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A Sociedade dos Espioes Irwisiveis 24 - Fale a verdade, Breno: qual o meu problema?

25 - Voce e diferente, e isso as vezes incomoda, so isso.


Tern dias em que tudo o que mais quero e embarcar na 26 - Pronto! Ate voce me acha diferente! Pode falar que eu
2 minha rede magica e viajar para bem longe! Talvez, em al - 27 sou es-qui-si-ta! Fale!
3 gum outro lugar, nao me sinta tao, tao... diferente! Eu sei que 28 - Tudo bem: voce e a esquisita mais legal que eu conhego.
4 minha mochila e toda rabiscada, que meus tenis vivem cheios 29 As outras garotas sao todas iguais e sem graga!
5 de lama, que meu cabelo esta sempre um pouco arrepiado, 30 - Breno, eu preciso da sua ajuda : topa fazer uma investi -
6 mas nada justifica o que a Susana fez hoje comigo, convidan- 31 gagao supersecreta?
7 do a turma toda para o seu aniversario, menos eu!!! O pior 32 Nesse instante, voltamos juntos para o nosso predio e,
8 e que eu ainda quis entender o motivo e ela disse que nao 33 no apartamento do Breno, decidimos criar a Sociedade
9 me convidou porque sou esquisita. Isso mesmo! Es-qui-si-ta! 34 dos Espibes Invisiveis, mais conhecida como SEI. Nossa mis-
10 De repente, comecei a me sentir mais insignificante que uma 35 sao principal e investigar misterios incompreensiveis, e resolvi
11 pulga, pior do que um piolho! Entao, veio esta vontade louca 36 buscar pistas para compreender por que Susana me achava tao
12 de sumir, desaparecer do mapa. Fugi da sala correndo e ja 37 esquisita, tao diferente dela. Breno e eu inventamos codinomes,
13 estava no portao da escola quando Breno me alcangou. Bem 38 fizemos carteirinhas de socios, e ele ainda criou um kit de inves-
14 que tentei fingir que nao estava ligando a minima, mas como 39 tigagao, isto e, uma caixa de fosforos com um bloco e um lapis
15 ele me conhece bem percebeu na mesma hora que eu estava 40 em miniatura para levarmos em nossa primeira missao.
16 furiosa como um dragao, prestes a soltar fogo pela boca:
17 - Aquela Susana e uma... ela e umaparapetelunga\
18 - Parapete o que?
19 - E isso mesmo que voce ouviu. Acabei de inventar esse
20 xingamento!
21 - Pode xingar, voce tern toda razao, Pilar. Mas nao ligue
22 nao que a festa dela vai ser um verdadeiro sonifero! Nao vou
23 nem amarrado!
60 – Anote aí, Pilar. Diferença número um: você jamais pas-
61 saria a tarde do seu aniversário no cabeleireiro.
62 – Nunca mesmo. Com tantos lugares no mundo para co-
63 nhecer, por que passaria o meu grande dia trancada aí dentro?
64 – Vamos entrar?
65 – Claro! Mas não podemos ser vistos!, falei.
41 Já com a carteirinha da SEI nas mãos, 66 Com muito cuidado, eu, Breno e Samba, quer dizer... eu,
42 voltei para casa com vontade de investigar tam- 67 a famosa Beki Bacana, o incrível Nico Necas e o ágil Simba,
43 bém o sumiço do meu pai. Queria conversar com minha mãe 68 entramos no salão e nos escondemos perto de umas plantas,
44 sobre isso, mas ela havia viajado a trabalho. Então, segui com 69 bem atrás das cadeiras onde Susana e sua mãe estavam senta-
45 Samba para o meu quarto, peguei o meu binóculo e fui até a 70 das. Assim, podíamos ouvir melhor a conversa das duas:
46 janela, de onde podia observar a casa de Susana. Pouco tem- 71 – Você não devia ter feito isso com a Pilar, Susana.
47 po depois, vi que ela saía com sua mãe e enviei um torpedo 72 – Mas ela é esquisita, mãe! Eu não quero gente esquisita
48 para o meu grande parceiro: 73 na minha festa.
49 Beki chamando Nico. 74 – Coitadinha, filha. Ela é esquisita porque não tem pai!
50 Agora que inventou um jeito de prender o celular no pul- 75 – Acho que esse pai dela nem existe!
51 so, tipo relógio, Breno vive superligado. Por isso respondeu 76 Ao ouvir aquilo, não me segurei mais e, quebrando todas
52 em poucos segundos: 77 as regras do manual de espionagem, saí detrás das plantas,
53 É urg? 78 falando bem alto:
54 Eu insisti: 79 – Eu tenho pai, sim senhora! Só que ele não mora aqui no Rio!
55 Superurg! 80 – Pilar! Breno! O que vocês estão fazendo aqui?, gritou
56 Descemos as escadas do prédio correndo e conseguimos 81 Susana, levando o maior susto.
57 chegar na rua a tempo de seguir Susana e sua mãe. Logo
SILVA, Flávia Lins e. Diário de Pilar na Amazônia. 2. ed. Rio de Janeiro:
58 depois da primeira esquina, percebemos que as duas cami- Pequena Zahar, 2015. p. 11-15.
59 nhavam para o cabeleireiro.

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