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Certificações e

Auditoria Ambiental
Material Teórico
A institucionalização da questão ambiental

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Carlos Eduardo Martins

Revisão Textual:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
A institucionalização da Questão a
Ambiental

• A Institucionalização da Questão Ambiental


• As primeiras discussões internacionais sobre Meio Ambiente
• As Organizações de defesa do Meio Ambiente
• A Questão Ambiental na ONU

·· Descrever os processos que envolvem a institucionalização da questão ambiental,


isto é, entender o que tem levado os Estados em todas as suas escalas e as
organizações internacionais a adotarem os princípios ambientais.

Caro(a) aluno(a),
Nesta Unidade, em que trataremos da institucionalização da questão ambiental, você terá
acesso a diversos recursos.
Veja o mapa mental, esquema gráfico que sintetiza o assunto tratado nesta Unidade.
Fique atento(a) aos prazos das atividades que serão colocados neste Ambiente Virtual de
Aprendizagem (AVA) Blackboard.
Sempre que possível, recorra à videoaula e à apresentação narrada para esclarecer eventuais
dúvidas sobre o conteúdo textual.
Em seu tempo livre, procure pesquisar as fontes relacionadas no material complementar.
Além disso, tente pesquisar o máximo que puder sobre a institucionalização da questão
ambiental. Há inúmeros conteúdos na internet que são úteis ao seu estudo e à sua formação
profissional.

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Unidade: A institucionalização da questão ambiental

Contextualização

Caro(a) aluno(a),
Para iniciar as discussões desta Unidade, leia o texto de apresentação do Instituto Sea
Shepherd Brasil.

O Instituto Sea Shepherd


http://seashepherd.org.br/quem-somos

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A Institucionalização da Questão Ambiental

Pode-se considerar como parte significativa do processo de institucionalização da questão


ambiental o fato de, na atualidade, o tema fazer parte da estrutura tanto de organizações
públicas e privadas, quanto do âmbito governamental e não governamental em todas as
instâncias, inclusive as dos fóruns internacionais.
Todo o enredamento institucional sobre a questão ambiental se deve às preocupações que,
nas últimas décadas, têm levado a humanidade a refletir sobre as consequências das suas ações
e, com isso, determinar novas formas de realizá-las, levando em conta o que se entende hoje
por desenvolvimento sustentável.
Entre as ações institucionais que atualmente mais evidenciam a presença da questão
ambiental estão as políticas ambientais adotadas pelos governos e organizações produtivas,
essas cada vez mais frequentes e abrangentes. Vejamos os principais aspectos da presença
cada vez maior dessa temática ambiental no âmbito institucional.

As primeiras discussões internacionais sobre Meio Ambiente

O debate sobre a questão ambiental não é novo, de modo que pode-se deduzir diversos
fragmentos da representação humana sobre o meio ambiente desde a Antiguidade, com as
primeiras expressões sobre os cuidados com a água, com o solo, com as florestas e, em última
análise, sobre os direitos humanos, pois esse tema tornou-se mais frequente e mais concreto
a partir de meados do século XX.
Assim, foi durante a Guerra Fria que as discussões acerca da questão ambiental tiveram
seu afloramento. Durante as corridas aeroespaciais, tecnológicas e bélicas, não só o
descontentamento popular, mas o engajamento pacifista de cientistas e governos empenhados
nas resoluções diplomáticas dos problemas geopolíticos internacionais inauguraram as
primeiras manifestações – por que não dizer? –, ativistas com relação à causa ambiental. Essas
primeiras manifestações foram acompanhadas das originais considerações sobre a qualidade
ambiental quanto à produção dos bens de consumo, o que, mais recentemente, foi responsável
pela proliferação internacional da certificação ambiental tanto das organizações quanto dos
produtos. Entretanto e de fato, da questão ambiental pode-se dizer que ocorreu quando esse

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Unidade: A institucionalização da questão ambiental

tema passou para a esfera dos fóruns nacionais e internacionais.


As Organizações de defesa do Meio Ambiente

A partir das décadas de 1950 e 1960, a questão ambiental extrapolou o ambiente


acadêmico e ganhou status de luta de classes ou de grupos nacionais e internacionais. As
primeiras manifestações em defesa da natureza e dos direitos humanos fundamentais acabaram
convertendo-se em associações ativistas.
Em um primeiro momento, esses grupos atuavam no convencimento por meio das
manifestações organizadas, ainda muito praticadas, mas, posteriormente, passaram a articular
suas demandas em conjunto com as dos partidos políticos simpáticos à causa ambiental, até
o ponto de surgirem os chamados “partidos verdes”. O primeiro partido verde apareceu na
Nova Zelândia, da luta de trabalhadores da construção civil que se recusaram a participar
de obras em locais considerados culturais e sagrados pelos aborígenes. Daí em diante, os
princípios “verdes” começaram a se difundir entre aqueles que queriam manter uma postura
política “nem à esquerda, nem à direita”.

Figura 1 – Logomarca do WWF Além dos movimentos político-partidários, o ambientalismo


transformou-se em ativismo radical. Movimentos de luta em defesa
do meio ambiente, como o World Wide Fund for Nature (WWF)
(Figura 1), surgido em 1961 na Suíça; o Greenpeace, criado no
Canadá, em 1971; Sea Shepherd Conservation Society (Figura
2), fundada nos Estados Unidos, em 1977. Essas organizações
são mais conhecidas pelas ações invasivas contra o que acreditam
se tratar de agressões à natureza e, por esses motivos, diversos
integrantes já passaram pelos tribunais e frequentemente
Fonte: wwf.org respondem às ações na justiça.

Figura 2 – Logomarca da Sea Shepherd Conservation Society

Fonte: www.seashepherd.org

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Em 1984, o serviço secreto francês detonou uma bomba no navio Rainbow Warrior (Figura
3), que servia de suporte para as ações do Greenpeace e estava atracado no porto de Auckland,
Nova Zelândia. A ideia era interromper um protesto que a organização planejava fazer,
denunciando os testes nucleares que a França realizava no Atol de Mururoa, no Arquipélago
de Tuamotu, na Polinésia Francesa. O ataque não só afundou a embarcação, como matou
um ativista do grupo. A partir da publicidade desse episódio, a França nunca mais produziu
detonações nucleares na região.

Figura 3 – Barco Rainbow Warrior, do Greenpeace, adernado após o atentado a bomba

Fonte: greenpeace.org

A partir dessas primeiras referências, diversas outras organizações ativistas tiveram suas
atividades iniciadas pelo mundo, nas mais diversas lutas, desde a defesa dos direitos humanos,
como é o caso da Amnesty International – Anistia Internacional –, fundada em 1961, em
Londres, Inglaterra, até a proteção e defesa dos animais, caso da União Internacional Protetora
dos Animais (Uipa). Considerando todos os aspectos analisados até este ponto, podemos
considerar que a questão ambiental alcançou um patamar internacional. É a partir desta
perspectiva que devemos entender a assimilação da temática ambiental pela Organização das
Nações Unidas (ONU).

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Unidade: A institucionalização da questão ambiental

A Questão Ambiental na ONU

A ONU (Figura 4) é uma instituição de congregação internacional com perfil supranacional,


isto é, representa os poderes constituídos pelos Estados Nacionais.
Figura 4 – Logomarca ou bandeira da ONU

Foi criada em 1945, em uma conferência realizada por cerca de cinquenta chefes de Estado,
em São Francisco, Estados Unidos (Figura 5). A partir de sua criação, a ONU teve sua sede
transferida para a cidade de Nova Iorque, Estados Unidos. Atualmente, a ONU representa
193 países, ou Estados-membros. O Brasil é considerado um membro fundador da ONU, pois
esteve presente e firmou a Carta de São Francisco, que deu origem a essa instituição.

Figura 5 – Conferência de São Francisco (1945)

Fonte: UN Photo/Lundquist

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Entre outros aspectos, a finalidade da ONU é a de congregar as nações e propiciar um
ambiente de relacionamento amistoso e diplomático internacional, no qual as resoluções
tenderiam à solução por meio do diálogo, contrariamente ao que havia ocorrido nas décadas
anteriores, marcadas por duas guerras mundiais.
Entre os temas aos quais a ONU se dedica, está a questão ambiental. Para este fim, a
ONU tem, desde as suas primeiras conferências, auxiliado na mediação de diversos acordos,
tratados e resoluções internacionais sobre o meio ambiente. Nas próximas linhas analisaremos
algumas resoluções originadas em conferências da ONU e que representam a sua intervenção
na temática ambiental.

As Conferências da ONU sobre Meio Ambiente


Em 1959, a ONU realizou em Washington, a Convenção sobre Pesca no Atlântico
Norte. Nesse evento foi assinado um dos tratados mais relevantes do ponto de vista
ambiental até àquela altura – o Tratado da Antártica. Esse documento resolveu uma questão
geopolítica e ambiental significativamente grave naquele contexto. Até 1959, diversos países
reivindicavam posses (Figura 6) na superfície da Antártica, até então, o único Continente
onde o homem ainda não havia se fixado. Entretanto, diversas suposições acreditavam,
o que se confirmou posteriormente, que o solo antártico era provido de muitas riquezas
naturais e isto moveu diversas nações a implantarem tentativas de colonização, em princípio
fracassadas e que geraram inúmeras discussões acaloradas nos fóruns internacionais, entre
os quais, alguns na própria ONU.
Figura 6 – Áreas no Continente antártico reivindicadas por diversos países

Fonte: Wikimedia Commons

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Unidade: A institucionalização da questão ambiental

Note que na Figura 6, à exceção da área de cor branca, em 1959 todas as demais se
encontravam reivindicadas por alguma nação. Todavia, a partir da assinatura do Tratado
houve o compromisso desses países reivindicantes em respeitar o espaço antártico sem alterá-
lo, realizando apenas pesquisas científicas.
Em 1957, o Conselho Internacional da União Científica (ICSU) criou o Comitê Especial
para Pesquisas Antárticas (Scar), formado por especialistas encarregados pelas investigações
cientificas nesse continente, durante o período de julho de 1957 até dezembro de 1958,
denominado ano geofísico internacional. Países como Argentina; Austrália; Bélgica; Brasil;
Chile; Estados Unidos; França; Japão; Noruega; Nova Zelândia; Reino Unido; República Sul
Africana e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) – hoje Rússia – criaram suas
estações de pesquisa e, após a assinatura do Tratado, mantiveram as estações funcionando
com o compromisso de aperfeiçoarem as pesquisas sobre o Continente.
A seguir são relacionadas algumas das convenções realizadas pela ONU para discutir
questões ambientais:
• 1960 – Convenção Sobre a Proteção dos Trabalhadores Contra Radiações Ionizantes;
• 1960 – Convenção Sobre a Responsabilidade de Terceiros no Uso da Energia Nuclear;
• 1961 – Convenção Sobre a Proteção de Novas Qualidades de Plantas e o Reconhecimento
e Proteção dos Cultivadores de Novas Variedades de Plantas;
• 1962 – Acordo de Cooperação em Pesca Marítima;
• 1963 – Convenção de Viena Sobre a Responsabilidade Civil por Danos Nucleares;
• 1963 – Acordo Sobre a Poluição do Rio Reno – Cooperação Entre Países para Prevenir
a Poluição e Manter a Qualidade da Água;
• 1963 – Tratado Proibindo os Ensaios Nucleares na Atmosfera, no Espaço Extraterrestre;
• 1964 – Convenção Sobre o Conselho Internacional para a Exploração do Mar;
• 1966 – Convenção Sobre a Conservação do Atum do Atlântico;
• 1967 – Convenção Fitossanitária Africana de Controle e Eliminação de Pragas das Plantas;
• 1968 – Convenção Africana Sobre a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais;
• 1969 – Convenção Sobre a Conservação dos Recursos Vivos do Atlântico Sudeste;
• 1969 – Convenção Internacional Sobre a Responsabilidade Civil por Danos Causados
pela Poluição por Óleo – Petróleo;
• 1969 – Convenção Relativa à Intervenção em Alto Mar em Caso de Acidentes com Óleo
– Petróleo;
• 1971 – Convenção – de Ramsar – Relativa às Áreas Úmidas de Importância Internacional;
• 1971 – Convênio Sobre a Proteção Contra os Riscos de Contaminação por Benzeno;
• 1971 – Convênio Sobre a Responsabilidade Civil na Esfera do Transporte Marítimo de
Materiais Nucleares.

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A Conferência de Estocolmo (1972)
Entre todas as convenções promovidas pela ONU até aquele momento, a de maior relevância
– do ponto de vista ambiental – foi, sem dúvida, a Convenção das Nações Unidas Sobre o
Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, Suécia, em 1972.
A Convenção de Estocolmo teve 113 chefes de Estado, contou com cerca de 250
organizações não governamentais e com organismos internos da ONU. Nessa oportunidade
foi assinada a Convenção das Nações Unidas Sobre Meio Ambiente Humano – Declaração
de Princípios Sobre a Proteção do Meio Ambiente –, por meio da qual se disseminou os
princípios de comportamento e responsabilidade que deveriam governar as decisões relativas
às questões ambientais.
Além do documento supracitado, a Convenção também formulou o plano de ação
que convidava todos os países, os organismos da ONU, além de todas as organizações
internacionais a cooperarem com a busca de soluções para os problemas ambientais
considerados mais graves.
Foi no fim da década de 1960 e início de 1970 que teve origem a crença de que as atividades
humanas eram as únicas responsáveis pelo que se convencionou chamar de “degradação” da
natureza, o que implicaria em riscos futuros ao próprio bem-estar da humanidade.
Os debates que se seguiram durante a reunião polarizaram de um lado, os países mais
desenvolvidos e de outro, as nações em desenvolvimento. Enquanto os primeiros estavam
preocupados com o futuro a partir de uma perspectiva extremamente pessimista e alarmista, com
proposições conservacionistas da natureza remanescente, por meio de medidas preventivas;
por outro lado, os países em desenvolvimento, varridos por problemas socioeconômicos
dos mais diversos, reivindicavam o direito de crescimento econômico mais breve possível,
contrariando exatamente as premissas do grupo de nações desenvolvidas.
Em sua contra-argumentação, os países em desenvolvimento lembraram às nações
desenvolvidas que essas já tinham chegado ao auge de suas capacidades produtivas e de
consumo ao custo da degradação ambiental anunciada e que, agora, impunham restrições de
crescimento aos países em desenvolvimento daquele contexto.
Além de todos os aspectos mencionados, a Convenção de Estocolmo também promoveu
a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) – United Nations
Environment Programme –, sediado em Nairóbi, Quênia.
De Estocolmo em diante foram realizadas diversas convenções na ONU sobre meio
ambiente, entre as quais:
• 1973 – Convenção Sobre o Comércio Internacional de Espécies de Flora e Fauna
Selvagens em Perigo de Extinção (Cites);
• 1974 – Convenção Sobre a Proteção Ambiental nos Países Escandinavos – Dinamarca,
Finlândia, Suécia e Noruega;
• 1977 – Convenção para a Proteção dos Trabalhadores Contra Problemas Ambientais –
Proteção Contra Problemas Relacionados à Poluição do Ar, Som, Vibração;
• 1978 – Convenção Regional do Kuwait Sobre a Proteção dos Ambientes Marinhos;

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Unidade: A institucionalização da questão ambiental

• 1979 – Convenção para a Proteção das Espécies Migratórias de Animais Selvagens;


• 1982 – Convenção Sobre o Direito do Mar;
• 1985 – Tratado de Zonas Livres de Elementos Nucleares do Pacífico Sul;
• 1986 – Convenção Sobre a Breve Notificação a Respeito de Acidentes Nucleares;
• 1987 – Protocolo de Montreal Sobre as Substâncias que Esgotam a Camada de Ozônio;
• 1989 – Convenção Sobre o Controle de Movimentos Transfronteiriços para os Resíduos
Perigosos – Convenção da Basileia;
• 1991 – Convenção Africana Sobre o Banimento da Importação e Controle do Movimento
e o Gerenciamento de Resíduos Perigosos Transfronteiriços – Convenção de Bamako.

A Conferência do Rio de Janeiro (1992)


A Conferência da ONU Sobre Meio Ambiente, ocorrida no Rio de Janeiro entre 3 e 14 de junho
de 1992, popularmente conhecida como Earth Summit – Cúpula da Terra, ou simplesmente Eco-
92 –, foi o marco no qual o princípio da sustentabilidade passou das ideias para as ações.
O documento produzido e firmado pelos mais de 170 chefes de Estado presentes,
denominado Declaração do Rio sobre meio ambiente e desenvolvimento, ou simplesmente
Carta do Rio, apresentou 27 princípios nos quais o fundamento básico de ação institucional
era o “desenvolvimento sustentável”. Tal conceito foi anteriormente elaborado em um longo
documento denominado Our common future – Nosso futuro comum, ou simplesmente
Relatório Brundtland –, produzido em 1987 pela Comissão sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento da ONU, à época, liderada pela primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem
Brundtland.
O relatório demonstrava a preocupação em relação à capacidade de a natureza absorver
e se recuperar das agressões provocadas pelas atividades econômicas. Quanto a isso, o
documento se soma ao conhecido texto de Dennis L. Meadows, Os limites do crescimento.
Esse livro reflete o pensamento do chamado “Clube de Roma”, o qual pregava que, em escala
global, devem-se impor limites ao crescimento econômico a fim de garantir a estabilização ou
a redução dos impactos das atividades humanas sobre o meio ambiente.
A polêmica em torno do Relatório Brundtland veio dos representantes de países em
desenvolvimento, os quais reivindicavam o direito de crescerem aproveitando os recursos
naturais em seus territórios, assim como as nações industrializadas tinham feito anteriormente.
Em complemento à Carta do Rio, a Eco-92 também foi responsável pela criação de um
roteiro, ou um plano de ação com prazo estabelecido, a fim de orientar governos, agências
de desenvolvimento e crédito, grupos setoriais com vistas a reduzir, corrigir, ou até evitar
impactos sobre a natureza, esses decorrentes das atividades humanas. Tal documento ficou
conhecido como Agenda 21. A partir do qual teve início o que podemos denominar de gestão
ambiental, no sentido de se tornar a ferramenta de convergência de ações com vistas ao
desenvolvimento sustentável.
Além dos documentos mencionados, a Eco-92 também produziu importantes resoluções
que vieram a se tornar basilares na gestão ambiental – os Princípios para a Administração
Sustentável das Florestas; a Convenção da Biodiversidade e a Convenção Sobre Mudança
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do Clima. Da Eco-92 em diante, o tema mudanças climáticas passou a se tornar frequente
durante as conferências que se seguiram, entre as quais:
• 1993 – Convenção Sobre Responsabilidade Civil por Danos Resultantes de Atividades
Perigosas ao Meio Ambiente – Conselho da Europa (CEE), outros países;
• 1994 – Convenção Internacional de Combate à Desertificação nos Países Afetados por
Desertificação e/ou Seca.

As Conferências das Partes (COP) e as Mudanças Climáticas


As “partes” da Convenção de Mudanças Climáticas reúnem-se anualmente desde
1995, em Conferências das Partes (COP) para avaliar o avanço das ações relacionadas às
mudanças climáticas.
É nas COP que as diretrizes sobre as mudanças climáticas são definidas. Desde a sua
fundação, em 1994, houve 21 reuniões anuais, a saber:
• 1995: COP1 – Berlim, Alemanha;
• 1996: COP2 – Genebra, Suíça;
• 1997: COP3 – Quioto, Japão;
• 1998: COP4 – Quioto, Japão;
• 1999: COP5 – Bonn, Alemanha;
• 2000: COP6 – Haia, Holanda;
• 2001: COP7 – Bonn, Alemanha e Marrakech, Marrocos;
• 2002: COP8 – Nova Deli, Índia;
• 2003: COP9 – Milão, Itália;
• 2004: COP10 - Buenos Aires, Argentina;
• 2005: COP11 - Montreal, Canadá;
• 2006: COP12 – Nairóbi, Quênia;
• 2007: COP13 – Bali, Indonésia;
• 2008: COP14 – Potznan, Polônia;
• 2009: COP15 – Copenhague, Dinamarca;
• 2010: COP16 – Cancun, México;
• 2011: COP17 – Durban, África do Sul;
• 2012: COP18 – Doha, Catar;
• 2013: COP19 – Varsóvia, Polônia;
• 2014: COP20 – Lima, Peru;
• 2015: COP21 – Paris, França.
Todavia, nenhuma das convenções da ONU foi mais representativa quanto ao tema
mudanças climáticas do que a Convenção de Quioto, no Japão.

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Unidade: A institucionalização da questão ambiental

A Convenção de Quioto (1997)


Essa convenção resultou da formação da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
Mudança do Clima (CQNUMC), formada durante a Eco-92. Do total de países-membros
da ONU, 154 nações assinaram a Convenção, a qual assumiu como compromisso a ser
implementado o reconhecimento das mudanças do clima global como uma preocupação
comum dos seres humanos. Assim, a CQNUMC propôs a elaboração e a adoção de estratégias
de combate às causas das mudanças climáticas a fim de proteger e garantir o bem-estar das
gerações futuras.
A partir de 1994 foram estabelecidas as “partes” – OCDE e pelos países industrializados
da antiga União Soviética e do Leste Europeu –, chamados também de “países do anexo
I”, considerados os maiores emissores de Gases do Efeito Estufa (GEE), como o CO2 ou
dióxido de carbono, portanto, responsáveis pelas mudanças climáticas – responsabilidades
comuns, mas diferenciadas – e que, por esse motivo, deveriam “assumir a liderança” nas ações
relacionadas ao combate às alterações climáticas.
O compromisso das “partes” não é obrigatório para os membros do acordo, mas fomenta
“protocolos” para acordos futuros. Por exemplo, na Convenção de Quioto, de 1997, entrou
em vigor o protocolo que tornou obrigatória a redução das emissões supracitada, com os
seguintes parâmetros:
• Meta: determina que as “partes” do chamado anexo I reduzam suas emissões de GEE em
5,2%, valores relativos a 1990;
• Prazo: entre 2008 e 2012 – conhecido como primeiro período de compromisso;
• Descumprimento: sanções.
Para os países não listados no anexo I, ou “países não anexo I”, entre os quais o Brasil,
foram colocadas medidas para um tipo de crescimento com um mínimo de emissões, contando
com a alocação de recursos provenientes dos “países do anexo I”.
Na tentativa de auxiliar os “países do anexo I” a alcançarem suas metas de redução de
emissões, o Protocolo de Quioto dispõe de três mecanismos de flexibilização, a saber:
• Comércio de emissões;
• Implementação conjunta;
• Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).
O Protocolo estabeleceu as regras para o funcionamento do MDL, projetos em
todo o mundo que reduzem as emissões de gases ou captam o carbono emitido por
processos industriais. MDL é a base do comércio de carbono obrigatório. Nesse mercado
são comercializadas emissões de gases do efeito estufa, onde os países desenvolvidos,
que devem cumprir a redução da emissão desses gases, compram créditos de países
em desenvolvimento. Em geral, o MDL compreende os financiamentos de projetos
pelos países desenvolvidos, geralmente relacionados a reflorestamentos ou a energias
alternativas nos países em desenvolvimento. Os dois primeiros se aplicam aos “países do
anexo I”, já o MDL diz respeito aos “países não anexo I”.

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Figura 7 – Distribuição dos países em relação à CQNUMC

Fonte: Wikimedia Commons

Segundo a disposição apresentada na Figura 7, os países estão distribuídos segundo a


sequência abaixo relacionada:
• Anexo I: são as 43 “partes” da UNFCCC, incluindo a comunidade europeia. Essas
“partes” são os chamados países industrializados – desenvolvidos – e/ou as Economias
em Transição (EIT). Os quatorze EIT são os ex-socialistas;
• Anexo II: são as 24 “partes” da UNFCCC, incluindo a União Europeia. Essas “partes”
compreendem os membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE). São obrigadas a aprovisionar aporte financeiro e técnico para os
EIT e os demais países em desenvolvimento, no intuito de auxiliá-los na redução de suas
emissões – mitigação das alterações climáticas – e gerenciar os impactos negativos das
mudanças climáticas – adaptação às alterações climáticas;
• Anexo B: são as “partes” relacionadas no “anexo B” do Protocolo de Quioto. Dito de
outra forma, são as “partes do anexo I” com metas de primeira ou de segunda ordem
das emissões de GEE;
• Não anexo I: tratam-se das “partes” da UNFCCC não listadas no anexo I. São
considerados países em desenvolvimento, que podem vir a se tornar “países do anexo I”
assim que estiverem relativamente mais desenvolvidos.
Para se ter uma ideia do nível de aprofundamento institucional da questão ambiental, o
Protocolo de Quioto passou a vigorar em 16 de fevereiro de 2005, assim que foram atendidas
as condições que exigiam a ratificação por, pelo menos, 55% das 154 nações signatárias da
Convenção, as quais também fossem responsáveis por cerca de 55% das emissões de GEE. Dos
principais emissores mundiais, somente os Estados Unidos, apesar das suas responsabilidades
e obrigações definidas pela Convenção, não ratificaram o Protocolo de Quioto.
A ratificação brasileira ocorreu apenas em 23 de agosto de 2002, sendo que a aprovação
definitiva pelo Estado brasileiro se deu pelo Decreto Legislativo n.º 144/2002.
A Figura 7 apresenta a disposição dos países em relação à Convenção-Quadro das Nações
Unidas sobre Mudança do Clima (CQNUMC).
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Unidade: A institucionalização da questão ambiental

Material Complementar

Sites:
Organizações supranacionais do meio ambiente
PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
http://nacoesunidas.org/agencia/pnuma/

Organizações não governamentais do meio ambiente


http://www.wwf.org.br/

GreenPeace
http://www.greenpeace.org/brasil/pt/

Sea Shepherd
http://seashepherd.org.br/
Conferências da Organização das Nações Unidas (ONU)
A ONU e o meio ambiente
http://nacoesunidas.org/acao/meio-ambiente

Eco-92
Conferência Rio-92 sobre o meio ambiente do planeta: desenvolvimento
sustentável dos países
http://goo.gl/2HFM6O

Convenção – Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC)


http://www.mma.gov.br/clima/convencao-das-nacoes-unidas

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Referências

BELMONTE, Roberto Villar. Mudanças do clima, mudanças de vidas: como o aquecimento


global já afeta o Brasil. São Paulo: Greenpeace, 2006.

BRASIL. Câmara dos Deputados. Comissão de Turismo e Desporto. Mudanças climáticas:


o turismo em busca da ecoeficiência. Brasília, DF: Edições Câmara, 2008.

BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia; Ministério das Relações Exteriores. Protocolo


de Quioto. Brasília, DF, [20--?].

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Inter-relações entre biodiversidade e mudanças


climáticas: recomendações para a integração das considerações sobre biodiversidade na
implementação da convenção: quadro das Nações Unidas sobre mudança do clima e seu
protocolo de Kyoto. Brasília, DF, 2007a.

______. O Brasil e meio ambiente antártico. Brasília, DF, 2007.

______. Consumo sustentável: manual de educação. Brasília, DF, 2002.

______.; MARENGO, José A. Mudanças climáticas globais e seus efeitos sobre a


biodiversidade: caracterização do clima atual e definição das alterações climáticas para o
território brasileiro ao longo do século XXI. 2. ed. Brasília, DF, 2007.

DIAS, Reinaldo. Gestão ambiental: responsabilidade social e sustentabilidade. São Paulo:


Atlas, 2009.

GREENPEACE. Aquecimento global: o relatório do Greenpeace. Rio de Janeiro: FGV, 1992.

PRIMAVESI, Odo. Aquecimento global e mudanças climáticas: uma visão integrada


tropical. São Paulo: Embrapa, 2007.

ROBERTS, Adam. Governança global. Rio de Janeiro: Konrad Adenauer Stiftung, 2008.

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Unidade: A institucionalização da questão ambiental

Anotações

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