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WINDSHEAR
CONTEÚDO
Introdução
Condições Meteorológicas de Windshear
Lições Aprendidas de Casos de Windshear
P r e v e n ç ã o d e A c i d e n t e s
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I - INTRODUÇÃO
No período de 1964 a 1986 ocorreram, pelo menos, trinta e dois acidentes e incidentes, no
mundo todo, os quais o Windshear foi Identificado como sendo fator contribuinte. Tais aciden-
tes e Incidentes resultaram em mais de seiscentas mortes e várias vítimas não fatais. Há evi-
dências de que, se além desses, fossem somados os casos não documentados e, ainda, as es-
tatísticas da aviação geral, ou valores seriam muito maiores.
Devido à séria natureza do problema, o "National Research Council" foi incumbido pelo Ministé-
rio dos Transportes dos EUA de estudar o problema de windshear. A principal conclusão foi
que havia total falta de programas efetivos de treinamento para os pilotos. Em decorrência dis-
so, a Federal Aviation Administration (FAA) coordenou o desenvolvimento de um completo Sis-
tema de Treinamento de Windshear.
II - CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS DE
WINDSHEAR
Variações de vento a baixa altitude sempre se constituíram em sério risco para aeronaves du-
rante decolagens e aproximações. Essas situações podem resultar de 'uma variedade das
condições, tais como: topografia, inversões de temperatura, brisas marítimas, sistemas frontais,
ventos fortes de superfície, e da mais violenta forma de variações de vento que são os "thun-
derstorms".
1 - Definições
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Um exame dos acidentes e incidentes reportados mundialmente de 1959 a 1983 identifica cin-
qüenta e um eventos relacionados com windshear, assim descritos.
a) Thunderstorms
Existem dois tipos básicos de thunderstorms, os convectivos e os frontais.
Os do tipo convectivo aparecem distribuídos aleatoriamente em zonas de ar turbulento e se de-
senvolvem a partir de áreas da superfície da terra, que recebem maior aquecimento solar. O ar
aquecido sobe e se resfria formando nuvens do tipo cumulus. Na fase seguinte de seu desen-
volvimento, uma precipitação ocorre na parte superior destas nuvens e cai à terra. A precipita-
ção assinala ao piloto o início da fase madura do cumulus e a presença de correntes descen-
dentes de ar. Aproximadamente uma hora após o início da precipitação, a corrente quente as-
cendente é interrompida pela chuva. A fonte de calor é removida pelo resfriamento da terra e o
thunderstorm se dissipa.
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Muitos thunderstorms desse tipo produzem uma rajada frontal (guest front) como resultado da
corrente descendente e do espalhamento do ar resfriado pela chuva. Essas rajadas são usu-
almente muito turbulentas e podem criar sérios riscos às aeronaves durante decolagens e a-
proximações.
Thunderstorms frontais estão usualmente associados a sistemas meteorológicos tais como
frentes e ventos convergentes. Eles formam linhas de instabilidade, duram varias horas, pro-
duzem chuva forte (eventualmente granizo) além de fortes rajadas
A principal distinção entre esse tipo mais severo de thunderstorm e o anteriormente descrito é a
presença de grandes variações de velocidade e direção do vento, no plano horizontal, em dife-
rentes altitudes dentro da formação. Isso faz com que esse tipo de formação seja verticalmente
inclinada. Desta forma a precipitarão ocorre em lugar diferente daquele da corrente quente as-
cendente permitindo um tempo de duração bastante maior. O fluxo de ar dentro da formação é
acelerado a velocidades verticais muito maiores, o que resulta numa velocidade horizontal do
vento maior na superfície.
A corrente descendente típica de um thunderstorm frontal atinge uma área bastante grande, va-
riando de uma a cinco milhas em diâmetro. Essa corrente descendente ao atingir a superfície
espalha-se, produzindo grandes variações na velocidade horizontal do vento.
Apesar dessas variações próximas à superfície ocorrerem numa área bastante grande, o que
diminui seus efeitos, os thunderstorm frontais representam um risco potencial para as aerona-
ves e devem ser evitados. A figura a seguir mostra o numero médio anual de dias de thunders-
torms no mundo. O Brasil encontra-se numa das regiões de maior ocorrência desse tipo de
formação, variando da Amazônia com duzentos dias por ano até o Sul com noventa dias por
ano. A média nos EUA é de quarenta dias por ano.
Assim, pode-se concluir que os trópicos são as regiões de maior potencial de risco para a ocor-
rência do Windshear. Todavia, devido à baixa freqüência de tráfego aéreo nessas regiões, ou
ainda, pela atribuição de acidentes causados por ,windshear a outros fatores, um número me-
nor de eventos foi reportado nessas regiões. Uma análise detalhada dos casos reportados nos
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EUA entretanto, permite concluir por uma evidente correlação entre a ocorrência de thunders-
torms e o número de acidentes devidos a Windshear.
b) Microbursts
Da investigação de acidentes devidos a windshear, e de pesquisas meteorológicas, foram
identificadas correntes descendentes possantes e concentradas, conhecidas como microbursts.
Os microbursts podem surgir em qualquer condição meteorológica convectiva (thunderstorms,
chuvas, virga). Observações demonstraram que aproximadamente 5% dos thunderstorms pro-
duzem microbursts. Quando a descendente atinge o solo, espalha-se horizontalmente e pode
formar um ou mais anéis horizontais do vértice). A região do espalhamento (outflow) tem, tipi-
camente, diâmetros que vão de uma a duas milhas e os vórtices podem atingir até 2.000 pés
de altura.
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Pode ocorrer mais do que um microburst na mesma formação. Os pilotos devem estar atentos
para a ocorrência de outros microbursts mesmo que um deles já tenha sido encontrado ou re-
portado. Se vários microbursts estão presentes, uma série de vórtices podem formar-se perto
do solo. Condições associadas com estes vórtices podem produzir poderosas ascendentes e
espirais em adição às descendentes.
As velocidades do vento aumentam durante aproximadamente cinco minutos depois que um
microburst atinge inicialmente o solo. O encontro de um microburst no estágio inicial de sua
formação pode não ser significativo para o piloto, entretanto, a mesma situação, alguns poucos
minutos mais tarde, pode produzir variações de velocidade duas ou três vezes maiores. Nor-
malmente a dissipação de um microburst ocorre de dez a vinte minutos após o contato inicial
da descendente com o solo.
Medições efetuadas indicam que as variações da velocidade do vento, que podem ser encon-
tradas quando voando através de um microburst em seu estágio de maior intensidade, são da
ordem de 45 kt. Entretanto, diferenças de velocidade do vento de quase 100 kt foram detecta-
das em acidentes nos aeroportos de Dallas e Denver (EUA).
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Deve-se notar que até mesmo windshears que estavam dentro da capacidade de desempenho
das aeronaves tem causado acidentes.
Microbursts podem ser associados tanto a chuva pesada, como nos thunderstorms, quanto a
precipitações leves que estejam associadas a nuvens convectivas. Além disso, microbursts
tem ocorrido em condições de relativa baixa umidade como chuva leve ou virga (precipitação
que se evapora antes de atingir o solo).
A formação de um microburst seco ocorre porque o ar abaixo da base de uma nuvem é muito
seco e a precipitação gerada evapora-se.
Esta evaporação produz resfriamento do ar que, por diferença de densidades, desce. Com a
continuação do processo de evaporação a descendente se acelera gerando um microburst.
Portanto, os pilotos são alertados para não voar debaixo de nuvens convectivas onde haja
condições do virga.
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"A PRIMEIRA E MAIS IMPORTANTE LIÇÃO APRENDIDA É QUE A MELHOR DEFESA CON-
TRA UM WINDSHEAR É EVITÁ-LO."
Na maior parte dos acidentes analisados, várias evidências estavam presentes, tais como bole-
tins meteorológicos e sinais visuais que poderiam ter alertado os pilotos do perigo de ocorrên-
cia de windshear. Em todos os casos entretanto, essas evidências ou não foram reconhecidas
ou não tomou-se nenhum ação. Os tripulantes devem procurar estar atentos aos sinais que
possam alertá-lo para a provável existência de windshear e, a seguir, evitá-los.
• o reconhecimento pelo piloto de que está voando dentro de um Windshear, é difícil e ge-
ralmente é complicado pelas condições meteorológicas marginais
• o tempo útil para reconhecimento e recuperação é pequeno, podendo chegar a um mínimo
de cinco segundos.
• a coordenação entre tripulantes é essencial tanto para um imediato reconhecimento de pe-
netração em windshear como para a recuperação.
2 - Técnicas de Pilotagem
• a trajetória deve ser controlada com pitch (para isto pode ser necessária a aplicação de
forças bastante grandes sobre comandos),
• velocidades abaixo das normais devem ser aceitas mesmo em ocorrências de perda de sus-
tentação.
Para chegar a essas conclusões, três tipos de ocorrências de windshear que resultaram em a-
cidentes foram analisadas: durante a corrida de decolagem, após o “liftoff” e na aproximação.
Esses casos típicos e as lições que deles podem ser aprendidas são descritos a seguir com a
apresentação de conclusões sobre ou efeitos do windshear nas aeronaves, seus sistemas e da
descrição do impacto dessas lições no treinamento de simulador.
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Num acidente típico estudado, a aeronave encontrou um Windshear que provocou um crescen-
te aumento do vento de cauda logo após o ponto de “liftoff”. Durante os primeiros cinco segun-
dos a decolagem parecia normal mas a aeronave espatifou-se no solo após o final da pista, a-
proximadamente vinte segundos após ter decolado.
Neste exemplo, a aeronave encontrou windshear antes de iniciar uma subida estabilizada, difi-
cultando o reconhecimento da situação. Com a diminuição da velocidade, o pitch inicial foi re-
duzido para conseguir uma recuperação da velocidade. Com pitch menor, a capacidade de per-
formance disponível não foi utilizada e a aeronave perdeu altitude. Quando o piloto apercebeu-
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se do risco de choque com o solo, tentou uma recuperação para o pitch inicial. Isso requereu
aplicação de grande força sobre a coluna de comando. Porém, a ação corretiva foi tomada
muito tarde para prevenir o choque com o solo.
Reduzir o pitch para compensar uma diminuição de velocidade é o resultado da ênfase dada no
passado à manutenção da velocidade.
A ação mais adequada à perda de velocidade e sustentação proveniente de windshear é tentar
controlar o pitch, não permitindo que ele fique abaixo do normal. Somente com um controle a-
propriado do pitch e aceitando-se uma redução na velocidade é que pode-se evitar a degrada-
ção da trajetória do vôo.
Uma vez que a aeronave começa a desviar-se da trajetória ideal e é induzida a elevadas ra-
zões de descida, tornam-se necessárias margens extras de tempo e altitude para mudar-se a
direção da trajetória.
No exemplo que está sendo comentado, a performance da aeronave não foi utilizada adequa-
damente por dois fatores; falta de reconhecimento da situação como proveniente de windshear
e resposta inadequada.
Uma deterioração rápida da performance de subida pode não ser aparente para a tripulação, a
menos que os instrumentos que indicam a trajetória vertical, sejam cuidadosamente monitora-
das.
Somente cinco a quinze segundos são disponíveis para o reconhecimento e resposta a um
windshear, Dessa forma é vital que o piloto possa reconhecer rapidamente uma condição de
windshear. Esse reconhecimento requer coordenação entre os pilotos e "callouts" apropriados
pelo piloto que não está voando (P N F)
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Note-se que a presença de rajadas pode mascarar o aumento anormal da velocidade e que o
tempo disponível para responder efetivamente à ocorrência de windshear pode ser de cinco
segundos em casos extremos.
Em operações de rotina, a coordenação entre os tripulantes (particularmente os "standard cal-
louts") é essencial para assegurar um pronto reconhecimento na deterioração do desempenho.
A potência máxima pode ser requerida para melhorar a performance, particularmente se foi uti-
lizado "reduced thrust".
Caso não exista pista suficiente para acelerar até a velocidade normal de decolagem, ou para
abortar, pode ser necessário rodar a aeronave em velocidades menores do que a Vr, normal
para que se atinja o "liftoff' e um "climb" seguros. Neste caso, um pitch adicional pode ser re-
querido para que se consiga suficiente sustentação.
Durante os treinamentos tradicionais, os tripulantes são freqüentemente instruídos a não rodar
a aeronave em velocidades menores do que a Vr, de modo a prevenir um pitch excessivo que
poderia resultar num contato da cauda da aeronave com a pista.
No caso de ocorrer windshear, rodar para um pitch maior a uma velocidade menor do que a
normal, pode ser requerido para que se consiga deixar o solo no comprimento de pista
remanescente. Isso pode resultar num contato da cauda com a pista.
Para superar uma situação em que o windshear ocorra inesperadamente, o piloto deve estar
preparado para aplicar técnicas diferentes das comumente utilizadas.
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Uma aeronave voando através de vórtices horizontais está sujeita a “updrafts” e “downdrafts”
alternados que ocasionam mudanças no pitch sem a interferência do piloto. Esses ventos ver-
ticais resultam em flutuações no ângulo de ataque da aeronave que, em situações mais seve-
ras, podem induzir a atuação momentânea do stick-shaker ou produzir vibrações na fuselagem,
em velocidades bem acima das normais.
c) Efeitos da Turbulência
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A turbulência pode ser muito intensa em condições meteorológicas associadas com windshear
e seus efeitos podem mascarar as tendências de mudança na velocidade e retardar o reconhe-
cimento de uma condição severa de windshear.
A turbulência tende a desencorajar o uso do pitch disponível durante uma recuperação pelo fa-
to de o “stick-shaker” ter uma atuação imprevista. Esses efeitos podem aumentar significati-
vamente a carga de trabalho dos pilotos e desviar a sua atenção dos aspectos mais importan-
tes de controle da aeronave.
d) Efeitos da Chuva
O estudo de windshears tem mostrado que algumas de suas formas são acompanhadas de al-
tos níveis de precipitações. A NASA tem desenvolvido pesquisas para determinar como os al-
tos níveis de precipitações podem contribuir para a perda de desempenho das aeronaves.
Entretanto, pelo fato de a chuva servir como um aviso de condições severas de windshear, as
áreas com precipitação pesada devem ser evitadas. Altos índices de precipitação também re-
sultam em aumento significativo dos níveis de ruído na cabine de comando, fazendo com que a
concentração do piloto e a Coordenação da tripulação se tornem mais difíceis.
e) Performance da Aeronave
As aeronaves comerciais têm capacidade considerável de subida em velocidades abaixo dos
valores normais de referência. Como pode ser visto na figura a seguir, para um desempenho
típico de “takeoff climb” uma razão de subida de 1500 ft/min é possível mesmo em velocidades
de stick-shaker.
f) Estabilidade da Aeronave
Conforme mencionado anteriormente, as características típicas de estabilidade longitudinal
tendem a aeronave para "pitch up" com o acréscimo da velocidade e "pitch down" com o de-
créscimo de velocidade. As variações de tração em resposta a essas variações também afe-
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tam a estabilidade. Nas aeronaves com os motores sob as asas existe uma tendência adicio-
nal de "pitch up" conforme a tração é acrescida e de "pitch down" conforme a tração decresce.
Esta tendência pode tornar-se mais pronunciada em velocidades mais baixas.
a) Altímetros
O uso do rádio altímetro ou altímetro barométrico durante os “callouts” a observação dos
instrumentos em uma situação de windshear devem ser adequado às características de cada
instrumento. Como o rádio altímetro se refere ao relevo do solo, o indicador pode mostrar uma
subida ou descida devido às variações do terreno. O altímetro barométrico também pode for-
necer indicações distorcidas devido às variações de pressão provocadas pelo microburst.
c) Stick-Shaker
O stick-shaker é ativado pelo ângulo de ataque. Conseqüentemente, mudanças rápidas nos
ventos verticais ou manobras irão variar a atitude e a velocidade na qual o stick-shaker atua.
Tal fato, como já visto, pode ocasionar atuações imprevistas do stick-shaker.
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Inicialmente deve ser utilizado um modelo simples que requeira uma imediata atitude corretiva
nos controles, suficiente para treinar esses elementos. Uma vez que as bases para reconhe-
cimento e recuperação sejam entendidas, modelo mais complexos podem ser utilizados.
IV - ANÁLISE DE UM ACIDENTE
Apesar de ter ocorrido há quase quinze anos, os assuntos aqui abordados continuam perfeita-
mente atualizados.
1 - Resumo do Acidente
Aos 2 de agosto de 1985, um Lockheed L-1011 Tristar (vôo Delta 191 colidiu com o solo a
6.300 pés da cabeceira da pista em uso, ao tentar atravessar um microburst com chuva, duran-
te a aproximação ILS no Aeroporto Internacional Dallas/Fort Worth. Dos cento e sessenta e três
ocupantes, salvaram-se apenas vinte nove, dentre eles, três comissários de vôo. O avião esta-
va sendo operado pelo 1º Oficial (FO), ocupando o assento da direita. As condições de tempo
eram visuais, uma pancada de chuva ao norte do aeroporto, no setor de aproximação da pista
17L.
O vôo 191 foi autorizado a descer para 10.000 pés e tomar a proa 250°; o comandante contes-
tou essa proa devido à existência de uma célula de trovoada. O controlador designou outra
proa e transferiu o vôo para o APP. O Comandante ainda comentou com o FO: "Você está com
sorte por não ter que atravessar aquela pauleira”.
Ao entrar em contato com o APP, o controlador transmitia a seguinte mensagem (transcrita
parcialmente) ..."Attention all aircraft listening ... there's a little rainshower just north of the
airport... and they're starting to make ILS approaches ... for one seven left". Depois o avião foi
transferido ao Arrival Radar (AR), que completou a vetoração para o ILS da pista 17L.
Para uma melhor avaliação do acontecido durante a aproximação final, são, a seguir, transcri-
tos os últimos minutos de gravação do 'cockpit voice recorder' (CVR), sendo suprimidas apenas
as comunicações entreo ATC e os outros aviões.
18:02:35 APP...Delta one ninety one heavy...cleared for ILS one seven left approach
18:03:31 APP...and we´re getting some variable winds out there due to shower on short
out there north end of DFW
18:03:46 APP...Delta one ninety one heavy...contact tower one two six five five
18:03:58 Capt´n...Tower Delta one ninety one heavy, out here in the rain, feels good
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18:04:01 TWR...one seven left cleared to land, wind zero nine zero at five gusts to one five
18:04:14 FO...Lightning coming out of that one
Capt...What?
FO... Lightning coming out of that one
Capt´n...Where?
FO...Righ ahead of us
18:04:30 2nd OF...You get good legs don´t ya?
18:05:05 Capt´n...A thousand feet
18:05:19 Capt´n...Watch your speed
18:05:20 (sound of rain begins and continues to impact)
18:05:21 Capt´n...You gonna lose it all of a sudden, there it is
18:05:26 Capt´n...Push it up, push it way up...way up...way up...way up
(sound of engine high RPM)
18:05:30 Capt´n...That´s it...hang on to the...
18:05:44 GPWS...Whoop whoop pull up
18:05:46 GPWS...Whoop whoop pull up
18:05:47 Capt´n...Push it way up
18:05:52 (sound of noise noise to landing)
18:05:53 (sound of second impact/end of recording)
O Tristar bateu em configuração de pouso, com o manche puxado, atitude de +3° e potência
máxima nos motores.
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2 - Considerações Gerais
• O Comandante não fez nenhum comentário ao ser alertado pelo FO (às 18:04:14) sobre os
relâmpagos que indicavam a existência de uma trovoada na proa do avião.
• De acordo com as evidências, o avião entrou no microburst às 18:05:14 (bateu às
18:05:52).
• Pilotos que pousaram alguns minutos antes do acidente encontraram turbulência e avista-
ram relâmpagos e os indícios de um tornado. No entanto, não transmitiram um PIREP
(pilot weather report). De acordo com o National Transportation Safety Board (NTSB),
essa omissão pode ter contribuído para o acidente.
• Uma tripulação que seguia o Tristar (com separação visual de 5 NM), viu quando o mesmo
entrou num paredão de chuva com relâmpagos, que estava perfeitamente delineada pelo
"contour” do radar de bordo. Também deixou de transmitir um PIREP.
• O acidente foi presenciado por um controlador e alguns pilotos que estavam taxiando para
a cabeceira 17L. Eles avistaram o avião ao sair de um paredão de chuva opaca contendo
uma estrutura em forma de funil que se estendia do solo até a base da nuvem.
• O microburst não foi registrado pelo "Low Level Windshear Alert System" (LLWAS do aero-
porto, pois estava ocorrendo fora da periferia dos anemômetros.
• Fotos VIP (video integrator processor) /Radar confirmaram que o microburst estava asso-
ciado ao núcleo de chuva de uma célula de trovoada com intensidade quatro, topo supe-
rior a 40.000 pés. Os controladores desconheciam a magnitude dessa célula, pois o me-
teorologista de plantão esteve ausente das 17:25 até às 18:10, cumprindo seu horário de
refeição. Nesse intervalo, o radar estava sendo observado por um técnico não meteoro-
logista que desconhecia os riscos à segurança de vôo.
3 - O Microburst
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Por um triz, o acidente teria sido evitado. O avião fez um toque leve (com 170 KIAS e 46 nós),
justamente quando o piloto estava conseguindo recuperar o controle. O Tristar ricocheteou e
voltou ao solo, colidindo com uma caixa d'água.
De acordo com a NASA, o acidente teria sido causado por um erro de pilotagem cometido al-
guns segundos antes do primeiro impacto. O NTSB não endossou esse parecer, uma vez que
as severas condições operacionais encontradas pelo FO não permitiriam que se avaliasse sua
técnica de pilotagem. Outrossim, não se deveria concluir que outros pilotos poderiam ter evita-
do a colisão.
O acidente só teria sido evitado se a tripulação - ao invés de tentar seguir o "glide slope" - ti-
vesse iniciado uma arremetida acima de 700 ou 800 pés, ao reconhecer os primeiros indícios
de uma tesoura de vento.
O NTSB constatou que a tripulação não tinha recebido treinamento de manobras evasivas e de
escape em tesouras de vento a baixa altura. Embora os simuladores da empresa já tivessem
um programa básico de "windshear training”, o mesmo não estava sendo aplicado.
Verificou-se, também, que a empresa não tinha uma política operacional definida (go/no go)
sobre operações a baixa altura em áreas terminais com trovoadas. Tampouco existiam parâ-
metros de performance para aproximações não estabilizadas que ditassem a necessidade de
uma arremetida. Essas falhas da empresa contribuíram para o acidente.
4 - A Tripulação Técnica
O Comandante era um veterano com 29.000 horas de vôo, das quais 3.000 no L-1011. Era
competente, cumpridor das normas operacionais e tinha o hábito de desviar de mau tempo,
que outros pilotos, às vezes, preferiam enfrentar, estava perfeitamente familiarizado com as ca-
racterísticas e a curta duração da tempestade de verão que assolavam as rotas de empresa.
O Primeiro Oficial (FO) tinha 6.500 horas de vôo, sendo 4.200 no L-1011. Era checador cre-
denciado da FAA e foi um dos responsáveis pela elaboração do 1011 Pilot's Operating Manu-
al".
O Segundo Oficial também não era nenhum novato, tendo 6.500 horas de vôo, das quais 4,500
no L-1011.
5 - A Decisão Operacional
Não foi possível determinar porque o Comandante decidiu continuar a aproximação, depois de
ter sido alertado pelo FO sobre a existência da trovoada, que já tinha sido notificada pelo Se-
gundo oficial, antes da interceptação do ILS. Entre as razões mais prováveis, merecem desta-
que as seguintes:
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• Considerando-se que o Comandante era uma pessoa receptiva a sugestões, não devia exis-
tir nenhum constrangimento para que um dos pilotos lhe sugerisse uma arremetida. Es-
sa falta de iniciativa (do FO ou do Segundo Oficial) sugere que eles concordavam com a
operação e, assim, foram co-responsáveis pela decisão errônea do Comandante.
O NTSB determinou que as causas prováveis (fatores contribuintes, como o SIPAER conside-
ra) desse acidente foram a decisão da tripulação em iniciar e continuar a aproximação para
dentro de uma trovoada já identificada visualmente; a falta de normas específicas e de treina-
mento para evitar e escapar de tesouras de vento; e a inexistência (por parte do ATC) de in-
formações instantâneas sobre riscos de tesouras de vento a baixa altura.
Em decorrência das investigações, o NTSB editou um '”pacotão" contendo trinta recomenda-
ções de segurança, endereçadas à FAA, NASA, National Weather Service (NWS) e à National
Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA).
Anteriormente (entre 1973 e 1985), o NTSB já tinha editado outras trinta e seis recomendações
sobre tesouras de vento e "microbursts" que já estavam sendo cumpridas pela FAA.
Notas:
(1) Apesar de serem eficientes na presença de frentes de rajadas, os LLWAS não detectam as
tesouras de vento (ou os rotores de vórtices) que estejam ocorrendo fora dos limites da instala-
ção ou acima da altura dos anemômetros (cerca de 10 a 12 metros). Tampouco, detectam tur-
bulência vertical a baixa altura.
(2) O "airborne windshear warning” para aeronaves pesadas não tinha sido homologado na é-
poca do acidente. O sistema não é preventivo; ele só começa a atuar quando o avião já está
sendo atingido por uma tesoura de vento com magnitude pré-determinada.
(3) O aeroporto foi varrido pela tempestade dez minutos depois do acidente, com ventos supe-
riores a 40 nós, disparando o LLWAS.
7 - Considerações Finais
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Dentre as causas prováveis (como o NTSB considera) do acidente investigado, a falta normas
e de treinamento específicos foi atendida pela divulgação de material didático pelo Department
of Transportation (DOT), através de reuniões promovidas pela FAA, em 1987, quando, então,
as empresas de transporte aéreo receberam o material constituído por dois manuais, noventa
slides e duas fitas de vídeo.
Um dos manuais contém orientação para utilização em simulador, de programa de windshear
causadoras de acidentes. Do outro manual, constam as informações essenciais para transmis-
são em palestras aos tripulantes, para que o treinamento em simulador seja bem assimilado.
As fitas de vídeo, de curta duração, com os títulos “A Windshear Avoided" e "What the Crew
Can Do", abordam potenciais condições geradoras de windshear, como evitá-la e que ações a
tripulação deve tomar para a avaliação, identificação e evasão desse fenômeno meteorológico.
Os estudos em simulador foram baseados na performance do B-737-200.
O objetivo maior de toda essa gama de informações - em que se ensinam os métodos para i-
dentificar “windshear” causada por "microburst" ou outras fontes geradoras - é a de EVITÁ-LA e
nunca enfrentá-la.
Atualmente (1995) a FAA está desenvolvendo sistemas preditivos que alertam a tripulação até
noventa segundos antes de penetrar em "windshear”.
Os sistemas atualmente em uso nas aeronaves são os reativos, ou seja, indicam apenas quan-
do a aeronave já está sofrendo as forças intensas da windshear.
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ÍNDICE
CONTEÚDO
I - INTRODUÇÃO
II - CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS DE WINDSHEAR
1 - Definições
2 - Identificação das Condições Favoráveis
3 - Análise dos Principais Fenômenos
III - LIÇÕES APRENDIDAS DE CASOS DE WINDSHEAR
1 - Reconhecimento de Penetração em Windshear
2 - Técnicas de Pilotagem
3 - Comportamento das Aeronaves em Windshear
4 - Efeitos do Windshear nos Sistemas das Aeronaves
5 - Desenvolvimento de Modelos de Vento
IV - ANÁLISE DE UM ACIDENTE
1 - Resumo do Acidente
2 - Considerações Gerais
3 - O Microburst
4 - A Tripulação Técnica
5 - A Decisão Operacional
6 - Causas Prováveis do Acidente
7 - Considerações Finais