Você está na página 1de 90

Descomplicar a lógica

• Introdução

• Lógica formal

“A lógica é um muro vedando coisa nenhuma”


Descomplicar a lógica Introdução
A LÓGICA COMO ESTUDO DA VALIDADE DOS ARGUMENTOS

Embora desde muito cedo os seres humanos se tenham tornado capazes de usar a linguagem para elaborar argumentos e detetar
falhas nos argumentos uns dos outros, a fundação da lógica enquanto disciplina losó ca situa-se na An guidade grega. Aristóteles
(c. 384-322 a.C.) é geralmente reconhecido como o primeiro pensador a estabelecer um sistema de lógica e a fornecer uma dis nção
ordenada dos argumentos válidos e inválidos. Para realizar esta tarefa, criou um vasto vocabulário técnico, que foi traduzido em
muitas línguas.
A lógica aristotélica permaneceu 22 séculos pra camente inalterada. Só a par r do século XIX, G. Frege (1848-1925) e Ch. Pierce
(1839-1914) revolucionaram os fundamentos da disciplina, dando origem a uma nova era na lógica. No século XX, a ciência da
inferência conheceu progressos relevantes.
Todos queremos ser capazes de apresentar argumentos rigorosos e estar aptos a acautelar raciocínios defeituosos. A razão e a
lógica natural são os procedimentos que u lizamos quo dianamente (nem sempre de maneira muito rigorosa) para a ngir esse
obje vo. Mas, para que os nossos raciocínios possam ser claros e traduzir-se em bons argumentos, é importante saber evitar o
erro.
A lógica é a disciplina que sistema za os princípios ou fundamentos com os quais é possível argumentar validamente. Interessa-
se por aqueles processos a que chamamos “raciocínios” ou “inferências”, quando pensamos neles como processos mentais, e a que
chamamos “argumentos” quando atentamos de modo especial no seu aspeto linguís co. Os argumentos são os jolos com que se
constroem as teorias losó cas; a lógica é a argamassa que une todos esses jolos. (…) Os argumentos apresentados com clareza
estão sujeitos à avaliação e à crí ca, e é esse con nuo processo de reação, revisão e rejeição que impulsiona o progresso losó co.
B. Dupré, 50 Ideias – Filoso a que precisa mesmo de saber, Dom Quixote, 2011, p. 108.
ti

fi
fi
fi
ti
ti
ti

ti

ti
ti
ti
fi

ti
fi
ti
ti
ti
fi
ti
fi

Importância da Lógica

A lógica ajuda-nos a:
— pensar melhor, de forma correta, e a expor com rigor e clareza o nosso
pensamento e argumentos

— estimula o progresso do pensamento filosófico, através do contínuo


processo de criação, revisão e rejeição de argumentos

Descomplicar a lógica

“A cura para um argumento


falacioso é um argumento melhor,
e não a supressão de ideias.”

Carl Sagan
Descomplicar a lógica

• O que é argumentar?
• Como avaliar argumentos?

Monty Python – Clínica de argumentação


Descomplicar a lógica

Argumentos Lógica Inspetores de


dedutivos proposicional circunstâncias
Como avaliar
argumentos?
Argumentos
Lógica informal Interpretação
não dedutivos
Descomplicar a lógica FORMAS DE INFERÊNCIA VÁLIDA
1. O CONCEITO DE INFERÊNCIA

A inferência é a operação mental que permite extrair uma conclusão a partir da ligação estabelecida entre as proposições
anteriores (premissas).

Na construção de argumentos têm de se realizar inferências, pois sem elas não seria possível extrair nenhuma conclusão.

Exemplo :
Ou aprecio a amizade ou sou egoísta.
Res
ulta
Premissas
infe do de Como aprecio a amizade.
rên
cia
Então, não sou egoísta. Conclusão

A lógica analisa as inferências do ponto de vista formal no sentido de verificar a validade dos argumentos.



Descomplicar a lógica
FORMAS DE INFERÊNCIA VÁLIDA
2. LÓGICA PROPOSICIONAL

A lógica proposicional é um sistema formal que se dedica à análise das proposições que
constituem um argumento.
A sua função incide na verificação da validade dos argumentos (ou seja, das inferências
realizadas) a partir da análise das proposições que o compõem e das operações efetuadas
entre elas.

FORMAS DE INFERÊNCIA VÁLIDA


3. CLASSIFICAÇÃO DAS PROPOSIÇÕES

A proposição é um enunciado declarativo que exprime um juízo acerca da realidade, suscetível de ser verdadeiro ou falso.
Todas as expressões que não contenham valor de verdade não poderão ser consideradas proposições.

As proposições poderão ser simples ou complexas.

Proposições simples Proposições complexas


Proposições indivisíveis, ou Proposições construídas a partir de
seja, não se podem decompor proposições simples ligadas entre si
em mais proposições por intermédio de operadores
lógicos (ou conectivas)

Ex: Platão é um filósofo. Ex: Platão é um filósofo e cidadão ateniense.


CLASSIFICAÇÃO DAS PROPOSIÇÕES

As proposições simples são formalizadas pelas letras P, Q, R e assim sucessivamente, denominadas de


variáveis, uma vez que o seu conteúdo varia consoante a aplicação dos enunciados.

Ex.:
Platão é um filósofo e cidadão ateniense.

Dicionário:
P = Platão é um filósofo
Q = Platão é cidadão ateniense.

De acordo com esta formalização, teríamos a expressão deste modo: P e Q

Questão
Como simbolizar a expressão «e»?

CONECTIVAS PROPOSICIONAIS E FORMALIZAÇÃO DE


ENUNCIADOS

As conectivas são instrumentos que permitem assegurar a relação entre as diversas proposições simples,
possibilitando desta forma a construção dos nossos raciocínios.

Expressões como «e», «mas», «ou», «se… então», «se e somente se» são
alguns exemplos de conectivas justamente porque estabelecem a ligação entre as proposições.

A negação, apesar de não estabelecer essa ligação, é também considerada um operador lógico pois transforma
ou acrescenta algo à proposição simples.

Segue um quadro com a indicação das conectivas, sua leitura e respetiva simbologia.

CONECTIVAS PROPOSICIONAIS E FORMALIZAÇÃO DE ENUNCIADOS


AS FUNÇÕES DE VERDADE DAS CONECTIVAS E AS TABELAS DE VERDADE

As conectivas, ao estabelecer a ligação entre as diversas proposições simples, permitem verificar os tipos
de relações existentes entre as proposições e determinar em que medida são ou não possíveis, isto é,
verdadeiras ou falsas.

Uma das formas de analisar estas relações e a validade dos nossos raciocínios é através das tabelas de
verdade.

A tabela de verdade é um sistema que permite verificar através de uma matriz se uma determinada
fórmula proposicional é válida ou inválida a partir da aplicação dos valores de verdade das proposições e
conectivas que a compõem.

AS FUNÇÕES DE VERDADE DAS CONECTIVAS E AS TABELAS DE VERDADE

Numa tabela de verdade, estão inseridas todas a variáveis que compõem o enunciado e todas as combinações lógicas
possíveis entre elas (condições de verdade) e a fórmula proposicional. Se o enunciado tiver apenas 2 variáveis (P e Q)
existem 4 condições de verdade; todavia, se existirem 3 variáveis (P, Q e R), o universo aumenta para 8.

VARIÁVEIS
AS FUNÇÕES DE VERDADE DAS CONECTIVAS E AS TABELAS DE VERDADE

Numa tabela de verdade, estão inseridas todas a variáveis que compõem o enunciado e todas as combinações lógicas
possíveis entre elas (condições de verdade) e a fórmula proposicional. Se o enunciado tiver apenas 2 variáveis (P e Q)
existem 4 condições de verdade; todavia, se existirem 3 variáveis (P, Q e R), o universo aumenta para 8.

VARIÁVEIS

CONDIÇÕES
DE VERDADE

AS FUNÇÕES DE VERDADE DAS CONECTIVAS E AS TABELAS DE VERDADE

Numa tabela de verdade, estão inseridas todas a variáveis que compõem o enunciado e todas as combinações lógicas
possíveis entre elas (condições de verdade) e a fórmula proposicional. Se o enunciado tiver apenas 2 variáveis (P e Q)
existem 4 condições de verdade; todavia, se existirem 3 variáveis (P, Q e R), o universo aumenta para 8.

VARIÁVEIS

ENUNCIADO
(fórmula proposicional)

CONDIÇÕES
DE VERDADE

AS FUNÇÕES DE VERDADE DAS CONECTIVAS E AS TABELAS DE VERDADE

Numa tabela de verdade, estão inseridas todas a variáveis que compõem o enunciado e todas as combinações lógicas
possíveis entre elas (condições de verdade) e a fórmula proposicional. Se o enunciado tiver apenas 2 variáveis (P e Q)
existem 4 condições de verdade; todavia, se existirem 3 variáveis (P, Q e R), o universo aumenta para 8.

VARIÁVEIS

ENUNCIADO
(fórmula proposicional)

RESULTADO
● (aplicação das regras das
CONDIÇÕES conectivas proposicionais)
DE VERDADE

AS FUNÇÕES DE VERDADE DAS CONECTIVAS E AS TABELAS DE VERDADE

Numa tabela de verdade, estão inseridas todas a variáveis que compõem o enunciado e todas as combinações lógicas
possíveis entre elas (condições de verdade) e a fórmula proposicional. Se o enunciado tiver apenas 2 variáveis (P e Q)
existem 4 condições de verdade; todavia, se existirem 3 variáveis (P, Q e R), o universo aumenta para 8.

VARIÁVEIS

ENUNCIADO
(fórmula proposicional)

RESULTADO
● (aplicação das regras das
CONDIÇÕES conectivas proposicionais)
DE VERDADE
Vejamos agora as condições de verdade
das diferentes conectivas.

AS FUNÇÕES DE VERDADE DAS CONECTIVAS E AS TABELAS DE VERDADE

NEGAÇÃO
A negação é a conectiva proposicional que consiste em negar a proposição inicial, ou seja, de uma proposição P forma-se
uma nova proposição ¬P que deriva da primeira, traduzindo as expressões «não», «não é verdade», «nunca» da linguagem
natural.

EXEMPLOS
O conhecimento provém da experiência. P
O conhecimento não provém da experiência. ¬P

A justiça existe P
A injustiça existe ¬P
A injustiça não existe ¬¬P

AS FUNÇÕES DE VERDADE DAS CONECTIVAS E AS TABELAS DE VERDADE

NEGAÇÃO
REGRA
A negação de uma proposição P é verdadeira, quando a proposição P for falsa e falsa se a proposição P for verdadeira.

P e ¬P não poderão ser simultaneamente verdadeiras, pois isso


implica uma contradição.
Se P for verdadeira, ¬P é falsa e vice versa.

AS FUNÇÕES DE VERDADE DAS CONECTIVAS E AS TABELAS DE VERDADE

CONJUNÇÃO
A conjunção é a conectiva proposicional que une duas proposições simples P e Q, dando origem a uma nova proposição
P Λ Q, traduzindo as expressões «e», «mas» e os sinais de pontuação «,», «.» da linguagem natural.

EXEMPLOS
O conhecimento provém da razão e é objetivo.
Tal como os seres humanos, os animais também sofrem. PΛQ
Os acasos acontecem mas têm um sentido.
Dicionário:
P = O conhecimento provém da razão
Q = O conhecimento é objetivo

AS FUNÇÕES DE VERDADE DAS CONECTIVAS E AS TABELAS DE VERDADE

CONJUNÇÃO
REGRA
A conjunção de duas proposições P e Q só é verdadeira se ambas as proposições simples que a constituem forem
verdadeiras, sendo falsa nos restantes casos.

Numa conjunção, não é possível admitir um enunciado como


verdadeiro existindo uma proposição constituinte falsa.

AS FUNÇÕES DE VERDADE DAS CONECTIVAS E AS TABELAS DE VERDADE

DISJUNÇÃO INCLUSIVA
REGRA
A disjunção inclusiva entre duas proposições P e Q é falsa quando ambas as proposições simples que a constituem são
falsas, sendo verdadeira nos restantes casos.

Na disjunção inclusiva, se uma das proposições for falsa, isso


não põe em causa a veracidade do enunciado, uma vez que
admissão de uma poderá implicar a exclusão da outra.

AS FUNÇÕES DE VERDADE DAS CONECTIVAS E AS TABELAS DE VERDADE

DISJUNÇÃO EXCLUSIVA
REGRA
A disjunção exclusiva entre duas proposições P e Q é verdadeira quando as proposições simples que a constituem tiverem
valores de verdade diferentes, sendo falsa nos restantes casos.

Na disjunção exclusiva, não é admissível as proposições terem


valores iguais, uma vez que a admissão de uma pressupõe a
exclusão da outra.

AS FUNÇÕES DE VERDADE DAS CONECTIVAS E AS TABELAS DE VERDADE

DISJUNÇÃO
A disjunção é a conectiva proposicional que une duas proposições simples P e Q, dando origem a uma nova proposição
P V Q, traduzindo as expressões «ou» e «ou… ou» da linguagem natural. Divide-se em disjunção inclusiva e disjunção
exclusiva.

DISJUNÇÃO INCLUSIVA DISJUNÇÃO EXCLUSIVA


Admite que ambas as proposições possam ser possíveis. Admite apenas uma proposição possível, excluindo a outra.

EXEMPLO EXEMPLO
O suspeito teve ajuda ou conhecia a vítima. O suspeito ou é culpado ou inocente.

(O suspeito poderia ter tido ajuda, conhecer a vítima ou


eventualmente ambas) (O suspeito sendo culpado não pode ser simultaneamente inocente e
vice versa)

AS FUNÇÕES DE VERDADE DAS CONECTIVAS E AS TABELAS DE VERDADE

CONDICIONAL
A condicional ou implicação material é a conectiva proposicional que une duas proposições simples P e Q, dando origem a
uma nova proposição P → Q traduzindo as expressões «se», «se… então», «implica», «por causa», «logo» da linguagem
natural.

EXEMPLOS
Se agiu mal, então deve ser responsabilizado. P→Q
Ele foi responsabilizado porque agiu mal. Q→P

Dicionário:
P = X agiu mal
Por conduzir a alta velocidade, o carro despistou-se. P→Q Q = X deve ser responsabilizado
O carro despistou-se por (causa) conduzir a alta velocidade. Q → P

AS FUNÇÕES DE VERDADE DAS CONECTIVAS E AS TABELAS DE VERDADE

CONDICIONAL
REGRA
A implicação material (condicional) de duas proposições P e Q é falsa quando a antecedente (P) for verdadeira e a
consequente (Q) for falso, sendo verdadeira nos restantes casos.

A condicional pressupõe que a proposição antecedente


implique a consequente e, portanto, espera-se que algo (Q)
aconteça em função de P.
Se nada acontecer (Q ser falso), logo é falso que P implique Q.

AS FUNÇÕES DE VERDADE DAS CONECTIVAS E AS TABELAS DE VERDADE

BICONDICIONAL
A bicondicional ou equivalência material ou é a conectiva proposicional que une duas proposições simples P e Q, dando
origem a uma nova proposição P ↔ Q, traduzindo as expressões «se e só se», «é o mesmo que», «equivalente a» da
linguagem natural.

EXEMPLOS
O conhecimento é verdadeiro se e só se for demonstrado.
P↔Q
Preocupar-se com os outros equivale a ser altruísta.

AS FUNÇÕES DE VERDADE DAS CONECTIVAS E AS TABELAS DE VERDADE

BICONDICIONAL
REGRA
A equivalência material (bicondicional) de duas proposições P e Q é verdadeira quando ambas as proposições simples que
a constituem apresentarem valores de verdade iguais, sendo falsa nos restantes casos.

A bicondicional estabelece uma relação de equivalência entre P


e Q, na medida em que se implicam mutuamente, ou seja, uma
é condição da outra.
A única possibilidade de a bicondicional ser verdadeira é
quando ambas as proposições tiverem valores iguais.

AS FUNÇÕES DE VERDADE DAS CONECTIVAS E AS TABELAS DE VERDADE

Em resumo, segue um quadro com as regras da aplicação da conectivas proposicionais e as suas condições de verdade.

Estamos, então, aptos para verificar a validade dos enunciados utilizando o método as tabelas de verdade.

Conhecidas as conectivas, sua leitura e respetiva simbologia passemos à formalização de enunciados:

A. As laranjas e o limões são frutos.

Dicionário:
Formalização: P Λ Q
P = As laranjas são frutos.
Q = Os limões são frutos.

B. O conhecimento provém da experiência e não da razão.

Dicionário:
P = O conhecimento provém da experiência. Formalização: P Λ ¬Q
Q = O conhecimento provém da razão.




C. O dinheiro pode trazer felicidade mas também infelicidade.

Dicionário:
P = Ter dinheiro Formalização: P → (Q Λ ¬Q)
Q = Trazer felicidade
PARÊNTESES
A utilização dos parênteses revestem-se de
extrema importância. Neste caso, ter dinheiro
implica felicidade e infelicidade.
Caso não existissem parênteses P apenas
D. Se o ser humano é naturalmente bom a moralidade é inata. implicava Q (a felicidade).
Existem ações más é o mesmo que dizer que o ser humano não é naturalmente bom,
logo a moralidade não é inata.
Dicionário:
P = O ser humano é naturalmente bom Formalização: [(P → Q) Λ (R ↔ ¬P)] ∴ ¬Q
Q = A moralidade é inata
R = Existem ações más



FORMAS DE INFERÊNCIA VÁLIDA


A VALIDADE DAS FORMAS ARGUMENTATIVAS

Podemos verificar a validade dos enunciados através das tabelas de verdade utilizando dois métodos:

1 tabelas de verdade
2 inspetores de circunstâncias

Enquanto o primeiro se pode aplicar a todos os enunciados, o segundo apenas aos enunciados argumentativos.

Vamos começar pelo primeiro.

Consideremos o seguinte enunciado:




Se os impostos forem elevados, o poder de compra dos cidadãos é reduzido. Um estudo verificou que o poder de compra
dos cidadãos é reduzido, logo, os impostos são elevados.

Dicionário:
P = os impostos «são» elevados
Q = o poder de compra dos cidadãos é reduzido

Formalização:
Premissa1 Se os impostos forem elevados, o poder de compra dos cidadãos é reduzido. P→Q
Premissa2 Um estudo verificou que o poder de compra dos cidadãos é reduzido. Q
∴P Fórmula lógica do argumento:
Conclusão Os impostos são elevados.
[(P → Q) Λ Q] ∴ P
Será este argumento válido?

Verifiquemos, então, a validade do argumento a partir do método das tabelas de verdade.

PASSO 1. PASSO 2.
Construir a tabela com as 2 colunas das 2 variáveis presentes no Determinar o resultado lógico da implicação
enunciado (P e Q) e 4 linhas que correspondem às combinações (condicional) entre P e Q.
possíveis e condições e verdade entre essas 2 variáveis.

❶ ❷

PASSO 3.
Determinar o resultado lógico da conjunção
entre P → Q ❶ e Q ❷ .

❶ ❷

PASSO 4.
Determinar o resultado lógico da implicação entre o
resultado da conjunção entre a primeira e segunda
premissa ❶ e P ❷


RESULTADO
O resultado é determinado na última operação.
Se na coluna final o valor apurado for V em todas as linhas, o enunciado é válido.
Neste caso, como o resultado é bivalente (verdadeiro e falso) o enunciado é inválido.

Se os impostos forem elevados, o poder de compra dos cidadãos é reduzido. Um estudo verificou que o poder de compra
dos cidadãos é reduzido, logo os impostos são elevados.

CONCLUSÃO
Apesar de eventualmente as premissas e conclusão serem verdadeiras, o argumento é inválido porque não podemos inferir objetiva e
formalmente que os impostos são elevados com base nas premissas anteriores.
A causa de se verificar que o poder de compra dos cidadãos é reduzido, não permite concluir (com base nas premissas) que, inequivocamente, os
impostos são elevados.

A VALIDADE DAS FORMAS ARGUMENTATIVAS

INSPETOR DE CIRCUNSTÂNCIAS

Este sistema de verificação da validade recorre às tabelas de verdade enquanto estrutura, no entanto a sua aplicação é
distinta, uma vez que a operação não incide propriamente nas conectivas do enunciado, mas antes nas premissas que
constituem o argumento.

Consideremos um outro exemplo, agora ligeiramente mais complexo:

Agimos por vontade ou necessidade. Se agirmos por necessidade, não existe


livre-arbítrio. Se agimos por vontade, existe livre-arbítrio. Agimos por
vontade, portanto existe livre-arbítrio.

Agimos por vontade ou necessidade. Se agirmos por necessidade não existe livre arbítrio. Se agimos por vontade existe
livre-arbítrio. Agimos por vontade, portanto existe livre-arbítrio.

Dicionário:
P = Agir por vontade
Q = Agir por necessidade
R = Existe livre-arbítrio

Formalização:
PVQ
Premissa 1 Agimos por vontade ou necessidade.
Q → ¬R
Premissa 2 Se agirmos por necessidade não existe livre arbítrio.
P→ R Fórmula lógica do argumento:
Premissa 3 Se agirmos por vontade existe livre-arbítrio.
P P V Q, Q → ¬R, P → R ∴ R
Premissa 4 Agimos por vontade.
∴R Será este argumento válido?
Conclusão Existe livre-arbítrio.

VARIÁVEIS
PR. ❶ PR. ❷ PR. PR. CONCL.

CONDIÇÕES DE
VERDADE
VARIÁVEIS
PR. ❶ PR. ❷ PR. PR. CONCL.

PASSO 1.
Resultado lógico da disjunção inclusiva entre P e Q ( )

VARIÁVEIS
PR. ❶ PR. ❷ PR. PR. CONCL.

PASSO 2.
Resultado lógico da implicação entre Q e ¬R ( )

VARIÁVEIS
PR. ❶ PR. ❷ PR. PR. CONCL.

PASSO 3.
Resultado lógico da implicação entre P e R ( )


VARIÁVEIS
PR. ❶ PR. ❷ PR. PR. CONCL.

PASSO 4.
Valores de P ( )

VARIÁVEIS
PR. ❶ PR. ❷ PR. PR. CONCL.

PASSO 5.
Valores de R (CONCL.)

VARIÁVEIS
PR. ❶ PR. ❷ PR. PR. CONCL.

RESULTADO
Um argumento é
dedutivamente válido
quando se verificar em pelo
menos uma circunstância
(linha) as premissas e
conclusão serem verdadeiras
e não existir numa outra
situação de premissas
verdadeiras e conclusão falsa.
Portanto este argumento (3ª
linha) é válido.

O seguinte exemplo descreve a situação de um argumento inválido.

A lógica é um exercício mental ou complicado. PVQ


A lógica é um exercício mental. P
Então, é um exercício complicado. ∴Q

ARGUMENTO INVÁLIDO
Premissas verdadeiras e conclusão
falsa, o argumento é inválido (linha 2)

Descomplicar a lógica

Quando chove o chão fica molhado.


O chão está molhado, logo choveu.

Falácia.

Descomplicar a lógica

Quando chove o chão fica molhado.


O chão está molhado, logo choveu.

O facto de chover é suficiente para o chão estar molhado

O chão molhado não é suficiente para concluirmos que choveu.

Elementar, meu caro Watson.


Descomplicar a lógica

PROVOCAR A REFLEXÃO

AVALIAR A REFLEXÃO

Completa a afirmação:
«Se o bar dos alunos vendesse refrigerantes, então…
Portanto, acho que….»

Descomplicar a lógica

Se o bar vendesse refrigerantes, então a escola teria


mais dinheiro para atividades.
A escola precisa de mais dinheiro para atividades.
Logo, o bar deve vender refrigerantes.

Descomplicar a lógica

Se o bar vendesse refrigerantes, então a escola teria


mais dinheiro para atividades.
A escola precisa de mais dinheiro para atividades.
Logo, o bar deve vender refrigerantes.

Será que vender refrigerantes é a única forma da escola ter mais dinheiro?

Descomplicar a lógica

Procedimento para avaliar um argumento:


1. Identificar premissas e conclusão.
2. Reescrever o argumento na forma padrão.
3. Formalizar – elaborar dicionário, identificar conectivas e a forma lógica.
4. Construir o inspetor de circunstâncias.
5. Interpretar o inspetor.

Descomplicar a lógica

Avalia o seguinte argumento:


O bar dos alunos não deve vender refrigerantes e gomas. Se o fizesse, os
alunos consumiriam mais calorias. É óbvio que os alunos não devem
consumir mais calorias.

Descomplicar a lógica

1 – Identificar premissas e conclusão.

Qual é a proposição que está a ser defendida


pelas outras?

O bar dos alunos não deve vender refrigerantes e gomas.


Se o fizesse, os alunos consumiriam mais calorias. É óbvio Onde fica o Dó?

que os alunos não devem consumir mais calorias.


Descomplicar a lógica

1 – Identificar premissas e conclusão.

Qual é a proposição que está a ser defendida


pelas outras? Essa é a conclusão.

O bar dos alunos não deve vender refrigerantes e gomas.


Se o fizesse, os alunos consumiriam mais calorias. É óbvio Onde fica o Dó?

que os alunos não devem consumir mais calorias.


Descomplicar a lógica

2 – Reescrever o argumento na forma padrão.

Premissa 1: _____________________________________________
Premissa 2: _____________________________________________
Conclusão: O bar dos alunos não deve vender refrigerantes e gomas.

O bar dos alunos não deve vender refrigerantes e gomas. Se o fizesse, os alunos
consumiriam mais calorias. É óbvio que os alunos não devem consumir mais calorias.

Descomplicar a lógica

2 – Reescrever o argumento na forma padrão.

Premissa 1: Se [o bar vendesse refrigerantes e gomas, então] os alunos


consumiriam mais calorias.
Premissa 2: _____________________________________________
Conclusão: O bar dos alunos não deve vender refrigerantes e gomas.
O bar dos alunos não deve vender refrigerantes e gomas. Se o fizesse, os alunos
consumiriam mais calorias. É óbvio que os alunos não devem consumir mais calorias.

Descomplicar a lógica

2 – Reescrever o argumento na forma padrão.

Premissa 1: Se o bar vendesse refrigerantes e gomas, então os alunos consumiriam


mais calorias.
Premissa 2: [É óbvio que] Os alunos não devem consumir mais calorias.
Conclusão: O bar dos alunos não deve vender refrigerantes e gomas.
O bar dos alunos não deve vender refrigerantes e gomas. Se o fizesse, os alunos
consumiriam mais calorias. É óbvio que os alunos não devem consumir mais calorias.

Descomplicar a lógica

2 – Reescrever o argumento na forma padrão.

Premissa 1: Se o bar vendesse refrigerantes e gomas, então os alunos consumiriam


mais calorias.
Premissa 2: Os alunos não devem consumir mais calorias.
Conclusão: O bar dos alunos não deve vender refrigerantes e gomas.
O bar dos alunos não deve vender refrigerantes e gomas. Se o fizesse, os alunos
consumiriam mais calorias. É óbvio que os alunos não devem consumir mais calorias.

Ah-ah!!!

Descomplicar a lógica

2 – Reescrever o argumento na forma padrão.

1. Se o bar vendesse refrigerantes e gomas, então os alunos consumiriam mais


calorias.
2. Os alunos não devem consumir mais calorias.
3. Logo, o bar dos alunos não deve vender refrigerantes e gomas.

Ah-ah!!!

Descomplicar a lógica

3 – Formalizar
3.1 Elaborar dicionário:
Identificar as proposições simples
Atribuir a cada uma delas uma letra (P, Q, …)

1. Se o bar vendesse refrigerantes e gomas, então os alunos consumiriam mais calorias.


2. Os alunos não devem consumir mais calorias.
3. O bar dos alunos não deve vender refrigerantes e gomas.


Descomplicar a lógica

3 – Formalizar
3.1 Elaborar dicionário:
Identificar as proposições simples
Atribuir a cada uma delas uma letra (P, Q, …)

Se o bar vendesse refrigerantes e gomas, então os alunos consumiriam mais calorias.


P Q R

Dicionário
P – O bar vende refrigerantes.
Q – O bar vende gomas.
R – Os alunos consomem mais calorias.




Descomplicar a lógica

3 – Formalizar
3.1 Elaborar dicionário:
Identificar as proposições simples
Atribuir a cada uma delas uma letra (P, Q, …)

Se o bar vendesse refrigerantes e gomas, então os alunos consumiriam mais calorias.


P Q R
Os alunos não devem consumir mais calorias.
R Dicionário
O bar dos alunos não deve vender refrigerantes e gomas. P – O bar vende refrigerantes.
P Q Q – O bar vende gomas.
R – Os alunos consomem mais calorias.








Descomplicar a lógica

3 – Formalizar
3.2 Identificar as conectivas e forma lógica

Se o bar vendesse refrigerantes e gomas, então os alunos consumiriam mais calorias.


P Q R
Os alunos não devem consumir mais calorias.
R
O bar dos alunos não deve vender refrigerantes e gomas.
P Q







Descomplicar a lógica

3 – Formalizar
3.2 Identificar as conectivas e forma lógica

Se o bar vendesse refrigerantes e gomas, então os alunos consumiriam mais calorias


Se o bar dos alunos vendesse refrigerantes e gomas então os alunos consumiriam mais calorias

Se P e Q então R
PeQ → R

(P ∧ Q) → R

Descomplicar a lógica

3 – Formalizar

Forma Lógica Forma padrão


(P ∧ Q) → R Se o bar vendesse refrigerantes e gomas, então os alunos consumiriam mais calorias.
¬R Os alunos não devem consumir mais calorias.
∴ ¬(P ∧ Q) O bar não deve vender refrigerantes e gomas.

Descomplicar a lógica

4 – Construir o inspetor de circunstâncias

P Q R (P ∧ Q) → R ¬R ∴ ¬ (P ∧ Q)
V V V
V V F
V F V
V F F
F V V
F V F
F F V
F F F

Descomplicar a lógica

4 – Construir o inspetor de circunstâncias

P Q R (P ∧ Q) → R ¬R ∴ ¬ (P ∧ Q)
V V V V
V V F V
V F V F
V F F F
F V V F
F V F F
F F V F
F F F F

Descomplicar a lógica

4 – Construir o inspetor de circunstâncias

P Q R (P ∧ Q) → R ¬R ∴ ¬ (P ∧ Q)
V V V V V
V V F V F
V F V F V
V F F F V
F V V F V
F V F F V
F F V F V
F F F F V

Descomplicar a lógica

4 – Construir o inspetor de circunstâncias

P Q R (P ∧ Q) → R ¬R ∴ ¬ (P ∧ Q)
V V V V V F
V V F V F V
V F V F V F
V F F F V V
F V V F V F
F V F F V V
F F V F V F
F F F F V V

Descomplicar a lógica

4 – Construir o inspetor de circunstâncias

P Q R (P ∧ Q) → R ¬R ∴ ¬ (P ∧ Q)
V V V V V F V
V V F V F V V
V F V F V F F
V F F F V V F
F V V F V F F
F V F F V V F
F F V F V F F
F F F F V V F

Descomplicar a lógica

4 – Construir o inspetor de circunstâncias

P Q R (P ∧ Q) → R ¬R ∴ ¬ (P ∧ Q)
V V V V V F F V

V V F V F V F V

V F V F V F V F

V F F F V V V F

F V V F V F V F

F V F F V V V F

F F V F V F V F

F F F F V V V F

Descomplicar a lógica

4 – Construir o inspetor de circunstâncias

P Q R (P ∧ Q) → R ¬R ∴ ¬ (P ∧ Q)
V V V V V F F V

V V F V F V F V

V F V F V F V F

V F F F V V V F

F V V F V F V F

F V F F V V V F

F F V F V F V F

F F F F V V V F

Descomplicar a lógica

5 – Interpretar o inspetor de circunstâncias

P Q R (P ∧ Q) → R ¬R ∴ ¬ (P ∧ Q)
V V V V V F F V

V V F V F V F V

V F V F V F V F

V F F F V V V F

F V V F V F V F

F V F F V V V F

F F V F V F V F

F F F F V V V F

Descomplicar a lógica

5 – Interpretar o inspetor de circunstâncias Um argumento tem validade


dedutiva se for impossível as
P Q R (P ∧ Q) → R ¬R ∴ ¬ (P ∧ Q)
suas premissas serem
V V V V V F F V
verdadeiras e a conclusão falsa.
V V F V F V F V

V F V F V F V F

V F F F V V V F

F V V F V F V F

F V F F V V V F

F F V F V F V F

F F F F V V V F

FORMAS E REGRAS DE INFERÊNCIA VÁLIDA

Existe um conjunto de fórmulas de inferência muito comuns, que nos permite testar a validade de um
argumento sem recorrer ao método das tabelas de verdade, assumindo o caráter de regra.

Apresentam-se no próximo diapositivo algumas dessas fórmulas acompanhadas de exemplo e de


formalização.

FORMAS E REGRAS DE INFERÊNCIA VÁLIDA


FORMAS E REGRAS DE INFERÊNCIA VÁLIDA
Se, por exemplo, tivermos o seguinte enunciado:

Quem nasce em Portugal é português. P→Q


Nasci em Portugal P
Logo... ??? ∴ ??

Poderemos concluir «Sou português» (Q) sem recorrer à tabela de verdade, pois a seguinte fórmula/inferência representa
a regra válida do modus ponens.

Vejamos outros exemplos:

Quem disser a verdade, não terá castigo.


P → ¬Q
Fiquei de castigo, portanto
Q
… não disse a verdade.
∴ ¬P
(modus tollens)

Se praticar desporto, terei uma vida saudável.


P→Q
Se tiver uma vida saudável, tenho melhor qualidade, portanto
Q→R
… se praticar desporto, terei melhor qualidade de vida.
∴P→R
(silogismo hipotético)

As variáveis P, Q, R representam as proposições simples que estão presentes em cada enunciado. No entanto, aqui
poderemos aplicar as regras a proposições complexas ou grupos representadas (geralmente) pelas letras A, B, C…

Vejamos o seguinte exemplo:

{[(P Λ Q) → (Q → R)] Λ (P Λ Q)} ∴ Q → R)

Ora, o argumento representa um modus ponens.

Se considerarmos
temos a seguinte fórmula:

PRINCIPAIS FALÁCIAS FORMAIS


PRINCIPAIS FALÁCIAS FORMAIS

Uma falácia consiste num erro de raciocínio seja ele de estrutura ou de conteúdo, levando um
argumento inválido ou incorreto parecer o contrário.

As falácias formais são a expressão de raciocínios inválidos, porque infringem uma ou mais regras
lógicas.
Estes tipos de erros não são fáceis de identificar, pois assentam na estrutura do argumento e não na
verdade/falsidade da conclusão.
A lógica proposicional apresenta 2 tipos de falácias muito comuns na realização das inferências, na
medida em que as suas fórmulas se assemelham às regras tautológicas do modus ponens e modus
tollens.
Essas falácias denominam-se por afirmação do consequente e negação do antecedente.

PRINCIPAIS FALÁCIAS FORMAIS


FALÁCIA DA AFIRMAÇÃO DO CONSEQUENTE
Esta falácia apresenta um tipo de raciocínio muito semelhante à regra do modus ponens. No entanto, o erro formal
cometido consiste em deduzir o antecedente a partir da afirmação do consequente, tornando-o inválido.

É o que acontece no seguinte exemplo:

Se comer doces os níveis de colesterol vão aumentar. P→Q


Como os níveis de colesterol aumentaram Q
Então comi doces. ∴P

O raciocínio está formalmente incorreto, pois não temos garantias de que os níveis de colesterol aumentaram
(consequente) devido ao facto de termos comido doces (antecedente), uma vez que poderiam existir outras causas.
Podemos deduzir que se comermos doces os níveis de colesterol vão aumentar (modus ponens), mas não o contrário.

PRINCIPAIS FALÁCIAS FORMAIS


FALÁCIA DA NEGAÇÃO DO ANTECEDENTE
Esta falácia apresenta um tipo de raciocínio muito semelhante à regra do modus tollens. No entanto, o erro formal
cometido consiste em deduzir o consequente a partir da negação do antecedente, tornando por isso o argumento também
inválido.

Vejamos este argumento a partir do exemplo anterior:

Se comer doces, os níveis de colesterol vão aumentar. P→Q


Como não comi doces, ¬P
então os níveis de colesterol não vão aumentar. ∴ ¬Q

O raciocínio está formalmente incorreto, pois não podemos garantir que, pelo facto de não ter comido doces
(antecedente), os níveis de colesterol não irão aumentar (consequente), dado que poderão existir também outras causas
para o aumento do colesterol.

PRINCIPAIS FALÁCIAS FORMAIS

Segue aqui um quadro comparativo entre as falácias de afirmação do consequente e negação do antecedente e as formas
válidas modus ponens e modus tollens, para estabelecer as suas diferenças e semelhanças.
FIM

Você também pode gostar