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1. Introdução
O arco elétrico é a fonte de calor mais utilizada na soldagem por fusão de mate
riais metálicos, pois apresenta uma combinação ótima de características, incluindo
uma concentração adequada de energia para a fusão localizada do metal de base,
facilidade de controle, baixo custo relativo do equipamento e um nívet aceitável de
riscos à saúde dos seus operadores. Como consequência, os processos de solda
gem a arco têm atualmente uma grande importância industrial, sendo utilizados na
fabricação dos mais variados componentes e estruturas metálicas e na recuperação
de um grande número de peças danificadas ou desgastadas. Este capítulo apresenta
uma descrição geral das características do arco elétrico, em particular aquelas impor
tantes para a sua aplicação em soldagem. A ênfase aqui será nos fenômenos físicos
que controlam a soldagem a arco e não nos aspectos tecnológicos, industriais ou
metalúrgicos da soldagem. Apesar de muito estudado, o arco elétrico é bastante
complexo e os conhecimentos obtidos até agora permitem um entendimento apenas
parcial dos fenômenos envolvidos. Algumas dessas informações serão apresentadas
neste capítulo, de forma simplificada.
O arco elétrico consiste de uma descarga elétrica, sustentada através de um gás
ionizado, a alta temperatura, conhecido como plasma, podendo produzir energia
térmica suficiente para ser usado em soldagem, pela fusão localizada das peças
a serem unidas. Atribui-se a primeira observação do arco elétrico em condições
controladas a Sir Humphrey Davy, no início do século XIX. O termo arco foi aplicado
a este fenômeno em função de sua forma característica resultante da convecção
dos gases quentes gerados pelo mesmo. O limite superior de corrente em um arco
elétrico não é bem definido, podendo atingir dezenas ou centenas de milhares de
ampéres em certos circuitos. Para a soldagem a arco, correntes acima de 1000 A
rn ! SOLDAGEM
3 L j FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA
1 1 mm
Figura 1
Imagem do arco elétrico observado entre um eletrodo de tungsténio e um bloco de cobre em
uma atmosfera de argônio
D istâ n cia
Figura 2
Regiões de um arco de soldagem (esquemáticas): (a) Zona de Queda Catódica,
(b) Coluna do Arco e (c) Zona de Queda Anódica. Ia- Comprimento do arco
(Eq.1)
Corrente (A)
Figura 3
Curvas características estáticas do arco entre um eletrodo de tungsténio e um anodo do cobre
para diferentes comprimentos de arco
O
»CO
CO
c
.03
2 4 6
Comprimento do Arco (mm)
figura 4
Variação da diferença de potencial entre as extremidades de um arco de soldagem com a
distância de separação entre elas. para diferentes níveis de corrente (dados da figura anterior)
Quando o material do cátodo tem uma menor temperatura de fusão (por exem
plo, aço, alumínio e cobre), a temperatura da região catódica fica abaixo de 3.500 K,
sendo insuficiente para gerar uma quantidade suficiente de elétrons por emissão
termiônica. Assim, processos alternativos precisam operar. Na soldagem com um
SOLDAGEM
56 FUNDAMENTOS E TECNOLOGIA
cátodo de material não refratário, o mecanismo mais com um envolve a emissão dos
.elétrons a partir de film es de óxido existentes na superfície do material, ocorrendo a
destruição destes film es com a emissão dos elétrons. Este m ecanismo de emissão
("emissão a frio") é caracterizado por uma tensão de queda catódica maior (entre 10
e 20 V), pela existência de m últiplos pontos catódicos que se movem com elevada
velocidade na superfície do cátodo e pelo efeito de limpeza (remoção de óxido) desta
superfície. Em particular, este efeito de limpeza é de im portância fundam ental na
soldagem a arco com proteção gasosa de ligas de alumínio e magnésio (metais que
possuem uma camada de óxido de elevada tem peratura de fusão).
Q=V I t (Eq. 2)
onde Q é energia térm ica gerada, em Joules (J), 1/ é a queda de potencial no arco,
em Volts (V); / é corrente elétrica no arco, em Ampéres (A), e t é o tem po de opera
ção, em segundos (s).
Para que a ionização do plasma e, portanto, a capacidade deste de conduzir cor
rente não sejam perdidas, altas tem peraturas devem ser mantidas no arco elétrico.
A Figura 5 mostra o perfil térm ico de um arco de soldagem estabelecido entre um
eletrodo de tungsténio e uma peça de cobre refrigerada a água, separados por 5mm,
em atmosfera de argônio. Obviamente, esta distribuição de temperatura depende do
processo e das condições de soldagem. Por exemplo, um aum ento da corrente de
soldagem, ocasionando uma maior geração de energia no arco, leva ao aparecimento
de temperaturas mais altas além de aum entar as dim ensões do arco. Na soldagem
com eletrodo consumível, uma quantidade de vapor m etálico pode ser incorporada
ao arco. Como esse vapor é, em geral, mais facilm ente ionizável que os gases que
norm alm ente form am o arco (como o argônio e o oxigênio), a tem peratura do arco
tende a se reduzir.
CAPITULO 4 | r-j
CAPÍTULO
0 ARCO ELÉTRICO OE SOLDAGEM 3 '
200 A
12,1 V
T
1 8 .0 0 0 K
16 .0 0 0
15 .0 0 0
1 4.000
5 mm 1 3.000
12.000
11.000
10.000
í+
Figura 5
isotermas de um arco elétrico típico. V = 12 V, I = 200 A
Campos magnéticos são criados por cargas elétricas em m ovim ento. Desta for
ma, em torno de qualquer condutor elétrico percorrido por uma corrente, existe um
campo magnético circular induzido por esta corrente.
Por outro lado, se um condutor de com prim ento I, percorrido por uma corrente
elétrica i, é colocado em uma região onde exista um campo magnético B (orientado
perpendicularmente a I), ele experimenta uma força F, conhecida com o "Força de
Lorentz", que é dada por:
F = B IA (Eq. 3)
H l2 (Eq. 4)
R2
Eletrodo
Figura 6
Representação esquemática da formação do jato de plasma
__A __
Eletrodo
Figura 7
Efeito "Pinch" (esquemático)
Eletrodo
Concentração de
linhas de campo
Direção
do sopro
Salda de
magnético corrente
(a)
Indução
magnética
Figura 8
Causas de sopro magnético (esquemático): (a) mudança brusca da direção da corrente na sua
passagem do arco para a peça; (b) concentração do campo magnético na borda de uma junta
de material ferromagnético e (c) concentração do campo no lado menos espesso de uma junta
do mesmo tipo de material
CAPlTUlO 4
O ARCO ELÍTTtICO DE SOLDAGEM 61
O sopro m agnético é quase sem pre indesejável na soldagem, pois orienta o arco
para direções que, em geral, prejudicam a penetração e uniformidade do cordão de
solda, além de causar a instabilidade do arco e dificultar a operação.
O sopro magnético pode ser minimizado ou elim inado através de algumas me
didas sim ples, entre elas:
a) Por que o arco elétrico é a fonte de calor mais usada, hoje em dia, para a soldagem
por fusão?
d) Que proporção da corrente elétrica no arco é transportada por elétrons? E por íons
positivos?
e) Calcule quantos elétrons e íons são necessários para transportar uma corrente de
150 A.
f) Explique como cada uma das medidas citadas no texto pode minimizar o sopro mag
nético.