Progressão Complexa
Mas, segundo Frade (2011, 2013a, 2013b) e tal como foi sugerido no
ponto três do presente capítulo, à medida que o processo de treino-
competição se vai desenvolvendo, vão emergir coisas novas, algumas
condizentes com o que se deseja e outras nem por isso; há regularidades e
padrões que o eram, mas que deixam de o ser, outras que não eram e
passaram a ser, tudo isto, numa dinâmica constante de treino-competição
que requer muita atenção e reflexão da parte do treinador para estabelecer
prioridades táticas a cada momento, sem se desviar em demasia do caminho
previamente estabelecido (Frade, 2013a).
Quer isto dizer que para Frade (2011, 2013a, 2013b), e tal como
sugerido anteriormente, os momentos de competição têm um papel central
na estruturação dos dias de treino, visto que estes são organizados tendo
127
como base as exigências vivenciadas na competição anterior, a necessidade
de recuperar, corrigir e reavivar interações e o tipo de exigências que se
perspetivam para a competição seguinte (Frade, 2011, 2013a, 2013b; Reis,
2018). Assim, de acordo com Frade (2013a), a eleição do que é prioritário,
emerge da dinâmica altamente complexa que se estabelece entre
quantificação a priori e quantificação a posteriori.
Quer isto dizer que o autor da Periodização Tática, sugere, tal como foi
mencionado previamente no ponto três do presente capítulo que, a natureza
processual fornece indicadores que o treinador deve valorizar de modo a
estabelecer prioridades ao longo da semana de treinos e também ao longo
de uma única unidade (Frade, 2011, 2013a, 2013b; Reis, 2018). Tal
evidência, faz apelo a alguma arte na medida em que não há receitas de
como fazer uma hierarquização de conteúdos (Frade, 2011, 2013a, 2013b;
Reis, 2018).
128
De facto, de acordo com alguns treinadores, entre os quais Carvalhal
(2014), Cruyff (2002, 2012), Guilherme (1991, 2004), Mourinho (2006),
Tralhão (2020), e com o que foi sendo exposto anteriormente, é impossível
saber-se a priori, com perfeita exatidão, o ritmo a que os conteúdos vão ser
assimilados pelos jogadores, uma vez que face à complexidade imposta
pelos adversários e às circunstâncias inerentes à alta competição do futebol,
é muito difícil ter total certeza sobre como a equipa vai responder aos
problemas durante cada jogo e na época competitiva.
Por exemplo, o que não raras vezes pode acontecer, é uma equipa
começar a defender bem durante um ou dois meses, manifestando
comportamentos e interações com alto nível de eficácia, e, a determinada
altura, dar-se o caso que esta mesma equipa passe a evidenciar deficiências
e retrocessos na sua organização defensiva (Carvalhal, 2014).
129
4.3.4. O Morfociclo-Padrão
89
A partir da primeira semana do período preparatório importa transmitir aos jogadores
os macro princípios específicos de interação coletiva contemplados no modelo de jogo
(Frade, 2013a). Esta semana pode, através dos contextos de prática, originar ações e
interações muito condicionadas por regras de como e quando fazer. No final desta primeira
semana parece fazer sentido haver um primeiro momento de avaliação, i.e., jogo de treino.
Em função desse primeiro momento de verificação dos níveis de eficácia e adaptação dos
jogadores às ideias que o treinador propõe, as sessões de treino seguintes durante o período
preparatório irão continuar a variar ao nível dos conteúdos experimentados, até ao próximo
jogo de treino, mesmo que isto apenas se verifique num plano micro sem perda da referência
em relação ao modelo de jogo (Frade, 2011, 2013a, 2013b).
130
de época desportiva (Frade, 2011, 2013a, 2013b; Gomes, 2008; Mallo, 2015;
Reis, 2018).
131
Figura 1
132
A coloração verde corresponde à complexidade inerente à competição
(Frade, 2011, 2013a, 2013b; Gomes, 2008; Reis, 2018). Todavia, para um
conveniente entendimento do significado do algoritmo subjacente à
simbologia das cores, deve entender-se que o emergir do verde resulta do
que a complexidade verde comporta (i.e., o azul e o amarelo, que
devidamente conjugados e nuanciados permitem o verde), ou seja a
expressão qualitativa de uma forma de jogar (Frade, 2011, 2013a, 2013b;
Gomes, 2008; Reis, 2018). Assim, fraciona-se o modelo de jogo (todo =
verde) em níveis de organização que se constituem nas partes representadas
por: branco + verde claro + azul + verde escuro + amarelo + amarelo claro =
verde (Frade, 2011, 2013a, 2013b; Gomes, 2008; Reis, 2018).
133
aquisição de princípios de um modelo de jogo e não no volume associado às
capacidades condicionais (Frade, 2011, 2013a, 2013b; Gomes, 2008; Mallo,
2015; Reis, 2018).
Importa ter presente que para o autor da Periodização Tática e tal como
mencionado no ponto três deste capítulo, os momentos formais de
competição são os testes cruciais que melhor permitem ao treinador aferir a
congruência ou não entre aquilo que a equipa manifesta efetivamente e
aquelas que são as suas intenções (Frade, 2011, 2013a, 2013b; Reis, 2018).
É em função dessa avaliação qualitativa do processo que o treinador vai
configurar semana a semana a operacionalização do modelo de jogo,
matizando-o consoante as necessidades circunstanciais. Tal afigura-se
pertinente, porque tal como foi sugerido no ponto três do enquadramento, os
134
jogos têm todos idêntico valor e por isso convém que a equipa não repita
erros em jogos sucessivos.
90
No âmbito da Periodização Tática, salvo raras exceções, não há lugar às
tradicionais peladas. Por isso, mesmo a vivência dos grandes princípios do modelo de jogo
assume, pela configuração do exercício e pela intervenção do treinador, uma determinada
dominância a qual permite que a vivência nesse dia se centre predominantemente nos
aspetos que o treinador entende mais relevantes naquele ciclo entre jogos (Frade, 2011,
2013a, 2013b; Reis, 2018). Para esse efeito, o contexto daquela unidade de treino é também
ele moldado com o intuito de registar maior propensão de ocorrência de interações relativas
a determinados pormenores do tático-estratégicos, sem que se perca as ligações ao todo
(Carvalhal, 2014; Frade, 2011, 2013a, 2013b; Maciel, 2011; Mourinho, 2006; Oliveira et al.,
2006).
135
desejados, os jogadores desenvolvem as capacidades de interação (Frade,
2011, 2013a, 2013b; Reis, 2018) (i.e., affordances partilhadas), que se
manifestam num plano micro.
5. Em síntese
136
A incursão pelo pensamento sistémico promoveu a possibilidade de
transitar pela diversidade de conhecimentos da biologia, da física, da
matemática e da filosofia. Passou-se por eles com curiosidade, em busca de
respostas transdisciplinares para as inquietações, na tentativa de encontrar
contributos importantes para o entendimento do jogo e do treino do futebol.
137
confere primazia à variável física, que é a grande responsável pelo
rendimento (Matvéiev, 1990, 1991). O período preparatório é longo e assenta
quase exclusivamente numa preparação física geral e não possui qualquer
ligação com a forma de jogar específica.
138
(Seirul-lo, 2017b; Tarragó et al., 2019). Essa preferência é alcançada através
da criação de uma intenção na tarefa, direcionando-a para o objetivo, por
meio de regras, espaços e número de jogadores participantes (Serrés, 2017).
139
Em termos estruturais e operacionais, durante o morfociclo-padrão a
tática é a dimensão que coordena todo o processo de treino (Campos, 2008;
Faria, 1999; Frade, 2011, 2013b; Gomes, 2008; Pivetti, 2012). Portanto, o
desenvolvimento individual será alicerçado em função dos propósitos do
modelo de jogo coletivo (Frade, 2013b).
Com a leitura das três conceções verifica-se que, através de uma lógica
muito próxima do pensamento sistémico, o Treino Estruturado e a
Periodização Tática vieram romper com o pensamento cartesiano que
condiciona os modos de ver e de operacionalizar o processo de treino,
configurando uma nova forma de periodizar o treino para os desportos
coletivos, que diverge, sobremaneira, da conceção de Matvéiev e de outras
que lhe são próximas.
Por fim, importa realçar que a reflexão até aqui desenvolvida é, apenas,
um modo de entender a periodização do treino no alto rendimento para jogar
futebol. Fez-se não para afirmar a superioridade destes pontos de vista sobre
os demais, mas com a intenção de divulgar perspetivas que resultam de
investigações e reflexões que têm vindo a ser apuradas nos últimos anos. O
que se deseja é que cada um possa enriquecer as suas convicções quanto
ao caminho que escolher percorrer.
140
subjetividades, para enquadrar o mistério do processo de periodização do
treino do futebol.
91
Convém ter presente que não raras vezes nos são dadas a conhecer situações em
que a arte se antecipou à ciência em virtude da grande capacidade de reflexão e
conhecimento que alguns indivíduos evidenciam. De acordo com Nicolau Ferreira num artigo
no jornal Público online de fevereiro de 2015, Isaac Newton, conhecido essencialmente pelas
suas pesquisas no ramo da física, foi dos primeiros autores a sugerir ideias sobre como a
seiva das plantas vence a gravidade e consegue subir da raiz até às folhas. A teoria da
tensão-coesão que explica este fenómeno só surge pela primeira vez em 1895, passados
mais de 200 anos.
141
142
PARTE EMPÍRICA
Capítulo II – Metodologia de investigação
1. Introdução
147
2. Pertinência do paradigma naturalista
148
analisáveis através de questionários ou de medidas objetivas. Face à
complexidade do tema, e ao que é referido na literatura, entendeu-se que a
natureza desta pesquisa reclama processos abertos, flexíveis, libertos de
normas muito rígidas, incapazes de incorporar novos dados resultantes do
processo interpretativo, que ao longo do trabalho vão ganhando corpo e
forma.
149
esta lógica, pressupõe-se que as realidades não podem ser compreendidas
fora dos seus contextos naturais, nem podem ser fragmentadas e estudadas
isoladamente, tendo presente que o todo pode ser menos ou mais do que a
soma das partes (Gibson, 1979).
150
informação, de modo a facilitar a construção da realidade que daí resulta.
Deste modo, confiando em todos os seus sentidos, na sua intuição, nos seus
pensamentos e nos seus sentimentos, o investigador pode transformar-se
num instrumento de recolha de informação percetivo e eficaz.
151
Enquanto investigador e ao mesmo tempo instrumento de recolha de
informação, houve a preocupação de conhecer a realidade que caraterizava
cada um dos participantes da pesquisa. Em virtude desse facto, durante a
recolha de informação não foi necessário adaptar o protocolo da entrevista
em função das ideias apresentadas pelos participantes, uma vez que já
estávamos minimamente familiarizados e preparados para elas.
152
transmitidas por si, num misto de conhecimento racional e intuitivo, que
também foi tido em conta.
153
a fundamentar a utilização de tais métodos. Com efeito, procurou-se
conhecer e compreender a natureza do fenómeno que é o processo de
periodização do treino do futebol através da perspetiva dos participantes
(Patton, 2002).
154
melhor se atingir uma maior variância, cada participante é selecionado, na
maior parte das vezes, apenas quando a informação relativa ao anterior foi
recolhida e analisada). O participante seguinte pode ser escolhido para o
investigador ampliar a informação obtida anteriormente, para obter
informação que contrasta com a anterior ou para preencher lacunas na
informação obtida até então; c) o conjunto formado pelos participantes está
em constante ajuste, à medida que o investigador avança na sua pesquisa e
começa a desenvolver hipóteses de trabalho sobre o fenómeno, o conjunto
de participantes pode ser redefinido, para que o investigador se debruce
sobre participantes que se mostrem mais relevantes para a finalidade do
estudo; d) o critério de paragem de seleção dos participantes é a redundância
(i.e., o número de participantes é determinado por considerações
informativas, assim, a redundância é o primeiro critério de paragem da
seleção dos participantes) uma vez que o objetivo é maximizar informação,
então a seleção de participantes termina quando destes começa a não
emergir novidades relevantes (Lincoln & Guba, 1985; Patton, 2002).
155
comprometer o significado das entrevistas; h) treinadores que foram
mostrando disponibilidade imediata para a realização da entrevista.
Os contactos foram sendo feitos uns após os outros, sempre após cada
recolha de informação. Não obstante a redundância ser o critério que deve
determinar o final da seleção dos participantes, nesta investigação a seleção
terminou devido ao facto da informação obtida parecer deixar transparecer
uma variância de opiniões e experiências suficientemente ricas.
De acordo com Lincoln e Guba (1985) e Patton (2002), tal parece fazer
sentido, porque: a) a indução permite uma identificação mais fácil das
múltiplas realidades encontradas na informação recolhida; b) este tipo de
análise torna a interação investigador-participante explícita e reconhecida; c)
a análise indutiva facilita a descrição total do contexto e, consequentemente,
as decisões relativas à transferibilidade; d) é facilitada a identificação das
influências das interações resultantes da modelação mútua; e e) os valores
podem, explicitamente, constituir uma parte da estrutura de análise.
156
VII. Como emergiu a “teoria” que guiou o estudo
157
investigador naturalista não começa necessariamente de mãos vazias,
porque, muitas vezes, existe teoria proveniente de investigações anteriores
que pode ser utilizada; ou porque o investigador possui conhecimento tácito,
que se relaciona adequadamente com o fenómeno em estudo. Contudo,
importa que o investigador tenha a certeza de que essa teoria existente se
adapta ao contexto que estuda e, paralelamente, parece ser pertinente que
tenha a noção de que é pouco provável que conheça suficientemente as
múltiplas realidades que pode vir a encontrar no contexto que está a
investigar (Erlandson et al., 1993).
92
No sentido atribuído por Lincoln e Guba.
158
participantes definindo critérios de seleção, foram consideradas as possíveis
formas de manter a sua confidencialidade, caso eles a exigissem, pensou-se
nos instrumentos de recolha de informação e definiram-se os critérios de
qualidade científica que se iriam utilizar.
159
uma visão geral dos treinadores acerca das categorias apresentadas. Assim,
após a recolha, redução e análise das informações, foram descritas as
perspetivas de cada participante. Julgou-se que era importante para
compreender aquilo que era único em cada um (Lincoln & Guba, 1985; Miles
& Huberman, 1994; Patton, 2002; Yin, 2003b).
Com esta opção foi possível fazer justiça a cada uma das perspetivas
dos participantes, e foi exequível apresentar as diferentes realidades que o
fenómeno pode tomar. Todavia, sem a análise cruzada das perspetivas não
se teria uma visão global do modo como o objeto de estudo é perspetivado.
Em suma, ao reportar as perspetivas através deste formato, procurou-se,
aumentar o nível de compreensão acerca da periodização do treino do
futebol no alto rendimento.
160
estudo sejam submetidos ao escrutínio daqueles que inicialmente forneceram
as informações (Lincoln & Guba, 1985).
161
XI. Interpretação baseada nas particularidades do contexto
162
até certa forma, dependentes da interação particular que se gera entre o
investigador e os participantes, interações que podem não ser duplicadas
noutro contexto, de a extensão até onde os resultados poderem ser aplicados
noutro contexto estar dependente da similaridade empírica entre os dois e de
a particular mistura de influências de modelagem mútuas e de valores
poderem variar grandemente de um ambiente para outro (Lincoln & Guba,
1985).
163
estabelecidas sem um conhecimento íntimo do contexto; e também porque
os interesses não têm sentido se abstraídos do sistema local de valores do
investigador (Lincoln & Guba, 1985).
164
uma forma intencional. Para estabelecer os critérios de dependência e
confirmabilidade, elaborou-se um diário reflexivo.
3. Desenho da investigação
165
3.1.1. Contactos com os participantes
166
que, devido ao caráter naturalista e emergente da pesquisa, não se
conseguia prever com exatidão o número de vezes que seria necessário
conversar com eles. Salientou-se, no entanto, que era nossa intenção
entrevistá-los, consultar e ler documentos escritos da sua autoria, causo
houvesse, conforme recomenda Seidman (1998).
167
3.1.2. Confidencialidade dos participantes
3.1.3. Participantes
168
simultâneo e progressivo (Erlandson et al., 1993). Atendendo a este
pormenor, decidiu-se recolher e proceder a uma primeira análise das
informações do primeiro participante e só posteriormente recolher e analisar
a informação do seguinte.
169
3.2.1. A entrevista
170
estruturação e de formulação das perguntas, esta categorização provoca a
utilização de outras designações, também tradicionalmente usadas (Creswell,
2002).
171
A escolha da entrevista parcialmente estruturada/diretiva revelou-se
uma escolha acertada na medida que proporcionou mais confiança para
colocar uma série de perguntas – guias, relativamente abertas, a propósito
das quais era necessário receber informações da parte dos entrevistados, e
porque a possibilidade de resposta aberta permitiram captar o tipo de
terminologia que utilizam, os julgamentos que fazem e a complexidade das
suas perceções e experiências (Merriam, 1998; Patton, 2002).
172
3.2.2. Guião da entrevista
Foi feita uma revisão exaustiva sobre todos os temas a tratar. Das
leituras efetuadas sobre a temática da periodização do treino do futebol, da
experiência do investigador e dos objetivos definidos para este trabalho,
resultou um guião de entrevista parcialmente estruturado (Quivy &
Campenhoudt, 1992; Rabionet, 2009). Para efeitos de aprovação, o guião
das entrevistas foi submetido a uma revisão e avaliação pelos orientadores
da presente investigação.
173
O guião da entrevista parcialmente estruturada/diretiva foi constituído
por vinte e nove questões de resposta aberta. A elaboração do guião teve
como base cinco categorias: percurso pessoal; jogo de futebol; conceção de
treino; contextos de prática; e periodização. Foram colocadas todas as
questões constantes do guião de entrevista. No entanto, quando necessário,
foram colocadas questões adicionais para esclarecimento de dúvidas ou
aprofundamento de respostas.
174
realizou-se nas instalações hoteleiras onde decorriam estágios das equipas
que treinavam; duas tiveram lugar num salão de chá. Por fim, indica-se que
quatro entrevistas foram realizadas recorrendo-se à plataforma digital
Facetime, sendo que tanto o entrevistado como o entrevistador se
encontravam nos seus domicílios pessoais. A primeira entrevista foi realizada
em julho de 2019 e a última em setembro de 2020.
3.2.4. Os documentos
175
para se procurar investigar tal contradição junto dos participantes (Yin,
2003a).
Tens o meu livro e a reportagem que deu na Benfica TV. (BL, p. 22)
176
A utilização destes documentos constituiu mais uma fonte de evidência,
através da qual foi possível perceber melhor as conceções dos participantes.
177
dos risos e dos tons de voz diferentes do tom natural usado durante a
entrevista, ou de expressões de sentimentos em relação ao que os
participantes estavam a relatar. A transcrição das entrevistas para a
linguagem escrita foi feita à medida que estas foram sendo realizadas. Tal
processo constituiu uma proveitosa oportunidade de imersão e de
familiarização com a informação, assim como de análise e de encontro com
os aspetos que gostaríamos de ver acrescentados ou clarificados na
entrevista seguinte (Silverman, 2000).
178
Nesta presente pesquisa foram adotados os seis passos seguintes
relativos à análise de conteúdo (Ryan & Bernard, 2000).
179
determinado elemento das informações não afeta a classificação de outro
elemento; d) são congruentes conceptualmente, ou seja, as categorias estão
ao mesmo nível de abstração; e) refletem o objetivo do estudo (i.e., as
categorias representam as respostas às questões de investigação); f) são
denominadas tendo em conta as informações, ou seja, o nome das
categorias reflete o mais possível o que as informações representam, a
essência do que as informações revelam.
180
Figura 2
Modelo de Conceitos (NVivo12).
Tabela 2
Propriedades e Unidades de Registo
181
Categoria Categoria de 2ª Categoria de 3ª Propriedades Unidade registo
latentes ordem ordem
Inquebrantáveis e Práticas sucesso com jokers
interiores que tenhas
Facilitadores
sempre apoio à bola” (VP, p.
9)
Intervenção Feedback “Sem dúvida nenhuma, tanto
Pedagógica Pedagógico no jogo como no treino, no
patamar onde nós estamos
inseridos, o feedback é
essencial.” (FN, p.11).
Instrumentos Vídeo e “Utilizamos muito a análise
Pedagógicos Imagens em vídeo, porque o jogador
tem uma longa experiência,
Auxiliares tem a sua cultura tática e às
vezes estas pequenas
coisas vistas em vídeo, eu
acredito muito que ajudam
muito no treino.”
(ETSLB18/19, p. 15).
Período Sem “O nosso primeiro treino é
Preparatório competições igual ao último e é igual ao
do meio. Nós não chegamos
oficiais à pré-epoca e damos
grandes tareias aos
Periodização jogadores.” (CP, p. 25 e 26).
Período Com “Mas, normalmente, quarta,
do treino
Competitivo competições quinta e sexta são situações
que estão viradas para a
oficiais questão do modelo e para a
questão de ver o que é que
o adversário nos pode fazer”
(PB, p. 32).
182
Tabela 3
Tabela de Codificação
Convergência entre as
perspetivas dos De acordo com os treinadores os contextos exercem
treinadores e o conceito influência na modelação das conceções de jogo.
1
de equipas enquanto
organismos complexos
auto-organizados.
183
Nesta dissertação, incluem-se dez perspetivas, uma por cada
participante. As mesmas são apresentados seguindo a ordem temporal de
realização das primeiras entrevistas, tendo-se em conta o propósito de
refletirem o sistema de categorias que foi elaborado ao longo do período de
redução e transformação das informações qualitativas (Erlandson et al.,
1993).
184
4. Critérios de ética
5. Critérios de confiança
185
procedimentos seguidos e sobre a neutralidade dos resultados ou das
decisões (Erlandson et al., 1993).
Tabela 4
Técnicas de Assegurar a Credibilidade, Transferibilidade e Confirmabilidade
Paradigma Paradigma
Critério Exemplos de técnicas naturalistas
Positivista Naturalista
- Trabalho de campo prolongado.
- Observação persistente.
Valor de Validade - Triangulação.
Credibilidade
verdade interna - Sessões de resumo (peer debriefing).
- Validação junto dos participantes
(member checking).
Aplicabilidad Validade - Descrição detalhada.
Transferibilidade
e externa - Diário reflexivo.
- Auditoria.
Consistência Fiabilidade Dependência
- Diário reflexivo.
- Auditoria.
Neutralidade Objetividade Confirmabilidade
- Diário reflexivo.
186
5.1. Métodos para assegurar a fiabilidade
187
triangulação baseia-se na premissa de que nenhum método sozinho pode
adequadamente resolver o problema da existência de fatores causais rivais.
Deste modo sugerem-se quatro modos de triangulação: a utilização de
diferentes e múltiplas fontes (e.g., diferentes pessoas), de diferentes métodos
(e.g., observações, entrevistas, documentos), de diferentes investigadores
diferentes teorias de interpretação.
188
Não existem na literatura muitas indicações sobre a forma como estas
sessões se devem desenrolar. Não obstante, sugere-se que a pessoa
escolhida seja alguém que se equivale ao investigador (i.e., alguém que não
tem uma relação de autoridade perante o mesmo) (Lincoln & Guba, 1985).
Para esta investigação, desenvolveu-se esta atividade com dois profissionais
que, embora não desenvolvendo as suas atividades profissionais na área do
desporto, tem elevada experiência na lecionação, na investigação, e na
utilização de métodos qualitativos.
189
estabelecimento da transferibilidade é a descrição minuciosa do contexto
(Lincoln & Guba, 1985).
190
Em suma, a triangulação, as sessões de resumo, a verificação que os
participantes fizeram aos estudos individuais, a descrição minuciosa dos
diferentes contextos e o uso de um diário reflexivo, foram as técnicas
descritas usadas para procurar promover a confiança na investigação.
6. Em síntese
191
192
Capítulo III – Perspetivas individuais, cruzamento e
discussão
1. Introdução
195
suas perspetivas sobre o jogo e o treino do futebol. No final, apresenta-se
para cada um dos participantes, uma síntese e uma frequência de palavras
que procura resumir a sua perspetiva relativamente às categorias
consideradas.
93
Iniciou a época 2018/2019 como treinador da equipa sénior B do Sport Lisboa e
Benfica (SLB) deixando, aquando do ingresso na equipa principal do SLB, a equipa B no 4.º
lugar da Ledman LigaPro, a segunda divisão portuguesa, com dois jogos em atraso
relativamente ao líder, Famalicão. Terminou a época como campeão nacional da Liga
Portuguesa recuperando um atraso de sete pontos.
196
2.1.1. A formação e percurso do treinador
A primeira grande influência para eu ter decidido ser treinador foi o meu
pai, porque após ter finalizado a carreira de jogador de futebol decidiu tirar os
cursos de treinador para exercer essa profissão. No percurso como treinador, o
meu pai, primeiro treinou na distrital e posteriormente nas divisões nacionais onde
conseguiu algumas subidas. Treinou com sucesso o Grandolense e o Cova da
Piedade e acabou por treinar equipas de terceira divisão tendo sido essa, talvez, a
minha primeira referência. Essas foram as primeiras referências porque o via a
organizar, a preparar e a planear, tal como qualquer treinador, e também, porque o
via a operacionalizar as coisas e isso sempre me fascinou e sinto que hoje, no meu
dia-a-dia, a minha forma de organizar, vem um pouco daí, dessas lembranças. (BL,
p. 1)
Tal facto motivou o treinador Bruno Lage a realizar um percurso que lhe
permitisse aprender mais sobre o fenómeno desportivo em geral e o futebol
em particular. Para tal, foi praticante de futebol e optou por aprofundar os
seus conhecimentos logo a partir da escola secundária, escolhendo a área de
Desporto. Posteriormente, seguiu os estudos no Instituto Superior de
Ciências de Saúde do Sul (ISCS-S), onde se licenciou em Ciências da
Educação Física Saúde e Desporto – Especialização em Futebol. Esta ideia
pode ser interpretada a partir do excerto abaixo transcrito:
Numa fase mais adiantada da idade, em que tive que escolher o que queria
fazer na vida adulta, optei, na escola secundária, pela área de Desporto.
Posteriormente, na universidade, a minha primeira ideia era, eventualmente, ser
professor de Educação Física e, talvez, treinador de futebol. A ideia era tentar
seguir as pisadas do meu, ou seja, atingir pelo menos o patamar que o meu pai
tinha conseguido atingir - ser treinador de distrital ou terceira divisão. Mas,
atendendo ao percurso dos professores Carlos Queiroz e José Mourinho, comecei a
criar expectativas que poderia chegar a um patamar mais alto. Eventualmente como
treinador adjunto ou preparador físico de uma equipa técnica, o que acabou por
acontecer. (BL, p. 1)
197
A carreira de treinador de Bruno Lage teve início “aos 20 anos, nas camadas
jovens do Vitória de Setúbal, no final da década de 1990, como adjunto na equipa de juvenis”
(BL, p1). Nessa altura o treinador que abrigou o jovem recém-licenciado dava
pelo nome de José Rocha. O mesmo José Rocha que voltaria a recorrer a
Bruno Lage quando lhe surgiu o convite do clube alentejano Estrela de
Vendas Novas, em 2003.
198
Bruno Lage destaca que a autonomia que era concedida pelo treinador
Carlos Carvalhal o ajudou a evoluir para se tornar um treinador profissional,
na medida em que lhe proporcionou estar inserido em contextos de alto
rendimento e desde uma posição secundária analisar e refletir sobre tudo que
foi sendo feito. Esta ideia pode ser captada a partir do excerto abaixo
transcrito:
Estar por trás a ver o líder decidir, não necessariamente se acerta nas
decisões, ou não, se para nós faz bem ou se fez mal, é ver, antes de mais os
momentos em que se tomaram as decisões. Porque para mim, não é justo fazer
análise se a decisão é bem ou mal tomada em função do resultado do jogo. Justo
é ver e refletir se a decisão que se tomou teve o resultado pretendido ou não, em
termos efetivos, ou seja, aquilo que é o rendimento da equipa em todos os
aspetos: quer de metodologia; quer de organização do treino; quer de liderança;
quer nas questões técnico-táticas; quer na gestão de equipa; quer, inclusive
durante o jogo. E estar inserido numa equipa técnica dá-nos, pois, uma
aprendizagem riquíssima a esse nível. (BL, p. 3)
199
treinador. O mesmo se pode constatar através da transcrição da entrevista
realizada:
200
Depois de ficarmos a conhecer os traços gerais do percurso do
treinador, a entrevista seguiu um rumo que nos permitisse ficar a saber
melhor como o treino é gerido. Para uma melhor compreensão do processo
foi sugerido pelo treinador, no início da entrevista, que também os adjuntos
Nelson Veríssimo e Alexandre Silva facultassem o seu testemunho. Deste
modo, também porque foi sugerido pelo treinador principal, como se pode
constatar através da transcrição abaixo, as falas transcritas fazem referência
à equipa técnica (ET).
Por exemplo, uma equipa que joga em bloco baixo. A forma de jogar
idealizada pelo treinador, influenciada pelas caraterísticas dos jogadores, é
colocar o passe longo, na profundidade, para potenciar ou para explorar as
caraterísticas dos seus médios-ala e do ponta de lança. Neste caso, o passe
longo, sob o ponto de vista da técnica, é bem executado. Porquê? Porque o passe
chega onde o treinador quer. O central faz o passe, o passe chega ao ponta de
lança, há continuidade no jogo. No entanto, provavelmente esse é um tipo de
passe que já não fará muito sentido numa equipa com outra ideia de jogo, por
exemplo uma ideia de jogo em que o bloco defensivo pode estar posicionado num
bloco médio e em que o treinador procura um ataque mais posicional e
organizado. Ou seja, por si só, analisada do ponto de vista individual, o passe
longo enquanto ação técnica até pode ter sido bem executada porque teve
eficácia uma vez que chega ao ponta de lança e há seguimento na ação. Porém,
201
se levarmos em conta a ideia de jogo implementada para a equipa, apesar de até
ter tido sucesso, se calhar não faz grande sentido. Ou seja, eu acho que
qualquer ação técnica para ser de qualidade tem que estar associada com a
ideia de jogo. (ETSLB18/19, p. 4)
202
queremos em termos de organização coletiva nos vários momentos do jogo e por
isso tentamos logo colocá-los em prática num primeiro jogo de treino e fazer a
construção do planeamento a partir daí. (ETSLB18/19, p. 8)
Portanto, para a equipa técnica liderada por Bruno Lage ter uma ideia
de jogo é fundamental. Esta perspetiva vai de encontro a outros autores e
treinadores de entre os quais se podem destacar Carvalhal (2014), Cruyff
(2012), Frade (2011, 2013a, 2013b), que também defendem que é condição
necessária para o êxito que os treinadores tenham uma ideia do que
pretendem que as suas equipas façam em campo.
Todavia, o treinador salienta que não basta ter a ideia de como se quer
que a equipa resolva os problemas que o jogo vai proporcionando. É
necessário perceber desde logo, como se pode constatar através do excerto
transcrito, se os jogadores de que dispõe se ajustam aos princípios que quer
implementar.
203
Por exemplo, nós fizemos agora dois jogos de treino, no torneio
internacional, com duas equipas italianas, mas que apesar de serem do mesmo
país eram completamente distintas. Uma das equipas oferecia-nos espaço interior
para jogar e nós explorámos esse pormenor ao máximo com os nossos alas por
dentro, tentando propiciar que a largura fosse dada pelos nossos laterais. No jogo
seguinte, uma equipa diferente, uma equipa a jogar em losango com dois
avançados e a fechar muito o espaço interior. Neste caso nós optamos pelo
espaço exterior para tentar criar perigo. Tivemos maior cuidado para que os
nossos alas e laterais jogassem por fora, mais abertos, optando por colocar menos
gente por dentro. Ao mesmo tempo tentámos ter a capacidade de procurar jogar
através dos corredores laterais, se numa primeira fase não conseguíssemos,
então, tentávamos sair tendo a noção que o adversário ao nos pressionar vem
com todos para um corredor e nós estando preparados para esse facto, ter a
capacidade com um ou dois toques sairmos no corredor contrário, mantendo os
jogadores em largura para propiciarmos essa saída. Portanto as alterações são
sempre em função disto. Vamos querer sair? Vamos. Que tipos de espaços
existem? Queremos fazer isto de determinada maneira porque é a nossa
ideia, então que tipo de espaços é que o adversário nos vai oferecer? E é
tentar explorar isso. (ETSLB18/19, p. 10 e 11)
204
treino são na sua essência tático-estratégicos” (ETSLB18/19, p. 20 e 21). Esta ideia é
proposta de exercícios, “a ideia é ajudar os jogadores a ter uma cultura tática melhor” e
à medida que o campeonato decorre, a essa cultura adquirida através de
exercícios onde a tática é o fator norteador, acrescenta-se também na
construção dos exercícios as “questões estratégicas em função do adversário”
(ETSLB18/19, p. 9).
205
periodização do treino. Na próxima secção apresentam-se as caraterísticas
dos exercícios.
206
jogadores chegam ao jogo, a diferença entre a complexidade inerente à
competição e ao treino não seja grande de modo a que os jogadores já estejam
preparados para as situações complexas que acontecem no momento da
competição. (ETSLB18/19, p. 5 e 6)
É muito difícil treinar quando se começa a jogar de três em três dias. Por
isso, temos que ser muito específicos e temos de ser muito concretos naquilo que
queremos treinar. A fazer esse tipo de calendário, com jogos de três em três dias
de exigência máxima, há que ter esse cuidado. Por isso aquilo que nós
pretendemos é ser o mais objetivo possível e por vezes tem que se fazer de uma
forma setorial, intersetorial. Isto varia muito em função da semana, se tem jogo a
meio ou não e em função do regime bioenergético que nós entendemos que é o
melhor para aquele dia. Algumas vezes, com jogo a meio da semana, há coisas
que são treinadas no campo, mas a passo, com o mínimo desgaste.
(ETSLB18/19, p. 15)
207
mais complexos, tal parece ir de encontro aos modelos preconizados por
Bunker & Thorpe (1982) e Musch et al. (2002).
Quando tu queres passar alguma ideia, que queres que seja objeto de
aprendizagem, quer seja de organização ofensiva ou defensiva, quer seja sobre o
coletivo, ou sobre o comportamento individual, ou setorial, ou intersetorial,
eventualmente, o melhor é que no início não haja grande oposição.
(ETSLB18/19, p. 12)
Por último, logo a partir das primeiras sessões de treino dos períodos de
preparação semanal, assim como quando não é impossível realizar treinos
práticos, verifica-se que o treinador opta por fazer um tipo de treino que faz
fundamentalmente apelo à dimensão cognitiva dos comportamentos,
utilizando como ferramenta o vídeo e as imagens, como se pode constatar a
partir da transcrição abaixo:
208
Utilizamos muito a análise em vídeo, porque o jogador tem uma longa
experiência, tem a sua cultura tática e às vezes estas pequenas coisas vistas em
vídeo, eu acredito muito que ajudam muito no treino. (ETSLB18/19, p. 15)
Em dez dias, com mais ou menos doze a catorze treinos, tentámos dar
logo uma ideia dos princípios da nossa organização coletiva tendo em
atenção, também a necessidade de fazer evoluir os aspetos físicos. Depois
desses dez dias e dos doze, treze ou catorze treinos fazemos um primeiro jogo de
preparação. A partir desse primeiro jogo de preparação, o planeamento da
semana seguinte é em função daquilo que nós verificámos no jogo.
209
Trabalharemos para melhorar a eficácia dos jogadores de acordo com a ideia de
jogo. A partir deste primeiro momento, o resto da época é sempre assim,
preparação jogo a jogo. Por isso é muito importante termos essa ideia do jogo que
queremos e depois a partir daí vamos vendo. É importante não esquecer que
estamos num patamar em que os jogadores já sabem muita coisa e há muitos
conteúdos para trabalhar. (ETSLB18/19, p 7 e 8)
210
Em relação ao período competitivo, o treinador mantém a mesma
estrutura para a planificação semanal (i.e., idêntica ao morfociclo-padrão da
Periodização Tática criada por Vítor Frade). A organização semanal pode ser
percebida a partir da transcrição abaixo:
Por exemplo no dia -1 ou até -2, em que por vezes já direcionamos alguns
exercícios para a dimensão estratégica da equipa em função daquilo que são as
caraterísticas do adversário, os exercícios já têm que contemplar isso. Potenciar
aspetos que queremos quero ver exponenciados no jogo porque sabemos que a
equipa adversária tem um ponto fraco num ou noutro aspeto do seu jogo, como tal
temos que potenciar isso nos exercícios para ver repetido esse comportamento.
Entrevistador (Álvaro) – Mas isso acontece só nos menos dois? Ou começa logo
no início da semana esse lado estratégico? Equipa técnica – Esse lado
estratégico surge mais na segunda metade da semana porque também
temos muita preocupação com a identidade da própria equipa e o
desenvolvimento do jogador. (ETSLB18/19, p. 21)
No fundo neste contexto acaba por ser uma grande parte da época, ter um
jogo por semana acaba por ser uma exceção. As alterações são grandes na
medida em que muitas vezes recuperamos para jogar. No entanto não deixamos
de treinar, o treino não pode é ter um impacto físico considerável porque temos de
promover a recuperação para o jogo. Nas nossas rotinas contornamos essa
questão fazendo muito apelo à análise em vídeo. A questão que referimos atrás
da importância de realizar um trabalho forte sobre os aspetos do nosso modelo de
jogo no período preparatório tem muito a ver com isso porque depois muitas vezes
não temos possibilidade de trabalhar no campo pelas razões descritas
211
anteriormente e passamos a fazê-lo muitas vezes através do vídeo com vista à
preparação do jogo seguinte, mas também com incidência em aspetos da própria
equipa que não correram tão bem ou pelo contrário correram muito bem e
queremos enaltecer. A complexidade da questão aumenta quando existe uma
heterocronia na recuperação dos jogadores, porque nem todos recuperam da
mesma forma, em virtude de n fatores e temos de ter isso em conta. Há jogadores
que recuperam totalmente em dois dias e outros que só em dois dias e meio, três
é que se apresentam completamente disponíveis e muitas vezes o terceiro dia já é
o dia antes da competição. (ETSLB18/19, p. 21 e 22)
2.1.4. Em síntese
212
Figura 3
213
2.2.1. A formação e percurso do treinador
Aquilo que eu mais admirei, embora na altura até tenha criticado, e fui um
bocadinho reticente em relação a situações que o Leonardo impôs no Chaves, que
foi a disciplina, o rigor e uma liderança muito forte. Depois valorizei muito e
percebi claramente que aquele era o caminho. Acho que o Leonardo foi aquele
treinador que mais me inspirou em termos daquilo que eu considero fundamental
que é a liderança. (CP, p. 2)
214
...há uma coisa que tem de estar sempre presente na liderança, que é a
lealdade e frontalidade. Isso tem de estar sempre presente, percebes? Depois,
tens de estabelecer as regras com muita antecedência, juntamente com o grupo.
Não é chegar aqui e é assim e ponto final. Isso não acontece no futebol. Tem que
haver uma liderança partilhada com os capitães que depois passam ao grupo e as
regras são estabelecidas. A partir do momento em que essas regras são
estabelecidas tens que ser implacável com todos os jogadores, não pode haver
exceções. Agora, o fundamental na liderança é teres uma liderança com muita
frontalidade com os jogadores. Isso para mim é o mais importante. (...) Tens de
ser muito leal com os teus jogadores e muito frontal com os teus jogadores,
independentemente de o jogador gostar ou não gostar, porque muitas vezes, o
jogador não gosta, mas depois, mais à frente, vai valorizar. Isso já nos aconteceu
muitas vezes a nós. Agora, uma das questões que eu nunca vou abdicar, ser
muito frontal com os meus jogadores. (CP, p. 8)
Neste sentido importa, desde logo, que quem assume o papel de líder
seja um apaixonado pela profissão e um exemplo como profissional,
nomeadamente ao nível da integridade, do caráter e do respeito pelo outro
(Carvalhal, 2014; Castelo, 2019; Ciaschini, 2013; Cruyff, 2002, 2012;
Esteves, 2009; Kormelink & Seeveres, 1997).
215
intragrupo, na medida em que os jogadores parecem valorizam a coerência e
a imparcialidade da resposta para situações idênticas com diferentes
pessoas, i.e., comportamento diferentes do líder para situações similares
podem levar à emergência de sentimentos negativos entre os liderados
(Esteves, 2009; Lourenço & Ilharco, 2007).
Por último, face à cada vez maior interculturalidade presente nos seios
dos grupos de trabalho, um dos aspetos que parece relevante para uma
liderança eficaz, está relacionado com o respeito pelas diferenças inerentes
às culturas de cada um que compõe o grupo (Mesquita & Rosado, 2009).
Sugere-se que o treinador saiba aceitar o modo de vida de cada ser humano,
procurando eliminar aquilo que é negativo para o grupo (Esteves, 2009;
LaMonte & Shook, 2004; Mesquita & Rosado, 2009).
216
2012, depois de terminar a carreira como jogador, no mesmo clube. Todavia,
seguir a carreira de treinador não era um objetivo, acabou por acontecer,
revelando-se, como se pode constatar pela transcrição abaixo, desde a
primeira semana de trabalho, uma paixão.
217
Para além de reconhecer grande importância à experiência enquanto
jogador de futebol, para agora ser treinador, Carlos Pinto também valoriza as
aprendizagens adquiridas durante os cursos de treinador e a convivência
com treinadores com vivências distintas que, quando partilhadas, podem
contribuir para o enriquecimento de todos e não apenas do próprio treinador.
O mesmo pode ser percebido através da transcrição abaixo:
Desde o primeiro dia, desde o primeiro dia que nós trabalhamos esta ideia
de jogo, desde o primeiro dia. É uma situação em que os jogadores chegam a
uma altura que, há umas palavras que as pessoas não gostam de utilizar que é, é
a situação que parece que fica mecânica. Não fica mecânico, há uma ideia de
jogo e os jogadores têm que estar completamente libertos dentro dessa ideia
de jogo. Em que depois têm, obviamente, comportamentos em que nós
trabalhamos e são fundamentais, e em que aquilo fica-se a jogar praticamente de
olhos fechados. Em que o jogador percebe claramente os comportamentos. (CP,
p. 12)
218
dos treinadores podem, por vezes, não ser as melhores tendo em conta as
caraterísticas de alguns jogadores. O mesmo pode-se depreender a partir do
excerto abaixo transcrito:
219
Repara, tu trabalhas uma ideia e trabalhas uma identidade desde o
início, não é? A preocupação do jogador é fazer aquilo que o treinador manda e
depois, com o tempo, o próprio jogador vai perceber que o jogo proporciona coisas
diferentes, e há aqueles jogadores inteligentes que têm essa intuição e trabalham
essa situação e é importante que haja liberdade da parte do treinador ou da
equipa técnica no sentido de os jogadores perceberem que esse tipo de
liberdade existe, no sentido de, muitas vezes, eles tomarem decisões
diferentes, porque o jogo está a proporcionar coisas diferentes. (CP, p. 9)
220
passar, podem bloquear os jogadores porque eles vão estar preocupados em
fazer aquilo que o treinador pediu e isso vai bloqueá-los por completo porque
eles não perceberam. Quando o treinador identifica estes problemas, ele
entende que o melhor é “Desbloquear por completo. Libertamos os jogadores e eles
vão dar muito daquilo que nós queremos. (CP, p. 5)
De acordo com Carlos Pinto, durante os dias que tem disponíveis para
treinar a equipa, o importante é afinar os comportamentos inerentes à
ideia/modelo de jogo implementada no contexto onde está inserido. Embora
sem nunca castrar a criatividade dos jogadores, na medida em que o
treinador entende que é impossível conseguir recriar no treino a totalidade de
comportamentos que podem ocorrer durante o jogo. Nem tal seria desejável.
Por isso, pese embora os objetivos do treino sejam afinar os comportamentos
táticos, tem que haver sempre espaço para os jogadores se adaptarem à
diversidade e à imprevisibilidade. A importância da tática enquanto fator
orientador do treino fica bem patente na transcrição abaixo:
221
Não obstante, existem sempre preocupações com as caraterísticas dos
adversários que defronta e que obrigam a ligeiras adaptações por parte dos
seus jogadores, como se pode constatar através da seguinte transcrição:
222
2.2.3.1. A especificidade e representatividade dos exercícios
223
estão presentes. Carlos Pinto afirma ainda que, mesmo que esteja a preparar
a equipa no plano ofensivo, as preocupações de quem está a atacar nunca
se esgotam só nessa fase do jogo, pois quem ataca tem que perceber que
tem que atacar de determinada forma porque a qualquer momento pode ter
que transitar e passar para uma fase defensiva. O mesmo se pode
depreender a partir da transcrição abaixo:
224
decidiu-se abrir uma nova subcategoria sobre a periodização do treino do
futebol, que se apresenta de seguida.
225
um dia em que a atenção está voltada para as bolas paradas e os exercícios
propostos tem pouco estorvo e é utilizado muitas vezes o dez contra zero.
2.2.4. Em síntese
226
hipotecar a necessidade de recuperar e adquirir os índices fisiológicos entre
um jogo e outro. Não obstante, por vezes, na primeira metade da época, à
quarta-feira são realizados treinos bidiários. O treino da manhã é
normalmente direcionado para o desenvolvimento de um padrão de
contração muscular, com muitas situações de travagens e acelerações
promovendo contrações concêntricas e excêntricas em curtos espaços,
através de exercícios com maior ou menos grau de especificidade e
representatividade do jogo de futebol.
Figura 4
227
escalões secundários de Portugal, com o Vitória Futebol Clube e com o
Leixões Sport Clube, em 2004 e 2003, respetivamente.
228
reação dos jogadores... Portanto fui aprendendo com todos os treinadores que
tive, aquilo que eu devia fazer e que não devia fazer. (CC, p. 1)
Acho que está comigo, sinceramente. Acho que já está comigo. Eu com
14 anos jogava no Braga (Sporting Clube de Braga, SCB), era jogador do Braga
(SCB) nas camadas jovens, nos iniciados salvo erro, num torneio organizado pelo
Braga (SCB), nas férias, fiz uma equipa lá no meu bairro e fui o treinador dessa
equipa, ganhámos o torneio, ganhámos ao Braga até na final. Talvez tenha sido a
minha primeira experiência como treinador, com 13 ou 14 anos. Eu senti que tinha
essa vocação, tanto é que eu fui para a Faculdade de Desporto com a ideia de me
preparar melhor para ser treinador e não para ir para a escola. Já fui com essa
intenção, esperei um ano para poder ser aluno do Vítor Frade, também foi outra
opção minha, tinha essa intenção também de ser aluno do Vítor Frade e quando
acaba a minha carreira começo imediatamente como treinador, já tinha esse
objetivo. (CC, p. 1)
229
de aula, que acaba por ser o posicionamento no treino, pequenos pormenores que
marcam a diferença e tu relembrar e refletir ao ponto de dizeres, ainda bem que
eu andei na Faculdade de Desporto, ainda bem que eu tive estes professores
todos, aprendi com todos eles algumas coisas mais pequenas ou maiores que são
importantes. (CC, p. 2)
230
Entre agosto de 2011 e abril de 2012 foi convidado para orientar, a título
provisório, o Besiktas JK de Istanbul. O técnico acabou por ser afastado após
mudanças na direção numa altura em que o clube se encontrava em
dificuldades financeiras. Permanecendo na mesma cidade turca, Carvalhal foi
então contratado como treinador do Istanbul Basaksehir FK em Maio de
2012.
231
contrato de dois anos com o Sporting Clube de Braga, retornando assim ao
clube de sua cidade após 14 anos.
Carlos Carvalhal salienta que todos os anos que leva como treinador,
em diversos contextos competitivos, têm sido uma grande escola, uma
espécie de formação contínua essencial, onde se vai aprendendo
diariamente a ser melhor treinador. Tal pode-se depreender a partir do
excerto abaixo:
232
sempre abertura para explorar as circunstâncias do jogo, como se pode
constatar através do excerto da entrevista realizada:
Para mim num bom passe e numa boa receção, há uma intenção no
passe e depois há uma boa receção para dar sequência ao próximo passe ou
a algo que vai acontecer a seguir, portanto isso significa que existe um bom passe
e que existiu uma boa receção. (CC, p. 2)
233
resposta à questão “existe uma adaptação da ideia à realidade?” (AFV, p. 8), abaixo
transcrita:
Obviamente, mas isso penso que fará toda a gente, mesmo o Guardiola.
Isso fará toda a gente. Se o Guardiola tiver o lateral direito extremamente ofensivo
porque o conseguiu ir buscar e o lateral esquerdo nem tanto, ele vai maximizar o
lateral direito em detrimento do lateral esquerdo que é menos ofensivo, isso não
tenho dúvidas nenhumas, ele vai fazê-lo, agora não vai perder a sua identidade
por causa disso como é óbvio, mas vai maximizar o jogador individualmente
de certeza absoluta. (CC, p. 8)
Por fim, Carlos Carvalhal salienta que não chega que o treinador defina
uma forma de jogar alicerçada nas suas ideias e emoções. Para que os
jogadores manifestem na prática uma identidade, uma forma de jogar, é
essencial criar exercícios que permitam o aparecimento:
234
adversárias e minimizando as suas carências em função das valências do
opositor:
não tem dúvidas que para que “as equipas reflitam a forma de jogar é necessário criar
exercícios que potenciem a sua dinâmica” (CC, p. 8).
235
Por exemplo, imagina, tu tens uma fluidez no jogo na esquerda muito boa e
na direita, porque o teu lateral direito tem muitas dificuldades em sair de trás a
jogar, por exemplo, o jogo entope ali. Tens duas hipóteses, ou vais tentar melhorar
a qualidade de receção do teu lateral direito ou vais buscar um jogador que te dê
essa fluidez a partir do corredor. Portanto isso pode ser através do treino, pode ser
a partir da substituição do jogador mais tens que aumentar e perceber onde é que
está o problema e como é que vais fazer fluir o jogo. E quando eu digo isto pode
ser num aspeto individual ou na ligação entre o lateral direito e o ala. O jogo não
flui porque não há uma ligação fluída entre lateral direito e o ala. Se não há esta
ligação tu tens que a potenciar, tens que criar exercícios onde isto vai acontecer
para potenciares aquilo que tu queres, isto são inúmeros exemplos que se poderia
dar na melhoria da fluidez do jogo, mas tens que ter essa capacidade de
observação fundamentalmente para depois extraíres aquilo que tu achas que
é passível de ser melhorado. (CC, p. 13)
Era o cérebro que não reagia à perda de bola, portanto tivemos que chegar
ao ponto de o retirar do jogo, retirar a bola e fazer ações de reação para que ele
melhorasse a transição defensiva e melhorarmos muitos jogadores assim.
Portanto, isto é altamente específico, não tem bola, está completamente fora do
contexto do jogo e é altamente específico porque tiveste capacidade de perceber
qual era o problema, tiraste o jogador do contexto do jogo, do contexto da bola e
foste bater exatamente no ponto onde é o início de tudo, onde se tu não inicias
ali ele não conseguia chegar a uma complexidade maior. Portanto, sem bola, mas
altamente específico. (CC, p. 14)
236
expressos no Rio Ave era diferente da que tinha sido em anos anteriores. O
mesmo se depreende a partir da transcrição abaixo:
Nós queríamos transmitir claramente que íamos ser uma equipa que
queria ter bola, hierarquizamos mais as coisas a partir da bola para equilibrar
a equipa defensivamente para o momento da perda para depois dar resposta em
organização defensiva. Ou melhor fazer uma organização ofensiva organizada
primeiro portanto de equilíbrio para depois ter uma boa transição defensiva forte e
passível de uma reação rápida para ganhar a bola, se não fosse possível,
reagrupar, evidentemente ao reagrupar estamos a entrar em organização
defensiva e depois ser uma equipa também boa e forte a transitar ofensivamente e
se não conseguíssemos finalizar as ações tivéssemos capacidade de passar de
ataque rápido para o contra-ataque, para ataque organizado, também. (CC, p. 6)
Sim, sim, têm sim. Se são padrão eles têm e imprimem uma dinâmica, é
a dinâmica aproximada ao jogo. Não têm necessariamente que ser onze contra
onze, não tem necessariamente que ser o campo todo, não tem necessariamente
que ter o mesmo número de jogadores, mas tem uma lógica, têm uma (pausa) e
essa lógica, dessa dinâmica é no fundo a tua impressão digital isso é que te vai
permitir a tua forma de jogar. (CC, p. 11).
237
pretendem desenvolver. Ou seja, embora as caraterísticas essenciais do jogo
de futebol estejam presentes, por vezes é necessário reduzir a escala
propondo exercícios que estejam direcionados mais para um ou outro
momento de jogo ou para um ou outro setor da equipa (Carvalhal, 2014). Tal
não significa que no mesmo exercício não possam estar inseridos outros
momentos e outros setores, contudo o foco e as variáveis estão pensados de
modo a potenciar uns em detrimento de outros. Esta ideia pode ser melhor
percebida através do excerto seguinte:
Os melhores exercícios acabam por ser mais simples, são aqueles em que
tu de uma forma muito simples consegues ir à totalidade retirar a totalidade
para ires buscar alguma particularidade que não está a funcionar que tu vais
fazer melhorar o todo outra vez, portanto, isto é uma situação permanente a
uma escala micro, a uma escala meso, a uma escala macro, depende daquilo que
tu queres melhorar de onde tu queres bater, onde tu sentes que uma peça que
não está a funcionar dentro da tua equipa, uma ligação que não está a funcionar,
o jogo não está a fluir. (CC, p. 13).
238
importante, mas isto ainda está acima, na minha opinião, dos aspetos táticos
porque é a forma como tu imprimes a tua impressão digital para que a equipa
perceba aquilo que tu queres.
Sábados jogo, eu nunca abdiquei de dar folga aos jogadores, preferia dar
folga até porque nós não tínhamos grandes condições para trabalhar lá em
Inglaterra para fazer recuperação, por incrível que pareça. Voltávamos lá na
segunda-feira, na segunda-feira já fazíamos uma ativação, uma ativação com
239
fações de alta intensidade de curtíssima duração e estamos a falar de vinte/trinta
segundos, algumas ações de três contra três e de quatro contra quatro, mas a
maior parte das vezes de três contra três, a seguir o vídeo era importante
também pois entramos no domínio da estratégia para jogar no dia seguinte
que era a terça-feira, portanto não havia muito mais a fazer, quarta-feira
folgávamos outra vez quinta-feira ainda estávamos no processo de recuperação
sexta-feira voltávamos outra vez a ativar equipa através de ações de alta
intensidade curtíssima duração, outra vez! Entrávamos no domínio da estratégia, o
vídeo importante também e voltávamos a jogar no sábado. (CC, p. 24).
240
2.3.3.2. Periodização do treino de acordo com a especificidade e
representatividade
241
respeito ao aspeto técnico, ao aspeto tático, ao aspeto psicológico, ao aspeto
físico, no fundo, aos objetivos que dizem respeito a uma filosofia. No fundo, talvez
(pausa) filosofia seja a palavra mais adequada por ser uma palavra mais ampla
que engloba as ideias que o treinador quer ver expressas a partir do primeiro jogo
do campeonato. Portanto, é isto que nos norteia desde o início. (CC, p. 14)
242
cruzamentos com finalização de ações curtas. Eu diria que um central meter
uma bola nas linhas, um ala a aproveitar esse espaço entre linhas depois servir
um avançado para rematar, ou um lateral para cruzar com ataque na área,
portanto situações de velocidade ações rápidas de continuidade, sem grande
estorvo, será o que nós vamos tentar amanhã, que é sexta-feira, digamos assim
com jogo no domingo. Na quarta-feira seria diferente, foram, deixa-me relembrar o
que que é treinamos na quarta-feira, treinamos um jogo que nós denominamos de
zonas, é um dos nossos exercícios de matriz, daqueles que nós entendemos que
são padrão servem para a nossa dinâmica, é um exercício em que cada zona
estavam dois portanto são sistematicamente situações de três contra dois em
cada zona os espaços curtos, tempos na ordem de minuto e meio, dois minutos no
máximo da sua potência com muitos remates, muitas travagens, prontos digamos
que é dentro desta matriz que nós treinamos na quarta-feira. (CC, p. 22)
243
importante também pois entramos no domínio da estratégia para jogar no dia
seguinte que era a terça feira, portanto não havia muito mais a fazer, quarta-feira
folgávamos outra vez, quinta-feira ainda estávamos no processo de recuperação
sexta-feira voltávamos outra vez a ativar a equipa através de ações de alta
intensidade curtíssima duração, outra vez! Entrávamos no domínio da
estratégia, o vídeo importante também e voltávamos a jogar no sábado. (CC,
p. 23)
2.3.4. Em síntese
244
Figura 5
Não obstante a grandeza deste feito o treinador Ilídio Vale foi um dos
selecionados para participar na presente investigação em virtude do seu
percurso e da sua vasta experiência. A entrevista foi realizada em fevereiro
de 2020, na cidade do Porto.
Segundo Ilídio Vale, devido ao grande amor e paixão pelo jogo, que
detém desde criança, tomou muito cedo a decisão de ser treinador. O mesmo
se pode depreender a partir das suas palavras.
O principal fator foi amar, de facto, o futebol. Sempre tive uma paixão
muito grande pelo futebol, pelo jogo e por ser treinador. Esse foi o grande
245
estímulo que tive desde criança, em que sempre quis ser treinador de futebol. (IV,
p.1)
Ilídio Vale constata que os anos de experiência prática refletida têm sido
fundamentais para o exercício eficiente da sua profissão, tal como se pode
verificar a partir da transcrição abaixo:
246
medida que o ajudam a ter uma base sólida que funciona como caminho
orientador. Tal, pode-se depreender a partir da transcrição que se segue:
Esta ideia fica ainda mais clara com a resposta à questão que foi
colocada durante a entrevista: “Ok. De certa forma, todas as experiências, quer
sejam teóricas, quer sejam práticas, sempre serão importantes se forem refletidas e se
os treinadores forem refletindo sobre os problemas que o jogo, o treino e o jogador
sempre colocam e sobre o que vai acontecendo ao longo das diferentes experiências
vivenciadas?” (AFV, p.1).
247
Sim. Aliás, eu costumo dizer que apesar de eu gostar muito de ler livros, o
livro que eu mais gosto de ler e de escrever é o meu, isto é, o livro onde escrevo
as minhas reflexões sobre o que faço no meu dia-a-dia. Penso ser decisivo na
minha formação e evolução enquanto treinador e pessoa... tenho uma convicção
sobre o jogar, sobre o treinar, sobre o jogador… e é sobre essas convicções e
como as trabalho que eu tenho necessidade de refletir e armazenar novo
conhecimento, ainda mais elaborado para conseguir evoluir. (IV, p.1)
Portanto, é óbvio que cada um desses momentos que o jogo oferece, exige
aos jogadores comportamentos específicos e ajustados a esses momentos,
comportamentos individuais, setoriais, intersectoriais e coletivos. Os jogadores têm
que estar preparados para saber o que fazer nos diferentes momentos do jogo,
mas eu gosto mais de olhar para o jogo como um todo. O treino deve contemplar
esses diferentes momentos, o que representam e o modo como fluem no
todo. (IV, p. 4)
248
Com o decorrer da entrevista, ficou mais claro que a referência ao
tudo/todo diz respeito a duas dimensões: a primeira diz essencialmente
respeito à natureza inquebrantável do jogo, que obriga a que os jogadores
liguem constantemente as ações presentes com as futuras durante todos os
micro momentos de jogo; a segunda interpretação acerca do significado de
tudo/todo diz respeito ao jogo de futebol no momento de competição, a partir
do qual emergem situações imprevistas e aleatórias que os jogadores devem
conseguir resolver mesmo que a resposta mais eficaz seja ligeiramente
diferente da ideia de jogo da equipa. Esta ideia pode ser entendida a partir da
transcrição:
249
Ainda em relação ao padrão de jogo, o treinador salienta que são
necessários ajustes em função da qualidade dos jogadores de que dispõe.
Tal pode ser depreendido através da seguinte transcrição:
Não, não mudo a minha ideia de jogo. Simplesmente tenho é que ajustá-
la. Ajustá-la àquilo que é possível num determinado contexto. Isto é, se a minha
organização de jogo tem um determinado nível de complexidade, se eu perceber e
tenho rapidamente de perceber, que não é possível implementar na equipa para
onde vou, então, tenho que baixar essa complexidade, mas não abandono as
minhas ideias para o jogar da” equipa”. Agora, provavelmente, tenho que perceber
que ela tem que ser menos elaborada, necessita de mais tempo para a apreender
e consolidar mas, entretanto, não me vou desviar até conseguir aquilo que eu
pretendo… O Sucesso. (IV, p. 11)
250
complexidades superiores. É com esta dinâmica de pensamento, que
convictamente “olho” o jogo. (IV, p. 7 e 8)
251
No entanto, o treino tem que ter determinadas caraterísticas que
respondam a vários aspetos de onde se realça um muito importante – o jogo
é imprevisível e pela sua natureza propicia o aparecimento de situações
novas a que os jogadores devem, também, ser capazes de dar resposta
eficaz. O mesmo se pode depreender a partir da transcrição da entrevista:
252
Para que este entendimento seja potenciado os contextos de prática
devem ter algumas caraterísticas, que a seguir se apresentam.
253
dizer que no mesmo exercício não possam estar contemplados outros
momentos e outros setores, no entanto as variáveis do exercício estão
pensadas de modo a potenciar uns mais que outros, como se pode
depreender a partir do excerto:
254
2.4.3.2. A periodização do treino de acordo com a especificidade e
representatividade
Pronto, então imagine que tenho um jogo por semana. Domingo, jogo.
Segunda feira, descanso, não é que eu ache que seja sempre o melhor, mas
dominantemente, é assim que eu faço. Vivemos em Portugal, cultural e
emocionalmente os jogadores sentem-se mais confortáveis e sabemos que isso
tem um peso importante também no treino, no jogo, no desempenho de cada um
dos jogadores e das equipas. Na 3ª feira, ainda estão em recuperação, logo,
situações que a estimulem. Na 4ª feira, força específica (tensão). Na 5ª feira,
resistência específica (duração). Espaços e períodos mais largos. Na 6ª feira,
velocidade especifica. Sábado, recuperação ativa e preparação da competição. A
dinâmica é esta, em termos de dominância, mas sempre flexível, ajustável. pronto.
(IV, p. 21)
255
intensidades percebe? Ao longo da semana. A duração do treino é variável, mas
raramente longo, mas sempre com intensidade elevada. Pode haver um que seja
mais longo que outros, é verdade, mas depende de um conjunto de variáveis que
devemos ter sempre presente ... exemplo: momento da época, complexidade do
jogo anterior, do jogo ou jogos seguintes, perfil do calendário competitivo, estado
de aptidão dos jogadores … etc… mas apesar dos treinos dominantemente não
serem longos, também me parece importante criar contextos em que os jogadores
experimentem situações de treinar em fadiga, para aprenderem a jogar em fadiga.
(IV, p. 23)
“Claro que tem que haver porque há 3 momentos (jogos) que são top, do
ponto de vista da complexidade, do esforço que requisitam aos jogadores e à
256
equipa. Portanto, você tem que jogar, tem que recuperar, tem que jogar, tem que
recuperar e tem que jogar e o resultado do jogo anterior é importante, para que se
consiga recuperar melhor. No meu modo de ver, não há outro caminho. É isso que
eu privilegio, é este o morfociclo que trabalho. As unidades de treino são
normalmente em regime tático/estratégico e sempre aquisitivas. O que é que
baixa? Provavelmente baixa a duração e baixa claramente a intensidade… Não
quer dizer que não tenha situações intensas. Elas são é de muito curta duração,
sempre. Percebe? A diferença está aí.” (IV, p. 26).
2.4.4. Em síntese
257
Figura 6
258
que o viu crescer. Cedo quis seguir as pegadas do progenitor e acabou por
fazê-lo em 2001, aos 20 anos, quando o convidaram a orientar a seleção
distrital de sub-13, da Associação de Futebol de Viseu (AFV).
259
de nível I, II, III e IV, quer na Faculdade de Desporto da Universidade do
Porto aquando da licenciatura em Ciências do Desporto e na Universidade de
Trás-os-Montes e Alto Douro onde realizou o mestrado na mesma área,
foram extremamente importantes para a eficiência do seu desempenho
enquanto treinador. O mesmo pode ser percebido através da transcrição
abaixo:
Eu não fui um praticante de alto nível, joguei até aos juvenis e a minha
formação é muito académica. Fui praticando outras modalidades mas, sem dúvida
nenhuma, o meu primeiro percurso foi a nível académico na Faculdade de
Desporto da Universidade do Porto, onde segui o alto rendimento de futebol, a
especialização, na altura, e depois o nível 2, nível 3 e nível 4, a Associação e
Federação e, sem dúvida, são meios fundamentais para a nossa organização,
para a partilha de conhecimentos e para, também, a troca de experiências. É
fundamental. (FN, p. 1)
260
competências ao nível da liderança na gestão de conflitos no balneário e das
particularidades inerentes ao facto de ser uma seleção e não um clube. Tal
pode ser entendido a partir da transcrição do excerto da entrevista abaixo:
Enquanto jogador de futebol, apesar de não ter tido uma carreira muito
longa, e o ter praticado basquetebol enquanto sénior, deu-me conhecimentos
acerca da dinâmica do balneário, do grupo, das lideranças, do perceber o
que é a gestão dos conflitos dentro de um balneário. Essa experiência foi
fundamental para perceber e antecipar os problemas que, às vezes, um balneário
tem. Foi também muito importante para mim ter sido adjunto e, para mim, eu acho
que foi uma vantagem. Passando aqui agora para o ponto de ser selecionador
nacional, porque eu desde muito cedo comecei a trabalhar os aspetos de seleção.
Na Associação de Futebol de Viseu, treinei todas as seleções. Desde os sub11
aos seniores. Trabalhei também com o feminino nos diversos escalões, e isto
permitiu-me fazer muito e direcionar muito o meu trabalho para este contexto, que
é completamente diferente do ser treinador de clube. Conseguir priorizar com
muita facilidade o que é que é importante, o que é que não é importante, afinar o
meu olho na observação, escolher jogadoras. Ou seja, todo o meu passado, todo
o meu background de muitos anos de escolha neste registo, facilita muito a minha
tarefa hoje em dia. (FN, p. 2).
261
patamar mais evoluído. O mesmo se pode depreender a partir do excerto
abaixo transcrito.
262
para fazer parte dos planteis que lideram. O mesmo pode-se compreender a
partir do excerto seguinte:
263
O treinador acrescenta que é fundamental priorizar em função daquilo
que são as necessidades táticas da equipa, respeitando o estado atual das
jogadoras, e também levar em conta a componente estratégica relacionada
com as caraterísticas do adversário que se vai defrontar. De modo a
conseguir um processo de treino eficaz, Francisco Neto identifica algumas
caraterísticas, ao nível das tarefas práticas, que as sessões de treino devem
evidenciar, que se expressam na próxima subcategoria.
Procuramos sempre fazer de forma jogada, ok? Não quer dizer, ou seja,
a preponderância entre os dois, há momentos onde trabalhamos, quando são
problemas muito específicos, acabamos por passar algum tempo, principalmente
em alguns setores muito específicos, principalmente a linha defensiva,
trabalhamos aqui com algum tipo de situação, de uma forma um bocadinho mais
analítica, um bocadinho mais grupal e afastada e desassociada daquilo que é o
jogo. Mas se fossemos pôr aqui numa percentagem daquilo que é, utilizávamos,
provavelmente, 90% em forma jogada e aí sim, inserimos elementos facilitadores
ou não, ou condutores daquilo que a gente quer que aconteça, porque só através
da repetição, é que eu acho que as coisas têm sentido. (FN, p. 12)
Acima de tudo, jogando. Isso é aquilo que nós queremos. (...). Nós
procuramos muitas vezes recriar em treino, o máximo de vezes possível,
aquilo que nós achamos que nos vai acontecer no jogo. Ou seja, retiramos um
bocadinho daquilo que é o padrão de problemas que nós achamos que vamos
solicitar, a forma como nós também queremos criar problemas aos adversários e
em 5 unidades de treino, que é aquilo que normalmente nós temos para preparar
um jogo internacional, o primeiro jogo internacional, o segundo já só temos 3
unidades de treino, nós tentamos recriar ao máximo este tipo de situações para
264
que as jogadoras estejam muito confortáveis quando tiverem que tomar essas
decisões dentro de campo. (FN, p. 7)
Sim. É um bocadinho por aí. Acima de tudo, jogando. Isso é aquilo que nós
queremos. Muitas vezes alocando algumas partes do jogo, ou retirando do jogo
algumas partes que nós queremos trabalhar, exercitar, priorizando isso como uma
prioridade, salvo seja, salvo a redundância, para esse treino, e depois,
exercitando, sistematizando aquilo que nós queremos que apareça, que apareça
no jogo e, em função do dia, à escala a que nós queremos que ela aconteça. A
uma escala maior, a uma escala intermédia ou a uma escala menor, mas
sempre nesse registo. (FN, p. 10)
265
Não obstante ser importante que os exercícios propostos sejam
pensados para orientar os comportamentos dos jogadores para determinado
aspeto, segundo Francisco Neto é necessário haver uma eficaz intervenção
pedagógica do treinador:
Sem dúvida nenhuma, tanto no jogo como no treino, no patamar onde nós
estamos inseridos, o feedback é essencial. Durante o exercício, sempre na
procura da correção, sempre na procura da prescrição, não no sentido de
direcionar o exercício, mas de ajudar a arranjar soluções para. Mas o grande
segredo do feedback é o timing com que tu o dás e a frequência com que tu
o dás, e essa é que é a dificuldade, e foi a minha dificuldade, também
enquanto treinador, que é uma coisa que tu vais adquirindo ao longo da tua
experiência. Eu, sem dúvida nenhuma, estou aqui há 6 anos, sem dúvida no
início, falava muito mais do que falo agora. E é também perceber em função do
tipo de feedbacks, também as características dos próprios jogadores, porque isto
tem um lado muito emocional, o jogo, e há jogadores que reagem muito bem a
feedbacks de uma forma e outros que reagem muito bem a outros feedbacks…
uns querem muito feedbacks emocionais, outros feedbacks mais direcionados
para aquilo que é a tarefa e tu tens que também saber perceber os jogadores,
perceber o timing onde podes intervir e fazer essa intervenção. Agora, eu acho
que nós temos que, e é nossa função, porque eu acho que, muitas vezes, o
exercício, por si só, não responde a isso, acho que nós temos que ajudar os
jogadores. (FN, p. 11)
266
que o treinador pretende é aproveitar para trabalhar o modelo de jogo. Então,
aquilo que é importante é procurar:
267
(Entrevistador: Portanto, os fatores estão interligados e são trabalhados em função
do modelo de jogo?). Do modelo de jogo, sem dúvida. (FN, p. 17)
Para tal ajusta-se a tática aos dias da semana que antecedem o jogo e
solicitam-se estruturas condicionais diferentes:
2.5.4. Em síntese
268
Na Figura 7, em jeito de ilustração, reúnem-se algumas das palavras
que foram sendo mais vezes proferidas pelo selecionador nacional.
Figura 7
A opção por ser treinador tem origem nas vivências que foi acumulando
desde os tempos de criança, quer na rua e no clube enquanto praticante,
quer como espetador atento dos jogos do clube da terra e dos jogos
269
internacionais televisionados. Esta ideia pode ser entendida através da
transcrição abaixo:
O ter sido praticante, fui praticante desde miúdo, não só nessa altura do
jogo de rua mas, também, no jogo entre bairros em que havia sempre um carola
que fazia uma equipa e treinava. Depois, ter sido jogador federado na
Associação de Futebol de Santarém e ter chegado à 2ª Divisão. (JP, p. 1)
Ao mesmo tempo que José Peseiro era jogador de futebol, era também
aluno no Instituto Superior de Educação Física (ISEF), de Lisboa. Tal facto,
entende o treinador, também o ajudou a consumar o gosto pelo treino, como
se percebe na transcrição abaixo:
...também poderá ter contribuído o ter sido aluno do ISEF, eu fui para o
ISEF com a vontade de ser treinador e não de ser professor. Por isso, no 3º ano,
escolhi não o ramo educacional, mas sim o ramo de desporto, apesar de ter notas
suficientes para ir para as turmas de ensino, que garantia o trabalho, como sabes,
ficávamos efetivos. Eu escolhi a opção futebol, ramo de desporto. (...). Depois, ter
tido como professores o Jorge Castelo, o Carlos Queiroz, o Jesualdo Ferreira, o
Nelo Vingada, o Arnaldo Cunha. (JP, p. 2)
270
...a confrontação entre aquilo que era a minha prática e a teoria, alertou-me,
abriu-me os olhos para aquilo que seria o modo como eu veria o futebol. Portanto,
se eu não tivesse a prática talvez não tivesse entendido tão bem aquilo que
eram as mensagens que me estavam a ser enviadas naquela altura no ISEF.
Nós costumamos dizer que o curso não é um fim em si mesmo, através daquilo
que aprendemos na universidade passámos a ver mais coisas, a ter mais
capacidade, mais hipóteses, mais ferramentas, mais sensibilidade para ver tudo e
muitas mais coisas. (JP, p. 3)
No entanto, salienta que o modo como hoje encara o treino tem sofrido
evoluções desde os tempos de faculdade. Nem tudo o que fazia no início da
carreira, também por influência de professores de outras modalidades
desportivas que tinham uma forte ligação ao que se fazia na Europa de
271
Leste, se mantém na atualidade. Tal pode ser observado a partir do excerto
da transcrição abaixo:
272
considerado o treinador do século do clube Nacional da Madeira, sendo
galardoado por isso.
273
manter uma equipa competitiva até à paragem de inverno e durante esse
interregno acordou a rescisão do comando técnico da equipa.
274
com intenção de voltar a conquistar o título egípcio, que até então era
propriedade do Zamalek Sports Clube. Apesar da saída em finais de janeiro
de 2016, para o Futebol Clube do Porto, o Al-Ahly acaba mesmo por ser
campeão egípcio, fazendo também ele parte da conquista da liga egípcia.
275
2.6.2. Uma ideia de jogo adaptada aos jogadores
...eu tenho uma ideia de jogo marcada que foi construída durante os anos
da minha experiência. Como eu disse, quando eu vi jogar as equipas da Holanda,
do Ajax e a do Brasil, foi talvez dos momentos mais importantes que contribuíram
para eu ter esta visão do jogo. (JP, p. 1)
276
...quando treinei o Sporting eu tinha uma ideia de jogo, um 1x4x4x2
losango, com muitos apoios e muita posse de bola, mas se eu não encontrasse
jogadores com aquelas caraterísticas, eu não tinha feito aquele futebol. Eu não,
nós não tínhamos feito. Eu já quis replicar aquela forma de jogar e não consegui
mais. Consegui ainda no Braga (SCB) algumas vezes, percebes? Portanto,
porque nunca mais tive jogadores com aquelas caraterísticas. Também, eu nunca
tive a possibilidade de ir buscar os jogadores que queria. No mundo quem é que
replica o jogo? Quantos treinadores no mundo replicam? Aqueles que têm
possibilidade de ir buscar os jogadores que querem. O próprio Arsenal não replica
jogo nenhum. O Chelsea replica o jogo? Também não. Quem replica? O Liverpool
e o City. (JP, p. 21)
277
2.6.3. O treino com vista à melhoria das decisões
Todavia, o treinador salienta que “o jogo é o jogo” (i.e., para haver por
exemplo momentos de transição, tem que se partir de momentos de
organização ofensiva ou defensiva) e os exercícios escolhidos devem, na
maioria das vezes, contemplar esse aspeto. O mesmo se pode observar a
partir da transcrição da entrevista abaixo:
278
ideia de jogo que eu tenho, não devo hipotecar, para não criar frustração,
confusão, na minha forma de jogar, em função de cada adversário que eu vou ter.
(JP, p. 13)
279
O exercício, é o exercício com bola em espaços reduzidos, em espaços
menos reduzidos ou em todo o campo. Tem a ver com uma evolução, também. Há
sempre uma evolução da complexidade e das ações intersectorial, sectorial.
Portanto, geralmente, trabalho por grupos, treinador principal, treinador adjunto
têm os grupos divididos por exercício específico, com rotação ou não do exercício,
com rotação ou não dos jogadores, mas repetindo aquilo que nós queremos para
o momento do jogo e correspondente ao tema que nós temos e com evolução até
ao final do treino, altura em que já damos uma visão mais global. Ou seja, desde o
jogo reduzido ao jogo mais global. Podemos fazer ou não. Pode ser um 7 contra 7,
não tem que ser um 11 contra 11, que não é… não repetimos muitas vezes o 11
contra 11. (JP, p. 16)
280
importante para os jogadores, porque o querem, porque o pedem, porque acham
que é importante. Não estou a falar de jogadores de mais alto nível, estou a falar,
e já te falei, em vários países, ir a um treino e não fazer corridas no final do treino
os jogadores dizem, “quando é que a gente vai correr para descansar?” Por
exemplo. O treino complementar é a repetição de ações, entre jogadores, entre
setores, entre duplas, entre trios, de último passe, sem oposição. É aí que eu
chamo treino complementar. O treino complementar pode ser puramente
trabalho físico, que eu tento reduzir ao máximo possível, mas faz-se, e toda a
gente faz, ou exercícios que eu gosto de fazer todos os dias,
sistematicamente, com os avançados, com os extremos, com os laterais,
com os centrais, com todos eles, na repetição de uma ação, ou que nós
achamos importantes para o nosso jogo. Por exemplo, movimentos circulares
de avançados, se eu aposto muito nisso, no final do treino, tenho esses
movimentos. Diagonais de fora para dentro, dos laterais e extremos, e repetimos
isso. Diagonais dos médios-centro entre lateral e central, e fazemos isso. Passe
dos centrais, diagonais, e fazemos isso. Isso eu acho importante complementar.
Portanto, na parte final podemos fazer exercícios sem oposição ativa, ou sem
oposição, na repetição daquela ação, que também foi importante e
consubstanciada e determinada no momento do jogo que nós treinámos, ou no
tema de jogo. Os exercícios quiseram potencializar aquilo, foram repetidos 5 ou 6
ou 7 ou 8 vezes no nosso treino, e depois repete-se no final do treino, no exercício
complementar, mais umas 20 a cada um dos jogadores. Por setores, por
jogadores, como for. (JP, p. 21 e 22)
281
outros não olham para a bola para passar a bola. Então, é importante que surjam
feedbacks. (JP, p. 18)
Por último, logo a partir das primeiras sessões de treino dos períodos de
preparação semanal, assim como quando não é impossível realizar treinos
práticos, verifica-se que o treinador opta por fazer um tipo de treino que faz
essencialmente apelo à consolidação cognitiva dos comportamentos,
utilizando como ferramenta o vídeo e imagens.
282
depois, cada tema por dia que, normalmente, é referente a um momento do jogo.
(JP, p. 9)
Assim que acaba o jogo, avaliar o jogo e ver o que nós estamos a
fazer menos bem. Tipo, malta, tínhamos um plano de jogo, aquilo que é a nossa
forma de jogar e aquilo que está menos bem e passar mais tempo a treinar os
momentos do jogo em que nós não tivemos competência, sabendo também e
percebendo também, que do lado contrário estava um adversário e que, por
vezes, a nossa menor produção nesse momento do jogo, teve mais a ver com a
qualidade do adversário do que com a nossa qualidade. Isso também tem que ser
avaliado. (JP, p. 23)
2.6.4. Em síntese
283
Para que a aquisição dos princípios que fazem parte desses temas se
dê com sucesso, o treinador entende ser importante recorrer
maioritariamente a exercícios que sejam específicos e representativos, que
com os fatores de rendimento em interação sistémica promovem a aquisição
de competências respeitando a necessidade de os jogadores recuperarem e
adquirirem entre jogos os índices fisiológicos para competir. Não obstante
existirem, por vezes, exercícios que ele considera complementares.
Figura 8
284
conquistou um título de Campeão Nacional de Juniores, duas Taças de
Portugal, duas Supertaças Cândido de Oliveira e uma Liga da Grécia.
285
obstante a grande evolução que tem ocorrido no mundo do futebol. Tal pode-
se depreender através do excerto da entrevista transcrito abaixo:
286
chegar ao futebol profissional, acabou por ser importante. Aquilo que fiz durante
16 meses, por aquilo que depois tive de fazer, imediatamente a seguir, e também,
pelo conhecimento que fui tendo, até de alguns jogadores que trabalharam
naquela altura comigo, e que mais tarde viriam a trabalhar também num contexto
profissional. Por isso todo essa aquisição de conhecimento e de experiências,
acaba por, obviamente, ser útil depois. (PB, p. 3 e 4)
Paulo Bento reconhece que para o seu sucesso muito têm contribuído
os conhecimentos adquiridos durante os cursos de treinador. Todavia,
entende que o formato dos cursos, essencialmente o quarto nível, poderia
sofrer algumas alterações. Como se percebe através da transcrição abaixo:
Eu creio que tem importância. Eu vou dizer algo que também já tive
oportunidade de dizer noutras alturas, obviamente que essa formação, tal como
em outras atividades, essa formação eu creio que é importante. (...) aprendi com
quem nos lecionou, obviamente, mas também aprendi com aquilo que
muitos de nós, naquela altura, já sendo treinadores, fomos bebendo uns dos
outros. Eu creio que nós aprendemos muito ouvindo, lendo também, mas ouvindo
os outros e aquilo que são as ideias dos outros, também. Obviamente que a
formação tem níveis diferentes, eu fiz o 2º, o 3º e o 4º nível, um através da
associação, numa associação, e depois os outros, o 3º e o 4º nível, através da
287
Federação, foram um bocadinho diferentes, essencialmente, do 2º para o 3º, o 3º
e o 4º eu acho já mais parecidos e eu creio que aí é onde se poderia, não sei
como estão as coisas agora, reconheço, onde se poderia, se calhar, ter optado por
outra via entre o 3º e o 4º nível, haver algo diferente. Creio que aí já eram algo
similares e que, obviamente, sendo importantes, no meu caso foram dois anos
seguidos, creio que poderia haver outras temáticas, essencialmente no 4º nível,
que nos levassem para outras exigências, para outro patamar, naquilo que já era a
nossa experiência enquanto treinadores. (PB, p. 2 e 3)
Com a entrevista a Paulo Bento, foi possível constatar que face à sua
experiência, o treinador não acredita que os comportamentos de qualidade
que se verificam durante um jogo de futebol aconteçam por acaso. Paulo
Bento ressalta que há jogadores que parecem estar sempre no sítio certo,
por exemplo nos momentos de finalização, ou nos momentos em que a
equipa perde a bola. Tal facto, depende dos princípios que o treinador
implementa associados ao conhecimento que os jogadores vão adquirindo
uns dos outros, em treino. O mesmo se pode depreender a partir do excerto
da entrevista abaixo transcrito:
288
...isso advém da organização, advém daquilo que são os princípios
(...) advém daquilo que é o treino, o que é o modelo e do que é que são as
diretrizes que se devem ter, que zonas é que se devem ocupar, que tipo de
movimentos é que devem fazer, sabendo por exemplo as caraterísticas de quem
vai cruzar, de que zona vai cruzar. (PB, p. 9)
289
trabalho. É tentar, naturalmente, inseri-los nessa forma de jogar, não os
fazendo perder aquilo que de bom têm, não é? Como é óbvio. (PB, p. 7)
Paulo Bento salienta que, ter preocupações com o lado estratégico, não
significa que vá alterar a forma de jogar, o que me vai fazer é introduzir “na
minha forma de jogar, perante o adversário que eu vou encontrar, algumas nuances para
eu poder ultrapassar alguns problemas que eu prevejo que o adversário me vai criar, ou eu
criar-lhes a eles” (PB, p. 17).
290
fechados, com estruturas mais reduzidas, até chegarmos à estrutura final, ou à
estrutura maior, tem a ver com a forma como nós queremos jogar. (PB, p. 32)
291
Assim o treinador propõe exercícios que estejam direcionados mais para
determinado momento de jogo ou setor da equipa, com formas mais jogadas
às vezes, mas com formas mais analíticas e direcionadas também pode
acontecer. Tal como se percebe através da transcrição:
...aquilo que nós treinamos, no jogo, advém também da forma como nós
preparamos o treino, e a forma pode ser, como eu disse há pouco, um pouco mais
fechada, e isso pode independentemente do processo, pode ser mais ofensivo,
pode ser o processo ofensivo, ou pode ser o processo defensivo, obviamente,
quando aqui, para o processo ofensivo, viramo-nos muito para situações de
finalização, às vezes, até, com uma situação tática sem oposição, e que não
precisa de lá ter os 11 jogadores, pode ser só os jogadores do setor ofensivo,
como, da mesma maneira, o trabalho defensivo, pode ser um número menor, pode
ser só com a linha defensiva, pode ser só com a linha defensiva e com a linha
média, independentemente do sistema que se treina, obviamente, ou que se
jogue. Pode ser só com a linha defensiva e o pivot defensivo, como disse há
pouco também, porque depois há comportamentos que, no jogo, o jogo leva a que
depois haja momentos… o jogo traz momentos em que isso acontece. Há
momentos, sejam eles em organização ou transição, em que essa ligação é
evidente. Nós vemos momentos no jogo, em que vemos que algo que fizemos de
uma forma mais fechada, ou com número reduzido de jogadores, se produz no
jogo. Ou seja, quando tenho um central a ir defender as costas de um lateral, e o
meu médio defensivo entra dentro da área para defender, isso no jogo acontece,
isso é real. Isso pode ser trabalhado, nalguns momentos, de uma forma mais
isolada, mais passiva até, ou seja, em que não haja oposição, em que haja só
algumas diretrizes, para depois, a seguir, se passar a ter oposição e obrigar a uma
complexidade maior, vamos imaginar, 6 contra 5, onde o objetivo não é tanto
pressionar o portador da bola, mas roubar torna-se mais difícil, porque há uma
superioridade no último terço, de 6 contra 5, que é mais difícil, mas o objetivo não
é tanto roubar, mas é mais aquilo que fazemos: a forma como basculamos, a
forma como fazemos cobertura no corredor lateral, a articulação do médio
defensivo com a linha defensiva. (PB, p. 24)
292
se está a trabalhar a organização defensiva importa que se contemple a
transição ofensiva.
293
trabalho com a linha de 4, ou a articulação que quero entre a linha de 4 e o 6,
e como é que vou fazer essa, essa articulação, e posso fazê-lo de uma
maneira mais fechada, até de uma maneira mais pausada, posso partir de uma
parte sem oposição, ou ser feita de uma maneira mais analítica, e depois haver
com oposição e, até ser em inferioridade, quer dizer, há várias maneiras de lá
chegar. (PB, p. 19)
Paulo Bento entende que utilizando exercícios que sejam jogo com
oposição, a questão de padronizar o movimento dos extremos, por exemplo,
poder-se-á tornar mais difícil porque vai acontecer menos vezes. Como se
depreende através da transcrição abaixo:
O que eu quero é que haja uma repetição daquele momento mais vezes
para eles o interiorizarem. Depois, na situação de jogo, o que vamos ver não é
tanto, se calhar, o número de vezes, porque sabemos que vai ser menor, mas
como é que eles o fizeram, quando é que o fizeram e porque é que o fizeram, e
se, realmente, é o momento adequado ou não para o fazer. Não é? Porque
depois, aí, tem outras articulações. Tem articulações de movimento para se
jogamos com os laterais profundos, se os extremos vêm para dentro para receber,
se só para atrair para que o lateral receba por fora. Pronto, aí já há outras
questões envolvidas, depois, também, no jogo. Ou seja, no outro exercício, já nos
estamos a acrescentar mais qualquer coisa. (PB, p. 21)
294
Durante o período preparatório há uma planificação que tem em conta a
duração do período, ou seja, o que se quer trabalhar é perspetivado e
distribuído tendo como horizonte as seis semanas, como se pode entender a
partir do excerto abaixo:
Eu, num clube, tirando a fase preparatória, em que aí, pensar um bocadinho
mais a longo prazo, não deixando de pensar no microciclo, poderei pensar um
bocadinho mais naquilo que vamos perspetivar ou, pelo menos, que tipo de treino,
ou a quantidade de treino, fazer uma questão mais de mesociclo, ou tentar
fazer a cinco ou seis semanas mais ou menos, compô-las para a pré-
temporada, para o período pré-competitivo, mas depois, a partir daí, microciclo.
(PB, p. 11)
295
a forma como se concebe os exercícios e aquilo que eles vão fazer, vai também
treiná-los para o aspeto técnico e tático, mas também, para o aspeto emocional e
para o aspeto físico. E isso, para mim, é que é fundamental. É eu, dentro dos
exercícios, ter já lá os ingredientes todos para que eles os bebam, para que eles
os compreendam, para que depois os possam exponenciar no jogo. (PB, p. 26).
Creio que são um momento importante, onde de uma forma geral, quem
tem essa possibilidade, pode construir, e deve construir, aí a sua forma de jogar.
(...), mas depois, durante a época, há trabalho a fazer. (PB, p. 26)
296
Quando se entra no período aquisitivo ou seja, seria quarta, quinta, sexta e
sábado, há de haver dias que são mais direcionados, tanto os comportamentos
para determinada coisa, ou na gestão das capacidades condicionais, poderá ser
um dia mais direcionado para exercícios que haja mais resistência, talvez, noutros
em que possa haver mais força, noutros em que possa haver mais velocidade?
(AFV, p. 28).
Domingo a sábado, por exemplo, para ser mais específico, quarta será o treino
mais longo e, às vezes, nem sempre se fazia o trabalho de força, dependia muito.
Depois, e aí seria o treino mais longo, em que já poderia ter, e já estaria, direcionado,
seguramente, para uma de duas coisas: ou para trabalhar já com vista o adversário, ou
para corrigir ou para trabalhar, coisas do nosso modelo. Partindo, isso sim, quase
sempre, de estruturas mais pequenas para estruturas maiores. Depois a questão de
um cuidado, também, nalgumas vezes, e agora muito, neste contexto então, ainda
mais, mas os dois dias antes do jogo, a questão da intensidade e do volume dois dias
antes do jogo. Normalmente, temos um cuidado com esse treino, mas são treinos
que, normalmente, quinta e sexta, por exemplo, a jogar ao sábado, já terão
menos volume, seguramente, e, às vezes, mesmo com alguma intensidade, são
períodos mais curtos. Essencialmente, se na quarta e na quinta, digamos que,
globalmente, já tenho tudo aquilo que é trabalhado para o jogo de sábado, na sexta já
não focamos tanto na questão da estratégia, já pode vir mais a bola parada, o que para
mim torna o treino um bocadinho menos intenso a nível físico. (PB, p. 32)
297
Eu diria que a quarta, quinta e sexta vêm para preparar o jogo, será
algo mais global, sempre. O que não significa que, dentro daquilo que já
falámos, que se feche nalguns momentos, no final do treino ou, que não se faça
no início do treino, antes de passar à situação global, por exemplo, em que se
possa estar de um lado a trabalhar um aspeto com a linha defensiva, e noutro
lado, a trabalhar um aspeto com o setor ofensivo. Para depois juntar e tornar a
situação mais competitiva. Mas, normalmente, quarta, quinta e sexta são situações
que estão viradas para a questão do modelo e para a questão de ver o que é que
o adversário nos pode fazer. (PB, p. 32)
2.7.4. Em síntese
298
Figura 9
Pedro Caixinha salienta que o gosto pela profissão teve início durante a
licenciatura em Ciências do Desporto na Universidade de Trás-os-Montes e
Alto Douro, na década de 90. Como se depreende a partir da seguinte
transcrição:
299
Álvaro, penso que, essencialmente, a aprendizagem que tive ao nível da
metodologia do treino e da opção de futebol, propriamente dita, quando
estava na licenciatura na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
(UTAD), em 93-98, que me despertaram essa curiosidade, por um lado e
aquilo que foi essa aquisição de conhecimentos para poder aplicá-los na
prática, em termos daquilo que era o centro de treino. Eu tive a possibilidade
de realizar o centro de treino no Real Clube de Penaguião, em Santa Marta de
Penaguião, e penso que a partir daí, foi quando eu fiquei um pouco mais
identificado com aquilo que era o processo e a vontade de ser treinador de futebol.
(PC, p. 1)
300
Clube de Futebol Vasco da Gama, na vizinha Vidigueira. Esta informação
pode ser percebida através da transcrição abaixo:
Eu sou daquelas pessoas, também não sei se é por ter vindo do meio
académico ou não, mas que tenho uma necessidade premente de constantemente
me estar a questionar, e constantemente me estar a questionar na procura de
nova informação. Como é que eu, normalmente, processo informação? Eu tenho
uma linha orientadora muito clara, uma intenção prévia muito clara, mas eu quero
301
que essa intenção prévia, como se fosse, por exemplo, uma mala de viagem como
a do Sport Billy94. No fundo, eu acho que a informação que eu quero, é ter uma
determinada mala, que no fundo poderia, também, ser comparada com uma
mala de ferramentas, no sentido de nós termos quanto mais ferramentas,
melhor, mas que, aquilo que é o conhecimento que nós adquirimos seja uma
peça importante naquilo que é o nosso próprio conhecimento, e que vai
potenciar ainda mais o nosso próprio conhecimento. O objetivo é ser alguém
que cria o seu próprio conhecimento para poder seguir dentro dessa intenção
prévia. E então, acho que é fundamental, acho que é fundamental aquilo que é a
formação e a capacitação que nós devemos ter (...) Eu acho que aquilo que é o
nosso conhecimento tem de funcionar da mesma forma como eu vejo o jogo, do
jogo para o treino e do treino para o jogo. A mesma coisa vejo em termos do
conhecimento. É sempre daquilo que é um conceito teórico para a prática, e de
novo para um conceito teórico, ou seja, dentro desta dinâmica e deste círculo, por
isso eu vejo fundamental. (PC, p. 2)
O Álvaro tem, da mesma maneira que eu tenho, muitos colegas nossos que
passaram por um contexto académico, que têm um conhecimento fantástico, mas
que, obviamente, depois, num nível prático, as coisas não funcionavam dessa
maneira, não conseguem fazer essa transferência, ou seja, num mundo prático
e real, é fundamental que tenhamos essa capacidade. (PC, p. 4)
94
Dentro dessa mala, o Sport Billy conseguia tirar qualquer equipamento desportivo e
praticar a modalidade desportiva correspondente, ao mais alto nível.
302
entendimento que nós tínhamos um conceito muito claro, conceito esse, que eles
também nos passavam através de temas, e que nós tínhamos que operacionalizá-
los no campo. Tão simples quanto isto. O que é que se tratava a avaliação?
Tratava-se, por exemplo, de um sistema de jogo, ou seja, davam-nos um sistema
de jogo, e esse sistema de jogo, eram diferentes e alternativos, e que eram
sorteados, podia-nos calhar um 1x3x4x3, um 1x4x4x2, um 1x4x3x3, um
1x4x2x3x1, qualquer coisa dessa natureza e depois davam-nos um tema de jogo.
Um tema de jogo que podia ser defender como equipa, podia ser a variação do
centro de jogo, podia ser atacar sobre os corredores lateral, vários temas que
depois tinham uma determinada ordem em termos da organização da unidade de
treino. Ou seja, começas com um aquecimento que concorre para esse sistema e
para esse objetivo, depois tens uma componente principal um, uma componente
principal dois, até chegares ao todo, e esta lógica coerente. Tínhamos quarenta e
cinco minutos para trabalhar esse tema, e num campo ao lado, estava um colega
com outro tema diferente, com outra estrutura diferente, e depois enfrentávamo-
nos em dois períodos de sete contra sete. Ou seja, esse era, de facto, uma
avaliação espetacular que revelava, não só aquilo que era o conhecimento que
nós tínhamos de ter para elaborar toda esta organização dentro de uma intenção
prévia, de um determinado objetivo, e depois aplicá-lo na prática. (PC, p. 3)
303
para o próximo Torneio Clausura. Venceu a Taça MX no Apertura de 2018
com uma vitória final por 2-1 sobre o CF Monterrey em 31 de outubro. Na
mesma altura, também chegou à final da liga, onde ele e a sua equipa
acabaram por perder para o rival da Cidade do México, o Clube América.
Pedro Caixinha não terminaria a ligação ao clube sem antes, em 14 de julho
de 2019, vencer a Supercopa MX sobre o Club Necaxa, em Los Angeles.
304
de controlar os ritmos de jogo, em termos ofensivos, quando é o momento de
controlar o jogo através da posse, por exemplo, para temporizar, em termos
de acalmar, acelerar, acalmar, acelerar, sempre nestas trocas de ritmo, e
também, em termos defensivos, ou seja, saber só quando direcionar, e saber
quando se tem que apertar ou pressionar, para recuperar a posse de bola.
305
Para o conseguir com eficácia, o seu planeamento tem uma forte
influência da pedagogia e didática do desporto. O mesmo se pode verificar
através da transcrição do excerto da entrevista abaixo:
306
mais especificamente nós trabalharmos, tivermos esta organização a concorrer
para o comportamento que nós desejamos que a nossa equipa tenha, tanto
melhor. (PC, p. 14)
Agora, trabalhar para aquele jogo pode ser, se eu sou uma equipa
nitidamente superior, em relação ao adversário, é uma relação que eu chamo, ou
um confronto entre identidade e estratégia, e essa identidade e estratégia, se
eu puder ter sempre oitenta para nós, vinte para o adversário, encantado, mas a
de todas… da maior parte das equipas não é esta. Se calhar é o inverso, ou, se
calhar, é sessenta – quarenta, ou se calhar é cinquenta – cinquenta, varia. De
semana para semana, varia. Então, se for, por exemplo, uma semana de oitenta –
vinte, obviamente que ao longo da semana, a maior parte dos conteúdos que ali
estão são para trabalhar aquilo que são os meus comportamentos coletivos, mas
vinte por cento estão lá em termos estratégicos. Se for cinquenta – cinquenta,
então eu tenho que dividir cinquenta – cinquenta. Se for sessenta para o
adversário e quarenta par mim, eu tenho que dividir. Há muita gente que diz, e eu
não acredito nisso, eu não acredito, que nós trabalhamos sempre de acordo com
aquilo que são os nossos objetivos. Ok, mas nós, semana atrás semana, jogamos
com um adversário que é completamente diferente, me vai sujeitar a um
determinado conjunto de problemas, e que nós temos que ter a capacidade de
resolver, se nós não estivermos preparados estrategicamente, que é a única forma
de poder, se calhar, equivaler essa diferença, como é que o vamos fazer? Como é
que vamos enfrentar esse adversário se não temos essas mesmas armas? Então,
no fundo, varia muito em termos daquilo que é este confronto entre identidade e
estratégia. (PC, p. 20 e 21)
307
resposta à seguinte questão: “E se lhe perguntasse, se me puder responder, a que tipo
de exercícios é que recorre mais? Ou, em termos gerais, quais são aqueles exercícios, ou
que caraterísticas têm os exercícios que considera serem essenciais para conseguir passar
a ideia do padrão que quer que a equipa evidencie?” (AFV, p. 14).
Mas convém que seja o mais representativo possível do jogo, ou seja, que
tenha oposição, que tenha imprevisibilidade? (AFV, p. 14). Totalmente,
totalmente. Porque ainda há pouco falei, sempre que possível, tenho a
ligação de exercícios que ligam diferentes momentos do jogo. Obviamente
que tem que conter todas essas variáveis e tem que conter aquilo que é a abertura
ecológica para que eles percebam que têm liberdade, dentro daquilo que é a
organização que o exercício contém, e as regras do mesmo. Ou seja, que não
seja inibidor, em termos daquilo que é o objetivo que eu quero atingir, mas
também que permita aos jogadores, às vezes serem eles a encontrar outras
alternativas ou formas de solucionar aquele problema. (PC, p. 14).
308
exercício de treino, não tanto aquilo que são as regras, mas poucas regras,
que levem a que nesse exercício de treino, ocorram aquilo que são o maior
número de comportamentos possíveis que nós queremos trabalhar, porque
o jogo, para mim, são comportamentos. Quando há pouco eu falei naquela
intenção coletiva, eu estou a falar em termos de comportamentos que quero que a
equipa tenha, comportamentos terminais nesses momentos do jogo, então, aquilo
que é o nosso trabalho nesse sentido é criar, não só exercícios que contemplem
esses comportamentos, que esses comportamentos se repitam muitas vezes e
que, de alguma maneira, não inibam os jogadores e ao mesmo tempo deem
liberdades para que, dentro dessa relação espaço – temporal, eles possam reagir
com êxito e também, obviamente, onde possam expressar, ao mesmo tempo a
sua criatividade e a sua liberdade. (PC, p. 6)
Isso tem toda a ligação naquilo que é o nosso treino optimizador. O nosso
treino optimizador vai precisamente nesse sentido. E o optimizador, é optimizador
individual. Individual no sentido do tal ciclo que eu falei, convencer o jogador que
tem que melhorar esta competência, trabalhar essa competência, e depois
mostrar-lhe, através do processo de jogo que ele já melhorou tudo isto, ou seja,
tornar tudo isto num ciclo. Depois temos o trabalho essencialmente setorial, e
neste trabalho setorial, podemos isolar claramente as linhas, a linha
defensiva só trabalha entre ela, a linha media só trabalha a linha média, a
linha ofensiva só trabalha a linha ofensiva, e depois, ainda chamamos
setorial daquilo que é a ligação, por exemplo, da defensiva com a média,
nalguns jogadores da linha média, e também alguns jogadores da linha
média com a ofensiva. Até que, no fim, temos os comportamentos coletivos, e aí,
os comportamentos coletivos já, obviamente, têm no todo, então. É o treino
optimizador, individual, setorial e os comportamentos coletivos. Sempre com esta
direção. (PC, p. 16 e 17)
309
A quarta caraterística é que os exercícios propostos têm de ser
pensados para direcionar os comportamentos dos jogadores para um
demarcado pormenor, de modo a que minimizem a necessidade de
intervenção pedagógica do treinador. Como se compreende através da
transcrição:
310
algumas repercussões negativas, porque criava uma habituação daquilo que era a
nossa presença, e naquilo que é o contexto do jogo, a nossa presença, nesse
sentido, não existe, e, então, procurámos estar cada vez mais por fora, e dar uma
corresponsabilização e corresponsabilidade àquilo que é o grupo de trabalho, o
staff técnico, porque eles têm que também ter essas valências nesse sentido, e
nós podermos estar por fora a visualizar tudo aquilo que se está a passar e como
trabalhamos, muitas das vezes, por estações, ou por setores, é importante
estarmos presentes em tudo. Eu acho que no mesmo exercício, por exemplo,
liderado por duas pessoas diferentes, é um exercício diferente, porque a forma
como nós lidamos e interagimos é totalmente diferente. Então, quer dizer que a
forma como hoje, também, procuro ter esse transfere daquilo que é o treino para o
jogo, é de procurar visualizar mais para definir mais especificamente aquilo que
vais ser a minha intervenção, quando posso passar alguma informação com o
papel e, maioritariamente, no intervalo do jogo onde temos uma interação no
banco e uma interação do banco com a bancada para também ajudarmos a definir
tudo isso em termos dessa comunicação, mas também em termos de visualização
de algumas imagens, que algumas vezes também possamos utilizar para que o
feedback seja cada vez mais específico, eu não diria tão frequente, mas cada vez
identificando aquilo que de facto é necessário identificar no tempo certo. (PC, p.
15)
Por último, é referido pelo treinador que também faz parte do treino ter
alguma atenção com o estado emocional dos jogadores e contemplar isso na
planificação das sessões. Tal como se depreende a partir da transcrição
seguinte:
311
semana de trabalho, em termos daquilo que são os tais conteúdos e a
hierarquização dos mesmos, eu vou organizar essa semana, também tendo em
conta essas necessidades, ou seja, onde é que eu vou enquadrar aqui
necessidades que, normalmente, não fazem tanto parte desta base, daquilo que
nós temos como referência, mas que são necessárias para aquele momento em
particular. Então, no fundo, quando eu faço essa planificação tenho que ter
também tudo isso em linha de conta. (PC, p. 21)
312
preparar a equipa para aquilo que é uma ideia clara de jogo, mas também, para
aquilo que é o regime adaptativo, fisiológico que ela vai encontrar em termos
competitivos. Se eu vou encontrar maioritariamente semanas largas, eu tenho que
preparar a equipa para semanas largas, se eu vou encontrar mais semanas
curtas, é para semanas curtas. Ou se eu vou encontrar as duas, tem de ser as
duas. (PC, p. 8)
313
treino, começamos a fazer logo, logo desde esse momento, e também, em termos
daquilo que é a direção daquilo eu são os jogos de preparação. (PC, p. 17)
314
regime. (PC, p. 19). Em termos de regime, ok. Claro, o fundamental é os princípios
que quer trabalhar de comportamentos, não é? (AFV, p. 19). Sim. (PC, p. 19)
2.8.4. Em síntese
Figura 10
315
2.9. Entrevista 9 – A perspetiva de Vítor Pereira
316
mesmo de ser treinador, enquanto jogava, já passava mais tempo a organizar do
que propriamente a jogar, percebes? Isso é uma coisa intrínseca, é uma coisa que
não sei, que já está na nossa, na nossa génese. Portanto, depois, a paixão pelo
jogo e pelo treino, não é? Porque fundamentalmente é isso, é aquilo que sentimos,
o amor que sentimos ao futebol. Até hoje há esse bichinho do criar. Para mim o
futebol é como se eu pudesse exprimir a minha criatividade, entendes? É como se
eu tivesse a possibilidade de pintar. Um pintor deve sentir a mesma coisa. É o que
futebol me transmite. O futebol dá-me a possibilidade de eu sistematicamente
estar a criar. A criar e a ver crescer, a experimentar, a errar, a voltar a refletir, a
experimentar. (VP, p. 1)
317
aquelas ideias, a ajudar-me a questionar as coisas, percebes? A questionar, a
colocar em dúvida muita coisa, a dar-me uma orientação metodológica.
Fundamentalmente, foi isso que eu adquiri na faculdade (...) portanto, a faculdade
foi muito importante para mim, e apanhar o Vítor Frade, assim como outros
professores, o Garganta, o Natal, o Zé Guilherme, como eu já disse, o Zé
Guilherme não foi meu professor, mas era meu colega, e discutíamos muito o
treino e o jogo, e o Frade, o Frade, o Frade, fundamentalmente o Frade, que
me foi pondo sempre aqui o bichinho. Aquele bichinho de estar sempre a
questionar. Ainda hoje, esse bichinho está comigo, ainda hoje eu questiono muita
coisa do que faço. (...). É isso que ele provoca em nós, não é? (VP, p. 2)
95
Alguns autores, tais como Schon (1983, 1987) e Zeichner (1994), podem ajudar a
melhor perceber este processo. Para que tal seja feito com eficiência é necessário obedecer
a um método e vários momentos, i.e., tem um antes, um durante e um depois. No antes, a
reflexão incide sobre o problema e sobre as soluções a aplicar. No durante, a reflexão incide
sobre o próprio processo de aplicação da solução. No depois, a reflexão debruça-se sobre as
consequências da aplicação de determinada solução e constitui um novo antes, num
processo dialético constante. Estes momentos distintos implicam, tanto pela natureza do
objeto sobre o qual recai a reflexão como pelo objetivo da mesma, diferentes tipos e níveis
de reflexão que embora tenham vindo a ser aplicados no âmbito do ensino, também parece
ser pertinente serem aplicados ao treino tal a similaridade entre os dois processos.
318
reconhece que os cinco anos que esteve no FCP como treinador do futebol
de formação tiveram um impacto enorme na sua evolução como treinador
(Pereira, 2017, 2021a, 2021b). Como se pode verificar pela transcrição
abaixo:
319
na luta até ao fim do campeonato, que terminou no quarto lugar a escassos
dois pontos de subir ao escalão principal do futebol português.
320
2.9.2. A origem e as modelações da ideia de jogo
...na China, eu não posso aspirar a ter o futebol que o Porto jogava. (...)
Apesar de os grandes princípios estarem lá, e de eu gostar de um jogo de
posse, de dominância, agressivo, eh pá, temos que modelar em função do
contexto, (...) Agora, os grandes princípios, aquilo de jogar e ser agressivo e de
reagir com agressividade à perda de bola, do pressionar alto, …agora eu trabalho,
também, muito mais o momento de transição ofensiva, trabalhava pouco, mas
agora…, agora trabalho mais. (VP, p. 4)
321
por lá a driblar. Não pode ser. Agora, há que perceber quando é que nós vamos
dando ferramentas para eles resolverem os problemas, e esprememos, e
tentamos que eles usem essas ferramentas nos contextos corretos. Portanto, se
eu tenho um jogador que é forte no um contra um, oh pá, se ele está numa zona
em que, realmente, pode ir para cima, eu quero que ele vá para cima, por isso é a
tal coisa, por isso é que tu tens de promover no treino, os teus exercícios não
podem ser sempre do mesmo, não podem ser nem sempre dois toques, nem
sempre a um toque, nem sempre livre, porque, também, se for sempre livre, eles
começam a exacerbar a condução, e aí, quando tu sentes que eles estão a
exacerbar a condução, o que é que tu fazes? Passas a dois toques, quer dizer, e
aqui, já… já há uma mudança, não é, já há uma mudança, já o foco… porque é
muito importante que o exercício promova o foco, porque se o exercício não tiver o
foco, não te desafiar, tens que mudar o exercício, estás a perceber? Tens que
mudar, ou tens que melhorar o exercício, e é mesmo assim. Portanto, eu,
liberdade, sim senhora, não há dúvida nenhuma, se eu tiver jogadores que sejam
criativos, que sejam, oh pá, que vejam soluções que eu até nem veja, e que me
acrescentem ao jogo coletivo, tanto melhor. (VP, p. 17)
...eu não consigo pensar um exercício que não tenha, por trás dele, uma
base tática, alguma coisa que eu taticamente quero ver que a equipa
apresente, percebes? Não, eu não perco tempo com exercícios avulso,
entendes? Eu não perco tempo com isso. Para mim, é um modelo que eu adoto,
que nós adotamos, são os exercícios para os comportamentos que nós queremos,
e é desde o primeiro dia até ao último. (VP, p. 6)
322
Todavia, apesar da preocupação fundamental da construção dos
exercícios se relacionar com a identidade da equipa, o treinador entende que
é importante “fazer o estudo do adversário,” (VP, p. 22) desde o início da semana e
levar em conta as particularidades do adversário nos exercícios propostos
(Pereira, 2017, 2021a, 2021b). Tal pode ser percebido através da transcrição:
Por exemplo, eu defendo uma identidade, com princípios, mas tu sabes que
a equipa contra quem tu vais jogar te vai pressionar a tua saída a jogar a partir do
guarda redes, então, claro que eu durante a semana, sabendo que naquele
momento, aquele é o momento de pressão para o adversário, então vou criar
condições para sair dessa pressão. Agora, se for uma equipa que tu sabes que te
vai deixar sair a jogar, então já não vou perder tempo, a minha incidência já pode
ser maior na segunda fase de construção, entendes? Se é uma equipa que se
coloca lá atrás, eh pá, nessa semana, sempre dentro daquilo que são os nossos
princípios, os princípios do nosso jogar, eu já sei que vamos passar muito tempo
a… tem lá dois jogadores na frente e ficam a jogar em profundidade, é claro, e eu,
a dominância do meu treino, segundo os nossos princípios, vai ser mais sobre
este momento, não é? Portanto, estás a ver, ou seja, estás a ver como é que
as questões estratégicas são postas no treino, sem comprometer a tua
identidade, porque a tua identidade é fundamental. (VP, p. 14)
323
2.9.3.1. Especificidade e representatividade dos exercícios
Eu posso pôr várias balizas, para eles perceberem que esta baliza está
fechada e tem que se ir à procura de outra, entendes? Ou deste lado está
fechado, eu tenho de ir à procura de outro porque isto fechou, e isto é promover a
tomada de decisão, não é? Em contextos de oposição em que essa velocidade
de perceção e decisão e ação vai crescendo. (VP, p. 9)
324
A terceira caraterística encontrada relaciona-se com a escala de
representatividade. Ou seja, embora as caraterísticas essenciais do jogo de
futebol estejam presentes por vezes é necessário reduzir a escala da
complexidade recomendando exercícios que estejam direcionados mais para
uma fase ou momento de jogo ou para um determinado setor da equipa
(Pereira, 2017, 2021a, 2021b). Tal não significa que no mesmo exercício não
possam estar os outros momentos e fases e outros setores, porém as
variáveis estruturais estão pensadas de modo a potenciar uns mais que
outros.
325
sentir que o cruzamento vai sair pela frente, eu faço o contra o primeiro movimento
é nas costas, às vezes só com um passo, e apareço pela frente. E isto aqui, como
um contramovimento, queres a bola no pé, primeiro o teu movimento é à
profundidade, e ele segue o teu movimento, e tu é que sabes, tu é que
determinas, tu é que sabes onde queres receber a bola, e vens para buscar.
Portanto, isto, quando tu, quando tu com jogadores deste nível, tens necessidade
e eles sentem necessidade de trabalhar coisas, subprincípios, coisas de pormenor
como os contramovimentos, só que depois vão para o jogo, e aquilo sai. Basta
recordar o Jackson e o Falcão. (VP, p. 9)
Ora, isso também foi uma coisa que eu mudei. Antigamente era um
treinador que quase que relatava o treino, entendes? Parecia um, oh pá, ali,
movimenta ali, faz aqui, vai acolá, entra ali, e às vezes parava. Só que tu, quando
começas a crescer de nível, se tu paras o treino, oh pá, eles matam-te, eles
começam, só se fores para uma cultura, é assim, se fores para Itália,
provavelmente, eles estão habituados àquele trabalho, já é uma coisa que está
culturalmente acomodada. (VP, p. 17)
Por último, logo a partir das primeiras sessões de treino dos períodos de
preparação semanal, assim como quando não é impossível realizar treinos
práticos, verifica-se que o treinador opta por fazer um tipo de treino que faz
326
essencialmente apelo à estabilização cognitiva dos comportamentos,
utilizando como ferramenta o vídeo e imagens:
...é como eu te digo, imagina isto: imagina que tu passas oito horas a viajar,
e às três e às quatro horas em aeroportos, que nem sequer o período… o dia da
recuperação vai logo ao ar, não é? Às vezes, o dia da recuperação já não o tens.
O dia da recuperação é a viagem que tens de fazer de oito horas, que aquilo é um
suplício. Portanto, aquilo que tu podes fazer é recuperar, por isso é que o
vídeo, muitas vezes, torna-se fundamental para aquele dia. (VP, p. 23)
327
questões se relacionaram com a periodização treino, onde se percebe que a
estrutura utilizada para guiar todo o planeamento tem como base o
morfociclo-padrão. Tal ficou claro com a resposta à pergunta: “É o morfociclo,
não é?” (AFV, p. 24 e 25).
Claro. Mas isso é aquilo que eu te tenho dito, não é? Os exercícios são
sempre para um determinado jogar, não é, e depois, é em função dos dias
nós vamos, é claro que um exercício direcionado para tensão, é diferente de
um exercício direcionado para duração, mas isso é a minha experiência, a
nossa experiência, pronto. São os factos. E, depois, não é só isso, também,
temos alguém na equipa técnica que que nos consegue, que nos avalia se o
exercício esteve dentro dos parâmetros que nós pretendíamos, ou não, percebes?
E dá para nós ajustarmos. Vamos ajustando. (VP, p. 24 e 25)
328
apenas variar em função do número de jogo que pode haver durante a
semana:
Não, não há diferença nenhuma. Pode haver é ali numa semana, imagina
que eu quero, pá… imagina que eu quero concentrar… imagina que há ali uma
semana que já trabalhamos em equipa durante duas semanas, e depois, quero
concentrar ali, entendes? A única diferença pode ser essa, não é? É…é eu querer
ver como é que estamos em termos de como é que estamos em termos de jogo,
não é? Querer ver até que ponto nós evoluímos em termos de jogo, então, às
vezes, até, normalmente, porque nós arranjamos às vezes, o que é que acontece,
às equipas em todo o mundo? Arranjam torneios, não é? Há um torneio que tu
tens três jogos, pronto, essa semana pode ser diferente das outras, por causa da
densidade dos jogos, entendes? (Entrevistador: Ok.). Mas não… em termos de
conteúdos, em termos de conteúdos, enquanto tu transmitires conteúdos e
trabalhar conteúdos, é exatamente a mesma coisa. (VP, p. 21)
329
informação, isto é o que nós queremos em termos globais, não. O que é que
eu faço? Vamos introduzindo, vamos introduzindo, vamos construindo o
nosso jogar de uma forma quase impercetível que, quando eles dão por ela,
estão a fazer aquilo, percebes? (VP, p. 11 e 12)
330
feira, no dia da velocidade, voltamos outra vez a espaços mais reduzidos, não tão
reduzidos como o dia da tensão, mas mais reduzidos, a promover ações rápidas,
decisão rápida, deslocamentos rápidos, e pronto, e depois é o dia anterior ao jogo,
o dia da reação. Entretanto, a introdução daquilo que é estratégico, escolho um
exercício. Imagina, uma equipa que é muito compacta, que é agressiva num
corredor e nos liberta o lado contrário, eu crio exercícios que nos promova e que
nos permita sair daquela pressão e variar no lado contrário. Uma equipa que nos
pressiona alta, o que é que nós fazemos? Fazemos o estudo, a análise dos
espaços que vamos encontrar, e os espaços que eles gostam de explorar. Pronto,
mas é o lado estratégico segundo o nosso jogar. (...). Bolas paradas,
normalmente, dois dias de bolas paradas. Imagina que jogamos ao domingo,
trabalhamos sexta e sábado de bolas paradas. As defensivas, primeiro e,
normalmente, no dia anterior, as ofensivas. Pronto, e é assim que é o nosso
operacionalizar. (VP, p. 19 e 20)
...é como eu te digo, imagina isto: imagina que tu passas oito horas a viajar,
e passas às três e às quatro horas em aeroportos, o dia da recuperação vai logo
ao ar, não é? Às vezes, o dia da recuperação já não o tens. O dia da recuperação
é a viagem que tens de fazer de oito horas, que aquilo é um suplício. Portanto,
aquilo que tu podes fazer é recuperar, aquilo que o dia podes fazer é
recuperar, lá está, por isso é que o vídeo, por isso é que o vídeo, muitas
vezes, torna-se fundamental. Mas isto porquê? Para te explicar. Às vezes,
jogamos, mas ao outro dia viajamos para outra cidade, vamos para o Sul. Pá, oito
horas, oito horas, e temos jogo e temos treino, porque é obrigado a deixar-nos
fazer um treino no estádio. Eu tenho aqui sequências de jogos em que os
jogadores me pedem para ficar a dormir porque nem sequer querem ir, nem
sequer querem fazer esse treino no estádio, entendes? O que é que tu podes
fazer num espaço desses? Não podes fazer nada. Tens é de recuperá-los o
melhor possível, e apresentar um vídeo que não pode ser longo, tem de ser uma
coisa muito bem feita, para eles ficarem com a ideia do adversário, entendes?
Nesse período tão curto de tempo e com tanta viagem, nós abdicamos até de ver
o nosso último jogo, imagina o que é estar a ver um vídeo num dia, no outro dia
dás-lhes outro vídeo, e nós até abdicamos, muitas vezes, nessas alturas, de
apresentar o vídeo do jogo anterior e, então, trabalhamos só o vídeo do adversário
seguinte. Portanto, quando isto acontece, normalmente, recuperamos para jogar
outra vez. (VP, p. 23 e 24)
331
2.9.4. Em síntese
Figura 11
332
O sucesso da sua carreira foi um dos motivos pelos quais Vítor Oliveira
foi incluído na presente investigação. A entrevista foi realizada em outubro de
2020, na praia de Angeiras, onde viria a falecer no final do mês seguinte.
Atendendo a esse fatídico acontecimento a análise à entrevista que agora se
apresenta, não foi objeto de validação por parte do treinador.
Foi assim uma coisa de alguma forma imprevista. Eu quando fui para
treinador de futebol nem sequer tinha habilitação. Não tinha feito nenhum curso de
treinadores, não apontava para treinador. Faltavam-me 3 cadeiras do quarto ano
da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto de eletrotecnia, e faltava-
me o quinto ano e a minha ideia, com trinta anos sensivelmente, e com uma época
em pleno no Portimonense, pensava vir para o Porto, continuar a jogar e acabar o
curso de engenharia. Por insistência do Manuel José e do presidente do
Portimonense, quiseram que eu fosse treinador. Resisti ainda durante quinze dias,
mas depois acabei por aceitar pondo como condição, e acho que foi um fator
muito importante, que o clube contratasse o professor Monge da Silva. Na altura
era uma referência em Portugal a nível da preparação física, a direção aceitou e
eu comecei como treinador. (VO, p. 1)
333
Depois de ter começado a treinar, o gosto pela profissão foi
aumentando e decidiu investir na sua formação teórica. Nesse sentido,
frequentou todos os cursos de treinador e foi um dos inscritos no primeiro
curso de quarto nível de treinador de futebol que foi realizado em Portugal.
Tal pode-se verificar através da transcrição:
334
exercícios que necessitamos para uma situação, para outra, para as diversas
vertentes do treino, e potencializar esses exercícios. Se conseguirmos
potencializar esses exercícios a equipa melhora substancialmente, sem
qualquer tipo de dúvida. E eu aprendi esta situação que é extremamente
importante, e que me ajudou muito ao longo da minha carreira. (VO, p. 3)
335
2.10.2. A ideia de jogo adaptada aos jogadores
Não adianta jogar com muitos avançados se não tivermos médios que
façam a bola lá chegar. Não adianta defendermos com muitos defesas se forem
completamente desorganizados. Todas essas situações correspondem a uma
determinada organização que é feita pelo treinador, pode ser com muitos
defesas, com muitos médios, com muitos avançados, mas
fundamentalmente terá que ter equilíbrio, terá que ter uma ocupação racional
de todo o espaço de jogo, terá que ser racional, terá que fazer um bom
aproveitamento das caraterísticas do jogador, mas no fundo, o importante
das estruturas que utilizamos no futebol é a organização. Nós podemos jogar
com quatro defesas, três médios e três avançados, ou três defesas, cinco médios
e dois avançados, isso não me parece muito importante. Parece-me importante é
que os jogadores percebam qual é a função de cada um em cada estrutura que
vão utilizando ao longo do tempo, e depois, que o treinador perceba, também, que
as estruturas são muito importantes, se forem de encontro às caraterísticas dos
jogadores. (VO, p. 4)
Ou seja, o treinador pode ter o seu modelo, pode ter a sua ideia de
jogo, mas se não tiver jogadores que a possam desempenhar bem, vai ser
sempre uma ideia errada e vai conduzir ao fracasso. As estruturas, os
modelos, tudo o que quisermos relativamente à organização da equipa, terá que
estar sempre subjugado à qualidade dos jogadores que temos, e às caraterísticas
dos jogadores que temos. Não vale a pena inventar. (VO, p. 4 e 5)
336
2.10.3. O treino para melhorar os comportamentos
Acresce que segundo Vítor Oliveira, o que se fizer no treino vai ser
reproduzido no jogo e, portanto, é indispensável que os jogadores vão
interiorizando essa reprodução, que vão sentindo que aquilo que fazem no
treino é útil para aquilo que têm que fazer no jogo. Em relação ao modo como
o treinador olha para as sessões de treino, Vítor Oliveira, diz o seguinte:
337
importantes para o treinador é a oposição. O mesmo se depreende através
do seguinte excerto da entrevista:
Não sou apologista de treinos de onze contra zero, tem que ter sempre
alguma oposição. Pode não ser aquela oposição que vamos deparar em
termos de número, mas fazemos ali alguns obstáculos que vamos
aumentando, até chegarmos a uma situação real. Eu acredito pouco naqueles
exercícios em que a nossa equipa principal que está a fazer o exercício tem tudo
facilitado, e faz tudo muito bem feito. Eu sou mais de ir ao real, de pôr os
jogadores numa situação muito mais próxima do jogo. Podemos, numa primeira
fase, para eles perceberem as movimentações, os mecanismos, os espaços que
têm que ocupar, diminuir os espaços, e diminuir o número de jogadores, mas
acabamos sempre, qualquer exercício, acabamos sempre numa situação real,
numa situação de igualdade numérica, às vezes até de inferioridade numérica,
mas sempre de grande proximidade entre uma equipa e outra para que o
obstáculo seja muito mais perto daquilo que vai acontecer. (VO, p. 16 e 17)
Importa também, segundo Vítor Oliveira, que ao mesmo tempo que são
representativos do jogo (i.e., que contêm as caraterísticas essenciais do jogo
de futebol), sejam também, direcionados para a especificidade tática de uma
forma de jogar. Com a manipulação de algumas variáveis pode-se tornar
mais fácil o aparecimento dos comportamentos específicos do modelo de
jogo que se pretendem depurar. O mesmo se depreende a partir da
transcrição abaixo:
Muitas vezes há aquelas modas, de exercícios que são moda, e que nós
utilizamos porque são muito giros, e são muito bonitos, mas no fundo,
espremendo, dá pouco sumo. Nós temos que ter muito cuidado na escolha dos
exercícios, é preferível ter menos, mas bons, que nos façam evoluir, e depois
temos que fazer a gestão desse exercício, a manipulação do exercício. Aumentar
o volume, aumentar o espaço, diminuir o número de toques, aumentar o período,
fazer ali uma gestão do exercício que vá de encontro àquilo que nós pretendemos.
Agora, é muito importante que o exercício seja devidamente ajustado aos
jogadores que temos, ao modelo de jogo que temos, aos princípios de jogo
que temos, àquilo que pretendemos que a equipa vá reproduzir no domingo.
(VO, p. 29)
338
alguma abertura para se treinarem várias soluções dentro da identidade da
equipa. O que faz perceber que os princípios de jogo não são regras
fechadas. O mesmo se depreende a partir do excerto:
339
juntamos os alas, depois tiramos os defesas, fazemos só os médios defensivos
mais os dois homens que jogam pela frente, se jogar num 4/2/3/1, provavelmente,
utilizávamos, depois inserimos o ponta de lança, e vamos fazendo, já não é de
uma forma analítica, já é de uma forma, digamos, global. Global vamos treinando
as estruturas. A estrutura defensiva, a estrutura de meio campo, a estrutura
ofensiva, e depois juntamos tudo. E depois voltamos a desmontar consoante
as dificuldades que vamos deparando no sentido coletivo. O sentido coletivo
digamos que é a prova final, metemos os onze, é um exame, depois vemos onde
é que estão os erros, vamos atrás e vamos tentar retificar esses erros
potencializando aquilo que já ficou bem feito na primeira vez. (VO, p. 20).
Não quer dizer que, analiticamente, uma vez ou outra, não tenha que treinar
os aspetos físicos. Às vezes trabalhamos também analiticamente. (VO, p. 21).
Que tipo de exercícios é que fazem mais? Quando é mais analítico? (AFV, p. 22).
Eh pá, treinar velocidade, trabalho, por exemplo, de resistência, fazemos
exercícios específicos para o trabalho de resistência, mais capacidade
aeróbica, fazemos, no início de época, fazemos alguns exercícios analíticos,
mas fundamentalmente, ou percentualmente, é em forma jogada. Até porque
o jogador fica mais motivado. (VO, p. 21 e 22)
340
2.10.3.2. Periodização de acordo com a especificidade e
representatividade
Assim, importa, segundo Vítor Oliveira, que a época seja dividida num
primeiro período, que se designa de preparatório, que dura sensivelmente
cinco semanas, e um período competitivo, que começa e termina com o início
e o fim das competições oficias.
...um aspeto que, para mim, cada vez é mais importante, e eu noto que é
fundamental, que é criar um grupo coeso em termos psicológicos. Termos de
grupo, um grupo coeso, uma boa relação, uma relação de empatia entre o
treinador e os jogadores, sabendo cada um qual é a sua posição. Criar uma
mentalidade ganhadora, também tem a ver com os aspetos psicológicos, criar uma
confiança de grupo em que os jogadores possam perceber que terão de ser um
por todos e todos por um, e que em todas as circunstâncias estarão protegidos
pelo grupo, nas situações boas, ou nas situações más, por forma a que os
jogadores se sintam felizes e consigam exteriorizar bem as suas capacidades. Eu
cada vez acredito que esta vertente, a vertente psicológica, está a ganhar mais
força no futebol. (...). Ter uma boa relação com os jogadores, ter uma relação de
confiança, os jogadores acreditarem plenamente no treinador, é meio caminho
andado. É evidente que é preciso treinar bem, não é ter uma boa relação e depois
não precisamos de treinar. Não. Precisamos de treinar, só que treinamos com
muito mais prazer, assimilamos muito mais facilmente e capacitamo-nos de que
somos capazes de fazer coisas muito mais importantes que aquilo que estávamos
habituados a fazer. (VO, p. 21)
341
exercícios analíticos, mas fundamentalmente, ou percentualmente, é em forma
jogada. Até porque o jogador fica mais motivado. (VO, p. 22)
Eu não acredito muito, embora se use agora muito, o tal modelo de jogo,
com os tais princípios bem definidos, e não abdicamos daquilo, eu não acredito
que uma equipa tenha sucesso se não tiver um plano A, um plano B e um plano C,
pelo menos. A equipa terá que ter dois ou três planos bem trabalhados, bem
estudados, bem sistematizados, e isso, realmente, é preciso muito trabalho
coletivo, para percebermos que podemos mudar com alguma facilidade de
uma estrutura para a outra, de um modelo de jogo para o outro, se for
necessário, até por imposição da equipa adversária, muitas vezes. (VO, p. 10)
342
O treino terá de ser sempre diferenciado, porque a intensidade terá de ser
diferente. Nós não vamos treinar à terceira semana com a mesma intensidade
com que treinamos à primeira. Terá que haver ali um upgrade, terá que haver ali
uma plataforma que vais subir. É uma escada, é uma escada, e vai subindo, por
conseguinte, vamos mudando. Vamos mudando, podemos não mudar muito os
exercícios, mas mudamos as regras, e essas regras vão-se refletir no
desenvolvimento do exercício. Aquilo são cinco semanas que são, normalmente,
progressivas, que vamos aumentando em todos os aspetos. Vamos aumentando
inclusive, o volume da informação. A informação conforme o jogador vai se
adaptando a receber a informação, vamos aumentando o volume de
informação daquilo que queremos para o futuro, vamos aumentando a
intensidade do treino, vamos aumentando a exigência relativamente à
execução dos exercícios, que terá que melhorar, não podemos estar a
regredir. Temos que trabalhar de uma forma que os jogadores sintam que
estamos num processo evolutivo. Aquilo é um processo de assimilação e de
evolução. Se não conseguirmos assimilar e evoluir, vamos entrar mal no
campeonato. (VO, p. 23 e 24)
343
que vai acontecer passado quatro ou cinco semanas, nos jogos, que vamos
chegar ali aos setenta minutos e as equipas já acusam um certo cansaço.
Trabalhamos as diversas vertentes, conforme entendermos que são necessárias,
eu não tenho um padrão tipo, aquele padrão, é isto assim, rígido, não tenho. Na
pré-epoca vamos trabalhando, de manhã mais os aspetos físicos, de tarde os
aspetos técnicos e táticos. (VO, p. 25)
344
às vezes até algo analítica, paramos muito, eu paro muito o treino, para retificar
posições, para ver os posicionamentos, para ver o corredor que nos pode facilitar,
o tipo de jogo que nos pode ajudar a chegar lá, fazemos isso na sexta-feira.
Sábado, jogos criativos, um bocadinho de trabalho de velocidade, e fazemos a
leitura do que fizemos na quinta-feira e na sexta-feira. Ali quinze minutinhos quase
estático. Quase estático, sem carga. Fazemos tudo, relembramos tudo o que
fizemos na quinta-feira e na sexta-feira, organização ofensiva, organização
defensiva. No sábado, também fazemos exercícios de velocidade, normalmente
associados com bola, um joguinho qualquer que ative a velocidade e, se eu tiver
dúvidas, fazemos um bocadinho de organização, entre dez a quinze minutos. Se
não tiver dúvidas, fazemos um joguinho a meio campo só para marcar bolas
paradas, com incidência grande nas bolas paradas. Esse padrão não muda muito,
o que muda é os exercícios mediante aquilo que nós sentimos em que estivemos
mal no jogo de domingo. Eu faço sempre uma análise e defino os exercícios que
precisamos de fazer na terça-feira, nos períodos de meia hora de quarta e quinta
feira, potencializamos esses exercícios. Mas a estrutura em si, não muda muito.
(VO, p. 25 e 26)
2.10.4. Em síntese
345
Todavia, Vítor Oliveira entende que principalmente no início da época
alguns dos exercícios propostos devem ser mais direcionados para o
desenvolvimento de algumas capacidades condicionais como sendo, a
resistência, ou a velocidade.
Na Figura 12, apresenta-se uma ilustração das palavras que mais vezes
foram sendo proferidas ao longo da entrevista.
Figura 12
Tal como sugerido por Miles e Huberman (1994), foi crucial fazer a
análise individual de cada um dos participantes na medida em que assim, foi
possível compreender a dinâmica de cada treinador antes de se passar ao
cruzamento e discussão dos resultados. Com este estudo individual, será
agora mais fácil aumentar a compreensão e a explicação global, examinar as
similaridades e as diferenças, traçar configurações e direções, bem como
promover a transferibilidade.
346
direção de determinado prisma ou experiência, apontar as semelhanças e as
dissemelhanças entre os participantes, bem como analisar e interpretar as
suas óticas à luz da investigação e da literatura existente (Miles & Huberman,
1994).
347
autonomia que lhes permitem expressar uma determinada estética visual
criativa e imprevista.
348
treinadores entrevistados estas intencionalidades são fruto de princípios que
no seu conjunto caraterizam o que eles designam ao longo das entrevistas,
atribuindo-lhe o mesmo significado, de “ideia de jogo”, “modelo de jogo”,
“padrão de jogo” e “filosofia de jogo”.
Entendo que é muito importante ter uma ideia e transmiti-la de forma muito
concreta. É importante que os jogadores saibam desde o início aquilo que
queremos em termos de organização coletiva nos vários momentos do jogo e por
isso tentamos logo colocá-los em prática num primeiro jogo e fazer a construção
do planeamento a partir daí. (BL, p. 8)
349
Portanto, tal como foi sendo sugerido na primeira parte da nossa
dissertação, mais concretamente no segundo ponto do primeiro capítulo, o
êxito individual dos jogadores e coletivo da equipa parece depender, também
na opinião dos treinadores entrevistados, de uma representação específica
das diversas relações expressas através de princípios que concorrem para
que os jogadores expressem um combinado de padrões de interação
percetiva, de decisão e de gestão do jogo, que definem as propriedades
invariáveis sobre as quais se desenvolve o jogo, tal como sugerido por alguns
autores, entre os quais Frade (2013a), Guilherme (2004) e Pinto e Garganta
(1989).
350
...eu quero uma equipa que seja predominantemente de controlo do
jogo com bola, é o nosso propósito, mas que seja muito forte e equilibrada
que transite defensivamente muito bem, que defenda muito bem e que seja
muito forte nas transições ofensivas. Portanto eu não sou apologista de ter
uma equipa forte, às vezes eu digo, a minha equipa é muito forte em organização,
eu prefiro que minha equipa seja muito forte em organização, mas que seja uma
equipa que seja muito forte no seu processo defensivo, que seja muito forte a
transitar também, eu prefiro assim. Portanto esse é o meu propósito, é tentar que
a minha equipa seja muito forte em tudo e não que seja uma equipa
predominantemente de posse, só posse. E depois? Não se equilibra, não transita
defensivamente, não sabe utilizar os espaços do adversário a determinada altura
em que minha equipa seja obrigada a defender, tem espaço para contra-atacar e
não saiba utilizar velocidade. Eu acho que é possível treinar-se isto tudo. (CC,
p. 7)
351
A partir da transcrição das entrevistas de quatro treinadores, pode-se
perceber a ideia que pretendem passar sobre como os jogadores devem
interpretar as ideias/modelos/padrões/filosofias de jogo:
352
Assim, para que as ações possam ser consideradas específicas,
depreende-se, através do discurso dos treinadores entrevistados, tal como
alguns autores defendem, entre os quais Frade (2011, 2013a, 2013b)
Garganta (1991, 2000) e Guilherme (1991, 2004), e tal como foi sugerido no
ponto dois do capítulo um, que é imperativo a existência de um determinado
contexto (i.e., princípios do modelo de jogo). Sem a referência a esse
contexto, as ações esvaziam-se nelas próprias pois não têm qualquer tipo de
referência. Esta ideia pode ser percebida através da transcrição do seguinte
excerto de entrevista:
Por exemplo, uma equipa que joga em bloco baixo. A forma de jogar
idealizada pelo treinador, influenciada pelas caraterísticas dos jogadores, é
colocar o passe longo, na profundidade, para potenciar ou para explorar as
caraterísticas dos seus médios-ala e do ponta de lança. Neste caso, o passe
longo, sob o ponto de vista da técnica, é bem executado. Porquê? Porque o passe
chega onde o treinador quer. O central faz o passe, o passe chega ao ponta de
lança, há continuidade no jogo. No entanto, provavelmente esse é um tipo de
passe que já não fará muito sentido numa equipa com outra ideia de jogo, por
exemplo uma ideia de jogo em que o bloco defensivo pode estar posicionado num
bloco médio e em que o treinador procura um ataque mais posicional e
organizado. Ou seja, por si só, analisada do ponto de vista individual, o passe
longo, enquanto ação técnica, até pode ter sido bem executado porque teve
eficácia uma vez que chega ao ponta de lança e há seguimento na ação. Porém,
se levarmos em conta a ideia de jogo implementada para a equipa, apesar de até
ter tido sucesso, se calhar não faz grande sentido. Ou seja, eu acho que
qualquer ação técnica para ser de qualidade tem que estar associada com a
ideia de jogo. (ETSLB18/19, p.4)
353
análise efetuada às entrevistas, cada vez mais camaleónicas e apresentam
dinâmicas cada vez mais complexas e exigentes. No entanto, sem perder a
identidade (variáveis especificadoras/princípios do modelo de jogo) que as
carateriza. Face a esta constatação, a ideia que foi sugerida no segundo
ponto do enquadramento teórico, que referia que as dinâmicas táticas atuais
apresentam uma geometria topológica, parece ajustar-se também ao
discurso dos treinadores.
354
Porém, apesar de nomenclaturas diferentes, parece existir concordância
em relação à origem dos comportamentos que as equipas manifestam. Ou
seja, tal como alguns autores sugerem, por exemplo Frade (2013a, 2013b),
Gomes (2008), Guilherme (1991), também os entrevistados afirmam que os
gostos que cada treinador tem relativamente à forma como gosta mais que os
jogadores se comportem, acabam por ser modelados em função de cada
contexto.
355
O treinador tem de seguir um caminho. Por isso é importante escolher um
caminho para a partir de daí treinar seguindo esse caminho e essa ideia de jogo.
No entanto, entendo que tem que haver um equilíbrio, entre aquilo que é o
caminho que o treinador quer e aquilo que é o contributo de cada um dos
jogadores, aquilo que cada um oferece. (...). Por isso, entendo que tem que haver
um caminho e tem que se perceber até que ponto a ideia do treinador se ajusta.
Perceber até onde é que os meus jogadores podem contribuir, até onde
podem ir para que eu tenha sucesso. (ETSLB18/19, p. 9)
Na China, eu não posso aspirar a ter o futebol que o Porto jogava. (...)
Apesar dos grandes princípios estarem lá, e de eu gostar de um jogo de
posse, de dominância, agressivo, temos que modelar em função do contexto
(...) Agora, os grandes princípios, aquilo de jogar e ser agressivo e de reagir com
agressividade à perda de bola, do pressionar alto, está lá. Agora, eu trabalho,
também, muito mais o momento de transição ofensiva, trabalhava pouco, mas
agora trabalho mais. (VP, p. 4)
356
pormenores da forma de jogar, sem pôr em causa a matriz identitária da
equipa. A esta necessidade operacional, os treinadores atribuem o termo de
estratégia. A ideia de adaptar pormenores pode ser depreendida a partir das
quatro transcrições seguintes:
357
feminina, o treinador salienta que face ao momento de desenvolvimento que
atravessa, a conceção original de como se pretende que a equipa resolva os
problemas em campo, sofreu uma grande influência. O mesmo pode ser
percebido através do excerto da entrevista ao selecionador Francisco Neto:
Depois há outras questões que são, dentro daquilo que é a nossa ideia e
aquilo que pretendemos, com os recursos que temos, termos que, não perdendo
aquilo que é a nossa filosofia, não perdendo aquilo que é a nossa ideia, ter de
fazer algumas adaptações por mais que queiramos jogar em posse com uma
equipa que tem menos recursos, há que saber o que é que vamos fazer e em
que contexto é que estamos, quando é que o podemos fazer. Se num
contexto onde somos dominadores, ou se num contexto onde não o vamos
ser, e aí, ter no nosso modelo, algo mais do que só nos batermos pela posse
e pela posse e pela posse, não é? Não é a mesma coisa treinar o Barcelona ou
o City do que treinar, depois, outras equipas que têm outro tipo de argumentos,
como é evidente. (PB, p. 16)
358
importância construir um modelo de jogo, fazem-no porque acreditam que a
eficácia das suas equipas parece depender das dinâmicas táticas lá
contempladas. É a especificidade coreografada que irá permitir aos jogadores
serem bem-sucedidos na resolução dos problemas que vão emergindo no
decorrer da partida. Deste modo, os treinadores entendem que é
imprescindível denotar coerência entre os modelos de jogo construídos para
jogar e o jogo praticado.
359
função de algumas particularidades no modelo de jogo do adversário) e com
o desenvolvimento dos índices físicos, técnicos, bioenergéticos e
psicológicos que permitem que se jogue de determinadas maneira.
360
O teu treino é sistematicamente sustentado no jogar que queres
construir, é natural que as coisas comecem a aparecer, e inicialmente, começam
a aparecer e depois vão evoluindo para um nível maior, porque é como eu te digo,
então se tu não perdes tempo, se tu não desperdiças tempo com coisas
supérfluas, não é? Porque o nosso treino é para o nosso jogar. Se o nosso
treino é para o nosso jogar, é natural que vá crescendo, percebes? O nível vá
crescendo e que esse jogar apareça naturalmente. (VP, p. 16)
361
tomada de decisão que os treinadores procuram potenciar pode ser explicada
a partir da perspetiva ecossistémica da tomada de decisão.
Se estiver a fazer 6 contra 3, em que, quem perde a bola tem que reagir
automaticamente, e eu estou a trabalhar um comportamento da minha equipa, em
que depois, esse comportamento, eu quero vê-lo noutra situação noutro exercício,
ou noutra situação de treino, ou noutra situação do jogo, e aí, estou a trabalhar
comportamentos específicos, que têm a ver com a parte tática e com a parte
técnica e, obviamente, com a parte física e mental também, não deixam de lá
estar todos os fatores do rendimento, dentro do exercício. (PB, p. 15)
362
Portanto, em cada tarefa prática específica e representativa do jogo, os
treinadores parecem ter a preocupação de resolver ou aperfeiçoar um
problema tático que emergirá a partir dos constrangimentos impostos à
exercitação e, simultaneamente, de promover o aparecimento de um padrão
de contração muscular e a incidência de um sistema bioenergético em
predominância que lhes dão suporte aos comportamentos.
Num caso prático, uma tarefa poderá, por exemplo, possuir como
constrangimento o facto de os jogadores terem êxito apenas através da
receção do passe na linha de golo adversária. Tal constrangimento enfatizará
a desmarcação em rutura por parte do jogador atacante sem bola. Esta é
aliás, uma estratégia que parece ir de encontro a alguns modelos
pedagógicos de ensino dos jogos desportivos, entre os quais o modelo de
ensino do jogo para a sua compreensão (Bunker & Thorpe, 1982).
De facto, tal como foi sugerido no ponto três do primeiro capítulo e tal
como alguns autores defendem, entre os quais Bunker e Thorpe (1982) e
Musch e colaboradores (2002), sem o exagero, os jogadores poderão
manter-se menos afinados percetivamente com os parâmetros ecológicos
essenciais que se revelam fundamentais para a tomada de decisão. Importa
realçar que apesar de se manipularem as variáveis estruturais da tarefa, tais
como o número de jogadores, as dimensões do espaço da tarefa ou as
regras, para que aconteçam mais vezes os comportamentos definidos, tal
manipulação não deve pôr em causa os traços gerais do jogo de futebol
(Bunker & Thorpe, 1982).
363
De acordo com a análise às entrevistas dos treinadores, pode-se dizer
que são uma espécie de formas baseadas no jogo, adaptadas de modo a
propiciar que aconteça mais vezes os princípios do modelo de jogo
específicos que se pretendem potenciar, obedecendo a um determinado
regime bioenergético em predominância e a um definido padrão de contração
muscular.
364
retiramos um bocadinho daquilo que é o padrão de problemas que nós
achamos que vamos encontrar, a forma como nós também queremos criar
problemas aos adversários e em 5 unidades de treino, que é aquilo que
normalmente nós temos para preparar um jogo internacional, o primeiro jogo
internacional, o segundo já só temos 3 unidades de treino. (FN, p. 7)
Ora, se eu vou treinar a transição ofensiva, que era o exemplo que eu dei,
eu estou na organização defensiva, portanto, vou incidir sobre aquela
organização, porque tenho que ligar para transição, e esta ligação entre
organização e transição, é determinante. Eu, quando vou treinar transição
ofensiva, é o tema, mas a verdade é que não posso fazer transição ofensiva sem
ter organização defensiva. (JP, p. 18)
365
Em relação à importância da representatividade dos exercícios, os
pontos de contacto entre esta necessidade, invocada por alguns autores,
entre os quais Araújo e colaboradores (2007), Davids e colaboradores (2006)
e McPherson (1993, 1999) e as perspetivas dos treinadores são notórios e
podem ser facilmente constatáveis através das quatro transcrições das
entrevistas aos participantes, a seguir expostas:
Quase todos os nossos exercícios são jogo, quase todos eles. Tirando
aqueles, por exemplo, há pouco dei o exemplo de sexta-feira, que é uma situação
diferente porque nós queremos um mínimo de estorvo possível, porque treinamos
bem durante a semana e quero o mínimo de estorvo possível os nossos exercícios
procuram contemplar jogo. Quando eu digo jogo terão uma organização
ofensiva, terão organização defensiva, terá transição ofensiva e defensiva,
portanto quanto mais exercícios tivermos assim mais perto nós estamos de
conseguir simular o jogo. Os nossos exercícios têm muito essas
caraterísticas. (CC, p. 11)
“Eu creio que, a maior parte deles, e aqueles em que eu acredito mais, em
primeiro lugar, são com oposição...” (PB, p. 23).
366
De facto, esta opção está amplamente difundida na literatura e,
segundo Brunswik (1956), Coyle (2009), Klein (1998), Roca e colaboradores
(2012), Roca e Williams (2017) e Syed (2010), ela parece ser apropriada na
medida em que a maioria das decisões eficazes em competição decorre da
capacidade do perito em reconhecer a situação como típica e que tal tende a
melhorar de acordo com o aumento das horas de prática em que há
oportunidade de tomar decisões idênticas às que acontecem durante a
competição. Isto leva o jogador a identificar e a associar à situação em curso,
uma ação capaz de ser eficaz.
367
...exercícios que eu gosto de fazer todos os dias, sistematicamente, com os
avançados, com os extremos, com os laterais, com os centrais, com todos eles, na
repetição de uma ação em que eles estão a menos, ou que nós achamos
importantes para o nosso jogo. Movimentos circulares de avançados, se eu aposto
muito nisso, no final do treino, tenho esses movimentos. Diagonais de fora para
dentro, dos laterais e extremos, e repetimos isso. Diagonais do médio centro,
entre lateral – central, e fazemos isso. Passe dos centrais, diagonais, e fazemos
isso. Isso eu acho importante complementar. (JP, p. 21 e 22)
368
modelo de jogo nas diferentes fases e momentos, quer ao nível individual,
setorial, intersetorial, coletivo e grupal.
É muito difícil treinar quando se começa a jogar de três em três dias. Por
isso, temos que ser muito específicos e temos de ser muito concretos naquilo que
queremos treinar. A fazer esse tipo de calendário, com jogos de três em três dias
de exigência máxima, há que ter esse cuidado. Por isso aquilo que nós
pretendemos é ser o mais objetivo possível e por vezes tem que se fazer de uma
forma setorial, intersetorial. Isto varia muito em função da semana, se tem jogo a
meio ou não e em função do regime bioenergético que nós entendemos que é o
melhor para aquele dia. Algumas vezes, com jogo a meio da semana, há coisas
que são treinadas no campo, mas a passo, com o mínimo desgaste. (ETSLB18/19,
p. 15)
Sim. É um bocadinho por aí. Acima de tudo, jogando. É aquilo que nós
queremos. Muitas vezes alocando algumas partes do jogo, ou retirando do jogo
algumas partes que nós queremos trabalhar, exercitar, priorizando isso como uma
prioridade, salvo seja, salvo a redundância, para esse treino, e depois,
exercitando, sistematizando aquilo que nós queremos que apareça, que apareça
no jogo e, em função do dia, à escala a que nós queremos que ela aconteça. A
uma escala maior, a uma escala intermédia ou a uma escala menor, mas
sempre nesse registo. (FN, p. 10)
369
Através da análise às entrevistas fica-se também com a sensação de
que na generalidade os treinadores parecem aderir a um estilo de ensino
similar à descoberta guiada de Mosston (1988). Como se viu anteriormente,
no terceiro ponto do primeiro capítulo, é um estilo pedagógico, que pretende
estimular o jogador a direcionar por si próprio o caminho, sob a orientação do
treinador. Este estilo pedagógico que os treinadores adotam, pode ser
percebido através da seguinte transcrição:
...eu utilizo uma frase que é assim, as situações têm que ser mais levá-
los a que eles encontrem problemas e sejam capazes de os resolver. É quase
como um papel de guia, não é, quero dizer, você cria situações no treino, em que
quase que guia os jogadores a tomarem decisões. Não vai dizer: a solução é esta,
ou a situação é outra, a solução é outra. É muito mais interrogativo, sim, porque
obriga-os a pensar sobre a decisão que tomaram e aquela que poderiam ter
tomado, melhor. Portanto, é um guia orientado, digamos assim. Esse é o papel, no
meu modo de ver, dos feedbacks, porque você não vai dar soluções, não vai parar
e dizer, “não jogues para ali, vai jogar para acolá, não jogues com este, não
jogues com o outro”. Não. O que costumo dizer é: “perante esta situação, vê,
analisa. Tomaste esta decisão, vê isto. Aquela ali, vê aquela situação, assim, de
acordo com o que nós pretendemos, achas que podias fazer melhor?”. Porque o
erro não tem problema, o problema é quando as pessoas, ou quando os
jogadores, não têm consciência do erro. É uma aprendizagem que tem de ser
consciente, não tem que ser mecânica, nós não somos autómatas, nada disso,
percebe? Portanto, é quase como um guia orientado para levar os jogadores
pelo caminho que a gente pretende, manipulando os exercícios. (IV, p. 15 e 16)
370
Em relação a este tema, importa realçar que é uma noção consolidada
pela comunidade científica que a instrução96 em geral e os feedbacks em
particular assumem um papel de importância inquestionável e essencial para
cumprir com o legado da transmissão de conhecimentos, sendo que esta
pode ser considerada a essência do treino enquanto processo de ensino-
aprendizagem de um modo de jogar (Farias, 2007; Mesquita & Graça, 2009).
Sem dúvida nenhuma, tanto no jogo como no treino, no patamar onde nós
estamos inseridos, o feedback é essencial. Durante o exercício, sempre na
procura da correção, sempre na procura da prescrição, não no sentido de
direcionar o exercício, mas de ajudar a arranjar soluções para. Mas o grande
segredo do feedback é o timing com que tu o dás e a frequência com que tu o dás,
e essa é que é a dificuldade, e foi a minha dificuldade, também enquanto
treinador, que é uma coisa que tu vais adquirindo ao longo da tua experiência. Eu,
sem dúvida nenhuma, estou aqui há 6 anos, sem dúvida no início, falava muito
mais do que falo agora. E é também perceber um bocadinho, depois, em função
do tipo de feedbacks, também as características dos próprios jogadores, porque
isto tem um lado muito emocional, o jogo, e há jogadores que reagem muito bem a
feedbacks de uma forma e outros que reagem muito bem a feedbacks… uns
96
De acordo Siedentop (1987, 2002), o termo instrução refere-se aos comportamentos
de treino que fazem parte do reportório do treinador para comunicar informação substantiva.
Assim, da instrução fazem parte todos os comportamentos, verbais ou não verbais
intimamente relacionados com os objetivos do treino. Eles podem ser agrupados em
informação, demonstração e feedback (Rosado & Mesquita, 2009).
97
O feedback pedagógico situa-se na ponte de dois processos complementares, o
ensino e a aprendizagem e tem como finalidade auxiliar o jogador a aprender, a melhorar a
performance ou a aperfeiçoar uma funcionalidade (Farias, 2007; Mesquita & Graça, 2009).
Pode, ainda, ser entendido como um comportamento do treinador de reação à resposta
motora de um jogador, tendo por objetivo modificar essa resposta, no sentido da aquisição
ou realização de uma tarefa servindo como fonte de informação complementar e como meio
de motivação para a aprendizagem (Rink, 1996; Temprado, 1997).
98
Erros secundários são aqueles que advêm de um erro primário.
371
querem muito feedbacks emocionais, outros, feedbacks mais direcionados para
aquilo que é a tarefa, e tu tens que também saber perceber os jogadores,
perceber o timing onde podes intervir e fazer essa intervenção. Agora, eu acho
que nós temos que, e é nossa função, porque eu acho que, muitas vezes, o
exercício, por si só, não responde a isso, acho que nós temos que ajudar os
jogadores... (FN, p. 11)
372
praticante, desviando a sua atenção da análise interna das ações realizadas.
Neste sentido, segundo Temprado (1997), a comunicação das informações
sob a forma de síntese de várias repetições parece ser mais eficaz do que a
realizada após cada resposta motora.
99
Enquanto a primeira categoria remete para a informação centrada na qualidade do
processo, das interações e execuções, a segunda referencia-se à informação relativa ao
resultado pretendido (Mesquita, 2005b; Mesquita & Graça, 2009; Rosado & Mesquita, 2009).
100
Todavia, importa ter a noção de que no alto rendimento, parece fazer sentido que
quem dirige o processo de treino tenha a sensibilidade para perceber que os jogadores têm
formas particulares de executar determinadas ações. Assim, sugere-se que o treinador
direcione a sua atenção para a eficácia das ações, mesmo que elas se revistam de
caraterísticas aparentemente diferentes e que não eram as esperadas, mas que mesmo
assim permitam a emergência de padrões de auto-organização coletiva congruentes com a
identidade que se pretende
101
Deste modo, afigura-se pertinente que o conteúdo informativo do feedback para
induzir efeitos positivos nas aprendizagens, possua algumas caraterísticas, entre as quais se
destacam: informação emitida em consequência da observação de um conjunto de ações
motoras, referenciação aos propósitos do exercício focados durante a sua apresentação
(congruência); direcionamento da informação para a especificidade e respetivos conteúdos
(curto e específico), focalização de critérios orientados para a qualidade de execução, ou
para o resultado a obter (conhecimento da performance e/ou do resultado) (Farias, 2007;
Mesquita & Graça, 2009; Rosado & Mesquita, 2009).
102
Os feedbacks podem ser caraterizados quanto ao seu objetivo: avaliativo
(positivo/negativo), prescritivos, descritivos e interrogativo. Quanto à sua forma: auditivos,
auditivos/visuais, auditivos/cinestésicos. Ao momento: durante a execução, após a execução,
retardado (Farias, 2007; Mesquita & Graça, 2009; Rosado & Mesquita, 2009).
373
Por fim, em relação à temática da intervenção pedagógica ao nível do
feedback, importa realçar a fala de Carlos Carvalhal que nos diz que, na sua
opinião, as intervenções verbais no treino, ao nível do feedback, podem
passar e criar nos jogadores emoções relativas ao ato de jogar:
Mas se eu deixasse o exercício correr por si ele tinha um valor, outra coisa é
tu deixá-los viver os exercícios e em determinadas alturas dás feedback sobre
aquilo que aconteceu bem, dar feedback de correção sobre alguns aspetos que tu
estás a ver, ou parar inclusivamente o treino. Isto, evidentemente, é estar a marcar
o treino. A marcar com emoções, com emoção. (CC, p. 19)
103
O conceito de imagem mental significa algo que é construído pelo cérebro através
das modalidades sensoriais e é representado na mente. As modalidades sensoriais
consideradas são a visual, a auditiva, a olfativa, a gustativa e a somatossensorial. Falar-se
de imagens mentais é falar-se das imagens que são criadas através do sentir de todas as
modalidades sensoriais levadas a cabo pelas experiências vivenciadas. Desta forma, as
imagens mentais evidenciam de forma criativa propriedades, processos, relações e
interações do organismo com o mundo. A mente é formada por um fluxo contínuo de
imagens mentais, muitas das quais interligadas e o pensamento é o que se considera ser
esse fluxo de imagens que se move no tempo, em conformidade com as necessidades e
interesses das circunstâncias (Damásio, 2000).
374
O marcador somático é então um caso especial do uso de sentimentos
gerados a partir de emoções secundárias. Essas emoções e sentimentos,
marcadores somáticos, foram criados a partir dos resultados de determinadas
ações (Damásio et al., 1996). Tais marcadores, através da aprendizagem,
vão ficar ligados a determinados cenários que condicionam as tomadas de
decisão futuras.
375
das capacidades de ação de um jogador e as possibilidades (i.e.,
affordances) oferecidas num ambiente de competição específico.
376
jogadores desenvolvam com vista à resolução específica dos problemas que
emergem em competição.
377
mobilidade inicial três repetições sempre de vinte metros, também em regime
de competição, em corrida livre, sem travagem. No máximo, são estas as
nossas preocupações fora o futebol, da bola. (CC, p. 21)
378
possibilidade de aquisição de comportamento táticos específicos, o
desenvolvimento em predominância de um sistema bioenergético e de um
padrão de contração muscular em concreto), se recorra a tarefas mais
analíticas específicas e com um grau inferior de representatividade do jogo
(Reis, 2018).
379
capacidade de apreensão dos jogadores era muito elevada. Portanto, para te
dizer, muitas vezes mais no final nós fazíamos a estimulação por exemplo entre
quinto e o sexto ou sétimo jogo, fazíamos estimulação de alta intensidade e curta
duração e subtraíamos o trabalho tático. O trabalho tático era fundamentalmente
dado pelo vídeo. (CC, p. 24)
380
Partindo do princípio de que diferentes envolvimentos com diferentes
possibilidades de ação poderão ser associados a diferentes desempenhos,
presume-se que devido à imagética o imaginador está mais focalizado ou
sintonizado com a affordance mentalmente ensaiada, e mais suscetível de
realizar esta affordance no futuro (Raab & Boschker, 2002).
381
física, técnica, bioenergética e psicológica que permitam aos jogadores no
final deste período estar preparados para jogar noventa minutos.
382
Já é para preparar a equipa para, normalmente o que é que fazemos no
período preparatório? É o transmitir dos nossos princípios, é o ir construindo
o nosso jogar naquelas cinco semanas, para chegarmos ao primeiro jogo,
preparados para ganhar o jogo. Entendes? E não tem nada de diferente daquilo
que é a última semana. Só que a última semana, os pacotes já são maiores,
provavelmente, o tempo de recuperação, já recuperamos muito mais depressa,
entendes? E, portanto, a diferença é essa, mais nada. (VP, p. 20)
...um aspeto que, para mim, cada vez é mais importante, e eu noto que é
fundamental, que é criar um grupo coeso em termos psicológicos. Em termos de
grupo, um grupo coeso, uma boa relação, uma relação de empatia entre o
treinador e os jogadores, sabendo cada um qual é a sua posição. (VO, p. 21)
Estas ideias podem ser constatáveis através das duas transcrições que
se apresentam de seguida:
383
Eles até ficam admirados porque no primeiro treino, no primeiro treino,
chegas lá acima, a primeira coisa que fazes é, pegas nos 10, começas logo a
trabalhar sobre a tua ideia, sobre a tua identidade. (...) O nosso primeiro
treino é igual ao último. E é igual ao do meio. Nós não chegamos à pré-epoca e
damos grandes tareias aos jogadores. Não. Nós começamos logo a trabalhar uma
ideia e uma identidade, que para nós é fundamental, é aquilo que nós mais
gostamos de trabalhar, aquilo que mais nos identificamos. (...) Vamos imaginar,
nós na quarta-feira já metemos aqui, por exemplo, aquela situação em que
metemos 3 balizas, e vamos imaginar que temos uma equipa que vai jogar bloco
médio-baixo e que temos de chegar aos dois corredores com muita facilidade,
circular rápido, buscar os espaços interiores, o ponta de lança, buscar o espaço
exterior, começamos logo a trabalhar com 2 balizas cá, neste caso 2, mais uma 3,
certo? (CP, p. 16 e 17)
Importa dizer que a construção das situações práticas bem como a sua
sequenciação contemplam de forma articulada, simultânea e também
indissociável, para além da complexidade subjacente à porção do modelo de
jogo que é vivenciada, uma dominância bioenergética, um padrão de
contração muscular e a relação entre o esforço específico e o tempo de
prática total a que os jogadores são expostos, de modo a permitir que os
jogadores treinem e recuperem com vista à aquisição de performances
elevadas nos momentos de competição.
384
de um momento competitivo, tal como sugerido por Dupont e colaboradores
(2010) e Nédélec e colaboradores (2012) e sem esquecer que as próprias
sessões de treino também podem contribuir para a acumulação de fadiga.
385
Neste caso, de acordo com os treinadores entrevistados, sem perder de
vista o que está para trás no processo aquisitivo do modelo de jogo, ou seja,
o que tem vindo a ser treinado, bem como a relação dessa parte com as
demais, uma vez que o modelo de jogo se manifesta como totalidade
inquebrantável, afigura-se pertinente incidir dominantemente numa parte do
modelo de jogo (i.e., na transição defesa-ataque). Ao mesmo tempo, é
importante desenvolver de forma interligada os fatores do rendimento que
possibilitam esses comportamentos, propiciando indissociavelmente a
ocorrência de um determinado padrão de contração muscular e a
manifestação em predominância de um regime bioenergético em concreto.
Tudo isto contemplando simultaneamente a necessidade de recuperar do
esforço despendido no jogo e nas sessões de treino anteriores.
Importa ainda referir que, tal como foi sugerido no terceiro ponto do
primeiro capítulo da presente pesquisa, e tal como sugerem Frade (2011,
2013a, 2013b), Guilherme (2004), Teoldo e colaboradores (2015), para além
da necessidade de fazer emergir do processo de treino a identidade que
permite aos jogadores exprimirem-se em jogo e lidarem com as exigências
do contexto, é importante não descurar o lado estratégico (i.e., as forças e as
fraquezas do adversário que se vai defrontar).
386
se fazer, bem como um questionamento acerca da efetividade do que se
treina, porque e para que se treina.
A dimensão tática e psicológica acaba por estar sempre presente uma vez
que trabalhamos fundamentalmente em especificidade e tentamos recriar no treino
os problemas momentâneos que o próprio jogo encerra. A dimensão física
também, como referi anteriormente, a importância de articular o microciclo pela
natureza das contrações musculares e no respeito pela recuperação dos
jogadores. Assim no dia -4 temos sessões de treino onde os comportamentos
dos jogadores evidenciam um número elevado de esforços em potência, no -
3 em resistência, -2 velocidade, -1 regeneração, sempre numa relação
estreita com a dimensão tática, estratégica e psicológica. (ETSLB18/19, p. 19)
387
supor que eu tenho uma sessão dupla no menos cinco. O menos cinco, o que eu
tenho dominante, obviamente, são os nossos comportamentos coletivos, aquilo
que nós queremos que a equipa tenha como comportamentos. Pode ser, como há
pouco disse, a ligação da organização ofensiva com a transição defensiva, ou a
organização defensiva, ligação com a transição ofensiva, ou deixar o ciclo
dinâmico no todo, que aí, obviamente, tem um pouco mais de complexidade, mas
também o fazemos, mas eu posso ter uma dupla sessão, como lhe dizia aí. Então,
quer dizer que o treino da manhã, o regime é de duração um, à tarde também é de
duração um. Ou seja, naquele dia, eu só vou trabalhar o mesmo regime, apesar
de poder ter dominantes de treino diferenciado. Vamos supor que na quarta-feira
eu também tenho bidiário, então aí, menos quatro, eu vou ter tensão de manhã e
tensão à tarde, ou seja, o regime não muda, o que pode mudar, sim, é a
dominante e os conteúdos práticos. O menos três seria duração, em termos de
regime e os espaços mais alargados só. O menos dois seria velocidade, e no
menos um, tempo de reação, em termos de regime. (PC, p. 19)
Pronto, então imagine que tenho 1 jogo por semana. Domingo, jogo.
Segunda feira, descanso, não é que eu ache que seja sempre o melhor, mas
dominantemente, é assim que eu faço. Vivemos em Portugal, cultural e
emocionalmente os jogadores sentem-se mais confortáveis e sabemos que isso
tem um peso importante também, no treino, no jogo, no desempenho de cada um
dos jogadores e das equipas. Na 3ª feira, ainda estão em recuperação, logo,
situações que a estimulem. Na 4ª feira, força específica (tensão). Na 5ª feira,
resistência específica (duração). Espaços e períodos mais largos. Na 6ª feira,
velocidade especifica. Sábado, recuperação ativa e preparação da competição. A
388
dinâmica é esta, em termos de dominância, mas sempre flexível, ajustável.
(IV, p. 21)
389
no lado contrário. Uma equipa que nos pressiona alta, o que é que nós fazemos?
Fazemos o estudo, a análise dos espaços que vamos encontrar, e os espaços que
eles gostam de explorar. Pronto, mas é o lado estratégico segundo o nosso jogar.
(...). Bolas paradas, normalmente, dois dias de bolas paradas. Imagina que
jogamos ao domingo, trabalhamos sexta e sábado de bolas paradas. As
defensivas primeiro e, normalmente, no dia anterior, as ofensivas. Pronto, e é
assim que é o nosso operacionalizar. (VP, p.19 e 20)
Claro que nós depois temos para cada momento, se é velocidade, eu estou-
te a mostrar isto porque se calhar é mais fácil porque é o que eu passei também
aos meus treinadores que é para eles, na estruturação do morfociclo deles (...).
Pronto, e em função disso, onde é que têm que entrar e que tipo de caraterísticas
é que o exercício pode ter em função disso. Pronto, eu estava-te a dizer estas
coisas, é muito aqui. A Marisa é que coordena muito isso. Normalmente eu
crio o exercício e digo-lhe o que é que quero trabalhar, e ela depois vai-me
ajustando isto, porque ela é muito forte nesta matéria com a ligação que ela
teve ao professor Vítor Frade. (FN, p. 15)
390
A nossa referência é sempre o jogo, depois fazemos do jogo para trás. Ou
seja, no dia antes do jogo é uma coisa, 2 dias é outra coisa, menos 3 é outra
coisa, menos 4 é outra coisa. E depois, se tens para um jogo, imagina se tens só 2
dias de intervalo porque vais jogar aqui depois vais para a Algarve Cup, jogas
passados dois dias, ou seja, é sempre o mesmo morfociclo, é igual porque é a
referência… passa a ser a referência o jogo seguinte e tu ajustas em função disso.
(FN, p. 14 e 15)
391
de contração muscular solicitada e da predominância de um sistema
bioenergético em concreto.
392
4. Em síntese
393
melhor como agir. Porém, para além da importância reconhecida pelos
treinadores à sua formação prática é também enaltecida a importância da
formação teórica que foram tendo, uns durante os cursos de treinadores,
outros durante os anos em que frequentaram os ciclos de estudos
conducentes a licenciaturas e mestrados, nas faculdades, que lhes permite,
segundo eles, terem hoje conhecimentos muito mais profundos e
abrangentes.
394
de jogo, à dominância de um regime bioenergético, ao padrão de contração
muscular e à relação entre o esforço específico e o tempo de prática total a
que os jogadores são expostos, de modo a permitir que estes treinem e
recuperem para a competição.
395
396
Capítulo IV – Considerações finais
1. Inferências retiradas a partir da presente investigação
399
ambicionados; c) de estratégia, entendida como a adaptação circunstancial
da equipa a pormenores que os oponentes evidenciam; d) de periodização,
que, em sentido restrito, representa o ato de dividir cronológica e
metodologicamente o tempo de treino em períodos, cuja extensão é variável -
porém, é conveniente que o conceito referido seja entendido à luz do
pensamento sistémico, ou seja, em interação heterárquica com os conceitos
de planificação e programação; e) de planificação, que expressa o ato de
descrever e organizar antecipadamente as condições de treino, de selecionar
os meios e métodos operacionais a aplicar e de definir os objetivos a atingir;
f) de programação, que significa a projeção, conceção e coordenação dos
conteúdos temáticos de jogo; g) de especificidade, que diz respeito ao modo
concreto como determinada equipa pretende jogar; h) de representatividade,
que diz respeito às caraterísticas do jogo de futebol em abstrato; i) de
intensidade, que se relaciona com a especificidade tática que se quer ver
expressa em virtude da interação sistémica de todos os fatores de
rendimento e não apenas da vertente físico-condicional que significava,
apenas, um alto grau de velocidade de execução; j) o de volume, que diz
respeito ao somatório dos tempos parciais de prática e, por fim, k) o conceito
de “fragmentos táticos preferenciais”, enquanto nomenclatura que carateriza
as tarefas práticas de treino.
400
Esses princípios tentam funcionar como um fluxo constante de
informação específica de um determinado modo de jogar, que procura
facilitar o aparecimento de tomadas de decisão e interações táticas coletivas
eficazes. Os princípios do modelo de jogo que as suas equipas apresentam
são a face visível de um processo resultante do entrecruzamento dinâmico e
complexo de uma intencionalidade determinada a priori (i.e., a conceção de
jogo de cada treinador), com a sua operacionalização num determinado
contexto competitivo, considerando as caraterísticas específicas dos clubes,
das competições e dos jogadores, bem como a autonomia destes e, em
maior ou menor percentagem, as particularidades dos adversários.
401
manipulação dos constrangimentos, propiciam, em função dos conteúdos
previamente selecionados, a emergência de comportamentos preferenciais –
que se desejam aprimorar ou desenvolver em determinados momentos.
402
práticas contemplarem de forma articulada, simultânea e indissociável (i.e.,
em interação sistémica), a complexidade dos contextos de prática subjacente
à porção do modelo de jogo que é vivenciada, à dominância de um sistema
bioenergético, ao padrão de contração muscular e à relação entre o esforço
específico e o tempo de prática total a que os jogadores são expostos.
403
preparatório e a primeira parte do período competitivo é realizada. Alguns
treinadores criam duas sessões no mesmo dia, incluindo tarefas com os
fatores de rendimento em interação sistémica. Neste contexto o volume total
de prática que seria contemplado numa única sessão é dividido em duas no
mesmo dia, para com isso dar a oportunidade dos jogadores recuperarem da
fadiga acumulada.
404
2. Contributos da investigação
3. Limitações da investigação
405
terem sido selecionados apenas treinadores portugueses. Todavia, importa
dizer que esse foi um aspeto que mereceu reflexão. Repare-se que, face à
complexidade dos conceitos utilizados no âmbito da periodização do treino, e
ao tratar-se de uma entrevista aberta, a questão do idioma iria decerto
colocar constrangimentos ao nível da tradução, podendo perder-se muita da
substância das ideias expressas pelos treinadores.
Por fim, importa relembrar que, porventura, poderá ser considerada uma
limitação da investigação o facto de a revisão da literatura acerca da
Periodização Tática criada pelo professor Vítor Frade, ser maioritariamente
suportada por documentos escritos por terceiros ou por entrevistas
concedidas pelo autor. Ora, uma vez que os documentos públicos utilizados
são fruto da interpretação que cada um dos entrevistadores fez das palavras
proferidas pelo criador desta conceção de treino, pode dar-se o caso de
haver informação que não seja totalmente fidedigna. No entanto, para reduzir
ao máximo esta limitação, e para dar credibilidade (trustworthiness) à revisão,
selecionaram-se e triangularam-se as informações das fontes bibliográficas
que aquando da sua elaboração tiveram a supervisão (member checking)
direta do professor Vítor Frade (quer na elaboração de livros; quer nas
entrevistas concedidas, através da correção por parte do autor da
406
Periodização Tática das transcrições elaboradas pelos entrevistadores). Tal
permitiu-nos validar as informações sobre esta conceção de treino não
apenas através da verificação de congruência entre os documentos
utilizados, mas também da confirmação da existência de conformidade entre
o que fomos lendo e o que tinha aprendido durante os anos em que fui aluno
do professor Vítor Frade e os anos em que fui treinado pelo professor José
Guilherme (treinador que durante a carreira nos diferentes contextos, tem
estabelecido uma grande proximidade à conceção de treino Periodização
Tática).
407
trabalho foi progredindo, com incursão por variados territórios do
conhecimento, fomos reorganizando ideias e divisando algumas respostas
para as inquietações que perduravam desde a década de noventa, na altura
em que corríamos no “campo do trinta”, como foi reportado no início desta
dissertação. Sentimos que conseguimos situar e relacionar muitas das peças
do puzzle, mas estamos cientes de que falta ainda fazer muito e bom
trabalho neste domínio.
408
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APÊNDICES
Apêndice 1 – Estrutura do Guião da Entrevista
ENQUADRAMENTO DA ANÁLISE DA ENTREVISTA GUIÃO DA ENTREVISTA ENQUADRAMENTO TEÓRICO DA
TESE
VARIÁVEIS MACROCATEGORIAS MESOCATEGORIAS MICROCATEGORIAS QUESTÕES OUTRAS CONTEÚDOS A CONTEÚDOS TIPO DE
LATENTES QUESTÕES QUE SE QUESTÃO
POSSÍVEIS PRETENDE
ACEDER
(Objetivos)
Motivações Influências Quais os fatores Perfil dos participantes (metodologia) Opinião-
que motivaram a Valor
escolha/decisão
pela profissão de
treinador de
Futebol?
Percurso Formação Teórica Académica Que importância Que influência Origem e Perfil dos participantes (metodologia) Opinião-
reconhece à teve a desenvolvimento Valor
formação teórica formação dos
que teve, como académica? conhecimentos
Curso de Treinadores por exemplo ao Que influência
curso de tem a formação
treinadores em continua?
Prática Jogador contexto Que influência
federativo? tem ter sido
Que importância treinador da
reconhece à formação?
Treinador formação prática Que influência
que teve como tem ter sido
por exemplo na treinador
condição de adjunto?
jogador e de
treinador em
vários contextos
de formação e de
alto rendimento?
Que influência lhe
parece que teve
essa formação na
conceção que
hoje tem de como
deve ser gerido o
processo de
treino?
XLVII
Caraterização do Tomada de Decisão Tática Face à Não raras Os fatores físico, Perspetiva Perspetiva Opinião-
Jogo Jogo imprevisibilidade vezes é técnico e Cognitivista cognitivista Valor
que decorre das frequente ouvir- psicológico Perspetiva (Memórias);
caraterísticas do se, “aquele como afluentes Ecológica (Conhecimentos);
próprio jogo, os jogador não da tática (Automatismos);
jogadores têm sabe correr”; ou (Hábitos);
que executar “aquele jogador (Emoções);
várias ações, tais corre muito, (Imagens
como o passe ou mas correu mentais)
a desmarcação. mal”. Do seu
Do seu ponto de ponto de vista
vista, o que é um como devem
bom passe ou ser
uma boa interpretadas
desmarcação estas palavras?
durante o jogo? Como se
ensina um
jogador a estar
no sitio certo?
Sistémica Por vezes alguns Que tipo de Interações
jogadores relação
manifestem entende ser
dificuldade em importante
acompanhar as treinar entre os
movimentações vários setores
dos colegas, que compõem
parecendo ficar a equipa?
desconectados.
Para si, como
devem os
jogadores estar
organizados
taticamente?
Dinâmica Durante os jogos, Sem muito Perspetiva
por vezes, as tempo para ecológica;
ações acontecem pensar (Perceção
muito rápido, o direta);
que dificulta a (Contexto);
ação dos (Informações);
jogadores e (Graus de
aumenta a liberdade);
probabilidade de (Affordances)
erros. Como se
treinam os
jogadores para
pensarem e
executarem
rápido, sem que
fiquem inibidos
pelo receio de
errar?
Intuitiva É frequente ouvir- Recentemente Reconhecimento
se, “aquele Arnould marcou a partir do
jogador está um canto que contexto
sempre no sítio originou o 4º
XLVIII
certo”; ou “aquele golo do
avançado tem Liverpool na
faro de golo”; vitória frente ao
“Aquele jogador Barcelona. No
parece que momento que
adivinha onde a abandonava o
bola vai parar”; ou bandeirinha de
“parece que a canto, resolveu
bola vai sempre voltar
ter com ele”. Tais rapidamente
frases parecem atrás e fazer o
fazer crer que os passe para
jogadores Origi que no
precisam de ter centro da área
uma grande marcou golo.
capacidade de ler Como se
o contexto e treinam os
extrair jogadores para
informações de estarem
uma forma quase atentos ao
intuitiva. Qual a reconhecimento
sua opinião? de
oportunidades
no contexto?
Emergente Por vezes os Tendo em Funcional em
jogadores atenção a função de algo
parecem ter questão que está a
algum tempo que anterior, de que acontecer
lhes permite forma se
pensar e gerir podem treinar
com consciência as capacidades
e racionalidade de
as decisões que reconhecimento
tomam e as de
ações que oportunidades
manifestam. de ação, no
Outras vezes, as decorrer do
coisas parecem jogo, que levem
simplesmente o espetador a
emergir sem se proferir tais
conseguir explicar palavras, como
muito bem como por exemplo
aquilo aconteceu. “aquele jogador
Qual a sua parece que
perceção do que adivinha onde a
se passa na bola vai parar”?
cabeça dos
jogadores?
Conceção de Organização da Organização Quando começa Por vezes Momentos de Teoria dos Emergência de Opinião-
Treino Treino Equipa a treinar a equipa existem jogo Sistemas padrões Valor
quais as equipas que Dinâmicos autoorganização
principais apresentam
preocupações: exibições muito
por exemplo, a vistosas, com
XLIX
organização muito futebol
ofensiva ou ofensivo, mas
defensiva, o acabam por
coletivo, o perder
individual, os bastantes
aspetos físicos, jogos. Ou seja,
tudo em parece não
simultâneo? haver uma
relação direta
Quando entre jogar
constatamos que bonito e jogar
“a bola parece ir bem? Como se
ter mais vezes treina para
com os jogadores jogar bonito e
que estão sempre para jogar bem,
no sítio certo”, do seu ponto
observamos de vista?
também que no
seu conjunto
esses jogadores
parecem estar
bem articulados,
o que lhes
permite jogar bem
exercendo
domínio sobre os
adversários, pelo
menos domínio
na posse de bola.
De que forma
prepara as suas
equipas para
estarem
preparadas para
jogar com bola e
sem bola?
Princípios Concorda que as Pensa em Modelo de jogo Variáveis Coletivas Parâmetros de Opinião-
boas equipas contratar Origem dos Ordem Valor
manifestam em jogadores para princípios de
campo alguns interpretarem a jogo
padrões? sua ideia de Evolução dos
Facilmente se jogo ou pensa princípios
reconhece uma numa ideia de Relação entre
equipa do Pep jogo para os princípios e
Guardiola, ou do potenciar ao os jogadores
Diego Simeone, máximo as
do Klopp ou do qualidades e
Ancelotti em caraterísticas
função da forma dos jogadores
de jogar, das que tem no
dinâmicas e dos plantel?
padrões que
evidenciam tanto
a nível ofensivo
como defensivo.
L
Como é que essa
forma de jogar,
esses padrões e
dinâmicas se
criam e qual a
sua origem?
Como manipula
os padrões da
sua equipa, tendo
em conta as
particularidades
dos adversários
que defronta?
Caraterísticas dos Modelo de Jogo Princípios Tendo em De que modo Reconhecer Affordances Affordances Opinião-
contextos de prática consideração os princípios oportunidades partilhadas Valor
(Exercícios) aquilo que temos são distribuídos de ação
vindo a falar ao longo da
acerca dos semana?
padrões de jogo, Existem dias
como é que para grandes
esses padrões se princípios
treinam para que outros para os
se evidenciem no micro
jogo? princípios?
No dia seguinte Caraterísticas Representatividade Perspetiva
a Cristiano do jogo de Ecológica
Ronaldo ter Futebol
LI
marcado
aquele golo de
pontapé de
bicicleta à
Juventus, na
meia-final da
UCL, surgiram
imagens de
uma situação
idêntica no dia
anterior num
treino do Real
Madrid, o que
sugere que
existe alguma
transferibilidade
do que se faz
no treino para o
que acontece
no jogo. O que
pensa sobre
isto, em geral?
Quais os Identidade Especificidade Variáveis
melhores informacionais
exercícios para
se conseguir
que os
jogadores
manifestem
essa
identidade?
Abertura Tomada de decisão Tendo em Por vezes Criatividade Aprendizagem Perspetiva
consideração as parece haver para interpretar Diferencial Ecológica
formas treinadores os princípios
particulares e muito
criativas como os agarrados à
jogadores identidade que
resolvem os inclusive já
problemas, contratam um
enquanto determinado
treinador como perfil de
gere a ligação jogador para
dessas ações uma
individuais com o determinada
coletivo? E como posição. Isto
são as mesmas parece
promovidas evidenciar que
durante o treino? há alguma
rigidez de como
os jogadores
devem jogar,
no entanto eles
é que jogam,
não o treinador.
Como entende
LII
que deve ser
gerida a
criatividade dos
jogadores no
treino e no
jogo?
Recentemente
numa entrevista
concedida a
Simão Sabrosa
na Sport Tv,
Gonçalo
Guedes
afirmava que
na maioria das
vezes quando
os treinadores
estavam a
explicar os
exercícios,
nomeadamente
as
movimentações
táticas ele
estava sempre
distraído e não
prestava
grande atenção
porque o
excesso de
informação
prévia limitava-
o e confundia-o
no momento de
jogo
propriamente
dito. O que lhe
sugere esta
afirmação?
Método de Instrução Feedback Por vezes Forma de Descoberta Guiada Levar os
assistimos a orientar o jogadores a
treinadores que exercício reconhecer
no banco quase oportunidades de
não recorrem a interação
feedbacks, outros
pelo contrário,
com alguma
frequência
emitem
bastantes. Que
importância
atribui aos
feedbacks
durante o treino e
o jogo e quais
LIII
aqueles a que
mais recorre?
Formatos exercícios Estrutura dos No Futebol é Simplificar sem Simplificação dos Glocal
exercícios difícil treinar toda empobrecer exercícios
a complexidade e (Fractais)
conteúdos do
jogo em
simultâneo. Por
vezes, parece ser
necessário incidir
em algumas
partes, que não a
totalidade do
coletivo. Como
estrutura os
exercícios de
treino de forma a
treinar o coletivo,
os sectores e os
jogadores para
que manifestem
coordenadamente
os
comportamentos
que deseja
promover?
Periodização Periodização Período Preparatório Objetivos Durante o período O que faz nos As semanas não Articulação dos
preparatório, diferentes dias são todas iguais princípios ao
tradicionalmente que compõem a em função do jogo longo da semana
designado de pré- semana anterior e do Articulação
época, o que próximo adversário setorial e
entende ser mais (Evolução em intersetorial
importante ser complexidade)
treinado? Dá a
mesma
importância aos
diferentes fatores
(tático, técnico,
físico ou
psicológico?)
destaca algum
deles, ou
considera outras
coordenadas?
Valor Qual a
importância do
Período
Preparatório para
a época
desportiva?
Período Competitivo Objetivos do Período Face as Manipulação Pedagogia não Outros fatores de
Semanal caraterísticas do dos fatores de linear rendimento em
calendário rendimento interação
competitivo do
Futebol com
jogos de domingo
a domingo, quais
são as suas
preocupações
predominantes
quanto à
periodização? Na
planificação
semanal, quais
são os principais
fatores que têm
em consideração:
o adversário, o
físico, a tática, o
modelo de jogo,
ou outros?
LVI
Questão Final Estas questões
abrangem os
aspetos que queria
abordar consigo.
No entanto, neste
momento que
terminámos a
entrevista, há
algum aspeto que
queira referir que
não tenha
mencionado ao
longo da
entrevista? Com o
intuito de triangular
informação tenho
em mente fazer
para além da
entrevista
realizada, analisar
alguns
documentos
produzidos pelos
entrevistados. Que
documentos me
recomenda para
análise?
LVII
LVIII
Apêndice 2 – Guião da Entrevista
PERCURSO
1. Quais os fatores que motivaram a escolha/decisão pela profissão de treinador de Futebol?
2. Que importância reconhece à formação teórica que teve, como por exemplo ao curso de
treinadores em contexto federativo?
3. Que importância reconhece à formação prática que teve, como por exemplo na condição de
jogador e de treinador em vários contextos de formação e de alto rendimento?
4. Que influência lhe parece que teve essa formação na conceção que hoje tem acerca do modo
como deve ser gerido o processo de treino?
CARATERÍSTICAS DO JOGO DE FUTEBOL
5. Face à imprevisibilidade que decorre das caraterísticas do próprio jogo, os jogadores têm que
executar várias ações, tais como o passe, ou a desmarcação. Do seu ponto de vista, o que é um
bom passe ou uma boa desmarcação durante o jogo?
6. Por vezes alguns jogadores manifestem dificuldade em acompanhar as movimentações dos
colegas, parecendo ficar desconectados. Para si, como devem os jogadores estar organizados
taticamente?
7. Durante os jogos, por vezes, as ações acontecem muito rápido, o que dificulta a ação dos
jogadores e aumenta a probabilidade de erros. Como se treinam os jogadores para
percecionarem, decidirem e executarem rápido, sem que fiquem inibidos pelo receio de errar?
8. É frequente ouvir-se, “aquele jogador está sempre no sítio certo”; ou “aquele avançado tem faro
de golo”; “Aquele jogador parece que adivinha onde a bola vai parar”; ou “parece que a bola vai
sempre ter com ele”. Tais frases parecem fazer crer que os jogadores precisam dispor de ter
uma grande capacidade para ler o contexto e extrair informações de uma forma quase intuitiva.
Qual a sua opinião?
9. Por vezes os jogadores parecem ter algum tempo que lhes permite pensar e gerir com
consciência e racionalidade as decisões que tomam e as ações que manifestam. Outras vezes,
as coisas parecem simplesmente emergir sem se conseguir explicar muito bem como aquilo
aconteceu. Qual a sua perceção do que se passa na cabeça dos jogadores?
CONCEÇÃO DE TREINO
10. Quando começa a treinar a equipa quais as principais preocupações: por exemplo, a
organização ofensiva ou defensiva, o coletivo, o individual, os aspetos físicos, tudo em
simultâneo?
11. Quando constatamos que “a bola parece ir ter mais vezes com os jogadores que estão sempre
no sítio certo”, observamos também que no seu conjunto esses jogadores parecem estar bem
articulados, o que lhes permite jogar bem exercendo domínio sobre os adversários, pelo menos
domínio na posse de bola. De que forma prepara as suas equipas para estarem preparadas para
jogar com bola e sem bola?
12. Concorda que as boas equipas manifestam em campo alguns padrões? Facilmente se
reconhece uma equipa do Pep Guardiola, do Diego Simeone, do Klopp ou do Ancelotti em
função da forma de jogar, das dinâmicas e dos padrões que evidenciam tanto a nível ofensivo
como defensivo. Como é que essa forma de jogar, esses padrões e dinâmicas se criam e qual a
sua origem?
13. Como manipula os padrões da sua equipa, tendo em conta as particularidades dos adversários
que defronta?
14. Frequentemente ouvimos dizer que as equipas devem funcionar como um todo. Por exemplo, na
fase defensiva, todos têm que defender, quando é para pressionar, todos devem pressionar. Do
seu ponto de vista, até que ponto é importante que os princípios de jogo se manifestem, tanto à
escala global da equipa, como nos diversos setores que a compõem mesmo a nível individual?
LXI
CARATERÍSTICAS DOS CONTEXTOS DE PRÁTICA
15. Tendo em consideração o que temos vindo a falar acerca dos padrões de jogo, como é que se
treina tais padrões, para que se evidenciem no jogo?
16. Tendo em consideração as formas particulares e criativas como os jogadores resolvem os
problemas, enquanto treinador como gere a ligação dessas ações individuais com o coletivo? E
como são as mesmas promovidas durante o treino?
17. Por vezes assistimos a treinadores que no banco quase não recorrem a feedbacks; outros, pelo
contrário, com alguma frequência emitem bastantes. Que importância atribui aos feedbacks
durante o treino e o jogo e quais aqueles a que mais recorre?
18. No Futebol é difícil treinar toda a complexidade e conteúdos do jogo em simultâneo. Por vezes,
parece necessário incidir em algumas partes, que não a totalidade do coletivo. Como estrutura
os exercícios de treino de forma a treinar o coletivo, os sectores e os jogadores para que
manifestem coordenadamente os comportamentos que deseja promover?
PERIODIZAÇÃO
Período Preparatório
19. Durante o período preparatório, tradicionalmente designado de pré-época, o que entende ser
mais importante ser treinado? Dá a mesma importância aos diferentes fatores (tático, técnico,
físico e psicológico?), destaca algum deles, ou considera outras coordenadas?
20. Qual a importância do Período Preparatório para a época desportiva?
21. Para si, o Período Preparatório é constituído por períodos diferenciados?
22. De que modo são estruturadas as semanas de treino, durante o período preparatório em função
dos contextos e dos fatores de rendimento tática, técnica, física e psicológica?
Período Competitivo
23. Face as caraterísticas do calendário competitivo do Futebol com jogos de domingo a domingo,
quais são as suas preocupações predominantes quanto à planificação e à periodização? Na
planificação semanal, quais são os principais fatores que tem em consideração: o adversário, o
físico, a tática, o modelo de jogo, ou outros?
24. Tendo em consideração a planificação semanal como manipula os fatores (tático, técnico, físico
e psicológico)?
25. Como é feita a gestão do volume e da intensidade, durante a semana tendo em vista o esforço e
a recuperação dos jogadores e da equipa? Que cuidados principais?
26. Que tipo de preocupação existe na criação dos exercícios para os diferentes dias da semana, ao
nível das preocupações com o modelo de jogo, com as escalas da equipa, com os fatores e a
intensidade?
27. Qual ou quais os fatores primordiais que o levam a escolher ou criar os exercícios de treino nos
diferentes dias da semana?
Período excecional
28. Quando há jogos a meio da semana, quais as alterações introduzidas no plano semanal?
QUESTÕES FINAIS
Estas questões abrangem os aspetos que queria abordar consigo. No entanto, neste momento que
terminámos a entrevista, há algum aspeto que queira referir que não tenha mencionado ao longo da
entrevista? Com o intuito de triangular informação tenho em mente fazer para além da entrevista
realizada, analisar alguns documentos produzidos pelos entrevistados. Que documentos me
recomenda para análise.
LXII
Apêndice 3 – Esclarecimento Inicial à Entrevista
No âmbito do doutoramento em Ciências do Desporto – Área de Treino
Desportivo, promovido pelo Centro de Investigação, Formação, Inovação e
Intervenção em Desporto da Faculdade de Desporto da Universidade do
Porto, estou a desenvolver uma investigação relacionada com a planificação
e periodização do treino do Futebol.
LXV
LXVI
Apêndice 4 – Consentimento Informado
No âmbito do doutoramento em Ciências do Desporto – Área de Treino Desportivo,
promovido pelo Centro de Investigação, Formação, Inovação e Intervenção em Desporto da
Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, estou a desenvolver uma investigação
relacionada com a planificação e periodização do treino do Futebol.
Face à experiência que tem na profissão de treinador e/ou investigador, é para mim
fundamental captar as suas opiniões, que resultam não só dos saberes, mas também da
experiência vivida e refletida ao longo dos anos em que exerce a sua profissão. Neste
sentido, considero que o (...) é um dos profissionais que está em excelente posição para
contribuir eximiamente para esta investigação.
As entrevistas serão gravadas e uma cópia das transcrições ser-lhe-á enviada para
que tenha a oportunidade de rever e alterar as suas respostas. Todas as transcrições e
gravações serão manuseadas de forma confidencial e apenas discutidas com os
orientadores da dissertação, Prof. Doutor Júlio Garganta Silva e Prof. Doutor José
Guilherme Oliveira. Logo que termine a elaboração da dissertação de doutoramento e
se assim o entrevistado fizer questão, serão destruídas.
LXIX
LXX
Apêndice 5 – Declaração de Autorização
AUTORIZAÇÃO
Nome completo:
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Assinatura:
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LXXIV