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TEMA

MÉTODOS PARA AVALIAR CORROSÃO DE ARMADURAS EM CONCRETOS


FONTE: HANDBOOK ON NODESTRUCTIVE TESTING OF CONCRETE
V.M. MALHOTRA and N.J. CARINO

A manifestação patológica mais perigosa em uma estrutura de concreto armado


e/ou protendida é a corrosão das armaduras. A corrosão do aço comum é inevitável.
Isso porque, em condições atmosféricas, o ferro do aço é instável e há uma tendência
natural de reverter para um estado mais estável, que é o óxido de ferro. Portanto, toda
estrutura se degrada ao longo do tempo de uso e exposição ambiental em atmosferas
agressivas ou não, e um passo crítico na seleção da estratégia de reparo mais apropriada
para uma estrutura de concreto desgastado é determinar o estado de corrosão das
barras de reforço.
Devido a complexidade do processo eletroquímico de corrosão, o ideal seria
envolver um Engenheiro de Corrosão, profissional que tem capacidade de empregar
uma variedade de ferramentas para fazer uma avaliação mais precisa das condições de
corrosão. Os princípios da corrosão eletroquímica se baseiam na célula eletrolítica, no
potencial elétrico e na polarização. A ciência da corrosão é complexa e, infelizmente,
não é abordada no currículo típico de engenharia civil.
Resumindo, quando o aço no concreto perde sua camada passiva, a corrosão ocorre
devido à ocorrência natural de sítios anódicos e catódicos. No entanto, a taxa de
corrosão depende da resistência elétrica do concreto ao redor dos locais anódicos e
catódicos e da disponibilidade de oxigênio. Se a pasta tiver baixa porosidade, a
resistência será alta, o coeficiente de difusão de oxigênio será baixo e a taxa de
corrosão também será baixa.
Os engenheiros envolvidos nas inspeções estruturais necessitam ter o
conhecimento básico para entender os princípios subjacentes para utilizarem os
métodos dos ENDs (ensaios não destrutivos) usados para avaliar a atividade de corrosão
no concreto, principalmente nas obras consideradas idosas. Poucos Engenheiros Civis
Inspetores de Estruturas sabem utilizar técnicas não destrutivas para avaliar o estado
corrosivo nos concretos tais como: MÉTODO DO POTENCIAL DE MEIA CÉLULA, O TESTE
DE RESISTIVIDADE DO CONCRETO E O MÉTODO DE POLARIZAÇÃO LINEAR.
Neste INFORME CHC, são apresentados resumos considerados importantes para
aqueles que utilizam esses métodos nos seus trabalhos periciais.
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1. MÉTODO DE POTENCIAL DE MEIA CÉLULA

“Quando há corrosão ativa, o fluxo de corrente (na forma de migração de íons)


através do concreto entre sítios anódicos e catódicos é acompanhado por um campo de
potencial elétrico ao redor da barra corroída [(Figura 11.8), Handbook Malhotra e
Carino].”

Princípio do Ensaio

Equipamento da Screening Eagle Proceq


Fonte: Handbook on Nondestructive Testing of Concrete. Edited by V.M.
Malhotra and N.J. Carino , second edition.

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Um aspecto fundamental do teste é garantir que o concreto esteja
SUFICIENTEMENTE ÚMIDO para completar o circuito necessário para uma medição
válida.
O CONCRETO ESTÁ SUFICIENTEMENTE ÚMIDO SE O POTENCIAL MEDIDO EM
UM PONTO DE TESTE NÃO MUDAR EM MAIS DE ± 20 mV EM UM PERÍODO DE 5
minutos (ASTM C 876).
Se o valor medido do potencial de meia célula varia com o tempo, é necessário
umedecer previamente o concreto e a ASTM C 876 fornecem duas abordagens para fazer
isso.
Quando for necessário umedecer previamente, não deve haver água livre na
superfície entre os pontos de teste no momento da medição do potencial.
Se a estabilidade não puder ser alcançada por umedecimento prévio, pode ser
devido às correntes elétricas parasitas ou à resistividade elétrica excessiva no circuito.
Em ambos os casos, o método do potencial de meia célula não deve ser usado.
De acordo com ASTM C 876, AS LEITURAS DE POTENCIAL DE MEIA CÉLULA
DEVEM SER USADAS EM CONJUNTO COM OUTROS DADOS, COMO TEOR DE CLORETO,
PROFUNDIDADE DE CARBONATAÇÃO, DESCOBERTAS DE PESQUISAS DE
DELAMINAÇÃO E CONDIÇÕES DE EXPOSIÇÃO, PARA FORMULAR CONCLUSÕES SOBRE
A ATIVIDADE DE CORROSÃO.
O apêndice da ASTM C 876 fornece as seguintes diretrizes (para o eletrodo de
referência de sulfato de cobre-cobre):
• Se o potencial for mais positivo do que –200 mV (em relação à meia célula de
sulfato de cobre-cobre), há uma grande probabilidade de que não esteja ocorrendo
corrosão no momento da medição.
• Se o potencial for mais negativo do que –350 mV, há uma grande
probabilidade de haver corrosão ativa.
• A atividade de corrosão é incerta quando a tensão está na faixa de –200 a –
350 mV.
No entanto, afirma-se que, a menos que haja evidência positiva para sugerir sua
aplicabilidade, esses critérios numéricos não devem ser usados nas seguintes condições:
• A carbonatação se estende até o nível do reforço

• Avaliação do concreto interno que não foi submetido a molhamento


frequente
• Comparação da atividade de corrosão em concreto externo com teor de
umidade ou oxigênio altamente variável
• Formular conclusões sobre mudanças na atividade de corrosão devido a
reparos que alteraram o teor de umidade ou oxigênio no nível do aço.

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As precauções acima são recomendadas devido à importância da resistividade
do concreto e disponibilidade de oxigênio nas taxas reais de corrosão.
O teste geralmente é realizado em pontos organizados em uma grade. O
espaçamento necessário entre os pontos de teste depende da estrutura específica.
Espaçamento excessivo pode perder pontos de atividade ou fornecer espaço
insuficiente dados para avaliação adequada, enquanto espaçamentos mais próximos
aumentam o custo do levantamento.

No levantamento de tabuleiros de pontes, ASTM C 876 recomenda-se um


espaçamento de 1,2 m. Se as diferenças de tensão entre pontos adjacentes excederem
150 mV, sugere-se um espaçamento menor. No entanto, outros sugeriram que o
espaçamento deve ser cerca de metade desse valor para obter uma avaliação confiável
da extensão da corrosão.
COMO FOI DITO, LEITURAS DE POTENCIAL VÁLIDAS PODEM SER OBTIDAS SOMENTE
SE O CONCRETO ESTIVER SUFICIENTEMENTE ÚMIDO, E O USUÁRIO DEVE ENTENDER
COMO RECONHECER QUANDO HÁ UMIDADE INSUFICIENTE PARA UMA MEDIÇÃO
SIGNIFICATIVA. ALÉM DISSO, EXISTEM VÁRIOS FATORES QUE PODEM AFETAR A
MAGNITUDE DOS POTENCIAIS DE FORMA QUE ELES NÃO SEJAM INDICATIVOS DAS
VERDADEIRAS CONDIÇÕES DE CORROSÃO. POR EXEMPLO, UMA CAMADA
SUPERFICIAL COM ALTA RESISTIVIDADE RESULTA EM POTENCIAIS SUPERFICIAIS
MENOS NEGATIVOS; ISSO PODE MASCARAR A ATIVIDADE DE CORROSÃO
SUBJACENTE. POR OUTRO LADO, A POLARIZAÇÃO CATÓDICA DEVIDO À FALTA DE
OXIGÊNIO RESULTA EM POTENCIAIS MAIS NEGATIVOS ENQUANTO A TAXA REAL DE
CORROSÃO É REDUZIDA.
O aumento da cobertura tende a resultar em leituras de potencial de superfície
semelhantes, independentemente das diferenças subjacentes na atividade de
corrosão.
Devido aos muitos fatores que devem ser considerados neste tipo de teste de
corrosão, um especialista em corrosão é recomendado para interpretar adequadamente
as pesquisas de potencial de meia célula em uma das seguintes condições (ASTM C 876):
• O concreto está saturado de água.
• O concreto é carbonatado até a profundidade da armadura.

• O aço é revestido (galvanizado).


AS PESQUISAS DE POTENCIAL DEVEM SER COMPLEMENTADAS COM TESTES DE
CARBONATAÇÃO E TEOR DE ÍONS CLORETO SOLÚVEL. FINALMENTE, É PRECISO DEIXAR
CLARO QUE OS RESULTADOS DE UMA PESQUISA DE POTENCIAL SÃO INDICATIVOS DE
ATIVIDADE DE CORROSÃO NO MOMENTO ESPECÍFICO DO TESTE, E PODE-SE ESPERAR
QUE A ATIVIDADE MUDE COM AS MUDANÇAS NAS CONDIÇÕES AMBIENTAIS

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2. TESTE DE RESISTIVIDADE DO CONCRETO

O método do potencial de meia célula fornece uma indicação da probabilidade


de atividade de corrosão no momento da medição. Não fornece, entretanto,
informações diretas sobre a taxa de corrosão da armadura. Conforme discutido, depois
que uma barra perde sua passividade, a taxa de corrosão depende da disponibilidade de
oxigênio para a reação catódica. Também depende da resistência elétrica (resistividade
cujo inverso seria a condutividade elétricas) do concreto, que controla a facilidade com
que os íons migram através do concreto entre os locais anódicos e catódicos.

A resistência elétrica (resistividade), por sua vez, depende da microestrutura


da pasta e do teor de umidade do concreto. Portanto, o teste de RESISTIVIDADE
ELÉTRICA trata do analisar a facilidade ou dificuldade da condutividade elétrica no
concreto enquanto o POTENCIAL DE MEIA CÉLULA anterior analise a armadura dentro
do concreto.

A RESISTIVIDADE DO CONCRETO está relacionada com a facilidade com que os


íons podem migrar através do concreto sob a ação do campo de potencial que envolve
ânodos e cátodos. A RESISTIVIDADE aumenta à medida que o espaço dos poros
capilares na pasta é reduzido.

A MEDIÇÃO DA RESISTIVIDADE DO CONCRETO FORNECE INFORMAÇÕES


ADICIONAIS PARA AUXILIAR NA AVALIAÇÃO DA PROBABILIDADE DE DIFERENTES
NÍVEIS DE ATIVIDADE CORROSIVA. É UM COMPLEMENTO ÚTIL PARA UM POTENCIAL
DE MEIA CÉLULAPESQUISADO.

Uma ALTA RESISTIVIDADE indica que, embora o aço esteja corroendo


ativamente conforme determinado pela PESQUISA DE POTENCIAL DE MEIA CÉLULA, a
taxa de corrosão pode ser baixa.

Não existe um método de teste ASTM para medir a resistividade do concreto no


local. Uma técnica que tem sido usada com sucesso é mostrada na Figura 11.2. Ela é
baseada na clássica técnica de quatro eletrodos sistema descrito por Wenner, que foi
incorporado a um método de teste padrão para medir a resistividade do solo (ASTM
G5732).

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Com base em seus estudos, Millard et al. recomendam um espaçamento de
eletrodo de 50 mm como suficiente para misturas típicas de concreto, e a largura e
profundidade do membro deve ser pelo menos quatro vezes a espaçamento dos
eletrodos. Além disso, a distância da borda não deve ser inferior a duas vezes o
espaçamento do eletrodo.
As Tabelas 11.1 e 11.2 salientam relações entre a RESISTIVIDADE ELÉTRICA X GRAU DE
RISCO E PROBABILIDADE DE CORROSÃO.

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A RESISTIVIDADE ELÉTRICA é um função direta da porosidade do concreto e seu
grau de saturação de água (Andrade et al.2000; McCarter e Garvin, 1989), e a taxa de
corrosão resulta função direta da resistividade com a consequência de que o controle
ôhmico é o mecanismo de controle dessa taxa.. Portanto, através da RESISTIVIDADE
ELÉTRICA pode-se monitorar, qualitativamente, o risco de corrosão, muito embora não
se tenha, quantitativamente, a perda de seção face essa corrosão. O ensaio de
POLARIZAÇÃO LINEAR trata dessa perda de seção.
A RESISTIVIDADE ELÉTRICA do concreto é capaz de informar também sobre:
- Porosidade;
- Grau de Saturação de Água;

- Qualidade da cura;
- Tempo de pega do cimento;
- Resistência mecânica do concreto;
- Taxa de aderência do reforço;
- Permeabilidade ao gás e à água.

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3. MÉTODO DE POLARIZAÇÃO LINEAR (RESISTÊNCIA À POLARIZAÇÃO LINEAR)

A técnica de resistência à polarização é um método bem estabelecido para


determinar a TAXA DE CORROSÃO usando células de teste eletrolítico (ASTM G 5917).

A taxa de corrosão medida usando a resistência de polarização representa a


taxa no momento do teste. Espera-se que a taxa de corrosão em um determinado
ponto de uma estrutura dependa de vários fatores, como a umidade do concreto, a
disponibilidade de oxigênio e a temperatura. Assim, espera-se que a taxa de corrosão
em qualquer ponto de uma estrutura exposta tenha variações sazonais.
A taxa de corrosão (expressa como densidade de corrente de corrosão, ou seja,
corrente por unidade de área) está inversamente relacionada à resistência de
polarização (ASTM G 5917):

Onde icorr = densidade de corrente, ampere/cm²; B = constante V de 26 mV e Rp


=resistência de polarização em ohms/cm².

Aparelho GECOR 8 da James Instruments

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As densidades de corrente de corrosão podem ser convertidas em perda de
metal usando a lei de Faraday (ASTM G 10214).
POR EXEMPLO, 1 µA/CM2 CORRESPONDE A CERCA DE 0,012 mm/ano DE
PERDA DE SEÇÃO.
Isso assume que a corrosão está ocorrendo uniformemente na barra, que é a
condição típica da corrosão induzida por carbonatação. A corrosão induzida por
cloreto, no entanto, está associada à corrosão localizada ou pitting. Foi relatado que
a profundidade da corrosão local pode ser de quatro a oito vezes a profundidade
média da corrosão.
Existem outras limitações que devem ser consideradas ao planejar o teste de
taxa de corrosão. Alguns deles foram descritos em um método de teste proposto e são
os seguintes:
• A superfície de concreto deve ser lisa (sem rachaduras, cicatrizes ou
irregulares);
• A superfície de concreto deve estar livre de revestimentos ou revestimentos
impermeáveis à água;
• A profundidade da cobertura deve ser inferior a 100 mm;
• O aço de reforço não pode ser revestido com epóxi ou galvanizado;
• O aço a ser monitorado deve estar em contato direto com o concreto;
• A armadura não é protegida catodicamente;
• O concreto armado não está próximo a áreas de correntes elétricas parasitas
ou campos magnéticos fortes;
• A temperatura ambiente está entre 5°C e 40°C;

• A superfície de concreto no local do teste deve estar livre de umidade visível;


• Os locais de teste não devem estar a menos de 300 mm de descontinuidades,
como bordas e juntas.
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Em resumo, instrumentos de teste baseados na resistência de polarização linear
foram desenvolvidos para estimar as taxas instantâneas de corrosão. Estes são baseados
na medição da mudança no potencial de circuito aberto quando uma pequena corrente
é aplicada à barra de reforço.
É importante entender que uma medição de taxa de corrosão representa as
condições no momento do teste. Mudanças nos fatores que afetam a taxa de
corrosão, como temperatura, resistividade do concreto e disponibilidade de oxigênio,
irão alterar a taxa de corrosão. Assim, é difícil extrapolar a vida útil com base em uma
medição. As medições precisam ser repetidas em diferentes condições sazonais para
se ter uma compreensão da taxa média de corrosão durante um período de tempo
prolongado.
TAXA DE CORROSÃO, importante informação no Monitoramento da Vida Útil
de uma Estrutura de Concreto Armado na Gestão da Manutenção.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE OS ENDS


Minhas considerações são as seguintes:
Os ENDs (ensaios não destrutivos), como qualquer ensaio, necessitam dos
conhecimentos seguros dos seus princípios fundamentais de funcionamentos.
A Engenharia Civil desconhece profundamente os princípios eletroquímicos da
corrosão das suas estruturas na graduação e não existem pós-graduações correlatas.
Os ensaios não destrutivos são qualitativos e possuem limitações que devem ser
conhecidas para não se cometer erros fatais de interpretação.
Não se deve vulgarizar o uso dos ENDs com práticas mercantilistas.
Os ensaios não destrutivos demandam muita habilidade do operador,
evidentemente, requerendo uma dedicação quase que exclusiva para sua precisão e
confiabilidade.
As medições devem ser em número suficiente para gerar confiabilidade
estatística nas interpretações.
Os ensaios não destrutivos demandam uso sistêmico de vários para melhor
fundamentar as interpretações e posteriores tomadas de decisão nas recuperações
e/ou reforços.

Muito embora os ensaios não destrutivos sejam qualitativos e susceptíveis à falta


de habilidade e cognições de operadores, são muito úteis nos fornecimentos de
informações fundamentais às propriedades remanescentes existentes nas estruturas,
principalmente em obras consideradas idosas. Digamos assim: “Ruim com eles, pior sem
eles”.

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Finalizando, torna-se imperiosa a criação, no estilo da Medicina, de Residências
Tecnológicas de Inspeções Estruturais idosas com a prática intensa dos ensaios não
destrutivos.
Torna-se imperioso uma mudança na legislação sobre Inspeção de Estruturas
para agregar essas habilidades e cognições dos ENDs às Perícias Estruturais.

5. SUGESTÕES DE CURSOS TEÓRICOS E PRÁTICOS, EXCELENTES, EXISTENTES


SOBRE ENDs NA CONSTRUÇÃO CIVIL QUE CONHEÇO E RECOMENDO:

5.1 Departamento de Ciência e Engenharia de Materiais da UFS (Universidade


Federal de Sergipe) /P2CEM.
5.2 Ledma – Laboratório de Materiais da UFBA (Universidade Federal da Bahia)
/Escola Politécnica
5.3 Treinamentos com Representante no Brasil da Screening Eagle Proceq e
James Instruments.

CHC/18/11/2022

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